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Análise de Clusters na avaliação de bancos

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Academic year: 2021

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(1)

Jos´

e Leite da Silva Junior

An´

alise de Clusters na Avalia¸

ao de Bancos

Campinas 2013

(2)

nada aqui

(3)

Universidade Estadual de Campinas

Faculdade de Engenharia El´

etrica e de Computa¸c˜

ao

Jos´

e Leite da Silva Junior

An´alise de Clusters na Avalia¸c˜ao de Bancos

Tese de doutorado apresentada `a Faculdade de

En-genharia El´etrica e de Computa¸c˜ao, da

Universi-dade Estadual de Campinas, como parte dos requi-sitos exigidos para a obten¸c˜ao do t´ıtulo de Doutor

em Engenharia El´etrica. Area de concentra¸c˜´ ao:

Engenharia de Computa¸c˜ao.

Orientador: Prof. Dr. Takaaki Ohishi

Este exemplar corresponde `a vers˜ao final da tese defendida pelo aluno Jos´e Leite da Silva Junior, e orientada pelo Prof. Dr. Takaaki Ohishi.

Campinas 2013

(4)

Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura

Rose Meire da Silva - CRB 8/5974

Leite da Silva Júnior, José,

Si38s LeiAnálise de Clusters na avaliação de bancos / José Leite da Silva Júnior. – Campinas, SP : [s.n.], 2013.

LeiOrientador: Takaaki Ohishi.

LeiTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação.

Lei1. Bancos. 2. Crise financeira. 3. Clusters. I. Ohishi, Takaaki,1955-. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Cluster analysis in bank evaluation Palavras-chave em inglês:

Banks

Financial crises Cluster

Área de concentração: Engenharia de Computação Titulação: Doutor em Engenharia Elétrica

Banca examinadora: Takaaki Ohishi [Orientador] Henrique Pacca Loureiro Luna Laércio de Mattos Ferreira Secundino Soares Filho Akebo Yamakami

Data de defesa: 06-12-2013

Programa de Pós-Graduação: Engenharia Elétrica

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) iv ii ii iii iv

(5)
(6)
(7)

Resumo

A principal contribui¸c˜ao dessa tese ´e o desenvolvimento de uma metodologia de

ava-lia¸c˜ao de institui¸c˜oes financeiras de implementa¸c˜ao simples e que se mostrou precisa

na avalia¸c˜ao de bancos americanos. A metodologia busca a produzir um ´ındice de

solidez que indique a relativa sa´ude das institui¸c˜oes sob estudo e est´a baseada na

utiliza¸c˜ao da t´ecnica estat´ıstica multivariada conhecida como an´alise de clusters, na utiliza¸c˜ao de vari´aveis financeiras publicamente dispon´ıveis e na avalia¸c˜ao per´ıodica de quais vari´aveis financeiras s˜ao significativas na avalia¸c˜ao das institui¸c˜oes banc´ a-rias. A metodologia foi aplicada ao mercado financeiro americano e apresentou bons resultados na identifica¸c˜ao de institui¸c˜oes financeiras fragilizadas, o que permitiria

ao supervisor banc´ario tomar mais precocemente a¸c˜oes com vistas a minimizar o

impacto da atua¸c˜ao dessas institui¸c˜oes no mercado banc´ario como um todo.

Palavras-chave: Bancos, vari´aveis financeiras, an´alise de clusters, crises banc´arias, supervisor banc´ario, ´ındice de solidez, rating.

(8)
(9)

Abstract

The main contribution of this thesis is the development of a methodology for evalu-ation of financial institutions. This methodology has a simple implementevalu-ation and demonstrated accurate results in the evaluation of American banks. The methodo-logy seeks to produce an index indicating the relative health of the institutions under study. It is based on the use of publicly available financial information and cluster analysis. The methodology was applied to the U.S. banking market and showed good results in the identification of fragile financial institutions, allowing supervisors to take earlier actions aimed at minimizing the impact of bank failures in the banking market as a whole.

Key-words: Banks, financial variables, cluster analysis, banking crises, banking su-pervisor, performance index, rating system.

(10)
(11)

Sum´

ario

1 Introdu¸c˜ao 1

2 Bancos 5

2.1 Defini¸c˜ao . . . 7

2.2 Evolu¸c˜ao . . . 8

2.3 Crises Banc´arias . . . 10

2.4 Regula¸c˜ao . . . 15

2.5 Os Acordos da Basileia . . . 18

2.6 Supervis˜ao Banc´aria . . . 28

3 Modelos na Supervis˜ao Banc´aria 33 3.1 Modelos . . . 33

3.2 Modelagem . . . 35

3.3 Utiliza¸c˜ao de Modelos na Supervis˜ao Banc´aria . . . 37

4 M´etodo Proposto 53 4.1 Introdu¸c˜ao . . . 54

4.2 M´etodos Quantitativos . . . 57

4.2.1 M´etodos de Monte Carlo . . . 57

4.2.2 An´alise de Clusters . . . 70

4.3 O M´etodo Proposto . . . 78

4.3.1 Escolha de Vari´aveis . . . 79

4.3.2 Padroniza¸c˜ao de Vari´aveis . . . 115

4.3.3 M´etrica de Similaridade . . . 115

4.3.4 N´umero de Grupos . . . 121

4.3.5 Algoritmo de Clusteriza¸c˜ao . . . 125

4.3.6 Simula¸c˜ao de Monte Carlo . . . 136

4.3.7 Definindo o ´Indice . . . 139

5 Aplica¸c˜ao do M´etodo 141 5.1 Fator Capital . . . 142

5.2 Fator Ativos . . . 145 xi

(12)

5.3 Fator Cr´edito . . . 147

5.4 Fator Liquidez . . . 149

5.5 Fator Lucratividade . . . 152

5.6 Fator Gerenciamento . . . 154

5.7 O ´Indice Final . . . 156

6 Conclus˜oes e Perspectivas 161

Bibliografia 171

(13)

Agradecimentos

Agrade¸co,

Ao Prof. Dr. Takaaki Ohishi, pela ajuda e orienta¸c˜ao no desenvolvimento do trabalho.

Ao Banco Central do Brasil e a UNIBACEN, pelo apoio financeiro concedido durante o per´ıodo de doutoramento.

Aos meus familiares e amigos, Jos´e Leite, Isauda, M´arcia, Cl´audio, Augusto, Nadja, Marcos,

Helma, Artur, Pedro, Joselma, Herbert, Edson, Denise, Ricardo, Theo, Firmino, Walter,

Cleo-mar, Marcelo, Chagas, Odenir, M´arcio e todos aqueles que, de uma forma ou outra, me deram

suporte.

A Ana Cl´audia, Gabriel e Matheus n˜ao apenas pelo carinho, ajuda e presen¸ca, mas,

princi-palmente, por serem Ana Cl´audia, Gabriel e Matheus.

Aos membros da banca examinadora pelos coment´arios, sugest˜oes e contribui¸c˜oes, que

aju-daram a melhorar a qualidade e a reda¸c˜ao final do manuscrito.

`

A FEEC/UNICAMP pela oportunidade de desenvolver o trabalho.

(14)
(15)

I wanna know, have you ever seen the rain? Comin’ down on a sunny day

John Fogerty

(16)
(17)

Lista de Figuras

2.1 N´umero Anual de Crises Banc´arias na Hist´oria Recente . . . 11

2.2 Impacto de Crises Banc´arias Recentes . . . 12

2.3 N´umero de Pa´ıses com Seguro de Dep´ositos . . . 18

2.4 Perdas Banc´arias segundo Basileia II . . . 22

2.5 Ciclo de Neg´ocios e Pol´ıtica de Cr´edito . . . 27

3.1 Processo de Modelagem . . . 38

3.2 Tipos de Modelos Segundo 6 Diferentes Dimens˜oes . . . 39

4.1 C´ırculo de Raio r Inscrito em um Quadrado de lado 2 × r. . . 62

4.2 Exemplos de Clusteriza¸c˜ao (a) Regi˜oes Geogr´aficas do Brasil (b) ´Arvore Filogen´etica 70 4.3 Clusteriza¸c˜ao Antes e Depois da Ades˜ao `a Uni˜ao Europeia . . . 74

4.4 Fatores de Avalia¸c˜ao Banc´aria . . . 81

4.5 Ativos banc´arios em compara¸c˜ao com o PIB nas 10 maiores economias do mundo (2009). . . 87

4.6 Pre¸co do Barril de Petr´oleo (1970-1989) . . . 88

4.7 Receitas N˜ao Tradicionais nos Bancos Americanos (Percentual da Receita L´ıquida) 92 4.8 Receitas N˜ao Decorrentes de Juros nos Bancos Americanos (Percentual da Receita Total) . . . 105

4.9 Dados Demogr´aficos e Geogr´aficos das Regi˜oes Brasileiras . . . 115

4.10 Clusteriza¸c˜ao de Dados Demogr´aficos e Geogr´aficos (a) Sem Padroniza¸c˜ao (b) Com Padroniza¸c˜ao . . . 116

4.11 Clusteriza¸c˜ao de Dados Utilizando Diferentes M´etricas de Similaridade (a) Cor-rela¸c˜ao de Pearson (b) Distˆancia Euclidiana . . . 117

4.12 Distˆancia Euclidiana versus Distˆancia Manhattan . . . 118

4.13 N´umero Ideal de Grupos (Elbow Method ) . . . 122

4.14 M´etodos de Clusteriza¸c˜ao . . . 126

4.15 Grupos distanciados . . . 129

4.16 Grupos Baseados em Prot´otipo . . . 129

4.17 Grupos Conectados . . . 129

4.18 Grupos Baseados em Densidade . . . 130

4.19 Grupos Conceituais . . . 130 xvii

(18)

4.20 Testes para Avalia¸c˜ao de Clusteriza¸c˜ao . . . 132

4.21 Soma dos Quadrados dos Erros . . . 133

4.22 Coes˜ao e Separa¸c˜ao de Grupos . . . 134

4.23 Crit´erios Relativos de Avalia¸c˜ao . . . 135

4.24 Classifica¸c˜ao de Grupos . . . 140

5.1 Processo de Avalia¸c˜ao dos Bancos . . . 143

5.2 Vari´aveis Financeiras do Fator Capital . . . 144

5.3 Grupos do Fator Capital . . . 144

5.4 Vari´aveis Financeiras do Fator Ativos . . . 146

5.5 Grupos do Fator Ativos . . . 147

5.6 Vari´aveis Financeiras do Fator Cr´edito . . . 148

5.7 Grupos do Fator Cr´edito . . . 149

5.8 Vari´aveis Financeiras do Fator Liquidez . . . 150

5.9 Grupos do Fator Liquidez . . . 151

5.10 Vari´aveis Financeiras do Fator Lucratividade . . . 153

5.11 Grupos do Fator Lucratividade . . . 153

5.12 Vari´aveis Financeiras do Fator Gerenciamento . . . 155

5.13 Grupos do Fator Gerenciamento . . . 155

5.14 Bancos que Sofreram Interven¸c˜ao Corretamente Identificados . . . 158

5.15 Bancos Com Classifica¸c˜ao 4 ou 5 que Falharam . . . 159

(19)

Lista de Tabelas

2.1 Sistema de Pagamentos Brasileiro (Giro Mensal nas Reservas Banc´arias) . . . . 10

3.1 Supervis˜ao Banc´aria nos Estados Unidos . . . 47

3.2 Avalia¸c˜oes do ´Indice CAMELS . . . 49

3.3 Fatores do ´Indice CAMELS e seus Componentes . . . 50

4.1 Itera¸c˜oes de Monte Carlo para C´alculo de π . . . 63

5.1 Semˆantica do ´Indice de Solidez . . . 157

5.2 ´Indice de Solidez . . . 157

5.3 N´umero de Falhas Banc´arias entre julho/2009 e mar¸co/2010. . . 158

(20)
(21)

Cap´ıtulo

1

Introdu¸c˜

ao

N˜ao ´e exagero afirmar que qualquer pessoa com mais de 10 anos tenha alguma no¸c˜ao do

que ´e um banco, ou pelo menos j´a tenha ouvido muitas not´ıcias, muitas vezes relacionadas a

grandes lucros. Os comerciais de televis˜ao nas d´ecadas de 70 e 80 do s´eculo passado exibiam,

com relativa frequˆencia, informa¸c˜oes sobre as vantagens de manter contas em bancos fortes e

bem administrados. Entre estes bancos estava o Nacional1, que em determinada ´epoca contou

com Airton Senna, grande ´ıdolo brasileiro, como garoto propaganda e que era conhecido por ser o primeiro patrocinador do Jornal Nacional da Rede Globo.

Uma frase atribu´ıda a Magalh˜aes Pinto, fundador do Banco Nacional, deixa clara a vis˜ao

preponderante na sociedade sobre bancos: “O melhor neg´ocio para se fazer lucros neste mundo

´

e um banco organizado, o segundo melhor neg´ocio ´e um banco razoavelmente organizado e o

terceiro melhor neg´ocio ´e um banco desorganizado”. Assim, podemos concluir que no imagin´ario

popular, bancos s˜ao imunes a preju´ızos e que concordata, quebra ou falˆencia n˜ao s˜ao palavras

presentes no vocabul´ario dos banqueiros. Infelizmente, este mesmo Banco Nacional sofreu

se-guidos reveses por contar com uma carteira de cr´editos concedidos contaminada por devedores

inadimplentes. Em 1994 o banco sofreu interven¸c˜ao do Banco Central (atrav´es do PROER que

buscava evitar um desastre no sistema econˆomico do pa´ıs), suas atividades foram suspensas ao

final de 1995, seus ativos foram adquiridos pelo Unibanco e o Banco Central arcou com seus

passivos. Em 1996, o Banco Nacional sofreu liquida¸c˜ao extrajudicial.

Efetivamente, os bancos s˜ao considerados por alguns como as principais institui¸c˜oes

finan-ceiras do mundo capitalista e s˜ao de extrema importˆancia para a economia de qualquer pa´ıs.

Um sistema banc´ario s´olido e eficiente aumenta o potencial de crescimento do pa´ıs devido `a

sua capacidade de disponibilizar capital a empreendedores e consumidores. Por todo o mundo,

entidades s˜ao unˆanimes em afirmar a importˆancia do sistema bac´ario. Para alguns supervisores,

um sistema financeiro est´avel ´e ingrediente fundamental para uma economia bem sucedida, para

outros, a concess˜ao de cr´edito pelos bancos estimula o desenvolvimento econˆomico e a cria¸c˜ao

de empregos, sendo os bancos considerados verdadeiros motores econˆomicos de uma

comuni-dade. Por´em, a atividade banc´aria est´a sujeita a grandes riscos, n˜ao apenas devido `a constante

possibilidade de inadimplˆencia, mas tamb´em relacionados a altera¸c˜oes adversas nas condi¸c˜oes

de mercado.

1Inicialmente chamado Banco Nacional de Minas Gerais

(22)

2 Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao

Os bancos n˜ao contaram sempre com o perfil que hoje conhecemos. Sem contar com saltos

evolutivos ou revolu¸c˜oes, os bancos amadureceram ao longo do tempo e foram se alterando

lentamente. Mas um fato sempre esteve presente na hist´oria dos bancos: a possibilidade de

crises. De fato, crises banc´arias tˆem acompanhado a evolu¸c˜ao dos bancos e, embora variem em

magnitude, tempo de dura¸c˜ao e forma de resolu¸c˜ao, sempre severos efeitos `a atividade econˆomica

tˆem sido observados.

Uma particularidade dos bancos ´e a necessidade de confian¸ca p´ublica em sua solidez. Como

os bancos s˜ao essenciais para o bem estar de um pa´ıs, ´e natural que a confian¸ca p´ublica no sistema

banc´ario necessite ser constru´ıda e preservada. Como forma de preservar o bem-estar social, ´e

responsabilidade do governo contribuir para esta confian¸ca, regulamentando e inspecionando os bancos para auxiliar a assegurar ao p´ublico que seus dep´ositos est˜ao seguros e que as institui¸c˜oes

est˜ao sendo bem administradas. Tendo o governo esta responsabilidade e tendo em vista a

preocupa¸c˜ao com a eclos˜ao de crises banc´arias, foi natural a cria¸c˜ao de ´org˜aos especiais de supervis˜ao banc´aria.

Normalmente supervis˜ao banc´aria consiste de uma combina¸c˜ao de elementos, sejam

proce-dimentos off-site (supervis˜ao indireta) ou inspe¸c˜oes locais (supervis˜ao direta). Procedimentos

on-site est˜ao relacionados `as atividades de fiscaliza¸c˜ao realizadas diretamente nas instala¸c˜oes

dos bancos, enquanto procedimentos off-site podem ser compreendidos como a an´alise e revis˜ao

frequente de informa¸c˜oes (financeiras ou n˜ao) apresentadas `as autoridades de supervis˜ao pelos

bancos.

Os ´ultimos anos testemunharam constante esfor¸co das autoridades supervisoras na busca por

sistemas de informa¸c˜ao que sejam capazes de acompanhar o ritmo da globaliza¸c˜ao de mercados

e do surgimento de inova¸c˜oes financeiras. Estes sistemas tˆem por objetivo a avalia¸c˜ao e

acompa-nhamento das altera¸c˜oes nas condi¸c˜oes financeiras e no perfil de risco das institui¸c˜oes banc´arias,

de modo a fornecer indicadores tempestivos que permitam ao supervisor a implementa¸c˜ao de

medidas adequadas a promover a seguran¸ca do sistema financeiro como um todo.

O objetivo do presente trabalho ´e analisar a aplica¸c˜ao de m´etodos quantitativos na an´alise

de bancos, de forma a oferecer uma ferramenta de avalia¸c˜ao simples e, na medida do poss´ıvel,

livre de interferˆencias ideol´ogicas. Para tanto, um dos m´etodos selecionados para utiliza¸c˜ao foi

a an´alise de agrupamentos, que tem como importante caracter´ıstica a ausˆencia de restri¸c˜oes ou

imposi¸c˜oes aos dados, e normalmente esta caracter´ıstica leva a maior liberdade de modelagem,

e permite que os dados falem por si, sem prescri¸c˜oes de hip´oteses sobre relacionamentos entre

as vari´aveis. O outro m´etodo analisado ´e a simula¸c˜ao de Monte Carlo, cuja simplicidade e

intuitividade trazem grandes contribui¸c˜oes na an´alise e previs˜ao do comportamento de s´eries

financeiras.

Os cap´ıtulos que seguem procuram apresentar tanto o objeto de estudo, bancos, quanto

as t´ecnicas quantitativas utilizadas para propor o m´etodo de avalia¸c˜ao. O Cap´ıtulo 2 busca

estabelecer o contexto no qual o estudo se desenvolveu, para tanto, ´e apresentada uma defini¸c˜ao

de banco, detalhada sua evolu¸c˜ao e crises banc´arias, al´em de serem introduzidas no¸c˜oes da

regula¸c˜ao e supervis˜ao de bancos. Em complemento a essa vis˜ao, o Cap´ıtulo 3 indica a forma

como m´etodos formais de avalia¸c˜ao s˜ao aplicados na an´alise da situa¸c˜ao econˆomico-financeira

(23)

3

especial aos m´etodos quantitativos utilizados. O Cap´ıtulo 5 apresenta um exemplo completo

de utiliza¸c˜ao da metodologia, sendo o mercado banc´ario americano utilizado para expor como

o ´ındice ´e gerado. O Cap´ıtulo 6 apresenta as conclus˜oes do trabalho e tra¸ca alguns coment´arios

(24)
(25)

Cap´ıtulo

2

Bancos

N˜ao ´e exagero supor que qualquer pessoa com mais de 10 anos tenha uma opini˜ao sobre o

que seja um banco e sobre seu funcionamento. Na verdade, parece haver uma cren¸ca bastante

difundida sobre o funcionamento dos bancos, como exibido na hist´oria a seguir1:

Como funcionam os bancos

Dois amigos de infˆancia se encontram ap´os quase 10 anos sem se ver. Um deles ´e economista.

O outro cursou ciˆencia da computa¸c˜ao e se tornou cliente (n˜ao muito satisfeito) de um banco.

Ele resolve sanar suas d´uvidas sobre bancos com o amigo economista. Os dois ent˜ao travam a

seguinte conversa:

P-01: Para que servem os bancos ? R-01: Para ganhar dinheiro.

P-02: Para seus clientes ?

R-02: N˜ao. Para os bancos.

P-03: E por que os bancos n˜ao divulgam isso ?

R-03: N˜ao ia pegar bem... Mas isso pode ser deduzido das referˆencias ao capital de 250

bilh˜oes que os bancos possuem. Este capital ´e resultado do lucro dos bancos.

P-04: `As custas dos clientes ?

R-04: Creio que sim.

P-05: Os bancos tamb´em citam possuirem ativos no valor de 500 bilh˜oes. Eles tamb´em

ganharam esse dinheiro ?

R-05: N˜ao exatamente. Este ´e o dinheiro que eles usam para ganhar dinheiro.

P-06: Entendo. Este dinheiro ´e mantido em um lugar seguro ?

R-06: N˜ao. Eles emprestam este dinheiro para seus clientes.

P-07: Ent˜ao eles n˜ao ficam com esse dinheiro ?

R-07: N˜ao.

P-08: E os bancos chamam esse dinheiro de ativo ?

R-08: Se o banco receber o dinheiro de volta, ele ser´a um ativo.

P-09: Mas os bancos tem algum dinheiro em um lugar seguro ?

1Tradu¸ao livre de http://www.jumbojoke.com/how banks work.html (com adapta¸oes)

(26)

6 Cap´ıtulo 2. Bancos

R-09: Sim. Mais ou menos os mesmos 500 bilh˜oes. ´E o que os bancos chamam de obriga¸c˜oes.

P-10: Espere, se o banco tem esse dinheiro, como ele pode ser uma obriga¸c˜ao ?

R-10: Esse dinheiro n˜ao ´e dos bancos.

P-11: E por que o dinheiro est´a com ele ?

R-11: Porque os clientes do banco emprestaram este dinheiro a ele.

P-12: Ent˜ao os clientes emprestam dinheiro aos bancos ?

R-12: Claro. Quando o cliente deposita dinheiro em uma conta, na verdade, ele est´a

em-prestando o dinheiro ao banco.

P-13: E o que os bancos fazem com o dinheiro ? R-13: Emprestam a outros clientes.

P-14: Mas o dinheiro emprestado n˜ao ´e o ativo ?

R-14: Sim.

P-15: Ent˜ao ativos e obriga¸c˜oes s˜ao a mesma coisa ?

R-15: Claro que n˜ao.

P-16: Mas vocˆe acabou de dizer que s˜ao ! Vejamos, se eu deposito 100 na minha conta, o

banco tem de me devolver, ent˜ao esse dinheiro ´e uma obriga¸c˜ao. Mas ele empresta esse dinheiro

a algu´em que tem de devolvˆe-lo, ent˜ao esse dinheiro ´e um ativo. S˜ao os mesmo 100, n˜ao ? R-16: Sim, mas ...

P-17: Assim, estes valores se anulam ! Ou seja, no fim das contas, os bancos n˜ao tem nenhum

dinheiro ?

R-17: Teoricamente...

P-18: Teoricamante ?!? Mas se eles n˜ao tem dinheiro, como eles conseguiram aquele capital

de 250 bilh˜oes ?

R-18: Como eu j´a disse, esse capital ´e resultado do lucro dos bancos.

P-19: Lucro ? Como ?

R-19: Bem, para emprestar aqueles 100 a algu´em, eles cobram juros.

P-20: Quanto ?

R-20: Depende do banco. Creio que, na m´edia uns, 5,5%. Da´ı eles tiram o lucro.

P-21: Mas esse lucro era para ser meu ! O dinheiro emprestado era o meu, n˜ao ?

R-21: Entenda, a teoria da pr´atica banc´aria diz que ...

P-22: Espere. Quando eu emprestei meus 100 ao banco eu cobrei algum juro ? R-22: Certamente.

P-23: ´Otimo ! Quanto.

R-23: Depende do banco. Talvez, na m´edia, 0,5 %.

P-24: Caramba, todo esse 0,5% s´o para mim ?

R-24: ´E. Mas somente se vocˆe n˜ao pegar o dinheiro de volta.

P-25: Mas ´e claro que eu quero o dinheiro de volta ! Se n˜ao quisesse, o enterrava no jardim!

R-25: Os bancos n˜ao gostam quando vocˆe pede o dinheiro de volta.

P-26: Por que ? Se eu mantiver o dinheiro na conta, eles ter˜ao uma obriga¸c˜ao. Quem n˜ao

ficaria feliz em ter menos obriga¸c˜oes ?

R-26: O banco n˜ao ficaria feliz. Se vocˆe retirar o dinheiro da conta, eles n˜ao ter˜ao como

(27)

2.1. Defini¸c˜ao 7

P-27: Mas se eu quiser retirar o dinheiro, o banco vai entreg´a-lo a mim, n˜ao ?

R-27: Claro que vai entregar, o dinheiro ´e seu, n˜ao do banco.

P-28: E se o banco tiver emprestado meu dinheiro a outro cliente ?

R-28: O banco entrega a vocˆe o dinheiro de outro cliente.

P-29: E se o outro cliente tamb´em quiser o dinheiro dele ? Dinheiro que eu j´a recebi...

R-29: Seja direto, n˜ao se fa¸ca de bobo.

P-30: N˜ao estou me fazendo de bobo, na verdade, eu me acho muito esperto. Ent˜ao, se

todos os clientes quiserem seu dinheito ao mesmo tempo, o que acontecer´a ?

R-30: A teoria banc´aria diz que isto nunca vai acontecer.

P-31: Entendi tudo agora. Para um banco se manter, ele nunca deve ter de honrar suas obriga¸c˜oes.

R-31: ´E... Vocˆe entendeu.

Esta hist´oria, embora contendo elementos ver´ıdicos, ´e uma grande simplifica¸c˜ao. Ainda

assim, nela est˜ao presentes aspectos importantes da atividade banc´aria, como intermedia¸c˜ao

financeira (P-13 e P-26), sistema de reserva fracionada (P-29 a P31), risco de cr´edito (06 e

P-08), risco de liquidez (P-29) e corrida banc´aria (P-30). De qualquer forma, as se¸c˜oes que seguem

procuram identificar a figura do banco, bem como tra¸car uma vis˜ao geral da sua importˆancia e

dos riscos incorridos na atividade banc´aria.

2.1

Defini¸

ao

Para Carvalho (Carvalho, P.Souza, Sics´u, de Paula & Studart 2001), banco ´e a principal

institui¸c˜ao financeira no mundo capitalista. Por´em, este mesmo autor reconhece n˜ao haver uma

defini¸c˜ao universalmente aceita para o que seja um banco e afirma que “a dificuldade de

caracte-riza¸c˜ao das atividades definidoras da firma banc´aria decorre, em grande medida, de sua origem

dual. O banco moderno ´e o resultado da confluˆencia de dois tipos de institui¸c˜oes que surgiram,

em larga medida, independentemente uma da outra. De um lado, havia as iniciativas voltadas `a

acumula¸c˜ao de recursos que permitissem viabilizar atividades de explora¸c˜ao industrial ou

comer-cial. Tais empresas tinham como objetivo canalizar a riqueza dispersa entre a popula¸c˜ao para

projetos que prometessem retornos adequados, na fun¸c˜ao cl´assica do intermedi´ario financeiro.

Um tipo diferente de institui¸c˜ao originou-se, por outro lado, das institui¸c˜oes deposit´arias de

valores, que acabou voltado para o desenvolvimento de meios de pagamento. O banco moderno resultou da unifica¸c˜ao dos dois tipos de institui¸c˜ao em uma ´unica firma, capaz de criar meios de

pagamento sob a forma de dep´ositos `a vista, ao mesmo tempo em que faz a intermedia¸c˜ao de

recursos financeiros para tomadores finais. Em sua fun¸c˜ao de criador de meios de pagamento,

pode-se dizer que bancos s˜ao institui¸c˜oes ´unicas dentro do sistema financeiro, ao passo que,

enquanto intermedi´arios financeiros, bancos concorrem com outros tipos de institui¸c˜ao.”

Como indicado por Lindgren (Lindgren, Garcia & Saal 1996): “defini¸c˜oes legais de banco,

e das atividades a eles permitidas, variam de pa´ıs para pa´ıs. Ainda assim, as caracter´ısticas

essenciais dos bancos s˜ao as mesmas. Eles emitem obriga¸c˜oes l´ıquidas, nominalmente valoradas,

muitas delas pag´aveis ao par por demanda e adquirem principalmente ativos il´ıquidos,

(28)

8 Cap´ıtulo 2. Bancos

essenciais podem ser observadas nas defini¸c˜oes semelhantes dadas por dois organismos

interna-cionais: o Fundo Monet´ario Internacional define banco como “toda empresa que se engaja em

intermedia¸c˜ao financeira como sua principal atividade e tˆem obriga¸c˜oes sob a forma de dep´ositos

ou instrumentos financeiros (tais como certificados de dep´osito de curto prazo) que s˜ao

substitu-tos pr´oximos de dep´ositos” e o Banco de Compensa¸c˜oes Internacionais (Bank for International

Settlements – BIS) define como “institui¸c˜ao cujo neg´ocio ´e receber dep´ositos e/ou substitutos

pr´oximos de dep´ositos e conceder cr´editos ou investir em t´ıtulos por conta pr´opria.”2

Mishkin (Mishkin 1995) tamb´em evita apresentar uma defini¸c˜ao precisa do que seja banco

e prefere chamar aten¸c˜ao sobre as principais fun¸c˜oes deste tipo de institui¸c˜ao, como a liga¸c˜ao entre pessoas que desejam poupar e aquelas que desejam investir, o papel desempenhado pelos

bancos na oferta monet´aria e na transmiss˜ao dos efeitos da pol´ıtica monet´aria e sua capacidade

de produzir inova¸c˜oes financeiras respons´aveis pela expans˜ao da poupan¸ca e do investimento.

Freixas (Freixas & Rochet 2008) prefere oferecer uma defini¸c˜ao simples: “Um banco ´e uma

institui¸c˜ao cujas opera¸c˜oes costumeiras consistem em conceder empr´estimos e receber dep´ositos

do p´ublico”, o autor ainda frisa que esta defini¸c˜ao ´e a usada por reguladores quando devem

decidir se um intermedi´ario financeiro deve se submeter a regula¸c˜ao banc´aria. Para o autor,

a defini¸c˜ao tem o m´erito de frisar dois aspectos principais da atividade banc´aria: dep´ositos e

empr´estimos. Tamb´em ´e ressaltada a precis˜ao no uso das palavras: ´e importante a utiliza¸c˜ao

da palavra costumeira, pois exclui da defini¸c˜ao empresas comerciais e industriais que

ocasio-nalmente financiam seus clientes ou tomam empr´estimos de seus fornecedores; igualmente as

palavras empr´estimos e dep´ositos s˜ao essenciais por explicitar que a sua combina¸c˜ao ´e t´ıpica de

bancos, uma vez que estes financiam parte significativa de seus empr´estimos atrav´es da

capta-¸c˜ao de dep´ositos da popula¸c˜ao em geral; finalmente, o termo p´ublico ´e fundamental por deixar

clara a situa¸c˜ao de bem p´ublico (acesso a um sistema de pagamentos seguro e eficiente) de entes

privados, explicitando o car´ater ´unico dos servi¸cos banc´arios.

Independente de defini¸c˜ao (ou ausˆencia desta), ´e indiscut´ıvel a importˆancia de um sistema

banc´ario s´olido devido aos pap´eis desempenhados pelos bancos no sistema econˆomico:

interme-dia¸c˜ao financeira, transforma¸c˜ao de maturidade, facilita¸c˜ao de fluxos de pagamento, aloca¸c˜ao de cr´edito, aloca¸c˜ao de recursos, provis˜ao de liquidez e servi¸co de pagamentos. Tamb´em parece ser indiscut´ıvel o fato de estarem os bancos submetidos a riscos maiores aos existentes em outras ´

areas de atividade econˆomica.

2.2

Evolu¸

ao

Do ponto de vista hist´orico, pode-se dizer que a origem dos bancos remonta `a Idade Antiga,

devido a ind´ıcios de atividades (similares `as) banc´arias na Mesopotˆamia e Egito. H´a referˆencias `

a regula¸c˜ao dessas atividades no c´odigo de Hammurabi, tamb´em h´a ind´ıcios de atividades de

troca de moedas na Gr´ecia e de opera¸c˜oes de cr´edito no Egito. ´E interessante notar que tais

atividades estavam muitas vezes associadas a templos religiosos. Por´em, a queda do imp´erio

romano do ocidente (476 d.C.) parece ter levado os bancos a um estado de hiberna¸c˜ao, havendo

2A OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development ) parece n˜ao ter uma defini¸ao pr´opria

(29)

2.2. Evolu¸c˜ao 9

poucas referˆencias hist´oricas a sua atua¸c˜ao durante grande parte da Idade M´edia. Por´em,

as cruzadas trouxeram est´ımulo ao re-aparecimento dos bancos. A necessidade de pagamento

de suprimentos, equipamentos, aliados, resgates etc impulsionou a cria¸c˜ao destas institui¸c˜oes.

Assim, surgiram bancos nas cidades-estado italianas e, em seguida, em v´arios pa´ıses europeus.

Suas letras de cˆambio se transformaram em meio de transferˆencia de grandes valores. Nesta

´

epoca, a fam´ılia Medici, baseada na cidade italiana de Floren¸ca, controlava a maior organiza¸c˜ao

financeira da Europa (Glyn 2002).

Apesar de interessante, esta vis˜ao hist´orica n˜ao parece ser a mais adequada para os prop´ositos

do presente trabalho. Assim, a seguir ser´a apresentada a evolu¸c˜ao do sistema banc´ario segundo

Chick (Chick 1994), que se concentra em quest˜oes mais econˆomicas. Para Chick, o sistema

banc´ario passou por 5 est´agios desde sua cria¸c˜ao. Sem contar com saltos evolutivos ou revolu¸c˜oes, o sistema amadureceu ao longo do tempo e foi se alterando lentamente.

O primeiro est´agio estava caracterizado pelo grande n´umero e pequeno porte das

institui-¸c˜oes. Usualmente os dep´ositos n˜ao eram usados como forma de pagamento, sendo os bancos

essencialmente receptores de poupan¸ca, a partir destas poupan¸cas, os bancos formavam reservas

que poderiam ser utilizadas para empr´estimos. Neste est´agio, os bancos eram intermedi´arios

entre poupadores e investidores, e o n´ıvel de poupan¸ca determinava o volume de empr´estimos.

Com o amadurecimento do sistema banc´ario e o consequente ganho de confian¸ca, os bancos

chegaram ao segundo est´agio de desenvolvimento. Os bancos se tornaram menos numerosos,

por´em maiores. Neste momento, os dep´ositos passaram a ser utilizados como meio de pagamento

e deixaram de ser resultantes somente de poupan¸ca, o saldo das transa¸c˜oes comerciais passou a

originar parte dos dep´ositos. A fun¸c˜ao meio de pagamento permitiu que tanto dep´ositos quanto

empr´estimos n˜ao vazassem do sistema banc´ario, mas simplesmente se movimentassem de um

banco para outro, com isto, os bancos passaram a ter excesso de reservas, o que os estimulava

a conceder mais empr´estimos. De fato, o sistema banc´ario passou a poder emprestar um valor

m´ultiplo das reservas, emprestando dinheiro que n˜ao possu´ıa, expandindo e multiplicando o

sistema. Este fato, apesar de novidade para aquele momentos, ´e uma situa¸c˜ao considerada

natural nos dias de hoje. Outro fato importante neste momento ´e o aparecimento da figura do

Banco Central, embora suas fun¸c˜oes ainda n˜ao estivessem completamente definidas.

Em rela¸c˜ao a utiliza¸c˜ao dos bancos como provedores de meios de pagamento, merecem

des-taques as estat´ısticas do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB)3, exibidos na Tabela 2.14.

No terceiro est´agio, observa-se o desenvolvimento do mercado interbanc´ario de empr´estimos,

fato que otimizou a utiliza¸c˜ao das reservas dispon´ıveis. Neste momento os bancos passaram a

poder contar com o ‘aux´ılio’ de outros bancos para suprir eventuais necessidades de liquidez,

isto ´e, os bancos, na eventualidade de terem sua capacidade de pagamento superada, poderiam

contar com empr´estimos interbanc´arios para suprir suas obriga¸c˜oes imediatas.

3O SPB ´e consitu´ıdo por um conjunto de regulamentos, leis e procedimentos que definem a forma pela qual

se d´a a movimenta¸c˜ao finenceira entre os agentes de mercado. Todas as transa¸c˜oes financeiras que envolvem bancos s˜ao realizados eletrˆonicamente atrav´es de um sistema que reune bancos, cˆamaras e Banco Central. O SPB permite que as transferˆencias de fundos interbanc´arias sejam realizadas em tempo real, em car´ater irrevog´avel e incondicional. Reduzindo riscos de liquida¸c˜ao nas opera¸c˜oes interbanc´arias, com conseq¨uente redu¸c˜ao tamb´em do risco sistˆemico, isto ´e, o risco de que a quebra de um banco provoque o chamado efeito domin´o, isto ´e, a quebra em cadeia de outros bancos (Fonte: Banco Central do Brasil).

(30)

10 Cap´ıtulo 2. Bancos

Data N´umero de Opera¸c˜oes Total (R$ milh˜oes) M´edia (R$ mil)

Dezembro/2002 1.787.703 8.549.015,9 4.782,1 Dezembro/2003 1.338.287 5.919.313,2 4.423,1 Dezembro/2004 1.163.007 6.367.168,3 5.474,7 Dezembro/2005 1.095.139 9.970.127,6 9.104,0 Dezembro/2006 1.065.633 9.479.967,8 8.896,1 Dezembro/2007 1.053.611 11.053.759,2 10.491,3 Dezembro/2008 965.154 13.251.573,2 13.730,0 Dezembro/2009 1.094.934 12.791.924,5 11.682,8

Tabela 2.1: Sistema de Pagamentos Brasileiro (Giro Mensal nas Reservas Banc´arias)

O quarto est´agio traz ao Banco Central (BC) o papel de emprestador de ´ultima instˆancia,

de forma a promover a estabilidade do sistema banc´ario, que o BC toma como uma de suas

principais fun¸c˜oes. A presen¸ca de um emprestador de ´ultima instˆancia levou a posi¸c˜oes menos

conservadoras por parte dos bancos. A demanda por empr´estimos foi contemplada, pois a

necessidade de reservas seria suprida pelo BC. Mesmo a cobran¸ca de juros pelo BC n˜ao constituia

empecilho, uma vez que os bancos somente evitavam a expans˜ao do n´ıvel de empr´estimos quando

esta expans˜ao n˜ao era rent´avel.

No quinto e ´ultimo est´agio da evolu¸c˜ao banc´aria, os bancos realizam administra¸c˜ao do seu

passivo. Eles buscam, atrav´es de taxas de remunera¸c˜ao mais altas, atrair e manter dep´ositos.

Potenciais investidores, que poderiam dirigir sua aten¸c˜ao (e dinheiro) a outras institui¸c˜oes

fi-nanceiras, empresas ou governo, permitem aos bancos obterem maior volume de recursos para

alimentar alternativas de investimento mais rent´aveis.

Deve-se notar que a evolu¸c˜ao do sistema banc´ario conduziu a altera¸c˜oes na supervis˜ao

ban-c´aria. Inicialmente as preocupa¸c˜oes dos servidores estavam voltadas para a solvˆencia imediata

dos bancos, isto ´e, quest˜oes de liquidez predominavam nas an´alises dos supervisores. Com o

pas-sar do tempo e devido `as altera¸c˜oes no comportamento dos bancos, o n´ıvel do capital banc´ario

ganhou maior aten¸c˜ao dos supervisores. Mais recentemente, a raz˜ao entre os ativos banc´arios e

o capital da institui¸c˜ao passou a ser observada com maior cautela, uma vez que a alavancagem

crescente dos bancos passou a ser fonte de preocupa¸c˜ao para os supervisores. A qualidade dos

ativos tamb´em come¸cou a ser considerada como importante, afinal o n´ıvel de capital passou a

estar associado ao risco dos haveres (ativos) de um banco. Estas preocupa¸c˜oes se tornaram

co-muns a todos os pa´ıses, e, com a globaliza¸c˜ao financeira, levaram ao estabelecimento de acordos

entre os supervisores. Os acordos de capital da Basileia (BCBS 2006) fazem parte desta vis˜ao

da supervis˜ao banc´aria.

2.3

Crises Banc´

arias

O sistema banc´ario tem ao longo de sua hist´oria experimentado diversas crises. Para

Gre-enspan (GreGre-enspan 1999) esta n˜ao ´e uma situa¸c˜ao estranha, uma vez que “institui¸c˜oes altamente

(31)

2.3. Crises Banc´arias 11

devido ao surgimento inevit´avel de dificuldades em seu financiamento. O problema cl´assico do

gerenciamento de risco banc´ario ´e atingir um grau de alavancagem que crie um retorno satisfat´

o-rio e ao mesmo tempo seguro em rela¸c˜ao a um inevit´avel n´ıvel de insolvˆencia”. Para se ter uma

ideia da frequˆencia de crises banc´arias, pode-se examinar a Fig. 2.1 que apresenta a n´umero

anual de crises banc´arias em todo o mundo nos ´ultimos 40 anos (dados de Laeven (Laeven &

Valencia 2008)). 1970 1980 1990 2000 2010 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

Figura 2.1: N´umero Anual de Crises Banc´arias na Hist´oria Recente

Crises banc´arias tˆem ocorrido independentemente do n´ıvel de desenvolvimento de um pa´ıs, e

embora pare¸cam ser mais frequentes em pa´ıses em desenvolvimento (56% dos pa´ıses considerados

em desenvolvimento pelo FMI5 enfrentaram crises banc´arias nos ´ultimos 40 anos), tamb´em

s˜ao um s´erio problema nas economias desenvolvidas (no mesmo per´ıodo 36% das economias

desenvolvidas passaram por crises banc´arias).

H´a duas situa¸c˜oes de crise que devem ser compreendidas. A primeira ´e aquela na qual ocorre

a falha isolada de um banco. A segunda situa¸c˜ao de crise ocorre quando h´a uma sequˆencia de

quebras banc´arias, que algumas vezes ´e denominada de crise banc´aria sistˆemica.

A primeira situa¸c˜ao talvez pudesse ser vista, at´e certo ponto, como corriqueira, pois a

ocor-rˆencia de uma falha banc´aria isolada n˜ao deveria ser preocupante, afinal, como frisado em Bell

(Bell 2000), bancos, de forma semelhante a qualquer empreendimento econˆomico, podem

en-frentar dificuldades financeiras quando o valor de seus ativos caem aqu´em do valor de suas

obriga¸c˜oes. Os ativos de um banco est˜ao expostos a muitos riscos, por exemplo, quando os

to-madores de empr´estimos se tornam insolventes (risco de cr´edito) ou quando os ativos negociados

perdem valor (risco de mercado) ou mesmo na ocorrˆencia de um inesperado e maci¸co saque nas

contas de dep´osito da institui¸c˜ao (risco de liquidez).

A segunda situa¸c˜ao ´e potencialmente perigosa para qualquer pa´ıs. No presente contexto,

a defini¸c˜ao de crise banc´aria ´e a apresentada em Laeven (Laeven & Valencia 2008): “numa

(32)

12 Cap´ıtulo 2. Bancos

crise banc´aria sistˆemica, os setores financeiro e empresarial de um pa´ıs enfrentam um grande

n´umero de defaults e institui¸c˜oes financeiras e corpora¸c˜oes tˆem grande dificuldade em cumprir

contratos tempestivamente. Como resultado, o n´umero de empr´estimos inadimplentes cresce

fortemente e todo o capital banc´ario (ou grande parte dele) ´e exaurido. Esta situa¸c˜ao pode ser

acompanhada de perda no valor dos ativos (como pre¸cos de a¸c˜oes e bens im´oveis), aumento

nas taxas de juros, e desacelera¸c˜ao ou revers˜ao de fluxos de capital. Em alguns casos, a crise

´

e iniciada por algum tipo de corrida banc´aria, embora normalmente seja a concretiza¸c˜ao da

agonia por que passam institui¸c˜oes financeiras sistemicamente importantes”. Em rela¸c˜ao a

esta defini¸c˜ao, merece men¸c˜ao o observado por (Ergungor & Thomson 2005): “em uma crise

sistˆemica, v´arios bancos falham simultaneamente, levando a perda de capital grande o suficiente

para que seja necess´aria interven¸c˜ao do governo. Assim, muitas vezes, autores consideram que

um pa´ıs enfrentou uma crise sistˆemica devido a interven¸c˜ao do seu banco central. Em outras

palavras, quando o banco central acredita que uma dada crise no sistema financeiro pode se

desenvolver em um problema sistˆemico, a crise ´e considerada sistˆemica.”. A Fig. 2.2 exibe os

efeitos de crises banc´arias sistˆemicas ocorridas recentemente. A parte esquerda indica as perdas

do governo local devido `a crise banc´aria, que chegaram a mais de 50% do PIB na Argentina em

1980 e na Indon´esia em 1997. Essas perdas est˜ao relacionadas tanto a diminui¸c˜ao de receitas

devido a contra¸c˜ao econˆomica quanto a socorro oferecido pelo governo ao sistema banc´ario.

J´a a direita da figura indica os reflexos da crise na taxa de crescimento econˆomico do pa´ıs

durante a crise. Certamente, a contra¸c˜ao econˆomica superior a 40% na Georgia em 1991 pode

ser considerada uma situa¸c˜ao extrema, mas recess˜oes superiores a 10% parecem ser usuais em

crises banc´arias.

A rgen ti na – 19 80 I nd on ´esi a – 19 97 Ja ma ica – 19 96 T a il ˆa nd ia – 1 99 7 C hi le – 19 81 T u rqui a – 2 00 0 M a ced ˆo ni a – 1 99 3 U rug u ai – 1 98 1 C orei a – 1 99 7 Isr ael – 1 97 7 10 20 30 40 50

Custo Fiscal da Crise (em % do PIB) -10 -20 -30 -40 Geo rgi a – 1 99 1 G. B issa u – 19 95 E st ˆo ni a – 19 92 N ig er – 19 83 T o go – 1 99 3 C hi le – 19 81 R. D .C on go – 1 99 1 P a na m ´a – 19 88 L ´ı ba n o – 19 90 I nd on ´esi a – 19 9 7

Taxa de Crescimento do PIB Durante a Crise

(33)

2.3. Crises Banc´arias 13

Ent˜ao dois fatos devem ser objeto de considera¸c˜ao: crises banc´arias s˜ao relativamente

fre-quentes e tˆem forte efeito sobre a atividade econˆomica de um pa´ıs, mas quais s˜ao as causas de

uma crise banc´aria ?

Sheng (Sheng 1991) divide as teorias sobre as causas de crises banc´arias em dois grupos:

as teorias monetaristas e as teorias da fragilidade financeira. Segundo as teorias monetaristas6,

as crises n˜ao s˜ao o resultado de stress financeiro, mas da falha das autoridades em responder

corretamente a este stress, situa¸c˜ao que ´e agravada pela incerteza dos entes privados quanto a

resposta pol´ıtica do supervisor. J´a segundo as teorias da fragilidade financeira, um longo per´ıodo

de crescimento econˆomico leva a comportamento euf´orico dos entes econˆomicos. Durante a fase

de crescimento do ciclo econˆomico7, a fragilidade financeira dos entes (governos, empresas,

bancos e fam´ılias) torna-se cada vez maior, devido ao aumento da alavancagem. O crescimento traz expectativas positivas nos entes, e surge uma bolha especulativa, que ao longo do tempo

vai se inflando. Esta situa¸c˜ao potencializa os resultados da ocorrˆencia de choques econˆomicos.

Finalmente a bolha estoura quando o pre¸co dos ativos cai, seja devido a eventos pol´ıticos,

choques externos, problemas setoriais ou uma combina¸c˜ao destes. Ocorre uma liquida¸c˜ao de

ativos (venda com desconto para obten¸c˜ao de liquidez), acentuando ainda mais a queda de seus

pre¸cos, que leva a insolvˆencia generalizada dos tomadores de recursos. Uma das consequˆencias

desta insolvˆencia ´e o enfraquecimento dos bancos, que pode levar a falhas.

Em Minsky (Minsky 1992), encontramos uma explica¸c˜ao para a fragilidade financeira atrav´es

da teoria da instabilidade financeira. Segundo esta teoria, trˆes tipos de agentes podem ser

identificados segundo sua capacidade de pagamento de d´ebitos: unidades hedge, que conseguem

cumprir seus compromissos atrav´es de seu fluxo de caixa; unidades especulativas, que conseguem

pagar o servi¸co de suas d´ıvidas, embora precisem rolar o principal; e unidades ponzi, cujas

opera¸c˜oes n˜ao geram recursos suficientes sequer para o servi¸co de sua d´ıvida e que recorrem a

novos empr´estimos ou a liquida¸c˜ao de ativos para atender suas obriga¸c˜oes, levando a situa¸c˜oes cada vez menos seguras para seus credores.

Quando as unidades hedge predominam, a economia pode ser vista como um sistema que

busca o equil´ıbrio atrav´es da atua¸c˜ao das for¸cas normais de mercado. Por outro lado, quanto

maior o peso de unidades especulativas e ponzi, maior a probabilidade de um sistema inst´avel.

Segundo a teoria de Minsky, h´a situa¸c˜oes nas quais a economia se apresenta est´avel e outras

nas quais predomina a instabilidade. Em adi¸c˜ao, nos per´ıodos de prolongada prosperidade,

a economia transita das rela¸c˜oes financeiras que a tornam est´avel para aquelas que a deixam

inst´avel.

Nos per´ıodos de crescimento econˆomico, observa-se a busca por maiores lucros e unidades

especulativas e ponzi com o passar do tempo receber˜ao mais recursos e tender˜ao a dominar.

Eventualmente uma altera¸c˜ao nas condi¸c˜oes macroeconˆomicas afetar´a negativamente estas

uni-6Teoria econˆomica baseada na teoria quantitativa da moeda e que prega o liberalismo econˆomico e a

estabi-lidade de pre¸cos atrav´es da utiliza¸c˜ao de instrumentos monet´arios.

7Para os economistas a atividade econˆomica sofre flutua¸oes ao longo do tempo. Per´ıodos mais pr´osperos,

onde o crescimento ´e acelerado, se alternam com per´ıodos adversos, onde h´a estagna¸c˜ao ou decl´ınio na atividade. Assim, o ciclo econˆomico, ou ciclo de neg´ocios, corresponde `as expans˜oes e contra¸c˜oes irregulares (flutua¸c˜oes) no n´ıvel de atividade econˆomica de um pa´ıs em determinado per´ıodo de tempo. A atividade econˆomica, embora apresente uma tendˆencia de crescimento a longo prazo, est´a sujeita a per´ıodos de r´apido crescimente e per´ıodos de estagna¸c˜ao ou mesmo de decl´ınio.

(34)

14 Cap´ıtulo 2. Bancos

dades, que ver˜ao seus lucros desaparecerem, precisar˜ao liquidar ativos para cumprirem suas

obriga¸c˜oes e isto levar´a ao colapso nos valores dos ativos.

A teoria busca mostrar que a pr´opria dinˆamica das economias capitalistas levar´a ao ciclo de

neg´ocios, e `a ocorrˆencia de crises banc´arias sem a necessidade de epis´odios de choques externos.

O trabalho de Minsky tem recebido mais aten¸c˜ao ap´os a recente crise financeira (Yellen 2009).

Ainda com rela¸c˜ao `as causas de crises banc´arias, argumentos p´os-keynesianos para sua

ocor-rˆencia s˜ao apresentados em Paula (de Paula & Jr. 2003). Para o autor, a percep¸c˜ao de risco

dos agentes varia de acordo com o ciclo econˆomico e tem rela¸c˜ao com a hip´otese da

fragili-dade financeira. Durante a fase de crescimento da economia, h´a otimismo generalizado, e tanto

empresas financeiras quanto n˜ao financeiras diminuem suas margens de seguran¸ca (sem alterar

suas preferˆencias por risco). Este otimismo ´e reflexo de uma menor percep¸c˜ao do risco devido a

maior confian¸ca no futuro. A mudan¸ca na postura dos agentes passa despercebida ao longo do

ciclo. Tal fato conduz a uma crescente fragiliza¸c˜ao financeira, lan¸cando as sementes da crise.

Por outro lado, Ergungor (Ergungor & Thomson 2005) oferece algumas poss´ıveis causas de crises sistˆemicas:

• A vis˜ao cl´assica de cont´agio, quando os problemas de solvˆencia de um banco resultam

em corridas banc´arias contra outros bancos. Este fato, na ausˆencia de interven¸c˜ao pelo

banco central, causa uma press˜ao por liquidez capaz de descapitalizar um grande n´umero

de bancos, levando, por sua vez, ao colapso do sistema. Embora Ergungor suponha esta

situa¸c˜ao como pertencente ao passado (devido a existˆencia do seguro de dep´ositos hoje em

dia), fatos recentes, como as filas para saque no banco britˆanico Northern Rock em 14 de

setembro de 2007, n˜ao parecem confirmar esta suposi¸c˜ao.

• A vulnerabilidade dos bancos pode estar ligada aos incentivos recebidos por bancos, regu-ladores e outros participantes do sistema financeiro. Quando o governo, com o objetivo de

promover crescimento econˆomico, remove tetos de remunera¸c˜ao de dep´ositos, revoga leis

que restringiam a entrada de novos bancos ou permite aos bancos participa¸c˜ao em

ativida-des antes proibidas (como empr´estimos externos), a expans˜ao monet´aria resultante exp˜oe

o sistema banc´ario a uma crise financeira, atrav´es da maior dificuldade de financiamento

(devido a maior competi¸c˜ao por dep´ositos) e ao risco moral (devido ao efeito riqueza8 que

estimularia a demanda por bens im´oveis e empr´estimos para consumo).

• Estudos de finan¸cas comportamentais explicam as a¸c˜oes dos bancos como miopia do

de-sastre. Choques macroeconˆomicos extremos s˜ao, por defini¸c˜ao, raros. Assim, os bancos

subestimariam a probabilidade de sua ocorrˆencia, n˜ao evitando situa¸c˜oes de exposi¸c˜ao

excessiva. At´e mesmo indicativos incipientes do choque seriam ignorados em favor de

in-forma¸c˜oes confirmat´orias das expectativas otimistas dos administradores, mesmo quando

a qualidade ou origem destas informa¸c˜oes seja duvidosa. Os bancos ent˜ao se dirigiriam,

em manada, para a fragiliza¸c˜ao financeira, abrindo as portas a uma crise banc´aria.

8Quando ocorre valoriza¸ao dos bens possu´ıdos pelos entes econˆomicos, pode ocorrer um aumento da sua

percep¸c˜ao de riqueza, tal fato ´e denominado pelos economistas de efeito riqueza, que muitas vezes pode levar a aumento no consumo.

(35)

2.4. Regula¸c˜ao 15

Independentemente de sua causa, uma crise banc´aria pode apresentar um custo bastante

elevado, pois os valores m´edios do custo fiscal n˜ao s˜ao conservadores. Estima-se o custo fiscal

m´edio de uma crise banc´aria em 12% do PIB de um pa´ıs (Rochet 2007). Assim, como observado

por Ergungor (Ergungor & Thomson 2005), o grande custo fiscal incorrido na resolu¸c˜ao de uma

crise banc´aria, talvez com recapitaliza¸c˜ao de bancos com problemas (como ocorrido recentemente

nos Estados Unidos), pode n˜ao ser pior que outros efeitos colaterais de sua ocorrˆencia, sejam

efeitos econˆomicos (altas taxas de juros, baixo n´ıvel de crescimento, desemprego crescente e

diminui¸c˜ao na confian¸ca dos investidores e consumidores) ou efeitos pol´ıticos (atraso em reformas

ou programas de estabiliza¸c˜ao).

Assim, n˜ao ´e errado concluir que os imensos custos de uma crise banc´aria tornam bastante

alta e atrativa a recompensa em evit´a-la ou, pelo menos, detect´a-la precocemente. Assim, h´a

grande interesse por este assunto, que leva a intensa pesquisa sobre crises banc´arias,

particular-mente sobre suas causas.

Uma das formas encontradas pelos governos para promover sistemas banc´arios mais s´olidos

foi a imposi¸c˜ao de regras mais r´ıgidas sobre este tipo de atividade. Assim, duas for¸cas se

ergueram na tentativa de manter o sistema financeiro o mais est´avel poss´ıvel: a regula¸c˜ao e a

supervis˜ao banc´arias.

2.4

Regula¸

ao

A despeito do n´ıvel de desenvolvimento de uma economia, o sistema banc´ario de um pa´ıs

´

e elemento essencial para sua estabilidade financeira, sinais de debilidade do sistema banc´ario

levar˜ao a movimentos desordenados nos mercados financeiros, se refletindo em instabilidades.

A regula¸c˜ao ´e, ent˜ao, vista pelos governos como uma forma de combater esta instabilidade.

Por´em, n˜ao h´a consenso acadˆemico sobre os motivos pelos quais a atividade banc´aria deva

ser regulada, nem da forma de regula¸c˜ao. Em verdade, n˜ao h´a consenso sequer sobre o grau de

regula¸c˜ao que estas atividades devam estar submetidas. Ainda assim, tanto reguladores quanto

banqueiros parecem concordar que a natureza dos neg´ocios banc´arios justifica controles estatais

sobre a atividade. Como observa Comptom: “Aqueles que se ressentem do fato de a atividade

banc´aria estar sujeita a limita¸c˜oes e controles mais pesados do que qualquer outro setor tˆem que

reconhecer que a atividade banc´aria ´e diferente e tamb´em devem reconhecer o fato de que muitos

desses controles surgiram porque os pr´oprios bancos criaram sua necessidade” (Compton 1991).

Mesmo economistas de posicionamento liberal concordam que em determinadas situa¸c˜oes a

atu-a¸c˜ao do estado ´e essencial ao adequado funcionamento de uma economia, como indicado por

Hayek: “H´a, finalmente, campos onde n˜ao cabe d´uvida que nenhuma disposi¸c˜ao legal poder´a

criar a condi¸c˜ao primeira da qual depende a utilidade do sistema de concorrˆencia e de

proprie-dade privada, a saber: que o propriet´ario aproveite com todos os servi¸cos ´uteis prestados pela

sua propriedade e sofra com todos os preju´ızos causados em outros pelo seu uso. Quando, por

exemplo, ´e impratic´avel condicionar o gozo de certos servi¸cos ao pagamento de um pre¸co, a

concorrˆencia n˜ao produzir´a esses servi¸cos; e o sistema de pre¸cos tornar-se-´a igualmente in´util

quando o dano causado a terceiros por certos usos da propriedade n˜ao pode ser efetivamente

(36)

16 Cap´ıtulo 2. Bancos

os itens que entram no c´alculo privado e os que influem no bem-estar social; e sempre que esta

divergˆencia se torna importante, outro m´etodo que n˜ao a (livre) concorrˆencia deve ser

encon-trado para a presta¸c˜ao dos servi¸cos em apre¸co” (Hayek 1994). Este parece ser o caso do sistema

banc´ario. Talvez seja interessante lembrar a famosa frase de James Madison9: ‘se os homens

fossem anjos, n˜ao haveria necessidade de governos.’ No presente contexto, pode-se extrapolar

esta afirma¸c˜ao em dire¸c˜ao ao sistema banc´ario: se todos os bancos (ou as pessoas que os

admi-nistram) fossem confi´aveis, n˜ao haveriam necessidade de regula¸c˜ao ou supervis˜ao banc´arias. A

evolu¸c˜ao do sistema banc´ario impˆos a cria¸c˜ao de sistemas de seguran¸ca. O objetivo da regula¸c˜ao

e supervis˜ao ´e garantir `a sociedade um ambiente o mais seguro poss´ıvel. Sem elas, somente um

pequeno e primitivo sistema banc´ario seria vi´avel.

Ainda, pode-se argumentar que a necessidade de regula¸c˜ao est´a associada com a fragilidade

da auto-regula¸c˜ao, como indicado por Polani10 (Polani 2000): “A auto-regula¸c˜ao imperfeita foi

um resultado do protecionismo. Num certo sentido, os mercados s˜ao sempre auto-regul´aveis, j´a

que eles tendem a produzir um pre¸co que desanuvia o mercado; mas isto se aplica a todos os

mercados, sejam livres ou n˜ao. Como j´a tivemos a oportunidade de mostrar, por´em, um sistema

de mercado auto-regul´avel implica algo muito diferente, isto ´e, mercados para os elementos

da produ¸c˜ao – trabalho, terra e dinheiro. Quando o funcionamento desses mercados amea¸ca

destruir a sociedade, a a¸c˜ao autopreservativa da comunidade visa impedir o seu estabelecimento

ou interferir com o seu livre funcionamento, quando j´a estabelecido.”

Os objetivos da regula¸c˜ao banc´aria poderiam ser definidos, segundo Dewatripont e Tirole

(Dewatripont & Tirole 2012), como a prote¸c˜ao aos depositantes (ponto de vista do consumidor)

e a busca da eficiˆencia, solidez e seguran¸ca do sistema financeiro (ponto de vista sistˆemico e

concorrencial). Nesta linha de pensamento, vale a pena mencionar Compton ao citar Alexander

Hamilton11, “os governos tˆem de intervir pelo bem comum quando o setor privado n˜ao cumpre

suas obriga¸c˜oes e n˜ao executa suas tarefas da maneira adequada” (Compton 1991). No caso

da atividade banc´aria ´e essencial para o bem estar do pa´ıs que a confian¸ca p´ublica no sistema

seja constru´ıda e preservada. ´E responsabilidade do governo contribuir para essa confian¸ca,

regulamentando e inspecionando os bancos para ajudar a assegurar ao p´ublico que seus dep´ositos

est˜ao seguros e que as institui¸c˜oes est˜ao sendo bem administradas.

Segundo Jorion (Jorion 2007), em mercados livres, deve-se permitir que empresas mal geridas quebrem, e tais colapsos s˜ao ben´eficos ao sistema como um todo, pois servir˜ao de li¸c˜ao e est´ımulo

para que outras empresas tirem conclus˜oes ´uteis sobre a necessidade de controle (gest˜ao)

ade-quada de riscos. Por´em, ainda segundo Jorion, regulamenta¸c˜ao ´e considerada necess´aria quando

os mercados n˜ao conseguem alocar recursos com eficiˆencia. No caso de institui¸c˜oes financeiras,

o Jorion acredita que este seja o caso em duas situa¸c˜oes: exterioriza¸c˜oes (externalities) e seguro de dep´osito.

Exterioriza¸c˜oes surgem pela possibilidade de efeito cascata, isto ´e, quando a falˆencia de

uma institui¸c˜ao afeta fortemente outras empresas e d´a margem ao medo de risco sistˆemico e

amea¸cas `a estabilidade de todo o sistema financeiro. Embora haja casos de falˆencia de grandes

9Quarto presidente dos Estados Unidos e considerado um dos fundadores da na¸ao americana.

10Polani, nesta passagem, tratava de regula¸ao em termos mais amplos que apenas regula¸ao do sistema

financeiro

(37)

2.4. Regula¸c˜ao 17

institui¸c˜oes sem gera¸c˜ao de inadimplˆencia generalizada (como o caso do banco inglˆes Barings),

a dificuldade na avalia¸c˜ao do risco sistˆemico aponta para ado¸c˜ao de regras prudenciais (atrav´es de regula¸c˜ao).

O seguro de dep´osito oferece tamb´em motivos para regulamenta¸c˜ao. Os dep´ositos banc´arios

s˜ao, por natureza, desestabilizadores. Os bancos prometem aos depositantes o recebimento

`

a vista do valor total dos dep´ositos, caso requisistado. Se os depositantes temerem que as

obriga¸c˜oes do banco ultrapassem seus ativos, ´e poss´ıvel que ocorra uma “corrida ao banco”.

Como os ativos de um banco podem ser investidos em ativos de baixa liquidez, a corrida for¸caria

sua liquida¸c˜ao com alt´ıssimo custo. Assim, uma solu¸c˜ao para esta situa¸c˜ao ´e a garantia, por

parte do governo, dos dep´ositos, o que tende a aumentar a confian¸ca dos agentes e diminuir

drasticamente a possibilidade de uma corrida banc´aria. Neste caso, considera-se que a iniciativa

privada n˜ao teria meios de arcar com este seguro, particularmente em situa¸c˜oes de choques

macroeconˆomicos severos.

Este modelo, certamente n˜ao est´a livre de cr´ıticas. Uma partes destas cr´ıticas argumentam

que risco moral (moral hazard ) seria o resultante do seguro de dep´ositos, pois os depositantes,

tendo seu capital garantido pelo governo, deixariam de optar por bancos mais seguros, mas

com menores taxas de remunera¸c˜ao dos dep´ositos, em favor de outros que oferecessem melhor

remunera¸c˜ao, independentemente de suas pr´aticas de gerˆencia de riscos. Seguindo esse

racioc´ı-nio, pr´aticas arriscadas bem sucedidas premiar˜ao os bancos e pr´aticas arriscadas mal sucedidas

castigar˜ao o governo, isto ´e, toda a sociedade, num caso t´ıpico de privatizar o lucro e socializar

o preju´ızo.

O problema do risco moral devido ao seguro de dep´osito explica porque os ´org˜aos

regulado-res tentam controlar mais estritamente as atividades arriscadas, for¸cando os bancos a manter

n´ıveis m´ınimos de capital como margem de seguran¸ca, limitando a poss´ıvel utiliza¸c˜ao do fundo

garantidor de dep´ositos.

De qualquer forma, o seguro de dep´ositos n˜ao ´e uma pr´atica unˆanime nos diversos pa´ıses.

Uma pesquisa do Banco Mundial realizada em 2007, aponta que 70% dos pa´ıses com alta renda

(high-income) e 50% dos pa´ıses com renda m´edia alta (upper middle-income) possuiam algum

tipo de seguro de dep´ositos. Este cen´ario provavelmente foi alterado com a crise financeira

iniciada em meados de 2007, pois mesmo pa´ıses com tradi¸c˜ao em n˜ao manter este tipo de seguro

resolveram cri´a-lo, mesmo que temporariamente. A Austr´alia, em outubro de 2008, anunciou

que, em resposta `a crise, os dep´ositos teriam seguro pelos trˆes anos seguintes e a Nova Zelˆandia,

tamb´em em outubro de 2008 e em resposta `a crise, criou um esquema de seguro de dep´ositos. A

Fig. 2.3 indica o n´umero de pa´ıses que mant´em algum tipo de sistema de garantia de dep´ositos

banc´arios.

Outro motivo para a regulamenta¸c˜ao ´e apontado por Compton: o impacto da atividade

banc´aria sobre a base monet´aria. Como detentores da maior quantidade de dep´ositos `a vista, os

bancos tˆem controle sobre parte da base monet´aria e est˜ao entre as ´unicas institui¸c˜oes capazes

de criar moeda, atrav´es da fun¸c˜ao de cr´edito. Assim, como parte da pol´ıtica econˆomica de

uma pa´ıs, o funcionamento do cr´edito pode ser influenciado pela regula¸c˜ao de forma a atingir

objetivos espec´ıficos de controle da infla¸c˜ao ou incentivo ao crescimento econˆomico. Esta vis˜ao

(38)

18 Cap´ıtulo 2. Bancos 1934 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2007 2 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Figura 2.3: N´umero de Pa´ıses com Seguro de Dep´ositos

a desregulamenta¸c˜ao seria o melhor caminho, com vistas a retirar algumas das restri¸c˜oes

exis-tentes na atividade banc´aria, enquanto se preserva o direito dos governos de exercer um grau

determinado de regulamenta¸c˜ao e supervis˜ao do sistema banc´ario.

Talvez a crise inciada em 2008 amplie o contingente daqueles que creem que um sistema

de regula¸c˜ao mais s´olido deva ser adotado, pois, como indicado por Turczyn, “A atividade

regulat´oria do estado para sanar falhas do mercado decorreria do abandono da cren¸ca liberal

de que o mercado seria perfeito ou, n˜ao o sendo, que seria ele capaz de, livremente, sanar essas

falhas. Decorreria, tamb´em, da constata¸c˜ao de que tais falhas, mesmo que sanadas pela atua¸c˜ao

do mercado, o seriam de forma mais lenta e com sacrif´ıcio de relevantes valores econˆomicos

e sociais, tornando indispens´avel incrementar a eficiˆencia dos sistemas cr´ıticos por meio dos

instrumentos dispon´ıveis, dentre os quais o da regula¸c˜ao” (Turczyn 2005).

Entre os mecanismos mais importantes criados como suporte a regula¸c˜ao banc´aria est˜ao os

acordos de capital da Basileia, que s˜ao descritos a seguir.

2.5

Os Acordos da Basileia

Os dois acordos da Basileia s˜ao os exemplos mais claros da utiliza¸c˜ao de t´ecnicas

quanti-tativas de mensura¸c˜ao de risco no ambiente banc´ario. Os acordos est˜ao comprometidos com a

harmoniza¸c˜ao da supervis˜ao banc´aria atrav´es de padr˜oes de regula¸c˜ao e adequa¸c˜ao de capital

no sistema financeiro mundial, em particular nos pa´ıses que comp˜oe o comitˆe da Basileia12.

O primeiro acordo da Basileia, a partir daqui referido como Basileia I, teve foco na adequa¸c˜ao

de capital como meio de lidar com o risco presente na carteira de cr´edito dos bancos. Publicado

em 1988 com o t´ıtulo de “International convergence of capital measurement and capital

stan-dards”, o acordo n˜ao continha qualquer recomenda¸c˜ao de manuten¸c˜ao de capital para lidar com

12Comitˆe formado pelas autoriades de supervis˜ao do Grupo dos 10. Este grupo, na verdade com 13 membros, ´e

composto por Alemanha, B´elgica, Canad´a, Fran¸ca, Espanha, Estados Unidos, It´alia, Jap˜ao, Luxemburgo, Pa´ıses Baixos, Reino Unido, Su´ecia e Sui¸ca. O grupo mant´em la¸cos de consulta e coopera¸c˜ao em quest˜oes econˆomicas, monet´arias e financeiras

(39)

2.5. Os Acordos da Basileia 19

outros tipos de risco, como risco cambial ou de juros, isto se deve a vis˜ao da ´epoca que seria

mais adequado o tratamento caso a caso por cada pa´ıs devido `as suas especificidades. Basileia

I era ainda proposta apenas para uso por bancos internacionalmente ativos, e ressaltava que a

adequa¸c˜ao de capital n˜ao poderia ser considerada como ´unica indicadora da solvˆencia de um

banco.

Alicer¸cado em 4 pilares, o acordo definia no primeiro destes pilares (The Constituents of Capital ) quais os constituintes do capital do banco. As reservas mantidas pelos bancos eram

enumeradas e seu limite era indicado, o capital tamb´em era dividido em duas camadas, de

acordo com a ‘qualidade’ das reservas que constituiam cada n´ıvel.

O segundo pilar (Risk Weighting) classifica, segundo o n´ıvel de risco, os ativos que comp˜oem

o portfolio de cr´edito banc´ario em cinco categorias, em seguida cada categoria de ativos ´e

associada a um fator (percentual) que indica seu n´ıvel de risco.

O terceiro pilar (A Target Standard Ratio) define um n´ıvel m´ınimo de capital a ser mantido

por um banco. Este n´ıvel de capital corresponde a 8% dos ativos do banco, por´em, cada ativo

seria ponderado pelo seu n´ıvel de risco. Este pilar faz referˆencia aos pilares anteriores. Quando

utiliza a defini¸c˜ao de capital (e suas camadas) faz uso das defini¸c˜oes do primeiro pilar e quando

utiliza a classifica¸c˜ao e pondera¸c˜ao de 5 n´ıveis de risco dos ativos, o faz atrav´es das especifica¸c˜oes realizadas no segundo pilar.

O quarto pilar (Transitional and Implementing Agreements) estabelece diretrizes para a

im-plementa¸c˜ao do acordo. Os bancos centrais dos pa´ıses participantes do Comitˆe da Basileia s˜ao

solicitados a estabelecerem mecanismos de incentivo e coer¸c˜ao para ado¸c˜ao do acordo pelos

ban-cos supervisionados. Em complemento ao segundo pilar, este pilar define tamb´em pondera¸c˜oes

de risco de transi¸c˜ao, para permitir aos bancos adapta¸c˜ao gradual aos termos do acordo. Um

prazo de 4 anos tamb´em ´e estabelecido para ades˜ao ao acordo pelos pa´ıses membros do comitˆe.

A ades˜ao ao primeiro acordo da Basileia foi generalizada. Em 1992, todos os pa´ıses do comitˆe

j´a o tinham adotado, exceto o Jap˜ao13. At´e mesmo economias em desenvolvimento decidiram

pela ades˜ao ao acordo, e em 1999, praticamente todas as economias do mundo seguiam Basileia I,

pelo menos segundo os regulamentos dos supervisores. A ades˜ao dos pa´ıses em desenvolvimento

a Basileia I se deveu a press˜ao impl´ıcita dos grandes bancos internacionais que consideravam a

ades˜ao ao acordo como fundamental para estes pa´ıses terem melhor acesso a cr´edito.

Apesar do aparente sucesso, muitas cr´ıticas foram levantadas contra este primeiro acordo,

tais cr´ıticas variaram desde a falta de referˆencia aos outros tipos de risco presentes na atividade

banc´aria, pois o acordo focava no risco de cr´edito, at´e a omiss˜ao da disciplina de mercado que

poderia limitar a influˆencia do acordo sobre o real comportamento dos bancos. Em resumo, n˜ao

se acreditava que este primeiro acordo fosse suficiente para promo¸c˜ao da estabilidade do sistema

financeiro internacional.

As cr´ıticas a Basileia I e a crise banc´aria dos anos 90 impulsionaram o Comitˆe da Basileia a

propor a formula¸c˜ao de novas bases para manuten¸c˜ao de capitais pelos bancos. O objetivo era

expandir o escopo e aprofundar o primeiro acordo da Basileia. Assim, em 2004, foi publicado um novo documento com o t´ıtulo “Basel II: International Convergence of Capital Measurement

13A ado¸ao de Basileia I no Jap˜ao somente foi realizada em 1996, ap´os recupera¸ao da severa crise banc´aria

(40)

20 Cap´ıtulo 2. Bancos

and Capital Standards: a Revised Framework”.

Em 2006 foi publicada a vers˜ao mais nova do acordo de Capitais da Basileia, que ficou

conhecida como Basileia II. A nova vers˜ao do acordo trouxe como inova¸c˜oes o tratamento aos

riscos de mercado e operacional, em adi¸c˜ao ao risco de cr´edito, outras novidades foram a maior

aten¸c˜ao dada ao papel dos supervisores e a transparˆencia na divulga¸c˜ao de informa¸c˜oes por

parte dos bancos (disciplina de mercado).

O novo acordo de capitais da Basileia tem como objetivo principal adequar o n´ıvel de

expo-si¸c˜ao ao risco por parte de um banco ao seu volume de capital. Acredita-se que esta adequa¸c˜ao

deva levar a maior estabilidade e solidez do sistema banc´ario, sem criar barreiras `a livre

concor-rˆencia entre os bancos. Embora dirigido a bancos internacionalmente ativos, espera-se ades˜ao

ao acordo por parte de bancos dos mais variados portes em diferentes pa´ıses.

A nova formula¸c˜ao seguia a estrutura de pilares do antigo acordo, mas agora os trˆes pilares

sobre os quais o acordo se desenvolveu eram requisitos m´ınimos de capital (“Minimum Capital

Requirements ”), processo de revis˜ao pelo supervisor (“Supervisory Review Process”) e disciplina

de mercado (“Market Discipline”).

O primeiro pilar, requisitos m´ınimos de capital, define os elementos do balan¸co de um banco

que podem ser considerados parte de seu capital regulat´orio. Neste pilar est´a contida uma

classifica¸c˜ao de ativos banc´arios segundo seu grau de risco, algumas disposi¸c˜oes a serem

con-sideradas no processo de transi¸c˜ao de Basileia I e, como parte central do texto, considera¸c˜oes

sobre trˆes tipos de risco presentes na atividade banc´aria: risco de cr´edito, risco operacional e

risco de mercado.

Embora no novo acordo apare¸cam explicitamente os riscos operacional e de mercado, o risco

de cr´edito ´e assunto de grande parte do texto dedicado ao primeiro pilar do novo acordo.

O acordo da Basileia II define os elementos utilizados no c´alculo do capital de um banco,

denominado de capital regulat´orio. Em adi¸c˜ao, o acordo deixa `a disposi¸c˜ao dos bancos duas

metodologias para mensura¸c˜ao de risco de cr´edito: a abordagem padronizada, na qual avalia¸c˜oes

externas de grau de risco s˜ao associadas a pondera¸c˜oes fixas para defini¸c˜ao do grau de exposi¸c˜ao

dos ativos; a abordagem de avalia¸c˜ao interna (IRB - Internal ratings-based), onde se espera

maior precis˜ao no c´alculo da exposi¸c˜ao devido `a liberdade de modelagem que permite aos bancos

usarem de sua experiˆencia e conhecimento de seus clientes na avalia¸c˜ao de risco.

A utiliza¸c˜ao de agˆencias de classifica¸c˜ao est´a condicionada `a satisfa¸c˜ao de alguns crit´erios

t´ecnicos. Na abordagem padronizada s˜ao definidos estes crit´erios:

1. Objetividade. A metodologia de classifica¸c˜ao de cr´edito deve ser sistem´atica e rigorosa.

Deve estar prevista a possibilidade de altera¸c˜ao desta classifica¸c˜ao devido a mudan¸cas no

panorama econˆomico. A utiliza¸c˜ao de backtesting ´e indicada explicitamente como forma

de valida¸c˜ao da metodologia.

2. Independˆencia. Press˜oes pol´ıticas e econˆomicas n˜ao s˜ao admitidas. Conflitos de interesse tamb´em devem ser evitados na composi¸c˜ao da administra¸c˜ao da agˆencia da classifica¸c˜ao.

A experiˆencia tem demonstrado como ´e dif´ıcil atingir este crit´erio. Na verdade, sobram

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