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Magda Marly Fernandes

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Academic year: 2021

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A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS COMO VIA PARA CONSTRUÇÃO DE UMA

CULTURA DE PAZ, INCLUSÃO SOCIAL E EXERCÍCIO DA CIDADANIA: A

EXPERIÊNCIA COOPERATIVA DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO ENSINO

FUNDAMENTAL (1ª a 4ª SÉRIES) SITUADAS NA ZONA LESTE DE SÃO PAULO

FERNANDES, Magda Marly Orientador: Prof. Dr. Alípio Marcio Dias Casali.

Resumo

As violências dentro das escolas são mais visíveis no Ensino Médio cujas práticas podem estar sendo geradas nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Neste, há uma disparidade de forças (cultural, hierárquica, intergeracional e argumentativa) com abusos de poder toleráveis silenciando quem vive dentro dos campos tensionados. Esse processo alicerça a cultura do racismo e desprestígio da nova geração. O conteúdo silenciado traz aspectos legitimados e com isso, a dificuldade de transformação ambiental.A ausência do diálogo, e a distorção da compreensão sobre as contradições fazem parte de uma ordem imposta que viabilizam práticas excludentes. Quando determinada criança não recebe a atenção que necessita é porque não houve um olhar cuidadoso sobre ela. Geralmente acontece com alunos que por suas diferenças não são considerados dignos dos lugares ocupados, nem de ter um futuro melhor. Referencial:Foucault, Shilling, Apple, Hall, Casali, Mclaren, Dussel, Blancher.Metodologia: pesquisa–ação tem como pressuposto sujeitos com objetivos e metas comuns interessados em um problema que emerge num dado contexto no qual atuam desempenhando papéis diversos.O pesquisador ajuda o grupo a problematizá-lo e situá-lo em um contexto teórico e da consciência social com vistas a planejar as formas de transformação das ações dos sujeitos.As práticas se fazem de acordo com o que pensamos, e assim é possível identificar o que devemos transformar.

Palavras-chave : mediação- cultura de paz – inclusão

1. Introdução

O direito à escola pública e gratuita inclui acesso, permanência e terminalidade da escolarização e supõe o investimento de políticas de governos com seriedade nas propostas educacionais, um ambiente propício para a aprendizagem, qualidade do ensino, professores atualizados e os sentimentos gerados nas relações sociais. Seria ingenuidade pensar a escola sem entender a sua complexidade, o descompasso com as mudanças e exigências mundiais, a força dos interesses do Estado, seus mandos e desmandos e seria duplamente ingênuo não incluir a luta dos alunos e dos professores pelo reconhecimento de seus papéis na sociedade. Assim, há mecanismos excludentes que adentram a escola, outros criados pela escola, e que muitas vezes não são reconhecidos como violências em cumplicidade com os que nela convivem, ou decidem sobre ela. As violências mais visíveis são a eliminação, intimidação ou depreciação dos mais fracos pelos mais fortes ferindo tão profundamente as pessoas que suas identidades ficam deterioradas. Geralmente as vítimas passam a ter desvantagem social com marcas, defeitos, apelidos até chegarem ao ponto de renderem-se ou revidarem e podem utilizar das mesmas ou piores estratégias que receberam de seus

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oponentes (Abramovay e Rua, 2002)1. Muitos dos problemas de desempenho acadêmico e fracasso escolar resultam das tensões que ocorrem nos ambientes escolares. Há casos de evasão devido às brigas entre alunos, desentendimento entre famílias e professores. O problema da violência na escola é mundial e não exclusivo de uma classe social. Hannah Arendt (in Zaluar,1994)2 define a violência como um instrumento e não um fim; um instrumento mudo sem o uso da linguagem que caracteriza as relações de poder baseadas na persuasão, influência ou legitimidade. Alba Zaluar refere-se à violência como o não reconhecimento do outro, como uma palavra emparedada ausente de compaixão e negação da dignidade humana. Não aparece o sujeito da argumentação, da negociação ou da demanda, enclausurado na exibição da força física sobre o oponente. Segundo essa pesquisadora o conflito é entendido como velho e necessário nas sociedades justamente porque o consenso nunca é total, nem fechado, nem muito menos permanente. Trata-se do embate que existe em todos os espaços marcados pelas diferenças. A ausência do diálogo, da mediação como exercício da democracia é que gera a violência aberta. Portanto, a violência é o resultado mal resolvido de um conflitos. Os confrontos intermitentes, consentidos e silenciados exibem a ausência da ética na educação intensificada pela reprodução do racismo nas instituições. Quanto à violência ser puro reflexo da comunidade, Zaluar apóia-se nas pesquisas CNTE3, que faz um levantamento em vários estados do Brasil sobre a relação violência urbana-escola. Esse órgão aponta o Rio de Janeiro como um dos Estados mais violentos da nação, porém, não tão violento nas escolas, inclusive em comparação com as escolas de São Paulo. Esse referencial poderia sinalizar duas coisas: ou existem formas diferenciadas de lidar com os conflitos nas instituições escolares do Rio de Janeiro, ou a violência urbana não exerce influências significativas dentro das escolas, pelo menos não na proporção que imaginamos. Zaluar recorre também aos estudos de Cláudio Chaves Beato Filho4 sobre violência urbana e o tráfico de drogas e aponta a ameaça gravíssima existente contra a infância e a juventude do Brasil. Um ambiente propício para a sua disseminação, seriam nas regiões mais vulneráveis e pobres onde faltam empregos, segurança, benefícios sócio-culturais com ausência quase total de políticas de investimentos que assegurem o futuro das crianças e dos jovens. Flávia Shilling (2006) 5 diz que há diferentes maneiras de entender a violência porque ela envolve diferentes personagens; em diferentes

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ABRAMOVAY, Miriam e Rua, Maria das Graças. Violências nas escolas. UNESCO,2002. 2

ZALUAR, Alba. O contexto social e institucional da violência. NUPEVI/IMS/UERJ. http://www.ims.uerj.br/nupevi/artigos_periodicos/contexto.pdf

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CNTE divulga resultado da pesquisa "Retrato da Escola". <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u6227.shtml> Acesso em 19 de novembro de 2006.

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Pesquisador do Departamento de Sociologia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais. Av. Antônio Carlos 6627, Campus Pampulha, Belo Horizonte, MG 31270-901, Brasil.

BEATO FILHO. Conglomerados de homicídios e o tráfico de drogas em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, de 1995 a 1999. Cad. Saúde Pública v.17 n.5 Rio de Janeiro set./out. 2001.

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contextos e em diferentes dimensões visíveis e mensuráveis. Há também outras dimensões menos calculadas e mais toleráveis como é o caso da corrupção, do desvio de verbas, da indução da vantagem do que é público pelo interesse privado. Os conflitos coletivos, sociais, familiares que resultam em respostas violentas geralmente são acobertados pelo medo e silenciamento. Há um esforço para quebrar o silêncio que envolve estas questões que não são da vida privada ou secreta; são políticas e públicas.Na multiplicidade das causas e dos efeitos, a pesquisadora diz que há um ponto de convergência em todos os tipos de ocorrências de violências: ela cega, muda, tira do chão, desestabiliza, desloca discursos.Considerando Flávia Shilling e Alba Zaluar, os conflitos repetitivos, as depreciações e intimidações, as punições, os mecanismos de classificação e as formas de exclusão legitimadas podem gerar desigualdades na escola e reforçar o racismo e reproduzir desigualdades sociais devido à sedimentação de concepções. Para ser interrompido seria necessário um olhar criterioso, uma discussão sistemática com mapeamento, enfim, um procedimento diagnóstico do que vem sendo produzido pela escola. Quando uma criança ou um adolescente, por exemplo, não recebe a atenção que necessita dentro da escola, é porque não houve um olhar cuidadoso sobre ela e um olhar cuidadoso sobre a escola que a tem lá. Acontece geralmente com alunos que por suas diferenças, não são consideradas dignos dos lugares ocupados e nem de um futuro melhor. Nesse sentido, esses alunos precisariam mais do que leis de proteção e acessibilidade para não sofrerem injustiças. Como diz Lia Diskin (1998, in FERENANDES, 2002) 6 a retirada de direitos é feita pela retirada do olhar; olhar é um gesto de anuência à existência do outro, à afirmação do outro como alguém. Quando retiramos nosso olhar, negamos sua existência e expressamos que não queremos que exista. Partindo dessas reflexões, é possível afirmar que há intencionalidades no campo do currículo e nas manipulações de suas diferentes dimensões. Surge então o problema: o sistema escolar composto por professores e gestores, e acima dele o Estado, ao desviar o olhar sobre as manipulações no campo do currículo estariam forjando uma “seleção natural” ou “hegemônica” de determinados alunos deixando como legado aos sobreviventes um modelo a ser seguido. Nesse sentido, as raízes das reproduções constantes das desigualdades dentro da escola seriam ocultadas em suas formas de manipulação dos conteúdos, das avaliações, das classificações, das legitimidades, das intervenções de ensino, sendo a relação interpessoal conflituosa ou violenta, apenas uma de suas faces. Eles vão acontecendo aos poucos, durante o processo de escolarização, intensificando-se mais tarde, principalmente no ensino médio onde há mais ocorrências de violências.A pergunta é: nas séries iniciais do ensino fundamental por terem menos registros de conflitos abertos ou declarados, estariam realmente mais isentos desse processo? Ou, existe um sistema mais tolerável e por isso, menos visível que

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vão tornando o lugar cada vez mais seletivo e visível nas séries subseqüentes? A preocupação dessa pesquisa é, pois, com os conflitos nas escolas do ensino fundamental (séries iniciais) e que exigirá inicialmente a investigação preliminar dos tipos de conflitos, sua incidência e configuração; as formas de concretização de registros e solução dos problemas, para, a partir dos resultados, organizar uma pesquisa no campo do currículo que vise o desvelamento desses mecanismos e criação de ações acertivas. A linha mestra do trabalho será o diálogo cooperativo dos pesquisados que são as pessoas que ajudarão a prevenir e a resolver construtivamente soluções para tais problemas. A pesquisa buscará formas de mediação utilizadas nas escolas centrando seu foco nas diferentes dimensões do currículo. George Simmel7 coloca o conflito no campo das possibilidades e acredita que existe na força uma unidade positiva (ou negativa) alguma maneira ou ensaio de interações entre oponentes. O conflito quando mediado serve como regulação social possibilitando a reinvenção de normas baseado em idéias partilhadas de justiça, respeito mútuo e espírito esportivo. Caso contrário, pode perigosamente ceder lugar à barbárie. O caráter da mediação tem um valor ético capaz de transformar os pensamentos e os significados antes não concebidos no lugar e ajuda a construir outras possibilidades que não a violenta construindo uma escola mais inclusiva e uma cultura de paz. Segundo o Comitê Paulista para a Década da Cultura de Paz (um programa da UNESCO 2001- 2010), a cultura de paz:

É a paz em ação; é o respeito aos direitos humanos no dia-a-dia; é um poder gerado por um triângulo interativo de paz, desenvolvimento e democracia. Enquanto cultura de vida trata-se de tornar diferentes indivíduos capazes de viverem juntos, de criarem um novo sentido de compartilhar, ouvir e zelar uns pelos outros, e de assumir responsabilidade por sua participação numa sociedade democrática que luta contra a pobreza e a exclusão; ao mesmo tempo em que garante igualdade política, eqüidade social e diversidade cultural. As intrigas apoiadas em problemas corriqueiros de produção/baixo desempenho estão apoiadas na exibição da disputa pelo poder propiciando um ambiente hostil à inclusão escolar de qualquer indivíduo que esteja no enquadramento letal das diferenças negadas. Os sentimentos

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FERNANDES, Magda Marly. Autonomia e independência do jovem com deficiência mental: depoimentos sobre esses objetivos no Saesp. Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2002. Dissertação de mestrado.

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Georg Simmel, é reconhecido como um dos fundadores da sociologia alemã, ao lado de Max Weber e Ferdinand Tönnies. De ascendência judia, nasceu em Berlim e viveu de 1858 a 1918, Preocupou-se com temas aparentemente díspares, como a vida urbana, o dinheiro, a prostituição, a arte, o estilo de vida moderno e as religiões. Entre tantos outros, influenciou Weber, Luckács, Bloch, Heidegger, Freyer, Mannheim, Kracauer, Jaspers, Benjamin, Spengler, Elias, Adorno, Buber, Ortega y Gasset e Bergson. Colaborou com Durkheim, e já antes da 1ª Guerra seu pensamento foi acolhido em Chicago e em Paris. Dentre os intelectuais brasileiros, Sérgio Buarque de Holanda é um dos que dialogou com o pensamento de Simmel o qual, não obstante, ainda é pouco traduzido e conhecido no País.Esse pensador foi um virtuose da palavra, dando a suas preleções o sabor de espetáculo.

Fonte: RIBEIRO, Jorge Claudio Ribeiro. Georg Simmel, Pensador da Religiosidade Moderna. <Revista de Estudos da Religião – REVER ISSN 1677-1222Pós-Graduação em Ciências da Religião - PUC-São Paulo> Acesso em 16 de novembro de 2006.

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produzidos nas pessoas que indiretamente assistem às freqüências desses atos são também vítimas, mas acabam aprendendo que é assim que a vida é. A mediação de conflito como forma de prevenir as violências favorece a inclusão escolar, ajuda a reorganizar o trabalho pedagógico melhorando sua qualidade, altera o ambiente e consequentemente muda a cultura, os rituais, a linguagem, os relacionamentos. Através de estudos de programas existentes a pesquisa se propõe a criar juntos aos gestores das escolas públicas do ensino fundamental (anos iniciais) da Zona Leste de São Paulo, uma via formativa e intervencional que permitam prevenir violências nas escolas, melhorar a qualidade do ensino e a difusão de uma cultura de paz.. O objetivo da pesquisa é a mediação de conflitos nas escolas de ensino fundamental; os sujeitos são escolas públicas situadas na Zona leste/SP, e a metodologia será Qualitativa - Pesquisa-ação que tem como pressuposto as pessoas que nela se envolvem e que compõem um grupo com objetivos e metas comuns interessados em um problema que emerge num dado contexto no qual atuam e desempenham papéis diversos; o pesquisador deve ajudar o grupo a problematizá-lo, ou seja, situá-lo em um contexto teórico mais amplo e assim possibilitar a ampliação da consciência dos envolvidos, com vistas a planejar as formas de transformação das ações dos sujeitos e das práticas institucionais (Thiollent, 1994)8. A prática pertence ao âmbito do social e expressa a cultura como legado acumulado e próprio das instituições. As ações expressam práticas sociais e constituídas a partir dos sujeitos historicamente considerados, ou seja, na ação, agimos de acordo com o que somos e, no que fazemos, é possível identificar o que somos.

6. Bibliografia

ABRAMOVAY, Miriam e Rua, Maria das Graças. Violências nas escolas. UNESCO,2002.

FERNANDES, Magda Marly. Autonomia e independência do jovem com deficiência mental: depoimentos sobre esses objetivos no Saesp. Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2002. Dissertação de mestrado.

SHILLING, Flávia Inês. Sociedade da insegurança e violência nas escolas. São Paulo: Moderna, 2004. RIBEIRO, Jorge Claudio Ribeiro. Georg Simmel, Pensador da Religiosidade Moderna.

THIOLLENT, Michel Jean Marie. Metodologia da Pesquisa-ação. CSão Paulo: Cortez, 1994.

<Revista de Estudos da Religião – REVER ISSN 1677-1222Pós-Graduação em Ciências da Religião - PUC-São Paulo> Acesso em 16 de novembro de 2006.

ZALUAR, Alba. O contexto social e institucional da violência. NUPEVI/IMS/UERJ. http://www.ims.uerj.br/nupevi/artigos_periodicos/contexto.pdf

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Referências

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