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"Solo és mãe gentil": a questão de pintura de paisagem : caráter e natureza do Brasil

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Escola de BelasArtes Rio de Janeiro 1993 1

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AMANDIO MIGUEL DOS

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A QUESTÃ

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-ORIENTADOR

PROFESSOR DOUTOR

GUILHERME

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Professor

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da Escola de Comunicaçã

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da UFRJ

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Universidade Federal do

Rio

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Centrode Letrase Artes

Escola de Belas Artes

Rio

de Janeiro 1993

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SOLO ÉS MÃ

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A QUESTÃ

O DA

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PAISAGEM

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AMANDIO MIGUEL DOS

SANTOS

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DISSERTAÇÃ

O SUBMETIDA AO

CORPO DOCENTE DA ESCOLA DE

BELAS

ARTES

DO

CENTRO

DE

LETRAS

E

ARTES

DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

COMO

PARTE

DOS

REQUISITOS

NECESSÁ

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OBTEN

ÇÃO DO GRAU DE

MESTRE

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(Presidente da Banca Examinadora)

Prof.Dr.GuilhermeSias Barbosa

Universidade Federal do Rio de Janeiro

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Profa.Dra.Miriam Therezinha Fonsecade Carvalho

Universidade Federal doRiodeJaneiro

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Profa.Doutoranda Anna Maria FaustoMonteiro deCangalho

Pontif ícia Universidade Católica doRiode Janeiro

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RIODE JANEIRO,MAIODE1993

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,Amandio Miguel dos

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-“Soloésmãe gentil**:a questãodapinturade

Paisagem: Carátere

Natureza doBrasil".RiodeJaneiro,UFRJ, CLA,EBA,1993.

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ix,235f.,32 il.

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' Dissertação:Mestre em História da Arte(História

eCríticada Arte).

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1.Arte no Brasil

2. Visões daNatureza p

3.PinturadePaisagem 4.Imagem e Memorialismo

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I.UniversidadeFederaldoRio deJaneiro

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II.Título.

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Do quea terramais garrida

Teus risonhos lindos campostêmmais flores

Nossos bosquestêm maisvida

Nossa vida noteuseio mais amores.”

Osório Duque Estrada

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“Maso historiador da arte tem de considerar

tanto as qualidades individuais como as

nacionais. Só a interação destas com uma

época é capaz de traçar um quadro completo

da arte de um

per

íodo dado, tal como o

concebemos

.

Nikolaus Pevsner O

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“Oconhecimentodasimagens,de suaorigem,

suas leis, é uma das chaves de nosso tempo.

Para compreendermos a nós mesmos e para

necessário

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nos expressarmos

conheçamosa fundo o mecanismodossignos

aosquaisrecorremos."

Pierre Francastel e que

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Dedico esta Dissertação aos servidores

públicos que espartanamente trabalham no

ensino, na pesquisa e na preservação da

memória do patrimónioartístico nacional,em

especial, aos companheiros de equipe da

Divisãode Programas Educativo-Culturaisdo

Museu Nacional de Belas Artes e, ainda, a todos osmeusalunos,aosquaisesta pesquisa

se destina, para que reúna aqueles que

conservarãovivoocompromissodeconstruir

aHistóriada ArtenoBrasil.

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AGRADECIMENTOS

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Aos Mestres de Sabedoria, que com justiça e amor constroem o conhecimento do Universo;

Aos pintores e a todos aqueles que, ao longo dos séculos, produzem ou preservam a

documentaçãovisualquesetomaobjeto de estudoepesquisaparaos historiadores daArte;

Aosmeus pais,AmandioeMaria do Céu,porsuaajudaeamparoemtodososmomentos;

Ao Professor Dr. Guilherme Sias Barbosa, por sua orientação sensível e incentivo em todas as horasea quemofereço asdescobertas aquiapresentadas;

AoProf

.

DonatoMello Júnior,portudo que representana historiografiadaArteno Brasil;

Àsprofessoras SoniaGomesPereira,Maria Heloísa FenelonCosta eLiana Silveira Noya, quecompuseramacomissãono exame de seleção quando domeuingressoaoCurso;

Aosprofessores AluízioRamos Trinta e AgenorRodrigues Valle, porseusexemplosque

dignificamavidaacadêmica;

ÀsprofessorasAna Belluzzo,LianaRosemberg,Margareth da Silva Pereirae Anna Maria

Fausto MonteirodeCarvalho,por todo o seu apoio eencorajamento profissional,pois sempre acreditaramno meu trabalho,oeternoreconhecimento;

À Professora Dra. Miriam Therezinha, que gentilmenteaceitou oconvite para compora Banca Examinadora;

À Ana MariaeMárcia Loureiro,pelapaciênciaeamizadeaolongodestesanos;

AoJosé Rodrigues Neto,pelalocalizaçãodostextos bíblicos;

AoAdilsone Tobias,pelatolerânciaecompreensão nashorasdifíceis;

Àtoda equipe de Monitores do Museu, peladedicaçãoemsuasfunçõese, emespecial, a Sergio AlcântaraeVicente doCarmo,pelo empenhono exercíciodesuas tarefas;

Ao Antônio Rainha,pelarevisão ea Carlos Velho,pela versãoem inglês;

Ao Raul Lima e ao Antônio Caetano (“Tuninho” ), pelas imagens que compõem a

referência visualdestaDissertação;

Ao colegade curso,Carlos Terra,peloauxílio na normatizaçãodestetrabalho;

ÀSuelideLima Teixeiraque,com sua especialatenção,semprenosrecebe comternura; e

AoSergioLaksque, com paciência interpretativaevirtuosismo profissional,diagramou e editorouestetrabalho.

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RESUMO

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O homem vêeadaptaa natureza a seus própriosinteresses,elea humaniza ou adestrói,

tomando-a algo para si ou para o seu controle ou ainda a quer para uma interpretação

aprazíveloupitoresca

.

Anoção denatureza, ou aque delaformamos, éumaidéia cultural.A ideiadenatureza ou

qualqueroutrosentidoquea ela seatribui,dependendo do períodoedo meio de expressão,

tem no binómio arte-natureza um jogo de espelhos múltiplos com perguntas como: a arte

espelhaa natureza, ou a naturezaéoespelhoda arte?

A arte no Brasil testemunha o surgimento da pintura de paisagens, com a produção

imagética dos pintores viajantes que aqui buscavam ou o exótico na paisagem ou oprincípio

documentalista e, assim, forneceram gradualmente vasto material para a produção de álbuns

iconográficos que foram publicados nos centros culturais europeus e nacionais

.

Na cultura

brasileira o binómioarte-natureza assume um perfil fugidioe misterioso

.

A interpretaçãoda

natureza,no Brasil, nunca representou uma idéia abstrata, ao contrário,foisempre evocada ora

como domínio da ordemoracomorestauraçãodocaos.

As primeiras representações pictográficas das terras brasileiras encontram no pintor

seiscentista Frans Post sua materialização.NelasPost revela uma fascinaçãosobrea paisagem

do desconhecido

.

As terras do Novo Mundo exerceram sobre Frans Post uma enigmática revelaçãodo homem diante do mundo natural.

Já nos setecentos será LeandroJoaquim que terá na pintura de paisagem o objetivo de

narrar cenograficamente a própria história de sua cidade, aspirando produzir uma

documentação das localidades numa visualidade que revelaria um “olhar de visitante” à

cidade,materializando emsuas telasa descobertada naturezacomo fenômenoestético.

Porém, nos oitocentos, com a implantação do ensino oficial da Academia Imperial de

Belas Artes,tinha a pintura de paisagem uma atividade subordinada aostemas principaisdos

quadrosenelesatuavacomo mero complemento.Entretanto, foi comos pintores viajantes que

as observações da natureza se tomaram foco para a apreciação do mundo natural, que até

então não havia sido explorado e descoberto em todo o seu potencial estético nos séculos

anteriores da Arte noBrasil.

Assim, estaDissertação visa interpretar

/

analisara produçãovisual dos artistas que,diante dadescobertaestética daspaisagensqueas“terrasnovas” lhe ofereciam,postularam um novo

ideárioimagético

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ABSTRACT

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Man sees and adapts nature to his own interests

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He humanizesor destroysit turning it into something forhimself or under his control, or desires todrawa pleasant or picturesque interpretation fromit

.

The notion of nature, or that which we from of it is a cultural idea. Depending on the period in time and on the medium by whose means it is expressed, the idea of nature or any other sense attributed to it has, in the art

/

nature context, a set of multiple mirrors with questions suchas whether art reflectsnature,or natureisthe mirrorof art

.

Art in Brazil witnesses theemergence of landscape painting in the production of images

by traveler painters who came here searching either for the exotic in such landscapes, or

movedby thedesiretodocument what theysaw,thus gradually providingvast material for the

production of iconographyalbumsthat were publishedboth in European and Brazilian cultural

centers.In Brazilian culture,theart

/

naturecontext takeson afleeting and mysterious profile

.

The interpretation of paintings depicting nature has never represented an abstract idea in

Brazil

.

On the contrary, it has always been evoked either as the domain of order, or as the

rehabilitationofchaos

.

The first pictorial representations of Brazilian landscapes were those of the 17th century

painter,Frans Post.In them,Post reveals a fascinationforthe landscapes of the unknown.The

lands of the New World exercised on him an enigmatic revelation of man faced with the

natural world.

In the 18th century,it wasLeandro Joaquim who first had the objective of narrating the

history of his own home town scenographically

.

His aim was to document the various localitiesasthey would appeartotheeyes ofa vision.Hematerializedthe discovery of nature asan esthetic phenomenon in his pictures

.

However, in the 19th century, with the implementation of the official teaching by the

Imperial Academy of Fine Arts, landscape painting was required to be subordinated to the

principal themes of paintings and become a mere complement to them. Nevertheless, it was through the traveler painters that the observations of nature became the centerof interest for the appreciation of the natural world, whose whole esthetic potential had not been explored and discovered in the previous centuriesof Art inBrazil

.

Thus, this dissertation aims to interpret

/

analyse the visual production of the artists who,

faced with theesthetic discovery of the landscapes of the “New World”, postulateda newset

of image-based concepts

.

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SUM

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QUEM EXPÕESEEXPÕE

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«À MANEIRADEUMA NOTA PRELIMINAR 1

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INTRODUÇÃO 7

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19

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A ARTE EANATUREZA

II.1 DOBELONATURALAO BELO ARTÍSTICO 19

29

II.2 AARTEIMITAANATUREZA

35 II.3 APAISAGEMNA ARTE

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II.4 APINTURADEPAISAGEM:“OREAL E OSEUDUPLO**

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50

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FRANS POST EASPAISAGENSTROPICAIS

-

111.1 SAUDADESDOBRASIL 50

111.2 UMOLHAR TOPOGRÁFICOSOBRE A PAISAGEM BRASILEIRA

111.3 UMNÁUFRAGO COMOESPECTADOR

111.4 OTEATRODONOVOMUNDOOUASCENSÃOEQUEDADEUMPARAÍSO TERRESTRE

57

65 74

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.

A PINTURADE PAISAGEM NOS ELÍPTICOS DE LEANDROJOAQUIM

IV.l A PINTURA ELÍPTICA: CONTEXTO,FORMA E SIGNIFICAÇÃO

IV.2 CH1NES1CES EVEDUT1SMO NA PINTURADOSELÍPTICOS

IV.3 LEANDROJOAQUIMEACONSTRUÇÃO DO OLHAR

93

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93

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104

O 112

V.SOLO ÉSMÃEGENTIL”:A PINTURA DE PAISAGEM NOBRASIL OITOCENTISTA

V.l “PAISAGEM: CARÁTERE NATUREZA DOBRASIL**

139

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139

147

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\ V.2 EMILBAUCH:UMOLHAR SOBRE O NOVO MUNDO

V.3OOLHAR MODERNO SOBRE A CIDADE: O PANORAMA DE VÍTORMEIRELES

V

.

4 ORETRATO:A PAISAGEMEO SER NA FICÇÃODASIMAGENS

V.5 UMALIÇÃODE ANATOMIA: A NATUREZA MORTA NA PINTURA DA ACADEMIA

V.6 “SEGUINDO VIAGEM**:MEMORIALISMO,SUJEITO E A PAISAGEM

154

r\ 164

172

n

177

VI

.

“VISÕESDOBRASIL” OUUMANATUREZAREVISITADA..

.

CONCLUINDOMASNÃOTERMINANDO ..

.

184

VII

.

REFERÊNCIAS BIBLIOGR ÁFICAS 188

201 ANEXOS

ANEXOI:ENSAIO SOBRE A LITERATURA ARTÍSTICA NA BIBLIOGRAFIA BRASILEIRA

ANEXOII:IDENTIFICAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DE PERSONAGENS OU PONTOS GEOGR ÁFICOS NAS

TELAS MORTE DOPADREFILIPEBOUREL,BATALHA DOS GUARARAPES, BATALHA DOAVAí E PLANTA DA CIDADE MAURÍC1A

202

206

ANEXO III:RELAÇÃODASOBRASESTUDADAS:ACERVO DOMUSEUNACIONAL DE BELAS ARTES 210

(11)

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QUEM EXP

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À MANEIRA

DE

UMA NOTA PRELIMINAR

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Por que fazer uma apresentação?1 Pode parecer à primeira leitura algo atípico,

transgressor das normas científicas que permeiam os trabalhos acadêmicos para titulação

.

Entretantoofaçopor motivosque nodecorrerdotextotomo-osexplícitos.

Peçoacompreensão detodos que a lerem,pois para chegaratéeste momento,opercurso foi árduo,em cujocaminho as dificuldadessurgidasseapresentavamquaseintransponíveise

tomavamameaçadora apossibilidade deconclusãodocursodeMestrado.

A inclusãodesta parte no trabalho não compromete o todo da monografia,sua leitura é

facultativa e não contém argumentaçãoteórica. Contudo, lê

-

la é conhecer-me, viajar por meu

tempo pretéritopreparadoreembriãodestemomento.Obrigado porvocêcompartilharcomigo

do agora e incluir-se nos meus segredos mais íntimos, nas minhas dúvidas, inquietações e

dificuldades.Aquivamos

Comeceiminhasatividades profissionais fazendo o último anodocursodegraduação,em

1981,noMuseu Histórico doEstadodoRiode Janeiro

MHERJ,em Niterói,popularmente

conhecido por Palácio do Ingá

,

e por sermos uma pequena equipe (sete profissionais,

incluindoa direção)dividía

-

mosastarefasdeforma indistinta. Este tipo de atuação, aoinvés de conferir restrições, ofereceu a possibilidade do exercício freqüente da descoberta das

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Esta iniciativa dcve-se ao fato de nossa participação em umencontro, em dezembrode 1992, no Museu Lasar

Segall/SP, cujatemáticaeraa própria trajetóriadainstituição.Tudofoianalisado desde a criaçãodoMuseu Lasar Segall, incluindo,nasanálises,opercurso da"vida” institucionalefuncional.Umaespécie de Memorial.

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G grandezas e limitações de minha formação acadêmica e o confronto com o trabalho

museográf

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coqueacabara de iniciar

.

Aomesmo tempo,pudemeaperceber das potencialidades queoexercício profissional em uma instituiçãomuseológica podia oferecer. Embora o MHERJ tivesse sido criado para sero guardião da história do antigo Estado do Rio de Janeiro (antes da fusão com o Estado da Guanabara em 1975)

,

osobjetos quenele estão guardadosformam umacervo eminentemente

artístico constituídodepinturas,esculturas, mobiliárioeartedecorativa,entreoutros.

O período aproximado de dez meses de minha permanência no MHERJ e o contato freqiiente comopúblico visitante permitiu que meu interesseseacentuassecada vezmais na

análise e leitura do objeto artístico, culminando com a montagem de uma exposição

retrospectiva da obra de LucíliodeAlbuquerque nosemestrede1981.

Esta exposição teve intensa repercussão, pois foi a primeira grande exposição que o MHERJ organizava ao público niteroiense

.

E entre seus visitantes esteve presente o

recém-nomeado diretor2 do Museu Nacional de Belas Artes que reconheceu e elogiou o

empenho de todaaequipe na recuperação e divulgaçãoda obra doartista. Ao perguntarsobre

a curadoria ficou surpresoao saber que parte dela foi desenvolvida por umalunodo cursode

Educação Artística da UERJ.Procurou-mee,parabenizando

-

me

,

fêz umconvitepara integrar

aequipe de trabalhoqueoraelereorganizavano MNBA.

Destinoou maldição? O tempo ainda o dirá

.

Entretanto, no primeiromomento oimpacto

do convite foi suplantado por umaalegria incontida.Refeitoda honraria,pois assimsenti

-

me estupidamente “honrado”, preparei a documentaçãonecessáriae fui devotar corpo ealma ao novo trabalho, participando do projeto Museus IV da Fundação MUDES (Movimento Universitáriode DesenvolvimentoSocial,comsedenoRiodeJaneiro)

.

O trabalho iniciou em março de 1982 na área de educação em museus3, na qual

permaneçoatéa presente data e cujos objetivos primamem redefinir o espaçode um museu

de artes não como mero expositor ou apresentador de objetos reconhecidos e

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2. Ocargo foi exercido entreoutubrode1981 e17de dezembro de 1990.

3. Esta áreafoi legitimada em todos os museus brasileiros nofinal dos anos 70.

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institucionalizadosda Cultura, masatravésdeles, fazer comque ovedor da obra perceba que

eletambéméumpotencialcriativoprodutordeumsaberefazerartístico, seassimodesejar

.

Pautei, portanto, no decorrer destes longos onze anos4 uma atitude espartana de compromissoscom asociedade brasileira,guardiãe mantenedora de umacervoinigualável e para quem deve ser exposto para o conhecimento de todos irrestritamente

.

Os projetos que desenvolvíamos para esteintuito foram sempre bem recebidos pelos professores, alunos e as

camadas mais populares dos nossos usuários

.

Em contrapartida tínhamos um grupo mais ortodoxoquerefletia bem odiscurso oficial, no qual a Educação nãoé prioridade.Mas ainda

estamosnaluta enquanto resistirem as forças.

Verifiquei também que, com o passar do tempo, nossas propostas e conceituação se

esgotavam paulatinamente, visto não possuirmos, e nem tão pouco ser uma prática

institucional,uma vivência acadêmica que oferecesse a realimentação permanente de idéias,

teorias e a aplicação efetiva da interdisciplinaridade sempre necessários às instituições

dinâmicas, comoé o caso dosmuseus.

Resolvi, portanto, retomar aos bancos universitários e fazer uma complementação pedagógica concluindo o cursode Pedagogia5. Entretanto se fazia necessário o estudo mais aprofundadodo meu objetode trabalho,a obra de arte, sua história e as teorias da produção

artística

.

Fui então buscar estes conhecimentos no curso de Especialização em Arte e Arquitetura no Brasil da PUC-RJ6, devido a sua notoriedade nos círculos acadêmicos da

época

.

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Sucessototal! O cursoextremamente bem articulado possuía um corpo docente dedicado

e incentivador

.

Ao concluí

-

lo fui encorajado por minha orientadora a prosseguir os estudos

candidatando-meao Programa de Mestradoem História da Arte na EBA

-

UFRJ

.

E aquiestou

7.

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4. Iniciei em 1982 pela Fundação MUDES; em janeiro de 1983 até fevereiro de 1985, contratado por serviços prestados e de marçode1985 efetivadono quadro permanentedo MNBA.

5. Fiza habilitaçãoem Supervisão Escolar(1987),posteriormente concluí a habilitaçãoem Administração Escolar

(1989), ambas na UERJ.

6. Este curso é dividido em quatro semestres letivos, com um elenco de doze disciplinas. Está vinculado ao

Departamento de História.

7. Para freqiientar o curso foi necessário que eu trabalhasse em regime de plantão, aos finais de semana para

compensar asoito horas semanais(em 40 h.de trabalho)em que meausentava para assistir as aulas. Esclareço, aqui,que esta monografiaem toda asua totalidade refere-se aoestudo doacervo do MNBAe foi toda preparada

duranteos meusperíodos de ferias.

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Ambos os cursos propiciaram uma nova atitude de trabalho com referenciais teóricos

desconhecidos na quase totalidade pelos demais técnicos do MNBA8

,

promovendo a implementação dos projetos já desenvolvidos, assim como o desdobramento

em açõesmaiseficazes.

Entretanto, a maldição se faz cumprir com a malfadada “reforma” administrativa

implantada pelo governo federal queseinstalara em 1990.O mesmodiretor que meincluiu9

em sua equipe pede o meu afastamento de maneira juridicamente imotivada em julho do

O atualizados

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mesmoano.

Desespero! Uma década de serviços prestados à sociedade brasileira, com dedicação e

eficiência

,

sevia ruir sem nenhuma explicaçãopor parteda direçãodoMuseu.

Novamente preparei toda a documentação, destavez nãomais parainiciar novo trabalho

mas sim para resgatar o direito às atividades, prematuramente amputadas de forma cruel e

planejada,eportantorecorrià justiçaumaavaliaçãodos meusdireitos trabalhistas10.

Justiça! Quatro meses depois o vínculo empregatício foi restabelecido e o retomo ao MNBA foi garantido através de mandado judicial aplicado, inclusive, com “força policial”

conformetermosda juízada39aJGJ

/

TRT-RJ11

.

Após toda esta peregrinação e sucessivas vitórias, ocorreu a mudança na direção do

museu

.

Todo oquadro funcional é reorganizado e apresentamos à nova administração nossas

credenciais

.

Apósanálise da documentação, osservidoressão remanejadose empossados em

novas funções. Foi assim que em outubro de 1991 fui empossado na função de responsável

técnico da área de educaçãodoMNBA.

A partir de então, resgatei meu potencial espartano e reestruturei uma equipe e redefini

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8. Emumuniverso de 130 servidores,apenasdoispossuemcurso de aperfeiçoamento,três, cursodeespecialização c três,cursodemestrado.Nestaestatística incluo minha titulação.

9. Nem todos que iniciaramsuas atividadesnoMNBApermaneceram nodecorrer dos anos.Seus contratos nã oeram renovados.Houve,portanto, umaseleçãoduranteestesanos.

10.Durante estes meses tivemoso pagamento suspenso,dificultandonossocotidiano.Até omomento nãorecebemos estes quatromeses,aguardandoa sentença finaldomérito.Neste ponto, vale destacarqueo29 semestrede1990foi bastante tumultuado por todos os motivos expostos e pelas freqiientes audiências no TRT, e assim não pude cumprir com as exigências burocráticas do curso de Mestrado, tendo encaminhado via SEDEX os trabalhos

acadêmicosdasdisciplinasElementos de Pesquisa em HistóriadaArtenoBrasil e Pintura do Brasil noSéculo XIX

que, embora dentro do prazo fixado, osmesmosnão passaram pela inspeção da Coordenação do Curso e, portanto, seusconceitosforam decrescidos deumapontuação em seu valor(de A para B).

11.Toda a documentação encontra-se no processo n9 1408/90do TRJ/RJ e tem servido de orientaçãoa processos

congéneres.

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nossa política de ação educativa-cultural12 para o Museu

.

Nesta nova luta estabeleci como fundamentação teórica a aplicação do modelo conhecido no universo acadêmico como Metodologia Triangular do Ensino da Arte13 que se baseia; na história da arte, no fazer

artístico(ou produção)ena leitura da obradearte (fusãoentrecrítica eestética)

.

Apartirdesta

Metodologia argumentamos todos os nossosprojetos, estudos einvestigaçãoem História da

o

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Arte

.

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Portanto, esta monografia, para obtenção do grau de Mestre, materializa exatamente a

primeira etapa da Metodologia Triangular por nós desenvolvida no museu. Embora numa atitudesolitária,muitasvezes incompreendida, quesetransforma cotidianamenteem posturas “guerreiras” naproteçãodo patrimónioartístico-culturale na investigaçãodo objetoartístico.

Destaco, também, a ausência total de uma política cultural preservacionista do património,

acarretando seusucateamento, que é fato verificadoemtodaaimprensanacional.

Enfim, é pelo expostoquefaçodomeu cotidiano umaprática espartana na investigação

artística,numalutacontraaamnésiadamemóriaartística nacional queapolítica públicatenta

implantar, negando o saber ao poder do povo, e aproveito para reproduzir o diálogo entre o

editor Garamondeo narrador Cassaubon:“[...] Mas é que a investigação precisa,como hei de

dizer,de umcertoespírito espartano

.

Docontrário,não seacreditarianela

.

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12. Encaminheimemon241/92/SEPEC-MNBAaopresidente doIBPC,apresentandoestasnovaspropostas.

13.Movimento iniciadonadécada de80nos EstadosUnidospeloprofessorJohn Swift doGettyCenterforEducation

in theArts,intitulado DBAE— Discipline Basedon ArtEducation.NoBrasilaDBAE foi adaptada porAnaMae

Barbosa(ECA-USP),sobadenominaçãodeMetodologia TriangulardoEnsinodeArte.

14.Eco,Umberto.OPêndulo de Foucault.SãoPaulo,Difel, 1989,p.224.

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Luiz Fernando VERÍSSIMO

charge Domingo, n.867, ano 17 Jomal do Brasil, 13/12/1992

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INTRODU

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“Estamosrodeados porcoisasquenãoforam feitaspornós equetêm umavida e

estruturadiferenteda nossa:árvores,flores, selva,rio, colinasenuvens.Desdehá séculos que nos inspiram curiosidade e respeito, e têm sido objetos de nosso prazer. Têmo

-

las recriado na nossa imaginação refletindo assim os nossos estadosde espírito.E temos pensado nelas como elementos de uma idéiaa que chamamos Natureza. A pintura de paisagem marca asfases da nossa concepção

daNatureza. r\

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Oquenestacitação pretendeo autor aodizer com“refletindo nossosestados de espírito”

ou entãocom “marca asfases da nossa concepçãoda Natureza”? Que interpretaçãodoolhar pretende KenethClark,aofazerestes comentários?

É fato que este texto2delineia uma nova atitude deste historiador da arteem relaçãoàs

obras que apresentam a pintura de paisagens. Estas análises não foram agrupadas

3 nem

estudadascomocategoriaemsi,nematravésdeexposições4ou de publicações,quandomuito,

as encontramosde forma diluída em algunstítulos ou emmostrasexpositivas5deformageral.

O tratamento da paisagem em pintura, embora dividido em categorias de naturalista e

clássico,pitoresco e sublime, derivasempreda observaçãodanatureza.

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^\ 1. Clark,Keneth.Paisagem naArte .Lisboa,Editora Ulisséia,s.d.,p. 19.

2. Otextointegral data de 1949efoiaprimeiratentativasistematizada do estudodapintura de paisagens.

3. A Professora Dra. AnaMariadeMoraesBelluzzodaFAU-USPdesenvolveumapesquisa analítica intitulada Os

pintores viajantes e a visão da Natureza.Estaabordagemse iniciaa partirdoséculo XVI indoatéas primeiras

décadasdoséculo XX.

4. A pesquisa Os pintores viajantes eavisão da Natureza estádivididaem móduloscujapropostaé também fazer umaexposiçãoligandoapesquisa acadêmica àsimagens estudadas,para umamelhorcompreensãodopúblico.

5. NareorganizaçãodaGaleria deArte noBrasil

Século XVIIaoXIXno MNBA

se

tevea preocupaçãoem

reorganizarestasobras em umaúnicalateral da galeria,paramelhoraná lisedo público.

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Ainterpretaçãoimagética6da natureza temseuaparecimento7edesenvolvimento desde a Idade Média, porém é nossetecentos8que assistimos aonascimento de temasespecíficos do paisagismo em pintura. Não só as artes plásticas viram essa natureza. Esta experiência se verifica,também,em umaextensaliteratura9queseproduziua partir dosséculos XVII,XVIII

eao longo do século XIXequese debruçasobreasrelaçõesentre arte ea visãodanatureza

10.

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“Estes escritos delineiam uma nova sensibilidade em relação à paisagem e ao entorno da existência humana que é indissociável da própria questão do

conhecimentoeinstauram um novo significadoeuma nova função paraa arte e

para a arquitetura. Entretanto, essas reflexões em tomo de temas comuns

desdobram

-

se de maneira diferenciadaecristalizaram noções, atitudese formas que,emboramuitasvezes atémesmoantagónicas,estiveram sempre associadasà mesma palavra

natureza’.”11

O

Écertoque essas incursõespossuem implícitas a obsessão pela origem. Esta observação entendida comoo“começohistórico“12aoinvés dagéneseou a atemporalidade, pois se

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O

“a origem está sempre antes da queda, antes do corpo, antes do mundo e do tempo, de lado dos deuses,e para narrá-la se conta sempre uma teogonia, o

começohistórico seriabaixo,irónico.”13

O

Assim,ospintores depaisagemseencontramdiantede“vistas“ bem definidas,delugares

famosos pela beleza ou pela história, compostos de elementos naturais e humanos a serem

imortalizados

.

O pintor paisagista fará sua peregrinaçãoentre o campo

“mais anónimo e

O

6. Nossos referenciais são paraapintura noOcidente.Somente nos meados doséculo XIXé quepintores conheceram

a artedo Oriente no movimentodo“japonesismo”.

7. Veresta abordagemna Introduçãodo livro de KenethClark,A PaisagemnaArte.

8. A Itália teve uma escola de pintura dedicada ao “vedutismo” (veduttas),na qual Canaletto e Francesco Guardi

foramseupontomáximona pintura.

9. Além da literatura oficial cabedestacaros diáriosdeviagem e ascartasdas descobertasdas“terrasnovas”.Como exemplo,acarta de Pero Vaz de Caminhasobreadescoberta do Brasil.

10. Veros verbetes Natureza e Mundo,ambos deGianni Micheli na Enciclopédia vol.18.Einaudi.

11. Ver Margareth Pereira, emArquitetura Brasileira e oMito, Revista Gávea,n.8,Rio de Janeiro,1990,p.3.

12.Flora Siissekind também analisaestepostulado em seu livroOBrasil não é longe daqui:onarrador;a viagem

.

São Paulo,Companhia das Letras,1990,cap.1.

13. Foucault,M.Nietzsche,aGenealogia e a História,em Psicofisicado poder,p.18.

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universalem termos geográficos naturalistas”14

eacidade,maisestruturadaeidentificada

comnovosreferenciaisemconseqiiência da intervençãohumana

.

Ao mesmo tempo observamos uma obra de ficção para estas paisagens, nas quais são

incluídas freqiientemente ruínas numa atmosfera enigmática na reconstrução de um passado

ou presente momentâneo. Um outro aspecto é o da reprodução fiel das localidades15 como “precisas identidades geográficas,visitadas ouaseremvisitadas”16

.

Nesta relação arte

-

natureza temos o princípio aristotélico da arte como imitação da

natureza17

.

Seupostuladoenuncia que

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princípio orientador narelaçãoédado pelo momentoobjetivo que,porém, sendo também uma substancializaçãodos critérios que inspiramaarte,trazem si

o momentosubjetivo como elemento constitutivo. Aacentuaçãoda objetividade da natureza é,noentanto, significativaem si mesmaeplena de consequências” .

Portanto, os pressupostos da corrente aristotélica fornecem os primeiros indícios de

resposta às indagações de Keneth Clark, abolindo, assim, a idéia abstrata de natureza na

Renascençaeassumindo uma pluralidade de significados

.

Nacultura brasileirao binómioarte-naturezaassume um perfilfugidioemisterioso na sua

diversidade19, ou exemplar. A interpretação da natureza, no Brasil, nunca representou uma idéiaabstrata, ao contrário, foi evocada ora como odomínio daordem,ora como o domíniodo O

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caos20

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Esta pintura da paisagem brasileira teve sua implantação21 e expansão por pintores

viajantes22

.

Alguns deles buscavam o exótico na paisagem ou o princípio documentalista e

O 14.Letts, Rosa Maria

.

Acenos históricos sobre a representação da paisagem noturna italiana. In: Itália ao Luar.

(catálogo de exposiçãonoMNBA),p.15.

15.NoRomantismo era comum a introduçãonaspinturas de ru ínasinexistentes as localidades pintadas.

16.Letts, RosaMaria.op.cit

.

tp.15

.

17.TextoAPoéticadeAristoteles.

18.Gianni,Michele,op

.

cit.tp.47.

19.VerMargarethPereira,op

.

cit

.

yp.5.

20.Ospanoramas deVítorMeirelessobreoRio deJaneiroexpressam bemestanoção.

21.Nocaso deste trabalhoiniciaremoscom asobrasdeFrans Post.

22. Apresentei o rastreamento das obras destes artistas cm um trabalho para a disciplina Elementos e Pesquisa e

Análise da História daArteno Brasil

EBA/UFRJ.

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forneceram vastomaterial para álbuns iconográficos quese publicaram23 e que foram muito

divulgados em grandescentrosda Europa

.

Não sóestesálbuns24 tiveram grande repercussão

masvale destacar tambémque os pintoresviajantes doséculo XIXseinstalarammuitasvezes

emateliêsde renomadosartistaslocaisouentãofundavam suaspróprias oficinas25.

Observa

-

se, ainda, que os pintores viajantes que por aqui andavam expunham seus

trabalhos nas ExposiçõesGerais de Belas-Artes

.

É necessárioentãoentrelaçara vida cultural

brasileira com a transformação estilística da época na Europa, pois os artistas imigrantes26 contribuíram para estruturar a criação artística no Brasil27

.

A pintura e a escultura apresentavam-se, nos oitocentos, mais diversificadas graças a sua laicização progressiva da

temática e em especial com a expansão da retratística, para qual negligenciar a colaboração

dospintores viajantes é reduzí-laouesteriotipá

-

lapelaaplicaçãode conceitosestéreis.

Oacervoda produçãodestasimagens representa fato imprescindíveldeanálise nasartes

visuais nacionais,poisestasobrasfiguraramcomfreqiiência nasExposições Gerais,ganhando

corpo próprio e fortalecendo a pintura de paisagem a tal ponto que, na Exposição Geral de 1859,foi apresentada umasérie de quadros cujo conjuntointitulou-se “Paisagem

caráter e

natureza do Brasil”

.

Verifica-se que estas obras deram, inclusive, um impulso a que

paisagistas renomados

ao verema beleza e fascíniode nossa vegetaçãorepresentadas em

telas, viessem ao Brasil e projetassem famosos jardins28 no urbanismo brasileiro como, por

exemplo, Glaziouao reformaro PasseioPúblico doRiodeJaneiro,a Quintada Boa Vistaeo

projeto do ParqueSão Clemente, em Nova Friburgo,que conserva quasea totalidade de seu

traçado original

.

Sóa visãoconjunta29 do número de obras desses artistas permite o estudo

adequadodadimensãodos europeus itinerantes vindosaoImpério do Brasil ea compreensão do significado doacervoartísticoiconográficoproduzido porestespintores30

.

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24. Osdiáriosdeviagem fornecem também valioso material literário e iconográfico. O próprio D.Pedro II emsua

viagem aoNordeste produziu um deles e está guardadonoMuseu Imperial. Vale lembrar, também,osálbuns

iconográficos dasexpediçõescientíficas.

25. O artista Briggsteveno Rio de Janeirosuaprópria oficina.

26. Inventariaram-se 243artistasno séculoXIX.

27.Oprimeiroteóricobrasileiroaabordarestecapítulo naArteBrasileirafoio professorMárioBarata.

28.Este capítulonahistória dourbanismobrasileiromereceser revisto,recebendoum estudosistematizado.

29. Localizou-seemcoleçõespúblicasnoRio de Janeiroumtotalde550 obras,não seincluindoaspeçasisoladasdos

álbunsdeviagem.

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Porém

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édese observarqueestesmestres que aqui chegarameram artistascategorizados

ambiente de origemetransmitiamseusconhecimentosaosartistas locais,moldados no universo simbólico dosestilos dominantes na Europa e por vezes totalmente distanciadosda realidade brasileira. Acoplado a esta prática havia o modelo oficial imposto pela Academia que fora estabelecido por uma relação de poder através de um sistema de arte ligado ao

mecenato do Estado

.

Estes episódiosdaartenoBrasil, desde há muitotempo, vêm sendo salientados para uma necessidade sistematizada de estudo

.

Em 1949 o historiador norte-americano Robert Smith assinalava: no seu

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\ [...]épreciso que seja feito umapeloespecial com relaçãoaodesprezadoséculo

XIX [...] O

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íodo do Brasil Imperial com sua Academia constitui um dos

• • 1 1 capítulos mais brilhantesdaArteda América Latina.”

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Mas recentemente na apresentação do catalogo Arte Moderna no Salão Nacional, o

professorMário Barata diz: “A história doacademismo no Brasil ainda nãofoi escrita.Ada

.

Com base nesta declaração verifica-se que, na

trajetória dasartesvisuais no Brasil,operíodoquefundamentaa “natureza” do ver na cultura

brasileira éesquecido em detrimento de movimentosmaisatuais por, talvez,serem estes,de

maior facilidade deanálise, pela proximidade ereconstrução doespaço

/

tempo

.

Entretanto, osmovimentos queconstruíram a modernidade brasileira têmsua origem nas

inquietações dos artistas que, preocupados entre tradição e ruptura, ousaram questionar e intervirnoensinodaAcademia deBelasArtes e,desta forma,contribuíramcomaorigemdas

transformaçõesnasartesplásticas do Brasil

.

Observa-se,porém,que parafazerolevantamento da história do academismono Brasilé

necessário percorrer asgaleriasdo Museu Nacional de Belas Artes, poisesteéoguardiãoda

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modernidade vem sendo levantada [

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30.Espera-se que a professora Dra. Ana Belluzzoconsigaconcluira pesquisa Os pintores viajantes

e a visão da Natureza.

31.Smith,Robert.Manual de bibliográficos de estudos brasileiros.Riode Janeiro,Gráfica EditoraSouza,p.24.

32. Mário BaratainCatálogoArteModerna no SalãoNacional.RiodeJaneiro,FUNARTE(apresentação).

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maiorcoleção pública dearteno Brasil do séculoXIX

.

Todavia,analisarsomente a produção

artística deste período é empobrecerahistoriografiada arte brasileira,poisrecorrerà produção

destas imagens sem verificar a formação da Academia, de seus professores e os conceitos

teóricos-formais e métodos aos alunos, assim como a proteção e financiamento do ensino artístico pela Família Imperial, éser imprecisona exploração das imagensedesgastá-laspelo uso abusivo de teorias estético

-

formais que analisam as artes visuais no Brasil oitocentista comosmesmosconceitosdaprodução artísticaeuropéia daquele período33

.

Desta forma,é necessário quenãosóseorganizem museograficamenteasexposiçõesmas

que se explore os acervos transdisciplinarmente, pesquisando

-

os e formulando teorias que

decodifiquem as imagens produzidas deum período no espaço-tempo em umacultura

.

E que

técnicos e curadores responsáveis por estes acervos devolvam à sociedade uma análise

sistematizada dos mecanismosda produção imagéticaedesuaspossíveis significações.

Assim sendo, quando se apresentou o ante-projeto para esta dissertação, dividiu-se em

quatro tópicos, ou linhas de açãoparaapesquisa, que foram separados,destacando-se:

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1) a formação do artista brasileiro e as concepções estéticas orientadoras da visualidade

brasileira noséculo XIX,principalmenteos textosteóricos das aulas inauguraise osdiscursos feitos pelos diretores para a Congregação da Academia. Levar

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á em consideração as

reformas e orientação do ensinofeitas no l2 Reinado, 2-Reinado e na República até asduas

primeirasdécadasdesteséculo;

2) Avaliaçãodoscritérios de julgamentodosSalões,poissãoestesosprecursores da críticade

arte no Brasil e de como os pintores viajantes residentes aqui contribuíram com uma nova

proposta formal

.

Neste ponto é fundamental os Prémios de Viagem e o intercâmbio com

outros centroseuropeus;

3) oreconhecimento das artes plásticas brasileiras nocenário mundial com a participaçãodo Brasil nas ExposiçõesUniversais, apartirde 1862,obtendopremiaçõesinternacionais

.

4)uma análise do movimento que ficouconhecidocomo a“RevoltadosModernos” (1888) até

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33.Devem-se analisarasteoriasestéticas trazidas por Debret e os quadros da MissáoArtística Francesa,assimcomoas contribuições dos Prémios de Viagem inovados em 1845.

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detonar no Salão dos Independentes (1889) que foi o l2 marco da modernidade nas artes

visuaisnoBrasil,como tambémosinfluenciadores dareformadeensinodaAcademia

.

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Portanto, estudaras Exposições Gerais e,posteriormente, os Salõesera a linha pontual do anteprojeto que tinha comotítuloOBrasil queinsiste em pintar

,

aforismo de ManuelBandeira

que dizia: ” 0Brasilinsiste em pintar.A prova disso éoSalãode nossa Escola de BelasArtes.

[..

.

]Assim,oSalãorepresentauma atividadeconsiderável

.

”34

Entretanto era umprojeto audacioso para uma empreitada solitária.Contudo rendeu seus

frutos, pois no l2 semestre de 1991 através do convite da professora Dra. Ana Maria de

Moraes Belluzzo (FAU

-

USP) se iniciou, em conjunto com outros pesquisadores daquela universidade, orastreamento de artistasviajantese suasobras relativas à pintura de paisagem

emcoleçõespúblicas ouprivadasno Rio de Janeiro35.

Nesta nova proposta, e a partir do levantamento das obras, modificou

-

se a primitiva

proposição e decidiu-se por uma análise específica das obras de pintura de paisagem na

coleção do Museu Nacionalde BelasArtes,intitulando-seesta novafase“Soloésmãegentil”:

aquestãoda“Paisagem: caráterenaturezadoBrasil”

.

Esta reviravolta não se deu de forma oportunista como fruto de um pensamento ambientalistaculminado coma Rio-

9236

.

Lembra-seaqui queestaredescobertado “paraíso”

já há muitosevinhaensaiando, inclusivecomasnovas tecnologiasda imagem,na quala TV

produziu séries jornalísticas e novelas37 que abordaram, de forma inusitada, a temática da paisagemnaturaleculturalno território brasileiro.

Como objetivo neste trabalho, analisar-se-ão as questões que permearam a visão da

natureza na pintura de paisagem,na coleçãodoacervodo Museu Nacionalde Belas Artes ese

fará caminho, transitando pelas descobertas dospintores viajantesou não, e se interpretará a

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34. Artigo publicado no jornal A Província,São Paulo,13/9/1928.

35.Nesta dissertaçãoutilizar-se-ásomente o conjuntodeobras da coleção doMNBA.

36.Reuniãoocorrida emjunho de 1992 no RiodeJaneiro,envolvendo paísesligados àONU,e que discutiu os destinos ambientalistas de preservação ecológicadoplaneta.

37. Destaca-seemespecial aTV Manchetecom o v ídeo Amazôniae as novelas Pantanale Ana Raio e ZéTrovão

.

Ressalta-se que os críticos de TV analisavamestas obrascomo setivessem uma linguagem“Zen”emsuasimagens.

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“visão exótica” do mundotropical, (des)velandoas estratégias do imaginário contidasnestas o

obras.

Confrontar as observações da natureza por estes artistas, tomando-as um foco para a

apreciação da diversidade do mundo natural que até então não havia sido explorado e descoberto esteticamente em séculos anteriores, excetuando

-

se, no caso brasileiro, Leandro

Joaquim(século XVDI)no Rio de Janeiro.

Porém,enquantoexploradores,estes pintoresextraíam elementos característicos da flora, faunaougentioe como geógrafosescolhiamrecantosde plenitudenatural ainda não atingidos

pela mão humana nas terras do Novo Mundo que tinham sua própria luz, suas cores, seus própriosrebanhoseflores.

Portanto, é interpretar

/

analisar a produção artística destes pintores que começava a assumir uma postura narrativa na qual a nova realidade, que surgia com a descoberta das

“terrasnovas”,serviacomobasepara umainventiva criaçãoestéticaaserapreciada.

Assim, este estudo sobre a pintura de paisagem e a visão da natureza desenvolveu-se a

partirdaformulação de três hipóteses: O O O

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que a pintura de paisagem denota uma dualidade no jogo "Afirmação

-

Homem" contra

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"Presença-Natureza’ ;

postular sobre as questões da visão da natureza e seus desdobramentos no binómio na

-tureza-artifício

,

no qualaintervençãohumanaredefine o mundonatural ao seu redor;e

de como natureza-artifício toma-se um princípio paradoxal, no qual a intervenção da

arquitetura redefine os espaços, antes puramente naturais, entre afirmação

-

homem e

presença-natureza através da elaboraçãoda pintura dos panoramas que testemunhavam as

naturezas artificializadas em eterna mutação, determinadas por um mundo sempre em

movimento nas questões da modernidade

.

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38.VerMargarelhdaSilva Pereira,op. cit.,p.3.

39. Idem,ibidem

.

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Metodologicamente,o trabalhose estruturou apoiado no levantamento das obras40 cujas imagensse referem as questõesdaarte

-

natureza,estudando artistas que de uma forma ou de outra lidaram coma especificidade da pintura de paisagens,quer sejam paisagens naturais

cenas do campo ou da cidade

, quer sejam paisagens culturais

urbanismo ou o gentio

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local.

O Para tanto buscou-se, basicamente, apoio teórico em autores que privilegiam, na abordagem da História da Arte, as questõesda visualidade. Portanto o primeiro pressuposto teórico é retirado de Panofsky,no qual conceitua a obra de arte como um “objetofeitopelo

homemquepedeparaserexperimentado esteticamente”.Comparandoformaeconteúdo,esse

teórico desenvolve o conceito de que a idéia pode ser equilibrada e mesmo eclipsada pelo

interesse da forma. O segundo postulado é de Keneth Clark ao analisar que a pintura de

paisagem“marca as fases da nossa concepçãoda Natureza”

.

Assim sendo e a partir do cruzamento destes dois postulados dividiu-se em quatro

momentos apintura de paisagem daArteno Brasil,através,com quase totalexclusividade, das

coleçõesdo Museu Nacional deBelasArtes41:

I9 momento: A pintura do século XVII e as questões da visão do paraíso e a possível

reedificação doparaísoterrestrecomo forma de implantaçãodeumnovo sistema de poder;

2

-

momento: O século XVIII e a pintura de paisagem como propaganda de Estado. A

natureza artificializada com a intervençãoestatal na suposta ideologia do bem-estarsocial

e asconseqiiênciasaohomem público;

39 momento: O ensino sistematizado de arte no Brasil

século XIX e a pintura de

paisagem in locu

.

As vistas panorâmicas e a redefinição do olhar do espectador com a criação dospanoramas circulareseonovo olharsobrea paisagem local,assimcomo sobre

a pintura da naturezamorta;

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40.Optou-se em agrupar as imagens,que servem de análise ao nosso estudo, na abertura de cada capítulo,com o objetivodefacilitar a leituradas mesmas,assimcomo, de propiciar amelhorcompreensãodotexto

.

41. Ressaltamos que é parte integrante desta dissertação um vídeo que procurasintetizar imagedcamente as idéias pontuais deste trabalho.Este desdobramento,embora nãoentrenaanálise acadêmicacomorequisito para avaliação final,teve comoobjetivo reunir e destacar oconjuntototal de obras pesquisadas,que seencontram expostas ou

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49momento:Anaturezacompreendida comorepresentaçãoda"natureza humana” legadaà

históriahumana,pela quala artenãocessade elaborarequestionar.Neste jogo desedução

estabelecido entre o modelo humano e a concepção do artista se estabelece um fluxo renovado de sensações e metamorfoses que podem, quem sabe, ocultar intenções

distanciadas do modelo original

.

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Portanto, a partir destas abordagens, tentou-se demonstrarqueo sistema de arte apresenta

os mesmos questionamentos e contradições que caracterizam um determinado momento

sócio-político-econômico42

.

E, também, verificam-se traços específicos que permitem

constatar verdadeiros subsistemas de produção visual, facilmente observáveis na pintura de

paisagem naarteno Brasileem especial,noscolecionadores.

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42. A Escola de Comunicação da UFRJ ofereceu, no l2 semestre de 1991 na Disciplina Teoria dos meios de comunicação/,ocurso“Visões do Brasil”,com o prof.JoelRufinodosSantos.O objetivo do curso era analisar,

emtextos luso-brasileiros,asdiversas visões do Brasil impl ícitasou explícitas em textosliteráriosclássicos.

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A NATUREZA

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A noçãode natureza, ou a que dela formamos, é uma idéia cultural ligada à verdade do

homem e sua interpretação do mundo,que tanto pormeio daarte,da filosofia eda ciênciase

expressa,nãocessandodeelaborar,refletirequestionar

.

A idéiadenaturezaouqualquer outro

sentido que a ela se atribui, dependendo doperíodoe do meio próprio deexpressão, tem no

binómioarte-natureza um jogode espelhos múltiplos com perguntas como: a arte espelha a

natureza,oua naturezaéoespelho daarteou seriamumeoutrooreflexo do espírito?

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.

1 DO BELO NATURAL AO BELO ARTÍSTICO

“OFilósofo

Estamos curiosos.Sendo tãorústicaem tuasmontanhas, em teus

desertos, em teus mares, gostaria de saber como te revelas, no entanto, tão

engenhosa em teus animais,em teusvegetais.

ANatureza

Minha pobre criança,quer queeutediga a verdade?É que me foi

dado um nome que não me convinha: chamam-me natureza, mas sou

inteiramente arte.

O Filósofo

Essas palavras perturbam todas as minhas ideias. Como? A

natureza nãoseriasenão a arte?

A Natureza

Sim,semdúvida. Nãosabes que existe uma arte infinita nesses

mares,nessas montanhasqueachastãorústicos? Nãosabesquetodasessaságuas

gravitam para ocentro da terra, nãoseelevandosenão por leis imutáveis,que

essas montanhas que cinzem a terra são os imensos reservatórios das neves eternas queproduzemsemdescansoessasfontes,esseslagos,esses rios,sem os

quais meu gênero animale meu gênero vegetal pereceriam?E quantoaoquese

chamameusreinos animal, vegetal,mineral,não vês mais quetrês;aprendaque

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euostenho aos milhares.Porémse tu consideras somente a forma deuminseto,

deuma espiga detrigo,do ouroedo cobre, tudo te parecerá maravilhas da arte»1

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NestediálogoescritoporVoltaireem1764,entreoFilósofoea Naturezapersonificada,se

reconhece na natureza uma manifestação artística que difere, somente, da arte humana pela

maior perfeição e pelo seu aspecto infalível

.

O diálogo acima materializa um pequeno

fragmento da extensa proposta literária ou filosófica iniciada noséculo XVII comquestões que envolviam as relaçõeshomem-arte-natureza

.

A natureza é um modo de ser do pensamento, à sua determinação exterior nas relações

homem-natureza

.

Neste contextoculturalasdiferençasde avaliaçãoreferem-seessencialmente

àsmodalidades de formulaçãoda finalidade da natureza

.

Assim,nósapreendemosa natureza

apenasatravésda idéia que dela formamos:uma idéia cultural,ligada à verdade do homem e

do mundoqueahistória humana,pormeio da arte,filosofiaeda ciêncianão cessade elaborar

equestionar

.

Portanto, O

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“ A arteaparececomoepifenômeno da natureza que pode,segundo os casos ea

sensibilidade do comentador, tomar o aspecto de excesso, de conclusão ou

traição, porémapesarde tudo,deve aorigem desuaexistência a uma imitaçãoda natureza

.

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Então,a naturezaéoque existeparaalémda atividade humanaque possuia facilidade de

agir nanatureza epensarsobre ela

.

Na história da filosofia pode-se propor interpretações da idéia de natureza

qualquerque

seja a referência que a ela se atribui dependendoda época, um meio própriodeexpressão

que analisam,emdiferentesépocas,a presença “todo-poderosa” 3da ideologia naturalista nas

correntes do pensamento filosófico, que em alguns momentos assegura ao homem uma

tranqiiilizadoranoçãoda presença materna

.

UmanoçãodeNatureza mater,“Filhos da Pátria

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.

ApudClémentRosset,AAnti-Natureza,Rio deJaneiro,Espaçoe Tempo,1989,p.57.

2. Rosset,Clément.AAnti-Natureza,Rio de Janeiro,Espaço e Tempo,1989,p.13

.

3. Idem,ibidem,p.10.

4. A literatura brasileira do séculoXIX,assim comoos hinos nacionaisalimentavam subliminarmenteestaidéia.

Referências

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