• Nenhum resultado encontrado

(IM)Possibilidade de Desenvolvimento sem Crescimento Económico? Linhas de Reflexão sobre a Necessidade de Um Novo Paradigma.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "(IM)Possibilidade de Desenvolvimento sem Crescimento Económico? Linhas de Reflexão sobre a Necessidade de Um Novo Paradigma."

Copied!
163
0
0

Texto

(1)

(IM)POSSIBILIDADE DE DESENVOLVIMENTO SEM

CRESCIMENTO ECONÓMICO?

Linhas de reflexão sobre a necessidade de um novo paradigma

Ângelo Machado Barroso Setembro 2015

Orientação: Professora Doutora Cristina Chaves (FEP) Co-orientação: Professor Doutor Vitorino Martins (FEP)

Dissertação de Mestrado em Economia e Gestão do Ambiente 2015

(2)
(3)

Nota biográfica

Ângelo Machado Barroso, nasceu na cidade do Porto, em 1966.

Concluiu a licenciatura em Economia pela Faculdade de Economia do Porto em 1994. Entre 1995 e 1999, desempenhou funções na área de consultadoria em gestão em várias empresas privadas.

Em 1998, ingressa no Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana, I.P., tendo exercido os cargos de chefe do Setor de Apoio Técnico e da Reabilitação Urbana, e, mais tarde, o de coordenador do Departamento de Gestão do Património, Arrendamento e Obras. Atualmente desempenha funções como técnico superior no apoio à Direção de Gestão do Norte.

Desde 2005 até ao presente, é membro do Conselho de Administração da Coimbra Viva, SRU, S.A.

(4)
(5)

Agradecimentos

Gostaria de agradecer em primeiro lugar, à Professora Doutora Cristina Chaves e ao Professor Doutor Vitorino Martins, da Faculdade de Economia do Porto, pelo estímulo, apoio, ensinamentos e orientação prestados, sem os quais esta dissertação não teria sido possível e a quem muito estimo.

Dedico também um especial agradecimento à minha família: ao João e à Helena, pelo incentivo, compreensão, ajuda prestada e, sobretudo, pelo companheirismo nos momentos difíceis.

Cabe também aqui uma palavra de reconhecimento aos meus pais, pelos valores transmitidos e pela educação que me ofereceram. Ao meu pai, devo-lhe a tolerância e a disponibilidade que nunca me negou, mesmo nas circunstâncias mais complicadas. Finalmente, agradeço aos restantes familiares e amigos com quem, muitas vezes, deixei de privar durante o período de elaboração da presente dissertação.

(6)
(7)

Resumo

A constatação de que os limites biofísicos do planeta se encontram ultrapassados e que o modelo de desenvolvimento assente no crescimento económico poderá estar esgotado, deve conduzir a Humanidade a uma reflexão profunda do caminho que pretende trilhar. Este estudo parte desse ponto e reflete sobre a necessidade de uma mudança paradigmática na forma como as sociedades poderão proporcionar bem-estar às populações, reconhecendo a importância dos diferentes contextos geoeconómicos e explorando propostas alternativas de desenvolvimento.

O objetivo não é o de apontar uma solução para os problemas do ambiente e do desenvolvimento, mas demonstrar a urgência de encontrar um quadro económico que permita às sociedades desenvolverem-se sem danificar o planeta.

Palavras-chave: crescimento económico, desenvolvimento sustentável, bioeconomia, indicadores de desenvovimento sustentável.

Abstract

Evidenced the fact that the biophysical limits of the planet have already been exceeded and that the developing model based on economic growth will not be possible in the future, Humanity should meditate deeply about the path it wants to take. This study starts from that point and reflects about the need of a paradigmatic change in the way societies should provide “well-being” to populations, acknowledging the importance of different geo and economical backgrounds and exploring alternative development proposals. The main goal is not to give a solution for environmental and development problems, but to show the urgent need of finding an economic framework in order to allow societies to grow without damaging the planet

Keywords: economic growth, sustainable development, bio-economy, sustainable development indicators

(8)
(9)

Índice

Nota biográfica ... iii

Agradecimentos ... v

Resumo ... vii

Índice de figuras ... xi

Índice de tabelas ... xiii

1 Introdução ... 1

2 Os limites ao crescimento ... 3

2.1 Enquadramento da problemática ... 3

2.2 A perspetiva económica e ecológica dos sistemas ... 6

2.3 Considerações sobre a incontornável existência de um limite físico ... 11

3 Relação de dependência entre desenvolvimento e crescimento económico ... 22

3.1 A sustentabilidade do desenvolvimento assente no crescimento económico ... 22

3.2 Crescimento do PIB ao longo do tempo ... 24

3.2.1 Definição das variáveis ... 24

3.2.2 Modelos de séries temporais ... 24

3.3 Estimativa do impacto do crescimento sobre os recursos naturais ... 28

3.4 Introdução na análise de uma vertente geográfica ... 33

3.4.1 Metodologia ... 33

3.4.2 Caracterização da amostra ... 36

3.4.3 Modelo ... 39

3.4.4 Interpretação dos resultados ... 41

4 Modelo assente no crescimento versus desenvolvimento ... 48

4.1 Metodologia ... 48

4.1.1 Caracterização da amostra ... 50

4.1.2 Modelo ... 62

4.1.3 Interpretação dos resultados ... 65

5 Reflexões sobre a necessidade de mudança e de encontrar um novo paradigma .... 68

5.1 Propostas de base tecnológica: Ecoeficiência ... 70

5.2 Em torno das propostas de base económica: as teorias de decrescimento... 74

(10)

6 Considerações finais e pistas para investigação futura ... 87

6.1 Questões associadas ao conceito de desenvolvimento ... 87

6.2 O papel dos indicadores de desenvolvimento sustentável ... 88

6.3 Alguns indicadores mais utilizados ... 90

6.4 Proposta de um “novo indicador” – uma análise exploratória ... 92

7 Conclusões ... 95

Bibliografia ... 98

8 Apêndices ... 105

Apêndice 1: Equilíbrio biofísico do planeta ... 105

Apêndice 2: Estágios da evolução da economia segundo Rostow ... 119

Apêndice 3: Pegada ecológica ... 121

Apêndice 4: HDI Human development Index ... 128

9 Anexos ... 132

Anexo 1: Série temporal taxa de crescimento anual do PIB (Mundo , EU e OCDE) . 132 Anexo 2: Série temporais do PIB, População e Recursos Consumidos ... 133

Anexo 3: Série: Pegada ecológica e população por país e ano ... 134

Anexo 4: Evolução do ranking da Pegada ecológica ... 137

Anexo 5: Série de dados em Painel PIB per capita avaliado em PPP ... 139

Anexo 6: Série de dados Painel Componente educação do HDI ... 141

Anexo 7: Série de dados em painel Componente saúde do HDI ... 143

Anexo 8: Série de dados em Painel SHDI ... 145

(11)

Índice de figuras

Figura 1 Diagrama do ciclo económico ... 7

Figura 2 Interação economia ambiente ... 9

Figura 3 Diagrama circular considerando o ambiente ... 11

Figura 4 Temperatura anómala relativamente ao período de 1961-1990... 13

Figura 5 Mapa de alteração da precipitação observada ... 13

Figura 6 Alteração da contenção de calor nos oceanos ... 14

Figura 7 Diminuição da superfície gelada ... 15

Figura 8 Aumento do nível médio das águas do mar ... 15

Figura 9 Desastres naturais e perdas financeiras associadas ... 16

Figura 10 Evolução da emissão de CO2 Países do norte vs sul (Gt) ... 18

Figura 11 Evolução da emissão de CO2 por fonte de emissão (Gt) ... 19

Figura 12 Evolução da taxa de crescimento mundial (1961-2012) ... 25

Figura 13 Evolução da taxa de crescimento no Espaço Europeu (1961-2012) ... 26

Figura 14 Evolução da taxa de crescimento no OCDE países ricos (1961-2012) ... 27

Figura 15 Estimativas de recursos utilizando o modelo econométrico... 31

Figura 16 Recursos consumidos, do PIBpc e População (vista 3D e 2D) ... 31

Figura 17 Previsão da evolução da população ... 32

Figura 18 Previsão do consumo de recursos acima da Biocapacidade ... 32

Figura 19 Evolução da pegada ecológica por classes (medida em Ha globais) ... 39

Figura 20 Fator específico e elasticidade PIB da pegada ecológica por região ... 44

Figura 21 Gráfico da evolução da população mundial desde 1960 até 2050... 46

Figura 22 Gráfico Boxplot da dispersão dos PIBpc em 2005 ... 51

Figura 23 Gráfico Boxplot da dispersão dos PIB em 2013 ... 52

Figura 24 Gráfico Boxplot da dispersão dos SHDI em 2005 ... 53

Figura 25 Gráfico Boxplot da dispersão dos SHDI em 2013 ... 53

Figura 26 Gráfico da distância dos países ao centro do cluster 1 ... 55

Figura 27 Gráfico da distância dos países ao centro do cluster 2 ... 56

Figura 28 Gráfico da distância dos países ao centro do cluster 3 ... 57

Figura 29 Gráfico da distância dos países ao centro do cluster 4 ... 58

(12)

Figura 31 Gráfico da distância dos países ao centro do cluster 6 ... 60

Figura 32 Gráfico dos centros dos clusters para os anos de 2005,2009 e 2013. ... 61

Figura 33 Concentração dos blocos nos clusters (anos 2005, 2009 e 2013) ... 62

Figura 34 Blocos geoeconómicos fator específico e elasticidade PIB do SHDI ... 66

Figura 35 PIB e GPI nos Estados Unidos, 1950 a 2004 ... 67

Figura 36 Ciclo de vida do produto ... 71

Figura 37 Drivers das emissões antropogénicas ... 72

Figura 38 Perspetivas das dinâmicas de utilização de indicadores ... 89

Figura 39 Ciclos de grandes nutrientes ... 106

Figura 40 Ciclo global de carbono na era pré industrial ... 106

Figura 41 Ciclo global do carbono na era industrial ... 107

Figura 42 Esquema dos fluxos e stock de carbono nos diferentes reservatórios ... 108

Figura 43 Esquema dos fluxos de carbono no oceano ... 109

Figura 44 Relação entre CO2 e PH ... 110

Figura 45 Previsão das emissões antropogénicas de CO2 até 2500 ... 111

Figura 46 Esquema dos fluxos e stock de metano nos diferentes reservatórios ... 112

Figura 47 Ciclo do nitrogénio ... 113

Figura 48 Ciclo global do nitrogénio na era pré industrial ... 114

Figura 49 Ciclo global do nitrogénio na era industrial ... 114

Figura 50 Ciclos de nitrogénio e de carbono Tg N /ano, dados de 1990 ... 117

Figura 51 Interações entre nitrogénio, carbono e clima. ... 118

Figura 52 Esquema representativo das interações para o cálculo da EF ... 126

Figura 53 NFA- Framework... 127

(13)

Índice de tabelas

Tabela 1 Identificação efeito, escala e fonte de poluição... 17

Tabela 2 Variáveis do modelo de regressão temporal (1961 a 2015)... 24

Tabela 3 Variáveis do modelo de regressão consumo de recursos à escala mundial ... 29

Tabela 4 Estimativa da relação entre o consumo de recursos e PIB per capita ... 30

Tabela 5 População representada na amostra por área geográfica ... 34

Tabela 6 Processo de aglutinação em blocos Geoeconómicos ... 35

Tabela 7 Lista de países que constituem a amostra por bloco geoeconómico. ... 35

Tabela 8 Classificação da população com base no rendimento (em 2007) ... 36

Tabela 9 Saldo ambiental por blocos económicos ... 37

Tabela 10 Saldo ambiental BRIC ... 37

Tabela 11 Saldo ambiental BRIC decompondo a variável ambiental e demográfica ... 38

Tabela 12 Taxa de crescimento anual média da EF per capita no BRIC ... 38

Tabela 13 Variáveis do modelo de regressão ... 40

Tabela 14 Lista da especificação da variável Dummy por blocos geoeconómicos ... 41

Tabela 15 Output do modelo de regressão: EFC, DBGE e do PIB... 42

Tabela 16 Fatores específicos e elasticidades em relação à zona de referência. ... 42

Tabela 17 Fatores específicos e elasticidades por bloco Geoeconómico ... 43

Tabela 18 Fatores específicos (antilogaritmos)... 45

Tabela 19 Previsão da evolução da EFCit até 2020 ... 46

Tabela 20 Países retirados da amostra ... 50

Tabela 21 Centróides dos clusters anos 2005, 2009 e 2013 ... 54

Tabela 22 Variáveis do modelo de regressão SHDI, PIB e Bloco Geoeconómico. ... 63

Tabela 23 Resultados do modelo de regressão SHDI, PIB e Bloco Geoeconómico. ... 64

Tabela 24 Fatores específicos e elasticidades em relação à zona de referência ... 65

Tabela 25 Drivers dos principais indicadores de desenvolvimento ... 91

Tabela 26 Emissões antropogénicas de CO2 por natureza ... 108

Tabela 27 Balanço de emissões antropogénicas CO2 ... 108

Tabela 28 Principais processos naturais de remoção de CO2 e escalas de tempo ... 111

(14)
(15)

1 Introdução

A presente dissertação tem como objetivo o de avaliar a necessidade e a possibilidade de mudança de paradigma ou “receita económica”, em particular nas sociedades desenvolvidas por forma a preservar o ambiente e o planeta.

Neste primeiro capítulo, será feita uma pequena introdução à problemática e às questões que são pertinentes por forma a proceder ao enquadramento do presente trabalho.

No segundo capítulo serão abordadas as principais diferenças de perspetiva entre as teorias económicas que ignoram a componente ambiental e as que a integram na sua análise, apresentando-se em seguida as evidências de que os sistemas biofísicos do planeta têm limites e que esses limites se encontram ultrapassados devido a atividade humana.

O terceiro capítulo é dedicado a apreciar de que forma o planeta é afetado pela existência de um modelo de desenvolvimento assente no crescimento económico. O capítulo encontra-se dividido em dois pontos distintos: um primeiro, que aborda a evolução do PIB per capita ao longo das últimas décadas e que permite evidenciar a desaceleração económica, e, um segundo que demonstra os efeitos nefastos sobre os recursos do planeta originados pela atividade económica. Acreditando contudo que as sociedades têm impactos diferenciados sobre consumo de recursos tentar-se-á provar, com base numa análise regional por blocos geoeconómicos, que o comportamento das sociedades em termos de recursos é influenciado por outras componentes além do PIB, provando-se desta forma que os comportamentos são um fator importante a ter em consideração, porquanto para o mesmo nível de produto existem diferentes níveis de consumo.

O quarto capítulo é centrado na questão de verificar qual a relação de dependência entre crescimento e desenvolvimento social. O facto de o mundo ter registado um desenvolvimento ímpar nas últimas décadas, urge saber o quanto do crescimento foi de facto aproveitado para desenvolvimento social, respondida que foi, no capítulo três, a insustentabilidade para o ambiente imposto pelo desenvolvimento baseado no crescimento económico e na impossibilidade deste modelo se manter indefinidamente. O presente trabalho irá explorar de que forma a posição geoeconómica de um determinado país pode influenciar o modo como este poderá “converter” crescimento em desenvolvimento social.

(16)

O quinto capítulo dedica-se a explorar as soluções possíveis para uma equação difícil: a de promover o desenvolvimento sem comprometer o planeta e por conseguinte o próprio futuro da humanidade. Constituirá essencialmente um ponto de reflexão com um particular foco na possibilidade de aplicação das teorias de decrescimento económico. Admitindo-se a necessidade de mudança de paradigma, o capítulo seis faz uma breve análise exploratória, abordando a possibilidade de encontrar “um novo indicador” de desenvolvimento sustentável, como pistas de pesquisa futura.

(17)

2 Os limites ao crescimento

2.1 Enquadramento da problemática

O primeiro princípio da termodinâmica, ou lei da conservação da energia, defende a impossibilidade de um sistema para criar ou destruir energia, podendo apenas transferi-la, enquanto, o segundo princípio, o da entropia, sustenta que a conversão da energia em trabalho1 não é completa, gerando sucessivamente parcelas entrópicas, o que lhe confere

um carácter de irreversibilidade. A perceção da regência universal destas duas leis e da sua dissociação com o raciocínio económico vigente à data, levou Georgescu-Roegen (2008) a constatar que a degradação dos recursos naturais em consequência das atividades humanas, em simultâneo com a existência de um limite físico ao crescimento, era, na altura, tal como o é agora, incompatível com os modelos económicos de desenvolvimento baseados no consumo. Antes de Georgescu Roegen, já outros teorizavam sobre a pressão gerada sobre a capacidade do planeta em suportar a atividade humana. Entre eles está Thomas Robert Malthus em Essay on the Principle of Population (1798), sustentava que a população humana cresceria a uma progressão geométrica e o alimento aumentaria na base de uma progressão aritmética, o que conduziria inevitavelmente a uma pressão sobre os recursos (Malthus, 1798). Caso não existissem medidas preventivas, como controle da natalidade, a pressão sobre os recursos originaria fome, doenças e guerra que no limite reporiam o equilíbrio populacional. O raciocínio de Malthus viria a decair de popularidade ao encontrar o seu contraditório na realidade. O avanço tecnológico proporcionado pela consolidação da revolução industrial permitiu que o progresso económico crescesse a um ritmo superior ao da população (Tullock, 1999). Apesar das previsões de Malthus, a seu tempo, não se terem verificado, por erradas na magnitude e pelo facto de a criação de excedentes da revolução industrial permitir a ilusão de que a evolução tecnológica haveria de resolver os problemas de escassez de recursos, a sua visão mantinha-se clara no ponto em que existem limites à exploração de recursos naturais (Ayres, 2008). Assim, a questão de fundo mantinha-se: será que o planeta suporta o crescimento da população humana?

(18)

Ester Boserup opinou em sentido contrário, sugerindo que o ciclo funcionaria numa outra direção. Em 1965, The Conditions of Agricultural Growth: The Economics of Agrarian Change under Population Pressure, sugere que, com o propósito de aumentar a produção agrícola por unidade de área, a substituição do capital natural por energia e capital humano é efetuada a ritmos crescentes (Berck et al., 2012; Gupta, 2014). Isto é, a mudança tecnológica, estimulada pelo crescimento populacional, aumenta a produção de alimentos, o que estimula o aumento populacional. Desta forma, o incremento contínuo da população é feito à custa da exploração intensiva de recursos. Apesar de, em abstrato, este argumento apresentar fragilidades, admitindo, a proveito da discussão, que o limite dos recursos não se constituía, per si, numa restrição ao crescimento económico, a poluição o seria (Meadows et al., 1972).

À luz do conhecimento atual, a Terra é um sistema genericamente fechado sendo que as interações com o exterior dizem somente respeito à energia e estão praticamente circunscritas à estrela mais próxima, o Sol. Apesar da consciência destas restrições, toda a atividade humana é conduzida ignorando essas fronteiras (Boulding, 1966).

O passado recente do homem na Terra permite constatar que o crescente aumento da pressão da sua existência sobre o meio ambiente não pode ser ignorado, porquanto, desde a revolução industrial até hoje, a população passou de menos de mil milhões para cerca de sete mil milhões, a que acresce um aumento do rendimento per capita e da escala de consumo (Berck et al., 2012). Prevê-se que em 2050 o planeta albergue cerca de 9 mil milhões de habitantes (UNEP, 2013).

O recente crescimento das economias do BRIC2, cujo território corresponde a mais de

um quarto da área terrestre do globo, onde habita cerca de quarenta por cento da população mundial e que produzem um PIB combinado (medido em PPC) de 20 biliões3

de dólares (Ciochetto, 2013), traz seguramente um conjunto de novos motivos de preocupação ambiental. Estes territórios que atualmente se caracterizam por terem uma pegada ambiental per capita4 reduzida, poderão vê-la aumentada no futuro, no caso de

2 BRIC designação dada ao bloco de países formado pelo Brasil, Russia, India e China.

3 Para esclarecimento, no sentido de evitar ambiguidades com literatura de língua portuguesa proveniente

de outros países, neste trabalho, um bilião=1x1012

4 Pegada Ecológica é uma estimativa do impacto que as atividades humanas tem no meio ambiente por

forma a avaliar a (in)adequação destas com a capacidade do planeta em providenciar os recursos naturais necessários e absorver os resíduos

(19)

transcreverem o modelo vigente nas sociedades ocidentais (modelo dito de consumo) na prossecução dos objetivos do seu próprio desenvolvimento e do necessário aumento do conforto físico.

Esta questão assume contornos mais relevantes porquanto, a globalização, por um lado, promove a circulação de riqueza entre países, mas por outro, permite a sua acumulação e cristalização em determinadas classes sociais preponderantes. Estes dois movimentos contrários poderão traduzir-se num enfraquecimento progressivo das instituições, desequilibrando as relações de poder existentes entre privados e públicos, agravando as desigualdades e desequilibrando as remunerações dos fatores capital e trabalho (Brada, 2013).

Naturalmente, encontra-se excluído do objetivo do presente trabalho uma abordagem sobre o impacto da globalização nas relações económicas e na regulação do poder. Essa é matéria da ciência política e da economia política. No entanto, é obrigatório referir que, qualquer alteração significativa da relação de poder, cujo resultado seja um desequilíbrio entre forças que defendem interesses conflituantes, públicos e privados, é, naturalmente, campo da economia do ambiente, porquanto poderão alterar o fórum em que a discussão deverá ocorrer.

No quadro de soluções possíveis para diminuir a pressão da economia sobre o meio ambiente, algumas correntes defendem o low growth, no growth ou até degrowth (Latouche, 2010; Victor, 2012; Victor e Rosenbluth, 2007), enquanto outras fazem repousar as suas esperanças no processo tecnológico, no aumento da produtividade dos recursos, a denominada ecoeficiência (Chertow, 2000), no aumento do ciclo de vida do produto (LCA5) ou ainda baseados em sistemas de gestão ambiental (EMS6) como uma

estratégia para aliviar a tensão sobre o planeta sem prejudicar o crescimento.

Tendo presente que a atividade humana é feita de escolhas, quer a nível individual, quer a nível coletivo, e que essas escolhas implicam o assumir de responsabilidades, ao longo da tese iremos provar a urgência de alteração do paradigma atual para que o futuro da humanidade seja sustentável e mais justo do ponto de vista equitativo.

5 LCA - Life Cicle Analysis ou Life-Cycle Assessment

6 EMS - Environmental Management System visa ajudar as organizações a atingirem os seus objetivos

(20)

2.2 A perspetiva económica e ecológica dos sistemas

Do ponto de vista de abertura ao exterior os sistemas físico e biofísicos podem-se denominar (Cechin e Veiga, 2010):

 Isolados - quando não existe troca de energia ou de matéria com o exterior ou com outro sistema;

 Fechados - quando existe troca de energia, mas não de matéria, esta apenas circula dentro do sistema;

 Abertos - quando as trocas com o exterior são tanto de energia como de matéria.

As trocas da Terra com o espaço exterior limitam-se à energia que nos chega do Sol e ao calor que o planeta dissipa, não existindo interações de matéria, pelo que o sistema terrestre se poderá considerar como sendo fechado.

A teoria económica “mainstream” assenta no princípio mecanicista do “diagrama do fluxo circular” e no perpétuo movimento entre produção e consumo (Rees, 1996; Georgescu Roegen, 2008; Cechin e Veiga, 2010). Ao admitir que a substituibilidade dos fatores de produção entre si, é infinita, garante que o output possa crescer desde que um dos recursos seja explorado mais intensamente (Kirchner et al., 1985 citado em Rees, 1996). Este entendimento assume que a “carrying capacity”7 do planeta seria infinitamente expansível

(Daly,1986 citado em Rees, 1996), o que corresponderia a um enquadramento da economia num sistema isolado em que as trocas se perpetuam sem interação com outros sistemas (figura 1).

7 Carrying capacity ou capacidade de carga, é o tamanho máximo de uma população que o planeta consegue

albergar que o ambiente indefinidamente, em termos de habitat, alimento, água e demais necessidades biológicas sem comprometer a sua exaustão.

(21)

Este entendimento não contradiz a primeira lei da termodinâmica, lei da conservação da energia8, que sustenta que num sistema isolado a quantidade de energia permanece

constante, isto é, não há criação nem destruição de energia, mas apenas a transformação de uma forma em outra9. A economia é um sistema humano e como tal biológico10, não

podendo ser considerado um sistema isolado, mas antes um sistema aberto, porquanto dependente das trocas de matéria e de energia com os sistemas físico e biofísico do planeta.

Contudo, considerando que, quer a energia, quer os materiais provenientes da natureza, constituem um fluxo de entrada e que, o seu processamento pela atividade económica,

8 Também designado por primeira lei da termodinâmica.

9 Esta lei encontra a sua correspondente na matéria através de lei de Lavoisier, que postula que uma reação

química num sistema fechado, a massa total dos reagentes é igual à massa total do produto da reação, que ficou poeticamente celebrizada na frase: na Terra, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

10 O que per si garantia a sua sujeição a um processo entrópico.

Figura 1 Diagrama do ciclo económico Fonte: (Mankiw, 2001, pp 25)

(22)

conduz à criação de utilidade e à formação de resíduos e de poluição, por conseguinte num fluxo de saída (Cechin e Veiga, 2010), o processo assim descrito seria linear (Pearce e Turner, 1990) em vez de circular, como inicialmente se havia adiantado.

Ao contrário dos sistemas mecânicos, em que a reversibilidade se encontra assegurada, os sistemas energéticos estão sujeitos à segunda lei da termodinâmica, ou da entropia. Esta lei postula que a entropia vai aumentando num processo irreversível à medida que a transferência de energia se vai operando. A entropia poder-se-á designar, de modo inteligível, por aquela quantidade de energia, não passível de utilização e incapaz de gerar trabalho, por isso, é não aproveitável. Dito de outro modo, a energia apresenta-se em dois estados: livre ou utilizável - estado ordenado em que é possível exercer-se sobre ela um domínio quase completo; ou, energia ligada ou inutilizável - estado desorganizado ou caótico não suscetível de qualquer aproveitamento (Georgeuscus-Roegen, 2008). A realização de trabalho ou transferência de energia provoca a passagem de um estado para outro, isto é, de baixa para alta entropia11.

O sistema económico, sendo aberto, não pode ser dissociado do sistema biofísico da Terra onde se insere, para captar recursos (inputs) e para depositar os resíduos da sua atividade. Todo o conjunto de interações no plano da economia tem efeitos no plano do ambiente, pelo que a separação destes dois planos poderá provocar análises enviesadas ao nível de cada um deles - não se pode analisar a economia como se não houvesse ambiente, nem analisar o ambiente como se não houvesse economia.

(Pearce e Turner, 1990) introduzem na análise a componente ambiente, alterando a dinâmica proposta no diagrama do ciclo económico, estabelecendo fluxos entre os dois planos (figura 2).

11 Georgescus-Roegen (2008) dá como exemplo a queima de um pedaço de carvão em que a energia química

(23)

A componente ambiental está representada pelos serviços ambientais - Recursos (R), que por sua vez se subdividem em renováveis (RR) e esgotáveis12 (ER), cabendo a estes a

função de fornecedores de inputs para a produção. No esquema proposto designou-se a extração de recursos por (h) e a capacidade de regeneração dos recursos por (y)13, sendo

que em ER (y=0; h≥0) e em RR (y>0; h≥0). Assim, os recursos renováveis não se esgotariam desde que (h ≤ y), enquanto os recursos esgotáveis nunca seriam repostos (h>y por definição), dependendo a sua delapidação apenas da velocidade com que seriam utilizados.

Como os recursos, a produção e o consumo, produzem no fim da linha, poluição (W), verifica-se a identidade garantida pela primeira lei da termodinâmica [R= W= Wr+ Wp+

12 Utilizou-se este termo para manter associação com a sigla original “exhaustible resources”, a tradução

correta seria não renovável.

13 (h) provem de harvested e (y) sustainable yield

Figura 2 Interação economia ambiente Fonte: (Pearce e Turner, 1990)

(24)

Wc]14. Parte dessa poluição é reciclada15 (r) transformando-se em novo recurso. No

entanto, pela segunda lei da termodinâmica, esta transformação significaria diminuir a entropia e portanto só é possível através de um novo aporte de energia/matéria16. A outra

parte é depositada no ambiente para que este, pela sua capacidade assimilativa (A), a transforme em novo recurso. Contudo, a quantidade e o tipo de poluição poderão determinar uma carga superior à capacidade assimilativa do planeta (A<W) ou igual ou inferior aquela (A≥W).

Por fim, foi acrescentado ao modelo uma última função designada por utilidade, que agrega todas as utilidades não contempladas pelas funções económicas (produção e consumo) e que se constituem em amenidades, no sentido que, não tendo mercado, têm apesar disso um valor (preço), traduzido no princípio de que haveria sempre alguém disposto a pagar para as ter, no caso das amenidades positivas, ou para as evitar, no caso das negativas17.

Da dinâmica dos vários elementos resultam efeitos positivos (+) e negativos (-) para o sistema. Posta a questão assim, compreende-se que apesar de fechado, o sistema biofísico que suporta a atividade humana, está restringido pela quantidade e tipo de recursos utilizados na produção, pela capacidade de recuperação do sistema e pela quantidade e qualidade da poluição gerada pelo binómio produção/consumo comparativamente à capacidade assimilativa do planeta (figura 3).

14 Ao longo do processo e em cada fase um recurso vai originando poluição: na sua extração (Wr), depois

na sua transformação (Wp) e com a sua utilização, desgaste e depósito, sob a forma de lixoresíduo, no final da vida útil (Wc).

15 Convém distinguir reciclagem de reutilização: a primeira dá origem a um novo produto (ex: reciclar

vidro, significa utilizar o desperdício como matéria prima para a produção através de aporte energético), enquanto a segunda permanece na esfera do consumo, com ou sem alteração do uso e portanto sem gerar desperdício.

16 Por exemplo, uma lata de alumínio, para que o processo de reciclagem volte a repor a sua funcionalidade

é necessário um aporte de energia, nomeadamente refundindo o metal.

17 Pense-se por exemplo numa paisagem idílica, apesar de ninguém pagar para a ver, há quem viaje para

disfrutar dela. No caso contrário, imagine-se que alguém habita numa casa onde perto se instalou uma indústria poluente, o imóvel desvalorizou por esse facto, ou, para habitar numa casa idêntica noutro lugar terá que pagar um preço superior ao que venderia a habitação atual.

(25)

Entende-se ainda que as funções do ambiente, também designados por serviços ambientais, não se circunscrevem à capacidade de fornecimento de materiais e de energia ou de funcionarem como depósito de poluição resultante da atividade humana, mas são, antes de tudo, suporte de vida.

2.3 Considerações sobre a incontornável existência de um limite físico

Hoje é consensual que a atividade económica tem manifestas consequências nas emissões antropogénicas de gases de estufa e existe uma clara evidência científica sobre a sua participação no aquecimento global, em particular na última metade do século passado e início deste, empurrando o ambiente do planeta para os limites (Beckerman, 1992; Ekins e Jacobs, 1995; Spence e Leipziger, 2010; UNEP, 2013). O relatório “Climate Change 2013. The Physical Science Basis. Working Group I Contribution to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change-Abstract for decision-makers” (também denominado de Relatório IPCC-2014), refere que as moléculas de dióxido de carbono, metano e oxido nitroso são a principal fonte radiativa dos GHG’s, estimando-se que, com um nível elevado de confiança, o degelo das camadas do Ártico irá continuar

Figura 3 Diagrama circular considerando o ambiente Fonte: (Pearce e Turner, 1990)

(26)

por vários séculos, e que a remoção por processos naturais das emissões antropogénicas de dióxido de carbono irá demorar várias centenas de milhares de anos18.

A relevância da preservação da função ambiental “suporte de vida” é uma questão crítica, e funciona como um limite que não pode e não deve ser ultrapassado. Importa, por isso, ter a consciência de que a atividade humana afeta este equilíbrio, não sendo possível antever de forma precisa qual a capacidade da biosfera em continuar a absorver o carbono atmosférico e desta forma prosseguir o seu papel de mitigar a alteração ambiental19.

Apesar das incertezas ao modo como os sistemas naturais poderão reagir, no sentido de repor o equilíbrio, existe um grupo de certezas20 quanto à influência humana sobre o

sistema climático, provocado pelas emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa, e do impacto generalizado deste nos sistemas humano e natural.

O aquecimento climático é inequívoco (figura 4), verificando-se, desde a década de 1950, mudanças sem precedentes (a atmosfera e o oceano aqueceram, diminuiu a quantidade de neve e gelo, e o nível médio do mar elevou-se). Estima-se que, a temperatura média atmosférica superficial terrestre e nos oceanos ter-se-á elevado 0,85 [0,65; 1,06]°C, no período de 1880 a 2012, enquanto a precipitação aumentou, principalmente no hemisfério ocidental norte, e diminuiu na zona equatorial e tropical, no período de 1901 a 2010 (Stocker et al., 2013) (figura 5).

18 Para um maior aprofundamento desta temática ver Apêndice 1.

19 Permanece a incerteza do modo como os ciclos de carbono e de nitrogénio são afetados e os efeitos que

poderão ser gerados entre si (Gruber e Galloway, 2008).

20 Ou, pelo menos, com uma elevada probabilidade de ocorrência, conforme a síntese no sumário para os

(27)

Simultaneamente, observa-se, desde 1950, um extremar das condições climáticas, em

Figura 5 Mapa de alteração da precipitação observada (para dois períodos 1901 2010 e de 1901-2010 Fonte: (Stocker et al., 2013)

Figura 4 Temperatura anómala relativamente ao período de 1961-1990

As cores indicam diferentes conjuntos de dados. (média global combinada da superfície do oceano e terrestre de 1850 a 2012).

(28)

particular, uma diminuição do número de dias/noites frias e um aumento dos períodos em que se registam temperaturas altas, denominadas ondas de calor, que atingem principalmente algumas zonas da Europa, Austrália e Ásia, bem como o aumento da quantidade de precipitação e cheias na América do Norte e na Europa (Stocker et al., 2013).

O aquecimento dos oceanos é outra consequência do armazenamento da energia do sistema climático (figura 6), estimando-se que este terá armazenado mais de 90% do aumento de energia climática acumulada entre 1971 e 2010, sendo que a faixa superior dos oceanos (0−700) m terá sido responsável por 60% desse armazenamento21 (Stocker

et al., 2013; worldwatch_Institute, 2014).

Ainda em consequência do aumento da temperatura, nas últimas duas décadas, a massa do manto gelado na Gronelândia e na Antarctica, e a dos glaciares tem vindo a diminuir, passando-se o mesmo com a extensão da cobertura de neve na primavera, no hemisfério norte ocidental e a do gelo do mar Ártico (figura 7) (Stocker et al., 2013).

21 A faixa superficial oceânica que dos 0 aos 75m terá aquecido 0,11 [0,09 ; 0,13]°C por década, desde 1971

a 2010 (Stocker et al., 2013; worldwatch_Institute, 2014)

Figura 6 Alteração da contenção de calor nos oceanos (cores diferentes referem-se a séries diferentes) Fonte: (Stocker et al., 2013)

(29)

Os dois acontecimentos associados provocaram uma subida generalizada das águas do mar (figura 8). Estima-se, com uma elevada probabilidade, que o nível médio das águas do mar tenha subido por ano cerca de 1,7 [1,5; 1,9]mm, quando avaliada no período entre 1971 e 2010, e 3,2 [2,8 ; 3,6]mm quando avaliado no período entre 1993 e 2010 (Stocker et al., 2013). Esta situação, a manter-se, poderá levar à deslocação massiva de habitantes, criando um problema humanitário grave22, uma vez que cerca de 10% da população

mundial vive junto à orla marítima (worldwatch_Institute, 2014).

22 Surgiu um novo tipo de refugiados denominado de refugiados climáticos.

Figura 7 Diminuição da superfície gelada (cores diferentes referem-se a séries diferentes) Fonte: (Stocker et al., 2013)

Figura 8 Aumento do nível médio das águas do mar (cores diferentes referem-se a séries diferentes) Fonte: (Stocker et al., 2013)

(30)

Se por um lado, perante tantas e tão fortes evidências, deixou de ser possível negar e duvidar que a atividade humana degrada as condições do ambiente (Beckerman, 1992; Ekins e Jacobs, 1995; Spence e Leipziger, 2010; UNEP, 2013), a ponto de colocar em risco o modo de vida, se não a própria vida das populações, por outro, o extremar das condições climatéricas acarreta elevados prejuízos financeiros para as economias dos países que sofrem os seus efeitos. Constata-se que o número de catástrofes naturais tem vindo a aumentar, quer em número, quer em valor (Ekins e Jacobs, 1995; Glasby, 2002; worldwatch_Institute, 2014) (figura 9).

Atualmente, poucos contestam o reconhecimento do impacto da atividade económica sobre o ambiente do planeta, o que altera o fórum da discussão para a avaliação da dimensão dos seus impactos a nível espacial e temporal, levando a equacionar o papel das organizações internacionais no diálogo, tradicionalmente difícil, entre países ricos e pobres e na defesa dos interesses de gerações futuras, em particular sobre o legado que lhes deixamos (Spence e Leipziger, 2010).

Os impactos da poluição são, não raras vezes, desfasados no tempo e no espaço, dificultando o estabelecimento de uma correlação entre a ação e a consequência. Contudo,

Figura 9 Desastres naturais e perdas financeiras associadas Fonte: http://vitalsigns.worldwatch.org/ acedido em 2015-01-30

(31)

apesar das dificuldades, é possível identificar certas práticas com os danos ambientais e a escala a que estes operam, permitindo reconhecer a fonte de poluição e o agente provocador (tabela 1).

Problema Escala Agentes principais

Poluição

Efeito de estufa alteração climática Global Emissões de::

CO2, N2O, CH4

CFCs (e HFCs) O3 (em menor escala)

Desflorestação Depleção do Ozono Acidificação Global Continental Emissões de: CFCs SO2, NOx, NH3

O3 (Baixo nível de)

Poluição tóxica Continental SO2, NOx , O3,

Partículas de metais pesados

Hidrocarbonetos, Monóxido de carbono Químicos agrícolas, pesticidas

Eutróficos Radiação Barulho Depleção de recursos renováveis

Extinção de espécies Global Alteração ao uso da terra (ex desflorestação)

Pressão populacional

Explorações insustentáveis (ex: pastoreio excessivo, a caça furtiva)

Alteração climática (possibilidade de depleção do ozono no futuro)

Desflorestação Global

Regional

Alteração ao uso da terra Pressão populacional

Plantações insustentáveis (plantação de floresta folhosa)

Alteração climática

Degradação do solo e perda de fertilidade dos solos

Regional, Nacional

Pressão populacional Agricultura insustentável

Desflorestação pastoreio excessivo· Pressão urbanística

Alteração climática

Depleção dos recursos hídricos (bio)

Regional, Nacional

Uso insustentável Alteração climática

Depleção dos recursos piscatórios

Nacional, Local

Pesca excessiva, poluição e destruição de habitats

Depleção de recursos não renováveis Vários recursos

(ex: combustíveis fósseis, minerais)

Global, Nacional

Níveis elevados de consumo

Outros problemas ambientais

Congestionamento Nacional Tratamento de resíduos sólidos

Tráfico rodoviário Tabela 1 Identificação efeito, escala e fonte de poluição

(32)

O facto de as consequências climáticas recaírem de forma dissociada dos causadores da poluição, provoca uma desresponsabilização destes e uma vitimização daqueles que, sem terem culpa, sofrem e verão agravados os efeitos das más condições climatéricas a que estão sujeitos. “Poor people and poor countries are least responsible for climate change,

and yet, due to their vulnerability, are affected most by the consequences. Rich countries have an obligation to take a lead in climate change mitigation and adaptation, and to bear an equitable burden of the associated costs”(Development, 2004 citado em

Saunders, 2008, pp 1510).

Este facto, por si só, prejudica a necessária cooperação entre os países do norte e do sul23,

em que estes exigem aos primeiros que suportem o esforço de mitigação dos gases de efeito estufa, ao mesmo tempo que reclamam para si a oportunidade de crescimento que lhes permita sair da pobreza (Spence e Leipziger, 2010). Contudo, esta postura, apesar de ser de inegável justiça, não serve os próprios interesses desses países. Em primeiro lugar, prejudica o consenso político em torno de uma questão global. Em segundo, a poluição nos países do sul já seria, por si só, excessiva ainda que os do norte se abstivessem de poluir (Spence e Leipziger, 2010). Assim, não será de admirar que, quer uns quer outros, não se privassem de o fazer (figuras 10 e 11).

23 Classificação do autor

Figura 10 Evolução da emissão de CO2 Países do norte vs sul (Gt) Elaboração própria baseado nos dados de (Spence e Leipziger, 2010)

(33)

Em terceiro, a constatação da existência de limites críticos, a partir dos quais muito provavelmente não existirá retorno, e cujas consequências são assimétricas, em prejuízo dos países do sul, obriga a ajustamentos urgentes e exige esforços de coordenação internacional sem precedentes, o que coloca a comunidade internacional e sobretudo os países do sul num dilema difícil – será legítimo deixar que milhares de milhões de pessoas permaneçam na pobreza? (Spence e Leipziger, 2010).

A questão dos impactos da atividade humana no ambiente é atualmente incontornável, e apesar dos seus limites ambientais se encontrarem ultrapassados, a degradação dos ecossistemas continua a acentuar-se sem que a humanidade tenha conseguido retirar da pobreza uma parte substantiva da sua população. De facto, em 2014, cerca de 1,2 mil milhões de pessoas viviam em extrema pobreza24 (United Nations, 2013a) e, segundo

dados da FAO citados pelo Worldwatch Institute (worldwatch_Institute, 2014), estima-se que 805 milhões de pessoas se encontravam subnutridas.

A globalização, por seu lado, introduziu um novo conjunto de circunstâncias que agravam o problema.

Em primeiro lugar, o mundo passou a ser uma “aldeia global” o que contribuiu para a difusão rápida do que se pode designar de uma “cultura global de consumo”, em que as sociedades adotam para si os padrões de consumo ocidentais, contribuindo para o aprofundar de uma sociedade global consumista em detrimento de uma sociedade global conservacionista (Bakari, 2014).

24 Com rendimento menor do que $1.25 /dia.

Figura 11 Evolução da emissão de CO2 por fonte de emissão (Gt) Elaboração própria baseado nos dados de (Spence e Leipziger, 2010)

(34)

Em segundo, a globalização criou um fenómeno de “distanciação espaço temporal” (Kutting, 2004, citada em Bakari, 2014), que consiste na remoção espacial das relações sociais dando lugar a ligações (locais-globais) baseadas em práticas económicas e culturais. A remoção das relações sociais ocorre por duas vias aparentemente contraditórias: primeira, afasta os autores e aproxima os efeitos que podem ser vivenciados simultaneamente em diversos pontos do planeta, graças à sofisticação tecnológica; e, segunda, os efeitos podem ocorrer num tempo e locais afastados do momento e do local em que ocorreu o facto que lhes deu origem (Bakari, 2014).

Em terceiro, o ambiente enquanto bem público25, não é compatível com a lógica

regulatória do mercado, no sentido de que, os agentes que participam neste têm todo o interesse em imputar à sociedade as externalidades negativas geradas e consubstanciadas na degradação ambiental. Assim, aumentar o poder que as multinacionais e os lobbies dos negócios já têm, poderá conduzir a uma situação de subversão dos poderes públicos, subordinando os processos democráticos às lógicas de mercado, tornando estéreis os encontros entre os políticos dos diferentes países para discutir os problemas globais. Caso isso acontecesse, o fórum de discussão do ambiente deveria passar a ser de encontros entre os altos responsáveis das empresas em vez de encontro entre governantes26 dos

países. Não se trata de negar a representatividade dos governos eleitos, nem tão pouco diminuir o seu papel de legislador enquanto regulador e autoridade, mas tão-somente admitir a possibilidade de existir uma captura desse poder por parte de empresas para defesa dos seus próprios interesses o que, a acontecer, alteraria o fórum onde a discussão deveria ocorrer. Se admitirmos esta hipótese, passaríamos, na questão ambiental, a ser governados por uma ditadura empresarial porquanto os corpos dirigentes das empresas não são democraticamente sufragados.

Acresce, por fim, que a globalização aprofunda a lógica do primado de mercado. Ora, foi precisamente esta lógica que nos trouxe a uma sociedade dependente do consumo, para uma postura que está longe de ser a expectável num mundo que se quer sustentável. Mas o drama estende-se para além da simples vontade de mudar e aprofunda-se no próprio modelo, pelo que o simples abrandamento do crescimento mergulha a sociedade

25 Não se refere ao ambiente enquanto fonte de recursos mas enquanto suporte de vida digna pelo que nesta

circunstância o consumo não é rival nem exclusivo.

26 Trata-se naturalmente de uma provocação sobre a qualidade de democracia que as sociedades modernas

(35)

num caos (Latouche, 2007), obrigando as autoridades políticas dos diferentes países a insistirem no modelo de crescimento, numa espécie de saída para a frente, mesmo quando à frente não há senão o precipício. Abandonar este “vício de necessidade de crescimento” encontra o maior obstáculo no desemprego gerado pelo abrandamento da atividade económica. Por exemplo, um estudo para a economia austríaca, comparando dois cenários de crescimento, moderado e low growth27, permitiu concluir que as consequências para a

economia do país seriam consideráveis, com particular impacto no emprego e apenas permitia abrandar o crescimento do consumo de recursos e não reduzi-lo em termos absolutos (Schratzenstaller et al., 2014).

(36)

3 Relação de dependência entre desenvolvimento e crescimento económico

Chegados aqui, tendo ficado evidenciado o elevado preço que o planeta tem que suportar e os riscos que decorrem da atividade humana, a questão seguinte será a de avaliar qual a contrapartida para a humanidade ao correr esse risco.

3.1 A sustentabilidade do desenvolvimento assente no crescimento económico

A teoria económica relaciona frequentemente crescimento e desenvolvimento, fazendo depender este último da existência do primeiro, enquanto condição necessária mas não suficiente. Esta visão encontra acolhimento no relatório de 1987, “Our Common Future” da World Commission on Environment and Development (WCED), que defende a necessidade de crescimento, embora em moldes diferentes, como condição essencial ao desenvolvimento e ao combate à pobreza.

No mesmo sentido, Adam Smith já havia formulado uma teoria do funcionamento do capitalismo enquanto modelo abstrato e completo de um sistema que, partindo de ações individuais, tinham como resultado maximizar o bem-estar da sociedade (Hunt e Lautzenheiser, 1989). Por outro lado, já em 1848, John Stwart Mill, defendia a ideia de que a economia passaria, no seu percurso evolutivo e numa perspetiva de longo prazo, de um estado de crescimento para um estado estacionário, em que a população e stocks de capital se manteriam estáveis, acreditando que, em tal estado, a sociedade se tornaria menos egoísta e mais humanitária promovendo com isso o desenvolvimento humano (Juknys et al., 2014).

Em matéria de crescimento, o modelo proposto por Harrod (1948) e Domar (1946) enfatizavam a importância da acumulação de capital para um crescimento sustentado. Este modelo veio mais tarde, em 1956-1957, a receber o contributo de Kaldor, que sustentava existir uma relação positiva entre rendimento e taxa de poupança. À luz deste argumento, o subdesenvolvimento de certos países justificava-se pelo seu baixo rendimento e a consequente incapacidade de originar poupanças suficientes para gerar investimento28 (Jeong, 2013).

28 A aceitação da validade deste argumento esteve na base das políticas de auxílio da Official Development

(37)

A proposta de Sollow constitui a base do edifício teórico do modelo de crescimento económico atual. Este modelo assume pressupostos fortes e pretende justificar a estabilização dos ciclos no longo prazo sem necessidade de intervenção pública. No que, para o argumento importa, é de referir que Solow no seu modelo faz depender a função de produção (Q) do capital físico (K), dos serviços do trabalho (L) e do conhecimento tecnológico (A), sendo que este último é labour augmenting, isto é, o progresso tecnológico aumenta a produtividade do fator trabalho sem afetar a produtividade do capital. Deste modo, a produção (Q) depende não só do trabalho mas da sua combinação com o progresso técnico, passando este binómio a denominar-se de eficiência (E) Deste modo obtém-se uma função de produção representativa da oferta que se pode apresentar na expressão (1):

Expressão (1)

𝑄𝑡= 𝑓(𝐾𝑡, 𝐸𝑡) e: 𝐸𝑡 = 𝑔 (𝐿𝑡, 𝐴𝑡) em que 𝑓′𝑘> 0 ; 𝑓′′𝑘 < 0 𝑒 𝑔′𝐸 > 0 ; 𝑔′′𝐸 < 0

Isto é, os produtos marginais de cada um dos fatores produtivos (K e E) são positivos mas decrescentes, o que significa que um acréscimo de uma unidade adicional de qualquer um deles proporciona um aumento da produção mas a ritmos sucessivamente menores. De acordo com este modelo, as economias maduras propenderiam, no longo prazo, para um estado estacionário (Juknys et al., 2014).

O conceito de economias maduras aqui usado identifica-se com o referido por Rostow, (Rostow, 1959) que defende que as economias passam por cinco estados de evolução29.

2013). Estas políticas visavam subsidiar o crescimento, financiando diretamente o rendimento e/ou o consumo, com o objetivo de permitir obter, artificialmente, uma taxa inicial de poupança compatível com o lançamento do investimento. No entanto, o que se verificou foi que, apesar da ajuda financeira, o crescimento do rendimento per capita nos países subsarianos foi, durante décadas, nulo ou mesmo negativo (Jeong, 2013).

(38)

3.2 Crescimento do PIB ao longo do tempo

No sentido de sustentar e de avaliar se de facto as economias poderão estar a tender para um estado estacionário, procedeu-se a uma regressão linear simples temporal, por forma a perceber o comportamento da taxa de variação do PIB, ao longo do tempo em três escalas geográficas: Mundo, Países Ricos da OCDE30 e na União Europeia (tabela 2). As

observações e os resultados da estimação apresentam-se no Anexo 1.

3.2.1 Definição das variáveis

Variável Definição Unid Fonte

T Tempo (ano 1961=1; 2012=57) ano Não se aplica

WLD_PIB Taxa de variação anual do PIB per capita, no

mundo, a preços de 2005 em % %

Banco Mundial: data.worldbank.org

EUU_PIB

Taxa de variação anual do PIB per capita no espaço da união europeia, a preços de 2005 em %

% Banco

Mundial:data.worldbank.org

OEC_PIB Taxa de variação anual do PIB per capita, nos países ricos da OCDE, a preços de 2005 em % %

Banco

Mundial:data.worldbank.org

Tabela 2 Variáveis do modelo de regressão temporal (1961 a 2015)

3.2.2 Modelos de séries temporais

A equação da regressão é a mesma para cada uma das três regiões e corresponde à seguinte:

𝑃𝐼𝐵̂ = ∝̂ + 𝛽̂ 𝑇 ̇ (3.1)

Foi utilizado um processo de médias móveis (MA1) para corrigir a autocorrelação nos três modelos.

Apesar de o R2 ser relativamente baixo (variando entre 0,37 e 0,44), em todas as

30 A classificação é a do World Bank , e corresponde aos países cujo Produto Nacional Bruto per capita

(39)

regressões a variável tempo é estatisticamente significativa.

Estima-se que, em média, para o mundo, a taxa de variação do PIB a preços constantes de 1995, e para o período em análise, tenha sido -0,056 pontos percentuais ao ano (figura 12).

Para os países que fazem parte do espaço europeu, estima-se que, em média, a taxa de variação do PIB a preços constantes de 1995, para o período em análise e para a zona em questão tenha sido -0,078 pontos percentuais ao ano (figura 13).

Figura 12 Evolução da taxa de crescimento mundial (1961-2012) Taxa de variação anual do PIB a preços constantes de 1995 Fonte: Base de dados do Banco Mundial acedido em 2014-03-02 (Elaboração própria)

(40)

Relativamente aos países ricos da OCDE31, estima-se que em média a taxa de variação

do PIB a preços constantes de 1995, para o período em análise e para a zona em questão tenha sido -0,076 pontos percentuais ao ano (figura 14).

31Países ricos, ou que tem um rendimento alto, são aqueles que em 2012, obtiveram um rendimento nacional

bruto per capita igual ou superior a $12,616 (fonte: Banco mundial referido nas special notes da metadata relativa aos dados utilizados na amostra).

Figura 13 Evolução da taxa de crescimento no Espaço Europeu (1961-2012) Taxa de variação do PIB a preços constantes de 1995

Fonte: Base de dados do Banco Mundial acedido em 2014-03-02 Elaboração própria

(41)

Nota-se que, para os países ricos as estimativas da taxa de variação média anual do PIB

per capita apontam para decréscimos superiores do que para o mundo.

Esta configuração das taxas de variação anual do PIB é, de algum modo, um conforto para a defesa de uma tendência de diminuição, que poderá conduzir a um equilíbrio estacionário para o PIB à medida que a sua taxa de variação se aproxima de zero. Contudo, e apesar de se verificar que as taxas de crescimento das economias mais desenvolvidas têm vindo a decrescer desde os anos dourados, a estabilização deverá ocorrer a um patamar de atividade económica elevado. De facto, em termos absolutos, o PIB triplicou

Eviews

Dependent Variable: OEC_GDP Method: Least Squares Sample: 1961 2012 Included observations: 52

Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.

C 5,18 0.536907 9,6429 0

T -0,076 0.017447 -4,3539 0,0001

MA(1) 0,32 0.136363 2,3604 0,0223

R-squared 0,43 Mean dependent var 3,16

Adjusted R-squared 0,41 S.D. dependent var 1,91 S.E. of regression 1,47 Akaike info criterion 3,66 Sum squared resid 105,41 Schwarz criterion 3,77 Log likelihood -92,16 Hannan-Quinn criter. 3,70 F-statistic 18,67 Durbin-Watson stat 2,05 Prob(F-statistic) 0,00

Figura 14 Evolução da taxa de crescimento no OCDE países ricos (1961-2012) Taxa de variação do PIB a preços constantes de 1995

Fonte: Base de dados do Banco Mundial (Elaboração própria)

(42)

desde 1970 até 2011, gerando um consumo de recursos, de destruição de habitats e de poluição a um ritmo exponencial (Klitgaard e Krall, 2012).

3.3 Estimativa do impacto do crescimento sobre os recursos naturais

Este ponto visa avaliar as implicações no ambiente decorrente da atividade humana e do crescimento populacional, recorrendo, para o efeito, a um modelo de elasticidades constantes, utilizando o rácio entre a pegada ecológica e a biocapacidade, como variável dependente,32 e o PIB per capita e a população como variáveis independentes.

Uma constatação a priori é a de que, apesar da desaceleração do crescimento económico, o patamar de consumo de produtos e, consequentemente, o de recursos consumidos e poluição, avaliado pela pegada ecológica, tem vindo a aumentar. De facto, apesar de se verificar uma diminuição nas taxas de crescimento do PIB das economias maduras33,34, a

pegada ecológica desses países excedeu em três vezes os limites aceitáveis (Juknys et al., 2014). Convirá referir que a utilização, neste trabalho, da pegada ecológica como indicador da quantidade de recursos utlizados, prende-se com o facto de esta ser frequentemente usada como indicador do “metabolismo” económico. No entanto, o método de cálculo difundido pela Global Footprint Network (GFN) não está isento de reparos, em particular no que concerne às limitações das fontes, ao tratamento inconsistente dos produtos objeto de transações internacionais e à extensão da cadeia de produção utilizada no seu cálculo (Weinzettel et al., 2014)35. Apesar destas limitações,

em termos gerais, o conceito é bem aceite quando se trata de medir a quantidade de recursos consumidos por uma determinada sociedade.

Por norma, a pegada ecológica (EF) está associada ao consumo e podemos encarar como

32 Os conceitos de pegada ecológica, biocapacidade e outros tidos como relevantes para o desenvolvimento

desta dissertação encontram-se no apêndice 3.

33 Conceito aproximado do definido por Rostow (1959).

34 A título ilustrativo a taxa de crescimento do PIBpc da zona euro (EU15) diminuiu duas vezes e meia nos

últimos cinquenta anos.

35 Ao utilizar como base de dados a FAOSTAT (para Biomassa) e UN COMTRADE (para mercadorias)

este indicador só contempla os produtos que constam daquelas bases de dados. Assim, incluir somente esses produtos, só esses serão avaliados pelo scope do indicador em matéria de trocas internacionais induzindo a distorções. Acresce que, a extensão da cadeia de produção gera igualmente distorções, como por exemplo não ser avaliada a produção de gado para fornecimento de peles na indústria de calçado (Weinzettel et al., 2014).

(43)

uma variável proxy do padrão de consumo, enquanto a biocapacidade (BC) está associada à capacidade dos ecossistemas em fornecer materiais biológicos ou absorver os resíduos. Uma vez que, foi definido que o saldo ambiental corresponderia à diferença entre BC e EF, será importante percebermos qual dos lados da balança contribuiu para a degradação deste.

O rácio da pegada ecológica/biocapacidade permite medir o número de vezes que o consumo de recursos ultrapassa a capacidade de regeneração do ecossistema. A avaliação da evolução temporal deste rácio, permite constatar que este, passou de 0,63 planetas em 1961 para 1,51 planetas em 2007, o que significa que a proporção do consumo de recursos sobre a biocapacidade aumentou em (aproximadamete) 2,4 vezes. Esta pressão tem duas componentes principais: o consumo per capita resultante da atividade humana por um lado, e ao crescimento populacional, por outro.

Partindo da relação de Graedel and Allenby (1995, citado em York et al., 2004), que definiu os drivers da equação fundamental da Ecologia Industrial36, no sentido de

perceber os contributos das variáveis populacionais e intensidade da atividade económica, ensaiou-se o seguinte modelo:

𝑅𝐶𝑡= 𝛽0𝑃𝐼𝐵𝑡 𝛽1

𝑃𝑜𝑝𝑡𝛽2𝑒𝑢𝑡 (3.2)

Em que:

Variável Definição Unid Fonte

RCt

Recursos consumidos, em termos líquidos, num determinado ano t, correspondendo ao rácio entre a Pegada Ecológica global e biocapacidade obtido para a população mundial

Planetas (Terra),

Bree Barbeau, Global Footprint Network (GFN).

PIBt Produto interno bruto per capita mundial

médio num determinado ano t USD

37 Banco

Mundial:data.worldbank.org Popt População mundial num determinado ano

t

109

habitantes

Banco

Mundial:data.worldbank.org

Tabela 3 Variáveis do modelo de regressão consumo de recursos à escala mundial (n=28 observações entre 1980 e 2007)

36 Impacto ambiental = População x PIB per capita x impacto ambiental por unidade de PIB.

37 Medido em paridade de poder de compra a preços constantes de 2005, em milhares de dólares

(44)

Através da transformação logarítmica do modelo apresentado, obtém-se:

𝑙𝑛 𝑅𝐶𝑡 = 𝑙𝑛𝛽0+ 𝛽1𝑙𝑛𝑃𝐼𝐵𝑡 + 𝛽2𝑙𝑛𝑃𝑜𝑝𝑡 + 𝑢𝑡 (3.2.1)

A estimação utilizando o método OLS, conduziu aos seguintes resultados:

Tabela 4 Estimativa da relação entre o consumo de recursos e PIB per capita

O que permite reescrever a equação 3.2.1, estimada nos seguintes termos:

𝑙𝑛 𝑅𝐶̂ = −1,36 + 0,5747𝑙𝑛𝑃𝐼𝐵𝑡 𝑡 + 0,2448 𝑙𝑛𝑃𝑜𝑝𝑡 𝑅2 =0,996 (3.2.2)

(-17,36777) (5,0299) (1,6333)

(0,00000) (0,0000) (0,1166)

Os dados que serviram de base à regressão bem como as suas estimativas podem ser consultados no Anexo 2.

Verifica-se que 99,6% da variação da variável dependente é explicada pelas variações dasvariáveis independentes, o que nos permite concluir pela bondade do ajustamento, aliás, como se pode aferir pela representação gráfica dos valores observados e estimados da variável RC (figura 15 e 16). Todavia, e pese embora, a variável demográfica não ser

(45)

estatisticamente significativa para o nível habitualmente utilizado de 5% (note-se, contudo, que a variável é estatisticamente significativa para um teste de significância unilateral a 10%), ela é importante e determinante para explicar o modo como têm evoluído os consumos de recursos ao longo do tempo.

Pelo modelo estimado, conclui-se que, em média um aumento de 1% no PIBpc induza

Figura 16 Recursos consumidos, do PIBpc e População (vista 3D e 2D) Elaboração própria a partir da regressão equação (3.2.1)

Figura 15 Estimativas de recursos utilizando o modelo econométrico equação (3.2.1) 0 5 10 15 20 25 30 0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 0,2000 0,4000 0,6000 0,8000 1,0000 1,2000 1,4000 1,6000 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Recursos consumidos observados vs estimados

RC

(estimativa)

(46)

uma variação no consumo de recursos não repostos pela biocapacidade em 0,575%, enquanto a estimativa do efeito médio da variação de 1% da população se fica pelos 0,249%.

Nesta altura pode-se constatar que, para o período analisado, o parâmetro estimado, que traduz o efeito negativo sobre o planeta, para o padrão de consumo em sentido lato (neste caso, medido pelo PIB per capita), é em média superior ao que foi estimado para a população. Estima-se que a população em 2060 ronde os 109 habitantes38 (figura 17), enquanto se

espera para o mesmo ano, segundo as previsões da OECD, que o PIB per capita, a preços de 2005, ascenda a 22,62 mil USD39.

Utilizando estas projeções no modelo econométrico, estima-se que, caso não existam alterações significativas de estrutura, em 2060, a humanidade estará num patamar de consumo de recursos 2,72 vezes superior à biocapacidade do planeta, o que representa um acréscimo de 80% em 53 anos40. Esta previsão, embora ligeiramente

mais otimista, é compatível com o cenário traçado pela Global Footprint Network (figura 18)

Isto é, o aumento do PIBpc conjugado com o aumento da população “empurram” o

planeta para níveis previsivelmente insustentáveis.

38 Cenário descrito pelas United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population

Division .(United Nations, 2013b),

39 Valor que resulta da divisão da previsão do PIBpc (2005), retirada da OECD Dataset: Economic Outlook

No 93 - June 2013 - Long-term baseline projections, pela população prevista para 2060.

40 Se nada acontecer o rácio entre recursos consumidos e a biocapacidade passará de 1,51 planetas em 2007

para 2,72 planetas.

Figura 17 Previsão da evolução da população

Fonte: World Population Prospects: The 2012 Revision

Figura 18 Previsão do consumo de recursos acima da Biocapacidade

(47)

3.4 Introdução na análise de uma vertente geográfica

No ponto anterior constatou-se que existe uma relação entre a atividade económica, crescimento populacional e consumo de recursos.

A questão central deste ponto é de saber se diferentes estádios de desenvolvimento económico, diferentes culturas e diferentes posicionamentos geográficos influenciam de algum modo o consumo de recursos.

Assim, para testar a existência de outros fatores (civilizacionais, sociais, estrutura económica, etc), além do PIB, que influenciam o consumo de recursos, procedemos à alteração do modelo, introduzindo uma variável explicativa de natureza geográfica que aglutine esses fatores, assumindo o pressuposto que existe uma influência dos hábitos socioculturais no consumo e que esses são, por sua vez, afetados pela proximidade geográfica e/ou cultural.

A análise para determinar a influência dos fatores é per capita, pelo que a dimensão dos seus efeitos poderá ser obtida pela simples multiplicação dos coeficientes encontrados pela dimensão populacional dos países ou blocos.

3.4.1 Metodologia

Procedeu-se a uma regressão em painel com efeitos fixos, empregando o método OLS, utilizando como variável explicada, a pegada ecológica per capita, para medir o consumo de recursos, e para variável explicativa, o PIB per capita dos países, a preços constantes de 2011, avaliados em paridades de poder de compra, como forma de medir a atividade económica de cada país41.

A amostra envolve cerca de 139 países, correspondendo a cerca de 96 % da população do planeta organizados em sete blocos “geoeconómicos”. A cada bloco geoeconómico corresponde uma variável qualitativa binária, denominada DBGE. Esta variável parte da organização geográfica, segundo a classificação dada pelo World Bank às regiões.

Referências

Documentos relacionados

Daí que o preâmbulo, seja por indicar os fins a serem atingidos pelo ordenamento constitucional e, por isso, ser capaz de influenciar a interpretação dos seus preceitos, não pode

nesta nossa modesta obra O sonho e os sonhos analisa- mos o sono e sua importância para o corpo e sobretudo para a alma que, nas horas de repouso da matéria, liberta-se parcialmente

3.3 o Município tem caminhão da coleta seletiva, sendo orientado a providenciar a contratação direta da associação para o recolhimento dos resíduos recicláveis,

Atualmente os currículos em ensino de ciências sinalizam que os conteúdos difundidos em sala de aula devem proporcionar ao educando o desenvolvimento de competências e habilidades

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

Dessa forma, a partir da perspectiva teórica do sociólogo francês Pierre Bourdieu, o presente trabalho busca compreender como a lógica produtivista introduzida no campo

Após a colheita, normalmente é necessário aguar- dar alguns dias, cerca de 10 a 15 dias dependendo da cultivar e das condições meteorológicas, para que a pele dos tubérculos continue

Para preparar a pimenta branca, as espigas são colhidas quando os frutos apresentam a coloração amarelada ou vermelha. As espigas são colocadas em sacos de plástico trançado sem