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Relação entre emprego verde e qualidade ocupacional no Rio Grande do Sul

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Academic year: 2021

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RELAÇÃO ENTRE EMPREGO VERDE E QUALIDADE OCUPACIONAL NO RIO GRANDE DO SUL

RESUMO

O artigo analisa as conexões entre emprego verde e padrões de qualidade do trabalho no estado do Rio Grande do Sul. Inicialmente se propõe um índice de qualidade ocupacional e uma tipificação do emprego total em categorias quando ao seu papel na questão ambiental, sendo a categoria de empregos verdes aquela cuja as ocupações são em setores de atividade que estão diretamente ou indiretamente ligado a questão ambiental. Adicionalmente se propõe um indicador de distribuição da qualidade ocupacional e sua decomposição pelas categorias de emprego. Os resultados mostram que embora haja uma contribuição do emprego verde na promoção da qualidade do mercado de trabalho gaúcho, há indícios que apontam para uma pouca centralidade das ações promotoras de emprego verdes no estado.

Palavras-chaves: Emprego verde; qualidade ocupacional; mercado de trabalho. ABSTRACT

The article analyzes how connections between jobs and quality standards of work in the state of Rio Grande do Sul. Since their role is on the Internet, it is a category of green jobs that is a matter of importance. Additionally, it is necessary to present an indicator of the distribution of occupational quality and its decomposition by a majority of children. The results show that although there is a contribution of the green work in promoting the quality of the Gaucho labor market, there are indications that there is a little centrality of the actions promoting green jobs in the state.

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1 INTRODUÇÃO

Projeções apontam que o avanço da degradação ambiental e exaustão dos recursos naturais na velocidade dos padrões atuais irá promover rupturas e desequilíbrios de atividade de produção em diversos setores, levando a uma convergência forçada para uma economia de baixo carbono e mais eficiente no uso dos recursos. Iniciativas como a promoção de empregos verde seriam uns dos instrumentos para evitar ou retardar um avanço do quadro atual de mudanças e uma adaptação gradual mais equilibrada.

Os esforços inicialmente promovidos para se criar um legando sobre as iniciativas de promoção do emprego verde, visam gerar um diálogo sobre políticas coerentes e programas eficazes de promoção das ações ambientais que ao mesmo tempo garantam acesso ao mercado de trabalho e, portanto, da renda, mas que possam ser consonantes como a preservação da natureza e da biodiversidade. Os “empregos verdes” são baseados, assim, em um tripé ambiental, social e econômico: empresas sustentáveis, redução da pobreza e uma recuperação econômica centrada no emprego.

Os empregos verdes possuem uma prerrogativa essencial no âmbito da economia com promover as práticas de conservação e recuperação do meio ambiente, induzindo um processo de descarbonização da economia e minimização dos impactos ambientais gerados pelo desenvolvimento das atividades econômicas. Essa redução é gradual e diversos empregos contribuem para esse fim em diferentes níveis. Adicionalmente, como sempre é destacado na literatura e como será abordado adiante, os empregos verdes só conseguem cumprir sua função social e ambiental de modo pleno, quando associado ao trabalho decente, pois emprego verde de baixo padrão de qualidade ocupacional não teriam potencial para induzir políticas economicamente viáveis, sociavelmente justas e ecologicamente corretas, não tendo, portanto, papel transformador no campo social, principalmente.

Diante do exposto, esse trabalho visa observar as relações entre emprego verde e qualidade ocupacional no estado do Rio Grande do Sul. Para isso, inicialmente se propõe a construção de um índice de qualidade ocupacional que possa sintetizar os padrões de qualidade do emprego para os trabalhadores. Adicionalmente, propõe-se uma divisão do mercado de trabalho em três categorias de emprego, além dos empregos verdes, classifica-se o emprego com alto passivo ambiental e risco de

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contaminação e, o emprego com baixas emissões, mas que não está diretamente relacionado à preservação do meio ambiente. Em seguida, propõe-se um indicador sobre a distribuição da qualidade ocupacional e sua decomposição por cada categoria do emprego, afim de identificar como cada categoria, especialmente o emprego verde, relaciona-se com os padrões de qualidade vigentes no mercado de trabalho gaúcho. Para isso, esse artigo se encontra dividido da seguinte forma: além dessa introdução, é traçado, na seção seguinte, um painel de informações sobre as discussões acerca do emprego verde e seu papel na questão ambiental; na seção três, são apresentados os aspectos de construção do índice de qualidade ocupacional, bem como a decomposição do algoritmo de desigualdade ocupacional. As seções que seguem trazem consigo as discussões dos resultados da pesquisa e, por fim, são apresentadas as conclusões do trabalho.

2 UMA BREVE REVISÃO TEÓRICA SOBRE EMPREGOS VERDES

Uma questão sempre presente nas discussões sobre a questão ambiental é como conciliar as diversas atividades econômicas como a conservação e preservação de um meio ambiente equilibrado. Algumas estratégias de políticas que promovem ações nessa direção são aquelas que dão impulso um modelo baseado no “crescimento verde”. Recebem especial atenção, nesse trabalho, as políticas que promovem os chamados “empregos verdes”. Desse modo, de caronas nos esforços para se produzir segundo uma matriz energética menos carbono-intensiva e nas discussões sobre limites do crescimento econômico, pela escassez de recursos, uma série de atividades e, consequentemente de ocupações laborais, surgem como alternativa para o modelo de crescimento econômico tradicional, mais dependente de recursos naturais, produtor de resíduos e com maior potencial de poluição e contaminação da biosfera.

Nesse cenário, os esforços promovidos para se criar um legando sobre as iniciativas de promoção do emprego verde, visam gerar um diálogo sobre políticas coerentes e programas eficazes de promoção de ações ambientais mais limpas e recuperação dos passivos causados à natureza, que ao mesmo tempo, garantam acesso ao mercado de trabalho, bem como fontes diversas de obtenção de renda. Nessa abordagem, os empregos verdes prometem um conjunto de ações e estratégias que poderiam induzir mudanças importantes nas relações de produção,

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como contribuir para criação de empresas mais sustentáveis, redução da pobreza e uma dinâmica econômica mais sustentável.

Tem-se, portanto, implicitamente postas, em nossa discussão até aqui, uma teia de interessantes relações entre o papel do mercado de trabalho e a promoção de um meio ambiente equilibrado, bem como melhores padrões de desenvolvimento social. Cabe, aqui, explicitar melhor algumas delas. Além de essenciais para a produção e geração de riqueza, o mercado de trabalho também é fundamental para garantir a sua distribuição e acesso das famílias a padrões que minimamente garantam padrões de bem-estar que atendam às necessidades básicas. Assim, a renda do trabalho desempenha um papel fundamental para a redução da pobreza e para a repartição dos benefícios proporcionados pelo crescimento econômico. Por outro lado, o enorme potencial de criação de empregos verdes associados a níveis superiores de qualidade, além de sua potencialidade futura, associado a crescentes desejos não econômicos de equilíbrio ambiental e o papel trabalho-intensivo das tecnologias pró-meio ambiente, acabam por criar uma perspectiva de que os empregos verdes promovem uma sinergia entre o mercado de trabalho, o desenvolvimento social e econômico e as ações de preservação e conservação da natureza.

Nesse perspectiva, a promoção do emprego verde não envolve apenas o arcabouço de discussões ligadas à temática ambiental, mas também encontra alguma ressonância nas políticas de redução de pobreza e da desigualdade e, até mesmo, como estratégia de superação de recessões e crises, bem como da própria semiletargia de atividades e setores econômicos que caracterizam diversos países e regiões com diferentes padrões de desenvolvimento. No entanto, fica colocado aqui, pois, uma característica primordial do emprego verde necessária para que essa sinergia se complete adequadamente, que é o aspecto da qualidade das ocupações, na medida em que nem todas as ocupações verdes são necessariamente de qualidade, podendo expôr os trabalhadores a uma condição de subocupação com vulnerabilidade. Algo não desejável, na medida que desperdiça o potencial do emprego verde como indutor de um processo de desenvolvimento inovador e inclusivo. Assim, sobre esse aspecto é possível destacar:

Muitos empregos atuais no setor da reciclagem, por exemplo, recuperam matéria-prima e, portanto, ajudam a aliviar a pressão sobre os recursos naturais. No entanto, envolvem processos muitas vezes poluentes, perigosos

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e difíceis, causando danos significativos ao meio ambiente e à saúde humana. Os empregos neste setor tendem a ser precários e de baixa renda. Para que os empregos verdes sejam uma ponte para um futuro realmente sustentável, essas questões devem ser resolvidas (ONU, 2009, p. 54).

Por essa razão, o emprego remunerado e o trabalho decente, seja verde ou tradicional, é fundamental não só para garantir coesão e estabilidade social (OIT, 2008), mas também para promover uma melhor condição de qualidade do desenvolvimento e também assegurar que o emprego verde, de fato, cumpra o seu papel e contribua para minimizar impactos socioambientais. Desse modo, as ideias discutidas aqui neste ensaio visam sempre analisar o emprego verde, não apenas na perspectiva de sua contribuição para emprego total, mas também relacionando-o com seus padrões de qualidade, entendendo que o emprego de qualidade é uma condição fundamental para que o emprego verde possa ser desenvolver seu papel na promoção do bem-estar social e ambiental.

Os estudos sobre emprego verde ainda carecem de melhor revisão e desenvolvimento mais acurado de suas conexões, para garanti-los como instrumento mais adequado à formulação de políticas, para a promoção de uma estratégia de crescimento pró-meio ambiente ou até mesmo como políticas atreladas ao campo social. Nesse sentido as observações de Deschenes (2013, p. 5) encontram alguma ressonância. O autor afirma que o emprego verde só representa um percentual muito pequeno do emprego total (para a maioria dos casos, esse percentual corresponde a menos de 5% do total de ocupação). Além disso, setores que contribuem fortemente para formação da composição da oferta de trabalho, como é caso do setor de serviços, são setores não verdes, com baixa taxa de ocupações que podem ser “rotuladas” nessa categorização. Adicionalmente, o autor identificou, pelo menos para o caso dos Estados Unidos, que a parcela de horas trabalhadas nos setores mais verdes da economia americana correspondia a apenas um terço do total de horas trabalhadas. Essas afirmações põem um limite às potencialidades de uso de políticas de crescimento verde, ao mesmo tempo que induzem uma redefinição do alcance efetivo dessas políticas para padrões mais realistas, criveis e, portanto, mais alcançáveis. Esse breve ensaio tentar dar uma contribuição nesse sentido, relacionando emprego verde e padrões de qualidade ocupacional, bem como sua contribuição ao acesso dos trabalhadores a postos de qualidade superior.

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2 DOS ASPECTOS METODOLÓGICOS E CONCEITUAIS

Uma associação sempre presente e recorrente nas discussões sobre emprego verde é seu papel na construção de um perfil ocupacional de qualidade. Mais além, as políticas promotoras de emprego verde só alcançariam alguma efetividade e relevância se estivessem associadas à concomitante promoção do trabalho decente. Assim, para que haja um ganho social mais relevante com o aumento da participação do emprego verde no mercado de trabalho deve haver, necessariamente, um ganho na qualidade média desse mercado, no que se refere à qualidade de suas ocupações. Logo, esta relação entre emprego verde e trabalho de qualidade não podem ser analisada de forma individualizada ou de modo indireto.

Como uma proposta para resolver esse dilema, propõe-se nesse estudo, a construção de um indicador da qualidade do emprego formal para o estado do Rio Grande do Sul, como descrito no quadro 01. O índice aqui proposto baseia-se em um sistema de pontuação, no qual é atribuído, a cada faixa da subcategoria do índice, uma escala de que vai de 0 a 4, onde zero representa a pior condição e 4 representa a melhor condição.

Quadro 01

Construção do indicador de qualidade do emprego formal no Rio Grande do Sul

Subcategoria Faixa de pontuação

Taxa de Escolaridade baixa escolaridade e baixo salário [0] Baixa Escolaridade [1] Média Escolaridade [2] Alta Escolaridade [3] Alta Escolaridade e alto salário [4] Jornada de trabalho Jornada excessiva [0] alta jornada de trabalho [1] Média Jornada de trabalho [2] Baixa jornada de trabalho [3] Baixa jornada com alto salário

[4] Idade do Trabalhador Incidência do Trabalho infantil [0] Trabalho juvenil como aprendiz [1] Trabalho juvenil no primeiro emprego e baixo salário [2] Trabalho juvenil não celetista [3] Trabalho não juvenil e não infantil [4] Remuneração Média Trabalho com salário de subsistência [0] Trabalho com baixo salário [1] Trabalho com médio salário [2]

Trabalho com alto salário [3] Trabalho com altíssimo salário [4] Tipo de vínculo Trabalho como aprendiz [0] Trabalho temporário com baixo salário [1] Trabalho avulso com baixo salário

[2] Trabalho temporário com alto salário [3] Trabalho avulso com alto salário

[4]

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Os subindicadores selecionados foram, a saber: i) o nível de escolaridade dos trabalhadores intercalado com baixo rendimento, afim de se verificar as relações que a baixa qualidade ocupacional tem com o menor grau de instrução dos trabalhadores; ii) a jornada de trabalho; que mede os diferentes níveis de horas trabalhadas, fornecendo uma percepção do trabalho excessivo; iii) idade do trabalhador, com vistas a identificar a presença do trabalho infantil e os diferentes níveis de vulnerabilidade a que estão expostos os trabalhadores juvenis; iv) remuneração média, considerando que a taxa média de remuneração condiciona uma percepção da qualidade ocupacional e, v) tipo de vínculo, que revela a presença de trabalho temporário e avulso intercalados com baixos níveis de remuneração.

Um outro interesse desse estudo é analisar como o emprego verde afeta esses padrões de qualidade e qual a sua intensidade, quando comparados com outras formas de ocupação. Desse modo, propõe-se, adicionalmente, três formas de tipificação das diferentes formas de ocupação, relacionando-as com a sua potencialidade de geração de riscos e passivos ambientais, com descritas no quadro 02. Assim, os chamados empregos verdes são aqueles que estão ligados à proteção ou conversação do meio ambiente.

Quadro 02

Tipificação das ocupações quando ao seu papel ambiental

Categorias Do emprego Descrição Emprego associado à preservação e/ou conservação do meio ambiente (Emprego Verdes)

Emprego com baixos níveis de emissões de carbono e ligado à conservação e/ou prevenção do meio ambiente

Emprego com alto passivo ambiental

Emprego em setores com alta capacidade de emissão de gás carbônico e/ou setores com elevado risco de degradação do meio ambiente

Emprego com abaixo passivo ambiental

Setores com baixas emissões de carbono e que não estão diretamente ligados à preservação e/ou conservação ambiental

Fonte: Elaboração dos autores.

A classificação das diferentes formas de ocupação como “verdes” segue as atividades propostas pela OIT (2010). Por outro lado, o emprego com alto passivo

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ambiental, seria aquele tipo de emprego onde o risco de degradação ambiental seria elevado. Para essa tipificação, usa-se o critério proposto Montoya e Pasqual (2015), que decompôs as emissões brasileiras de gás carbônico por setores de atividades, fornecendo, assim, um indicativo dos setores que mais poluem. Tal indicativo que foi usado nessa pesquisa para compor os critérios de classificação desse tipo de ocupação. Por fim, cabe registrar que o emprego com abaixo passivo ambiental são os setores de baixas emissões, conforme os resultados apresentados por Montoya e Pasqual (2015).

3.1 DECOMPOSIÇÃO DA DESIGUALDADE OCUPACIONAL

Como mencionado anteriormente, a compreensão sobre a composição e distribuição da qualidade ocupacional pode fornecer um indicativo das disparidades estruturais que marcam o mercado de trabalho gaúcho, nas quais pode-se estabelecer o papel das ocupações verdes na promoção do trabalho decente no estado. Logo, essa seção busca apresentar um conceito operacional desse perfil de distribuição da qualidade ocupacional e acesso ao mercado de trabalho de qualidade, onde será possível apontar um algoritmo para a sua decomposição e assim, estabelecer suas relações com o emprego verde. Para dar início a esse processo, estabeleceu-se que o indicador de qualidade ocupacional total de um indivíduo, como descrito na subseção anterior, corresponde à soma da qualidade de sua(s) ocupação(ões), como demostrado na equação 01. Assim, se o indivíduo possui mais de uma ocupação, por exemplo, em que uma é verde e outra não, a soma do subindicador de qualidade do emprego verde e do subindicador da atividade não verde compõe a qualidade total. Caso o indivíduo possua somente uma ocupação, seu indicador de qualidade total é igual ao subindicador da categoria, sendo as demais igual a zero. Com isso, pode-se estabelecer a qualidade total como uma função da qualidade de cada categoria de emprego, como na equação a seguir:

iqe = v + m + b

Em que iqe corresponde ao indicador de qualidade; v representa a qualidade das ocupações verdes; m a qualidade das ocupações associadas a altos níveis de passivo Eq. 01

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ambiental e b apresenta a qualidade das ocupações não associadas diretamente a promoção do meio ambiente, mas que possuem baixos níveis de emissões.

Sendo a qualidade ocupacional a soma da qualidade individual de cada categoria do emprego, é conhecida a distribuição da qualidade ocupacional total e de suas fontes, sendo possível a obter um algoritmo de decomposição por categorias, que no caso, são os tipos de ocupação propostas. Um meio para isso seria uma aplicação do índice de Gini, onde caso o valor do índice fosse zero, todos os trabalhadores teriam o mesmo nível de qualidade do emprego e, portanto, o acesso ao mercado de trabalho padrão seria perfeitamente igual e caso fosse um, somente um trabalhador teria acesso ao mercado de trabalho padrão.

Assim, suponha que iqe i seja a qualidade agregada do i-ésimo trabalhador, em um total de n trabalhadores e que os indicadores de qualidade do trabalho estão ordenados de modo que iqe 1 ≤ iqe 2 ≤ ... ≤ iqe n. Sendo a média dada por μ = 1

niqe i

n

n = 1 e agregando os trabalhadores de menor qualidade ocupacional até a

i-ésima posição na série, a proporção acumulada dos trabalhadores será p i = i n⁄ e a respectiva proporção acumulada da qualidade ocupacional do trabalho será

Φ= 1

n μiqe j i

j = 1 . Define-se o índice de concentração, aqui chamado de Índice de Desigualdade Ocupacional (IDO), por:

𝐼𝐷𝑂 = 1

𝑁∑(𝑃𝑖

𝑁−1

𝑁=1

− 𝛷𝑖)

Esse indicador, assim como os indicadores de desigualdade tradicionais, varia entre 0 e 1, sendo, pois, o caso em que 0 corresponderia a uma situação onde o nível de qualidade ocupacional agregada de todos os trabalhadores seria o mesmo e 1 seria o caso em que um trabalhador tinha acesso ao mercado de trabalho com qualidade padrão e os demais trabalhadores teriam uma qualidade ocupacional correspondente a zero. Esse coeficiente, assim como aqueles, associa à área entre a curva de Lorenz e a linha de perfeita igualdade.

Adicionalmente, sendo o indicador de qualidade do trabalho uma soma direta dos subindicadores de qualidade para as categorias, é possível, por meio da análise de decomposição, desenvolvida nos resultados de Lerman e Yitzhaki (1985), Feldman Eq. 03

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et al. (2007) e An e Ortes (2009), decompor os efeitos marginais cada categoria sobre o Índice de Desigualdade Ocupacional. Desta forma, seria possível entender como um aumento no número de ocupações verdes, por exemplo, impactaria no nível de qualidade dos trabalhos e nas condições de acessibilidade a um mercado de trabalho justo.

Assim, poderíamos obter um algoritmo de decomposição através da derivação básica do Índice de Desigualdade Ocupacional da qualidade do trabalho. A fórmula para a diferença média do índice de desigualdade é dada por:

𝐴 = ∫ 𝐹(𝑦)[1 − 𝐹(𝑦)]𝑑𝑦

𝑏

𝑎

Supondo que y representa a qualidade ocupacional total, a qualidade ocupacional do trabalhador com o pior nível de qualidade do emprego, b o com a melhor condição e

F a distribuição acumulativa da qualidade total. Usando integração por partes, com u = F( y) [ 1 - F( y) ] e v = y, obtemse:

𝐴 = ∫ 𝑦[𝐹(𝑦) − 1 2⁄ ]𝑓(𝑦)𝑑𝑦

𝑏

𝑎

Ao transformar as variáveis, definindo y (F) como a função inversa de F (y), atinge-se:

𝐴 = 2 ∫ 𝑦(𝐹)(𝐹 − 1 2⁄ )𝑑𝑓

1 0

Note que F é uma função uniformemente distribuída entre [0, 1] tal que sua média é 0,5. Pode-se, pois, escrever a equação 6 sobre a forma:

𝐴 = 2𝑐𝑜𝑣[𝑦, 𝐹(𝑦)]

Dividindo (4) pela média da qualidade ocupacional total, m, obtém-se o coeficiente de Gini convencional, comumente associado à análise de distribuição de renda. Suponha, ainda, que y1, …, yk representa a qualidade de cada categoria do emprego. Então, usando a propriedade da covariância e y = ∑ k k - 1 y k, é possível escrever:

𝐴 = 2 ∑ 𝑐𝑜𝑣[𝑦𝑘, 𝐹] 𝑘

𝑘=1

Onde cov [y k, F] é a covariância da qualidade da categoria do emprego, k, com a distribuição cumulativa da qualidade total. Dividindo (5) por m (obtendo o Gini relativo) Eq. 04 Eq. 05 Eq. 06 Eq. 07 Eq. 08 Eq. 09

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e multiplicando e dividindo cada componente k pela cov [y k, F k] e por m k, temos a decomposição por categoria:

IDF= ∑ [cov (yk, F) cov (yk, Fk) ] K k=1 [2 cov (yk, Fk) mk ] [ mk m] De onde reescreve-se: 𝑰𝑫𝑭 = ∑ Sk 𝑲 k = 1 GkRk

Em que R k é a correlação da concentração entre a categoria k e a qualidade total,

G k, é a concentração relativa do componente, k,e S k é a participação da categoria na qualidade total.

Sobre a correlação de concentração do componente, k, Lerman; Yitzhaki (1985, p. 152) afirmam que:

The Gini correlation (R) has properties similar to Pearson’s and the rank correlations. Like both, the Gini correlations ranges between -1 and +1, but will take on more extreme values then Pearson’s. A monotonically increasing (decreasing) function will yield a value of + 1 (- 1). Thus, R will equal 1 (- 1) when an income source is an increase (decrease) functions of total income. When the income source is a constant, then R equal to 0 implying that the source’ share of Gini is equal to 0. As such component raise their share total income, overall inequality will fall.

Adicionalmente, o estudo sobre decomposição de um índice de desigualdade qualquer pode fornecer a explicação de como uma mudança em um componente particular da qualidade total, em nosso caso, afeta o nível de qualidade total. Assim, considere uma mudança em algum componente da qualidade total, k, igual a e y ké próximo a 1. De (7), é possível derivar uma expressão para derivada parcial da desigualdade ocupacional total com relação à mudança percentual, e, na fonte k será, portanto:

∂IDF ∂ e k

= S k (R k G k - IDF)

A vantagem dessa metodologia seria compreender como uma mudança percentual nos níveis das categorias propostas afeta a desigualdade ocupacional dos trabalhadores, fornecendo, assim, uma percepção de como a participação de cada categoria impacta as diferenças funcionais entre os trabalhadores no mercado de Eq. 10

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trabalho e na própria qualidade do emprego, que em última estância, estaria ligada à promoção do trabalho decente.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os dados da tabela 01 apresentam um conjunto de informações sobre as categorias de emprego no mercado de trabalho no Rio Grande do Sul. Em 2016, havia cerca de 180.113 trabalhadores ocupados em atividades verdes no estado, o que representava 4,39% do emprego total. No entanto, quando relacionado com os dados de 2006, observa-se que o emprego verde diminuiu, tanto termos de participação no emprego total, como também em termos absolutos. Deste modo, setores ligados à economia verde no estado parecem apresentar uma performance menos dinâmica e perdem espaço para outras atividades no recrutamento de mão de obra.

Tabela 01

Rio Grande do Sul – total de ocupações por categoria e índice de qualidade ocupacional na qualidade ocupacional – 2006 /2016

Categoria 2006 2016

Ocupações Percentual IQE Ocupações percentual IQE Verdes 262,748 07.86 0.7547 180,113 04.39 0.6710 Marrom 1,141,712 34.14 0.6409 1,224,880 29.84 0.6439 Branco 1,939,543 58.00 0.7050 2,700,303 65.78 0.7029

Total 3,344,003 100 4,105,296 100

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS.

Essa performance mais tímida dos setores verdes contribui para que o mercado de trabalho gaúcho perca um importante instrumento de promoção de um mercado de trabalho de qualidade, pois o índice de qualidade ocupacional para essa categoria é sempre superior àquelas ocupações ligadas a um alto passível ambiental.

Os dados contidos na tabela 02 permitem tipificar as categorias de emprego com relação ao seu papel na evolução da qualidade ocupacional total no Rio Grande do Sul. Adicionalmente, conforme o método de decomposição escolhido aqui, os componentes da qualidade ocupacional cuja relação de concentração for superior ao índice de desigualdade ocupacional (mostrado na última linha da tabela 02) é classificado como regressivo, dito de outra forma, contribui para aumentar as assimetrias nos padrões de qualidade do emprego. De forma complementar, aquelas relações de concentração para as categorias da qualidade ocupacional menores que

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o índice de desigualdade total permitem classificar os componentes correspondentes como progressivos, contribuindo, por conseguinte, para redução da desigualdade.

Tabela 02

Rio Grande do Sul – participação e razão de concentração da categoria na qualidade ocupacional – 2006 /2016 Fonte Ano ⁄ 2006 2016 Razão de elasticidade Razão de concentração Razão de elasticidade Razão de concentração Verdes 0.5022 0.2285 0.4684 0.2040 Marrons -0.0743 -0.0997 -0.0485 -0.1222 Brancos -0.4279 -0.0881 -0.4199 -0.0913 IDO 0.1330 0.1245

Fonte: dados dos autores.

Verifica-se, aqui, uma singularidade marcante do mercado de trabalho verde gaúcho, que perde participação no mercado de trabalho total (como visto na tabela 01), além de corresponder a menor parcela desse. Assim, o emprego verde é classificado como regressivo, ao passo que as demais categorias de emprego são classificadas como progressivas.

A tabela 04 decompõe a variação da desigualdade, ∆G = -0.0085 , no período por cada fator do emprego e pelo efeito composição e efeito concentração. Por efeito composição, entende-se aquele que ocorre quando há alteração nas proporções do componente da qualidade ocupacional total e, por efeito, concentração a contribuição da redução das assimetrias da categoria entre os indivíduos. Como uma primeira observação, nota-se que o efeito concentração representa 78,94% de toda a variação, ficando o efeito composição a representar -123,71%. Aqui, já denota-se que a relevância desse último para a redução da desigualdade é menor em relação ao efeito concentração, porque não se identificam, a grosso modo, grandes mudanças nos padrões de participação das categorias na composição da desigualdade ocupacional total, fazendo com que o efeito composição seja menor. Logo, é esperado que o impacto do efeito concentração seja mais baixo, como de fato é observado.

O efeito concentração de todas as três categorias de emprego aparece sempre negativo, ou seja, aumentam as distorções nos padrões de qualidade dos trabalhadores. Sendo que o emprego com alto passivo ambiental e, menor índice de qualidade entre as categorias, tem o maior efeito concentração em módulo. Assim, quando setores com menores padrões de qualidade ocupacional ampliam sua

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participação no emprego total do estado, tende a diminuir a qualidade média dos trabalhadores e ainda aumentar as distorções entre eles.

Tabela 03

Rio Grande do Sul – decomposição dos efeitos de cada categoria sobre a qualidade ocupacional – 2006 /2016 Decomposição Efeito Composição Efeito Concentração Efeito Total Verdes -34.09 205.41 171.32 Marrom -50.68 8.80 -41.88 Branco -38.95 9.50 -29.45 Total -123.71 223.71 100

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da RAIS.

No que se refere ao efeito concentração, as três categorias de emprego apresentam efeitos positivos, contribuindo para reduzir as distorções de qualidade ocupacional do mercado de trabalho, sendo que o emprego verde foi o que mais contribuiu para a redução dessas distorções. Assim, à medida que os padrões de investimentos verdes se intensificam, gerando empregos verdes, tenderam a convergir os padrões de qualidade entre os trabalhadores no mercado de trabalho. Assim, o emprego verde cumpriria seu papel na eliminação das distorções entres os padrões de qualidade ocupacional do mercado.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelos dados expostos, o emprego verde ainda possui uma baixa participação no mercado de trabalho total, algo que limita, inicialmente, as potencialidades efetivas de ações capazes de endogeneizar um processo de ações pró-ambientais e mais limpas, por meio dos empregos verdes. No entanto, seus padrões de qualidade, pelo menos para o caso gaúcho, são sempre superiores aos empregos em setores onde o passivo ambiental é elevado. Assim, esses setores não estão associados a elevados riscos ao meio ambiente, como também promovem emprego de qualidade relativamente menor que as demais categorias. Desse modo, políticas promotoras dos setores verdes teriam alguma potencialidade na promoção do trabalho decente, ao mesmo tempo em que cumpriam seu papel na conservação da natureza. No entanto, os resultados parecem indicar que os caminhos seguidos pelo mercado de trabalho gaúcho estariam em outra direção, já que o emprego verde diminui sua participação

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no emprego total no período analisado. Isso demonstrar a pouca centralidade das ações de promoção do meio ambiente, representadas por políticas setorializadas.

Sobre as relações de decomposição, é possível perceber que embora haja uma contribuição importante do emprego na promoção de um mercado de trabalho mais igualitário, do ponto de visto dos padrões de qualidade do emprego, um esforço deve ser promovido para difundir, de modo menos centralizado, a qualidade ocupacional dos empregos verdes, fazendo que essa categoria de emprego consiga convergir com as demais categorias de emprego em um nível elevado de qualidade ocupacional. Assim, a natureza regressiva da qualidade ocupacional verde passaria para um padrão mais progressivo.

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Referências

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