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Agriturismo - caso de estudo havaiano

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Academic year: 2021

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        Relatório de Estágio apresentado para cumprimento dos requisitos necessários         à obtenção do grau de Mestre em Ecologia Humana e Problemas Sociais  Contemporâneos realizado sob a orientação científica       do Doutor Jorge Ricardo Costa Ferreira 

 

                                                     

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                      Dedicado a todos os que se preocupam com a Terra                         

 

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AGRADECIMENTOS

   

Quero  agradecer  ao  professor  Doutor  Jorge  Ricardo  Costa  Ferreira,  por  ser  um  orientador  de  estágio  disponível,  atento  e  preocupado.  Pela  aposta  que  fez  em  mim  para  o  acompanhar  na  conferência  internacional  Special  Interest  Tourism  and 

Destination Management, em Kathmandu, Nepal. 

Quero agradecer também a Diana King, por me ter dado a oportunidade de colaborar  com a organização não‐governamental O’ahu Resource Conservation & Development,  da  qual  é  directora  executiva.  Por  me  ter  aberto  as  portas  do  outro  lado  do  mundo,  mesmo sem me conhecer. 

Quero ainda agradecer à minha família, cujo apoio fez da minha viagem e estadia no  Havai  uma  realidade,  da  qual  surge  o  presente  Relatório  de  Estágio.  É  também  ao  pensar  na  família,  nomeadamente  na  família  vindoura,  que  as  minhas  preocupações  ecológicas encontram sentido.                       

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AGRITURISMO – CASO DE ESTUDO HAVAIANO  MARIA INÊS GALEÃO MEIRA  RESUMO    PALAVRAS‐CHAVE: Agricultura, Turismo, Sustentabilidade, Decréscimo    O agriturismo, modelo alternativo que alia as vantagens do turismo ao sector agrícola,  surge como forma de preservar o espaço rural de forma sustentável. A simbiose entre  agricultura  e  turismo  torna‐se  relevante  numa  altura  em  que  o  mercado  global  é  altamente competitivo e grande parte da paisagem agrícola se rende ao abandono, por  falta de incentivos. 

Três casos de estudo de Agriturismos na ilha de O’ahu, Havai, EUA, serão analisados de  forma  a  entender  os  desafios  colocados  à  comunidade  agrícola.  Com  efeito,  uma  morosa  burocracia  legal  funciona  como  entrave  à  concretização  desta  actividade.  A  organização não‐governamental O’ahu Resource Conservation & Development revela‐ se uma ajuda preciosa junto da comunidade rural Havaiana.  

Que  futuro  tem  o  Agriturismo  na  sociedade  contemporânea?  Poderão  algum  dia  os  conceitos de “economia” e de “sustentabilidade” ser lidos numa mesma frase? Poderá  a noção de “decréscimo” tornar‐se uma realidade? Quais são as diferenças e possíveis  influências entre os casos Havaiano e Português?              

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AGRITOURISM – HAWAIIAN STUDY CASE  MARIA INÊS GALEÃO MEIRA  ABSTRACT    KEYWORDS: Agriculture, Tourism, Sustainability, Degrowth   

Agritourism,  an  alternative  model  that  combines  the  advantages  of  tourism  with  the  agricultural  sector,  arises  as  a  means  of  preserving  the  countryside  in  a  sustainable  manner.  The  symbiosis  between  agriculture  and  tourism  becomes  relevant  at  a  time  when the global market is highly competitive and much of the agricultural landscape  yields to abandonment, due to lack of incentives. 

Three Agritourism case studies, on the island of O’ahu, Hawaii, USA, will be analysed in  order  to  better  understand  the  challenges  faced  by  the  agricultural  community.  Indeed,  a  lengthy  legal  bureaucracy  acts  as  a  barrier  to  the  implementation  of  this  activity.  The  non‐governmental  organization  O’ahu  Resource  Conservation  &  Development constitutes a precious help among the rural Hawaiian community. 

What is the future of Agritourism in the contemporary society? Could the concepts of  “economy” and “sustainability” ever be read in the same sentence? Could the notion  of  “degrowth”  become  a  reality?  What  are  the  differences  and  possible  influences  between the Hawaiian and Portuguese cases?             

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ÍNDICE

    Introdução...  1  Capítulo I: Estado de arte ...  3  I. 1.    Agriturismo – vantagens e desafios ...  3  I. 2.    Agriturismo e sustentabilidade – conceitos simbióticos...  8  I. 3.    O caso Português ...  12  I. 4.    O caso Havaiano...  13  I. 5.    Ensinamentos retirados do Mestrado adaptáveis à temática escolhida... 14  Capítulo II: O’ahu RC&D – uma alavanca para o agriturismo ... 19  II. 1.    Funcionamento da organização ...  19  II. 2.    Projectos em curso. ...  21  II. 2. 1.    Tin Roof Ranch...  21  II. 2. 2.    Mari’s Gardens...  22  II. 2. 3.    Susan & Jason Akamine...  22  II. 2. 4.    Pang’s Nursery. ...  23  II. 2. 5.    Matsuda‐Fukuyama Farms...  23  II. 2. 6.    Takenaka Landscaping Company. ...  24  II. 2. 7.    Katsuhiro Kobashigawa Farm...  25  II. 2. 8.    Workshops realizados...  25  II. 3.    Estágio curricular na ONG O’ahu RC&D...  27  II. 3. 1.    Trabalho burocrático. ...  28  II. 3. 2.    Visitas ao Terreno...  29  II. 3. 3.    Pesquisa de fundo. ...  30  II. 3. 4.    Acções de divulgação e formação...  31 

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Capítulo III: Agriturismo em O’ahu...  32  III. 1.    O processo de transformação de quintas em espaços de agriturismo ... 32  III. 2.    Casos de estudo. ...  36  III. 2. 1.    Kahuku Farms. ...  36  III. 2. 2.    Kualoa Ranch. ...  38  III. 2. 3.    Dole Plantation. ...  40  Capítulo IV: Mudança de paradigmas: Agriturismo, Economia, Sustentabilidade ... 42  IV. 1.    Futuro do Agriturismo – Economia vs Sustentabilidade... 42  IV. 1. 1.    O conceito de Decréscimo. ...  44  IV. 2.    Caso Havaiano e caso Português ...  47  IV. 2. 1.    Diferenças...  47  IV. 2. 2.    Possíveis influências. ...  49  Conclusão... 51  Bibliografia ... 54  Anexos... 58 

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INTRODUÇÃO 

 

Contextualização 

No  primeiro  ano  do  mestrado  em  Ecologia  Humana  e  Problemas  Sociais  Contemporâneos,  aquando  da  cadeira  de  Ecoturismo,  leccionada  pelo  professor  Doutor Jorge Ferreira, foi introduzido o caso do ecoturismo havaiano, pelo que se falou  no  website  da  organização  Hawaiian  Ecotourism  Association.  O  tema  do  Ecoturismo  tornou‐se  aliciante  do  ponto  de  vista  de  pesquisa  científica,  o  que,  associado  ao  território  havaiano,  a  exploração  do  tema    e  o  aprofundamento  do  mesmo  em  case  study. A associação referida é composta por membros que trabalham com o objectivo  de  potencializar  as  características  endógenas  do  Havai  para  fins  de  ecoturismo.  Um  dos membros da presente associação, Diana King, tornou‐se mais chamativo aquando  do aprofundamento do tema, uma vez que Diana King trabalha para preservar a ilha de  O’ahu há mais de duas décadas. 

Seguiu‐se  uma  troca  de  emails  com  Diana  King,  que  durou  cerca  de  cinco  meses,  e  abriu  uma  porta  para  um  estágio  curricular  na  organização  presidida  pela  mesma,  que  dá  pelo  nome  O’ahu  Resource  Conservation  &  Development.  Através  da  troca  de  ideias  sobre  o  tema  do  mestrado  presentemente  debatido  e  as  acções  empreendidas  pela  O’ahu  RC&D,  foi  reconhecida  compatibilidade  de  assuntos  e  interesses, pelo que ambas as partes reconheceram ter a ganhar com um estágio em  território havaiano. 

Após  a  aprovação  da  Faculdade  de  Ciências  Sociais  e  Humanas,  Universidade  Nova de Lisboa, foi assinado um Protocolo entre as organizações. O visto de estudante  foi conseguido junto da Embaixada dos EUA. E, ultrapassadas todas as barreiras legais  e  burocráticas,  faltava  apenas  a  barreira  geográfica.  Com  as  despesas  de  transporte,  estadia e alimentação a cargo da aluna Inês Meira, o estágio decorreu sem problemas  e durante o tempo previsto. 

Do  trabalho  desenvolvido  no  presente  relatório,  surgiu  a  participação  na  conferência  internacional  Special  Interest  Tourism  and  Destination  Management,  em 

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Kathmandu,  Nepal;  bem  como  o  livro  editado  pela  organização  O’ahu  RC&D  O’ahu 

Agritourism Guidebook. 

 

Metodologia 

O  estágio  na  ONG  O’ahu  RC&D  compreendeu  uma  metodologia  simples,  a  estagiária acompanhou os projectos levados a cabo pelo staff da dita organização. No  processo,  o  objectivo  principal,  incentivar  a  prática  de  agriturismo  junto  da  comunidade rural de O’ahu, foi atingido com a realização de um guia prático sobre o  tema. No entanto, outros objectivos foram tomando forma, como sejam os contactos  regulares e as visitas às quintas das zonas de Waimanalo e North Shore, inscritas em  projectos de remodelação sustentada conduzidos pela ONG.  

Os  projectos  tiveram  início  com  o  contacto  prévio  dos  agricultores,  a  fim  de  obter  ajuda  e  aconselhamento  por  parte  da  ONG.  Os  membros  desta  organização  foram  conhecer  os  casos  no  terreno,  compreendendo  os  problemas  em  questão  e  elaborando  um  plano  de  acção.  Com  este  plano  de  acção  aceite  por  parte  dos  proprietários,  as  obras  –  que  podiam  ser  simples,  como  a  plantação  de  Vetiver  (um  agente natural de controlo da erosão dos solos); ou mais audazes, como a criação de  raiz  de  uma  cozinha  comercial  –  tomaram  lugar,  sempre  acompanhadas  por  visitas  regulares  do  staff  de  O’ahu  RC&D,  a  fim  de  promover  um  ambiente  rural  salutar  e  sustentável. 

 

Estrutura 

O  presente  relatório  de  estágio  compreende  cinco  capítulos:  a  Introdução;  o  Estado de arte, onde se analisa a literatura internacional existente sobre agriturismo; a  organização  não‐governamental  O’ahu  Resource  Consevation  &  Development  e  descrição da sua obra e filosofia; casos de Agriturismo em O’ahu; e a correlação entre  os conceitos de Agriturismo, Economia e Sustentabilidade.  

A  Introdução  surge  como  primeiro  capítulo,  onde  são  expostas  a  Contextualização; a Metodologia; e a Estrutura do presente relatório. O Estado de Arte 

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está  subdividido  em  quatro  subcapítulos:  Agriturismo  –  vantagens  e  desafios;  Agriturismo  e  sustentabilidade  –  conceitos  simbióticos;  O  caso  Português;  e  O  caso  Havaiano.  Segue‐se  a  explanação  da  ONG  O’ahu  RC&D,  com  especial  ênfase  no  funcionamento  da  organização;  nos  projectos  em  curso;  e  no  estágio  curricular  decorrido no seio da mesma. O quarto capítulo compreende três casos de Agriturismo  em  O’ahu.  O  quinto  capítulo  é  marcado  pela  exploração  do  tema  do  Futuro  do  agriturismo  –  Economia  vs  Sustentabilidade;  seguido  da  análise  da  noção  de  “Decréscimo”;  do  resumo  das  diferenças  e  possíveis  influências  entre  os  casos  Havaiano  e  Português;  e  pelas  Notas  Finais.  O  presente  relatório  termina  com  a  exposição da Bibliografia e fontes; do Índice; e dos demais Anexos.                                

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Capítulo I: Estado de arte 

  I. 1. Agriturismo – vantagens e desafios    “It's a wonderful experience to walk through their fields               and see what the farmers are growing.” (Baltazar, A. 2010)   

Agriturismo  é  uma  modalidade  de  recreação  que  traz  os  turistas  citadinos  de  volta aos prazeres da vida no campo, reforçando a ligação entre turismo e agricultura.  Depois  da  geração  de  turistas  de  “sol  e  praia”,  a  primeira  modalidade  de  turismo  a  atingir grandes massas da população, chega a geração de turistas mais conscientes e  atentos  aos  temas  da  sustentabilidade,  da  alimentação  saudável  e  da  pegada  ecológica. Este novo grupo quer saber de onde vem e como é produzida a comida que  lhe chega ao prato, recordar e dar a conhecer aos seus filhos a rusticidade de uma vida  de “labuta na terra”, ter contacto com flora e fauna cada vez mais longínquas do seu  horizonte de conhecimento. 

Por  outro  lado,  nota‐se  uma  aposta  da  comunidade  rural  em  chegar  às  populações  citadinas,  de  forma  a  aumentar  os  rendimentos,  actualmente  mais  sensíveis  às  flutuações  próprias  de  um  mercado  internacional  e  de  uma  maior  instabilidade  climatérica.  De  acordo  com  Carpio  (2008),  “The  recent  growth  in  agritourism is both demand and supply driven. On the supply side, economic pressures  have  induced  farmers  and  ranchers  to  augment  their  income  through  diversification,  both  within  agriculture  itself  and  through  non‐agricultural  pursuits.  On  the  demand  side, people’s interest in farm activities has increased in recent years”. 

Eis  uma  modalidade  turística  em  expansão  que,  segundo  o  autor  já  citado,  atinge 30% da população Americana: “It has been estimated that 62 million Americans  visited  farms  one  or  more  times  in  2000,  corresponding  to  almost  30%  of  the  population. Several factors are believed to be increasing the demand for agritourism. 

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First,  the  demand  for  outdoor  recreation  in  general  is  rising  due  to  increases  in  discretionary  income.  Trends  and  future  projections  indicate  continued  increases  in  the number of participants, trips and activity days for outdoor recreation as well as the  increase of multi‐activity but shorter trips. Second, people are doing more travelling as  a  family,  travelling  by  car  and  looking  for  more  activities  involving  recreational  experiences. Finally, there is evidence of growing interest by the public to support local  farmers” (Carpio, C. 2008). Se cresce a procura será por demais evidente a necessidade  de acompanhamento por parte da oferta. 

O  agriturismo  pode  ser  considerado  como  um  grande  investimento  por  parte  dos detentores de terras de pequena dimensão e que se dedicam a uma agricultura de  subsistência. No entanto, para os proprietários de quintas de maior dimensão e com  um foco de interesse mais amplo, esta merece ser uma forte aposta a reflectir. É de  salientar  que  vários  factores  levaram  quintas  familiares  a  explorar  a  viabilidade  de  estratégias  económicas  alternativas,  num  esforço  de  preservar  os  seus  espaços.  O  agriturismo  traz  oportunidades  diversificadas  aos  agricultores,  ajudando  a  amortecer  as  flutuações  do  mercado.  Pode  aumentar  as  receitas  agrícolas  e  aumentar  a  actividade  económica  da  comunidade.  Pode  fornecer  maneiras  economicamente  viáveis para cuidar dos recursos, ecossistemas e espécies. 

Gerido  de  forma  apropriada,  o  agriturismo  pode  providenciar  rendimentos  essenciais aos agricultores mais carenciados, que não estão dependentes de mudanças  climáticas, pestes, doenças ou flutuações no mercado. Esta situação permite ajudar a  suavizar  os  ciclos  nos  rendimentos,  típicos  da  indústria  agrícola.  Por  outro  lado,  o  esforço em assegurar que a quinta está apta ao público funciona como um incentivo  para que os agricultores mantenham os seus campos e demais dependências em bom  estado de conservação, giram eficientemente os seus solos e água e assegurem boas  condições de trabalho para os seus empregados.  Os participantes desta nova forma de turismo frequentemente optam por levar  para casa produtos da quinta e partilhar a experiência com amigos e família, trazendo  novas  oportunidades  de  negócio  para  os  operadores  rurais.  Desta  forma,  fica  entendido  que  tanto  os  visitantes  como  os  residentes  podem  beneficiar  com  programas  deste  género;  os  primeiros  porque  frequentemente,  quando  viajam, 

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procuram  uma  experiência  única  e  característica  de  um  dado  destino.  Os  segundos  porque desta forma ficam a conhecer de onde vem a comida que lhes chega ao prato e  as  flores  que  lhes  decoram  a  casa,  aprendendo  a  apreciar  o  significado  de  produção  local e seguindo a tendência actual de “conhecer o seu agricultor”. 

As  vantagens  do  agriturismo  são  muitas.  Choo  (2009)  sustenta:  “This  new  tourism  type  can  be  employed  as  a  strategy  for  facilitating  sustainable  agriculture,  local  development,  social‐cultural  and  environmental  conservation,  wellbeing,  and  learning”. 

Das (2010) argumenta que o agriturismo deve servir como um catalisador para  a  revitalização  dos  campos:  “Large  parts  of  rural  USA  are  seeing  gradual  decline  in  economic  fortunes.  The  small  and  medium  scale  farms  are  especially  dwindling  in  numbers  and  their  incomes  are  stagnating.  Towards  revitalizing  the  rural  agrarian  economies, agritourism is being seen as a catalyst to supplement income and trigger  economic growth in some parts of the USA”. 

Também  Veeck  (2006)  vê  ganhos  económicos  e  educacionais  no  agriturismo,  argumentando que o interesse crescente actual se deve à estagnação dos preços dos  cereais,  contraposta  com  o  aumento  dos  custos  agrícolas  e  da  competição  internacional. O autor chega ao termo “horizontal linkages”, ou seja, ligações paralelas  da  produção  agrícola  com  demais  actividades  potencialmente  complementares.  Che  (2005)  confirma  a  ideia  de  Veeck,  referindo  o  caso  dos  agricultores  de  Michigan,  Estados  Unidos  da  América,  que  vêem  o  agriturismo  como  um  valor  acrescentado  capaz de proporcionar a manutenção dos terrenos agrícolas em actividade. 

Segundo  Colton  (2005),  esta  modalidade  turística  inclui  a  realização  de  mercados  e  festivais  onde  os  agricultores  expõem  os  seus  produtos,  centros  interpretativos, visitas guiadas e estadias nas propriedades agrícolas. Pela palavras do  autor,  “Agritourism  or  farm  tourism  is  increasingly  recognized  as  an  important  alternative  farming  activity  that  can  contribute  to  agricultural  sustainability  through  diversification of the economic base, provision of educational opportunities to tourists,  and  the  engendering  of  greater  community  cohesion.  Farm  tourism  activities  can  include  farm  markets,  wineries,  U‐Picks,  farming  interpretive  centres,  farm‐based  accommodation  and  events,  and  agriculture‐based  festivals”.  Cada  espaço  agrícola 

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cativa o visitante pelos seus atributos geográficos e produções específicas e aqui reside  a  beleza  desta  forma  turística,  pois  nunca  haverá  quintas  iguais  ou  experiências  repetidas. 

Isto só é possível porque, por outro lado, é notável um crescendo de atenção e  interesse  da  população  geral  pelos  campos.  Depois  do  êxodo  rural  que  marcou  a  geração  da  Revolução  Industrial,  hoje  a  tendência  está  a  ir  na  direcção  oposta.  Segundo  relatórios  feitos  junto  da  comunidade  de  Portland,  Estados  Unidos  da  América, os turistas mostram interesse e querem conhecer os agricultores (Baltazar, A.  2010).  Há,  pois,  boa  aceitação  pública  do  agriturismo,  o  que  dá  mais  confiança  à  comunidade agrícola em enveredar por tais projectos. Contudo, os incentivos do lado  da  procura  não  são  suficientes  para  pôr  o  agriturismo  em  marcha,  uma  vez  que  estamos a falar de grandes investimentos e transformações, muitas vezes num espaço  de cariz familiar, que pouca manobra terá para aventuras deste género. 

Há  alguma  contradição  no  discurso  de  Crumley  (2010),  ao  dizer  que  o  agriturismo  é  apreciado  e  apoiado  pelos  turistas,  mas  que  são  raros  os  que  dão  um  passo em frente em tais investimentos. Por conseguinte, o autor refere: “A vacation in  the country is something that appeals to people with memories of childhood summers  spent on their grandparents' farm, or who want their children to see what farms are  like (…). But as a business, it is too small to turn back the trends we've seen in recent  decades. No one wants to inherit family farms because it's too much work for too little  money,  and  that's  emptying  the  countryside”.  A  situação  actual  do  mercado  internacional e seus preços fortes é apontada como a razão principal da fragilidade da  comunidade  rural.  Contudo,  é  precisamente  num  timing  como  este  que  as  grandes  mudanças ocorrem. 

“Adaptar  ou  morrer”  é  a  expressão  que  o  referido  autor  utiliza,  quando  questionado  sobre  esta  tendência  na  comunidade  rural.  Para  as  quintas  francesas,  atingidas  pela  queda  dos  preços  nos  alimentos  e  pela  diminuição  das  ajudas  financeiras  da  União  Europeia,  agora  é  o  momento  certo  para  a  mudança.  Efectivamente,  Crumley  fala  no  agriturismo  com  um  tom  de  urgência:  “Accordingly,  average per‐farm income in France has decreased steadily since 1998, with revenues  last  year  falling  34%,  following  a  20%  drop  in  2008.  One  upshot  of  that  sectorwide 

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pinch  is  that  26.4%  of  French  farms  now  qualify  as  officially  poor,  nearly  double  the  national figure of 14% of households being below the poverty line. (…) There's never  been  any  other  profession  that  has  undergone  such  radical  change  or  experienced  such  violent  pressure  as  farming  in  France  in  the  past  four  decades”  (Crumley,  B.  2010). 

Em  2010,  apenas  um  quinto  da  população  agrícola  francesa  se  dedicava  ao  agriturismo, sendo que a maioria de entre os quais se limitava quase exclusivamente à  venda  dos  produtos  finais,  na  quinta  ou  online,  e  apenas  um  número  ainda  mais  reduzido constava de quintas envolvidas em acomodar visitantes (Crumley, B. 2010). A  explicação  poderá  prender‐se  com  o  seguinte:  “For  all  its  financial  promise,  diversification  has  its  limits.  Despite  the  urgency  to  find  new  sources  of  income  for  most  farmers,  the  reality  is  a  lot  don't  have  the  means  or  setup  to  diversify,  while  others  simply  refuse  to  do  so,  considering  it  a  betrayal  of  the  agricultural  profession  they took on”. O referido autor termina afirmando que existe um certo grau até onde  estas  actividades  podem  crescer  antes  de  atingir  a  saturação  ou  o  desinteresse  por  partes dos agricultores e visitantes. 

Um discurso mais animador vem de Blekesaune (2010), defendendo a tese de  que o campo se está a tornar um local de consumo e recreação, pelo que o agriturismo  acompanha esta mudança na base económica das comunidades rurais. Shinn (2008) vê  um  saldo  positivo  no  agriturismo  na  ilha  havaiana  de  Maui,  constatando  que  mais  pessoas  mostram  interesse  em  conhecer  a  origem  da  comida  e  em  apoiar  produtos  locais, adoptando uma visão mais abrangente do processo produtivo. 

Porém, é salientada a necessidade de ajudas do governo para implementar esta  modalidade  turística,  mas  de  interesse  claramente  mais  amplo  do  que  o  sector  privado.  “Government  support  at  the  municipal  and  provincial  level  is  lacking,  issues  such as signage and zoning bylaws were noted as significant obstacles to agritourism  development”  (Colton,  J.  2005).  Assim  sendo,  a  comunidade  agrícola  não  deve  estar  sozinha  neste  momento  de  mudança  de  paradigmas,  o  governo  é  chamado  a  apoiar  estes investimentos. O referido autor defende que a maioria dos agricultores de Nova  Escócia,  Canadá,  não  estão  ao  corrente  dos  potenciais  de  valor  acrescentado  do  agriturismo, nem tão pouco têm tempo para investir em formações na área. 

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Torna‐se  por  isso  essencial  que  existam  apoios  à  comunidade  agrícola,  o  que  passa pelo feedback dos turistas atentos e participativos e por ajudas governamentais,  a nível de leis e bolsas que facilitem o agriturismo. Esta situação passará por idas ao  terreno  e  tomadas  de  conhecimento  tanto  do  que  os  agricultores  querem  oferecer,  como o que os agrituristas procuram; identificar as falhas e dificuldades e superá‐las,  suportando e dando poder à tão importante comunidade agrícola. No caso tailandês,  Srikatanyoo  (2010)  refere  que  o  agriturismo  tem  contribuído  para  o  crescimento  da  indústria turística, mas que muitas destas empresas não proliferam com sucesso visto  haver  uma  falha  na  comunicação,  que  impede  que  os  agricultores  saibam  o  que  os  visitantes necessitam e procuram. 

Torna‐se pois necessário divulgar e sustentar a presente prática, tanto através  de  investimentos  privados  como  com  apoios  governamentais.  O  reconhecimento  da  importância  do  agriturismo,  como  facilitador  da  revitalização  dos  campos,  do  desenvolvimento  do  turismo  sustentável,  da  redução  da  pegada  ecológica  e  como  actividade  de  suporte  da  economia  actual,  será  debatido  com  mais  pormenor  no  quarto capítulo. 

 

I. 2. Agriturismo e sustentabilidade – conceitos simbióticos 

A  prática  do  agriturismo  favorece  a  sustentabilidade,  ao  preferir  a  produção  local  e  o  aspecto  tradicional  do  sector  agrícola.  Se  no  subcapítulo  anterior  foram  analisadas as vantagens e desafios do agriturismo, no presente subcapítulo será feito o  mesmo  para  o  conceito  de  sustentabilidade.  Acontece  que  este  é  um  conceito  mais  abrangente e abstracto. 

Actualmente,  a  ecologia  é  uma  temática  bastante  em  voga  e  é  sabido  que  existem espaços turísticos que, por colocarem um painel solar ou por apostarem num  sistema  inteligente  de  iluminação,  sem  necessariamente  empregarem  pessoas  dessa  comunidade ou se sentirem responsáveis pelo que acontece fora das portas do hotel,  se  auto‐intitulam  de  sustentáveis  –  ora,  a  abordagem  deve  ser  holística.  Com  efeito,  como  se  define  turismo  sustentável?  Que  critérios  são  necessários?  Como  pode  ser  medido e credivelmente comprovado?  

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O  “Global  Sustainable  Tourism  Criteria”,  foi  lançado  em  2008,  a  propósito  do 

World  Conservation  Congress  em  Barcelona,  numa  parceria  com  a  United  Nations  Foundation,  a  United  Nations  Environment  Programme,  a  United  Nations  World  Tourism  Organization  e  a  Rainforest  Alliance.  Este  documento  constitui  o  modelo 

internacional a seguir por uma empresa com preocupações sustentáveis aquando do  desenvolvimento  de  um  espaço  turístico.  O  documento  divide‐se  em  quatro  pontos:  gestão  sustentada  da  empresa  propriamente  dita,  benefícios  económicos  junto  da  comunidade local, benefícios para com a herança cultural do espaço, e benefícios no  ambiente  envolvente;  de  modo  a  maximizar  os  impactos  positivos  e  a  minimizar  os  impactos negativos (Anexo I).  

Esta  parceria  funcionou  como  uma  resposta  da  comunidade  turística  aos  desafios  globais  da  Declaração  do  Milénio  e  estipula  o  padrão  mínimo  que  qualquer  negócio turístico deve aspirar, de modo a não ser nocivo para o ambiente. O critério  referido procura servir de directriz básica para o esclarecimento da comunicação social  e das agências de viagens na escolha de fornecedores e programas sustentáveis; para a  educação  das  populações;  e  para  que  os  sectores  privado,  governamental  e  não‐ governamental  tenham  um  ponto  de  partida  credível  sobre  o  qual  desenvolvam  condições para um turismo sustentável.  

Para se descodificar o conceito de turismo sustentável, surge a necessidade de  se  esclarecer  outro  conceito  paralelo,  o  de  “desenvolvimento  sustentável”.  Descrito  pela  primeira  vez  no  relatório  Brundtland  (1987),  desenvolvimento  sustentável  “é  o  desenvolvimento capaz de responder às necessidades do presente sem comprometer  a satisfação das necessidades das gerações futuras”. De facto, todo o desenvolvimento  sustentável implica a tomada de consciência para a necessidade da existência de uma  equidade  social  para  com  as  diversas  gerações  e  da  responsabilização  de  cada  uma  individualmente (Duarte, J. 2009).  

Outro  termo  paralelo  será  o  de  “ecoturismo”  (Lascuráin,  H.  1994),  que  foi  inicialmente  usado  para  descrever  as  viagens  para  áreas  virgens,  com  um  propósito  sobretudo  educacional.  Este  conceito,  apesar  de  não  ser  só  por  si  sustentável,  desenvolveu‐se,  entretanto,  para  a  área  do  planeamento  e  da  gestão  de  produtos  e  actividades de turismo sustentável. 

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Se  o  conceito  de  desenvolvimento  sustentável  pressupõe  o  equilíbrio  entre  a  economia,  a  sociedade  e  a  natureza,  respeitando  a  biodiversidade  e  os  recursos  naturais, também o de turismo sustentável. A compreensão deste ponto é fulcral, uma  vez  que  o  sector  do  turismo  tem  vindo  a  sofrer  um  crescimento  exponencial.  Com  efeito, “the business volume that tourism is generating today equals or even surpasses 

that  of  oil  exports,  food  products  or  automobiles.  A  primary  goal  of  the  sustainable  development  program  is  to  ensure  that  tourism  protects  and  sustains  the  world’s  natural and cultural resources and meets its potential as a tool for poverty alleviation”, 

afirmam estudos feitos pela UNWTO (World Tourism Organization). 

O  turismo  sustentável  é  aquele  que  promove  a  preservação  e  a  melhoria  do  património  cultural  e  natural,  o  desenvolvimento  local  e  o  bem‐estar  generalizado,  criando  postos  de  trabalho  e  regenerando  espaços.  No  entanto,  quando  não  devidamente planeado, o turismo pode ter um impacto negativo sobre os territórios e  sobre  as  populações.  Como  foi  reconhecido  pela  Comissão  das  Comunidades  Europeias, o turismo pode tornar‐se vítima do seu próprio êxito se não se desenvolver  de uma forma sustentável (Bruxelas, CCE. 2006). 

Muitos dos paraísos tropicais a que aspiramos no nosso imaginário foram hoje  transformados  em  zonas  sobrecarregadas  de  hotéis  e  resorts,  que,  para  além  de  estragarem  a  paisagem,  actuam  a  um  nível  mais  profundo,  alterando  todo  o  ecossistema local. À excessiva carga turística e à ausência de planeamento, soma‐se o  desequilíbrio social. Sabe‐se que acontece, com frequência, a compra de um terreno,  sobretudo em países menos desenvolvidos, por uma empresa estrangeira, que explora  a  zona,  pondo  de  parte  a  população  local,  sendo  que  todos  os  lucros  não  chegam  nunca  a  afectar  o  país  em  questão.  Por  conseguinte,  o  turismo,  para  ser  uma  actividade positiva, tem de o ser para todos, senão acabará por desvalorizar o destino  em vez de o realçar (Careto, H. 2006).  

Será mais importante a qualidade ou a quantidade da oferta turística? Mede‐se  o  sucesso  de  um  destino  turístico  pelo  número  de  visitantes  ou  pela  qualidade  da  experiência?  Aqui  surge  o  movimento  internacional  do  “slow  travel”,  que  pode  ser  definido  como  a  oportunidade  do  visitante  contactar  com  a  população  e  com  o  território  de  forma  autêntica,  num  ritmo  adequado  à  apreensão  da  cultura  local. 

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Nascido em 1986, em Itália, começa com o conceito de “slow food”, por oposição ao  de  “fast  food”,  que  valoriza  o  que  é  de  origem  local,  defendendo  que  a  inevitável  globalização deverá ser pautada pela justiça, pela equidade, pela humanização e pela  regulamentação.  A  partir  deste  movimento  inicial  surgiram  outros  paralelos,  que  defendem os mesmos princípios de actuação, sempre numa perspectiva de abrandar o  ritmo. Assim, existem as “slow cities” e “slow schools”, os “slow book”, “slow money”,  “slow living”, e “slow travel” (Duarte, J. 2009). 

Para que o turismo sustentável não seja apenas um conceito teórico, deverá ser  assumido  pelas  diversas  organizações  públicas  e  privadas,  pelo  viajante  e  pela  população  receptora.  The  World  Heritage  Alliance  for  Sustainable  Tourism  é  uma  comunidade  global  empenhada  na  preservação  da  herança  mundial.  Seguindo  a  filosofia  de  que  cada  indivíduo  desempenha  um  papel  essencial  na  conservação  da  herança  global,  a  referida  organização  trabalha  com  viajantes,  agentes  de  viagens,  organizações governamentais e não‐governamentais, a fim de preservar e proteger a  herança mundial e as comunidades locais (World Heritage Alliance). 

Desde  a  criação  da  Agenda  21  –  relatório  elaborado  aquando  da  conferência  das  Nações  Unidas  sobre  Meio  Ambiente  e  Desenvolvimento,  realizada  em  1992,  no  Rio  de  Janeiro  –  que  a  consciência  ambiental  está  mais  presente  na  consciência  do  indivíduo, pelo que a procura e a oferta turística seguem esta tendência. A Agenda 21  estabelece  a  necessidade  de  se  reflectir,  local  e  globalmente,  sobre  a  forma  como  governos,  empresas  e  organizações  não‐governamentais  devem  cooperar  no  estudo  de soluções para os problemas sócio‐ambientais; deixando‐se de ver o ambiente como  um objecto pronto a usar mas um bem para preservar (Meakin, S. 1992).  

A  citação  de  Duarte  (J.  2009)  corrobora  este  paradigma:  “As  motivações  turísticas  actuais  são  caracterizadas  por  uma  escolha  mais  atenta  e  selectiva  dos  destinos, uma maior exigência ao nível da ‘experimentação’, uma maior sensibilização  no  que  diz  respeito  aos  valores  ambientais,  aos  hábitos  e  costumes  tradicionais  de  cada  cultura  e,  sobretudo,  uma  maior  preocupação  com  as  populações  locais  (...).  A  conjuntura  vivida  actualmente  contribui  para  uma  maior  consciencialização  dos  mercados e para a definição de novas expectativas e tendências turísticas”. 

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Situações críticas como os recentes terramoto e tsunami que abalaram o Japão  (Março  de  2011)  dão  ao  tema  da  sustentabilidade  um  carácter  urgente.  Sendo  o  turismo uma actividade que se afirma e desenvolve a partir das riquezas e diversidades  únicas  de  cada  território,  as  emergentes  alterações  climáticas  colocam  em  risco  a  sobrevivência  deste  sector,  fundamental  para  o  desenvolvimento  económico‐social  das sociedades contemporâneas. 

 

I. 3. O caso Português 

Actualmente, é possível contar com maior maturidade e nível de educação dos  consumidores, que sabem o que querem e o que podem obter. Nota‐se a procura de  estadias  mais  personalizadas  e  reflectidas,  escolhendo‐se  casas  de  turismo  mais  pequenas,  onde  haja  uma  ligação  mais  próxima  com  os  mentores  do  projecto  e  a  estadia possa ser “feita à medida”. Contrariamente ao estilo de turismo que se afirmou  no  século  passado,  ou  seja,  os  charters  turísticos  e  as  excursões  programadas,  agora  assistimos  à  valorização  da  estada  prolongada,  explorando‐se  o  contacto  com  alojamentos, produtores, mercados e populações locais.  

Apesar  do  referido  no  parágrafo  anterior,  nota‐se  que  as  alternativas  de  turismo sustentável, ecoturismo e agriturismo são ainda insípidas, na medida em que  ainda prevalecem os grandes centros turísticos, como sejam Albufeira e Vilamoura, no  Algarve.  “Em  Portugal  o  turismo  constitui  um  dos  mais  importantes  sectores  de  actividade  económica.  O  nosso  país  é  reconhecido  mundialmente  como  um  dos  destinos  turísticos  de  eleição,  aspecto  tanto  mais  relevante  se  for  considerada  a  reduzida dimensão do seu território e a sua situação periférica no contexto europeu.  Mas é‐o, basicamente, no capítulo ‘sol e mar’. Face aos concorrentes mais directos –  Espanha,  Itália  e  Grécia  –  e  mesmo  para  outros  não  europeus,  ainda  que  mediterrânicos  (como  o  Egipto,  Turquia  ou  Marrocos),  perde  em  termos  de  notoriedade, tradição e história. Precisa pois de diversificar” (Careto, H. 2006). 

Nos  últimos  anos  registaram‐se  dezenas  de  intenções  de  desenvolvimento  de  empreendimentos  turísticos  classificados  de  PIN  (projectos  de  Potencial  Interesse  Nacional),  que  exibem,  em  regra,  padrões  de  qualidade  e  indicadores  de 

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sustentabilidade.  Segundo  o  MEID  (www.portugalglobal.pt),  “todos  os  projectos  PIN  devem  cumprir  rigorosamente  as  regras  ambientais  e  do  ordenamento  do  território,  em conformidade com as leis em vigor e que lhes sejam aplicáveis em função do caso  concreto,  designadamente  em  matéria  de  restrições  de  utilidade  pública  e  outras  condicionantes”, projectos esses que são acompanhados pela Comissão de Avaliação e  Acompanhamento dos Projectos de Potencial Interesse Nacional (CAA‐PIN). A CAA‐PIN  é  responsável  pela  simplificação  e  agilização  dos  procedimentos  necessários  à  execução dos projectos. 

De acordo com o Comunicado do Conselho de  Ministros, de 13 de Janeiro de  2011,  fazem  parte  dos  PIN  os  projectos  que  representem  um  investimento  global  superior  a  10  milhões  de  euros  ou  que,  representando  um  investimento  inferior  ao  montante referido, possuam uma forte vocação exportadora, permitam a substituição  de  importações,  ou  tenham  uma  forte  componente  de  investigação  e  desenvolvimento, inovação aplicada ou interesse ambiental . Contudo, num nível mais  concreto, em 2006 afirmou‐se que “os municípios portugueses têm demonstrado uma  adesão  incipiente  ao  processo  da  Agenda  21  Local,  a  que  não  está  alheio  o  facto  de  não  existir  até  ao  momento  uma  estratégia  nacional  concertada  para  divulgação  e  implementação deste tipo de processos” (Careto, H. 2006). A agravar a situação está a  actual  crise  económica  do  nosso  país,  suas  consequências  sociais  e  ambientais,  pelo  que o desafio da manutenção e melhoria dos recursos será cada vez maior.  

 

I. 4. O caso Havaiano 

O  Havai,  porque  é  um  arquipélago,  está  mais  susceptível  aos  impactos  negativos  do  desenvolvimento,  uma  vez  que  os  seus  recursos  naturais  e  sociais  são  limitados. A preocupação ambiental está substancialmente mais presente nas políticas  governamentais e nos investimentos privados, do que no anteriormente referido caso  Português.  Isto  acontece  porque  estão  em  jogo  interesses  económicos  importantes,  uma  vez  que  são  precisamente  as  características  ambientais  das  demais  ilhas  que  sustentam  e  justificam  os  milhões  de  turistas  que  este  Estado  americano  recebe  anualmente. 

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A  beleza  luxuriante,  as  águas  cristalinas,  as  praias  de  areal  branco  com  coqueiros à beira mar, as montanhas e os trilhos na floresta bem demarcados, seguros,  limpos e preservados, as casas de madeira que não podem ultrapassar os dois andares  de altura, as estradas que não podem ter anúncios publicitários, as flores coloridas, as 

“aloha  shirts”  (camisas  típicas  usadas  pela  maioria  da  população  consensualmente  à 

sexta‐feira) e os sorrisos fáceis no rosto dos habitantes, os campeonatos de surf e os  “luaus”  ao  pôr‐do‐sol.  Todo  o  ambiente  aqui  sucintamente  descrito  é  preservado  fervorosamente, tanto por interesses públicos como privados. A verdade é que no caso  do  arquipélago  havaiano,  a  natureza  e  os  ecossistemas  vibrantes  vendem  e  fazem  a  economia local crescer. Por esta razão se entendem mais facilmente as preocupações  ambientais, sociais e culturais incansáveis dos seus governantes e agentes privados. 

No  segundo  capítulo  será  apresentada  uma  organização  não‐governamental,  que  dá  pelo  nome  de  O’ahu  Resource  Conservation  &  Development  e  que  vive  exactamente da preservação do meio ambiente da ilha de O’ahu. No terceiro capítulo  descrever‐se‐ão três casos de agriturismo na mesma ilha. Por fim, no quarto capítulo  será  retomada  a  comparação  entre  os  casos  Português  e  Havaiano,  de  modo  a  perceber o que um pode aprender com o outro. O último capítulo contará ainda com a  problematização do paradigma economia / sustentabilidade, por forma a descobrir em  que moldes é que o agriturismo se pode encaixar nas sociedades contemporâneas. O  presente  relatório  terminará  com  a  exposição  de  algumas  notas  finais  sobre  os  ensinamentos apreendidos aquando da realização do estágio em território havaiano.   

I. 5. Ensinamentos retirados do Mestrado adaptáveis à temática escolhida 

A  população  mundial  cresce  exponencialmente  a  cada  dia  que  passa,  os  recursos que sustentam a vida diminuem a cada dia que passa. Os ecossistemas não  possuem uma capacidade de renovação tão rápida quanto o lado da procura desejaria,  pelo  que  se  nota  uma  perda  de  biodiversidade  e  de  capacidade  de  assimilação  por  parte  da  biosfera  dos  lixos  e  resíduos  químicos  produzidos  pela  acção  humana.  A  possibilidade  de  esgotamento  dos  recursos  e  consequente  escassez  de  alimentos  necessários  para  alimentar  a  população  é  uma  consequência  da  situação  actual  de 

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consumo  incessante.  Segundo  Boulding  (1966),  “Quem  pensa  que  se  pode  crescer  infinitamente  num  planeta  finito,  ou  é  louco  ou  é  economista”,  uma  vez  que  um  mundo finito só pode suportar uma população finita (Elhrich, P. 1968). 

Um  grupo  de  cientistas  e  engenheiros  informáticos,  auto‐intitulados  Clube  de  Roma, em pesquisas sobre os limites ambientais chegou à conclusão de que a máxima  economista  “crescer  ou  morrer”  deveria  ser  substituída  pelo  controverso  mote  “crescer  e  morrer”  (Club  of  Rome,  1972).  O  primeiro  tratado  do  referido  Clube  de  Roma  prevê  o  fim  do  período  de  crescimento  económico  e  da  sociedade  pós  Revolução  Industrial,  de  produção  e  consumo  como  a  conhecemos.  Segundo  os  mesmos  autores,  o  planeta  não  aguenta  a  manutenção  de  uma  pressão  atmosférica  constante com a emissão de dióxido de carbono proveniente do uso de combustíveis  fósseis e regista‐se um aumento da temperatura terrestre.  A diminuição do fosso entre ricos e pobres é tão necessária como a diminuição  do fosso entre Homem e Natureza, pelo que se propõe a globalização da indústria e do  sistema económico (Club of Rome, 1974). O tom usado neste segundo relatório é forte  e dramático: “venderíamos não só a nossa alma para satisfazer as nossas necessidades  imediatas  de  conforto,  como  também  o  bem‐estar  senão  mesmo  a  existência  de  gerações futuras”. A crise energética mundial é um problema sociopolítico e um mero  acerto  tecnológico  não  pode  resolver  a  situação,  pelo  que  não  se  vive  num  mundo  desenvolvido,  ao  contrário  do  pensamento  comummente  aceite,  mas  antes  num  mundo  sobre  desenvolvido.  É  essencial  que  o  Homem  se  vire  para  o  mundo  natural,  num  espírito  de  harmonia  e  não  de  conquista.  Caso  isto  não  seja  tido  em  conta,  os  autores falam num “eco‐doom”. 

É  necessária  uma  nova  ordem  internacional  no  sistema  de  relações  entre  nações  e  pessoas,  focada  nos  valores  de  dignidade  e  bem‐estar  como  direitos  inalienáveis a todos os indivíduos (Club of Rome, 1976). Nesta terceira conferência do  Clube  de  Roma  é  debatido  o  crescimento  industrial  dos  últimos  trinta  anos,  caracterizado  como  uma  “caixa  de  Pandora  de  problemas”,  reprimindo‐se  severamente  o  uso  da  tecnologia  e  da  ciência  para  a  adulação  do  consumismo.  Para  que  a  situação  mude  drasticamente,  prevê‐se  como  essencial  a  cooperação  a  nível  global  e  o  planeamento  supra‐nacional,  uma  vez  que  a  humanidade  é  detentora  de 

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uma  herança  comum.  Para  tal,  auto‐suficiência  alimentar  é  encorajada,  nomeadamente  como  forma  de  diminuir  a  pobreza  junto  dos  chamados  “países  em  vias de desenvolvimento” e a garantir a coexistência pacífica entre as várias Nações do  planeta. 

Se  o  desenvolvimento  sustentável  corresponde  ao  preenchimento  das  necessidades do presente, sem comprometer aos das gerações futuras (Brundtland, G.  1987), onde está a fronteira do que é realmente necessário? A sustentabilidade deve  ser tanto horizontal, respeitando a igualdade de direitos e deveres em todos os países,  como  vertical,  relativa  à  solidariedade  para  com  as  gerações  vindouras.  Mais  concretamente,  a  sustentabilidade  deve  ser  vista  de  forma  ampliada,  abrangendo  os  mais variados sectores: social, económico, institucional, político, cultural e ambiental. 

O mundo humano está para além dos seus limites. Sem significativas reduções  nos  fluxos  de  materiais  e  energia,  as  décadas  vindouras  conhecerão  uma  redução  drástica de disponibilidade alimentar, uso energético e produção industrial (Meadows,  D.  1992).  Perante  a  noção  dos  limites  do  planeta  Terra,  há  quem  disfarce,  alivie  e  recue,  o  necessário  será  agir  concertada  e  eficazmente.  Através  de  objectivos  de  médio e longo prazo e da ênfase para com a qualidade de vida em vez de quantidade  de produção. 

Na  Cimeira  do  Rio,  em  1992,  foi  aprovado  um  plano  de  acção  denominado  Agenda  21,  adaptável  a  cada  país,  com  princípios  e  metas  para  o  desenvolvimento  local sustentado. Contudo, as agendas ambientais que deveriam ser realizadas a médio  e  longo  prazo,  frequentemente  acabam  apenas  por  acompanhar  os  mandatos  políticos, pelo que não se verifica um projecto continuado. 

A Cimeira de Joanesburgo, em 2002, reafirmou o desenvolvimento sustentável  como  um  tema  central  da  agenda  internacional  e  foi  criado  um  fundo  mundial  de  solidariedade, de forma a considerar o ambiente como um capital. De facto, existem  vários  tipos  de  capital:  financeiro,  tecnológico,  humano  e  natural.  É  caricato  pensar  como  na  palavra  “economia”  se  destaca  o  prefixo  “eco”,  a  sugerir  uma  ligação  sistémica com “ecologia”. É necessária uma “eco‐eficiência”, capaz de oferecer bens e  serviços  competitivos  que  satisfaçam  as  necessidades  humanas  e  contribuam  para  a 

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qualidade de vida, mas que também reduzam o impacto ecológico e a intensidade de  utilização dos recursos. 

Vive‐se  uma  “economia  do  desperdício”  ou  “de  sentido  único”,  sendo  que  os  resíduos  finais  no  processo  produtivo  representam  uma  enorme  perda  de  recursos  naturais  e  de  energia.  “Qual  a  alternativa?”  questionaram  recentemente  os  líderes  políticos  em  Copenhaga  (Meira,  I.  2010).  Torna‐se,  hoje,  imperativo  produzir  menos,  beneficiar quem respeita os limites e impor multas sobre as empresas e (ou) Nações  responsáveis por excedentes.  

Para  o  efeito,  a  necessidade  de  internacionalização  das  agendas  e  projectos  ambientais  pode  ser  comparada  às  relações  estabelecidas  entre  moradores  de  um  mesmo prédio e que partilham a gerência do respectivo condomínio. Foi esta a ideia  que alimentou a obra de Paulo Magalhães, que contrapõe a “extrema inércia do real  estabelecido”  com  uma  visão  assaz  simples  e  conhecida  do  cidadão  urbano,  o  condomínio. “Os ajustes tecnológicos não serão suficientes e a máquina de destruição  da  natureza  não  irá  parar  se  não  lhe  alterarmos  os  pressupostos  de  funcionamento”  (Magalhães,  2007).  Magalhães  afirma  que  os  desenvolvimentos  climáticos  não  esperam pela nossa organização para começarem a acontecer. 

Vive‐se  a  época  da  mudança,  cabe  à  sociedade  contemporânea  parar  as  engrenagens de destruição da vida no planeta. Como refere Magalhães, “é chegada a  vez do Ambiente, a Natureza, o Sistema Natural Terrestre fazer o seu papel, levando os  homens a entenderem‐se, mesmo contra a sua vontade” (Magalhães, 2007). A futura  possibilidade  de  falta  de  água  potável,  escassez  alimentar,  países  sobre  e  sub‐ aquecidos, zonas costeiras e insulares invadidas pela subida do nível das águas do mar,  frequência crescente de desastres naturais, leva Mckibben (2010) a afirmar que “como  alguém perdido numa floresta, devemos parar de correr, sentarmo‐nos no chão, ver o  que temos nos bolsos que possa ser útil, e começar a pensar nos passos a dar”.  De acordo com o referido autor, não existe uma saída fácil para a actual crise  climática. Trocámos a comunidade pelo consumo décadas atrás, pelo que hoje vemos  cidadãos  com  casas  maiores  mas  com  menos  amigos  próximos  do  que  há  cinquenta  anos  atrás.  É,  pois,  essencial  trocar  o  crescimento  pela  durabilidade.  No  processo 

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haverá perdas mas também ganhos, como o sentimento de comunidade fortalecido e  a maior união entre cidadãos e destes com o mundo natural. 

A  crise  económica  que  se  tem  vindo  a  sentir  em  países  desenvolvidos  dos  Continentes Europeu e Americano pode impor reduções na produção e no consumo,  actuando a favor das preocupações partilhadas por milhares de activistas ambientais.  O agriturismo surge como peça na engrenagem para a mudança de paradigmas. 

A  sustentabilidade  deve  ser  mais  do  que  um  emblema  retórico,  deve  ser  tida  como essencial à vida no planeta. Neste âmbito é importante perceber que o planeta  Terra subsiste graças a um saudável equilíbrio entre todos os seus componentes num  mecanismo  a  que  se  chamou  o  ciclo  da  vida  e  que  está  na  origem  de  todos  os  ecossistemas.  Leopold  (1949)  chama  à  atenção  para  “o  respeito  pelos  valores  intrínsecos dos ecossistemas; a capacidade de apreciação pelo sagrado e sublime que  se manifesta na natureza; a urgência de uma economia ecológica, que não externalize  os custos ambientais e seja capaz de dar um valor ao «capital natural», promovendo  sensatas políticas de conservação das espécies e das paisagens”. Acima de tudo, ainda  segundo o referido autor: “Paz na terra e com a terra”, eis o desafio e a tarefa vital da  humanidade no século XXI.                     

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Capítulo II: O’ahu RC&D – uma alavanca para o agriturismo 

 

II. 1. Funcionamento da organização 

O’ahu  Resource  Conservation  and  Development  (O’ahu  RC&D)  é  uma  organização não‐governamental que tem como objectivo promover uma ilha saudável  e vibrante, construída em torno de comunidades fortes (King, D. 2011). Para alcançar  tal premissa, o principal enfoque deste grupo americano está em melhorar a qualidade  de  vida  das  pequenas  comunidades  da  ilha  de  O’ahu,  encorajando  e  assistindo  a  comunidade local no desenvolvimento de actividades que conservem e sustentem os  recursos naturais, humanos, culturais e económicos. 

Esta é a única organização não‐governamental que integra as necessidades de  agricultores  e  demais  comunidades  rurais  com  preocupações  de  conservação  e  sustentabilidade. A ONG é composta por nove membros fixos e um estagiário rotativo  que  trabalham  concertadamente  para  proteger  os  recursos  naturais  e  ajudar  os  negócios rurais, com especial enfoque na agricultura, de modo a que estes cresçam e  se tornem mais rentáveis. O empenho principal está em assegurar que as terras rurais  permanecem  rurais  e  que  os  habitantes  dessas  áreas  vivem  num  ambiente  seguro  e  são detentores de uma boa qualidade de vida (King, D. 2010). 

Autorizada oficialmente pelo Secretariado da Agricultura Americano em Janeiro  de 2001, a organização O’ahu RC&D é gerida por um concelho de administração onde  estão representados O’ahu Soil and Water Conservation Districts e o City and County of 

Honolulu.  Cada  ano  a  organização  recebe  bolsas  substanciais,  que  lhe  permitem 

assistir  a  comunidade  agrícola.  Estes  fundos  provêm  do  Natural  Resources 

Conservation  Service,  (United  States  Department  of  Agriculture)  e  são  usados  para 

expandir operações, comprar equipamentos e desenvolver novos produtos. 

No passado ano de 2010, as bolsas suportaram sete projectos significativos: Tin 

Roof  Ranch,  Mari's  Gardens,  Susan  &  Jason  Akamine,  Pang's  Nursery,  Matsuda‐ Fukuyama Farms, Takenaka Landscaping Company e Katsuhiro Kobashigawa Farm. O 

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modo a melhor a qualidade dos referidos espaços agrícolas. Uma vez que as bolsas são  atribuídas  pelo  Departamento  de  Agricultura  dos  Estados  Unidos  da  América,  infelizmente  para  os  motivos  da  presente  análise,  os  montantes  concretos  são  confidenciais e não poderão ser partilhados.    Quintas de O’ahu        Investimentos monitorizados pela ONG   Tin Roof Ranch      desmatamento, sistema de irrigação, painéis solares  Mari’s Gardens       sistema aquaponics, energia foto‐voltáica e eólica  Susan & Jason Akamine    aumento do sistema existente de aquacultura  Pang’s Nursery      construção de estufa, sistema de irrigação  Matsuda‐Fukuyama Farms    instalação de cozinha comercial  Takenaka L. Company   construção de estufa, criação de composto orgânico  Katsuhiro K. Farm      instalação de cozinha comercial    Paralelamente, a ONG O’ahu RC&D também trabalha com a comunidade local  através  do  desenvolvimento  de  workshops  de  participação  gratuita  para  todos  os  interessados.  Estes  workshops  são  realizados  de  forma  a  aumentar  a  capacidade  empresarial,  técnica  e  produtiva  dos  agricultores,  bem  como  para  informar  a  comunidade de novidades nas áreas da sustentabilidade e da tecnologia. Agricultural 

Business Training, Cover Crop Workshop e Vetiver Workshop foram três das iniciativas 

realizadas neste âmbito. 

A organização O’ahu RC&D está activa em vários campos, de modo a fortalecer  e  a  autonomizar  as  comunidades  rurais.  Os  agricultores  conhecem  a  existência  da  presente  organização  e  entram  em  contacto  com  a  mesma  quando  necessitam  de  ajuda num dado projecto cuja envergadura, por questões monetárias ou técnicas, se  torna demasiado pesada para poderem responder sozinhos. Os membros da ONG vão  ao terreno conhecer o projecto e propõem uma solução, tendo em vista preocupações 

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ecológicas  e  comunitárias.  Caso  haja  mútuo  acordo  em  relação  ao  que  se  propõe  realizar, parte das bolsas anuais é atribuída aos agricultores em questão. A partir deste  momento, o staff da ONG realiza visitas constantes ao terreno de modo a garantir que  o projecto decorre como o esperado.  

Este  trabalho  caso‐a‐caso  com  a  comunidade  rural  é  muito  apreciado  e  procurado pelos proprietários de quintas em O’ahu. Contudo, nem todos os projectos  podem  ser  aceites,  por  questões  financeiras  e  de  agenda  laboral,  sendo  necessária  uma escolha criteriosa na atribuição de bolsas  a cada ano  que passa.  Paralelamente,  são  desenvolvidos  projectos  comuns  que  envolvem  e  dizem  respeito  a  toda  a  comunidade rural. 

 

II. 2. Projectos em curso 

O presente relatório de estágio diz respeito à participação não‐remunerada nas  actividades da ONG  O’ahu RC&D no período entre Setembro de 2010 e Fevereiro de  2011.  Durante  este  período,  foram  desenvolvidos  sete  projectos  em  sete  espaços  rurais  aos  quais  foram  atribuídas  bolsas.  Foram  ainda  organizados  três  workshops  abertos à população rural e demais interessados. 

 

II. 2. 1. Tin Roof Ranch 

Tin  Roof  Ranch  foi  uma  das  empresas  agrícolas  escolhidas.  Localizada  em 

Haleiwa,  esta  quinta  aumentou  o  número  das  suas  aves  e  produtos  agrícolas  num  esforço para responder à procura da comunidade local por galinhas e perus criados em  liberdade,  bem  como  por  fruta  orgânica.  Este projecto  exigiu o  desmatamento  e  a preparação  do  terreno  da  propriedade,  através  da  limpeza  do  espaço  para  pastagens,  construção  de  sebes,  criação  de  um sistema  de  captação  de  água  e  plantação de árvores frutíferas.  O último passo foi a compra de frangos e perus. 

O tempo dispendido nesta operação correspondeu a seis meses. A ONG ficou  encarregue de parte mas não da totalidade dos custos, que corresponderam à limpeza  da  área  para  cultivo,  ao  aluguer  de  maquinaria,  à  instalação  de  um  sistema  de 

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irrigação, à construção de galinheiros com materiais reciclados, à compra de galinhas e  perus, bem como de árvores de fruto, à instalação de um sistema de captação de água  e de sarjetas, e à instalação de painéis solares (Anexo II foto 1).    II. 2. 2. Mari’s Gardens  Por seu lado, o compromisso de Mari’s Gardens para com as práticas agrícolas  sustentáveis  revelou‐se  no desenvolvimento  de  uma  instalação  de  produção  de  alface através  de  um  sistema  integrado  que  dá  pelo  nome  de  Aquaponics,  e  visa produzir  um produto  de alta  qualidade com o  mínimo  de  recursos.  Localizada em Mililani, esta quinta aumentou o número de bancadas para a produção  de  alface,  adicionou viveiros  e  demais  acessórios,  construiu  uma  cozinha  de  preparação do produto para o mercado e instalou painéis fotovoltaicos adicionais. Esta  transformação permitiu o aumento substancial da produção de alface, sem impactos  no solo e com necessidades mínimas de água. 

O tempo dispendido na referida modernização correspondeu a cinco meses. A  ONG  financiou  e  vigiou  as  obras  de  melhoramento,  que  consistiram  em  preparar  a  terra,  instalar  bancadas  para  a  produção  de  alface,  comprar  e  instalar  bombas  que  possibilitassem  a  ligação  da  água  dos  tanques  de  peixes  até  às  bancadas  de  alfaces.  Investiu‐se igualmente em filtros de água e em fertilizante natural. Paralelamente, esta  quinta construiu uma estufa de tomates, pimentos e pepinos. Mari’s Gardens aliou os  fundos  da  ONG  com  outra  bolsa  estatal,  o  que  veio  a  permitir  a  instalação  de  um  sistema fotovoltaico e  de um moinho de vento, cuja energia serve para alimentar os  tanques dos peixes (Anexo II foto 2). 

 

II. 2. 3. Susan & Jason Akamine 

Também  na  região  de  Haleiwa,  Susan  &  Jason  Akamine  desenvolveram  um  projecto  que  tem  como  objectivo  alcançar  uma  produção  de  aquacultura  lucrativa  e  sustentável  através  de  um  aumento  no  programa  existente  de  aquacultura,  com  ênfase nas espécies Tilápia (peixe ciclídeo de água doce nativo de África) e Bagre (ou 

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peixe‐gato, como é a designação comum dada a este peixe nativo da América do Sul).  Para  este  propósito,  os  tanques  antigos  foram  substituídos  por  quarenta  novos  tanques,  aumentando  substancialmente  a  produção.  Estes  novos  tanques  são  mais  pequenos e permitem personalizar as condições para as diferentes variedades e idades  dos  peixes.  A  selecção  das  espécies  foi  baseada  na  maior  tolerância  às  condições  ambientais, na taxa de crescimento e na resistência às doenças. 

O  tempo  dispendido  no  presente  projecto  correspondeu  a  doze  meses.  Os  fundos possibilitaram a compra de tanques, o que permitiu duplicar o stock de peixes.  Bombas,  válvulas  e  equipamentos  para  a  medição  dos  peixes  também  se  tornaram  uma realidade nesta quinta havaiana (Anexo II foto 3).  

 

II. 2. 4. Pang’s Nursery 

Localizada em Kahulu’u, Pang's Nursery é uma estufa direccionada para a venda  de  plantas  ornamentais  e  comestíveis  desde  1970.  No  ano  passado,  os  proprietários  construíram  uma  estufa  mais  moderna  para  proteger  as  culturas  contra  as  intempéries,  instalaram  bancadas  com  diferentes  profundidades,  para  plantas  em  diversos estados de crescimento, e renovaram o sistema de irrigação existente. Estas  transformações melhoraram significativamente as instalações originais e aumentaram  a área de produção, permitindo um aumento dos lucros e que pessoal adicional fosse  contratado. 

A  ONG  O’ahu  RC&D  acompanhou  este  projecto  que  durou  cinco  meses.  Foi  necessário nivelar o terreno, adoptar medidas de conservação para proteger os solos e  as  encostas,  comprar  e  instalar  uma  estufa  de  grandes  dimensões,  montar  bancadas  para plantas e um sistema de irrigação (Anexo II foto 4). 

 

II. 2. 5. Matsuda‐Fukuyama Farms 

Matsuda‐Fukuyama Farms é outra quinta premiada com bolsas da organização 

O’ahu  RC&D,  que  permitiram  o  desenvolvimento  sustentado  do  espaço  rural.  Localizada  em  Kahuku,  esta  quinta  produziu,  nos  últimos  cinco  anos,  produtos 

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manufacturados a partir dos frutos e vegetais da propriedade, incluindo geleias, mel,  chás  e  produtos  de  banho  e  de  corpo.  Até  ao ano  passado,  o  processamento  de tais  produtos  era  feito  numa  cozinha  comercial  em  Maui  (uma  ilha  vizinha),  mas  actualmente Matsuda‐Fukuyama Farms completou o último passo no estabelecimento  da  sua  própria  cozinha  comercial,  com  a  compra  e  instalação  de  um  sistema  de  tratamento  de  águas.  Agora  que  a  cozinha  comercial  está  em  funcionamento,  a  empresa produz produtos de valor acrescentado na propriedade, reduzindo assim os  custos  de  transporte  em  25%  e  tendo  maior  controlo  nas  receitas  e  nos  produtos  finais. 

O tempo dispendido na modificação da cozinha de Matsuda‐Fukuyama Farms  correspondeu  a  três  meses,  período  durante  o  qual  se  procedeu  à  aquisição  e  instalação  de  um  sistema  de  purificação  da  água,  de  modo  a  que  a  confecção  de  produtos com fins comerciais esteja em conformidade com todas as regras de higiene  e segurança exigidas estatalmente (Anexo II foto 5). 

 

II. 2. 6. Takenaka Landscaping Company 

Entretanto,  Takenaka  Landscaping  Company  é  uma  estufa  em  Kunia  que  desenvolveu e instalou um sistema de produção racionalizado para plantas e vegetais,  para  venda  a  privados,  paisagistas  e  produtores.  A  empresa  pretende  fornecer  à  comunidade  rural  e  citadina  a  oportunidade  de  compra  de  vegetais  saudáveis,  começados  a  ser  cultivados  em  vasos  com  misturas  orgânicas  especialmente  férteis,  que podem ser facilmente transplantados. Esta evolução permite à empresa competir  com grandes centros de jardinagem, como Wal‐Mart, Home Depot e Lowe’s. 

O  tempo  dispendido  no  presente  projecto  correspondeu  a  onze  meses.  Foi  necessário  comprar  e  instalar  equipamento  para  misturar  composto  orgânico  e  desperdícios  do  solo,  para  depois  encher  potes  para  um  viveiro  orgânico.  Paralelamente, deu‐se a compra e instalação de uma estufa para proteger as plantas  (Anexo II foto 6). 

Referências

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