Utilização de vermicomposto bovino na produção de Avena sativa/Production of Avena sativa fertilized with bovine vermicompost

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 74203-74210 ,oct. 2020. ISSN 2525-8761

Utilização de vermicomposto bovino na produção de Avena sativa

Production of Avena sativa fertilized with bovine vermicompost

DOI:10.34117/bjdv6n10-010

Recebimento dos originais:08/09/2020 Aceitação para publicação:02/10/2020

Ana Maria Oliveira Bicca

Doutora em Agronomia

Centro Universitário da Região da Campanha / Urcamp

Endereço:R. Ramão Ferreira, 424. Laranjeiras. CEP: 96408-710. Bagé, Rio Grande do Sul E-mail: anabicca@urcamp.edu.br

Fernando Pereira de Menezes

Doutor em Agronomia

Endereço:R. Marcílio Dias, 1741/502. Centro. CEP: 96400-021. Bagé, Rio Grande do Sul

Ana Cláudia Kalil Huber

Doutora em Agronomia

Centro Universitário da Região da Campanha / URCAMP

Endereço;R. Alan Kardec 64/202. Centro. CEP: 96400-700. Bagé, Rio Grande do Sul E-mail: anahuber@urcamp.edu.br

Quélen Oliveira

Acadêmica Curso de Agronomia

Centro Universitário da Região da Campanha / Urcamp Corredor da Mina, 88. CEP: 96445-000. Aceguá, Rio Grande do Sul

E-mail: oliver_fer29@hotmail.com

João Pedro Baierle

Acadêmico Curso de Agronomia

Endereço:R. Senhora do Rosário, 114. CEP: 96685-000. Passo do Sobrado, Rio Grande do Sul

RESUMO

O objetivo do presente trabalho foi avaliar a produção de fitomassa seca e verde da parte aérea de plantas de aveia sob adubação orgânica. O experimento foi instalado em julho de 2017, em ambiente protegido numa casa de vegetação modelo arco, localizado no Instituto Biotecnológico de Reprodução Vegetal – Intec, vinculado a Universidade da Região da Campanha – Urcamp, em Bagé, Rio Grande do Sul. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com cinco tratamentos e quatro repetições, os tratamentos utilizados foram: (T1) sem vermicomposto e sem calcário (testemunha), (T2) vermicomposto bovino 25% da recomendação total da Comissão de Quimica e Fertilidade do Solo do RS e SC (CQFS) + calcário, (T3) vermicomposto bovino 50 % da recomendação total da (CQFS) + calcário, (T4) vermicomposto bovino 100% da recomendação total

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da (CQFS) + calcário, (T5) vermicomposto bovino 125% da recomendação total da (CQFS) + calcário. A adubação orgânica, foi estabelecida de acordo com a análise de solo e realizada de acordo com cada tratamento, o calcário utilizado foi o Filler. Pelos resultados podemos observar que houve diferença significativa entre os tratamentos para as variáveis fitomassa seca e verde da parte aérea. Para as duas variáveis os tratamentos T3 e T4 diferiram dos demais, sendo os melhores tratamentos. Os resultados confirmam a eficiência do vermicomposto bovino como fonte de nutrientes para a cultura da aveia preta, confirmando ser alternativa interessante para os produtores que possuem esse adubo orgânico na propriedade, desde que seja utilizando com precaução e nas doses adequadas para sua maior eficiência e retorno financeiro.

Palavras-chave: fitomassa, orgânica, adubação. ABSTRACT

The objective of this research was evaluating shoot dry and wet biomass of oat under organic fertilizer. The experiment was carried out in july 2017 in a greenhouse, at Intec, Universidade da Região da Campanha. The experimental design was randomized block with five treatments and four replicates. The treatments were: (T1) no vermicomposting and no liming (control), (T2) bovine vermicomposting 25% of total recommendation of Chemistry and Fertility Commission of Rio Grande do Sul and Santa Catarina (CQFS) + liming, (T3) bovine vermicomposting 50 % of total recommendation of CQFS + liming, (T4) bovine vermicomposting 100% of total recommendation of CQFS + liming, (T5) bovine vermicomposting 125% of total recommendation of CQFS + liming. Organic fertilizer was established following a soil analysis and performed according to each treatment. It was used Filler liming. The results showed significance among treatments for variables shoot dry and wet biomass. For both variables treatments three and four differed. Data confirmed efficiency of bovine vermicomposting as a source of minerals to black oat culture, confirming it as a good alternative to farmers that have organic fertilizer. However, this kind of fertilizer has to be used with caution and in its adequate dosage to a better economic efficiency.

Keywords: biomass, organic, fertilizer.

1 INTRODUÇÃO

A agricultura orgânica no mundo se encontra em expansão, atualmente existem 43,7 milhões de hectares de terra agrícola orgânica em todo o mundo, o que representa um aumento de 0,5 milhões de hectares, em relação a 2013. A maior parte dos hectares orgânicos está localizada na Oceania, com 17,3 milhões de hectares, deste valor 17,2 milhões estão na Austrália, país com a maior área de agricultura orgânica do mundo. O país australiano é seguido pela Argentina (3,1 milhões) e pelos Estados Unidos (2,2 milhões de hectares). O mercado mundial de produtos orgânicos gira entre US$ 20 a 24 bilhões ano-1, sendo os maiores consumidores: Alemanha, Holanda, Suíça, França, Inglaterra, EUA e Japão, sendo bastante atraente e em franca expansão (RIBEIRO e SOARES, 2002). Nos EUA a agricultura orgânica teve início no final da década de 40, em jardins e hoje ocupa mais de 500.000ha, com 5,1% do total mundial. De acordo com Coelho (2001), o sistema de cultivo orgânico no Brasil, em bases tecnológicas, teve início no final da década de setenta, em pequena

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escala e começou a se expandir após a criação do Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural (IBD) em 1990, sendo que de 1994 até 2000, as vendas totais de orgânicos cresceram mais de 16 vezes, ocupando na atualidade área de 100.000 hectares, com grandes perspectivas de expansão na pecuária bovina (boi verde), frango, frutas, café, açúcar e outros.

A agricultura moderna leva os sistemas de produção a uma especialização cada vez maior. Os especialistas costumam analisar o processo de produção em aspectos isolados. Assim, os problemas que surgem são enfocados sob o ponto de vista restrito do problema em si. Na agricultura ecológica busca-se a sua relação entre os demais fatores. A visão sistêmica permite analisar e entender a propriedade como um todo, de forma dinâmica, onde estão presentes e se relacionam componentes físicos, químicos e biológicos. Da mesma forma, esta propriedade é parte de algo maior (comunidade ou região), que por sua vez faz parte do ecossistema de todo o planeta. Isso nos faz lembrar aquela frase de que é necessário "pensar globalmente e agir localmente". Dentro dessa visão, existe a preocupação com a autossuficiência na propriedade, buscando produzir o máximo possível de insumos utilizados no processo produtivo dentro da propriedade e, com isso, uma entrada mínima de insumos de fora. Além disso, a análise das vantagens e desvantagens não é feita considerando-se apenas um produto ou atividade isolados, mas sim sistemas de produção, que são entendidos como uma combinação de diferentes cultivos ou criações. Na prática, esses cultivos ou criações se complementam entre si dentro da propriedade, seja na produção ou no consumo (BARCELLOS et al., 2000). O emprego da adubação orgânica vem crescendo gradualmente no Brasil nos últimos anos. Essa adubação pode resultar em modificações nas propriedades químicas e na fertilidade dos solos. De maneira geral, os solos agrícolas são constituídos, em 45% pela fração mineral e somente 5% pela matéria orgânica (BRADY, 1989). O conteúdo de matéria orgânica dos solos merece atenção especial, pois resulta da decomposição de resíduos animais e vegetais e varia, principalmente, com as práticas de manejo adotadas em cada propriedade agrícola. Além disso, é influenciado diretamente pelas condições edafoclimáticas de cada região. Entre os benefícios trazidos pela adubação orgânica ao solo estão a melhoria nas suas propriedades químicas, por meio do fornecimento de nutrientes, aumento da CTC; nas propriedades físicas, pelo aumento na estabilidade de agregados e melhoria na estrutura do solo que se traduz em melhor aeração, permeabilidade, retenção de água e resistência à erosão; e ainda, a biologia do solo pelo aumento da atividade biológica (COSTA et al., 1986).

No Rio Grande do Sul, a diversificação das atividades de uma propriedade, introduzindo um sistema que gere renda no período de verão e de inverno é de fundamental importância para garantir e manter a sustentabilidade da atividade agropecuária (LANZANOVA, 2005). A bovinocultura de

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leite na região Sul do Brasil é responsável por cerca de 26% da produção nacional, sendo que 70% da produção de leite e derivados é realizada por pequenas e médias famílias (GOMES, 2006). A região de Bagé-RS possui 2.806 propriedades rurais sendo que 1.235 possuem área menor que 28ha (minifúndio) e 718 são consideradas pequenas propriedades com área entre 28 e 112ha (IBGE 2007). Nesta região a atividade leiteira cresceu alicerçada na produção oriunda das pequenas propriedades com características de produção familiar, essas propriedades possuem em média uma área que varia de 10 a 30ha e uma média de 20 animais por propriedade. Considerando que uma vaca de leite comum produz cerca de 25kg de dejetos por dia, são 500kg de esterco a cada 24 horas, por serem propriedades pequenas necessitam maximizar a utilização destas áreas e minimizar a entrada de recursos de fora da propriedade, por este motivo torna-se interessante a utilização de vermicomposto para adubação das forrageiras de verão e inverno e buscando assim a autossuficiência na pequena propriedade rural e a reciclagem dos resíduos gerados. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a produção de fitomassa seca e verde da parte aérea de plantas de aveia sob adubação orgânica.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi instalado em julho de 2017, em ambiente protegido numa casa de vegetação modelo arco, localizado no Instituto Biotecnológico de Reprodução Vegetal – Intec, vinculado a Universidade da Região da Campanha – Urcamp, em Bagé, Rio Grande do Sul. O solo utilizado foi coletado a uma profundidade de 0-20cm em uma área de campo nativo e classificado como Luvissolo Háplico órtico típico de acordo com o sistema Brasileiro de Classificação dos Solos (SIBCS). As principais características químicas foram determinadas pela metodologia de Tedesco et al. (1996) e estão representados na Tabela 1.

Tabela 1 - Atributos do solo antes da implantação do experimento e URCAMP, Bagé, RS, 2017.

O vermicomposto foi produzido a partir de esterco bovino proveniente do Campus Rural da URCAMP. Estes animais estavam em sistema de pastejo contínuo em campo nativo, com predominância de capim annoni. O esterco foi acondicionado em caixas de madeira não aromáticas

Argila m v-1 pH água pH SMP MO m v-1 P mg dm-3 K mg dm-3 Al Ca Mg Cmol dm-3 SB CTC pH 7 Cmol dm-3 % saturação Bases Al 13 5,8 6,1 3,3 4,1 63 0,2 5,7 5,0 10,9 14,7 73,6 1,8

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(cedrinho) com as seguintes dimensões: 1,0m de comprimento x 0,60m de largura x 0,30m de altura, com volume de 0,15m³.

Antes da inoculação das minhocas nas respectivas caixas, para verificar as condições ideais para a sua inoculação, foram determinadas as seguintes características: pH (determinado em água, através do potenciômetro), temperatura (termômetro → 0-100C). Estas características foram utilizadas para avaliar o estágio de decomposição dos materiais, aos quais foram inoculadas as minhocas, quando estes encontraram-se semi-curtidos.

O método utilizado para as análises do vermicomposto foi o recomendado por Tedesco et al. (1996) e as análises realizadas no Laboratório de Química e Fertilidade do Solo do Departamento de Solos da FAEM/UFPEL. O vermicomposto utilizado apresentava as seguintes características: umidade 43,43%, C/N 17:1, N -8,05g kg-1_{, K - 6,75g kg}-1_{, P - 2,45g kg}-1_{, Ca - 9,54g kg}-1_{e Mg -} 4,58g kg-1_.

O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com cinco tratamentos e quatro repetições, os tratamentos utilizados foram: (T1) sem vermicomposto e sem calcário (testemunha), (T2) vermicomposto bovino 25% da recomendação total da Comissão de Quimica e Fertlidade do Solo do RS e SC (CQFS) + calcário, (T3) vermicomposto bovino 50 % da recomendação total da (CQFS) + calcário, (T4) vermicomposto bovino 100% da recomendação total da (CQFS) + calcário, (T5) vermicomposto bovino 125% da recomendação total da (CQFS) + calcário.

A adubação orgânica, foi estabelecida de acordo com a análise de solo e realizada de acordo com cada tratamento, o calcário utilizado foi o Filler. Para a semeadura foi utilizada uma densidade de 80kg ha-1, as sementes foram semeadas em sacos plásticos com capacidade para 5kg de solos.

Os cortes foram realizados quando as plantas atingiram aproximadamente 20cm de altura e foi deixando um resíduo de forragem de 7cm. O material coletado foi colocado em sacos de papel devidamente identificados e encaminhados para o Laboratório de Bromatologia da URCAMP. Após cada corte a fitomassa verde foi pesada em balança de precisão e as amostras levadas a estufa com temperatura de 65ºC até peso constante. Posteriormente foi determinada a fitomassa seca definitiva, conforme citado por Hunter (1974).

Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente pelo software SASM-Agri pelo teste de Tuckey com grau de variância a 5%.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 PRODUÇÃO DE FITOMASSA SECA E VERDE

Observa-se na figura 1, que a produção de fitomassa seca em kg ha-1 aumentou com a idade da planta em todos os tratamentos e que o T4 teve as maiores produções de fitomassa seca kg ha-1 exceto no segundo corte. Na tabela 1 se observa que a maior produção de fitomassa seca total kg ha-1 foi obtida no T4 (4638,8kg ha-1) seguido do T3 (4401,4kg ha-1). A produção de fitomassa verde total segue a mesma tendência sendo maior no T4 seguido pelo T3. Os dados de fitomassa seca diferem de Suñe (2014), que trabalhou com aveia adubada com vermicomposto, onde as melhores respostas foram obtidas na dosagem de 200% em relação a dose recomendada. Diferem também de Bicca (2014) que trabalhando com azévem adubado com vermicomposto obteve a melhor produção na dosagem de 125% em relação a dose recomendada, mas concordam com Bicca et al. (2011) que comparando adubação orgânica com vermicomposto bovino e adubação mineral em plantas de centeio, observaram que a melhor produção de matéria seca (2.606kg ha-1) foi no tratamento adubado com 100% da recomendação para vermicomposto bovino e ainda verificaram que a utilização do vermicomposto bovino em 75 e 100% da recomendação da ROLAS (2004) antecipou o período de utilização da pastagem, no presente trabalho o tratamento T5 25% superior a dose correta teve rendimento inferior aos tratamentos T4 e T3. Na figura 1 observamos que os tratamentos T1 e T2 tiveram apenas dois cortes, o T3 e T4 quatro cortes e o T5 três cortes.

Tabela 2 - Produção de fitomassa seca e fitomassa verde kg ha-1_{de aveia sob diferentes doses de vermicomposto.}

Tratamentos Fitomassa verde (kg ha-1₎ _{Fitomassa seca (kg ha}-1₎

T1 1.462c 1.331,1c

T2 1.728c 1.401,8c

T3 5.114ª 4.401,4a

T4 5.296ª 4.638,8a

T5 4.145b 3.019,6b

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Figura 1 - Produção de fitomassa seca (kg ha-1_{) a cada ciclo de desfolha na Aveia.}

4 CONCLUSÃO

Os resultados aprovam a eficiência do vermicomposto bovino como fonte de nutrientes para a cultura da aveia preta, confirmando ser alternativa interessante para os produtores que possuem esse adubo orgânico na propriedade, desde que seja utilizando com precaução e nas doses adequadas para sua maior eficiência e retorno financeiro.

512,23 545,1 998,2 1021,3 965,2 818,9 856,7 1045,2 1037,2 1067,1 1123,4 1234,6 987,3 1245,1 1345,7 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 T1 T2 T3 T4 T5

Produção de Fitomassa seca Kg ha

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REFERÊNCIAS

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BRADY, N. C. Natureza e Propriedades dos Solos. 7ª ed. Freitas Bastos, 1989. 878p. SUÑE, L. Composição Bromatologica de Forrageiras de Estação Fria Sob Adubação Orgânica. 2014. 129f. Tese (Doutorado em Sistemas de Produção Agrícola Familiar) – Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2014.

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