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SUPERFÍCIES GEOMORFOLÓGICAS NA SERRA DO ESPINHAÇO MERIDIONAL-MG

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Academic year: 2019

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SUPERFÍCIES GEOMORFOLÓGICAS NA SERRA DO

ESPINHAÇO MERIDIONAL-MG

Aline Aquino1 Cristiane R. Michelon1 Daniela Beato2

INTRODUÇAO

Superfícies geomorfológicas são feições definidas no tempo e no espaço como resultantes das inter-relações entre solo, geologia e condições climáticas de uma área (RUHE, 1969; DANIELS et al., 1971). A evolução destas têm influência direta na dinâmica e grau de evolução dos solos.

A variedade de solos, assim como a estabilidade geomórfica das superfícies, está estreitamente ligada ao tempo e ao relevo (UBERTI & KLAMT, 1984, COELHO et al.,1994). Estudos consideram que quanto mais velhas forem as superfícies, mais homogêneas são os solos que nela ocorrem, são mais estáveis e normalmente são encontradas nos topos (CAMPOS, et al, 2008). Superfícies estáveis são, portanto, propícias à formação de solos. Em contrapartida as mais jovens ocorrem em áreas de maior declive e possuem, normalmente, solos menos desenvolvidos e mais variados, estando associadas a ambientes erosionais (CAMPOS, et al, 2008). As superfícies geomorfológicas podem incluir as de erosão que guardam em si uma gênese específica.

Diversos trabalhos vêm sendo desenvolvidos enfatizando relações solos-superfícies geomorfológicas. PENTEADO & RANZANI (1971) em descrição da geomorfologia e solos da região de Jaboticabal - Monte Alto (SP) fizeram a caracterização das superfícies de erosão e suas relações gerais com os solos. LEPSCH et al. (1977), COELHO et al. (1994) e MARQUES JÚNIOR & LEPSCH (2000) estudaram, no Planalto Ocidental de São Paulo, as relações entre as propriedades do solo e as formas do relevo, aplicando conceituações de superfícies geomórficas.

1 Unesp – Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho”, campus de Rio Claro. Programa de

Pós-Graduação em Geografia

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... Na Serra do Espinhaço, trabalhos de pesquisa vêm sendo realizados com o intuito de identificar e estudar as superfícies geomorfológicas. KING (1956) foi um dos pioneiros nos estudos geomorfológicos, evidenciando a importância das superfícies de aplainamento cíclico do relevo, que se desenvolveram durante o Mesozóico e Cenozóico. Baseando-se nos trabalhos de KING (1956) outros autores delimitaram diferentes níveis de superfícies. ABREU (1982) reconheceu nas imediações de Diamantina três níveis escalonados. O primeiro está entre 1.400 – 1200 m, entre as nascentes dos rios Ribeirão das Datas até o norte de Guinda, compreendendo inselbergs quartzíticos, couraças ferruginosas e colúvios recobertos por solos arenosos. O segundo, entre 1.100 e 1000 m, aparece sob forma descontínua nas proximidades de Conselheiro da Mata. Apresenta depósitos supergênicos de manganês. A superfície entre 800 – 750 m corresponde aos terraços mais altos de cascalho, embutida no nível entre 1.100 –1000 m. SAADI & VALADÃO (1987) e SAADI (1995) identificaram na região de Gouveia, quatro níveis geomorfológicos. O primeiro corresponde à superfície acima de 1.300 m, balizada por solos residuais quartzíticos (restos de superfície cretácea). O segundo, entre 1300 – 1250 m caracteriza-se por uma superfície dissecada sobre rochas do pré-cambriano, que deram origem a formações superficiais de areias quartzosas sobre couraças ferruginosas e solos com forte impregnação de matéria orgânica. Colinas cujos topos estão entre 1100 – 1050 m formam um nível de aplainamento, possivelmente pliocênico, sobre rochas do embasamento. É marcado por depósitos de seixos e blocos de quartzo subarredondados sotopostos a areias grossas. Entre 1000 – 950 m a superfície é marcada por vales em processo de aprofundamento.

Neste trabalho objetiva-se mapear os principais níveis geomorfológicos, não necessariamente superfícies de erosão, na região centro-norte do Espinhaço Meridional. A área mapeada corresponde à Bacia do Rio Preto, onde está localizado o Parque Estadual de mesmo nome, administrado pelo IEF (Instituto Estadual de Florestas).

CARACTERIZAÇAO GERAL DA ÁREA

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... metaconglomerados com intercalações de metapelitos, xistos e intrusões de rochas metabásicas (ALMEIDA-ABREU & RENGER, 2002). O relevo apresenta superfícies escalonadas, sub-horizontais e vertentes longas e de baixa declividade, interrompidas por vales fluviais encaixados e por cristas quartzíticas que podem apresentar aspecto ruiniforme.

A área de estudo enquadra-se no tipo Cwb, segundo a classificação climática de KOOPEN (1948). Caracteriza-se por apresentar invernos secos e não muito frios e verões chuvosos e quentes. As temperaturas médias anuais variam entre 14,8 e 23,7°C respectivamente no inverno e no verão, e a precipitação pluviométrica média anual é de cerca de 1200 mm/ano (INMET, 2002).

Os solos predominantes são rasos, arenosos, pobres em nutrientes e ricos em ferro e alumínio trocáveis. Apresentam também grande acúmulo de substancias húmicas em função das baixas taxas de decomposição da matéria orgânica (BENITES, 2002). Nas regiões de serra têm-se a predominância de solos litólicos. Nos topos dos morros desenvolvem solos lateríticos; nas zonas abaciadas e baixas vertentes os cripto-podzóis. Nos patamares e glacis aparecem os podzóis bem desenvolvidos.

Essas áreas encontram-se revestidas, predominantemente, por formas herbáceas arbustivas, os chamados complexos rupestres de altitude (BENITES, et al, 2003). Nos locais com solos mais profundos desenvolve-se uma vegetação que grada de arbustiva a arbórea, caracterizada pelos capões florestais. E, acompanhando a drenagem encontram-se matas galerias; capões de matas estão associados aos topos de morros e encostas (BENITES, et al, 2003). A rede de drenagem é formada por cursos d'água em vales abertos e rasos, de baixo gradiente, que correm sobre as superfícies sub-horizontais mais elevadas, formando zonas hidromórficas. O Rio Preto constitui-se num dos mais importantes canais de drenagem do Rio Araçuaí afluente da margem direita do Rio Jequitinhonha.

MATERIAIS E MÉTODOS

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... preciso e seus padrões são claramente discerníveis. A estereoscopia, em pares de fotografias foi, também, utilizada para delimitar os componentes do relevo, tipo de encostas, drenagem (para obtenção do padrão, aprofundamento e densidade), tipo de vale, terraços, várzeas e demais feições de deposição, feições de erosão recente, feições de dissolução dentre outros fatos. O intuito foi agrupar as feições geomorfológicas que tivessem origem comum para se chegar, posteriormente, após estudos de detalhe, ao tipo de modelado: de dissolução, de aplainamento, de acumulação ou de dissecação. Delimitadas as feições e referenciando-as à topografia pôde-se traçar, deste modo, as linhas preliminares dos níveis altimétricos dos relevos.

Posteriormente às interpretações das fotografias aéreas iniciaram-se as operações de campo. Diferentes rotas foram percorridas e seguiram os principais níveis delimitados no mapa. Nestes níveis foram checados a forma, continuidade ou não da superfície, os solos, altitude e rocha. Pontos duvidosos, da interpretação das fotografias, foram, também, checados.

Para a elaboração do mapa a área de estudos foi digitalizada no software AutoCad, versão 2008, tendo como base as cartas topográficas Carbonita e Rio Vermelho, na escala 1:50.000. Foram digitalizadas a rede de drenagem e as curvas de nível. Em seguida, o mapa foi importado para o software CorelDraw, versão 12, para delimitação dos níveis de superfície e arte final. A escala foi mantida.

Trabalhos de campo de nível de detalhe objetivaram o estudo das feições de pequenas dimensões sobre maciços rochosos e estudos dos solos. Com o objetivo de analisar a evolução dos sistemas de solos, foi implantada uma topossequência.

RESULTADOS E DISCUSSAO

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... que recobrem toda a área. Estudos de campo revelaram a presença de vales confinados colmatados por espessos pacotes de matéria orgânica e drenagem suspensa. Observou-se também a preObservou-sença de pequenos patamares e colinas com ombreiras suaves, capeados por solos latossolos arenosos amarelados e restos de lateritas ferruginosas. Tais morros, patamares e colinas parecem corresponder à segunda superfície de erosão proposta por SAADI & VALADÃO (1987) e SAADI (1995). Se a presença de couraça ferruginosa laterítica pode ser considerada como um marcador da superfície de erosão é necessário averiguar se a separação do nível acima de 1300 m e entre 1250 – 1300 m, proposta por esses autores, é correta.

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Figura 2 - Nível de superfície 1, caracterizado por áreas acima de 1.300m. Parque Estadual do Rio Preto

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... Os solos estudados em toposseqüência constituem um sistema de solo Acrissolo-Cripto-podzol. Suas características estão apresentadas na figura 4. Para o melhor entendimento dividiu-se a topossequência em três compartimentos: compartimento de montante, transição e jusante.

Figura 4 - Toposseqüência implantada no nível geomorfológico 2.

O compartimento de montante é representado pelas trincheiras 1 e 2 (TR1 e TR2) que caracterizam uma seqüência de horizontes com características de sistemas de solo laterítico. A alteração mostra níveis mais ferruginosos e mais claros (presença de óxidos de ferro e variegados amarelos claro e vermelhos), e nos níveis menos alterados linhas de material grosseiro. É possível perceber também algumas raias de matéria orgânica.

O compartimento de transição está representado pelas trincheiras 3, 4, 5 e 6 (TR3, TR4, TR5 e TR6). Nesse setor da topossequência observa-se o aparecimento de feições de eluviação e de hidromorfia. Embora a lixiviação se manifeste nos perfis da montante, a TR3 marca uma maior lixiviação dos horizontes superficiais. Observa-se que os horizontes em profundidade apresentam textura argilosa e coloração mais escura (brunos). Em direção da superfície os horizontes apresentam embranquecimento da cor, a textura adquire aspecto mais arenoso, e na superfície aparece crosta de “batance”. Observa-se também um aumento na proporção de materiais amarelo pálido em detrimento dos vermelhos que ficam restritos a raias, que aliados a presença de nodulação ou lito-relíquias ferruginosas possibilitam inferir adissolução dos óxidos de ferro.

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... e coloração mais escura. Em direção a superfície a textura fica mais arenosa com presença de areia lavada (Ae1 e Ae2) e cores mais esbranquiçadas, que podem estar relacionadas à flutuação do lençol freático que aparece a 1,35 m de profundidade. A TR5 demonstra processos de eluviaçao evidenciados pelo horizonte Ae. Apresentam textura arenosa com areia disjunta dos materiais finos e cores esbranquiçadas. Na TR6 as características de hidromorfia são mais evidentes. O lençol freático aparece a 1,30 m de profundidade.

O compartimento de jusante está representado pelas trincheiras 7, 8 e 9 (TR7, TR8 e TR9). Nessas trincheiras observa-se que os processos de podzolizaçao são mais evidentes. Os horizontes apresentam textura arenosa e colorações mais claras quando horizontes álbicos e coloração empretecida quando horizontes espódicos. Tais horizontes indicam processos de eluviaçao/iluviação visualizados pela sucessão em seqüência do Ae, A/E, E e Bh. Os horizontes E aparecem em forma de língua branca, ainda com raias de matéria orgânica, tem textura arenosa e é bastante poroso. Os Bh logo abaixo das línguas brancas apresentam coloração mais escura, textura arenosa e grande concentração de matéria orgânica. No interior dos Bh aparecem pequenas áreas de coloração mais claras possivelmente ligadas a pequenos canais de água.

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Figura 5 - Terceiro nível geomorfológico. Observa-se o terceiro nível no primeiro plano e, em um segundo plano o primeiro nível, acima de 1300m.

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Figura 6 - Nível de superfície 3, formado por superfícies abaixo de 750m

Figura 7 – No quarto nível geomorfológico encontra-se áreas de depósitos de encosta

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... Os níveis geomorfológicos delimitados englobam em parte as superfícies estudadas por SAADI & VALADÃO (1987) e SAADI (1995) na região de Gouveia e, em parte, as superfícies delimitadas por ABREU (1982) nas imediações de Diamantina. Estudos de maior detalhe são necessários para se chegar a uma normatização dessas superfícies erosivas, que, parecem, têm pequenas diferenciações em termos dos materiais que as capeiam. É preciso, também, assegurar quais as características dos níveis geomorfológicos podem ser usadas como marcadoras de eventos de formação das superfícies de erosão. A importância de estudar essas superfícies reside no fato de que são ferramentas para o entendimento dos processos de evolução da área e do desenvolvimento das coberturas de solos.

AGRADECIMENTOS

A Profa. Dra. Nádia Regina do Nascimento e a Profa. Dra. Rosely Pacheco Dias Ferreira pelos trabalhos de campo.

A FAPESP pelo auxílio financeiro.

BIBLIOGRAFIA

ABREU, A.A. de 1982. Análise geomorfológica: reflexão e aplicação (Uma contribuição ao conhecimento das formas de relevo do Planalto de Diamantina-MG). São Paulo-SP, USP, Tese de Livre Docência, 296 p.

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BENITES, V.M. Caracterização de solos e de substâncias húmicas em áreas de vegetação rupestre de altitude. Tese de doutorado, Viçosa, 2002.

BENITES, V.M; CAIAFA, A.N; MENDONÇA, E.S; SCHAEFER, C.E. Solos e vegetação nos complexos rupestres de altitude da Mantiqueira e do Espinhaço. Floresta e Ambiente. V. 10, n.1, p.76 - 85, jan./jul. 2003.

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DANIELS, R.B.; GAMBLE, E.F. ; CADY, J.G. The relation between geomorphology and soil morphology and genesis. Advances in Agronomy, v.23, p.51-87, 1971.

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Imagem

Figura 1 - Bacia do Rio Preto. Principais níveis geomorfológicos
Figura 3 - Nível de superfície 2, formado por superfícies entre 1100-1300m
Figura 4 - Toposseqüência implantada no nível geomorfológico 2.
Figura 5 - Terceiro nível geomorfológico. Observa-se o terceiro nível no primeiro plano e, em um  segundo plano o primeiro nível, acima de 1300m
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Referências

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