Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 14776-14789 sep. 2019 ISSN 2525-8761
Adsorção de corantes têxteis em serragem de MDF (Medium-Density
Fiberboard)
Adsorption of MDF (Medium-Density Fiberboard) sawdust
DOI:10.34117/bjdv5n9-078
Recebimento dos originais: 18/08/2019 Aceitação para publicação: 12/09/2019
Silvana Fernandes Montanher
Doutora em Química Analítica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) Instituição: Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR – Câmpus Apucarana)
Endereço: Rua Marcílio Dias, 635, Jardim Paraíso, Apucarana-PR, CEP: 86812-460 E-mail: silvanafm@utfpr.edu.br
Larissa Bello Neves de Farias
Tecnóloga em Processos Químicos pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR – Câmpus Apucarana)
Instituição: Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR – Câmpus Apucarana) Endereço: Rua Marcílio Dias, 635, Jardim Paraíso, Apucarana-PR, CEP: 86812-460
E-mail: laribello@hotmail.com Mariane Dalpasquale
Doutora em Química Inorgânica pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO - Paraná)
Instituição: Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR – Câmpus Apucarana) Endereço: Rua Marcílio Dias, 635, Jardim Paraíso, Apucarana-PR, CEP: 86812-460
E-mail: marianedalpasquale@gmail.com
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar a serragem de MDF como adsorvente alternativo dos corantes têxteis vermelho Quimacryl GRL e Nylosan azul N-BLN. Os estudos de adsorção foram realizados em coluna de leito fixo usando a serragem de MDF in natura e tratada com NaOH e HCl 0,10 mol L-1. Curvas de saturação foram obtidas percolando-se soluções 100 mg L-1 dos corantes pela coluna preenchida com serragem, alíquotas de 25 mL eram recolhidas e a concentração de corante determinada por espectrofotometria. A remoção do corante vermelho (catiônico) foi bastante eficiente, e melhorou significativamente com o tratamento alcalino da serragem. A remoção do corante azul (aniônico) não foi tão eficiente mesmo com o tratamento ácido. O efeito da força iônica foi avaliado, mostrando que a remoção do corante azul é prejudicada pela presença de íons dissolvidos. Os melhores valores de pH para a adsorção foram de 1 para o corante azul e 12 para o vermelho. A dessorção dos corantes foi possível usando HCl ou NaOH 0,10 mol L-1.
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 14776-14789 sep. 2019 ISSN 2525-8761 ABSTRACT
The objective of this work was evaluate MDF sawdust as an alternative adsorbent for textile dyes red Quimacryl GRL and Nylosan blue N-BLN. Adsorption studies were performed in a fixed bed column using MDF sawdust in natura and treated with 0.10 mol L-1 NaOH and HCl. Saturation curves were obtained percolating 100 mg L-1 solutions of dyes in the sawdust filled
column, 25 mL aliquots were collected and the remaining dye concentration determined by spectrophotometry. Removal of red dye (cationic) was quite efficient, and improved significantly with alkali sawdust treatment. Removal of blue dye (anionic) was not as effective even with acid treatment. The effect of the ionic strength was evaluated, showing that removal of blue dye is impaired by the presence of dissolved ions. The best pH values for the adsorption were 1 for blue dye and 12 for red dye. Desorption of dyes was possible using 0.10 mol L-1
HCl or NaOH.
Key-words: Industrial waste, Fixed bed column; Adsorption.
1 INTRODUÇÃO
O tratamento de efluentes industriais é um setor em amplo desenvolvimento no mundo todo, devido principalmente a fatores ambientais, mas também, mais recentemente, ao possível reaproveitamento de água e matéria prima (Rafatullah et al., 2010).
A indústria têxtil é um setor em constante expansão e grande consumidora de água e produtos químicos, portanto gera diariamente grandes quantidades de efluentes líquidos (Monteiro et al., 2017; Subramani e Thinakaran, 2017).
Os corantes têxteis são em sua grande maioria, sintéticos e possuem estrutura química complexa, o que torna a degradação dessas espécies químicas desafiadora, uma vez que são, em sua maior parte, não-biodegradáveis e estáveis a luz e calor (Rafatullah et al., 2010; Monteiro et al., 2017).
A adsorção é uma técnica muito usada no tratamento de resíduos líquidos, sendo o carvão ativo o adsorvente mais empregado devido a sua alta eficiência, no entanto, possui custo operacional elevado e outros inconvenientes como dificuldades de regeneração e separação do adsorvente (Subramani e Thinakaran, 2017). Diante disto, pesquisas visando à produção de materiais adsorventes alternativos ao carvão ativo têm sido intensificadas nas últimas décadas, principalmente envolvendo materiais de baixo custo, isto é, materiais que exigem pouco processamento, abundantes na natureza ou ainda subprodutos ou rejeitos de atividades industriais ou agrícolas. Materiais como casca de coco, casca de arroz, cascas de banana e laranja, entre outros já foram utilizados com boa eficiência na adsorção de corantes presentes em soluções aquosas (Weng, Lin e Tzeng, 2009; Gupta e Suhas, 2009).
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 14776-14789 sep. 2019 ISSN 2525-8761 A adsorção é um método de transferência de massa, onde se explora a capacidade de um material sólido em adsorver uma determinada substância contida em uma solução que pode ser tanto gasosa ou líquida, esse processo permite a separação de diversos componentes em uma solução. O material adsorvido é chamado de adsorvato, e o material sólido que efetuou a adsorção é o adsorvente. Como as substâncias adsorvidas concentram-se na superfície externa dos poros do adsorvente, quanto maior fora superfície de contato, maior será a eficiência da adsorção, portanto, os adsorventes geralmente são sólidos finamente pulverizados que apresentam características de grande porosidade em sua estrutura (Rafatullah et al., 2010).
O MDF (Medium-Density Fiberboard), é produzido com madeira de reflorestamento, principalmente pinheiros e eucaliptos e com 10% de uma resina ureia-formaldeído que confere resistência ao material. Sua principal utilização é na indústria moveleira, muito forte no sul do país. Grandes quantidades de resíduo de MDF são gerados anualmente, constituindo em um inconveniente para o setor. Esse resíduo normalmente é enviado para combustão ou aterros com custo para o produtor (Ferreira et al., 2015; Gomes, Azaruja e Mourão, 2016).
O objetivo deste trabalho foi estudar a adsorção de dois corantes têxteis, de propriedades químicas distintas (catiônico e aniônico), em serragem de MDF, resíduo abundante e de fácil obtenção, usando sistema de colunas de leito fixo.
2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. CORANTES
Os corantes têxteis comerciais vermelho Quimacryl – GRL e Nylosan azul N-BLN foram usados sem nenhuma purificação prévia. A quantificação dos corantes foi realizada em espectrofotômetro UV-VIS da Perkin Elmer STD usando cubetas de vidro de 1 cm de caminho óptico e método da curva de calibração. Os valores de absorvância foram obtidos em 622 nm e 531 nm para os corantes azul e vermelho, respectivamente.
2.2. OBTENÇÃO E TRATAMENTO DA SERRAGEM DE MDF
A serragem de MDF foi coletada em uma indústria moveleira na região industrial de Arapongas – PR e foi peneirada em peneira de 450 μm para obtenção de uma granulometria mais uniforme.
A serragem foi submetida a dois tipos de tratamento químico: tratamento ácido, com HCl 0,10 mol L-1 e tratamento básico, com NaOH 0,10 mol L-1. Em béqueres de 250 mL foram
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 14776-14789 sep. 2019 ISSN 2525-8761 à temperatura ambiente em agitador magnético. Em seguida as serragens foram filtradas em papel filtro qualitativo, lavadas com água destilada até pH neutro e secas em estufa à 80°C durante 4 horas.
2.3. ESTUDOS DE ADSORÇÃO
Os estudos de adsorção foram conduzidos em sistema de coluna de leito fixo usando coluna cromatográfica (1,5 cm de diâmetro interno e 20 cm de altura) com placa porosa. Para o preparo da coluna as amostras de serragem foram hidratadas com água destilada por 30 min, em seguida a serragem hidratada era percolada até completa acomodação do leito, posteriormente pérolas de vidro eram adicionadas para evitar deslocamentos de massa.
Após a montagem da coluna, soluções aquosas dos corantes têxteis foram percoladas com concentração inicial de 100 mg L-1, o efluente da coluna era coletado em
alíquotas de 25 mL usando proveta. A concentração dos corantes nas alíquotas coletadas era determinada em espectrofotômetro UV-VIS (Perkin Elmer SDT).
2.3.1. Efeito da vazão
Para esse estudo foram utilizadas 0,50 g de serragem in natura. Duas colunas foram empregadas com placas de diferentes graus de porosidade de modo a obter duas vazões. Alíquotas de 25 mL das soluções dos corantes azul e vermelho foram percolados e o tempo para a percolação foi medido. Os estudos foram realizados em duplicata.
2.3.2. Efeito da força iônica
Foram utilizadas 0,50 g de serragem in natura e submetida ao tratamento ácido e básico. Foram preparadas soluções dos corantes (100 mg L-1) usando como eletrólito o NaCl em três concentrações: 0,10; 1,0 e 2,0 mol L-1. Percolou-se 25 mL destas soluções pela coluna
de adsorção. Os estudos foram realizados em duplicata.
2.3.3. Efeito do pH
Para avaliar o efeito do pH da solução de corantes foram utilizadas 0,70 g de serragem in natura e submetida ao tratamento ácido e básico. As soluções dos corantes (100 mg L-1) foram preparadas em três valores de pH, pH natural da solução aquosa de cada corante,
pH 1 e pH 12 ajustados com HCl e NaOH 0,1 mol L-1, respectivamente. Percolou-se 25 mL
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 14776-14789 sep. 2019 ISSN 2525-8761 2.3.4. Obtenção das curvas de saturação e dessorção
Para a obtenção das curvas de saturação as soluções dos corantes foram percoladas recolhendo-se alíquotas de 25 mL até a total saturação do adsorvente. Uma curva de volume percolado (mL) por Cv/Ci foi traçada. Onde Cv é a concentração do corante na
alíquota percolada e Ci a concentração inicial do corante (100 mg L-1). A massa utilizada de
serragem in natura e tratada foi de 2,5 g.
Após a saturação, as colunas foram percoladas com solução de HCl 0,10 mol L
-1, para a dessorção do corante vermelho e com solução de NaOH 0,10 mol L-1 para a dessorção
do corante azul. Foram recolhidas alíquotas de 25 mL dos corantes extraídos. As curvas de dessorção foram obtidas plotando-se o volume percolado da solução extratora pela concentração de corante extraído.
2.3.5. Estudo da separação dos corantes
Uma solução mista dos corantes azul e vermelho foi preparada de tal forma que a concentração dos dois fosse a mesma (100 mg L-1). Após, a mistura foi percolada por uma
coluna preenchida com 2,5 g de serragem de MDF tratada com NaOH para verificar a possibilidade de separação dos corantes e a seletividade do adsorvente.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A vazão é um parâmetro muito importante na adsorção em sistema de colunas de leito fixo. Vazões muito lentas favorecem a adsorção uma vez que o tempo de contato entre o adsorvente e o adsorvato é grande, no entanto, o processo pode ser inviável devido a lentidão. De modo contrário, vazões muito rápidas não oferecem tempo suficiente para que haja a adsorção, tornado o processo ineficiente.
A Tabela 1 apresenta a porcentagem de corante removido em função da vazão da coluna. Esses valores foram obtidos usando a Equação 1. Onde Ci é a concentração inicial
dos corantes e Cf é a concentração final (após a adsorção).
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Tabela 1- Efeito da vazão na eficiência de remoção dos corantes vermelho Quimacryl GLR e Nylosan azul N-BLN por serragem de MDF in natura
Corante
% de remoção do corante
Vazão = 6,5 mL min-1 Vazão = 2,0 mL min-1
Vermelho 95,2 100
Azul 72,3 88,2
Fonte: Autoria própria (2018).
Observa-se na Tabela 1 que a serragem de MDF in natura foi mais eficiente na remoção do corante vermelho (catiônico) para as duas vazões. O efeito da vazão não foi tão marcante para esse corante, mostrando que a interação entre o adsorvente e o corante é forte.
Para a remoção do corante azul (aniônico) a diferença é mais pronunciada, evidenciando uma interação mais fraca ou cinética mais lenta entre o adsorvente e o corante.
A serragem é composta basicamente de celulose, lignina e hemicelulose, polímeros naturais com presença marcante de grupos OH. Esses grupos OH possuem afinidade por cátions, como o corante vermelho (Batzias e Sidiras, 2007).
Pensando na protonação e desprotonação dos grupos funcionais da serragem, foram realizados dois tratamentos, um ácido (HCl), buscando deixar a superfície do adsorvente positiva, aumentando assim sua afinidade por espécies aniônicas, e um tratamento básico com NaOH, buscando deixar a superfície da serragem negativa, aumentando assim sua afinidade por espécies catiônicas.
É comum que sais sejam adicionados aos banhos de tingimento para melhorar a fixação dos corantes nas fibras têxteis (SALEM, 2010), por esse motivo o efeito da força iônica foi avaliado.
A Tabela 2 apresenta os resultados referentes ao tratamento da serragem e o efeito da variação da força iônica na porcentagem de corantes removidos.
Tabela 2- Efeito da força iônica na eficiência de remoção dos corante vermelho Quimacryl GLR e Nylosan azul N-BLN por serragem de MDF Corante Serragem de MDF % de remoção do corante NaCl 0,10 mol L-1 NaCl 1,0 mol L-1 NaCl 2,0 mol L-1 Vermelho in natura 88,6 94,0 95,6 tratado com HCl 89,4 97,0 96,8
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 14776-14789 sep. 2019 ISSN 2525-8761 Azul
in natura 89,2 92,0 91,6
tratado com HCl 100 72,3 87,3
tratado com NaOH 88,1 66,8 79,1
Fonte: Autoria própria (2018).
O tratamento da serragem com NaOH aumentou a eficiência de remoção do corante vermelho (catiônico) e mesmo o tratamento ácido não diminui a eficiência como era esperado. Notou-se uma melhora na remoção do corante vermelho quando a força iônica aumentou, mostrando que o processo de adsorção do corante vermelho não será prejudicado pela presença de aditivos iônicos nos efluentes têxteis.
A adsorção do corante azul se mostrou mais sensível a força iônica, principalmente para as serragens tratadas. Diminuindo a eficiência quando a força iônica aumentava. Para a serragem in natura praticamente não houve diferença.
Para força iônica baixa o tratamento com HCl melhorou a adsorção do corante azul, pois a superfície positiva da serragem atrai melhor um corante aniônico.
O pH é outro parâmetro que influencia bastante o processo de adsorção, ácidos e bases podem ser adicionados aos banhos de tingimento, logo os efluentes têxteis gerados podem apresentar diferentes valores de pH. A Tabela 3 apresentam o efeito do pH da solução na eficiência da remoção dos corantes vermelho e azul.
Tabela 3- Efeito do pH na eficiência de remoção do corante vermelho Quimacryl GLR e Nylosan Azul N-BLN por serragem de MDF
Corante Serragem de MDF % de remoção do corante
pH=1 pH= 5,7* pH = 12
Vermelho
in natura 64,1 89,3 97,8
tratado com HCl 86,1 99,8 98,3
tratado com NaOH 98,1 99,8 99,0
pH=1 pH= 8,4* pH = 12
Azul
in natura 97,0 61,9 0,0
tratado com HCl 97,5 65,5 0,0
tratado com NaOH 97,0 22,2 0,0
*pH da solução aquosa 100 mg L-1 do corante
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 14776-14789 sep. 2019 ISSN 2525-8761 O pH da solução aquosa do corante vermelho é ácido (5,7) devido a hidrólise do grupo amino protonado:
R – NH3+(aq) + H2O(l) ⇄ R – NH2(aq) + H3O+(aq)
A serragem tratada com NaOH é muito eficiente na remoção do corante vermelho, mesmo em valores extremos de pH. Para as serragens in natura e tratada com HCl os piores resultados foram obtidos em pH 1, pois tanto o corante quanto a serragem estão protonados.
O pH da solução aquosa do corante azul é básico (8,4) devido a hidrólise do grupo sulfônico desprotonado:
R – SO3-(aq) + H2O(l) ⇄ R – SO3H(aq) + OH-(aq)
Foi observado que o pH 1 favoreceu a adsorção do corante azul, independentemente do tipo de serragem utilizado, isso era esperado já que o corante azul é ácido/aniônico e é melhor fixado em banhos de tingimento ácido. Nenhum corante foi removido em pH 12, e no 8,4 a eficiência de adsorção é muito baixa com a serragem tratada com NaOH.
Podemos concluir desse experimento que para o corante azul o pH da solução é um fator mais importante do que o tipo de tratamento da serragem.
Depois dos principais parâmetros avaliados foram obtidas as curvas de saturação, muito importantes para avaliar a eficiência de um adsorvente usando sistema de coluna de leito fixo.
A Figura 1 mostra as curvas de saturação para a adsorção do corante vermelho nos três tipos de serragem. Quando Cv/Ci for igual a 1,0 significa que houve saturação do
adsorvente, ou seja, a concentração de entrada (Ci) será igual a concentração de saída (Cv). O
ponto em que Cv/Ci começa a ser diferente de zero é chamado de ponto de ruptura e determina
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Figura 1- Curvas de saturação para a adsorção do corante vermelho Quimacryl GRL (catiônico) em serragem de MDF in natura e submetida a tratamentos ácido e básico
Fonte: Autoria própria (2018).
A Figura 1 mostra que a adsorção do corante vermelho na serragem in natura e tratada com HCl segue o mesmo comportamento, com pontos de ruptura próximos de 380 mL e ponto de saturação em 700mL. Podemos observar de maneira clara a superioridade da adsorção do corante vermelho em serragem tratada com NaOH, onde o ponto de ruptura acontece somente em 850 mL e a saturação em 1100 mL.
Como observado anteriormente o pH é mais importante para a adsorção do corante azul do que o tratamento da serragem, portanto foram obtidas curvas de saturação para o corante azul em pH 1 e no pH natural da solução aquosa (Figura 2).
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0 200 400 600 800 1000 Cv /C i volume (mL) in natura NaOH HCl
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Figura 2- Curvas de saturação para a adsorção do corante Nysolan Azul N-BLN (aniônico) em serragem de MDF
in natura
Fonte: Autoria própria (2018).
A ruptura e a saturação do corante azul acontecem bem antes que para o corante vermelho mostrando uma interação fraca do corante com o adsorvente.
A adsorção em pH 1 é bem mais eficiente pois os pontos de ruptura e saturação são obtidos bem depois do que em pH 8,4. Portanto um efluente com esse corante só será tratado com eficiência pela serragem de MDF se o pH for fortemente ácido.
A capacidade de adsorção de um adsorvente presente em coluna, q (mg g-¹), expressa a
quantidade máxima de corante que pode ser adsorvido por grama de adsorvente e pode ser obtida pela Equação 2, na qual Ci é a concentração inicial do corante (mg L-¹), Cv é a
concentração do corante na saída da coluna (mg L-¹), Q é vazão (L min-1), t é o tempo (min) e
m é a massa de adsorvente (g) (Rafatullah et al., 2010).
dt Ci Cv m Q C q t i ) 1 ( . 0
(2)Para a determinação de q utilizou-se o software Origin 8. Um gráfico de tempo (min) versus (1 – Cv/Ci) foi plotado e a área sob o gráfico determinada. Essa área foi então multiplicada pelo
fator Ci Q/m.
A Tabela 4 apresenta os valores de q obtidos de todas as curvas de saturação (figuras 1 e 2).
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 0 100 200 300 400 500 600 Cv /C i Volume (mL) pH = 1,0 pH = 8,4
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Tabela 4- Capacidade de adsorção dos corantes vermelho Quimacryl GRL e Nylosan azul N-BLN em serragem de MDF
Corante Serragem de MDF pH Capacidade máxima de adsorção, q, (mg g-1) Vermelho in natura 5,7 19,9 tratado com HCl 20,1
tratado com NaOH 37,1
Azul in natura 8,4 6,3
1,0 10,2
Fonte: Autoria Própria (2018).
A capacidade máxima de adsorção é útil para redimensionar o sistema para escala industrial. Uma vez que temos a proporção de corante e adsorvente. Os valores obtidos refletem o observado nas curvas de saturação.
Uma grande questão levantada sobre o processo de adsorção é: O que fazer com o adsorvente saturado?
Pensando nisso realizou-se os estudos de dessorção, na tentativa de recuperar os corantes e possivelmente reutilizar o adsorvente.
As colunas saturadas com corante vermelho foram eluidas com solução de HCl 0,10 mol L-1, pois como o corante vermelho é catiônico haveria uma troca iônica com os íons H3O+.
A Figura 3 mostra as curvas de dessorção para a serragem in natura e tratada com NaOH saturadas de corante vermelho.
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Figura 3- Curvas de dessorção do corante vermelho Quimacryl GRL (catiônico) retido em serragem de MDF in
natura e tratada com NaOH.
Fonte: Autoria Própria (2018).
A dessorção foi possível nos dois casos, sendo a maior parte do corante recuperado com 100 mL de ácido, para a serragem in natura e com 200 mL no caso da serragem tratada com NaOH. Portanto, é possível a recuperação dos corantes por dessorção.
A Figura 4 mostra a dessorção do corante azul, que foi realizada com NaOH pois o corante azul é aniônico, logo haveria a troca iônica com os íons OH-.
Figura 4- Curva de dessorção do corante Nylosan azul N-BLN (pH =8,4) retido em serragem de MDF in natura
Fonte: Autoria Própria (2018). 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 0 50 100 150 200 250 300 350 400 C o n ce n tra çã o ( m g L -1) Volume de HCl 0,10 mol L-1 (mL) in natura NaOH 0 20 40 60 80 100 120 140 160 0 50 100 150 200 250 300 C o n ce n tra çã o (m g L -1)
Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 14776-14789 sep. 2019 ISSN 2525-8761 Todo corante azul foi removido da serragem in natura mostrando que a dessorção é totalmente viável para esse corante.
Um teste qualitativo foi realizado pensando em outra utilização para a serragem de MDF, a de separar corantes de uma solução, como uma coluna cromatográfica. Para isso uma mistura dos dois corantes foi preparada obtendo-se uma coloração violeta. Quando essa mistura violeta foi percolada por uma coluna de serragem in natura, observou-se que o corante azul era eluido primeiro sendo possível a separação dos dois corantes, isso foi possível porque a afinidade da serragem pelo corante vermelho é bem maior do que para o corante azul no pH original das soluções aquosas.
4. CONCLUSÃO
Concluiu-se que o corante vermelho (catiônico) tem maior interação com a serragem de MDF que o corante azul (aniônico). A serragem tratada com NaOH apresentou um aumento de quase 50% na capacidade máxima de adsorção, se comparada com a serragem in natura, e diferentemente do esperado, o tratamento ácido não diminuiu a eficiência da adsorção do corante vermelho.
A adsorção do corante azul sofreu maior influência do pH da solução do que do tratamento da serragem.
A serragem de MDF é um adsorvente em potencial para efluentes têxteis contendo corantes aniônicos e catiônicos desde que as condições de pH sejam apropriadas.
AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem a empresa M. A. Sorprezo & Cia Ltda – Me de Arapongas –PR pela doação da serragem de MDF e a Professora Valquíria Aparecida dos Santos Ribeiro pela doação dos corantes.
REFERÊNCIAS
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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 14776-14789 sep. 2019 ISSN 2525-8761 FERREIRA, S.D.; ALTAFINI, C.R.; PERONDI, D.; GODINHO, M. Pyrolysis of Medium Density Fiberboard (MDF) wastes in a screw reactor. Energy Conversion and Management, v. 92, 2015.
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WENG, C.H.; LIN, Y.T; TZENG, T.W. Removal of methylene blue from aqueous solution by adsorption onto pineapple leaf powder. Journal of Hazardous Materials. v. 170, 2009.