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A Transparência dos Municípios Portugueses

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Dissertação no âmbito do Mestrado em Finanças e Fiscalidade

A transparência dos municípios portugueses

Por

Maria de Fátima Carvalho Rodrigues (201801293)

Orientada por:

Professor Doutor Elísio Fernando Moreira Brandão

2019/2020

(2)

2

Agradecimentos

Gostaria de agradecer às várias pessoas que, ao longo da elaboração da presente

dissertação, contribuíram para que esta tivesse o resultado pretendido.

Ao Professor Doutor Elísio Fernando Moreira Brandão, orientador da dissertação,

agradeço pela sua orientação, motivação, ensinamentos, apoio, compreensão e

disponibilidade demonstrada durante todo o processo.

Ao Professor Doutor Samuel Cruz Alves Pereira agradeço pela sua orientação,

recomendações, disponibilidade e pertinentes comentários.

A todo o corpo docente e colegas de mestrado que, de diferentes formas, fizeram

parte deste processo.

À minha família que é o meu pilar, em especial aos meus pais e à minha irmã, aos

quais agradeço por tudo na vida, desde os ensinamentos à inspiração. Sigo e sempre

seguirei os seus valores.

Por último, mas não menos importante, agradeço ao meu namorado e aos meus

amigos por estarem sempre a acompanhar-me nos maus e nos bons momentos.

(3)

3

Resumo

A sociedade está cada vez mais interessada na gestão do setor público, resultando

daí a necessidade de disponibilização de informação clara e fidedigna aos cidadãos.

Tendo em consideração a caraterística do município como órgão efetivo da autarquia, este

constitui a administração indireta de base territorial. Neste âmbito, o presente estudo

pretende analisar o nível de transparência dos municípios portugueses e os fatores que o

determinam.

Para medir a transparência será utilizada a percentagem de contratação pública

por ajuste direto, calculada tanto em preço contratual como em número de contratos. A

amostra analisada é constituída pelos 308 municípios portugueses durante os anos de

2009 a 2017. Numa primeira fase, é realizada uma Análise Unidimensional, na qual há

uma hierarquização dos municípios de acordo com a sua transparência, para os anos de

2009 a 2017 e para a média destes 9 anos.

Posteriormente, são realizadas duas estimações que pretendem verificar o impacto

de vários fatores na percentagem de contratação pública sob ajuste direto, medida tanto

em preço contratual (variável dependente utilizada na estimação 1) como em número de

contratos (variável dependente utilizada na estimação 2).

Numa análise adicional, foi realizada, à semelhança da Análise Unidimensional

dos municípios, uma análise às universidades públicas mais e menos transparentes,

utilizando, para tal, o nível da contratação por ajuste direto, calculado através do preço

contratual e do número de contratos.

Foi verificado, como conclusão, que municípios com maior participação eleitoral

apresentam maior percentagem de formação de contratos públicos sob a forma de ajuste

direto, indicando menor transparência. Os municípios com elevada percentagem de

endividamento apresentam maior formação de contratação pública por ajuste direto,

sugerindo menor transparência. Além disso, verificou-se que as variáveis relacionadas

com a média da população e a taxa de desemprego são estatisticamente significativas e

indicam que municípios com população acima da média e municípios com elevadas taxas

de desemprego apresentam menor formação de contratos públicos sob a forma de ajuste

direto, indicando maior transparência.

Palavras-chave: Transparência, Municípios, Ajuste direto, Contratação Pública,

Assimetria de informação

(4)

4

Abstract

Society is increasingly interested in the management of the public sector, being

therefrom needed in providing clear and reliable information to citizens. Taking into

account the characteristic of the municipality as an effective organ of the autarchy, this

constitutes the indirect administration of territorial base. In this context, the present study

aims to analyze the level of transparency in Portuguese municipalities and the factors

that determine it.

To measure transparency will be used the percentage of public contracts by direct

agreement, calculated in the contractual price and in the number of contracts. The sample

analyzed consists in 308 portuguese municipalities during the years of 2009 to 2017. In

a first phase, is carried out a Unidimensional Analysis, in which there is a hierarchy of

the municipalities according to their transparency, for the years of 2009 to 2017.

Subsequently, two estimates are made that aim to verify the impact of various

factors on the percentage of public contracts under direct adjustment, measured both in

contractual price (dependent variable used in estimation 1) and in number of contracts

(dependent variable used in estimation 2).

In an additional analysis, similar to the One-Dimensional Analysis of the

municipalities, was made an analysis of the more and less transparent Public

Universities, using, for this purpose, the level of direct contracting, calculated through

the contract price and the number of contracts.

As a conclusion, it was found that municipalities with greater electoral

participation have a higher percentage of public contracts in the form of direct

agreements, indicating less transparency. Municipalities with a high percentage of

indebtedness have a higher formation of public contracts by direct agreement, suggesting

less transparency. In addition, it was found that the variables related to the population

average and the unemployment rate are statistically significant and indicate that

municipalities with an above average population and municipalities with high

unemployment rates present less formation of public contracts in the form of direct

adjustment, indicating greater transparency.

Keyword: Transparency, Municipalities, Direct agreement, Public procurement,

Information asymmetry

(5)

5

Índice

Agradecimentos ... 2

Resumo ... 3

Abstract ... 4

Índice ... 5

Índice de tabelas ... 6

Índice de figuras ... 7

Siglas e abreviaturas ... 7

Introdução ... 8

Revisão de literatura ... 10

A- A Administração Pública ... 10

B- Setor Público em Portugal ... 14

C- Autarquias Locais e Municípios ... 15

D- Assembleia Municipal e Câmara Municipal ... 16

E- Definição de Transparência ... 18

F- Contratação Pública ... 20

Metodologia ... 22

1- Objetivos ... 22

2- Variáveis ... 23

A- Variável dependente ... 23

B- Variáveis independentes ... 24

3- Análise descritiva da Amostra ... 33

4- População e Dados ... 36

5- Tratamento Estatístico dos Dados e Modelos ... 36

6- Análise Unidimensional ... 37

Resultados ... 41

Análise adicional ... 48

As Universidades Públicas Portuguesas ... 48

Conclusão ... 53

Bibliografia ... 55

Anexo ... 61

Hierarquização dos Municípios Portugueses pelo seu grau de transparência... 61

Hierarquização das Universidades Públicas Portuguesas pelo seu grau de transparência

... 150

(6)

6

Índice de tabelas

Tabela 1 - Variáveis, fórmula de cálculo, estudo baseado e resultado esperado ... 32

Tabela 2 - Estatísticas Descritivas ... 33

Tabela 3 - Tabela das correlações... 34

Tabela 4 - Os 5 municípios mais e menos transparentes na média dos 9 anos

(considerando preço contratual e número de contratos) ... 40

Tabela 5 - Estimação 1 (modelo 1) ... 42

Tabela 6 - Estimação 2 (modelo 2) ... 44

Tabela 7 - Variáveis, resultado esperado e resultado obtido ... 46

Tabela 8 - Hierarquização dos municípios pelo seu grau de transparência para o ano de

2009 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 69

Tabela 9 - Hierarquização dos municípios pelo seu grau de transparência para o ano de

2010 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 78

Tabela 10 - Hierarquização dos municípios pelo seu grau de transparência para o ano de

2011 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 87

Tabela 11 - Hierarquização dos municípios pelo seu grau de transparência para o ano de

2012 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 96

Tabela 12 - Hierarquização dos municípios pelo seu grau de transparência para o ano de

2013 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 105

Tabela 13 - Hierarquização dos municípios pelo seu grau de transparência para o ano de

2014 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 114

Tabela 14 - Hierarquização dos municípios pelo seu grau de transparência para o ano de

2015 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 123

Tabela 15 - Hierarquização dos municípios pelo seu grau de transparência para o ano de

2016 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 131

Tabela 16 - Hierarquização dos municípios pelo seu grau de transparência para o ano de

2017 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 140

Tabela 17- Hierarquização dos municípios pelo seu grau de transparência usando a

média dos 9 anos (considerando preço contratual e número de contratos) ... 149

Tabela 18 - Hierarquização das universidades pelo seu grau de transparência para o ano

de 2009 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 150

Tabela 19 - Hierarquização das universidades pelo seu grau de transparência para o ano

de 2010 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 151

Tabela 20 - Hierarquização das universidades pelo seu grau de transparência para o ano

de 2011 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 152

Tabela 21 - Hierarquização das universidades pelo seu grau de transparência para o ano

de 2012 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 153

Tabela 22 - Hierarquização das universidades pelo seu grau de transparência para o ano

de 2013 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 154

Tabela 23 - Hierarquização das universidades pelo seu grau de transparência para o ano

de 2014 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 155

Tabela 24 - Hierarquização das universidades pelo seu grau de transparência para o ano

de 2015 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 156

(7)

7

Tabela 25 - Hierarquização das universidades pelo seu grau de transparência para o ano

de 2016 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 157

Tabela 26 - Hierarquização das universidades pelo seu grau de transparência para o ano

de 2017 (considerando preço contratual e número de contratos) ... 158

Tabela 27 - Hierarquização das universidades pelo seu grau de transparência usando a

média dos 9 anos (considerando preço contratual e número de contratos) ... 159

Índice de equações

Equação 1 - Fórmula de cálculo da variável dependente do modelo 1 ... 23

Equação 2 - Fórmula de cálculo da variável dependente do modelo 2 ... 23

Equação 3 - Modelo que utiliza como variável dependente a percentagem de contratação

pública sob a forma de ajuste direto considerando o preço contratual ... 37

Equação 4 - Modelo que utiliza como variável dependente a percentagem de contratação

pública sob a forma de ajuste direto considerando o número de contratos ... 37

Índice de figuras

Figura 1 - Evolução da contratação pública sob ajuste direto ao longo do tempo medida pelo

preço contratual ... 51

Figura 2 - Evolução da contratação pública sob ajuste direto ao longo do tempo medida pelo

número de contratos ... 52

Siglas e abreviaturas

CCP – Código dos Contratos Públicos

IBP - Internacional Budget Partnership

INE - Instituto Nacional de Estatística

FMI – Fundo Monetário Internacional

NUTS – Nomenclaturas de Unidades Territoriais para fins Estatísticos

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

OLS - Ordinary Least Squares

SEE - Setor Empresarial do Estado

SPA - Setor Público Administrativo

(8)

8

Introdução

A presente dissertação de mestrado aborda alguns conceitos de transparência e a

sua importância, principalmente na administração pública.

O município é considerado o órgão efetivo da autarquia, que representa a

Administração Local. Este constitui a administração indireta de base territorial que se

divide em Freguesias, Municípios e Regiões Administrativas. A transparência é uma

exigência crescente, devido ao interesse da sociedade na gestão do setor público. Os

estudos relacionados com este tema têm vindo a aumentar, porém são ainda escassos, o

que constitui uma dificuldade, mas simultaneamente uma motivação para aumentar a

investigação nesta área.

Assim, surge a necessidade de analisar o nível de transparência dos municípios

portugueses, tendo em conta a relação deste ao setor público. Para tal, a investigação tem

como foco principal a análise da transparência dos 308 municípios em Portugal,

estudando o processo de contratação pública e a sua ligação com a transparência.

Segundo Tavares e Rodrigues (2012) a transparência na gestão pública, além de

ser uma obrigação para gestores e políticos, contribui para uma maior participação do

cidadão no exercício de funções públicas. Para além de que, a transparência é um

indicador de qualidade de gestão, o que permite impulsionar o crescimento económico e

o bem-estar dos cidadãos (Knack & Keefer (1995);

Williamson (2000)). A transparência

fiscal é essencial na superação da assimetria de informação entre políticos e cidadãos

(Esteller-Moré & Otero, 2012).

O Código dos Contratos Públicos (CCP) define a transparência como um dos seus

princípios, sendo referido no Código da Contratação Pública: “à contratação pública são

especialmente aplicáveis os princípios da transparência, da igualdade e da

concorrência”. As relações contratuais administrativas são regidas pelo Código dos

Contratos Públicos ou por lei especial (Artigo 202º Decreto-Lei n.

o

4/2015 do Diário da

República n.

o

4/2015) Assim, associado ao conceito de transparência surge a importância

de analisar o conceito de contratação pública, uma vez que a contratação pública é

definida como uma atividade contratual da Administração Pública.

Para tal e tendo em consideração o que foi referido anteriormente, a presente

investigação pretende contribuir para a literatura existente ao analisar a transparência dos

(9)

9

municípios portugueses através da percentagem de procedimento de formação de

contratos públicos, sob a forma de ajuste direto.

De modo a analisar o nível de transparência dos municípios portugueses, serão

estudados fatores socioeconómicos, políticos e financeiros dos 308 municípios

portugueses entre os anos de 2009 e 2017 (incluídos). Será estimado um modelo pelo

método OLS de forma a medir o nível da contratação por ajuste direto e permitir estudar

quais os fatores que influenciam essa variável. Será ainda realizada uma análise

unidimensional de modo a entender as diferenças da utilização de contratação pública por

ajuste direto entre municípios, hierarquizando os municípios que apresentam menor

percentagem de formação de contratos públicos sob forma de ajuste direto para os de

maior percentagem.

O estudo será estendido, numa análise adicional, às universidades públicas

portuguesas, permitindo hierarquizar as universidades, ao longo dos anos, pela sua

percentagem de formação de contratos públicos por ajuste direto, tanto em valor como

em número de contratos.

O presente trabalho é composto por uma parte dedicada à revisão de literatura,

nomeadamente à análise dos conceitos relacionados com a Administração Pública, o

Setor Público, as Autarquias Locais, os Municípios, a Assembleia Municipal, a Câmara

Municipal, o conceito de Transparência e a Contratação Pública. A segunda parte é a

Metodologia, em que são definidos os objetivos, as variáveis, a população e dados, o

tratamento estatístico dos dados e modelos e a análise unidimensional. Além disso, é

apresentada uma análise extra que estuda as universidades públicas. Por fim, são

apresentados os resultados e as conclusões obtidas com o presente estudo.

(10)

10

Revisão de literatura

A- A Administração Pública

A Administração Pública pretende a prossecução do interesse público, no respeito

pelos direitos e interesses legalmente protegidos pelos cidadãos (Artigo 266º do Diário

da República n.

o

86/1976).

Segundo Fonseca (2012) a Administração Pública é dividida no sentido orgânico

e no material. O sentido orgânico refere-se a um sistema de órgãos, serviços, agentes do

Estado e pessoas coletivas públicas que garantem os seus interesses desde a segurança, à

cultura e ao bem-estar. Já o sentido material refere-se à atividade dos serviços públicos e

agentes administrativos, estabelecida para o interesse da coletividade, tendo como

objetivo satisfazer de forma regular e contínua, as necessidades coletivas, passando pela

segurança, cultura e o bem socioeconómico.

De acordo com a sua relação com o governo, a Administração Pública pode ser

dividida em 3 grandes grupos: A Administração Direta do Estado, a Administração

Indireta do Estado e a Administração Autónoma. Segundo a Direção-geral da

Administração e do Emprego Público, as entidades da Administração Direta do Estado

estão hierarquicamente subordinadas ao Governo, as entidades da Administração Indireta

do Estado estão sujeitas à sua direção e tutela e as entidades que integram a Administração

Autónoma estão sujeitas apenas à sua tutela.

A Administração direta do Estado incorpora todos os órgãos, serviços e agentes

integrados na pessoa coletiva “Estado”, sendo que, de modo direto e sob dependência

hierárquica do Governo, desenvolvem uma atividade orientada à satisfação das

necessidades coletivas (Lei n.

o

4/2004 - Diário da República n.

o

12/2004).

Os serviços da Administração Direta do Estado podem distinguir-se em Serviços

Centrais e Serviços Periféricos. Os Serviços Centrais têm competência em todo o

território nacional, como as Direções Gerais organizadas em Ministérios. Já os Serviços

Periféricos têm competência territorialmente limitada, como acontece com as Direções

Regionais (Lei n.

o

4/2004 - Diário da República n.

o

12/2004).

A Administração Indireta do Estado integra as entidades públicas, distintas da

pessoa coletiva “Estado”, dotadas de personalidade jurídica e autonomia administrativa e

(11)

11

financeira, desenvolvendo uma atividade administrativa que prossegue fins próprios do

Estado. Considera-se administração do “Estado” uma vez que segue fins deste e de

“administração indireta” porque estes fins são seguidos por pessoas coletivas distintas do

Estado (Lei n.

o

3/2004 - Diário da República n.

o

12/2004).

A Administração Indireta do Estado abrange três tipos de entidades: Os Serviços

Personalizados; os Fundos Personalizados e as Entidades Públicas Empresariais.

De acordo com a Direção-geral da Administração e do Emprego Público, os

Serviços Personalizados são pessoas coletivas de natureza institucional dotadas de

personalidade jurídica, criadas pelo poder público para, com independência em relação à

pessoa coletiva “Estado”, prosseguirem determinadas funções próprias deste. Os Fundos

Personalizados são pessoas coletivas de direito público com natureza patrimonial,

instituídas por ato do poder público. As Entidades Públicas Empresariais são pessoas

coletivas de natureza empresarial com fim lucrativo, que têm como objetivo a prestação

de bens ou serviços de interesse público, sobre as quais o Estado ou outras entidades

públicas estaduais detêm a totalidade do capital.

A Administração Autónoma inclui as entidades que prosseguem interesses

próprios das pessoas que as constituem e que definem autonomamente e com

independência a sua orientação e atividade. A Administração Autónoma abrange três

categorias de entidades: A Administração Regional (autónoma), a Administração Local

(autónoma) e as Associações Públicas.

A Administração Regional (autónoma) tem a mesma matriz organizacional da

Administração Direta e da Administração Indireta do Estado. Assim, a Administração

Regional distingue-se da Administração Direta e Indireta pela sua competência territorial

e material. No caso da Administração Regional, os órgãos, agentes e serviços têm

competência limitada às matérias de interesse das respetivas populações que não sejam

constitucional e estatutariamente limitadas à administração estadual e exercem a sua

competência apenas sobre o território da respetiva região e nos limites da autonomia

regional (Direção-geral da Administração e do Emprego Público). A Administração

Local (autónoma) é constituída pelas autarquias locais. A competência dos órgãos e

serviços da Administração Local (autónoma) restringe-se ao território da respetiva

autarquia e às matérias estabelecidas na lei. As Associações Públicas são pessoas

coletivas de natureza associativa, criadas pelo poder público de modo a assegurar os

(12)

12

interesses não lucrativos pertencentes a um grupo de pessoas que se organizam para a sua

prossecução.

De acordo com Bowman & Williams (1997) o problema da ética no serviço

público é tão antigo quanto o próprio governo. O problema deve ser permanentemente

estudado de modo a procurar soluções mais adequadas à realidade atual. Todos os que

desempenham funções e atividades ligadas à Administração Pública encontram-se ao

serviço exclusivo da comunidade e dos cidadãos, devendo prevalecer sempre o interesse

público sobre os interesses particulares ou de grupo.

O Decreto-Lei n.

o

4/2015 do Diário da República n.

o

4/2015 estabelece os

princípios éticos da Administração Pública aplicáveis aos órgãos da Administração

Pública:

 Princípio da legalidade, em que os órgãos da Administração Pública devem atuar

em conformidade com os princípios constitucionais e de acordo com a lei e o

direito.

 Princípio da prossecução do interesse público e da proteção dos direitos e

interesses dos cidadãos, sendo que compete aos órgãos da Administração Pública

estar ao interesse exclusivo da comunidade e dos cidadãos.

 Princípio da boa administração, define que a Administração Pública deve

pautar-se por critérios de eficiência, economicidade e celeridade. Sendo que a

Administração Pública deve ser organizada de modo a aproximar os serviços das

populações e de forma não burocratizada.

 Princípio da igualdade, sendo que a Administração Pública deve reger-se pelo

princípio da igualdade, não podendo privilegiar, beneficiar, prejudicar, privar de

qualquer direito ou isentar de qualquer dever ninguém em razão de ascendência,

sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou

ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

 Princípio da proporcionalidade, define que a Administração Pública deve adotar

os comportamentos apropriados aos fins prosseguidos.

 Princípios da justiça e da razoabilidade, em que a Administração Pública deve

tratar de forma justa todos aqueles que com ela entrem em relação, e rejeitar as

soluções manifestamente desrazoáveis ou incompatíveis com a ideia de Direito,

nomeadamente em matéria de interpretação das normas jurídicas e das valorações

próprias do exercício da função administrativa.

(13)

13

 Princípio da imparcialidade, sendo que a Administração Pública deve tratar de

forma imparcial aqueles que com ela entrem em relação, designadamente,

considerando com objetividade todos e apenas os interesses relevantes no

contexto decisório e adotando as soluções organizatórias e procedimentais

indispensáveis à preservação da isenção administrativa e à confiança nessa

isenção.

 Princípio da boa-fé, definindo que a Administração Pública e os particulares

devem agir e relacionar-se segundo as regras da boa-fé, tendo em foco a

prossecução do interesse da comunidade.

 Princípio da colaboração com os particulares, em que os órgãos da Administração

Pública devem atuar em estreita colaboração com os particulares, cumprindo-lhes,

designadamente, prestar aos particulares as informações e os esclarecimentos de

que careçam, apoiar e estimular as suas iniciativas e receber as suas sugestões e

informações.

 Princípio da participação, em que os órgãos da Administração Pública devem

assegurar a participação dos particulares, bem como das associações que tenham

por objeto a defesa dos seus interesses, na formação das decisões que lhes digam

respeito, designadamente através da respetiva audiência nos termos do presente

Código.

 Princípio da decisão, sendo que os órgãos da Administração Pública têm o dever

de se pronunciar sobre todos os assuntos da sua competência que lhes sejam

apresentados e, nomeadamente, sobre os assuntos que aos interessados digam

diretamente respeito, bem como sobre quaisquer petições, representações,

reclamações ou queixas formuladas em defesa da Constituição, das leis ou do

interesse público.

 Princípios aplicáveis à administração eletrónica, em que os órgãos e serviços da

Administração Pública devem utilizar meios eletrónicos no desempenho da sua

atividade, de modo a promover a eficiência e a transparência administrativas e a

proximidade com os interessados.

 Princípio da gratuitidade, sendo que o procedimento administrativo é

tendencialmente gratuito, na medida em que leis especiais não imponham o

pagamento de taxas por despesas, encargos ou outros custos suportados pela

Administração.

(14)

14

 Princípio da responsabilidade, em que a Administração Pública responde, nos

termos da lei, pelos danos causados no exercício da sua atividade.

 Princípio da administração aberta, define que todas as pessoas têm o direito de

acesso aos arquivos e registos administrativos, mesmo quando nenhum

procedimento que lhes diga diretamente respeito esteja em curso, sem prejuízo do

disposto na lei em matérias relativas à segurança interna e externa, à investigação

criminal, ao sigilo fiscal e à privacidade das pessoas.

 Princípio da proteção dos dados pessoais, sendo que os particulares têm direito à

proteção dos seus dados pessoais e à segurança e integridade dos suportes,

sistemas e aplicações utilizados para o efeito, nos termos da lei.

 Princípio da cooperação leal com a União Europeia, define que sempre que o

direito da União Europeia imponha à Administração Pública a obrigação de

prestar informações, apresentar propostas ou de, por alguma outra forma,

colaborar com a Administração Pública de outros Estados-membros, essa

obrigação deve ser cumprida no prazo para tal estabelecido.

Estes princípios pretendem robustecer os valores fundamentais que devem reger

toda a atividade administrativa num Estado de Direito Democrático (Decreto-Lei n.

o

4/2015 do Diário da República n.

o

4/2015).

B- Setor Público em Portugal

Segundo Catarino (2012) o Setor Público encontra-se dividido em duas áreas: o

Setor Público Administrativo (SPA) e o Setor Empresarial do Estado (SEE).

O Setor Público Administrativo desenvolve a sua atividade com base em critérios

não empresariais, integrando as atividades tradicionais do Estado. Este é constituído pela

Administração Central, a Administração Regional, a Administração Local, a Segurança

Social e pelos Fundos Autónomos.

O Setor Empresarial do Estado é responsável pela constituição e gestão de

infraestruturas públicas fundamentais de natureza empresarial e pela prestação de

serviços públicos essenciais, para além de um conjunto diversificado de outras funções

de carácter instrumental, nos mais diversos sectores e domínios (Direção-geral do

Tesouro e Finanças). Assim, o SEE é responsável pelo conjunto das unidades produtivas

do Estado, organizadas e geridas de forma empresarial, integrando as empresas públicas

e as empresas participadas.

(15)

15

C- Autarquias Locais e Municípios

As Autarquias Locais são pessoas coletivas territoriais dotadas de órgãos

representativos que visam a prossecução dos interesses próprios, comuns e específicos

das respetivas populações (Conselho das Finanças Públicas).

Em Portugal, as freguesias e os municípios são as Autarquias Locais, sendo a

Junta de Freguesia e a Câmara Municipal os seus respetivos órgãos executivos e a

Assembleia de Freguesia e a Assembleia Municipal os respetivos órgãos deliberativos.

Segundo Amaral (2009) as Autarquias Locais não pertencem ao Estado, não são

Estado e apesar destas entidades serem alvo de fiscalização por parte do Estado, podem

ser caraterizadas como entes independentes e distintas desse órgão.

De acordo com a Carta Europeia de Autonomia Local, a autonomia local é o

“direito e a capacidade efetiva das autarquias locais regulamentarem e gerirem, nos

termos da lei, sob sua responsabilidade e no interesse das respetivas populações, uma

parte importante dos assuntos públicos”. Este direito é exercido por Conselhos ou

Assembleias formados de membros eleitos por sufrágio livre, secreto, igualitário, direto

e universal, podendo dispor de órgãos executivos que respondem perante eles.

Amaral (2009) afirma que o município pretende a prossecução dos interesses

próprios da população residente na circunscrição do concelho, mediante órgãos

representativos por ela eleitos.

Sendo o município o órgão efetivo da autarquia local, de acordo com o Artigo

250º do Diário da República n.

o

86/1976 os municípios são constituídos pela Câmara

Municipal e pela Assembleia Municipal, que é o órgão deliberativo do município (Artigo

251º do Diário da República n.

o

86/1976).

O órgão executivo responde perante o órgão deliberativo, sendo que a Assembleia

Municipal é responsável pelo órgão executivo e tem poder de destituir a Câmara. Segundo

Amaral (2009) isto sucede-se porque a Assembleia tem o poder de aprovar ou rejeitar a

proposta orçamental anual apresentada pela Câmara Municipal e esta não pode exercer

as suas funções sem um orçamento aprovado.

(16)

16

D- Assembleia Municipal e Câmara Municipal

A Assembleia Municipal é o órgão deliberativo do município, sendo constituída

por membros eleitos diretamente em número superior ao dos presidentes de junta de

freguesia, que a integram, sendo que o número de membros eleitos diretamente não pode

ser inferior ao triplo do número de membros da respetiva câmara municipal (Artigo 42º

da Lei n.

o

169/99 - Diário da República n.

o

219/1999).

A Assembleia Municipal tem como competências a orientação geral do município,

fiscalização da Câmara Municipal, tributária, decisão superior, entre outras (Artigo 24º

do Diário da República n.

o

176/2013).

De acordo com o nº3 do Artigo 42º da Lei n.

o

169/99 - Diário da República n.

o

219/1999 participam nas sessões da Assembleia Municipal os cidadãos que encabeçaram

as listas com maior votação na eleição para as Assembleias de Freguesia da área do

município, enquanto estas não forem instaladas.

Algumas das competências da Assembleia Municipal são, de acordo com o artigo

53º da Lei n.

o

169/99 - Diário da República n.

o

219/1999, acompanhar e fiscalizar a

atividade da Câmara Municipal; pronunciar-se e deliberar sobre assuntos que visem a

prossecução das atribuições da Autarquia; votar moções de censura à Câmara Municipal

em avaliação da ação desenvolvida pela mesma ou por qualquer dos seus Membros;

deliberar sobre a constituição de delegações, comissões ou grupos de trabalho para o

estudo dos problemas relacionados com as atribuições próprias da autarquia, sem

interferência no funcionamento e na atividade normal da Câmara; tomar posição perante

os órgãos do poder central sobre assuntos de interesse para a Autarquia; solicitar e receber

informações, através da Mesa, sobre assuntos de interesse para a autarquia e sobre a

execução de deliberações anteriores, o que pode ser requerido por qualquer Membro em

qualquer momento.

Compete ainda à Assembleia Municipal sob proposta da Câmara Municipal,

aprovar posturas e regulamentos; aprovar o plano de atividade e o orçamento, bem como

as suas revisões; aprovar as medidas, normas, delimitações e outros atos, no âmbito dos

regimes do ordenamento do território e do urbanismo, nos casos e nos termos conferidos

por lei; aprovar anualmente o relatório de atividades, o balanço e a conta de gerência;

aprovar ou autorizar a contratação de empréstimos nos termos da lei; aprovar os quadros

(17)

17

de pessoal dos diferentes serviços do município, nos termos da lei; estabelecer taxas

municipais e fixar os respetivos quantitativos.

A gestão permanente dos assuntos municipais é realizada pela Camara Municipal,

sendo esta, diretamente, eleita pela população do município. A câmara municipal é

constituída por um Presidente de Camara e por vereadores, um dos quais designado

vice-presidente, e é o órgão executivo colegial do município, eleito pelos cidadãos eleitores

recenseados na sua área (Artigo 56º Lei n.

o

169/99 - Diário da República n.

o

219/1999)

Segundo o artigo 56º da Lei n.

o

169/99 - Diário da República n.

o

219/1999 a

Câmara Municipal é composta conforme o número de eleitores: Dezasseis vereadores em

Lisboa; Doze no Porto; Dez vereadores nos municípios com 100000 ou mais eleitores;

Oito vereadores nos municípios que têm entre 50000 e 100000 eleitores; Seis vereadores

nos municípios que têm entre 10000 e 50000 eleitores; Quatro vereadores nos municípios

com 10000 ou menos eleitores.

Tendo em consideração o Artigo 35º da Lei n.

o

75/2013 do Diário da República

n.

o

176/2013 que estabelece as competências do presidente da Câmara, este tem as

funções de carácter executivo, presidencial, decisório e interlocutório. O presidente pode

exercer, além da sua competência própria, uma competência delegada pela Câmara

Municipal (Artigo 34º da Lei n.

o

75/2013 do Diário da República n.

o

176/2013).

O vice-presidente é designado, de entre os vereadores, pelo Presidente de Câmara.

Além de outras funções que lhe sejam distribuídas, cabe ao vice-presidente substituir o

presidente nas suas faltas e impedimentos (Artigo 57º da Lei n.

o

169/99 - Diário da

República n.

o

219/1999).

Algumas das competências da Câmara Municipal (Artigo 64º da Lei n.

o

169/99 -

Diário da República n.

o

219/1999) passam por elaborar e aprovar o regimento;

executar e

velar pelo cumprimento das deliberações da Assembleia Municipal; executar as opções

do plano e orçamentos aprovados, bem como aprovar as suas alterações; elaborar e

aprovar a norma de controlo interno, bem como o inventário de todos os bens, direitos e

obrigações patrimoniais e respetiva avaliação, e ainda os documentos de prestação de

contas, a submeter à apreciação e votação do órgão deliberativo; nomear e exonerar o

conselho de administração dos serviços municipalizados e das empresas públicas

municipais, assim como os representantes do município nos órgãos de outras empresas,

cooperativas, fundações ou entidades em que o mesmo detenha alguma participação no

(18)

18

respetivo capital social ou equiparado; fixar as tarifas e os preços da prestação de serviços

ao público pelos serviços municipais ou municipalizados; deliberar sobre a concessão de

apoio financeiro, ou outro, as instituições legalmente constituídas pelos funcionários do

município, tendo por objeto o desenvolvimento de atividades culturais, recreativas e

desportivas; aprovar os projetos, programas de concurso, caderno de encargos e a

adjudicação relativamente a obras e aquisição de bens e serviços.

E- Definição de Transparência

A transparência tem sido alvo de debate no setor público. Esta preocupação não é

recente, mas tem vindo a tornar-se cada vez mais relevante.

Segundo Kaufmann & Kraay (2002) a transparência é o fluxo atempado de

informação económica, social e de política acessível aos stakeholders relevantes. Assim,

nesta perspetiva, o acesso à informação é uma condição necessária à existência de

transparência.

De acordo com Ribeiro, Nogueira, & Freitas (2017) recentes estudos destacam o

papel da transparência na disponibilização de informações aos cidadãos, permitindo que

eles participem no processo político, promovendo a prestação de contas, o que melhora a

qualidade de tomada de decisão do governo e ajudando a diminuir a corrupção. Isto

porque as informações podem revelar interesses privados que podem ir contra o interesse

coletivo. O equilíbrio na relação entre o principal (eleitores/contribuintes) e o agente

(políticos/líderes) depende da existência de entidades transparentes capazes de reduzir a

incerteza (Ferejohn, 1999).

Segundo Armstrong (2005), grande parte dos Estados Membros da Organização

das Nações Unidas defendem a transparência como um dos pilares fundamentais da sua

Administração Pública. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Económico (OCDE) inclui melhores práticas para a Transparência Orçamental e o Fundo

Monetário Internacional (FMI) introduziu os códigos de Boas Práticas (Esteller-Moré &

Otero, 2012). Segundo o qual a transparência assenta em quatro pilares: definição clara

das funções e responsabilidades, abertura dos processos orçamentais, acesso público à

informação e existência de garantias de integridade.

A Internacional Budget Partnership (IBP) pretende promover a interpretação e

análise de conteúdos orçamentais, defendendo a intervenção da sociedade civil no

(19)

19

processo orçamental de modo a melhorar o processo de decisão e reduzir a corrupção e a

má gestão (Batalha, 2014).

Em 1993 foi fundada a Transparency International, sendo esta uma organização

não-governamental e sem fins lucrativos, cujo objetivo é melhorar o nível de

transparência na Administração Pública. A organização trabalha com os governos,

empresas e sociedade civil de modo a sensibilizar para os efeitos prejudiciais da

corrupção, desenvolvendo e implementando medidas efetivas de combate à corrupção

(TI, 2011)

Em Portugal, foi criada em 17 de Setembro de 2010 a “Transparência e

Integridade, Associação Cívica”. Esta associação cívica de utilidade pública,

independente e sem fins lucrativos é a representante nacional da Transparency

International. A Associação tem como missão sensibilizar a cidadania em Portugal para

a luta pela transparência e a integridade, de modo a obter uma democracia mais inclusiva

e participada. Realiza campanhas de informação, investigação sobre as causas e impactos

da corrupção e o desenvolvimento de ferramentas práticas para os cidadãos em parceria

com o setor público, organizações privadas e a sociedade civil (Transparência e

Integridade, Associação Cívica, 2014).

Em Portugal, o Índice de Transparência Municipal (ITM) desenvolvido pela

“Transparência e Integridade, Associação Cívica” mede o grau de transparência de um

município. Tal sucede-se através de uma análise da informação disponibilizada nos sites

das Câmara Municipais aos cidadãos. É relevante ter em consideração que quanto maior

a informação obtida, melhor será o índice de transparência de uma entidade (C. L.

Armstrong, 2011).

Romzek & Dubnick (1987) defendem que cidadãos informados têm maior

capacidade de responsabilização dos seus governos. A transparência orçamental tem um

impacto positivo na redução da corrupção e têm um efeito positivo no desenvolvimento

socioeconómico e humano (Reinikka & Svensson, 2004; Bellver & Kaufmann, 2005).

A transparência constituí um princípio primordial no sentido em que reduz

assimetrias de informação entre os cidadãos e o Estado, diminui ineficiências da gestão

pública e aumenta o controlo sobre a atuação pública, ao permitir que a sociedade avalie

o seu desempenho (Stiglitz, 1999).

(20)

20

F- Contratação Pública

É relevante ter em consideração a ligação entre o conceito de transparência e o

conceito de contratação pública.

Os processos de contratação pública devem salvaguardar o Princípio da Igualdade,

da Concorrência e da Transparência definidos no Código da Contratação Pública, de

modo a concretizar e materializar o interesse público subjacente à Contratação Pública

(Inês, 2018).

Em Portugal, o Código dos Contratos Públicos (CCP) foi aprovado pelo

Decreto-Lei n.

o

18/2008 do Diário da República n.

o

20/2008. Este pretende estabelecer a

“disciplina aplicável à contratação pública e o regime substantivo dos contratos públicos

que revistam a natureza e contrato administrativo” (Artigo 1º do Código dos Contratos

Públicos). O presente Código estabelece a disciplina aplicável à contratação pública e o

regime substantivo dos contratos públicos que revistam a natureza de contrato

administrativo.

As regras da contratação pública referidas no CCP aplicam-se às seguintes

entidades adjudicantes: o Estado, as Regiões Autónomas, as Autarquias Locais, os

Institutos Públicos, as Entidades Administrativas Independentes, o Banco de Portugal, as

Fundações Públicas, as Associações Públicas e as Associações de que façam parte uma

ou várias das pessoas coletivas referidas nas alíneas anteriores, desde que sejam

maioritariamente financiadas por estas, estejam sujeitas ao seu controlo de gestão ou

tenham um órgão de administração, de direção ou de fiscalização cuja maioria dos

titulares seja, direta ou indiretamente, designada pelas mesmas (Decreto-Lei n.

o

111-B/2017 do Diário da República n.

o

168/2017).

É relevante ter em consideração a ligação entre o conceito de transparência e o

conceito de contratação pública.

O Código dos Contratos Públicos prevê várias formas de procedimentos de

contratação, salientando-se: o ajuste direto, concurso público, concurso limitado por

prévia qualificação; procedimento de negociação e diálogo concorrencial (Decreto-Lei

n.

o

18/2008 do Diário da República n.

o

20/2008)

(21)

21

A contratação por ajuste direto é o procedimento pelo qual a entidade adjudicante

convida diretamente uma ou várias entidades à sua escolha a apresentar uma proposta

(Decreto-Lei n.

o

18/2008 do Diário da República n.

o

20/2008) .

Existem dois critérios para a adoção da contratação por ajuste direto, o critério de

valor e o critério material.

O critério de valor é o critério regra para a adoção do ajuste direto. Porém este

critério implica que o contrato a celebrar na sequência do ajuste direto fique sujeito a um

limite de valor, sendo para a aquisição ou locação de bens móveis ou aquisição de serviços

o valor inferior a 20000 euros, para empreitadas de obras públicas um valor inferior a

30000 euros e para outro tipo de contratos um valor inferior a 50000 euros (Artigo 17º a

22º do Decreto-Lei n.

o

111-B/2017 do Diário da República n.

o

168/2017).

O critério material corresponde a situações taxativamente previstas no CCP que

permitem a adoção do ajuste direto independentemente do valor do contrato a celebrar.

De modo a ser possível utilizar este critério, o órgão competente para a decisão de

contratar deve fundamentar de forma clara e objetiva que a situação em concreto reúne

todos os pressupostos previstos em alguma das alíneas dos artigos 24º a 27º do

Decreto-Lei n.

o

111-B/2017 do Diário da República n.

o

168/2017).

De modo a estudar a transparência dos municípios portugueses, foi considerado

no presente estudo a percentagem de contratação por ajuste direto calculada tanto em

preço contratual como em número de contratos. Sendo que municípios com maior

percentagem de contratação pública sob a forma de ajuste direto tendem a ser menos

transparentes.

(22)

22

Metodologia

Após a revisão de literatura, surge este capítulo com o intuito de apresentar a

formulação dos modelos que são utilizados na análise dos referidos objetivos.

Iniciar-se-á este capítulo com a apresentação dos objetivos e das variáveis

estudadas. Posteriormente, é apresentado um subcapítulo com a análise descritiva e outro

onde são apresentados os dados e caraterísticas da população. Além disso, é apresentado

o tratamento estatístico dos dados e modelos, em que serão expostos os modelos

estudados, bem como o método de estimação mais adequado a este teste. Por fim, neste

capítulo, é apresentada uma análise unidimensional, na qual é apresentada a

hierarquização dos municípios de acordo com o seu nível de transparência, utilizando

como forma de cálculo a percentagem de formação de contratação pública sob a forma

de ajuste direto medida de duas formas diferentes: em preço contratual e em número de

contratos.

1- Objetivos

De modo a verificar o nível de transparência dos municípios portugueses e os

fatores que o influenciam, objetivo central da presente dissertação, foi considerado como

determinante da transparência o nível de procedimento de formação de contratos públicos

sob a forma de ajuste direto. Os fatores estudados são: A localização dos municípios para

cada região NUTS II; população residente; total do ativo do município; média da

população residente; densidade populacional; percentagem de endividamento;

percentagem do partido do Presidente eleito na Assembleia Municipal; capital de distrito;

participação eleitoral; desemprego; número de empresas municipais de cada município;

se o executivo é do mesmo partido da Assembleia Municipal; há quantos mandatos o

Presidente de Câmara exerce o cargo.

Para a estimação dos modelos econométricos foi utilizada a metodologia de dados

em painel, que permite analisar observações temporais e observações seccionais.

Relativamente ao método de estimação foi utilizado o Método dos Mínimos

Quadrados Ordinários (OLS).

(23)

23

2- Variáveis

A- Variável dependente

Tendo em conta o Código dos Contratos Públicos, os municípios devem adotar

uma das várias formas de procedimentos de contratação, salientando-se: o ajuste direto,

concurso público, concurso limitado por prévia qualificação; procedimento de negociação

e diálogo concorrencial. De referir que a contratação por ajuste direto é o procedimento

pelo qual a entidade adjudicante convida diretamente uma ou várias entidades à sua

escolha a apresentar uma proposta (Decreto-Lei n.

o

18/2008 do Diário da República n.

o

20/2008, 2008).

Como referido anteriormente o nosso estudo considera como determinante da

transparência o inverso da percentagem de formação de contratação sob a forma de ajuste

direto.

Deste modo, a variável dependente do modelo 1 é a percentagem de contratação

pública sob a forma de ajuste direto de cada entidade adjudicante calculada tendo em

consideração o preço contratual, ao longo de um exercício económico, para todos os

municípios, desde 2009 a 2017. Neste estudo, são consideradas como entidades

adjudicantes os municípios. Esta variável será calculada para cada município pela

expressão apresentada de seguida:

∑ 𝑃𝑟𝑒ç𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑢𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜𝑠 𝑝ú𝑏𝑙𝑖𝑐𝑜𝑠 𝑠𝑜𝑏 𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎 𝑑𝑒 𝑎𝑗𝑢𝑠𝑡𝑒 𝑑𝑖𝑟𝑒𝑡𝑜 ∑ 𝑃𝑟𝑒ç𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑢𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠 𝑜𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜𝑠 𝑝ú𝑏𝑙𝑖𝑐𝑜𝑠

Equação 1 - Fórmula de cálculo da variável dependente do modelo 1

Já a variável dependente do modelo 2 é, à semelhança da variável dependente do

modelo 1, a percentagem de ajuste direto de cada entidade adjudicante, mas, neste caso,

é calculada tendo em consideração o número de contratos, ao longo de um exercício

económico, para todos os municípios, desde 2009 a 2017. Assim, a variável é calculada

para cada município da seguinte forma:

∑ 𝑁º 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑜 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜𝑠 𝑝ú𝑏𝑙𝑖𝑐𝑜𝑠 𝑠𝑜𝑏 𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎 𝑑𝑒 𝑎𝑗𝑢𝑠𝑡𝑒 𝑑𝑖𝑟𝑒𝑡𝑜 ∑ 𝑁º 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠 𝑜𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜𝑠 𝑝ú𝑏𝑙𝑖𝑐𝑜𝑠

Equação 2 - Fórmula de cálculo da variável dependente do modelo 2

Ou seja, ambas as variáveis são calculadas através da divisão do somatório do

preço contratual/número de contratos do procedimento de formação de contratos públicos

(24)

24

sob a forma de ajuste direto pelo somatório do preço contratual/número de contratos de

todos os procedimentos de formação de contratos públicos. A base de dados utilizada na

recolha de dados foi o Portal BASE.

B- Variáveis independentes

As variáveis independentes utilizadas nas estimações correspondem a fatores

sociodemográficos, políticos e financeiros que podem explicar a percentagem da

formação de contratos públicos sob a forma de ajuste direto. As variáveis independentes

utilizadas no presente estudo são:

I.

Localização do município (L1, L2, L3, L4, L5 e L6)

O Decreto-Lei n.

o

244/2002 do Diário da República n.

o

255/2002 estabelece as

matrizes de delimitação geográfica da Nomenclatura de Unidades Territoriais para Fins

Estatísticos (NUTS), sendo que estas estão subdivididas em três níveis, as NUTS I, NUTS

II e NUTS III.

Utilizou-se para determinar a localização dos municípios a organização definida

pela NUTS (Nomenclaturas de Unidades Territoriais para fins Estatísticos) II, que divide

o país em Norte, Algarve, Centro, Lisboa, Alentejo, Região Autónoma dos Açores e a

Região Autónoma da Madeira, sendo que as seis primeiras regiões correspondem às

variáveis L1, L2, L3, L4, L5 e L6, respetivamente. A região Autónoma da Madeira

corresponderá à não ocorrência das restantes 6 variáveis.

Estas variáveis independentes são designadas por variáveis dummy, isto é, a

variável será igual a 1 no caso de o município ser enquadrado na respetiva NUTS II e 0

no caso contrário. Como referido no parágrafo anterior e devido às caraterísticas de uma

variável dummy, um município da Região Autónoma da Madeira é representado pela

presença de “0” nas restantes seis variáveis de localização.

A região Norte (L1) é composta por 86 municípios, a região do Algarve (L2) por

16 municípios, a região do Centro (L3) por 100 municípios, a região de Lisboa (L4) por

18 municípios, a região do Alentejo (L5) por 58 municípios, a Região Autónoma dos

Açores (L6) por 19 municípios e a Região Autónoma da Madeira por 11 municípios.

(25)

25

II.

População residente (POPULAÇAO)

A variável POPULAÇAO representa o tamanho da população residente num

município.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), a população residente “é o

conjunto de pessoas que, independentemente de estarem presentes ou ausentes num

determinado alojamento no momento de observação, viveram no seu local de residência

habitual por um período contínuo de, pelo menos, 12 meses anteriores ao momento de

observação, ou que chegaram ao seu local de residência habitual durante o período

correspondente aos 12 meses anteriores ao momento de observação, com a intenção de

aí permanecer por um período mínimo de um ano”.

É de esperar que o sinal apresentado na estimação seja negativo, ou seja, que

municípios maiores tendam a ter maior transparência do que os municípios menores

(Albalate del Sol (2013),Araujo & Tejedo-Romero (2016), Ribeiro et al. (2017), tendo

menor percentagem de formação de contratos públicos sob a forma de ajuste direto.

Os dados referentes a esta variável foram extraídos do portal Pordata.

III.

Total do ativo do município (ATIVO)

O total do ativo de cada município é também considerado nesta estimação.

Pretende-se verificar se este indicador afeta ou não o procedimento de formação de

contratos públicos. Os dados foram obtidos através do balanço anual dos municípios

publicado no Portal Autárquico.

IV.

Média da população residente (MEDIA)

Foi ainda considerada como variável independente a média da população residente

dos municípios. Pretende-se investigar se a população residente por município

(mencionada anteriormente) se encontra abaixo ou acima da média e se esta afeta ou não

o procedimento de formação de contratos públicos, sob a forma de ajuste direto. Nesta

amostra, a média da população residente é de 34312,72 residentes por município.

Este fator é estudado através de uma variável dummy, isto é, a variável toma o

valor de 1 quando o município está abaixo da média e o valor de 0 quando se encontra

acima da média. Os dados foram extraídos do portal Pordata.

(26)

26

É previsível que o sinal apresentado na estimação para esta variável seja positivo,

ou seja, será de esperar que os municípios com população abaixo da média apresentem

maior percentagem de formação de contratos públicos (Pinheiro Ferreira, 2017).

V.

Densidade populacional (DENSIDADE)

Esta variável refere-se à relação entre o número de habitantes de uma área e a

superfície dessa área. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, entende-se por

densidade populacional “intensidade do povoamento expressa pela relação entre o

número de habitantes de uma área territorial determinada e a superfície desse território

(habitualmente expressa em número de habitantes por quilómetro quadrado)”. A base

de dados utilizada na recolha de informação referente a esta variável foi o portal Pordata.

É de esperar que um município com elevada densidade populacional proporcione

um maior nível de formação de contratos públicos sob a forma de ajuste direto (Pinheiro

Ferreira, 2017).

VI.

Percentagem de endividamento (ENDIVIDAMENTO)

Esta variável tem como foco verificar o efeito da percentagem de endividamento

na percentagem de formação de contratos públicos sob a forma de ajuste direto.

Esta variável é dada pela soma dos empréstimos de médio e longo prazo com o

total da dívida a terceiros de curto prazo a dividir pelo total do ativo. A informação

referente a esta variável foi recolhida no balanço dos municípios presentes no Portal

Autárquico.

É de esperar que os municípios com maior percentagem de endividamento optem

pela formação de contratação pública sob a forma de ajuste direto (Pinheiro Ferreira

(2017), Ribeiro et al. (2017)).

VII.

Percentagem do Partido do presidente de câmara eleito (PARTIDO)

Esta variável irá representar a existência ou não de maioria absoluta do partido ou

coligação do Presidente da Câmara eleito, pretendendo estudar-se a possível influência

desta variável no nível de transparência municipal. Na definição da variável foram

(27)

27

considerados os votos válidos nas eleições para as Câmaras Municipais de 2009, 2013 e

2017 por partido político ou coligação, sendo que a informação foi recolhida na base de

dados Pordata.

Assim, é utilizada uma variável dummy que toma o valor de 1 no caso de a força

política eleita num município ter obtido maioria absoluta (percentagem superior a 50%)

e 0 caso contrário (percentagem inferior a 50%).

É possível que em alguns municípios, o partido ou coligação do Presidente de

Câmara eleito obtenha maioria num mandato, mas no mandato seguinte tal não se suceda.

Por exemplo, poderá ocorrer a maioria nas eleições de 2009 (mandato de 2009 a 2013) e

não ocorrer a maioria nas eleições de 2013 (mandato de 2013 a 2017).

É de esperar que os municípios nos quais os Presidentes de Câmara tenham obtido

maioria absoluta estes apresentem maior formação de contratos públicos sob a forma de

ajuste direto.

VIII.

Capital de distrito (CAPITAL)

É ainda considerado se o município é capital de distrito e se, caso este seja capital,

tem alguma influência no nível de formação de contratos públicos sob a forma de ajuste

direto. Deve ser tido em consideração que as capitais de distrito têm caraterísticas

particulares relativamente a outras cidades, sendo que grande parte das delegações da

administração pública se encontram localizadas em maior quantidade nessas autarquias

(Albalate del Sol, 2013), pelo que se torna de extrema importância analisar a existência

de influência desta variável na nossa análise.

Esta é uma variável dummy que toma o valor de 1 no caso de o município ser

capital de distrito e 0 no caso contrário.

De acordo com Albalate del Sol (2013) as capitais de distrito apresentam um nível

de transparência mais baixo, portanto, será de esperar que se o município for uma capital

de distrito este apresente um maior nível de contratação pública sob a forma de ajuste

direto.

(28)

28

Esta variável é dada pela percentagem de votantes em relação ao total de eleitores

nas eleições de um determinado ano (Guillamón, Bastida, & Benito, 2011), isto é,

considera os eleitores que não se abstêm do direito de voto

1

. A base de dados utilizada na

recolha de dados foi o portal “Pordata”.

Uma maior participação dos eleitores pode indicar que os cidadãos têm maior

acesso à informação e um maior interesse nas atividades da autarquia (Hollyer,

Rosendorff, & Vreeland, 2011; Caamaño-Alegre, Lago-Peñas, Reyes-Santias, &

Santiago-Boubeta, 2013; Esteller-Moré & Otero, 2012). No caso dos municípios com

menor participação eleitoral pode haver maior tendência para que o município seja mais

transparente, de forma a recuperar a confiança dos cidadãos e a incentivar uma maior

participação dos eleitores (Pina, Torres, & Royo (2010), Fung (2013)).

Assim, segundo Araujo & Tejedo-Romero (2016) é de esperar que os municípios

com maior participação eleitoral apresentem uma maior percentagem de formação de

contratos públicos sob a forma de ajuste direto.

X.

Taxa de desemprego (DESEMPREGO)

Será analisada a percentagem de pessoas desempregadas. Este é dado pelo número

de pessoas desempregadas sobre o número de pessoas empregadas

2

, multiplicado por 100.

Foi utilizado o portal Pordata na recolha de dados referentes a esta variável.

O desemprego pode indicar uma relação positiva entre a situação económica e a

transparência na administração pública (Piotrowski & Van Ryzin, 2007). Isto porque é

possível que em períodos de depressão económica, o nível de desemprego aumente,

prejudicando a transparência. Assim, será expectável que municípios com altas taxas de

desemprego apresentem maiores níveis de formação de contratos públicos sob a forma de

1 Abstenção é considerada pelo Pordata como o “número de eleitores que não votou numa determinada

eleição ou num referendo. Corresponde à diferença entre o número de cidadãos inscritos no recenseamento eleitoral e o número de votantes”.

2 Segundo o Instituto Nacional de Estatística um empregado é considerado um “indivíduo com idade

mínima de 15 anos que, no período de referência, se encontrava numa das seguintes situações: a) tinha efectuado trabalho de pelo menos uma hora, mediante pagamento de uma remuneração ou com vista a um benefício ou ganho familiar em dinheiro ou em géneros; b) tinha um emprego, não estava ao serviço, mas tinha uma ligação formal com o seu emprego; c) tinha uma empresa, mas não estava temporariamente ao trabalho por uma razão específica; d) estava em situação de pré-reforma, mas encontrava-se a trabalhar no período de referência”.

(29)

29

ajuste direto (Albalate del Sol (2013), Araujo & Tejedo-Romero (2016), Ribeiro et al.

(2017)).

XI.

Número de empresas municipais de cada município (EMPRESAS)

O Decreto-Lei 260/76 - Diário do Governo n.

o

84/1976 (entretanto revogado)

permitiu a constituição de Empresas Municipais por parte das Câmaras Municipais, após

a devida aprovação por parte da Assembleia Municipal (Rodrigues, Araújo, & Tavares,

2009). Em 2013, surgiu o Decreto-Lei n.

o

133/2013 - Diário da República n.

o

191/2013

que estabelece os princípios e regras aplicáveis ao setor público empresarial, incluindo as

bases gerais do estatuto das empresas públicas.

Na nossa análise, é incluída uma variável que mede a quantidade de empresas

municipais por cada município. Esta variável surge de modo a verificar a existência ou

inexistência de influência do número de empresas que os municípios, as associações de

municípios e as regiões administrativas criam na percentagem de contratação pública sob

ajuste direto.

A informação necessária foi recolhida dos Anuários Financeiros dos Municípios

Portugueses, sendo que foram considerados na recolha as empresas municipais e os

serviços municipalizados. É de esperar que os municípios com maior quantidade de

empresas municipais apresentem maior percentagem de formação de contratos públicos

sob a forma de ajuste direto.

XII.

Se o executivo é do mesmo partido da Assembleia Municipal (EXECUTIVO)

Foi estudado o impacto sobre a contratação pública por ajuste direto no caso de a

força política do presidente da Câmara Municipal ser a mesma força política da

Assembleia Municipal.

Esta variável dummy toma o valor de 1 no caso de o executivo ser do mesmo

partido da assembleia municipal e 0 no caso contrário. A base de dados utilizada na

recolha de dados foi a Comissão Nacional de Eleições.

Será previsível que municípios nos quais a força política do Presidente da Câmara

Municipal é igual à força política da Assembleia Municipal, a percentagem de contratação

pública por ajuste direto seja maior.

Imagem

Tabela 1 - Variáveis, fórmula de cálculo, estudo baseado e resultado esperado
Tabela 2 - Estatísticas Descritivas  PARTICIPAC AO  DESEMPREGO  EMPRESAS  EXECUTIVO  MANDATO1  MANDATO2  Mean  0.612639  0.128069  0.808081  0.957431  0.436508  0.235570  Median  0.613584  0.124000  0.000000  1.000000  0.000000  0.000000  Maximum  0.820276
Tabela 3 - Tabela das correlações
Tabela 3 - Tabela das correlações (continuação)
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