S - AGRAVO DE INSTRUMENTO nº 0002165-64.2013.8.19.0000 1
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0002165-64.2013.8.19.0000
AGRAVANTE: COMPANHIA DISTRIBUIDORA DE GÁS DO RIO
DE JANEIRO - CEG
AGRAVADO: GAIVOTA HOTEL LTDA
RELATORA: DES. LÚCIA MARIA MIGUEL DA SILVA LIMA
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PESSOA JURÍDICA. DEFERIMENTO DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. RELAÇÃO DE CONSUMO. CABIMENTO. AGRAVO DE INSTRUMENTO QUE SE APRESENTA MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. SEGUIMENTO NEGADO AO RECURSO.
DECISÃO MONOCRÁTICA
Trata-se de agravo de instrumento interposto em sede de
ação ordinária, por COMPANHIA DISTRIBUIDORA DE GÁS DO
RIO DE JANEIRO - CEG, em face de GAIVOTA HOTEL LTDA,
objetivando a reforma da decisão que deferiu a inversão do ônus da
prova, nos termos do artigo 6º, VIII, da Lei 8.078/90.
É o relatório. Decido.
O pedido de reforma da decisão do Magistrado não
merece prosperar, haja vista que a presente hipótese versa, de fato,
sobre relação de consumo, o que enseja a inversão do ônus da
prova quando for verossímil a alegação ou for o consumidor
hipossuficiente, de acordo com o previsto no inciso VIII do artigo 6º
da Lei 8.078/90. Tal medida tem como escopo a facilitação da
defesa dos direitos do consumidor, que é a parte menos favorecida
nas relações de consumo.
Considerando
que
o
julgador
vislumbrou
a
vulnerabilidade técnica do consumidor na instrução probatória e
determinou a inversão em seu favor, à outra parte foi transferido o
ônus da desconstrução das alegações autorais.
Isso porque o deferimento da inversão do ônus da prova
estabeleceu presunção de sinceridade em relação ao que fora
alegado pelo autor, beneficiário de tal inversão, cabendo à outra
parte o ônus do desfazimento.
A verossimilhança das alegações consiste no fato de
que os relatados problemas no medidor de consumo de gás tem
melhor possibilidade de serem esclarecidos pela empresa
fornecedora do serviço, ora recorrente.
Na hipótese dos autos, não merece prosperar a simples
alegação recursal de que a presente relação jurídica não estaria
sob o pálio da legislação consumerista, por se tratar de pessoa
jurídica, que desenvolve atividade econômica de hotelaria.
Conforme o entendimento da ilustre Ministra Nancy
Andrighi, o próprio STJ tem admitido, com base no art. 4º, I, do
CDC, a aplicação da lei consumerista sobre situações em que,
apesar do produto ou serviço tenha sido adquirido no curso do
desenvolvimento de uma atividade empresarial, haja vulnerabilidade
de uma parte frente à outra.
Veja-se, à propósito:
PROCESSO CIVIL E CONSUMIDOR. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. CABIMENTO. AGRAVO. DEFICIENTE FORMAÇÃO DO INSTRUMENTO. AUSÊNCIA DE PEÇA ESSENCIAL. NÃO CONHECIMENTO. RELAÇÃO DE CONSUMO. CARACTERIZAÇÃO. DESTINAÇÃO FINAL FÁTICA
DA PESSOA JURÍDICA. PRESUNÇÃO RELATIVA. (...) A jurisprudência consolidada pela 2ª Seção deste STJ entende que, a rigor, a efetiva incidência do CDC a uma relação de consumo está pautada na existência de destinação final fática e econômica do produto ou serviço, isto é, exige-se total desvinculação entre o destino do produto ou serviço consumido e qualquer atividade produtiva desempenhada pelo utente ou adquirente. Entretanto, o próprio STJ tem admitido o temperamento desta regra, com fulcro no art. 4º, I, do CDC, fazendo a lei consumerista incidir sobre situações em que, apesar do produto ou serviço ser adquirido no curso do desenvolvimento de uma atividade empresarial, haja vulnerabilidade de uma parte frente à outra. - Uma interpretação sistemática e teleológica do CDC aponta para a existência de uma vulnerabilidade presumida do consumidor, inclusive pessoas jurídicas, visto que a imposição de limites à presunção de vulnerabilidade implicaria restrição excessiva, incompatível com o próprio espírito de facilitação da defesa do consumidor e do reconhecimento de sua hipossuficiência, circunstância que não se coaduna com o princípio constitucional de defesa do consumidor, previsto nos arts. 5º, XXXII, e 170, V, da CF. Em suma, prevalece a regra geral de que a caracterização da condição de consumidor exige destinação final fática e econômica do bem ou serviço, mas a presunção de vulnerabilidade do consumidor dá margem à incidência excepcional do CDC às atividades empresariais, que só serão privadas da proteção da lei consumerista quando comprovada, pelo fornecedor, a não vulnerabilidade do consumidor pessoa jurídica. - Ao encampar a pessoa jurídica no conceito de consumidor, a intenção do legislador foi conferir proteção à empresa nas hipóteses em que, participando de uma relação jurídica na qualidade de consumidora, sua condição ordinária de fornecedora não lhe proporcione uma posição de igualdade frente à parte contrária. Em outras palavras, a pessoa jurídica deve contar com o mesmo grau de vulnerabilidade que qualquer pessoa comum se encontraria ao celebrar aquele negócio, de sorte a manter o desequilíbrio da relação de consumo. A “paridade de armas” entre a empresa-fornecedora e a empresa-consumidora afasta a presunção de fragilidade desta. Tal consideração se mostra de extrema relevância, pois uma mesma pessoa jurídica, enquanto consumidora, pode se mostrar vulnerável em determinadas relações de consumo e em outras não. Recurso provido. RMS 27512 / BA RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA 2008/0157919-0. Ministra NANCY ANDRIGHI.
Nesse diapasão, o presente recurso é manifestamente
improcedente, conforme se pode observar pela jurisprudência
dominante nesta Egrégia Corte:
DIREITO DO CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. Ação proposta em face de concessionária de serviço de água e esgoto por consumidor que, diante de exagerado aumento da cobrança de consumo de água é levado à inadimplência e sofre suspensão do fornecimento. Pedido de condenação de a ré restabelecer o serviço, emitir faturas pela média do consumo anterior ao aumento e indenizar dano moral. Agravo de instrumento, convolado em retido, contra a decisão que, concedendo tutela antecipatória, determinou o restabelecimento da entrega de água. Agravo retido interposto da decisão que deferiu a inversão do ônus da prova. Sentença de procedência que arbitra em R$ 5.000,00 a indenização do dano extrapatrimonial. 1. Não se conhece de agravos retidos cujos julgamentos não são requeridos como preliminar de apelo. 2. As relações de consumo entre as concessionárias de serviços públicos e os respectivos consumidores são regidas pelo Código de Defesa do Consumidor, o qual é lei principiológica que dá eficácia ao princípio constitucional dessa proteção. 3. Tal como a Constituição da República, o diploma não exclui do direito consumerista as sociedades de economia mista; o que caracteriza relação de consumo é a prestação de bens e serviços por um fornecedor profissional, de qualquer feição jurídica, a um destinatário final, profissional ou não, não importa se pessoa física ou jurídica, que em relação àquele esteja em posição de hipossuficiência, seja fática ou jurídica, seja técnica ou informacional. 4. A cobrança por fornecimento de água de acordo com o medido em hidrômetro não pode prevalecer em caso de aumento desmedido do consumo, porque o que deve ser cobrado é o que for efetivamente consumido; isso é o que prevalece se a concessionária não prova a inexistência de defeito no aparelho nem vazamento na rede interna do consumidor, a justificar a majoração. 5. Gera dano moral o aumento do registro de consumo e da respectiva cobrança em sucessivamente 411%, 2.023% e 1.858% de um mês para o outro, a ponto de gerar inadimplência e provocar a suspensão do fornecimento de água. 6. O malferimento da dignidade e da honra é suficiente para caracterizar o dano moral, o qual, para se configurar, não pressupõe sempre que a vítima padeça ou tenha padecido dor
dano moral fixada valor correspondente a oito salários mínimos, além de não compensar a vítima, não inibe nem sanciona, recomendando aumento; caso concreto que recomenda verba de R$ 10.000,00. 8. Providos todos os pedidos, não se justifica o rateio das custas judiciais e compensação dos honorários de sucumbência. 9. Primeiro recurso ao qual se nega provimento; segundo ao qual se dá provimento. APELACAO DES. FERNANDO FOCH LEMOS - Julgamento: 21/11/2012 - TERCEIRA CAMARA CIVEL . 0036074-39.2010.8.19.0021.
AGRAVO INTERNO. RATIFICAÇÃO DA DECISÃO MONOCRÁTICA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS: DIREITO DO CONSUMIDOR.PESSOA JURÍDICA QUE É O DESTINATÁRIO FINAL DO SERVIÇO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 2º DO CDC. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA EM FAVOR DO CONSUMIDOR. COBRANÇA DE SERVIÇO DE ROAMING INTERNACIONAL DE DADOS. DESCUMPRIMENTO DO CONTRATO. INSCRIÇÃO IRREGULAR DO NOME DO CONSUMIDOR, PESSOA JURÍDICA, EM BANCO DE DADOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. SERVIÇO DEFEITUOSO. PRETENSÃO COMPENSATÓRIA DE DANOS MORAIS, DECORRENTES DA NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. DANO MORAL QUE SE VERIFICA IN RE IPSA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. SEGUIMENTO QUE SE NEGA AO RECURSO, LIMINARMENTE. DESPROVIMENTO DO RECURSO. DES. CUSTODIO TOSTES - Julgamento: 15/01/2013 - PRIMEIRA CAMARA CIVEL.
0197120-97.2010.8.19.0001 – APELACAO.