VER-SUS edição de verão 2016/1
Santa Maria- Rio Grande do Sul
Relatório de Vivência 2016/1
Inicialmente ocorreu o acolhimento. Apresentação do projeto, histórico, estabelecimento dos acordos comuns, organização dos núcleo, divisão das atividades gerais, dinâmica de recepção e estabelecimento do cronograma de atividades.
Nos dois próximos dias que se seguiram, aconteceu o curso CFS1- Como Funciona a Sociedade Módulo 1-, que fora ministrado pelo agrônomo e educador popular Alfredo
Neste fora discutido como ocorrem as relações na sociedade atual, como as riquezas são produzidas, como se dão as relações de trabalho, de poder, como surgiu o capitalismo, bem como conceitos de valor, preço, mais-valia, lucro, tempo de trabalho socialmente necessário e tempo de trabalho excedente, por fim, discutiu-se como ocorre a distribuição de renda e a luta de classes. Também, discutiu-se sobre a importância da força de trabalho, que, ao contrario das outras mercadorias, o trabalho não implica na destruição de riquezas, a força de trabalho gera novas riquezas. Ela tem a capacidade de gerar mais valor do que o seu próprio.
Nos dias seguintes foram discutidos temas como a Reforma Sanitária, relembrando todo o histórico e os caminhos que levaram até a criação do SUS, Sistema Único de Saúde, bem como as leis 8.080 e 8.142 e a realidade atual do sistema, com suas qualidades e pontos a serem melhorados. Também, ocorreram visitas as estratégias de saúde do município de Santa Maria, de forma geral, o que pode se perceber é que os profissionais buscam realizar um serviço de qualidade, apesar de suas limitações estruturais, de materiais e de gestão. Destaca-se a importância da educação de saúde, que mostra-se ainda muito limitada aos grupos de saúde, embora seja algo que deve ser realizado todos os dias, sempre que o usuário busca o serviço. Fora realizada visita à cidade de São Vicente, que possui aproximadamente 9mil habitantes e as estratégias de saúde da família- ESFs-, possuem 100% de cobertura do território. A rede de atenção à saúde do município é constituída por:
Estratégias de saúde da família compostas por enfermeira, técnica de enfermagem, dois médicos ou médicas, odontologista e agente de saúde, estes dois últimos são contratados anualmente. Entretanto, é importante destacar a necessidade de que os profissionais criem laços com a comunidade, o que faz com que a contratação de profissionais seja caracterizada como uma fragilidade, uma fez que ela impede que o vínculo entre usuário e profissional se mantenha.
Centro Especializado de Diagnóstico e Tratamento, composto por nutricionista, educador físico, radiologista, psicólogo, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta, destacando-se a organização do serviço e o trabalho realizado pelo fisioterapeuta, que associa à sua prática profissional as práticas presentes na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, como a acupuntura e a auricultura.
NASF- Núcleo de Saúde da Família, NAAB- Núcleo de Apoio à Atenção Básica, este último existe uma vez que a cidade não possui população o bastante para possuir um CAPS- Centro de Atenção Psicossocial, o NAAB é composto por psicóloga, terapeuta ocupacional e oficineiro.
Hospital e Pronto- atendimento São Vicente, possui 38 leitos, destes, apenas 6 estavam ocupados durante a visita. O centro cirúrgico está fechado há 5 anos.
Farmácia Central Municipal, que une a farmácia básica e a farmácia hospital, sendo que a Farmácia central municipal fica ao lado do hospital da cidade, possuindo as medicações mais utilizadas nos dois ambientes.
A cidade em geral possui apenas clínicos gerais, havendo a necessidade de especialidades, o usuário é levado para atendimento em outras cidades, como Santa Maria e Faxinal do Soturno.
Após a visita, na volta a cidade de Santa Maria, foi realizado uma conversa sobre tudo o que foi observado e aprendido na cidade de São Vicente.
Também, durante a vivência, discutiu-se sobre a Reforma Antimanicomial, sobre a mediação de Thiago que relatou o histórico da reforma, desde os hospitais psiquiátricos, destancando-se o hospital de Barbacena, que contabilizou cerca de 60 mil mortes durante seu tempo de funcionamento, devido a situações de mistanásia e aos tratamentos controversos, como o eletrochoque, que era capaz de deixar a cidade toda sem luz após sua utilização; também, recorda-se o fato de que muita vezes, os internados no hospital não possuíam doença alguma, mas sim era considerados indivíduos que não se encaixavam bem na sociedade, não obedeciam seus padrões, até a criação da lei Paulo Delgado, de número 10.216, que rege toda a Política Nacional de Saúde Mental. Graças ao advento da criação desta , muitos hospitais psiquiátricos foram e vem sendo fechados e foi estabelecida a RAPS, Rede de Atenção Psicossocial. A RAPS é constituída por diversos serviços, estando presente em todos os níveis de atenção, nas esfs, em consultórios de rua, centros de atenção psicossocial- CAPs, em suas diversas modalidades, como CAPSi -infantil-, CAPSad- álcool e outras drogas-, CAPS 1, CAPS 24h; enfermarias especializadas em hospitais gerais; serviços residenciais terapêuticos- SRT-; Programa de Volta para Casa, que auxilia na reinserção dos usuários na sociedade;
Dando sequência a esta discussão, Elizandro relatou suas experiências como redutor de danos, bem como as dificuldades encontradas no seu dia a dia, além do histórico de criação da redução de dano e da sua importância para a saúde dos indivíduos. Elizandro destaca que o que mata os usuários de drogas não é a droga em si, mas sim seus colaterais, tráfico, violência, estigma, e as relações para com a polícia.
No dia que se seguiu, ocorreram as visitas aos CAPS da cidade de Santa Maria. Entre eles, cita-se aqui o CAPSi- “O Equilibrista”. Como já cita-se presumia, o cita-serviço atende mais jovens e adolescentes do que sua capacidade. A cidade possui apenas um psiquiatra infantil, o que dificulta a triagem dos casos, por isso o CAPSi possui parceria com projetos que via esf/ubs e também PRAEM, que realiza triagem dos casos mais urgentes aos serviço, tratando transtornos menores em atenção básica. A equipe percebe pouco retorno das universidades da cidade, falta de recurso humano, pouco apoio da rede e poucas conexões com ela. A equipe composta de psicólogos, terapeutas ocupacionais, enfermeira, educadora física, formam equipes de acolhimento, realizando acolhimento estendido, projeto terapêutico singular, grupos de fala, bem como outras atividades levando em conta as especificidades e necessidades dos usuários. A equipe possui também um técnico em saúde mental, cargo criado pelo município, que realiza oficinas, mas não há formação para isso.
Também, ocorrera uma visita ao CEREST- Centro de Referência em Saúde do Trabalhador. O serviço abrange toda a área da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, somando 32 cidades, ele busca prevenir acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Possui serviço de enfermagem, fonodiaulogia, fisioterapia e terapia ocupacional.
No dia seguinte, Alfredo, educador físico, conversou sobre Controle Social e o Conselho Municipal de Saúde, como ele funciona, como é constituído, etc. Citou também, o papel da Coordenadoria Regional de Saúde, que é organizar, coordenar e otimizar a rede na região.
Na visita ao HUSM houve uma fala sobre o hospital, estrutura, abrangência, EBSERH, metas da instituição, compromisso com a educação permanente dos profissionais e conexão da instituição com a universidade. Também, fora realizada dinâmica sobre lavagem de mãos e reconhecimento dos serviços oferecidos pelo hospital em cada andar.
Seguindo o cronograma da vivência, Iolanda conversou com o grupo sobre questões de gênero, mais especificamente, o feminismo. Iolanda trouxe o papel da mulher ao longo da história e as suas mudanças, bem como o papel atual da mulher na sociedade e as suas relações para com ela. Fora assistido o curta Vida Maria e utilizado dinâmica, para permitir uma melhor reflexão e assimilação dos temas.
No dia seguinte ocorreu visita ao assentamento Sobrado, onde foi possível conhecer a propriedade, as relações de trabalho, rotina, e saber mais sobre os alimentos que chegam a mesa no momento das refeições durante toda a vivência, a importância destes produtores, sua responsabilidade ambiental, bem como refletir e discutir sobre a realidade desses locais e a sua importância.
Outra visita realizada foi à Comunidade Estação dos Ventos, no km3. Comunidade onde vive Tito e Nicolas, Tito é cozinheiro do VER-SUS Santa Maria e Nick seu afilhado de 3 anos que, a sua forma, também participa das atividades da vivência. A comunidade possui uma bela e rica história de vida e de luta. Falta ainda muito em questão de estrutura e qualidade de vida, uma vez que as obras e necessidades da comunidade não são totalmente supridas, grande parte do que possuem foi por esforço próprio, porém os jogos políticos e determinados interesses limitam o progresso, pela falta de apoio da cidade para com a comunidade.
Após, ocorreu a visita a comunidade indígena da cidade, onde foi possível observar seu modo de vida, sua saúde e sua fora de subsistência. O que se percebe é que a comunidade kaingang da cidade, busca manter seus costumes apesar de todo o processo de aculturação que tem se imposto sobre eles.
Por fim, Marcelo do Coletivo Voe, com participação do vivente Lucas, conversaram sobre gêneros, explicando termos importantes e discutindo questões muito importantes como a saúde desses usuários e as construções e reproduções da sociedade, que se mostram como barreiras para o cuidado integral.
