• Nenhum resultado encontrado

CONSTRUINDO UMA NOVA REALIDADE E UM NOVO SABER RURAL NO ASSENTAMENTO NOVA CANAÃ QUIXERAMOBIM-CE

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "CONSTRUINDO UMA NOVA REALIDADE E UM NOVO SABER RURAL NO ASSENTAMENTO NOVA CANAÃ QUIXERAMOBIM-CE"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

CONSTRUINDO UMA NOVA REALIDADE E UM NOVO SABER RURAL NO ASSENTAMENTO NOVA CANAÃ QUIXERAMOBIM-CE

Kélia da Silva Aires Universidade Federal do Ceará – UFC keliaaires@yahoo.com.br Carla Michele Geraldo de Oliveira Universidade Federal do Ceará – UFC carlamichele@hotmail.com Maria Gerlândia Rabelo Carneiro Universidade Federal do Ceará – UFC gecerabelo@hotmail.com Resumo

O presente trabalho foi desenvolvido durante a realização do Estágio de Vivência do Programa Residência Agrária (PRA) da Universidade Federal do Ceará (UFC) no Assentamento Rural Nova Canaã situado no município de Quixeramobim-Ce. O PRA é uma das ações do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) foi criado no ano de 2004, é um espaço de formação para os futuros profissionais das Ciências Agrárias e visa estimular uma atuação comprometida com as diversas ações voltadas ao fortalecimento da Agricultura Familiar e a promoção da Reforma Agrária. O PRA trabalha com as metodologias Pedagogia da Alternância, Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários. Neste texto busca-se resgatar a experiência vivenciada no Assentamento Nova Canaã e identificar traços relativos ao modo de vida, à organização social, aos aspectos produtivos, processos educativos não formais apreendidos durante a vivência.

(2)

Introdução

O presente trabalho pretende apresentar a experiência realizada no Assentamento Rural Nova Canaã, localizado no município de Quixeramobim – Ce desenvolvida no Estágio de Vivência do Programa Residência Agrária (PRA) da Universidade Federal do Ceará (UFC). O estágio é desenvolvido por estudantes de graduação dos cursos1 do Centro de Ciências Agrárias (CCA) e por jovens assentados junto a quatorze (14) assentamentos acompanhados pelo Programa.

Objetiva-se resgatar a experiência vivenciada a partir do Estágio dando enfoque reflexivo ao modo de vida, à organização social, aos aspectos produtivos, processos educativos não formais apreendidos durante a vivência.

Metodologia

O Estágio de Vivência Residência Agrária (EVRA) orienta-se pela Pedagogia da Alternância, a metodologia Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários.

A Pedagogia da Alternância é trabalhada através de duas etapas formativas: Tempo Universidade e Tempo Comunidade. No Tempo Universidade, os estudantes universitários juntamente com os jovens2 assentados participam de capacitações, oficinas pedagógicas, grupos de estudos, seminários e congressos, visando prepará-los para as vivências em campo e ampliar os questionamentos sobre temáticas como a Questão Agrária Brasileira, Acampamentos e Assentamentos Rurais, Agricultura Familiar e Camponesa, Educação do Campo e Agroecologia. No Tempo Comunidade acontecem as vivências nos Acampamentos e Assentamentos Rurais indicados pelos movimentos sociais rurais parceiros do PRA. Neste momento também se aplica a metodologia de Análise Diagnóstico dos Sistemas Agrários (ADSA)3 visando construir um diagnóstico dos sistemas produtivos de cada assentamento acompanhado pelo

1

Agronomia, Engenharia de Pesca, Economia Doméstica, Engenharia de Alimentos e Zootecnia.

2

O PRA realizou um Projeto no ano de 2007, intitulado Juventude e Agroecologia: abrindo novas veredas para o desenvolvimento rural sustentável, na qual se previa a participação nas etapas formativas de jovens residentes nos Assentamento rurais visando ao final de 2010 capacitá-los para desenvolverem ações e práticas agroecológicas juntamente com os estudantes da universidade nos Assentamentos em que residem.

3

Esta metodologia é utilizada desde 1995, pelo Projeto de Cooperação Técnica firmado entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação – PCT INCRA/FAO. Fonte: Guia Metodológico,1999.

(3)

Programa que servirá de subsidio para a aplicação de políticas públicas de desenvolvimento para estes assentamentos.

A metodologia ADSA tem como objetivo principal identificar e classificar de forma hierárquica os diversos elementos da natureza (agroecológicos, técnicos, sócio-econômicos) que são condicionantes na evolução dos diversos sistemas produtivos, buscando compreender como eles interferem nas transformações da agricultura (DUFUMIER, 2007).

A metodologia ADSA consiste nas etapas de Análise de Paisagem, Entrevistas Históricas, Zoneamento, Construção da Tipologia de Produtores, Caracterização dos Sistemas de Produção, Avaliação Agronômica dos Sistemas de Produção e Avaliação Econômica dos Sistemas de Produção. Para este trabalho, analisou-se as etapas: Análise de Paisagem, Entrevistas Históricas, Zoneamento e Construção da Tipologia de Produtores e dos Sistemas de Produção.

Programa Residência Agrária: atuando no fortalecimento da Educação do Campo

O PRA é uma das ações do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) e surge a partir das limitações vivenciadas por profissionais diante da formação recebida nos diversos cursos das Ciências Agrárias e as dificuldades encontradas para atuarem nas áreas de Reforma Agrária e em setores da Agricultura Familiar e Camponesa (MOLINA, 2009).

O Programa foi criado no ano de 2004 em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) e Empresa de Assistência Técnica e Extensão do Ceará (EMATERCE), o Movimento Social dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Ceará (FETRAECE). Conta ainda com o apoio do: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e Observatório da Educação do Campo/SECAD/MEC.

O PRA é um espaço de formação para os futuros profissionais das Ciências Agrárias e visa a atuação comprometida nas diversas ações voltadas ao fortalecimento da Agricultura Familiar e promoção da Reforma Agrária. Também compõe a estrutura ideológica do PRA a valorização da cultura e dos saberes dos povos do campo de forma

(4)

a propiciar a estes povos melhores condições de vida e maior desenvolvimento local em bases sustentáveis. Além disso, as metodologias utilizadas propiciam uma troca de saberes entre os atores inseridos na realidade do campo.

A denominação do Programa explicita sua maior intencionalidade: ser uma política de formação profissional, com o objetivo de contribuir com a promoção do desenvolvimento rural na busca da melhoria das condições de vida no campo brasileiro. Em função de sua principal estratégia de execução, a inserção e a permanência dos estudantes universitários nos Assentamentos e áreas de Agricultura Familiar por extensos períodos, adotou-se também como sua denominação Programa Residência Agrária. (MOLINA, 2009, p.17)

É importante ressaltar que todo o processo de aprendizagem desenvolvido no PRA se dá por meio de uma construção coletiva e troca de saberes entre estudantes universitários, professores, jovens assentados e movimentos sociais parceiros e comungando com os ideais defendidos no projeto de educação do campo constrói-se um saber coletivo pautado na valorização dos povos e saberes do campo.

Marcos Históricos do Assentamento

De acordo com assentados que foram antigos trabalhadores da fazenda, a ocupação da área ocorreu no ano de 2002 e aconteceu “de forma pacífica” pelos acampados que vieram de diferentes localidades e municípios próximos à fazenda. Dentre estes estão os municípios de Senador Pompeu, Quixadá e as localidades de Belo Norte, Encantado, entre outros. Muitos deles foram advindos de outros Assentamentos sob a condição de agregados4.

É importante destacar que a articulação para ocupação da área se deu através do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Conforme relatos, trabalhadores da fazenda que conheciam integrantes do MST, diante da atual situação de falência e quase abandono da fazenda5 pelo seu proprietário, iniciaram uma articulação com o Movimento. Após a mobilização com alguns moradores antigos da

4

Família ou não, que vivem nos Assentamentos sem contudo ter a concessão de uso da terra, ou seja, ser um assentado por lei , nas maioria das vezes essas pessoas são parentes dos assentados.

5

De acordo com o artigo 184 da Constituição Federal de 1988 uma propriedade se torna improdutiva quando perde sua função social.

(5)

fazenda e outros interessados oriundos das demais localidades vizinhas, foram realizadas reuniões na comunidade nessas comunidades e no município de Quixeramobim, a fim de definir como seria a ocupação da área.

Após uma longa madrugada de preparações e temendo o que lhes podia acontecer, dezenas de pessoas caminharam por estradas escuras rumo ao sonho da “terra prometida” e armaram suas barracas de lonas. Nascia às 5 horas da manhã do dia 11/12/2002 o mais novo acampamento de trabalhadores rurais na região e este viria a tornar-se, algum tempo depois, o Assentamento Nova Canaã.

Quando os cadastrados conseguem formalmente a terra, há um sentimento muito forte de liberdade. O fato de não ter patrão, não pagar renda, de possuir uma casa de alvenaria, produz uma mudança de vida, mas essas conquistas também lhes impõem desafios. No assentamento um novo cenário é desenhado, o campo de forças e resistências passa a ter um novo funcionamento, monta-se um novo código de convivência. (SALES, 2006, p.100).

A ocupação em forma de acampamento durou um ano e sete meses. Após quase dois anos de pressões por parte do MST e de outras entidades e de uma ocupação na sede da Superintendência Estadual do INCRA Ceará foi imitida a posse da terra às famílias acampadas. O assentado Chico Eudásio lembra que o dia em que ouviram no rádio que a tão esperada desapropriação foi assinada todo o acampamento foi tomado por lágrimas, risos, abraços, e fogos de artifícios. Neste momento foi visível perceber que os olhos de seu Chico estavam cheios de lágrimas e durante alguns segundos a sua fala cessou.

Conhecendo o Assentamento Nova Canaã

O Assentamento Nova Canaã localizado a 220km de Fortaleza está situado no município de Quixeramobim localidade de Lacerda. De acordo com o INCRA possui uma área de aproximadamente 5.779 hectares, clima caracterizado como semi-árido e tem a caatinga como vegetação predominante (PLANO DE DESENVOLVIMENTO

DO ASSENTAMENTO - PDA, 2008)6.

6

Plano de Desenvolvimento de Assentamento, realizado a partir de um convênio entre a Associação de Cooperação Agrícola do Estado do Ceará - ACACE, INCRA e SEBRAE.

(6)

Foram realizadas cinco vivências em Nova Canaã. Em cada período passava-se em torno de cinco a oito dias convivendo com a realidade daquele local. Durante os períodos de vivência buscava-se a máxima inserção nas atividades desenvolvidas. A participação nas reuniões de grupos e assembléias propiciou a aproximação com as famílias e permitiu identificar traços de sua cultura, costumes e modo de vida, além da identificação de características físicas, econômicas e sociais do Assentamento.

A leitura de paisagem é realizada através de percursos sistemáticos de campo que permitam atravessar e verificar as diferentes heterogeneidades [...] as hipóteses levantadas devem ser verificadas por intermédio de entrevistas históricas com informantes que possam fornecer mais elementos capazes de explicar os fenômenos observados [...] o objetivo dessas entrevistas não é só o de estabelecer uma cronologia dos fatos ecológicos, técnicos e sociais relatados, mas, sobretudo, estabelecer relações de causa e efeito entre esses fatos (FILHO, 1999, p. 18).

Em Nova Canaã é possível perceber nas falas de muitos assentados o quanto estes gostam de viver no Assentamento e o quanto se identificam com o modo de vida no campo. Ao serem questionados acerca daquilo que identificam dentre as melhores coisas que existe no Assentamento obteve-se uma resposta quase unânime: gostam da tranquilidade, da paz e da liberdade.

O passado marcado por histórias de humilhação e situações de exploração em que os trabalhadores chegavam a trabalhar mais de 12 horas por dia, sob a ameaça de serem demitidos caso não concordassem com o regime de exploração, nos faz entender porque valorizam tanto a sua atual condição de homens e mulheres livres, produtores familiares sem patrão, que podem produzir em sua própria terra e assim escreverem a sua própria história.

A educação do campo é incompatível com o modelo de agricultura capitalista que combina hoje no Brasil latifúndio e agronegócio, exatamente porque eles representam a exclusão da maioria e a morte dos camponeses. Educação do Campo combina com Reforma Agrária, com agricultura camponesa, com agroecologia popular (MOLINA; JESUS, 2004).

(7)

O Assentamento possui 86 famílias assentadas e dentre as estruturas físicas destacam-se a existência de cisternas para todas as famílias, três igrejas, sendo duas evangélicas e uma católica, uma escola que atende estudantes até a quarta série do ensino fundamental, um clube onde são realizadas as festas, encontros e reuniões, e um amplo estábulo7.

Relatos de algumas mães que possuem seus filhos estudando na escola do Assentamento confirmam que durante o acampamento uma das atividades estimuladas pelo MST era a escolinha para as crianças acampadas. Lembram com saudades das músicas cantadas na época do acampamento e afirmam que a escola que existe hoje no Assentamento é fruto da luta feita pelo MST juntamente com os assentados para que seus filhos pudessem estudar próximo de casa.

Para Molina e Jesus (2004) entende-se por escola do campo aquela que trabalha desde os interesses, a política, a cultura, e a economia dos diversos grupos de trabalhadores e trabalhadoras do campo, levando em consideração suas diversas formas de trabalho e de organização, na sua dimensão de processo contínuo, produzindo valores, conhecimentos e tecnologias na perspectiva de desenvolvimento social e econômico igualitário dessa população.

Durante as longas caminhadas e visitas às famílias não foi difícil perceber que existe uma clara delimitação dos espaços ocupados pelas mulheres, sendo estas as principais responsáveis pelas atividades domésticas, o cuidado com os filhos, e outras atividades como cuidado com os animais de pequeno porte e os quintais. Segundo Esmeraldo (2003) essa delimitação de espaços é bastante visível nos Assentamentos. Após a chegada ao Assentamento as mulheres destinam-se mais as atividades do lar, do cuidado com os filhos, além de darem uma “ajuda” ao marido nos trabalhos da roça. Como a carga horária é extensa e exaustiva quase não há tempo para outras atividades.

Também como fruto das vivências realizadas e da aplicação da metodologia ADSA identificou-se que existem diversos fatores que condicionam uma diferenciação na realidade das famílias. Dentre os principais fatores de diferenciação podemos citar a quantidade de pessoas na família; a idade dos membros, o número de pessoas que trabalham; a maior ou menor proximidade dos recursos hídricos, entre outros. No entanto, o principal fator identificado como diferenciador das famílias é a composição da renda e, em especial a proveniente de aposentadoria e do Programa Bolsa Família.

7

(8)

Resultados e Discussão

Realizando a Leitura de Paisagem proposta pela metodologia ADSA foi possível conhecer boa parte do Assentamento e a forma de organização das famílias no espaço físico. Com os dados coletados foi elaborado um mapa (FIGURA 1) em conjunto com os jovens do Assentamento participantes do Programa. A construção do mapa foi feita a partir da soma de olhares que permitiu ampliar a visão e identificar traços de organização e de resistência camponesa que são expressos na proximidade das casas com os recursos hídricos e as estruturas sociais (igreja, clube, escola), a existência de áreas de produção coletiva, entre outros.

Na segunda fase da aplicação da Metodologia ADSA realizou-se um zoneamento com o objetivo de identificar as diferentes áreas existentes no Assentamento. Após a identificação destas áreas reorganizou-se o quadro histórico de acordo com as influências que cada fator identificado no quadro histórico exerceu sobre cada área zoneada.

FIGURA 1 - Mapa do Assentamento Nova Canaã, município de Quixeramobim-CE

Fonte: Mapa elaborado, a partir da leitura de paisagem, em 2008 por estudantes do 3º turma do Estágio de Vivência e validado pelos estudantes da 4ª Turma (Joana, Samuel, Kélia, Antonio Carlos e Klaudemir)

(9)

Como resultado do Zoneamento obteve-se a identificação de quatro áreas dentro do Assentamento que foram classificadas no mapa a seguir. (FIGURA 2).

A zona de Pecuária (zona 1) é fundamentada de acordo com a trajetória histórica devido à tradição na criação e produção de gado leiteiro. Na zona de Agricultura (zona 2) encontram-se as zonas de vazantes, broca e campo que são utilizados tanto para a agricultura quanto para a alimentação do gado. A zona de Mata Nativa (zona 3) sofreu no decorrer do processo evolutivo alterações referentes à sua extensão. Dentre as alterações descritas pelo quadro evolutivo destacamos a retirada de madeira, a queima do solo e a seca da década de 1970. A zona dos Quintais (zona 4) é caracterizada pela existência de poucos quintais produtivos em relação a quantidade de famílias assentadas.

A etapa das entrevistas históricas e zoneamento subsidiaram a elaboração do quadro histórico (QUADRO 1) do Assentamento. Neste foram destacados os principais eventos históricos que foram marcantes na trajetória de construção do Assentamento.

FIGURA 2 - Zoneamento: Zona 1 azul pecuária; Zona 2 vermelha Agricultura; Zona 3 verde Mata Nativa; Zona 4 preto Quintais

(10)

Assentamento Nova Canaã Zona 1 Pecuária Seca- Venda dos animais Centralização da produção na pecuária 1960- Administração Cláudio Mota 1964- Cheia Auge da pecuária Parceria Sudene Trabalho assalariado Construção dos estábulos 1972- Seca Mortandade do gado e endividamento com a Sudene Seca- Diminuição de campo para alimentação do gado 1986- 2ª Administração Cleiton Mota Decadência na produção e venda dos animais e maquinários Trabalho com grande exploração da mão de obra

1994-Venda da fazenda

2002-Inicio do Acampamento Assistência Técnica Incra e MST

2004 - Assentamento - Projeto São José Gado de aluguel Construção de açude Ampliação das capineiras Zona 2

Agricultura

Grande produção de algodão

Aumento da

produção pela cheia dos açudes Meia na produção Redução da produção Endividamento com a Sudene 2ª Administração piorou as condições de trabalho

Acampamento produção nas vazantes. Assistência Técnica Incra e MST

Plantação com brocas Ampliação das capineiras 2008 - Compra de trator, aumento da produção e redução no tempo gasto Aquisição debulhadeira Zona 3 Mata Nativa Mata com vegetação diversificada Agricultura para a produção individual e dividida com o dono

Seca-Diminuição de campo para

alimentação do gado

Queima de madeira Plantação com brocas Demarcação da área de reserva legal Zona 4 Quintais 20% do salário para moradia Pequena produção de animais de pequeno porte e canteiros

Aquisição das cisternas fez com que alguns moradores iniciassem a produção nos quintais. 2008 – Compra de trator, aumentando a

produção e reduzindo o tempo gasto

(11)

Foi possível identificar durante a aplicação das metodologias que a pecuária é a maior atividade produtiva dentro do Assentamento e está diretamente ligada aos traços culturais da região inserida na chamada “bacia leiteira” do estado do Ceará.

Na atividade agrícola destaca-se a predominância do plantio de feijão e milho seguido de outros alimentos plantados nas áreas de vazante. Identificou-se que os hábitos alimentares estão diretamente ligados aos plantios nas áreas de vazante. Nestas é comum a maior parte das famílias plantar mamona, batata, abóbora, melancia e pepino. As plantações em vazantes conforme os assentados são principalmente para o consumo das famílias enquanto que a produção de milho e feijão em alguns casos, em que há excedente, é vendida e compõe parte da renda familiar. Além disso, boa parte das famílias possui sua criação individual que inclui ovinos, caprinos e galinácea.

Seguindo as instruções do guia metodológico utilizado na metodologia ADSA, foi realizada a construção da tipologia dos produtores e dos sistemas de produção existentes8, quando foram utilizados os dados obtidos durante as etapas iniciais que propiciaram o conhecimento de aspectos produtivos, econômicos e sociais.

Para a construção da caracterização dos produtores e identificação dos sistemas de produção existentes foram considerados aspectos que podem diferenciar a trajetória de acumulação de capital e recursos pelas famílias. Aspectos que podem propiciar a identificação dos fatores responsáveis pela atual situação em que se encontram os produtores. São estes o acesso à terra, água, mão de obra, e tecnologia. (QUADRO 2).

QUADRO 2: Sistemas de produção identificados no Assentamento Sistema de Cultivo e

Produção

Sistema de Criação Sistema de

Transformação Feijão Milho Mamona Girassol Algodão Pecuária Caprinos Suínos Aves Carvão Queijo Nata Doce de Leite 8

Sistema de produção é a combinação das produções e dos fatores de produção como; terra, trabalho, capital de exploração em uma unidade de produção agrícola conforme explica Chombart (2001 apud DUFUMIER, 2007).

(12)

A metodologia ADSA segue após a caracterização dos sistemas de produção, porém para este trabalho damos enfoque até esta etapa que é uma importante ferramenta a ser utilizada em projetos de desenvolvimento rural e dos sistemas produtivos desenvolvidos, visto que permite conhecer as especificidades dos produtores de modo a buscar atender as suas necessidades sociais e produtivas.

Considerações Finais

A vivência realizada no Assentamento Nova Canaã propiciou uma significativa ampliação na visão acerca da realidade atual no meio rural e especificamente nos assentamentos de Reforma Agrária. A observação acerca da forma de organização social e produtiva, das atividades cotidianas, dos espaços coletivos e de lazer, e da convivência com as famílias assentadas, foi indispensável para a realização deste trabalho e principalmente para o aprofundamento de um saber ainda em construção.

A aplicação das metodologias durante o Estágio de Vivência permitiu identificar importantes características organizativas do Assentamento. A experiência relatada é fruto de caminhadas, acompanhamentos e observações feitas na realidade das famílias assentadas e tem como objetivo a construção coletiva de uma nova realidade a partir do conhecimento e entendimento da situação atual.

A caracterização dos sistemas produtivos é uma importante ferramenta para a realização de ações voltadas para a melhoria dos sistemas produtivos a partir do conhecimento da realidade de suas limitações e potencialidades. Desta forma, este estudo configura-se como uma importante base de conhecimento acerca da realidade do Assentamento Nova Canaã e podemos inferir que seu aprofundamento poderá contribuir para a efetivação de ações promotoras do desenvolvimento local.

(13)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUFUMIER, M. Projetos de desenvolvimento agrícola: manual para especialistas. Tradução de Vitor de Athayde Couto. Salvador: EDUFBA, 2007.

FILHO, D.P.G. Análise diagnóstico de sistemas agrários: guia metodológico. 1999. 63p.

MOLINA, M. C. et al. Educação do campo e formação profissional: a experiência do Programa Residência Agrária. Brasília: MDA, 2009. 424p.

MOLINA, Mônica Castagna; JESUS, Sonia M.S.A. Por uma Educação do Campo: Contribuições para a construção de um projeto de Educação do Campo. Brasília –DF: Articulação Nacional “Por uma educação do campo”, 2004.

ESMERALDO, G. G. S. L. Ceará no feminino: as condições de vida da mulher na zona rural. Fortaleza: UFC, 2003

Referências

Documentos relacionados

Sua obra mostrou, ainda, que civilização e exploração do trabalho andam juntas e que o avanço histórico do oeste brasileiro se fez com a carne e o sangue dos

Starting out from my reflection on the words cor, preto, negro and branco (colour, black, negro, white), highlighting their basic meanings and some of their

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

2 Denominação fictícia dada às escolas vinculadas.. dificultam a efetiva recuperação da aprendizagem dos alunos, além de investigar os efeitos sobre o desempenho

Para Azevedo (2013), o planejamento dos gastos das entidades públicas é de suma importância para que se obtenha a implantação das políticas públicas, mas apenas

O período de redemocratização foi consolidado com a edição da Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, instrumento jurídico democrático que restaura a

Fonte: elaborado pelo autor, 2018. Cultura de acumulação de recursos “, o especialista E3 enfatizou que “no Brasil, não é cultural guardar dinheiro”. Ainda segundo E3,..

O tema proposto neste estudo “O exercício da advocacia e o crime de lavagem de dinheiro: responsabilização dos advogados pelo recebimento de honorários advocatícios maculados