Oito passos para a implementação do projeto protagonismo
juvenil na escola
1A primeira etapa do projeto é verificar se há o real interesse de um ou mais segmentos da comunidade escolar – direção, professores, alunos, pais, funcionários - em implantar tal proposta.
Havendo o interesse, o próximo passo será construir um grupo de
apoio que coordene o projeto. Este grupo será responsável pela elaboração, planejamento, execução e avaliação das ações.
É interessante que diferentes setores da escola componham este grupo, ou seja, alunos, professores, funcionários, diretores. Quanto mais representação, mais forte e atuante será o grupo. Ele deve ser formado por voluntários, interessados em refletir e partilhar os temas a serem trabalhados.
É fundamental a participação de alunos neste grupo. As principais atribuições do grupo:
Elaborar, planejar, monitorar e avaliar as ações;
Viabilizar a capacitação dos jovens formadores sobre os temas a serem trabalhados nas ações;
Dar apoio e suporte às ações desenvolvidas pelos jovens formadores;
É importante dizer que os membros deste grupo não devem atuar na prática no processo de formação e mediação, preservando, assim a maior imparcialidade.
Com a equipe de apoio definida passaremos para as seguintes atividades:
1. Levantamento de dados
Tem por objetivo conhecer os conflitos mais comuns da escola. Trata-se de uma contextualização, um reconhecimento da realidade em que a escola está inserida. Alguns dados são muito importantes para se traçar o perfil da escola:
Número de alunos, professores e funcionários;
Turnos de aula;
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Baseado em: Cartilha de Mediadores: Como montar este projeto na minha escola? Projeto escola de mediadores. Viva Rio, Instituto NOOS, Mediare, 2002.
Formação dos professores;
Situação sócio-econômica dos alunos da escola;
Principais conflitos da escola: Quais são? Como ocorrem? Principais envolvidos?
Uma sugestão para se traçar o perfil dos conflitos é distribuir para os alunos, alguns questionários, sem a necessidade de identificação, nos quais, eles apontem situações de desrespeito, preconceito e violência – verbal, física e psicológica (bullyng), sofridas no ambiente escolar, familiar ou outros.
2. Planejamento de ação
Traçar todas as atividades que envolvem cada etapa de execução do projeto, estipulando os responsáveis e destacando o que será necessário para sua viabilização.
Definir os temas a serem trabalhados nas ações.
Obs.: Sugestão de temas: Direitos humanos; preconceito, discriminação e violência; raça e etnia; relações de gênero; diversidade sexual; DST/AIDS; gravidez indesejada;
Selecionar ou elaborar o material que será utilizado nas apostilas, leitura de apoio, dinâmicas, oficinas, palestras etc. O grupo de apoio poderá contactar ONGs, secretarias municipais, estaduais e outros grupos de sua cidade que disponham de materiais e profissionais capacitados para fazerem uma abordagem sobre os temas elencados.
3. A sensibilização
Chegou a hora de mobilizar a escola para receber a proposta a ser desenvolvida. Seu principal objetivo é criar um ambiente receptivo para que os jovens formadores, assegurados pelo grupo de apoio, implementem suas atividades.
O grupo de apoio poderá fazer com cada grupo, separadamente, a apresentação do projeto e dos jovens formadores, sempre ressaltando que a idéia principal é uma melhoria no ambiente escolar, beneficiando assim, todos os que ali convivem. Além disso, podem-se espalhar cartazes e panfletos pela escola e direcionar cartas informativas aos pais.
Todos os alunos podem se inscrever para se tornar um jovem formador de sua escola. No caso de haver muitos inscritos, o grupo de apoio deverá organizá-los em chapas que serão submetidas à eleição. Cada chapa deverá ter no máximo dez alunos.
O grupo de apoio deverá distribuí-los entre as chapas respeitando as características individuais de cada um a fim de formar um perfil de grupo que atenda as necessidades propostas. Por exemplo, não é interessante um grupo constituído apenas por alunos que demonstrem liderança, ou que sejam bons comunicadores, ou observadores. O mais interessante é que em um mesmo grupo haja indivíduos com todas essas características: liderança, comunicação, observação, organização e administração.
O grupo de apoio deverá criar uma forma de identificação dos jovens mediadores. É muito importante que eles sejam facilmente reconhecidos por todos na escola, de modo a criar confiança e legitimidade perante a escola. Uma boa sugestão é a confecção de camisetas contendo o nome do projeto, a sua função (jovem multiplicador) e o seu nome.
As principais funções dos jovens formadores/ mediadores:
Formar novos grupos de estudantes nos temas propostos (2.planejamento de ação)
Prestar atendimento individual aos estudantes que queiram orientar-se acerca dos temas propostos na formação.
Estabelecer o diálogo entre estudantes quando houver situações de conflito, que desrespeitem verbal, física ou psicologicamente uma das, ou ambas, partes envolvidas.
5. A capacitação dos jovens formadores/ mediadores
A capacitação será o momento em que os jovens formadores irão receber conhecimentos para mediarem os conflitos e didáticas para multiplicarem esse conhecimento para outros grupos. Deverão ser proporcionadas aos alunos vivências que desenvolvam a escuta ativa, o saber colocar-se no lugar do outro, o cuidado com as próprias palavras e o trabalho coletivo. Para esta parte da formação também pode ser solicitada auxílio junto aos profissionais de ONGs e secretarias do governo.
Todos os dez jovens formadores devem passar por todo o processo de formação, mas deverão especializar-se em um dos assuntos elencados no planejamento da ação (etapa 2). Assim cada um dos jovens formadores terá maior domínio sobre um tema específico, podendo ampliar, com maior facilidade, suas pesquisas sobre o assunto. No decorrer do processo o grupo de apoio poderá propor o revezamento de jovens e temas, a fim de que todos dominem o maior número de assuntos.
O projeto não visa apenas capacitar os alunos como formadores. Muito além disso pretende introduzir no ambiente escolar uma cultura de respeito ao próximo e às diversidades,
diminuindo assim a violência verbal, física e psicológica (bullyng). Exatamente por isso a sensibilização não deverá ser direcionada apenas aos alunos, mas a todos os integrantes da escola. Para tal, após a formação do primeiro grupo de jovens formadores, este, em parceria com o grupo de apoio, fará formações com os outros setores da escola (professores, diretores, funcionários, pais de alunos). Caberá ao grupo de apoio organizar essas formações.
6. A prática da formação e da mediação de conflitos
Após o processo de formação de jovens formadores devem-se iniciar de imediato as ações de formação e de mediação. Devemos ter claro que a ação de formação tem uma função de informar e prevenir atitudes de preconceito e violência no ambiente escolar. Enquanto a ação de mediação pretende intervir em situações onde estas violências já ocorreram, informando, sensibilizando, e mostrando outras formas de se encarar a diversidade.
Alunos que já praticaram ou sofreram alguma forma de preconceito ou violência verbal, física ou psicológica (bullyng) devem ter preferência na participação dos grupos de formação.
Formação:
O grupo de apoio deverá elaborar uma agenda de trabalho para este primeiro grupo.
Cada nova turma de formação não deverá ultrapassar o número de vinte alunos, que deverão ser selecionados mesclando as diversas turmas.
Grupos de jovens formadores devem ser formados nos diferentes turnos de aula.
Mediação:
Devem ser montados horários para que as sessões de mediação aconteçam.
É importante que os mediadores sempre trabalhem em duplas.
Deverá haver mediadores em todos os turnos escolares.
7. Sobre as reuniões de monitoramento e avaliação
Estas podem ser realizadas no próprio ambiente escolar, em dias e horário acordados entre os membros do grupo de apoio.
A equipe deverá realizar uma reunião quinzenal, na qual os jovens formadores/ mediadores apresentarão os casos em que foram necessárias suas intervenções. Esse prazo pode ser aumentado ou diminuído de acordo com a necessidade de cada escola.
Para as ações de formação deve ser realizada uma reunião após cada uma delas. Caso necessário os jovens formadores/ mediadores, deverão contactar o grupo de apoio durante a ação de formação, não havendo necessidade de esperar o dia da reunião agendada.
Nas reuniões os alunos deverão dialogar com o grupo de apoio sobre suas técnicas de formação e mediação, buscando o aprimoramento das atividades.
Na avaliação nada deve ficar de fora: erros, acertos, dúvidas, dificuldades, anseios, medos, inseguranças. Tudo precisa ser apresentado, discutido e avaliado. Este será o momento de verificar o que foi conseguido dentre todas as ações planejadas. Quais os modos foram mais eficazes, quais menos. É neste momento também que serão corrigidas as possíveis falhas que dificultaram o desempenho.
Para chegarmos a uma avaliação geral, deveremos somar várias avaliações:
Avaliação com o grupo de apoio: A cada encontro de monitoramento deverão ser feitas avaliações sobre o trabalho realizado no período anterior. No final de cada ciclo de trabalho esta mesma equipe deverá se reunir e avaliar a proposta como um todo.
Avaliação com os alunos capacitados: A cada novo grupo de formação, uma avaliação de satisfação dos alunos deverá ser realizada – tanto em relação aos conteúdos quanto ao formato do curso e metodologias aplicadas. É importante que nesta avaliação os alunos sintam-se confortáveis em expor as suas idéias oralmente, mas também deverão preencher um breve questionário de avaliação, elaborado pela equipe de apoio.
Avaliação com a escola: Professores, diretores e funcionários, deverão sentir-se a vontade para críticas ao trabalho e também deverão preencher o questionário de avaliação.
Vale lembrar que nem os professores nem os alunos são obrigados a preenchê-lo porém devem ser incentivados a tal, pois assim estarão contribuindo para a melhoria deste projeto.
8. Após a avaliação o projeto está acabado?
Após a avaliação, podemos dizer que o projeto foi implementado na escola. Porém para criarmos uma cultura de respeito, sem preconceitos e violências é necessário darmos continuidade a este projeto.
O grupo de apoio deverá elaborar, a cada fim de ciclo, uma nova agenda de formação de novos jovens formadores/ mediadores, a fim de que ao longo do tempo toda a escola esteja preparada para dialogar de forma madura sobre os temas selecionados. Assim os novos alunos
da escola, ingressarão em um ambiente no qual o respeito e o companheirismo são atitudes basilares.