TRANSDISCIPLINARIDADE NA PRÁTICA: RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O PROJETO DIGA SIM À PAZ NA ESCOLA ESTADUAL
CONCEIÇÃO COSTA E SILVA1
Cintiara Maia2 Nadson Castro3; Joseane Leão4 Virginia Albuquerque5
RESUMO: O presente resumo visa relatar a experiência do projeto: Transdisciplinaridade
na Prática – Diga Sim à Paz!, desenvolvido pelos mestrandos do Programa de Mestrado
em Educação Agrícola/ PPGEA/ UFRRJ, nos meses de outubro a novembro de 2012, junto à comunidade escolar da Escola Estadual Conceição Costa e Silva, localizada no bairro Equatorial, em Boa Vista, Roraima. O projeto teve como tema gerador a Violência, cujo objetivo foi promover e disseminar uma cultura de paz, já que a escola enfrenta diversos problemas relacionados ao assunto. Como metodologia professores, alunos e gestores desenvolveram diversas atividades de forma integrada e colaborativa como: produção e recital de poesias, concurso de paródias, exposição de maquetes, produção e apresentação de peças teatrais e danças, realização de oficinas e palestras, nas quais os alunos, mediados pelos professores, atuaram como protagonistas, incentivando-se, assim, o desenvolvimento e a manutenção de uma cultura de paz. Como ação afirmativa decidiu-se não utilizar o termo violência no título do projeto. Diante dos resultados positivos a comunidade escolar afirma sentir-se motivada a dar continuidade a projetos baseados na teoria da transdisciplinaridade.
PALAVRAS-CHAVE: transdisciplinaridade - projeto - violência – cultura de paz. INTRODUÇÃO
O estudo sobre a transdisciplinaridade reveste-se de fundamental importância não só para estudantes da área da educação, mas das diversas áreas do conhecimento por tratar-se da perfeita interação entre os conteúdos, permitindo o diálogo e a troca de conhecimentos e experiências.
A saber, a discussão sobre a transdisciplinaridade não é recente. Em 1994, durante o Primeiro Congresso Mundial da Transdisciplinaridade, realizado em Portugal, foi
1Relato de experiência sobre atividade prática da disciplina Transdisciplinaridade, ministrada pelas professoras Akiko Santos e Cristina Santos/ Mestrado em Educação Agrícola do PPGEA/UFRRJ.
2Mestranda do PPGEA/ Docente da área de Química do IFRR/ cintiara@ifrr.edu.br
3Mestrando do PPGEA/ Docente da área de Educação Física do IFRR/ nadsoncastro@ifrr.edu.br 4Mestranda do PPGEA/ Docente da área de Educação do IFRR/ joseanematheus@yahoo.com.br 5Mestranda do PPGEA/ Jornalista do IFRR/ virginia@ifrr.edu.br
elaborada a Carta de Transdisciplinaridade, que em 15 artigos, apresentou os princípios desta teoria. De acordo com Santos (2005), a transdisciplinaridade é uma nova abordagem científica e cultural, uma nova forma de ver e entender a natureza, a vida e a humanidade. Ela busca a unidade do conhecimento para encontrar um sentido para a existência do Universo, da vida e da espécie humana. A autora acrescenta que:
Esse novo olhar da transdisciplinaridade traz ainda um desafio maior: o de transitar pela diversidade dos conhecimentos (biologia, antropologia, física, química, matemática, filosofia, economia, sociologia). Isso requer espírito livre de preconceitos e de fronteiras epistemológicas rígidas. [...] A transdisciplinaridade exige também uma postura de democracia cognitiva (todos os saberes são igualmente importantes), superando o preconceito introduzido pela hierarquização dos saberes. (SANTOS, 2009, p. 25)
Diante de tal relevância, a proposta da disciplina Transdisciplinaridade, do Curso de Mestrado em Educação Agrícola da UFRRJ, ministrada pela referida autora, foi desenvolver um projeto em uma unidade de ensino que contemplasse tema atual e envolvesse toda a comunidade acadêmica e/ou parte dela e, cujo planejamento, culminasse em um evento no qual o eixo norteador tivesse como fundamento a transdisciplinaridade.
O local escolhido foi a Escola Estadual Conceição Costa e Silva, localizada no bairro Equatorial, zona periférica da capital, que apresenta altos índices de violência e conflitos sociais. Com cerca de 800 alunos e 90 servidores, entre equipe pedagógica e de apoio, a escola funciona nos turnos matutino e vespertino, oferecendo apenas o ensino fundamental, do 1° ao 9° ano.
METODOLOGIA
O projeto foi desenvolvido em seis etapas distintas descritas a seguir. Em outubro de 2012 foi realizada a primeira reunião com a equipe gestora da escola, quando foram apresentadas as propostas do trabalho transdisciplinar, com o intuito de levantar as ações e/ou projetos já desenvolvidos pelos professores, os quais seriam enriquecidos, bem como aprimorados com o apoio dos mestrandos do PPGEA. Ainda no mês de outubro, mediante a anuência da gestão escolar, foi realizada uma reunião com os professores e equipe pedagógica durante a qual foi apresentada a proposta de ação, que foi recebida com bastante entusiasmo pelos docentes.
Como tema gerador do projeto elegeu-se a Violência, uma vez que a comunidade escolar a vivencia em suas mais variadas formas: bullying, depredação do meio ambiente, preconceitos, falta de cuidado com o ambiente escolar, falta de humanização nas relações interescolares e outras. Após a definição do tema, os professores das diversas disciplinas, de forma integrada e com o apoio da equipe pedagógica planejaram as atividades a serem desenvolvidas com os alunos do 6° ao 9° ano, do turno vespertino, já que são as turmas consideradas mais problemáticas, com grande número de jovens em situação de risco.
Os encontros de integração e culminância do Projeto: Diga Sim à Paz!, aconteceram no mês de novembro, divididos em quatro momentos, sempre no pátio da escola, caracterizado como espaço de socialização e integração. O objetivo era discutir e refletir acerca de temas relacionados à manutenção de uma cultura de paz, por meio da humanização das relações interescolares, a saber:
1° Encontro – Dia do Meio Ambiente – Vamos Cuidar do que é Nosso! – Neste primeiro momento priorizou-se o desenvolvimento de atividades voltadas para a conscientização acerca da importância de se preservar o meio ambiente natural e o ambiente escolar, por meio de palestras, exposições de desenhos, mostra de maquetes e peças teatrais.
2° Encontro – Dia da Inclusão – O Legal é Ser Diferente! – Com esta ação pretendeu-se colocar em evidência a importância da aceitação do outro, com suas limitações físicas, psicológicas, sociais, econômicas e que, mesmo aqueles que não possuem nenhum tipo de deficiência, também possuem limitações, por meio de relatos de experiências e oficinas.
3° Encontro – Dia da Cultura – Por uma Diversidade Cultural! – As atividades deste terceiro encontro visaram à integração, socialização e promoção da cultura como um bem comum, do qual todos podem usufruir, por meio de apresentações de dança, recital de poesias, concurso de paródias.
4° Encontro – Dia da Família – A Escola é de Todos Nós! Neste dia a escola preparou-se para receber os pais e a comunidade do entorno para mais um momento de reflexão (acerca do papel da família na educação dos filhos), descontração e integração, por meio de dinâmicas e palestras.
Como produto final dos encontros produziu-se um vídeo documentário de... minutos, intitulado: Transdisciplinaridade na Prática, para compor o acervo da instituição e ser apresentado em eventos relacionados ao tema.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Cientes da proposta de se trabalhar o tema violência de forma integrada, colaborativa e transdisciplinar, a comunidade da Escola Estadual Conceição Costa e Silva não poupou esforços, e desenvolveu atividades que superaram as expectativas dado o envolvimento de todos e os resultados positivos relacionados à mudanças de comportamento e adoção de hábitos mais saudáveis no ambiente escolar.
Figura 1 e 2 – Fotos Reunião com equipe pedagógica/ professores e Oficina de Inclusão
Figuras 5 e 6 – Fotos Peças Teatrais dos alunos e convidados
Figuras 7 e 8 – Fotos Palestra sobre Inclusão e Peça Teatral
Fonte: Erick Vieira/CCS/Reitoria.
Como percebemos nas imagens dispostas acima, a transdisciplinaridade esteve presente: nas oficinas, nas peças teatrais, nas apresentações de dança, no concurso de paródia, no recital de poesias e nos demais momentos de integração de gestores, professores, alunos e pais, os quais vivenciaram experiências inovadoras e enriquecedoras. CONCLUSÕES
Ao concluirmos o Projeto: Diga Sim à Paz!, percebemos que, apesar da dificuldade que a comunidade escolar demonstrava em explicar o significado da palavra transdisciplinaridade, na prática, professores e alunos da Escola Estadual Conceição Costa e Silva já sabiam muito sobre o conceito. Diante dos resultados positivos a comunidade escolar demonstrou sentir-se motivada a dar continuidade a projetos baseados nesta
importante teoria que revela-se por meio da prática de atividades integradoras que proporcionam novos e valiosos conhecimentos.
AGRADECIMENTOS
Aos servidores e alunos da Escola Estadual Conceição Costa e Silva pela receptividade e colaboração com este trabalho.
REFERÊNCIAS
CHRAIM, Albertina de M. Família e escola: A arte de aprender para ensinar. 1 Ed. São Paulo: Wak, 2009.
CRESPO, Lia. Educação inclusiva: O que o professor tem haver com isso? Disponível em http://saci.org.br/pub/livro_educ_incl/redesaci_educ_incl.html, acesso em 03 de feve-reiro de 2012.
LIMA, Priscila A . Educação inclusiva e igualdade social. Minas Gerais: Avercamp, 2006.
MORIN, E. A cabeça bem feita: repensar a reforma. Reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
SANTOS, Akiko. SOMMERMAN, Américo. (Orgs) Complexidade e Transdisciplinari-dade: em busca da totalidade perdida. Porto Alegre: Sulina, 2009.
________________. O que é transdisciplinaridade? Publicado no periódico Rural
Se-manal, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, I parte: na semana de 22/28 de
agosto de 2005; II parte: na semana de 29/04 de setembro de 2005.
ZAGURY, Tania. Escola sem conflito: A parceria com os pais. 1 Ed. São Paulo: Editora Record, 2002.