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Palavras-Chave: Agroecologia; Sistemas agroflorestais; Assentamentos rurais; Questão agrária.

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Academic year: 2021

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ASSENTAMENTOS AGROECOLÓGICOS NO EXTREMO SUL DA BAHIA: UMA EXPERIÊNCIA EM CONSTRUÇÃO

João Portella Sobral1 Ana Paula Capello Rezende2

Daniel Leon3 Danielly Crespi4 Renato Farac Galata5 Gabriela Narezi6 João Dagoberto dos Santos7 Paulo Yoshio Kageyama8

Resumo: Projeto "Assentamentos Agroecológicos na região do Extremo Sul da Bahia"

é o resultado prático do processo de articulação multi-institucional e pioneiro no país, envolvendo os movimentos sociais de luta pela terra, a universidade, as empresas do setor florestal da região do Extremo Sul da Bahia e os órgãos públicos relacionados a questão agrária. A partir da conquista da terra, através da ocupação de fazendas das empresas de celulose, os movimentos sociais em conjunto com o Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento de Assentamentos Rurais e da Agricultura Familiar – PPDARAF (ESALQ/USP), iniciam a construção do Projeto Assentamentos Agroecológicos, com o intuito de transformar as cerca de 25 áreas ocupadas em assentamentos com base na agroecologia e nos sistemas agroflorestais. Para tanto, foram formadas equipes técnicas interdisciplinares, compostas pela universidade e pelos movimentos sociais, que vem conduzindo as atividades há aproximadamente dois anos. Os eixos estratégicos do projeto são: i) diagnóstico socioambiental das famílias acampadas; ii) processos de formação e capacitação em agroecologia; iii) criação de uma escola regional de referência em agroecologia e sistemas agroflorestais; iv) estudos de viabilidade produtiva das áreas ocupadas; v) estudos de mercado locais com foco em alimentos; vi) planejamento participativos para parcelamento dos lotes; vii) articulação com instituições públicas ligadas ao processo de criação dos assentamentos. Alguns resultados preliminares já podem ser observados, sobretudo com relação ao planejamento participativo dos assentamentos e construção da agroecologia como via estratégica para sua configuração. Trata-se de um processo inédito e inovador que pode impulsionar uma nova dinâmica socioprodutiva na região.

Palavras-Chave: Agroecologia; Sistemas agroflorestais; Assentamentos rurais;

Questão agrária.

1

Eng. Florestal. Coordenador técnico do PPDARAF, ESALQ - USP.

2

Eng. Florestal. PPDARAF, ESALQ - USP.

3

MSc. História. PPDARAF, ESALQ - USP.

4

Gestora Ambiental. PPDARAF, ESALQ - USP.

5

Eng. Florestal. PPDARAF, ESALQ - USP.

6

Pós doutoranda em Ecologia Aplicada. PPDARAF, ESALQ - USP.

7

Doutor em Recursos Florestais. Coordenador geral do PPDARAF, ESALQ - USP.

8

Professor titular do Departamento de Ciências Florestais e Coordenador Científico do PPDARAF, ESALQ- USP.

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1.Introdução

O Projeto "Assentamentos Agroecológicos na região do Extremo Sul da Bahia" é o resultado prático do processo de articulação multi-institucional e pioneiro no país. Envolvendo os movimentos sociais de luta pela terra, a universidade, empresas do setor florestal da região e os órgãos públicos relacionados à questão agrária, é uma iniciativa que espera contribuir no desenvolvimento de agriculturas de base ecológica, para reestruturar os territórios camponeses.

Na configuração atual, segundo dados de 2008 da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, com as mudanças recentes da região, mais da metade das terras ainda são ocupadas por pastagens, 55.87%. Apesar disso, foi registrada redução das áreas de pastagem por conta do avanço das áreas de plantios de eucalipto, que compõe 21,54% das terras da região9, seguidos dos remanescentes florestais que representam 14,24%, sendo estes uma mescla de matas secundárias degradadas e matas primárias alteradas, principalmente localizadas em topos de morros, reservas legais e unidades de conservação. As demais culturas como cacau, café, cana-de-açúcar e mamão, representam 6,61% da área total.Destaca-se assim o modelo de exploração presente na região, baseado nos monocultivos e no pacote tecnológico do agronegócio, liderado pelas fazendas de gado e pelos plantios de eucalipto.

Dada esta situação,os movimentos sociais da região se mobilizaram contra o modelo de exploração do agronegócio, com protagonismodo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST que ocupou fazendas das grandes empresas de papel e celulose da região: Suzano, Aracruz e Veracel. Essa iniciativa foi imediatamente seguida por outros movimentos sociais de abrangência nacional, como a FETAG, MRC, MLT, FTL e outros movimentos regionais.

Sobre esta luta, uma liderança do MST recentemente afirmou:

“nós enquanto movimento não somos contra a árvore eucalipto, a árvore pinus, contra a soja, somos contra o modelo de produção que é estabelecido, com grande extensão de terra, com o mínimo de mão de obra no campo, expulsando milhares de pessoas que estão no campo, gerando conflitos e impactos

9

Cabe aqui ressaltar que este processo de consolidação das empresas de celulose na região está em franco processo de expansão, fato ilustrado, por exemplo, pelo recente processo de compra de terras pelas empresas de papel e celulose na região, assim como pela recente duplicação da capacidade de produção da fábrica da Veracel.

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ambientais. Essa é a luta, fazer esse enfrentamento permanente no cotidiano” (REZENDE, 2012).

A reivindicação da desapropriação de terras das empresas de celulose, não é em função de sua improdutividade, como ocorre na maioria dos casos de fazendas desapropriadas para fins de Reforma Agrária, mas sim pelo histórico de intensos impactos socioculturais e ambientaiscausados na região principalmente no processo de implantação da monocultura.Fatos como expulsão de povos tradicionais de suas terras, devastação da Mata Atlântica, violência,apropriação de terras devolutas, foram comuns no referido processo.

Nessa perspectiva, a reivindicação dos movimentos sociais é pela reparação de parte do impacto sociocultural, com a devolução de terras e da dignidadeàs comunidades que ali existiam muito antes da implantação das empresas.

O propósito deste artigo é apresentar o processo de construção do Projeto Assentamentos Agroecológicos, com o fim de sistematizar a experiência e compartilhar parte dos resultados alcançados até o momento. O artigo esta dividido em três partes, a primeira apresenta os pressupostos iniciais do projeto e elementos importantes do contexto do território, a segunda, descreve os seus principais eixos estratégicos e ações que vem sendo realizadas, por último, apresentam-se algumas considerações gerais sobre resultados alcançados.

2. O Projeto Assentamentos Agroecológicos

A partir do referido processo de ocupação das terras, iniciaram-se as negociações, mediadas pela equipe do Programa de Pesquisa Para o Desenvolvimento de Assentamentos Rurais e da Agricultura Familiar – PPDARAF, entre movimentos sociais e empresas. Esse processo levou a criação do Projeto Assentamentos Agroecológicos, sendo seus principais eixos de trabalho:

1. Propiciar a efetivação do direito à segurança alimentar e nutricional por meio do desenvolvimento de sistemas produtivos diversificados e sustentáveis;

2. Contribuir para a geração de trabalho e renda por meio do manejo sustentável dos recursos naturais e do manejo da agrobiodiversidade;

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3. Estruturar uma rede de Polos de Irradiação de Agrobiodiversidade e de Tecnologias Adequadas e Apropriadas à realidade da agricultura familiar no Extremo Sul da Bahia;

4. Promover a adequação ambiental dos Assentamentos Rurais no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural do Extremo Sul da Bahia, por meio do desenvolvimento de sistemas de produção agroflorestais;

5. Contribuir para a conservação da Mata Atlântica no contexto da Agricultura Familiare na gestão da Paisagem Rural;

6. Estimular e apoiar a formação de agentes (agricultores, técnicos, parceiros); 7. Fomentar a criação e desenvolvimento de uma rede de parcerias, para construção

de políticas efetivas de desenvolvimento rural e territorial com bases sustentáveis;

8. Criar sinergismos entre ações e políticas públicas de âmbito local e regional.

Esse processo de construção aponta para um grande potencial de mudança do contexto territorial no qual se desenvolve. Seja pelo perfil das famílias acampadas, pela demanda local de alimentos, ou pela forma de fazer agricultura pautada pelos movimentos sociais.

Levantamentos preliminares nas áreas ocupadas apontam para a origem agrícola da quase totalidade das famílias, fato comprovado pela grande produção de alimentos nos acampamentos, o que aponta para um enorme potencial de mudança da dinâmica de produção de alimentos na região.

Outro ponto importante levantado como questão primordial pelos movimentos sociais é que a produção nesses assentamentos seja diferenciada, sem o uso de agrotóxicos, produzindo alimentos saudáveis e conservando a natureza.

Estudos de mercado preliminares realizados pela equipe do PPDARAF indicam que a maior parte dos alimentos comercializados na região, principalmente frutas, grãos, e boa parte das hortaliças vem dos CEASA de Vitória da Conquista/BA e Vitória/ES, o que indica a grande oportunidade de mercado para a produção de alimentos nos assentamentos.

Dessa maneira, um dos principais objetivos do Projeto Assentamentos Agroecológicos é contribuir na transformação dessas fazendas ocupadas em assentamentos rurais com base na agroecologia e nos sistemas agroflorestais.

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Cabe aqui ressaltar que do ponto de vista da educação popular, para contribuir com a construção da autonomia e promoção da dignidade e qualidade de vida das comunidades, o MST pautou no escopo do projeto a construção de um centro de formação e referência em agroecologia e sistemas agroflorestais. Este já possui uma identidade, trata-se da recém criada Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, localizada em uma das áreas de acampamento do MST, fruto dessa conquista dos movimentos sociais na região.

Em diálogo constante e respeitando as características específicas dos movimentos sociais e de cada uma das comunidades, se estátrabalhando com formação técnica, educação popular, articulação política, planejamento participativo para criação dos assentamentos, implantação de sistemas de produção de base ecológica e criação de estratégias integradas para comercialização.

Para tanto, foram formadas equipes técnicas interdisciplinares, compostas pela universidade e pelos movimentos sociais, que vem coordenando as atividades. Os trabalhos são conduzidos considerando dois núcleos de ação, um nas áreas que pertenciam à FIBRIA, com equipe formada majoritariamente por profissionais indicados pelo MST, relacionados tanto a equipe da Escola Egídio Brunetto (pedagogos, engenheiros florestais, educadores, comunicadores sociais) como às atividades de campo na construção dos assentamentos (agrônomos, engenheiros florestais, técnicos em agroecologia, agricultores); e outro nas áreas conquistadas da VERACEL pelos movimentos, não só o MST, no qual o trabalho está em fase inicial, com equipe composta por técnicos de nível superior e nível médio, de diferentes formações, ligados ao PPDARAF, sendo que, na medida em que as negociações avançam, estão sendo inseridos profissionais indicados pelos movimentos.

Todo o processo de concepção, planejamento e execução das atividades é construído em conjunto entre equipe PPDARAF e os movimentos sociais, a partir das demandas e particularidades de cada movimento e de cada uma das comunidades.

O projeto está estruturado nos seguintes eixos estratégicos:

i) Diagnóstico socioambiental das famílias acampadas:

Estão sendo realizados diagnósticos rurais participativos (DRP) em todas as áreas, que se iniciam com um questionário censitário com as famílias, identificando características de múltiplas dimensões como origem, escolaridade, saúde, produção e práticas produtivas, questões culturais,

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percepção e relação com ambiente, sonhos para o lote e para o assentamento. Também compõe essa primeira etapa do DRP o preenchimento do cadastro com as mesmas informações solicitadas pelo INCRA, para facilitar processo burocrático quando chegar o momento de criação dos assentamentos. Na sequencia serão realizadas devolutivas nas comunidades e atividades participativas para detalhar e confirmar algumas informações e junto às famílias construir bases sólidas para planejamento dos assentamentos.

Esse processo de diagnóstico busca fornecer subsídios para o planejamento participativo na criação dos assentamentos. Resultados preliminares já permitem indicar perfil das famílias, em sua maioria, como já referido nesse artigo, de origem rural, com muito conhecimento tradicional sobre agricultura; assim como principais demandas e problemas de saúde e educação, questões ambientais urgentes, como qualidade da água, destinação dos resíduos sólidos, corte de madeira em remanescentes florestais, caça, entre outros. Trata-se de uma ferramenta muito importante para o planejamento e construção, em bases de fato participativas, dos assentamentos.

ii) Estudos de viabilidade produtiva das áreas ocupadas;

Estão sendo realizados estudos de viabilidade das áreas ocupadas, no sentido de construir mapas de aptidão das áreas. Para isso, estão sendo usados mapas de declividade, mapas de classes de solo, e observações de campo. A partir dos resultados, estão sendo elaborados mapas temáticos, indicando as principais aptidões potenciais para cada área. Outro ponto importante é que, a partir desses levantamentos, também estão sendo elaborados planos de ocupação para demonstrar a viabilidade econômica dos lotes, seguindo critérios do INCRA.

iii) Planejamento participativo para parcelamento dos lotes;

Com base nos resultados do DRP e dos estudos de viabilidade das áreas, a proposta é realizara construção participativa dos assentamentos, conduzido com base em ferramentas e metodologias dialógicas, partindo de exemplos exitosos já realizados no país, principalmente pelo MST. O planejamento abordará o zoneamento e delineamento de áreas de proteção ambiental

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(Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL)), áreas de uso coletivo (produtivas, culturais e de lazer), infraestruturas coletivas (poços, estradas, arborização, escolas, postos de saúde) eparcelamento de lotes individuais, no sistema de núcleos de moradia. O planejamento de cada lote será realizado em momentos de reflexões coletivas e individuais, contribuindo para que as famílias explicitem seus sonhos e organizem seus arranjos produtivos e sua moradia orientados por princípios agroecológicos. Os movimentos vêm realizando reuniões com as comunidades a fim de iniciar os debates sobre a construção participativa dos assentamentos.

iv) Criação e estruturação da Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto;

A Escola Popular pretende contribuir com processos educadores formais e não formais na região, com foco na agroecologia, nos sistemas agroflorestais e na educação popular. Atualmente alguns cursos técnicos não formais estão sendo realizados, assim como o projeto de Alfabetização Ambientalista que visa à erradicação do analfabetismo nos pré-assentamentos envolvidos no Projeto Assentamentos Agroecológicos. Outro ponto importante é a articulação com instituições de ensino local e nacional, como o Instituto Federal Baiano, a Universidade Federal da Bahia, e o Programa Nacional de Educação para a Reforma Agrária (PRONERA). Além disso, a Escola Popular está cedendo o espaço físico para a realização das aulas do ensino médio da escola do acampamento Jaci Rocha, que funciona como extensão da escola municipal 25 de julho - Prado, que atende 60 educandos de acampamentos e comunidades rurais das proximidades. Cabe ressaltar que está em sendo elaborado coletivamente o Projeto Político Pedagógico da Escola, assim como se inicia o processo de ampliação da infraestrutura, com construção de salas, laboratórios, alojamentos, refeitórios, e outras estruturas, em um projeto que tem como princípios o uso de materiais locais e elementos da bioconstrução e da permacultura.

Outro ponto importante é a área produtiva da escola, que está sendo implantada em mutirões de trabalho e formação com os agricultores dos pré-assentamentos agroecológicos, para servir de sala de aula e estudo para os educandos, assim como contribuir para a sustentabilidade alimentar e

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econômica da escola. Entre as Unidades Produtivas em desenvolvimento podemos ressaltar os sistemas agroflorestais para produção de alimentos, as roças em policultivos, as hortas diversificadas, o horto de medicinais e aromáticas, a criação de gado leiteiro e pequenos animais em piquetes agroflorestais (junção de conceitos dos sistemas silvipastoris (SSP) e do Pastoreio Racional Voisin (PRV)), além do viveiro de mudas agroflorestais e do banco de sementes de adubação verde.

v) Processos de formação e capacitação em agroecologia;

Tanto na Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, como nos acampamentos, este em andamento uma série de processos de formação com foco na construção do conhecimento agroecológico. Do ponto de vista da Escola, podemos ressaltar o I Curso de Formação de Formadores em Agroecologia, curso modular, com três módulos de 50 horas cada eparticipação de setenta agricultores acampados e assentados e técnicos atuantes na região; e o I Curso de Formação em Bioconstrução e Permacultura, realizado em três módulos de 40h cada, com 30 acampados, assentados e técnicos da região, que, ao mesmo tempoabordou diferentes temas e técnicas construtivase contribuiu para a construção da estrutura física da Escola, criando espaços educadores. Com relação às atividades de formação nos acampamentos vale ressaltar:i) a realização de oficinas temáticas – compostagem, hortas, caldas orgânicas; ii) o processo de implantaçãode áreas experimentais demonstrativas de sistemas agroflorestais e agroecológicos, chamadas também de salas de aula, ou áreas escola; e iii) mutirões agroecológicos, realizados periodicamente em cada uma das áreas, onde são abordadas, ao longo de um dia, questões agroecológicas através de práticas e observação de campo, plantios,diálogo de saberes sobre temas específicos, uso de flanelógrafo e outras ferramentas lúdicas como a apresentação de vídeose debates.

vi) Estudos de mercado locais com foco em alimentos;

Está sendo realizado um amplo estudo de mercado nos municípios da região, com foco na caracterizaçãoda cadeia produtiva de alimentos na região. Para tanto, estão sendo feitosestudos e levantamentos em feiras livres,

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supermercados, hortifrútis, hotéis e pousadas, com turistas e setores das prefeituras municipais relacionados à operacionalização do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e do Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PAA). Com base nos resultados, partindo de uma ampla caracterização da dinâmica e demanda de produção de alimentos na região, será possível construir estratégias comerciais integradas, orientando a produção e beneficiando os assentamentos.

vii) Articulação com instituições públicas ligadas ao processo de criação dos assentamentos.

Ao longo de todo o processo, uma dimensão imprescindível é articular e negociar com instituições públicas relacionadas à questão agrária. Destaca-se o INCRA, na esfera da presidência nacional e da superintendência estadual, as secretarias estaduais de Desenvolvimento Agrário e Desenvolvimento Social, além de outros setores governamentais, como o Gabinete do Governador, e a Secretaria de Relações Institucionais. Estas estão envolvidas conjuntamente, e tem se reunido sistematicamente com as empresas, os movimentos sociais e coordenadores do PPDARAF a fim de construir o procedimento mais rápido para efetivar a criação desses assentamentos.

3. Considerações Finais

Com efeito, alguns resultados preliminares já podem ser observados, sobretudo com relação ao planejamento participativo dos assentamentos eà construção da agroecologia como via estratégica para sua configuração. As comunidades já estão em mobilizadas para o planejamento do assentamento, em processos conduzidos pela equipe do projeto e pelas lideranças dos movimentos sociais.

Ao mesmo tempo, já começam a aparecer resultados positivos da transição da agricultura convencional praticada nessas áreas para agroecologia, com agricultores entusiasmados com os resultados observados em suas práticas cotidianas. Em algumas áreas o uso de agrotóxicos já não existe. Em todas as áreas já existem agricultores com bons resultados provenientes da mudança para a agroecologia.

Outro resultado relevante diz respeito à imagem que está se formando na sociedade e nas instituições locais com relação a essas áreas, antes tidas como invasões,

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agora começam a ser consideras potenciais exemplos de produção de alimentos aliadas a conservação ambiental. Manifestações individuais em eventos regionais e posturas institucionais vêm comprovando essa afirmação.

Trata-se de um processo inédito e inovador que pode impulsionar uma nova dinâmica socioprodutiva e emancipadora na região. Uma nova dimensão do protagonismo de assentamentos rurais na produção de alimentos e na conservação da biodiversidade, uma nova configuração territorial de uso e ocupação da terra. Uma perspectiva promissora, que os movimentos sociais, a partir de sua conquista, vêm construindo em aliança com a universidade e levando a uma nova postura das empresas do setor celulósico na região e no país.

4. Referências

SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA BAHIA. Uso

atual das terras: Bacias do Extremo Sul e do Rio Jequitinhonha. – Salvador: SEI,

2008. 176 p. il. (Série estudos e pesquisas, 81).

REZENDE, Ana Paula Capello. ESALQ e MST no processo de construção de um Centro de Formação, Educação e Pesquisa em Agroecologia e Sistemas Agroflorestais no extremo sul da Bahia. Relatório de Estágio Profissionalizante. ESALQ, USP. Piracicaba, Junho, 2012.

Referências

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