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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL EM PERNAMBUCO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO.

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(1)

EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO.

Processo : Recurso eleitoral 0600294-48.2020.6.17.0057

Recorrentes : José Wellington Cordeiro Maciel, Israel Lima Braga Rubis e Maria Madalena Santos de Britto

Recorrida : Coligação Muda Arcoverde

Relator : Juiz Rodrigo Cahu Beltrão

Parecer 921/2021-PRE/PE

ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITO-RAL. ABUSO DE PODER ECONÔMICO E POLÍTICO. NULI-DADE. EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO REJEITADA. CERCEA-MENTO DE DEFESA. INTERESSE-UTILIDADE. AUSÊNCIA. USO DE LOGOTIPO DE PREFEITURA EM LANÇAMENTO DE PRÉ-CANDIDATURA. CARREATA PROMOVIDA POR SECRE-TARIA MUNICIPAL DE SAÚDE COM USO DE PALAVRAS DE ORDEM CONTRÁRIA A CANDIDATOS DE OUTRAS AGREMI-AÇÕES. TENTATIVA DE IMPEDIR CARREATA DE CANDIDA-TOS DE OUTROS PARTIDOS.

1.É válida sentença proferida por juiz réu em exceção de suspei-ção recebida sem efeito suspensivo (art. 146, § 2o, I, do CPC) e,

ao final, julgada improcedente.

2. Ausência de envolvimento ou de benefício direto do candida-to a prefeicandida-to na carreata promovida pela Secretaria Municipal de Saúde e na tentativa de boicote a evento de outros candida-tos. Embora comprovados participação e benefício direto no uso de logotipo da prefeitura em evento não oficial que culminou na divulgação de sua pré-candidatura, isto isoladamente não pos-sui gravidade suficiente para justificar aplicação das sanções do art. 22, XIV, da LC 64/1990.

3. Não envolvimento e inexistência de benefício direto auferido pelo recorrente candidato a vice-prefeito. Provimento do recur-so.

4. Parecer pelo conhecimento e provimento dos recursos de MARIA MADALENA SANTOS DE BRITTO; de JOSÉ WELLINGTON CORDEIRO MACIEL e ISRAEL LIMA BRAGA RUBIS.

1 R

ELATÓRIO

1. Trata-se de recursos interpostos por JOSÉ WELLINGTON CORDEIRO MACIEL,

ISRAEL LIMA BRAGA RUBIS, respectivamente candidatos eleitos a Prefeito e

Vice-Prefei-to do Município de Arcoverde [PE], e MARIA MADALENA SANTOSDE BRITTO, ex-Prefeita

(2)

Esta julgou procedente ação de investigação judicial eleitoral (AIJE) ajuizada pela COLIGAÇÃO MUDA ARCOVERDE para reconhecer a prática de abuso de poder econômico

e político e das condutas vedadas a agentes públicos em campanha tipificadas no art. 73, I e III, da Lei 9.504, de 30 de setembro de 1997 (Lei de Eleições), e: (a) cassar os registros de candidatura dos réus componentes da chapa majoritária; (b) decretar a inelegibilidade de todos pelo prazo de oito anos; e (c) condená-los a pagar multa de 20.000 UFIRs individualmente. O juízo singular também condenou a coligação autora a pagar multa de mesmo valor por litigância de má-fé.

2. Segundo a petição inicial, os réus e a COLIGAÇÃO UNIÃO POR ARCOVERDE1 foram

acusados de praticarem quinze condutas que se amoldam Às condutas vedadas previs-tas no art. 73, I, II e IV, da Lei de Eleições, e que, em conjunto, demonstram abuso de

poder político e econômico. O juízo da 57a ZE concluiu, em sentença (documento

13119611), que há provas de cinco delas:

a) emprego de logomarca da Prefeitura de Arcoverde em imagem divulgada em

aplica-tivo de mensagens instantâneas (Whatsapp) na qual Ma MADALENA S. DE BRITTO

anun-ciava JOSÉ WELLINGTON C. MACIEL como seu candidato à sucessão na gestão pública

municipal (acusação 1);

b) uso de veículos da Secretaria Municipal de Saúde em evento ocorrido em 13 de agosto de 2020 (carreata) no qual foram proferidos ataques a opositores da gestão pú-blica municipal e referências às eleições que estavam por ocorrer (acusação 6);

c) aparelhamento das Secretarias Municipais de Saúde e de Assistência Social com vis-tas a distribuição de benesses à população, com objetivo eleitoral (acusação 9);

d) utilização de plataforma de televisão online (“TV LW”) para realizar evento em

fa-vor de candidato a vereador do MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO (MDB), em 3 de

outubro de 2020, com exclusão de candidatos de outras siglas (acusação 12); e

e) interdição de via pública nas vésperas de dia (2 de outubro de 2020) no qual estava programada realização de carreata em favor de candidatos de coligação adversária.

3. Os embargos de declaração 13119911, opostos por MARIA MADALENA SANTOS DE

BRITTO, foram rejeitados (doc. 13120111).

4. Nas razões 13120011, JOSÉ WELLINGTON e ISRAEL RUBIS alegaram,

preliminar-mente, que a sentença é nula por cerceamento do direito de defesa devido: (a) ao inde-ferimento do pedido de realização de perícia no vídeo 13188717; e (b) à ausência de sua intimação para se manifestar sobre prova alegadamente extemporânea apresenta-da pelo Ministério Público Eleitoral no primeiro grau de jurisdição. No mérito, recha-çaram os fundamentos da sentença e enfatizaram que não praticaram nem tinham prévio conhecimento das condutas objeto desta demanda.

1 Posteriormente excluída do polo passivo da demanda em decisão interlocutória por manifesta

(3)

5. Nas razões 13120461, Ma MADALENA BRITTO levantou preliminar de nulidade da

sentença em razão da suspeição do juiz que proferiu a sentença recorrida. Também alegou cerceamento de defesa com os mesmos argumentos levantados no outro recur-so e pelo fato de o juízo singular ter-lhes condenado com base em prova recur-sobre a qual não teve oportunidade de se manifestar, embora houvesse determinado realização de outra diligência que sequer fora cumprida. No mérito, refutou os fundamentos da con-denação. Além disso, defendeu que a coligação recorrida incorreu em litigância de má-fé, por haver formulado demanda sem lastro probatório mínimo, consoante reconheci-do em sentença, e apontou que esta foi a única AIJE ajuizada no Estareconheci-do de Pernambu-co julgada antes do primeiro turno das eleições e que impôs cassação do registro de candidatura e inelegibilidade aos réus, o que reforçaria a parcialidade do magistrado singular.

6. A coligação recorrida contra-arrazoou (doc. 13120861).

7. Em seguida, os autos vieram ao Ministério Público Eleitoral com vista.

8. É o relatório.

2 P

RELIMINARMENTE

:

2.1 R

EQUISITOSDE

A

DMISSIBILIDADE

9. Os recursos são tempestivos. Embora JOSÉ WELLINGTON e ISRAEL RUBIS tenham

sido intimados da sentença 13118611 em 13 de novembro de 2020, a oposição dos em-bargos de declaração 13119911 no dia seguinte interrompeu o prazo recursal – que não

tinha voltado a correr no momento de sua interposição (em 16 de novembro). MARIA

MADALENA BRITTO foi intimada da sentença que negou provimento a seus embargos de

declaração em 17 de novembro e protocolizou seu recurso em 20 de novembro. Por-tanto, ambos os recursos foram interpostos no prazo de três dias do art. 258 do Código Eleitoral.

2.2 A

USÊNCIADE

S

USPEIÇÃODO

J

UÍZO

(E

XCEÇÃO

0600518-83.2020.6.17.0057)

10. MARIA MADALENA BRITTO alegou que a sentença é nula porque foi proferida pelo

juiz eleitoral DRAUTERNANI MELO PANTALEÃO antes do julgamento da exceção de

sus-peição 0600518-83.2020.6.17.0057.

11. Em primeiro lugar, o relator daquela exceção a recebeu sem efeito suspensivo,

nos termos do art. 146, § 2o, I, do CPC2 (decisão 11962611), de modo que o magistrado

singular não estava impedido de sentenciar esta demanda.

(4)

12. Em segundo lugar, essa corte regional rejeitou a alegação de suspeição, em acór-dão assim ementado:

ELEIÇÕES 2020. EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO. ARCOVERDE. ALEGAÇÃO DE PARCIALIDADE NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO JUDICANTE. AFETAÇÃO PES-SOAL. AMIZADE ÍNTIMA COM CAUSÍDICO. INEXISTÊNCIA. INIMIZADE CA-PITAL COM CANDIDATO AO CARGO DE VICE-PREFEITO. INEXISTÊNCIA. EXCEÇÃO INTERPOSTA HÁ 3 ([...]) DIAS DO PLEITO. AUSÊNCIA DE DE-MONSTRAÇÃO DE FEITO ESPECÍFICO PARA FINS DE ARGUIÇÃO DE SUS-PEIÇÃO. IMPROCEDÊNCIA DA EXCEÇÃO. ARQUIVAMENTO.

1. Caso tivesse a pretensão de impugnar a presença do Magistrado Requerente na condução do processo eleitoral na cidade de Arcoverde, deveria a Coligação Excipiente ter manejado as medidas de impedimento junto ao TRE-PE em sede administrativa, quando o mesmo foi designado pelo Tribunal para a coordenação das eleições de 2020 em Arcoverde, entretanto, no atual estágio do processo eleitoral, onde o subscritor já realizou a maioria dos atos preparatórios, medidas administrativas e atuação jurisdicional, não se faz possível o seu afastamento, mormente por não ter sido demonstrado especificamente em qual processo o mesmo está impossibilitado de atuar.

2. Inexistência de amizade íntima entre esse julgador e o advogado PEDRO MELCHIOR DE MÉLO BARROS. Causídico que não está atuando na Justiça Eleitoral em face da Coligação Excipiente.

3. Fotografia na qual constam o magistrado, a sua esposa, o advogado PEDRO MELCHIOR DE MÉLO BARROS e sua esposa, além do colunista social ADILSON MENDES, foi realizada aproximadamente a uma década em evento ocorrido na cidade de Arcoverde, ressaltando que por ser pessoa pública que goza do respeito da sociedade arcoverdense, várias pessoas pedem para registrar fotografia com o juiz, de modo que além de não ser atual, a fotografia não apresenta nenhuma possibilidade de constituir comportamento suspeito.

4. Como afirmou a própria Excipiente, o referido advogado não está atuando no processo eleitoral em curso perante a 57.a Zona Eleitoral, em favor da Coligação Muda Arcoverde ou do Sr. JOSÉ CAVALCANTI ALVES JÚNIOR, conhecido como ZECA CAVALCANTI, o que se constatou mediante levantamento realizado na secretaria do juízo.

5. O fato de ter patrocinado ação judicial tendo o Magistrado como Autor, bem como por ser advogado do Sr. JOSÉ CAVALCANTI ALVES JÚNIOR, não consubstancia nenhum liame que sustente a suspeição, pois como se afirmou, o referido advogado não está patrocinando a defesa do candidato na Justiça Eleitoral.

6. O processo no qual o advogado atuou como representante processual do magistrado, encontra-se arquivado desde 17 de julho de 2019, conforme se vê da certidão constante às fls. 188 dos presentes autos.

7. A amizade ou inimizade, especialmente em relação ao advogado, deve ser significativa, a ponto de abalar a imparcialidade do magistrado. Não basta, por isso, que o juiz conheça a parte ou o seu advogado. O fundamental é o grau da parcialidade que essa amizade ou inimizade opera no julgador, eis que, a lei utiliza conceitos indeterminados que deverão ser preenchidos no caso concreto.

§ 2o Distribuído o incidente, o relator deverá declarar os seus efeitos, sendo que, se o incidente for recebido:

(5)

8. A contratação de prestação de serviços advocatícios por magistrado, mormente se o vínculo já se extinguiu antes mesmo do ajuizamento do processo em que o causídico atua e no qual se alega a existência de favorecimento, não está entre as causas de suspeição do art. 145 do CPC/2015.

9. Não se mostra suficiente para comprovar a existência de amizade íntima entre o juiz e o advogado de uma das partes o fato de o causídico ter prestado em momento anterior serviços de advocacia para o magistrado.

10. A simples insatisfação do excipiente com o resultado do julgamento não configura parcialidade, nem enseja impedimento ou suspeição dos magistrados. 11. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é pacífica no sentido de afastar alegação de parcialidade fundada em meras conjecturas e abstrações sobre o interesse e conduta do magistrado.

12. Recebimento do incidente sem efeito suspensivo, devendo o magistrado continuar à frente de todo o processo eleitoral no exercício das funções junto à 57a Zona Eleitoral – Arcoverde.

13. Ambos os argumentos, quais sejam, a amizade com advogado que é patrono de candidato adverso ao da coligação, bem como a suposta alegação de que o magistrado seria inimigo do candidato a vice-prefeito da Coligação União por Arcoverde, Sr. ISRAEL LIMA BRAGA RUBIS, não servem para dar guarida e sustentação à exceção de suspeição.

14. Dos argumentos trazidos em sua defesa, depreende-se que não há amizade íntima do magistrado com o advogado mencionado, ressaltando, inclusive que o causídico não está a defender quaisquer dos candidatos neste pleito eleitoral municipal de 2020, o que por si só afastaria a exceção.

15. Diante de todo o exposto, e analisadas detidamente as razões apresentadas pelo magistrado, entendo restar demonstrada a inexistência de elementos mínimos necessários para que se possa concluir pela suspeição e consequente afastamento do magistrado do exercício das funções eleitorais à frente da 57a Zona Eleitoral – Arcoverde.

16. Realizado o pleito eleitoral, não há notícias de qualquer irregularidade ocorrida no município de Arcoverde, tendo sido proclamado o resultado das eleições para os cargos de Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores sem quaisquer incidentes.

17. Improcedência das arguições levantadas. Determinado o arquivamento da presente exceção de suspeição.

13. A preliminar de nulidade deve, portanto, ser afastada.

2.3 A

USÊNCIADE

C

ERCEAMENTODE

D

EFESA

14. Os recorrentes suscitaram cerceamento de defesa com três argumentos:

(1) a realização da perícia requerida no vídeo 13188717 (renumerado para 13106211 no Sistema PJe utilizado por essa corte) e indeferida pelo juízo singular é imprescindível para comprovar sua manipulação e para demonstrar que a coligação autora praticou fraude processual;

(6)

(2) não se concedeu ao polo passivo da demanda oportunidade para se manifestar so-bre o procedimento preparatório 5/2020 (doc. 13116861), juntado

extemporaneamen-te pela promotoria da 57a ZE; e

(3) o juízo de primeiro grau julgou procedeu a acusação 6 com base em documentos sobre os quais os recorrentes não tiveram oportunidade de se manifestar (informações contidas no portal da transparência da Prefeitura de Arcoverde acerca do vínculo

exis-tente entre FÁBIO SANTOS – locutor do carro de som que supostamente proferiu as

fra-ses de cunho eleitoral ora impugnadas) a despeito de existir decisão judicial anterior não cumprida que determinava expedição de ofícios àquela prefeitura.

15. Nenhuma dessas alegações prospera.

16. Não mais subsiste interesse-utilidade para realização de perícia no vídeo

13106211, pois: (a) de acordo com a petição inicial, a coligação autora o apresentou

como prova da acusação 3 (promoção da imagem de JOSÉ WELLINGTON CORDEIRO

MACIEL antes de iniciado o período de propaganda), que foi julgada improcedente

pelo juízo de primeiro grau; e (b) embora tenha indeferido a perícia, o juízo da 57a ZE

não apenas reconheceu a falsidade desse vídeo como concluiu que ele demonstra frau-de processual por parte da coligação autora, motivo pelo qual aplicou à coligação auto-ra multa por litigância de má-fé. Ademais, a constatação de que o conteúdo desse ví-deo foi adulterado não põe em cheque o resto do conjunto probatório – cuja autentici-dade sequer foi questionada pelos réus.

17. É falsa a afirmação de que não lhes foi concedida oportunidade de se

pronuncia-rem sobre o procedimento preparatório 5/2020. A documentação foi juntada aos au-tos em 30 de outubro de 2020, em consequência de pedido formulado pelo órgão do MPE na audiência de instrução realizada no dia anterior (ata de audiência 13130361); após sua juntada, os réus não apenas foram intimados para apresentar ale-gações finais como protocolizaram uma série de petições com pedidos antes de prola-tada a sentença em 13 de novembro de 2020, de modo que os recorrentes tiveram quatorze dias para se manifestarem sobre a documentação.

18. Em relação ao argumento secundário relativo à preclusão para apresentação

des-sa prova, reitera-se que o pedido foi formulado em audiência de instrução – ato pro-cessual cuja finalidade precípua é produzir provas – de modo que não cabe falar em extemporaneidade da produção. Por fim, o art. 179, II, do Código de Processo Civil, dispõe que o Ministério Público, na qualidade de custos jurisdictionis, “poderá produ-zir provas, requerer as medidas processuais pertinentes e recorrer.”

19. Por derradeiro, embora o juízo singular tenha julgado procedente a acusação 6,

as informações obtidas no portal da transparência da Prefeitura de Arcoverde não fo-ram usadas para fundamentar esse capítulo da condenação. Em verdade, uma vez que o juízo singular concluiu que ficou comprovada “[…] a utilização dos bens públicos para inegável realização de ato político” (sem destaque no original), tornou-se

(7)

irrele-vante investigar a identidade do locutor que conduziu a carreata e a natureza do víncu-lo existente entre ele e aquela prefeitura para fins de caracterizar a conduta vedada pelo art. 73, I, da Lei 9.504/1997. Mais uma vez, portanto, os recorrentes carecem de interesse-utilidade em relação ao ponto.

20. Diante do exposto, opina-se por rejeição da preliminar.

3 M

ÉRITO

3.1

DO

A

BUSODE

P

ODER

E

CONÔMICOE

P

OLÍTICO

21. Neste subtópico, esta Procuradoria Regional Eleitoral analisará as condutas

ap-tas a configurar abuso de poder econômico e político por parte dos réus. De início, re-gistra-se concordância com as conclusões expostas no parecer 13119011 da promotoria

da 57a ZE e da sentença em relação à ausência de provas acerca das acusações 2, 3, 4,

5, 7, 8, 10 e 11, e a legalidade das condutas objeto das acusações 14 e 15.

22. Em relação à coleta de dados realizada pelas Secretarias de Saúde e de

Assistên-cia SoAssistên-cial do Município de Arcoverde (acusação 9), é preciso reconhecer que:

(a) não há provas de efetiva distribuição de benesses à população com

ob-jetivo eleitoral, circunstância suficiente para afastar os ilícitos previstos nos arts. 39,

§ 6o, e 41-A, da Lei 9.504/1997;

(b) ainda que não tenha sido juntado aos autos o plano de governo que alegadamente fundamentou a realização do levantamento, a realização deste não é ilegal por si – aliás, nenhuma ação governamental deveria ser realizada ou autorizada sem prévio estudo acerca das necessidades que se visa a suprir; e

(c) as conclusões do juízo sentenciante de que o trabalho desenvolvido pelos então ser-vidores daquelas secretarias foram realizados em horário de expediente por se trata-rem de ocupantes de cargos em comissão e de que a não entrega do plano de governo comprova o aparelhamento da máquina pública municipal “[…] para fins de propiciar a entrega de benesses visando o fomento da candidatura dos réus” não encontram res-paldo em provas, ainda mais diante da robusta prova testemunhal em sentido contrá-rio (depoimentos de testemunhas reduzidos a termo na ata de audiência 13130361).

23. Quanto à acusação 12, o juízo singular equiparou os serviços da “televisão

onli-ne” TV LW com as transmissões televisivas em evento on line realizado em 3 de outu-bro de 2020 com candidatos a vereador do MDB; o raciocínio subjacente a esse ponto reside na equiparação das normas formas de comunicação proporcionadas pela difu-são da internet em larga escala com os meios de comunicação social tradicionais (rá-dio e televisão) no que tange à manutenção da isonomia entre candidatos, haja vista a ausência de prova de que candidatos de outras agremiações tenham sido convidados

(8)

para realizar programa assemelhado. Com o devido respeito, a equiparação é equivo-cada.

24. Embora esta Procuradoria Regional Eleitoral compartilhe da preocupação do

juí-zo singular quanto ao impacto que a internet (por meio de redes sociais, aplicativos de transmissão de mensagens instantâneas e outras formas de transmissão de conteúdos) tiveram no processo eleitoral em geral, o tratamento legal não é uniforme para todos os meios de comunicação social no tocante à preservação da igualdade entre candida-tos.

25. O critério de distinção legal é razoável pois, enquanto compete ao usuário buscar

e escolher o conteúdo que deseja consumir, os telespectadores e ouvintes não têm mei-os para buscar o conteúdo de seu interesse e pmei-ossuem liberdade de escolha sensivel-mente menor em relação ao conteúdo transmitido na televisão e no rádio – basica-mente trocar de canal ou desligar o aparelho transmissor. Isso também justifica o fato de os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens ser monopólio estatal passí-vel de concessão pelo Poder Executivo a particulares (art. 236 da Constituição da Re-pública), mas não o acesso e distribuição dos meios de comunicação social disponibili-zados pela internet.

26. Portanto, são irretocáveis os argumentos lançados pelo promotor da 57a ZE no

parecer 13132611, cujos principais excertos sobre o ponto transcrevem-se abaixo: […] ficou esclarecido em audiência que a “TV LW” na verdade se trata de uma “TV Web”, ou seja, segundo esclarecimento da testemunha THIAGO FELIPE BEZER-RA DOS SANTOS oque se faz é filmar o conteúdo a ser exibido e postá-lo em redes sociais.

Não se trata de uma rede televisiva tradicional com alcance regional ou nacional, caso em que, sem dúvidas representaria abuso de poder econômico e traria dese-quilíbrio à disputa eleitoral.

Outrossim, se é certo que a testemunha afirmou que a “TV LW”, em seus canais nas redes sociais facebook, youtube e instagram possui algumas dezenas de milha-res de inscritos, certamente no meio de tais inscritos existem milhamilha-res de eleitomilha-res da coligação representante já que a referida “TV” existe há anos e não foi criada para fins específicos eleitorais!

O uso do referido canal para postagem de lives com os candidatos da coligação representada em nada desequilibra a disputa do corrente pleito.

Isso porque com um smartphone e acesso à internet a coligação representada po-deria perfeitamente realizar a sua própria live e, se valendo do potencial “virali-zante” da rede mundial de computadores, atingir o mesmo número de pessoas que visualizaram a live dos seus concorrentes na corrida eleitoral.

27. O fato de os réus terem produzido conteúdo para meio de comunicação

disponi-bilizado exclusivamente pela internet não caracteriza, por si, abuso de poder econômi-co ou polítieconômi-co. Como não há provas de que o econômi-conteúdo produzido violou os arts. 57-A a 57-J da Lei de Eleições, o fato de seus adversários não terem lançado mão das mesmas

(9)

estratégias em campanha não pode implicar que os recorrentes incidiram em práticas abusivas porque o fizeram.

3.2 A

USÊNCIADE

P

ROVADEQUEO

C

ARDFOI

C

ONFECCIONADOPELOS

R

ECORRENTESOUA

M

ANDODOS

M

ESMOS

28. A sentença recorrida entendeu que a veiculação de um card, divulgando

entre-vista com a participação da Prefeita e o recorrente José Wellington Cordeiro Maciel, configura abuso de poder político em razão de constar a logomarca da gestão munici-pal.

29. Entretanto, não há provas de que o mencionado card tenha sido elaborado ou

di-vulgado pelos ora recorrentes. O que se tem notícia é que foi didi-vulgado em grupo da rede social Whatsapp pelo responsável do número de celular (87) 9185-5792, que atende pelo nome de “Naldinho”, conforme print da tela apresentada nestes autos.

30. A Coligação Muda Arcoverde não se desincumbiu de provar quem é o titular

des-sa linha de celular, nem demonstrou qualquer relação entre o titular desse perfil e os recorrentes, não havendo prova alguma de serem os recorrentes os responsáveis pela veiculação do card.

31. O que se observa é que não existe prova de qualquer postagem em página oficial

por parte da Prefeitura de Arcoverde, ou de qualquer outro veículo de publicidade, nem prova da utilização de recursos públicos na produção ou divulgação do material em questão, nem do envolvimento dos recorrentes, não havendo suporte probatório para uma condenação por abuso de poder político.

32. Diferentemente do afirmado na sentença não houve a utilização de qualquer

lo-gomarca da administração municipal em material oficialmente produzido pela Prefei-tura, nem pelos candidatos ora recorrentes, não ficando demonstrada qualquer ligação entre a produção e divulgação do material com os recorrentes.

33. Destaque-se, ainda, que o recorrente Israel Lima Braga Rubis, ao tempo da

en-trevista, em 03/07/2020, não integrava a Coligação União por Arcoverde, não toman-do conhecimento toman-do convite veiculatoman-do em grupo de Whatsapp, uma vez que o seu apoio político na chapa de Wellington só ocorreu em 04/09/2020.

3.3 U

TILIZAÇÃODE

V

EÍCULOSDA

S

ECRETARIADE

S

AÚDEPARAA

R

EALIZAÇÃODE

C

ARREATA

34. Com relação a esta acusação, também não restou comprovado o abuso do poder

político ou econômico por parte dos ora recorrentes, a uma, porque os fatos aqui rela-tados ocorreram em 13/08/2020, antes dos recorrentes figurarem como candidatos, pois a convenção que formalizou a candidatura dos mesmos foi realizada em

(10)

13/09/2020, isto é, um mês após o ocorrido. E o recorrente Israel Lima Braga Rubi só formalizou sua candidatura como vice-prefeito de José Wellington em 04/09/2020. Portanto, há incompatibilidade temporal entre a data do fato apontado como abuso de poder político ou econômico com as datas das candidaturas dos recorrentes.

35. A duas, não restou demonstrada a participação dos recorrentes no evento uma

vez que os mesmos não integravam a administração municipal. Trata-se de fala de ter-ceiro estranho ao processo, atuando como locutor do evento, sem a presença dos re-correntes, que sequer eram candidatos.

36. Deste modo, entende este representante do Ministério Público Eleitoral que não

há provas suficientemente aptas a configurar o desequilíbrio do pleito eleitoral, a pon-to de se cassar o registro da candidatura dos recorrentes, com a consequente inelegibi-lidade dos mesmos, em razão ato praticado por terceiro, sem qualquer participação dos recorrentes, ou a pedido dos mesmos, não restando caracterizada a gravidade exi-gida pelo inciso, XVI, do art. 22, da Lei Complementar n.º 64/90.

3.4 A

USÊNCIADEPROVADAPARTICIPAÇÃODOSRECORRENTESNA

INTERDIÇÃODAVIAPÚBLICA

37. A sentença recorrida entendeu que houve intervenção administrativa no pleito

eleitoral, com a utilização de bens e servidores públicos para o fechamento de via pú-blica, caracterizando abuso de poder político. Entretanto, entende este representante ministerial, que mais uma vez não ficou demonstrada a participação dos recorrentes nos fatos relatados.

38. O conjunto probatório carreado aos autos, com depoimentos e fotografias,

indi-cam que a via pública em questão, a Avenida Conselheiro João Alfredo, já vinha so-frendo intervenções com obras de engenharia para recuperação da via, antes mesmo da candidatura dos recorrentes.

39. Várias fotografias foram juntadas aos autos demonstrando que a citada Avenida

de fato estava bastante desgastada, precisando da interdição de alguns trechos com fito de efetuar os consertos necessários, não restando caracterizado o abuso de poder político da administração municipal, muito menos qualquer ingerência dos recorren-tes na citada interdição da via pública. Digno de nota é que a Avenida em comento foi liberada antes da realização da carreata da Coligação Muda Arcoverde, ora recorrida.

40. Falta prova do envolvimento do recorrente JOSÉ WELLINGTON CORDEIRO MACIEL

ou de ter sido diretamente beneficiado, pelos fatos relativos à acusação 6, mesmo con-siderando que sua posição de pré-candidato da situação era conhecida desde pelo me-nos 5 de julho de 2020. Seu nome não foi mencionado na carreata ocorrida em 13 de agosto e as palavras proferidas pelo locutor daquele evento não visaram a impulsionar

(11)

a sua candidatura, mas a menosprezar todos os outros candidatos não filiados ao MDB.

41. Conquanto aquele discurso o tenha beneficiado de alguma maneira, isto não

aconteceu de forma direta, consoante exigido pelo art. 22, XIV, da LC 64/1990,

para justificar a sanção de cassação do registro ou do diploma.

42. Quanto à acusação 1, se por um lado há provas de sua participação e de ter sido

diretamente beneficiado por ela, por outro o inciso XVI exige como condição para con-figuração do abuso a “gravidade da circunstância que o caracterizam.” Embora indis-cutível a ilegalidade da utilização de símbolo oficial de prefeitura em ato de pré-cam-panha, esse fato isoladamente considerado não possui gravidade suficiente para ense-jar a cassação de seu registro de candidatura ou de seu diploma. Também não justifica

a aplicação de pena de multa, uma vez que a norma violada (art. 37, § 1o, da

Constitui-ção da República) não comina esta sanConstitui-ção.

43. Em relação à acusação 13, esse recorrente não se envolveu diretamente com os

fatos e as provas indicam que a interdição da Avenida Conselheiro João Alfredo ocor-reu como forma de prejudicar a realização de atos de campanha de candidatos a outros cargos (vereadores).

44. Os argumentos listados neste parecer também se aplicam com mais razão ao

re-corrente ISRAEL LIMA BRAGA RUBIS, candidato eleito a Vice-Prefeito. Não há nos autos

prova de sua participação ou de obtenção de benefício, direto ou indireto, decorrentes dos fatos.

4 C

ONCLUSÃO

45. Ante o exposto, o Ministério Público Eleitoral opina pelo conhecimento e

provi-mento dos recursos interpostos por MARIA MADALENA SANTOS DE BRITTO; JOSÉ

WELLINGTON CORDEIRO MACIEL e ISRAEL LIMA BRAGA RUBIS, a fim de afastar todas as

sanções cominadas na sentença.

Recife (PE), 18 de janeiro de 2021.

[Assinado eletronicamente.]

JOAQUIM JOSÉDE BARROS DIAS

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