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Aula 01 Economia Internacional 2

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ECONOMIA INTERNACIONAL – BNDES/TEORIA E

ECONOMIA INTERNACIONAL – BNDES/TEORIA E

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Profa. Julia Olzog

Profa. Julia Olzog

Aula 01 Aula 01

Modelo de Heckscher-Ohlin. Novas abordagens de comércio Modelo de Heckscher-Ohlin. Novas abordagens de comércio internacional: rendimentos crescentes e concorrência imperfeita.

internacional: rendimentos crescentes e concorrência imperfeita. Olá alunos,

Olá alunos,

Seguimos com nosso curso com base no edital 2012. Para aqueles alunos que Seguimos com nosso curso com base no edital 2012. Para aqueles alunos que adquiriram o curso antes do edital 2012, as aulas já abordaram toda a matéria adquiriram o curso antes do edital 2012, as aulas já abordaram toda a matéria do edital atual. Alguns assuntos cobrados saíram e isso foi indicado na tabela do edital atual. Alguns assuntos cobrados saíram e isso foi indicado na tabela da aula 12 do curso anterior. A mudança mais significativa foi a retirada da da aula 12 do curso anterior. A mudança mais significativa foi a retirada da parte de balanço de pagamentos, mobilidade de capitais, modelo keynesiano, parte de balanço de pagamentos, mobilidade de capitais, modelo keynesiano, modelo IS-LM-BP e outros que eram bastante cobrados nas provas da modelo IS-LM-BP e outros que eram bastante cobrados nas provas da Cesgranrio. Como esses modelos não se encaixam nos assuntos pedidos no Cesgranrio. Como esses modelos não se encaixam nos assuntos pedidos no edital 2012, não faz sentido a banca cobrar isso na prova, por isso não vou edital 2012, não faz sentido a banca cobrar isso na prova, por isso não vou abordar esses modelos.

abordar esses modelos.

Nesta aula 02, as teorias de comércio internacional continuam as Nesta aula 02, as teorias de comércio internacional continuam as mesmas com exceção das teorias de Rybczynski, teoria de Linder e teoria da mesmas com exceção das teorias de Rybczynski, teoria de Linder e teoria da Síntese Dinâmica.

Síntese Dinâmica.

1 1 1

11.1... O modelo de Heckscher-OhlinO modelo de Heckscher-Ohlin

Um século após Ricardo ter estabelecido o princípio das vantagens Um século após Ricardo ter estabelecido o princípio das vantagens comparativas, Eli Heckscher e Bertil Ohlin formularam uma teoria que comparativas, Eli Heckscher e Bertil Ohlin formularam uma teoria que procurava responder o que determina a vantagem comparativa e o efeito do procurava responder o que determina a vantagem comparativa e o efeito do comércio internacional sobre os rendimentos dos vários fatores de produção comércio internacional sobre os rendimentos dos vários fatores de produção (capital, trabalho e terra) das nações que participam do comércio, ou seja, (capital, trabalho e terra) das nações que participam do comércio, ou seja, como se dá a distribuição de renda auferida com o comércio. O modelo H-O foi como se dá a distribuição de renda auferida com o comércio. O modelo H-O foi apresentado originalmente no livro “Interregional and International Trade”, de apresentado originalmente no livro “Interregional and International Trade”, de Bertil Ohlin, publicado em 1933.

Bertil Ohlin, publicado em 1933. Basicamente, a

Basicamente, a Teoria de Heckscher-OhlinTeoria de Heckscher-Ohlin ((ou Teoria da Dotaçãoou Teoria da Dotação de Fatores

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produtivas de um país se especializam e exportam os produtos que requerem a produtivas de um país se especializam e exportam os produtos que requerem a utilização mais intensiva

utilização mais intensiva de seude seu fator de produção abundantefator de produção abundante..

O modelo H-O, diferentemente de Smith e Ricardo que consideravam O modelo H-O, diferentemente de Smith e Ricardo que consideravam apenas o fator de produção trabalho, considera

apenas o fator de produção trabalho, considera todos os fatores detodos os fatores de produção

produção: terra, trabalho e capital. Outra diferença em relação à teoria de: terra, trabalho e capital. Outra diferença em relação à teoria de Ricardo é que no modelo da dotação dos fatores a tecnologia é assumida Ricardo é que no modelo da dotação dos fatores a tecnologia é assumida constante, ou seja, as tecnologias de produção são idênticas em ambos os constante, ou seja, as tecnologias de produção são idênticas em ambos os países, comente variando os fatores de produção.

países, comente variando os fatores de produção.

Dado que os fatores de produção são fixos/estáticos, o comércio Dado que os fatores de produção são fixos/estáticos, o comércio internacional decorre da diferença entre os países no que diz respeito à internacional decorre da diferença entre os países no que diz respeito à dotação dos fatores de produção. Assim, se um país possui abundância do dotação dos fatores de produção. Assim, se um país possui abundância do fator de produção capital, por exemplo, ele irá se especializar na produção e fator de produção capital, por exemplo, ele irá se especializar na produção e exportação de bens que sejam intensivos em capital e irá importar bens exportação de bens que sejam intensivos em capital e irá importar bens intensivos em terra e trabalho. Pelo modelo H-O, o que determina o comercio intensivos em terra e trabalho. Pelo modelo H-O, o que determina o comercio internacional são as diferenças relativas nas dotações de recursos entre os internacional são as diferenças relativas nas dotações de recursos entre os países.

países.

Assim, o padrão de comércio do modelo é o seguinte: países tendem a Assim, o padrão de comércio do modelo é o seguinte: países tendem a exportar

exportar produtos que utilizamprodutos que utilizam intensivamente o fator de produçãointensivamente o fator de produção queque se encontra

se encontra relativamente mais abundanterelativamente mais abundante, , ee importamimportam mercadorias quemercadorias que utilizam intensivamente o fator de produção

utilizam intensivamente o fator de produção menos abundantemenos abundante em seuem seu território. Pose-se dizer que os países têm vantagens comparativas naqueles território. Pose-se dizer que os países têm vantagens comparativas naqueles bens cuja produção requer

bens cuja produção requer fatores relativamente abundantesfatores relativamente abundantes domesticamente

domesticamente. Isso porque, onde o fator é abundante (capital, por. Isso porque, onde o fator é abundante (capital, por exemplo), seu custo relativo aos demais fatores (trabalho e terra) é menor, o exemplo), seu custo relativo aos demais fatores (trabalho e terra) é menor, o que torna economicamente mais rentável a produção de bens intensivos em que torna economicamente mais rentável a produção de bens intensivos em capital.

capital.

No modelo H-O original existem apenas dois países, duas commodities No modelo H-O original existem apenas dois países, duas commodities que podem ser produzidas e dois fatores homogêneos de produção: é um que podem ser produzidas e dois fatores homogêneos de produção: é um modelo tipo 2x2x2. Vejamos:

modelo tipo 2x2x2. Vejamos: - Duas economias – país A e B; - Duas economias – país A e B; - Dois bens – M e X;

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- Dois fatores de p

- Dois fatores de produção – K e L (Crodução – K e L (Capital e Trabalho)apital e Trabalho)

No modelo, o bem M será intensivo em capital se a relação No modelo, o bem M será intensivo em capital se a relação capital/trabalho em sua produção for superior à taxa usada para produzir o capital/trabalho em sua produção for superior à taxa usada para produzir o bem X: K

bem X: KMM /L /LMM > K> KXX /L /LXX. Consequentemente, se o bem M é intensivo em capital,. Consequentemente, se o bem M é intensivo em capital,

o bem X será intensivo em trabalho. o bem X será intensivo em trabalho.

Quanto aos países, o país A será relativamente abundante em capital se Quanto aos países, o país A será relativamente abundante em capital se a taxa capital/trabalho (K/L) for maior que a taxa K/L do país B: (K/L) a taxa capital/trabalho (K/L) for maior que a taxa K/L do país B: (K/L)AA >> (K/L)

(K/L)BB . Nesse caso, sendo o país A relativamente abundante em capital, o país. Nesse caso, sendo o país A relativamente abundante em capital, o país B terá abundância relativa de trabalho.

B terá abundância relativa de trabalho.

Assim, o modelo de H-O mostra que as vantagens comparativas são Assim, o modelo de H-O mostra que as vantagens comparativas são influenciadas por:

influenciadas por:

• Intensidade relativa no emprego de fatores (K, L)Intensidade relativa no emprego de fatores (K, L)11 no que se refereno que se refere

a bens; a bens;

• Abundância relativa de fatores (K, L) no que se refere a países.Abundância relativa de fatores (K, L) no que se refere a países.

Dadas as suposições do modelo acima, um país exportará a commodity Dadas as suposições do modelo acima, um país exportará a commodity cuja produção é intensiva no fator relativamente mais abundante cuja produção é intensiva no fator relativamente mais abundante domesticamente.

domesticamente. Isso também Isso também equivale a equivale a dizer, que dizer, que as trocas inas trocas internacionaisternacionais podem ser identificadas como a troca de fatores abundantes por fatores podem ser identificadas como a troca de fatores abundantes por fatores escassos.

escassos.

Assim, por exemplo, a especialização dos países latino americanos na Assim, por exemplo, a especialização dos países latino americanos na produção de produtos primários para a exportação, associada à importação de produção de produtos primários para a exportação, associada à importação de produtos manufaturados, seria um corolário do teorema de Hecksher-Ohlin, produtos manufaturados, seria um corolário do teorema de Hecksher-Ohlin, dado que estes países possuem uma abundante dotação de recursos naturais e dado que estes países possuem uma abundante dotação de recursos naturais e de mão de obra de baixa qualificação.

de mão de obra de baixa qualificação.

Em relação ao custo de oportunidade, em um modelo de um único fator Em relação ao custo de oportunidade, em um modelo de um único fator de produção, como é o caso do Modelo de Ricardo, a Fronteira de de produção, como é o caso do Modelo de Ricardo, a Fronteira de Possibilidades de Produção da economia é uma reta e o custo de oportunidade Possibilidades de Produção da economia é uma reta e o custo de oportunidade

1

1 No exemplo foram usados K= capital e L= trabalho, mas o fator Terra também é condiderado como fator deNo exemplo foram usados K= capital e L= trabalho, mas o fator Terra também é condiderado como fator de  produção

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é constante. Já em um modelo de dois ou mais fatores, a Fronteira de é constante. Já em um modelo de dois ou mais fatores, a Fronteira de Possibilidades de produção da economia é uma curva e os custos de Possibilidades de produção da economia é uma curva e os custos de oportunidade são crescentes.

oportunidade são crescentes.

Os pressupostos básicos do modelo H-O são os seguintes: Os pressupostos básicos do modelo H-O são os seguintes:

• As funções de produção para ambas as commodities exibem retornos • As funções de produção para ambas as commodities exibem retornos constantes de escala

constantes de escala22, mas diferem entre si no que diz respeito à utilização de, mas diferem entre si no que diz respeito à utilização de capital e trabalho. Ou seja, uma commodity é capital-intensiva e a outra é capital e trabalho. Ou seja, uma commodity é capital-intensiva e a outra é trabalho-intensiva.

trabalho-intensiva.

• Ambos os países possuem as

• Ambos os países possuem as mesmas tecnologias de produção (constante).mesmas tecnologias de produção (constante). • As preferências são homogêneas e idênticas em ambos os países.

• As preferências são homogêneas e idênticas em ambos os países.

• A única diferença entre os países se deve à abundância relativa de capital, • A única diferença entre os países se deve à abundância relativa de capital, trabalho e terra em cada país.

trabalho e terra em cada país. • A oferta total dos fatores

• A oferta total dos fatores de produção é fixa.de produção é fixa.

• Há plena mobilidade de capital e trabalho entre os dois setores produtivos; • Há plena mobilidade de capital e trabalho entre os dois setores produtivos; • Não há mobilidade de capital e trabalho entre os países;

• Não há mobilidade de capital e trabalho entre os países; • Não há barreiras comerciais, tarifas ou custos

• Não há barreiras comerciais, tarifas ou custos de transporte;de transporte; • Há concorrência perfeita e pleno emprego.

• Há concorrência perfeita e pleno emprego.

• O comércio de bens é uma forma indireta de comerciar os fatores deO comércio de bens é uma forma indireta de comerciar os fatores de

produção contidos nas mercadorias. produção contidos nas mercadorias.

2

2 No caso dos rendimentos constantes de escala tendo os insumos dobrados, a No caso dos rendimentos constantes de escala tendo os insumos dobrados, a função de produção também irá dobrar,função de produção também irá dobrar, ou seja, o aumento na produção se dá na mesma proporção do aumento dos insumos utilizados.

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Na tentativa de avaliar a relação entre distribuição de renda e comércio Na tentativa de avaliar a relação entre distribuição de renda e comércio internacional, o teorema foi aprimorado para mostrar que haveria uma internacional, o teorema foi aprimorado para mostrar que haveria uma equalização

equalização dos preços dos preços relativos relativos dos fados fatores de tores de produção produção com o com o comérciocomércio internacional.

internacional. 1.1.

1.1. Paradoxo de Leontief Paradoxo de Leontief 

Pelo modelo de Heckscher-Ohlin, os países apresentam vantagens Pelo modelo de Heckscher-Ohlin, os países apresentam vantagens comparativas nos bens cuja produção utiliza-se do fator de produção comparativas nos bens cuja produção utiliza-se do fator de produção abundante no país, de modo que a tendência é a de que o país exporte esses abundante no país, de modo que a tendência é a de que o país exporte esses tipos

tipos de de produtos. produtos. Todavia, Todavia, um um estudo estudo do do economista economista Wassily Wassily Leontief,Leontief, publicado em 1953, colocou em xeque a teoria de Hecksher-Ohlin, ao publicado em 1953, colocou em xeque a teoria de Hecksher-Ohlin, ao evidenciar que as exportações norte-americanas, no pós-Segunda Guerra evidenciar que as exportações norte-americanas, no pós-Segunda Guerra Mundial, eram menos capital-intensivas do que as importações, ou seja, a Mundial, eram menos capital-intensivas do que as importações, ou seja, a economia mais capital-intensiva do mundo, os EUA, tinha um padrão de economia mais capital-intensiva do mundo, os EUA, tinha um padrão de comércio que se afastava dos modelos clássico e neoclássico: exportava bens comércio que se afastava dos modelos clássico e neoclássico: exportava bens intensivos em trabalho e importava bens intensivos em capital. Essa intensivos em trabalho e importava bens intensivos em capital. Essa constatação estatística foi denominada de

constatação estatística foi denominada de paradoxo de Leontief paradoxo de Leontief ..

Essa contradição levantou algumas hipóteses em relação ao padrão de Essa contradição levantou algumas hipóteses em relação ao padrão de comércio americano. Alguns argumentos era de que os EUA detêm uma comércio americano. Alguns argumentos era de que os EUA detêm uma vantagem comparativa muito mais relacionada com a mão de obra altamente vantagem comparativa muito mais relacionada com a mão de obra altamente qualificada (i.e., capital humano) do que com o capital físico. Com base nesta qualificada (i.e., capital humano) do que com o capital físico. Com base nesta explicação, as exportações dos EUA são muito intensivas em capital humano, e explicação, as exportações dos EUA são muito intensivas em capital humano, e não particularmente intensivas em trabalho (i.e., mão de obra desqualificada). não particularmente intensivas em trabalho (i.e., mão de obra desqualificada). Outros autores acham que o modelo H-O está correto, porém deveria Outros autores acham que o modelo H-O está correto, porém deveria levar em conta mais fatores de produção além do capital e do trabalho levar em conta mais fatores de produção além do capital e do trabalho homogêneos. Segundo este argumento, o padrão de comércio parece também homogêneos. Segundo este argumento, o padrão de comércio parece também ser influenciado pela dotação de recursos naturais e de mão de obra ser influenciado pela dotação de recursos naturais e de mão de obra qualificada. Neste caso, o erro do modelo teria sido apenas o de considerar qualificada. Neste caso, o erro do modelo teria sido apenas o de considerar

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toda a mão de obra como homogênea. Por outro lado, também se defende que o modelo deveria levar em consideração os padrões de demanda.

Outra explicação é que a estrutura tarifária americana proporciona maior proteção aos produtos intensivos em trabalho. Se os EUA adotam uma política protecionista em relação aos produtos trabalho-intensivos, as importações destes diminuem e há, comparativamente, um volume maior de importações de produtos capital-intensivos.

O Paradoxo de Leontief acabou estimulando o surgimento de novas teorias para explicar o comércio internacional, levando em conta outros aspectos até então não abordados pelas teorias tradicionais.

1.2. Teorema Hecksher-Ohlin-Samuelson ou Teorema da Equalização dos Preços dos Fatores

Como decorrência da Teoria Heckscher-Ohlin, surgiu o Teorema da Equalização dos Preços dos Fatores, desenvolvida por Paul Samuelson. É também conhecido como Teorema da Equalização dos Custos dos Recursos ou Teorema Heckscher-Ohlin-Samuelson.

Os pressupostos do Teorema H-O-S são os mesmos do modelo de H-O, mas agora a análise é feita sobre os efeitos do livre comércio na remuneração dos fatores de produção.

Por exemplo, vamos novamente usar o modelo 2x2x2 - Dois países – China e Alemanha;

- Dois bens – vestuário e automóveis;

- Dois fatores de produção – K e L (Capital e Trabalho)

A China tem abundância do fator de produção trabalho e, portanto, se especializa na produção e exportação de bens intensivos em trabalho, no nosso exemplo: vestuário. A Alemanha, possui abundância do fator de

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produção capital e, portanto, se especializa na produção e exportação de bens intensivos em capital, nesse caso automóveis.

Com o livre comércio entre as nações, a China passa a vender roupas (vestuário) para a Alemanha e compra desta automóveis. Com isso, a indústria chinesa precisa produzir mais vestuário, o que acaba aumentando a demanda por mais trabalhadores (mão de obra). Já a indústria alemã, precisa produzir mais automóveis, o que aumenta a demanda por capital (investimentos).

A especialização e comércio entres os países causa um efeito sobre a remuneração dos fatores: na China, o aumento da demanda por mão de obra provoca a elevação dos salários (aumenta a demanda por trabalho, que leva a um aumento da remuneração do fator de produção trabalho). Na Alemanha, o aumento da demanda por capital causa a elevação dos juros (remuneração do fator de produção capital).

Como há o comércio entre os países que suprem a oferta do bem intensivo no fator escasso, a China deixa de produzir automóveis e passa a comprar da Alemanha. Da mesma forma, a Alemanha não produz mais roupas, pois compra da China. Na China, haverá então uma redução da demanda por capital enquanto na Alemanha haverá redução da demanda por mão de obra.

A redução da demanda por capital na China acaba levando a uma redução dos juros (remuneração do fator de produção capital); enquanto na Alemanha, a redução da demanda por mão de obra gera uma redução dos salários.

Então, com o livre comércio, verifica-se que houve elevação dos salários e redução dos juros na China; e elevação dos juros e redução dos salários na Alemanha.

Em síntese, o teorema diz que o país com abundância em um fator de produção e escassez em outro irá demandar mais fator de produção abundante para atender às exportações nas quais possui vantagem comparativa. Ao longo do tempo, isso possibilitará aumentar a remuneração do fator abundante.

A consequência em termos globais, seria a equalização dos preços dos fatores de produção. Na China os salários que eram baixos aumentaram

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e os juros que eram altos diminuíram. Na Alemanha, os salários que eram altos caíram, e os juros que eram baixos subiram. Isso leva a uma convergência na remuneração dos fatores e uma situação de equilíbrio.3

Em linhas gerais, o teorema explica o efeito do livre comércio sobre a remuneração dos fatores de produção.

Dentro de uma economia vemos os efeitos causados pelo comércio em relação à distribuição de renda: no nosso exemplo, o comércio favorecerá os trabalhadores chineses – provocando aumento dos salários – e prejudicará os proprietários do capital – queda dos juros, menor remuneração do fator. A mesma coisa na Alemanha: o dono do capital recebe mais juros, mas em compensação, os trabalhadores saem perdendo. Há, portanto, ganhadores e perdedores, sendo a renda distribuída para os detentores do fator abundante em detrimento dos detentores do fator escasso.

Resumo de Comércio Internacional e Distribuição de Renda:

–Numa economia fechada, o fator abundante produz muito do bem intensivo, o que faz com este bem tenha um preço relativamente baixo.

–Com a abertura, há aumento no preço relativo deste bem, por conta da demanda do resto do mundo.

–O comércio (livre de barreiras) leva à convergência dos preços relativos (o custo de produção de um bem está diretamente relacionado ao preço dos fatores utilizados na sua produção)

–Mudanças nos preços relativos têm fortes efeitos sobre a remuneração relativa dos fatores nos países: os proprietários dos fatores abundantes de um país obtêm ganhos do comércio, mas os proprietários dos fatores escassos saem perdendo.

O modelo sofre críticas, pois a maior parte do comércio mundial é feita entre países desenvolvidos e entre países em desenvolvimento, os quais apresentam dotações fatoriais relativamente similares, caso que o modelo H-O-S não pode explicar. Veremos isso mais adiante.

3 Na prática, sabemos que não é isso que acontece, pois os salários na vida real são bem maiores nos países desenvolvidos e os juros maiores nos países não desenvolvidos! Mesmo caindo os salário e os juros eles não chegam a se equalizar.

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Mas, apesar disso, o teorema pode ser percebido na vida real: na China, o grande crescimento econômico causado pelo aumento da produção e exportação dos bens produzidos naquele país têm provocado a elevação dos salários, que pressionam os preços para cima, gerando inflação. Como os chineses têm que repassar o aumento dos salários para os preços dos produtos, a China acaba exportando sua inflação, embutida nos preços dos produtos, para o resto do mundo.

1.3. O Teorema de Stolper-Samuelson

O Teorema de Stolper-Samuelson, diz que o aumento no preço relativo de um bem provoca um aumento mais que proporcional da renda do fator de produção empregado intensivamente em sua produção e uma redução da remuneração do fator de produção escasso.

Suponha que a intensidade do uso fator trabalho é maior na produção do bem 1 que na produção do bem 2. Se aumentar o preço do bem 1 (p1), o preço de equilíbrio do trabalho (fator usado intensivamente na produção do bem 1) aumenta, enquanto que o preço do outro fator, não usado intensivamente, diminui. Isso porque o aumento do preço do bem 1 provoca um estímulo à expansão da produção em detrimento da produção do bem 2, o que acaba gerando um aumento da demanda pelo insumo (fator) de produção do bem, que eleva seu preço.

Vimos no modelo H-O-S os efeitos do livre comércio sobre a distribuição de renda. Mas o que acontece com as remunerações dos fatores de produção se houver protecionismo (imposição de barreiras), ao invés do livre comércio?

Outro aspecto importante do teorema S-S é que ele explica os efeitos que a imposição de tarifas (barreiras tarifárias) provocam sobre a remuneração dos fatores de produção.4

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Vamos voltar ao exemplo anterior: a China se especializou na produção de vestuário, enquanto a Alemanha se especializou na produção de automóveis. Mas, o que acontece se a China colocar uma tarifa (imposto de importação) sobre a importação de vestuário?

Num primeiro momento, a oferta externa (importação) de vestuário tende a diminuir (pois agora há uma barreira tarifária que deixa o produto mais caro), mas a demanda doméstica se mantém constante. Nesse caso, a indústria de roupas chinesa será incentivada a produzir mais, pois a proteção abre espaço para o aumento da oferta nacional. Só que, para produzir em maior escala, a indústria chinesa necessitará de maior quantidade de mão de obra. O aumento da demanda por trabalhadores provocará uma elevação dos salários.

E se os chineses cobrassem imposto de importação sobe automóveis? Nesse caso, sendo que oferta externa de carros tende a diminuir e a demanda se mantém constante, os preços dos carros sobem na China. As empresas chinesas de automóveis vão se sentir então estimuladas a produzir mais e, para isso, vão precisar de capital para aumentar a produção. O aumento da procura por capital leva a um aumento da remuneração deste fator, ou seja, os juros sobem na China.

Com isso, podemos afirmar que, de acordo com o Teorema Stolper-Samuelson, a imposição de tarifa sobre a importação de um bem tem como efeito o aumento da remuneração do fator de produção intensivo no bem protegido. Dito de outra forma, a proteção favorece o fator usado de forma intensiva no setor que compete com as importações.

Vamos fazer um paralelo entre o teorema H-O-S e o teorema S-S

Nos 2 teoremas, há correspondência entre os preços relativos dos bens e os preços relativos dos fatores utilizados para produzir os bens, o que, com a abertura comercial, provoca a distribuição de renda. O teorema H-O-S descreve a distribuição da renda em livre comércio, enquanto o teorem S-S descreve a distribuição da renda em situação de protecionismo.

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No teorema H-O-S o livre comércio leva ao aumento da remuneração do fator de produção abundante e no teorema S-S o protecionismo leva ao aumento da remuneração do fator de produção intensivo no bem protegido.

A diferença entre os teoremas é que, no caso do livre comércio, mesmo havendo aumento da demanda, haverá uma tendência à equalização dos preços no mercado internacional; já numa economia protegida, a tarifa aumenta a remuneração do fator protegido, mas também aumenta o preço do bem protegido domesticamente, o que acaba provocando uma perda do ganho real dos salários em decorrência do aumento da inflação.

2. Novas Teorias do Comércio Internacional

As inovações tecnológicas ocorridas a partir de meados da década de 70 geraram um novo paradigma tecnológico. Os fundamentos desse novo paradigma são as novas tecnologias de informação e inovações organizacionais relacionadas. No núcleo das transformações recentes está a combinação da revolução microeletrônica, originada nos Estados Unidos, com o modelo de organização flexível, desenvolvido inicialmente no Japão.

Em nível macro, assistimos, no início da década de 80, à ascensão do monetarismo e da corrente neoliberal nos Estados Unidos e Inglaterra, e sua influência nas instituições multilaterais, FMI e Banco Mundial. Esse novo paradigma está redefinindo não só os parâmetros de desenvolvimento, comércio nacional e internacional, mas também as formas de organização e gestão.

As evidências empíricas sempre apontavam que a teoria tradicional das vantagens comparativas precisava ser complementada por outras hipóteses, como as economias de escala, economias de escopo, fatores do lado da demanda como diferenciação de produto, tecnologia de mercado devido à competição imperfeita e política governamental. A nova teoria do comércio internacional procura dar conta desses novos fatores, desenvolvendo

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explicações dos padrões de comércio e da competitividade a partir do exame das interações estratégicas das empresas e de governos.

Nesses modelos, o comércio e os investimentos internacionais ocorrem em mercados imperfeitamente competitivos - oligopólios ou competição monopolística – em que fatores como barreiras de entrada, diferenciação de produtos, economias de escala, learning-by-doing e progresso tecnológico têm papel importante.

A nova teoria de comércio é chamada também de “teoria estratégica de comércio” porque o comércio é resultado da rivalidade estratégica de empresas e governos, em que um pequeno número de empresas e o governo tomam decisões levando em consideração a reação dos demais participantes do mercado. Nessa análise, os governos nacionais, sob certas condições bastante restritivas, podem intervir com sucesso, alterando o resultado da competição entre as empresas nacionais em relação às estrangeiras e aumentando o bem estar – lucro da empresa nacional – por meio de subsídios ou imposição de barreiras ao comércio (Krugman, 1988).

A teoria estratégica de comércio incorpora alguns elementos da nova realidade mundial. Explica também alguns aspectos dos padrões de comércio observados nas últimas décadas, como o grande volume do comércio intrafirma e a crescente participação das empresas multinacionais no comércio mundial, particularmente nos setores de alta tecnologia.

2.1. Economias de Escala

Os modelos clássicos apresentados têm como base a concorrência perfeita e rendimentos constantes de escala. Em concorrência perfeita, temos as seguintes características: elevado número de ofertantes e demandantes de forma que, isoladamente, nenhum deles exerce influencia sobre o preço; homogeneidade do produto – não existe diferenciação entre os produtos; transparência do mercado – todos tem conhecimentos das condições do mercado; liberdade de entrada e saída de empresas - livre mobilidade de

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capital. Quanto aos rendimentos constantes de escala, assume-se que se duplicarmos os inputs (insumos) de fatores produtivos numa determinada

indústria, então a produção dessa indústria duplicará também.

Contudo, na prática, a maior parte das indústrias operara em ambiente de concorrência imperfeita e economias (crescentes) de escala, ou seja, quando se duplicam os inputs, mais que duplica a produção. Ou seja, haverá ganhos de escala quando o aumento dos fatores produtivos (trabalho, capital) empregados na fabricação de um bem acarretar um aumento mais do que proporcional da produção. A premissa básica da existência de economias de escala (ou ganhos de escala) seria que os custos da empresa ou do mercado se reduzem à medida que aumenta a quantidade produzida.

Com a especialização, cada país produziria uma variedade restrita de bens, beneficiando-se dos retornos crescentes de escala sem sacrificar, contudo, a variedade no consumo possibilitada pelo comércio internacional.

As economias de escala surgem da especialização dos países e dão razões suplementares à existência de comércio internacional, a medida que os países vão se tornando mais eficientes na produção de determinados bens, ao invés de tentar produzir tudo. Se cada país produz apenas alguns dos bens, então cada bem pode ser produzido em escala maior do que se cada país tentasse produzir tudo, e a economia mundial pode produzir mais de cada bem. Segundo Krugman, os países participam do comércio internacional em razão dos benefícios decorrentes das diferenças entre eles, o que lhes permite se especializarem na produção daquilo que fazem melhor em relação aos outros. Essa especialização leva a economias de escala, isto é, ao se especializarem, os países produzem numa escala maior e de maneira mais eficiente do que se produzissem eles mesmos todos os bens de que necessitam.

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Então, em função dos rendimentos crescentes de escala, mesmo países idênticos no que se refere a suas dotações de fatores, gostos e preferências podem obter ganhos com o comércio mútuo5.

Esse comércio, no entanto, não se realiza em condições de concorrência perfeita, fazendo-se necessário certo grau de monopolização. Sendo assim, os ganhos de escala levam à formação, não de um mercado de concorrência perfeita, mas de um mercado no qual as firmas tenham um certo grau de poder (concorrência imperfeita).

As economias de escala favorecem o surgimento de monopólios: em empresas com grande escala de produção, normalmente grandes empresas, o investimento inicial (custo fixo) é difundido sobre o crescente número de unidades de produção. Quando os custos médios caem, se diz que existe economia de escala ou rendimentos crescentes de escala, entendendo-se por isto que aumentando-se a escala de produção, o custo por unidade tende a cair.6 Desta forma, estas empresas possuiriam vantagens sobre as pequenas, com custos médios ainda altos, o que poderia favorecer monopólios.7

Economias de Escala Custo por unidade produzida

Custo médio

Produção acumulada

5 Além disso, o intenso comércio entre países de dotações semelhantes não é tão difícil de explicar. É intuitivo imaginar que países próximos fisicamente tenderão a ter dotações semelhantes e, visto que os custos de transporte influenciam os dados do mundo real, temos uma explicação razoável.

6 Da mesma maneira, quando os custos médios tendem a aumentar, tem-se deseconomias de escala ou rendimentos decrescentes em escala. http://www.eps.ufsc.br/disserta98/moreira/cap4.html

7 Por isso, economias de escala são mais freqüentes em indústrias com altos custos fixos de pr odução: indústrias capital-intensivas.

Aumentando a  produção diminui

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As economias de escala podem ser externas ou internas. Economias de escala externas8 ocorrem quando os custos por unidade dependem do tamanho da indústria (do setor), mas não necessariamente do tamanho da empresa em si. Existem sinergias horizontais (“clusters”) e verticais (cadeia ou complexo produtivo) que resultam num fornecimento mais eficiente de insumos, fatores, serviços e transbordamento do conhecimento.

Já as economias de escala internas ocorrem quando os custos por unidade produzida dependem do tamanho de uma empresa em termos individuais, mas não necessariamente da indústria em si. Há vantagens de custo para as firmas maiores e a estrutura de mercado é de concorrência imperfeita: firmas procuram reduzir custos e diferenciar seus produtos.

Nas economias externas, a ideia é que um conglomerado de empresas é mais eficiente do que uma empresa isolada por concentrar o fornecimento especializado, um mercado comum de trabalho e transbordamentos de conhecimento (fluxo informal de informações). A presença de economias externas em distritos industriais dinâmicos garante a eficiência coletiva das empresas individuais, pois, um conjunto de empresas do mesmo setor operando em uma determinada região, irá incentivar o estabelecimento de fornecedores especializados naquela área, maiores facilidades logísticas e, consequentemente, redução de custos. As economias externas derivam da disponibilidade de fatores de produção de baixo custo no mercado, e não de uma melhor utilização dos recursos produtivos no interior da firma.

Países que possuem setor industrial com economias de escala externas, podem produzir certos bens a custos inferiores e com isso, aumentar o volume de produção, dominando o mercado.

As economias de escala podem ser estáticas ou dinâmicas. As economias de escalas estáticas são as oriundas da planta industrial, e permite a queda nos custos unitários de produção na media em que a escala aumenta.

8 Ganhos de escala externos acontecem na existência de especialização dentro da indústria, vantagens de conglomeração e usufruto de bens públicos comuns (Helpman, 1984). Krugman e Obstfeld (2001) comentam os ganhos externos resultantes dos clusters industriais, mais especificamente do Vale do Silício na Califórnia. Os autores argumentam que a concentração das indústrias atrai fornecedores especializados, diminuindo custo dos insumos, gera um mercado comum de trabalho e possibilita o transbordamento de conhecimento (spillover effects).

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As economias de escala dinâmicas são oriundas da expansão industrial que induz mudanças técnicas através de processos como o learning by doing (aprender fazendo) que é o processo de aprendizado tecnológico de uma economia. Desta forma, há evidências de que existe uma elevada correlação entre aumento do produto industrial e aumento da produtividade industrial.

Assim, a análise acerca das economias externas traz também a ideia de rendimentos crescentes dinâmicos, isto é, levando-se em conta o acúmulo de conhecimento, os custos tendem a cair com a produção acumulada ao longo do tempo ao invés de caírem com a taxa de produção corrente. Tal aspecto abre espaço para argumentos protecionistas como o da indústria nascente, visto que a falta de experiência produtiva em determinada área é fator prejudicial à queda dos custos de produção e consequente aumento da competitividade internacional dos produtos nacionais. Dessa forma, os governos nacionais encontram argumentos para intervir de forma ativa no processo de competição entre firmas nacionais e estrangeiras, alterando o resultado em prol das primeiras, no sentido de gerar maior bem estar à sociedade nacional.

2.2. Concorrência Imperfeita

Num mercado perfeitamente competitivo – um mercado no qual há muitos compradores e vendedores, sendo que nenhum deles representa uma grande parte do mercado –, as firmas são tomadoras de preços. Isto é, os vendedores dos produtos acreditam que podem vender o quanto desejam ao preço corrente e não podem influenciar o preço que se paga pelo seu produto.

Quando apenas algumas firmas produzem um bem, no entanto, a questão é diferente. Na concorrência imperfeita, então, as firmas estão conscientes de que podem influenciar os preços dos seus produtos e que podem vender mais somente por meio da redução dos preços. A concorrência imperfeita é característica tanto de setores nos quais há poucos e grandes produtores, como dos setores nos quais o produto de cada produtor é visto pelos consumidores como diferenciado dos produtos dos concorrentes. Sob

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estas circunstâncias, cada firma considera-se uma formadora de preços, escolhendo o preço do seu produto, em vez de uma tomadora de preços.

Na concorrência imperfeita, temos as seguintes estruturas de mercado: oligopólio, monopólio e concorrência monopolística.

A estrutura de mercado de concorrência imperfeita mais simples para esse exame é o monopólio puro: um mercado no qual a firma não tem concorrência. Porém, a existência de lucros elevados num determinado mercado atrai sempre competidores e, por isso, as situações de monopólio puro no mercado internacional são raras.

Quando internamente as empresas usufruem de economias de escala, estão em geral, operando em oligopólio, ou seja, o mercado é composto por algumas empresas, com peso suficiente que possam influenciar o preço, mas nenhuma isoladamente com poder a esse nível. Cada empresa, numa situação de oligopólio, ao fixar um preço, considera não só a reação dos consumidores, mas também a reação dos seus competidores diretos nesse mercado. Essas respostas têm também a ver com as expectativas dos competidores em relação ao comportamento e reação das empresas concorrentes. No comércio internacional, a teoria do oligopólio considera que, em virtude da existência de grandes empresas multinacionais e transnacionais, o mercado mundial é oligopolizado. Muitas vezes essas empresas recebem apoio dos governos na forma de incentivos e proteção, pois essas empresas possuem um impacto econômico local em termos de geração de emprego e renda. Então, é interessante para os governos que elas mantenham sua competitividade.

Mas, vamos nos ater ao modelo da concorrência monopolística, pedido pelo edital.

2.3. Modelo de Concorrência Monopolística

Até então, estávamos estudando modelos que consideravam serem os bens homogêneos, o que não é verdade, afinal, para o comércio de alguns bens (sobretudo industriais) é razoável supor que os consumidores diferenciam

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os produtos em termos de qualidade, desenho industrial, marca, desempenho, etc.9

Na estrutura de mercado da concorrência monopolística, existe um grande número de empresas, cada uma produzindo um produto próprio, com características próprias.10 Isso quer dizer que as firmas vendem produtos semelhantes, mas não homogêneos, ou seja, a concorrência se dá pela diferenciação de produtos. A diferenciação dos produtos assegura que cada firma tenha um monopólio no seu produto particular dentro do setor.

Cada firma pressupõe que os preços cobrados pelos seus rivais são dados – isto é, ela ignora o impacto no seu próprio preço sobre os preços das outras firmas. Como resultado, o modelo de concorrência monopolística assume que, mesmo que cada firma se esteja defrontando com a concorrência de outras firmas, ela comporta-se como se fosse um monopolista (daí o nome do modelo). Devido à diferenciação dos produtos, alguns consumidores estão dispostos a pagar mais por determinado produto, mas o poder de monopólio pode ser limitado, dependendo da elasticidade da demanda: quanto mais alta a elasticidade da demanda, menor o poder de monopólio.

A aplicação do modelo de concorrência monopolística ao comércio internacional tem em si internalizada a ideia de que o comércio aumenta o mercado. Com a expansão do mercado consumidor, cada país pode especializar-se na produção de determinados tipos de bens, que não poderia fazer na ausência de comércio, e ao mesmo tempo, proporciona uma maior gama de produtos aos seus consumidores.

Com isso, só haverá comércio para atender gostos distintos dos consumidores se um país não produzir todos os bens. Temos assim vantagens mútuas na existência de comércio entre países, mesmo quando os países têm diferenças a níveis de recursos e de tecnologia. O exemplo tradicional é o da indústria automobilística em que existem muitos fabricantes, mas as empresas

9 Isto vale tanto para bens de consumo (ex. carros, eletrodomésticos, computadores) quanto para bens de capital (ex. tratores, tornos) e bens intermediários (ex. microprocessadores).

10 Nesse tipo de estrutura mercadológica, existem características de uma concorrência perfeita (grande número de vendedores) e características de um monopólio (cada empresa é detentora única de seu produto).

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tentam ganhar o consumidor oferecendo automóveis com características próprias, diferentes dos concorrentes.

Modelo básico de concorrência monopolística: imagine um setor com diversas firmas. Estas firmas produzem produtos diferenciados – isto é, bens que não são exatamente os mesmos, mas são substitutos uns dos outros. Cada firma é, portanto, um monopolista no sentido de que não é a única firma a produzir um bem particular, mas a procura por seu bem depende dos outros produtos similares disponíveis e dos preços das outras firmas do setor.

Hipóteses do modelo: iniciamos descrevendo a procura do ponto de vista de uma firma em concorrência monopolística. Em geral, imaginamos que a empresa venda mais quanto maior for a procura total pelo produto e quanto maiores os preços cobrados pelos seus rivais. Por outro lado, supomos que a firma venda menos quanto maior for o número de firmas no setor e quanto maior é o seu próprio preço. Uma equação particular para a procura da firma que tem essas propriedades é:

Q = S{1/n - bx (P - P’)}

em que Q são as vendas da firma, S são as vendas totais do setor, n é o número de firmas no setor, b é uma constante representando a sensibilidade das vendas de uma firma ao seu preço, P, o preço cobrado pela firma e P’, o preço médio cobrado pelos seus concorrentes. Esta equação tem a seguinte  justificação intuitiva: se todas as firmas cobram o mesmo preço, cada uma terá uma parcela de mercado igual a 1/n. Uma firma que cobre mais do que a média das demais terá uma parcela de mercado menor; uma firma cobrando menos terá uma parcela de mercado maior.

Equilíbrio num mercado de concorrência monopolística: o número de firmas num mercado em concorrência monopolística e os preço que elas

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cobram, são determinados por 2 relações: 1) quanto mais firmas houver, mais intensamente elas concorrem e, portanto, menor é o preço daquele setor; 2) quanto mais firmas houver, menos cada uma vende e, portanto, maior o seu custo médio. Se o preço exceder o custo médio, o setor terá lucros e firmas adicionais entrarão no setor. Se o preço é menor que o custo médio, o setor estará incorrendo em perdas e firmas sairão do setor. O preço e o número de empresas correspondentes ao equilíbrio ocorrem quando o preço é igual ao custo médio.

2.4. Comércio Intraindústria

Subordinada à aplicação do modelo de concorrência monopolística do comércio está a ideia de que o comércio aumenta o tamanho do mercado. Nas indústrias em que existem economias de escala, tanto a variedade dos bens que um país pode produzir como a escala da sua produção são restringidas pelo tamanho do mercado. Comercializando entre si, forma-se um mercado mundial integrado que é maior que qualquer mercado nacional individual. Como resultado, o comércio oferece uma oportunidade de ganhos mútuos mesmo quando os países não diferem em recursos ou tecnologia.

O modelo de concorrência monopolística faz, na verdade, uma integração entre os modelos com ganhos de escala e diferenciação de produtos.

Do lado da oferta, os ganhos de escala resultam, em equilíbrio, em um número finito de firmas na indústria. Do lado da demanda, a diferenciação dos produtos percebida pelos consumidores assegura aos produtores alguma margem para formação de preços, isto é, os consumidores não deixarão de ser fiéis aos seus produtos devido a pequenas mudanças nos preços (Krugman e Obstfeld). Se, em equilíbrio, houver produtos diferenciados produzidos em mais de um país, então existirá comércio intraindustrial.

Krugman e Obstfeld, argumentam que essa modalidade de comércio é  justificada pela pressuposição de que, como a indústria de manufaturas não é perfeitamente competitiva, cria uma situação em que aparecem produtos

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substitutos próximos, embora não idênticos, elaborados por empresas do mesmo ramo industrial, que podem estar localizadas em países distintos ou não.

Os ganhos de comércio intraindústria são decorrentes de duas fontes. A primeira fonte é a existência de ganhos de escala, pois como o comércio internacional amplia o mercado, então um nível de produto maior a menor preço é possível. A segunda fonte é a preferência pela diversidade por parte dos consumidores, pois o mercado maior possibilita a existência de mais firmas dentro de uma mesma indústria, o que significa uma maior oferta de variedades de um mesmo produto. Estes ganhos de comércio intrasetorial são proporcionais ao tamanho dos parceiros comerciais (Krugman e Obstfeld).

O padrão de comércio intraindústria é explicado por um conjunto de características, tais como a ocorrência de economias de escala, imperfeições de mercado e similaridade da renda entre os países, que não pode ser analisado sob as óticas dos modelos de abundância de fatores e/ou vantagens comparativas.

O comércio intraindústria tem como característica a utilização dos mesmos fatores de produção em ambos os países. A ocorrência do comércio intraindústria, portanto, dependerá da capacidade de os países produzirem bens diferenciados, com características de concorrência monopolística e, adicionalmente, ganhos provenientes de economias de escala e da demanda dos consumidores do outro país, conforme analisado por Krugman. As economias de escala permitem, portanto, a existência do comércio intraindústria, assim denominado o comércio dentro de um mesmo setor industrial. Outra característica é que o comércio intraindústria é dominante entre países com grau de desenvolvimento econômico semelhante.

Esse tipo de comércio permitirá que os países se especializem em uma variedade menor de bens, produzindo-os com maior eficiência e em maior quantidade, auferindo ganhos de escala. As economias de escala permitem que

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exista comércio entre dois países mesmo que estes possuam idênticas dotações de fatores de produção.

2.5. Teoria do Ciclo de Vida do Produto

Raymond Vernon (1966) faz uma crítica às teorias neoclássicas do comércio internacional devido à sua ênfase exclusiva nos custos relativos dos fatores produtivos e no conceito de vantagens comparativas (estáticas) como determinantes dos fluxos internacionais de comércio, deixando assim de considerar outros elementos, cuja importância já se mostrava bastante evidente, a saber: as inovações, as economias de escala e a ignorância e incerteza decorrentes da informação limitada.

Ao enfatizar a importância desses elementos sobre a definição dos padrões de comércio e de investimento internacionais, a teoria do ciclo do produto desenvolve o argumento de que decisão sobre quando e onde investir na produção de um novo produto é influenciada pela evolução das vantagens comparativas de custos ao longo do ciclo de vida do produto. E ao fazê-lo amplia o marco teórico da análise do comércio e investimento internacionais, na medida em que: i) estabelece um elo entre padrão de demanda e padrão de inovação; ii) imprime um sentido dinâmico à noção clássica de vantagens comparativas de custos, evidenciando assim o equívoco de se considerar a condição de vantagem/desvantagem comparativa de custos como sendo função exclusiva da dotação relativa de fatores, como se estes fossem conceitos intercambiáveis. A noção de ciclo de vida do produto é a seguinte: surgem novos produtos, estes se desenvolvem, atingem a maturidade, entram em declínio e, eventualmente, desaparecem.

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As fases do ciclo de vida do produto são:

I – Introdução ou lançamento: na fase inicial do desenvolvimento do produto os investimentos são crescentes. Com a introdução há um período lento crescimento das vendas. Não há lucros nesse estágio devido aos altos custos da introdução (investimento inicial, propaganda, distribuição).

II – Crescimento : período de rápida aceitação no mercado e de lucros crescente (supondo que o produto foi aceito pelo mercado). Durante esta fase, os lucros aumentam à medida que os custos promocionais se diluem sobre o maior volume de vendas.

III – Maturidade : período em que o crescimento das vendas se estabiliza. Nessa fase novos produtos concorrentes já estão se projetando, o que provoca redução das vendas. Gasta-se muito dinheiro com propaganda para enfrentar a concorrência. O lucro também estabiliza-se até entrar em declínio

IV – Declínio : período em que as vendas e os lucros caem. A queda nas vendas ocorre por diversas razões, incluindo avanços tecnológicos, mudanças nos gostos dos consumidores, obsolescência e devido ao aumento da competição tanto doméstica quanto pela entrada de concorrentes estrangeiros. Vernon parte desse conceito e o articula a uma teoria do comércio que aponta para uma noção de vantagens comparativas de caráter dinâmico e a uma

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teoria do investimento produtivo que pressupõe racionalidade limitada e estrutura de mercado em concorrência imperfeita.

Na fase inicial da introdução de um novo produto as decisões de investimento e produção se mostram relativamente mais complexas, uma vez que até mesmo os condicionantes mais imediatos do processo produtivo encerram elevado grau de indeterminação, levando a que os produtores se vejam defrontados com várias indefinições críticas, ainda que transitórias.

Assim, Vernon argumentou que o surgimento de novos produtos, especialmente os intensivos em capital e tecnologia11, se daria inteiramente nos países mais avançados. Isso ocorre porque, nos estágios iniciais de desenvolvimento de um produto, as decisões de investimento e produção são complexas, sendo fundamental o conhecimento, a capacidade de inovação e gastos em pesquisa e desenvolvimento. Então, como início do ciclo de vida de um produto é intensivo em capital, ele ocorreria nos países desenvolvidos, por serem esse países abundantes nesse fator de produção.

Na medida em que se exploram plenamente as economias de escala e as inovações incrementais vão surgindo, os custos unitários de produção dos novos bens vão se reduzindo, de modo que, em um segundo estágio, seu consumo pode se dar também em países de renda mais baixa. Assim, eles são produzidos e exportados pelos países industrializados. Em uma última etapa (ou estágio) de disseminação dos novos produtos (e, assim, tecnologias), torna-se possível a produção destes nos países relativamente mais atrasados.

Esta produção se daria por meio de empresas transnacionais. No modelo de Vernon a padronização do produto, o amadurecimento da tecnologia e a rotinização da produção, juntamente com a entrada de novos concorrentes induziriam as empresas a abrir subsidiárias no exterior, com vistas a auferir vantagens de menores custos de produção, ou mesmo proteger seus ganhos de monopólio com as inovações dada a entrada de novos concorrentes. A padronização da produção permite que os produtos passem de intensivos em

11 O modelo do ciclo do produto não trata da inovação industrial em geral, mas somente da inovação em classes de  produtos industriais voltados para consumidores de alta renda e cuja função de produção seja do tipo poupadora de

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capital para intensivos em trabalho e possam ser produzidos pelos países em desenvolvimento, abundantes no fator trabalho.

Vernon integra, em um mesmo modelo, a dinâmica de disseminação de internacional de inovações e a análise dos determinantes do investimento externo direto e dos padrões de especialização e comércio.

Representação esquemática do mecanismo do Ciclo do Produto de Vernon

Exportação - Importação Países em desenvolvimento 0 t0 t1 t2 Tempo t3 t4 outros países  país desenvolvidos inovador 

Introdução Maturação Padronizado

(1) (2) (3)

Estágios de desenvolvimento do produto

A Teoria do Ciclo do Produto baseia-se num conceito dinâmico de vantagens comparativas, ao contrário das teorias neoclássicas que supoem vantagens comparativas estáticas. A dinâmica se dá em torno dos produtos mais sofisticados que são originalmente produzidos em países desenvolvidos e, posteriormente, passam a ser produzidos nos países em desenvolvimento em decorrências dos custos de produção que são mais baixos nestes últimos. Então, as vantagens comparativas se deslocam para os países em desenvolvimento no estágio em que passam de intensivos em capital para intensivos em trabalho. A teoria explica bem o processo de internacionalização e decisões de investimento das empresas em outros países.

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Profa. Julia Olzog Críticas:

- O modelo do ciclo do produto não seria aplicável às inovações industriais em geral, mas tão somente às inovações em produtos associados a elevados níveis de renda, ou que permitem maior grau de substituição de capital por trabalho;

- O modelo, como explicação para a composição e dinâmica das exportações e dos investimentos produtivos externos dos países desenvolvidos, teve o seu poder de análise progressivamente reduzido à medida que se aprofundavam as transformações tecnológicas e produtivas nas décadas de 1970 e 1980;

- Além disso, a teoria não se sustenta mais num mundo globalizado. Com o processo de globalização da produção, as fases de produção são realizadas em diferentes países, muitas vezes inclusive em países em desenvolvimento onde os custos de produção são mais competitivos. Não há que se esperar a maturidade do produto para sua internacionalização.

2.6. Vantagem competitiva

Porter (1989), ao contestar as teorias clássicas, propõe uma nova abordagem, que deve ir além do conceito de vantagem comparativa, para se concentrar na vantagem competitiva dos países, refletindo o conceito de competição, que inclui mercados segmentados, produtos diferenciados, diversidades tecnológicas e economias de escala.

Para Porter, a competitividade de um país depende da capacidade da sua indústria de inovar e melhorar. As diferenças nos valores nacionais, a cultura, as estruturas econômicas, as instituições e a história são fatores que contribuem para o êxito competitivo. Em todos os países, constatam-se disparidades marcantes nos padrões de competitividade. Nenhum país é capaz de competir em todos e nem mesmo na maioria dos setores.

Três ambientes da competitividade são apresentados por Porter: o ambiente empresarial, o estrutural e o sistêmico. No primeiro, observamos a

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gestão de fato da firma em seus setores financeiro, tecnológico, etc. Ainda numa perspectiva micro, no ambiente estrutural, o mercado entra em cena e passamos a considerar as interações da firma com seus fornecedores, clientes, distribuidores e concorrentes, sejam eles efetivos ou potenciais. No ambiente sistêmico, já numa visão macro, as variáveis relevantes de análise serão as políticas macroeconômicas, sociais, de infraestrutura, educacionais do país.

Na construção de suas estratégias, as empresas devem ter por base uma análise da estrutura da indústria na qual a firma está inserida. A conduta das firmas deverá ser pautada em cinco elementos fundamentais, os quais servirão de bússola na formulação das estratégias: 1) ameaça de novas empresas; 2) concorrência efetiva; 3) ameaça de novos produtos ou serviços; 4) poder de barganha dos fornecedores; e 5) poder de barganha dos consumidores. Diante de tais condicionantes, as firmas traçaram seus esquemas estratégicos no sentido de aumentarem seus lucros e market-share. Em mercados onde a diferenciação é mais difícil, como no mercado de produtos agrícolas (commodities), a estratégia da liderança pelos custos é priorizada, tendo como fundamento a ideia de que o menor custo num mercado de produtos homogêneos é fator primordial de aumento de competitividade e, por conseguinte, de lucros. Contudo, em mercado onde a diferenciação é mais fácil, as firmas tendem a tirar proveito de tal aspecto e buscam a diferenciação de produtos e a criação de certo grau de monopólio relativamente ao produto. Na estratégia de enfoque, a firma escolhe seu nicho específico do mercado quanto foco de busca de lucros.

Talvez o ponto mais interessante e significante de abordagem de Porter acerca da vantagem competitiva das nações esteja na sua construção teórica do que ele chama de diamante nacional. É aqui que toda sua argumentação toma forma final de análise nova sobre o tema do comércio entre as nações. O diamante nacional seria na verdade a construção de vantagens competitivas das nações num ambiente estratégico sistêmico. Quatro elementos principais são apresentados e interrelacionados como sendo de fundamental relevância na construção do diamante nacional. São eles: 1) condições fatoriais (recursos

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humanos, físicos, de conhecimento, de capital e infraestrutura); 2) condições de demanda (determina o rumo e o caráter da inovação); 3) indústrias correlatas e de apoio (a proximidade de fornecedores e de indústrias correlatas aumenta a eficiência no acesso aos insumos, a coordenação de estratégias fica mais fácil, a inovação e o aperfeiçoamento contínuo são estimulados, ocorre a redução dos custos de transação); 4) estruturas, estratégias e rivalidade de empresas (quanto maior a rivalidade e competição interna entre as firmas, maior é a chance de se gerar grandes players internacionais a partir da base interna de competitividade). Além dos quatro elementos principais, dois outros são apresentados como coadjuvantes no processo de construção da competitividade nas nações: a) o papel do Estado; e b) o papel do acaso.

EXERCÍCIOS

1. (ESAF – AFRF/2000) A Teoria de Vantagens Absolutas afirma em quais condições determinado produto ou serviço poderia ser oferecido com:

a) preços de custo inferiores aos do concorrente. b) preços de aquisição inferiores aos do concorrente. c) preço final (CIF) inferiores aos do concorrente.

d) custo de oportunidade maior que as do concorrente. e) menor eficiência que os do concorrente.

Comentários

a) A Teoria das Vantagens Absolutas afirma que os países devem se especializar na produção daquilo em que forem mais eficientes. A forma de se medir essa eficiência é pelo custo de produção. Logo, cada país deve se especializar na produção dos produtos que tenham menor custo de produção, ou seja, menor preços de custo menores que os concorrentes. certo

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EXERCÍCIOS

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c) O preço CIF é o preço do bem acrescido do custo do frete e seguro internacional. A teoria não se preocupa com essas questões, independente de qual o preço negociado, se CIF ou FOB, a vantagem está no menor custo de produção. errado

d) O custo de oportunidade é um dilema econômico que decorre da noção de que toda escolha implica em algum tipo de renúncia, introduzido por Haberler. Esse conceito não tem relação com a Teoria das Vantagens Absolutas, mas sim com a Teoria das Vantagens Comparativas de Ricardo: a vantagem comparativa reflete o custo de oportunidade relativa, isto é, a relação entre as quantidades de um determinado bem que dois países precisam deixar de produzir para focar sua produção em outro bem. errado

e) Ao contrário, a base da teoria é a maior eficiência na alocação do fator trabalho. errado

 ______________ 

2. (ESAF - MDIC/2002) Sobre a Teoria das Vantagens Comparativas no Comércio Internacional, é correto afirmar o seguinte:

a) ao se considerar a eficiência produtiva dos países “A” e “B”, para que o país  “A” aproveite os ganhos de vantagem comparativa ao produzir um bem ou serviço específico, ele precisa possuir vantagem absoluta na produção do mesmo bem em relação a “B”.

b) no modelo de Ricardo, as condições de demanda interna condicionam os preços internos antes da abertura do mercado, já que tais preços são apenas parcialmente determinados pelo fator trabalho.

c) depois da abertura do mercado torna-se interessante para o país “A”  comprar um bem ou serviço do país “B”, que o produza a custo menor do que  “A”, visto que “A” passa a poder empregar sua mão-de-obra na produção de

outros bens ou serviços, em que tenha alguma vantagem comparativa.

d) mesmo sabendo-se os valores dos preços de mão-de-obra e os requisitos de trabalho inerentes à produção de um bem específico em dois países, não se pode utilizar a taxa de câmbio como parâmetro de comparação dos preços nos

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dois países, visto que as estruturas produtivas encerram distorções na formação de preços.

e) uma vez observada a abertura de mercados, a especialização da produção engendrada pelas vantagens comparativas passa a constituir novo incentivo ao aumento do comércio internacional, produzindo benefícios para todos os participantes dos mercados competitivos sempre que os preços relativos dos bens comercializados forem iguais aos que se observariam na ausência do comércio.

Comentários

Vamos recordar a Teoria das Vantagens Comparativas de David Ricardo. Antes de Ricardo, Adam Smith criou a Teoria das Vantagens Absolutas que dizia que os países deveriam se especializar e exportar bens em que fossem mais eficientes e comprar os bens que não fossem eficientes na produção. Se um país é mais eficiente em tudo não haveria comércio. Já a Teoria das Vantagens Comparativas ou Relativas provou que, mesmo um país A seja mais eficiente na produção dos dois produtos, ainda assim valeria a pena comercializar com o exterior (B), devendo o país A este se especializar na produção do bem em que fosse mais eficiente e B se especializar na fabricação daquele em que fosse menos ineficiente.

a) pela teoria das vantagens comparativas, o país A não precisa ter vantagem absoluta na produção dos bens, e o comércio ocorrerá desde que A seja relativamente mais eficiente na produção de outro bem, não do mesmo bem. errado

b) na teoria de Ricardo os preços são totalmente influenciados pelo fator trabalho. errado

c) Com a abertura comercial, os países irão se especializar na produção de bens que o produzam a custo menor, empregando os recursos disponíveis na produção destes bens e importarão produtos que tenham um custo de produção interna relativamente mais elevado. certo

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