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O ANARQUISMO AOS OLHOS DOS OUTROS: O MOVIMENTO OPERÁRIO NA GRANDE IMPRENSA DO SÉC. XX

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Academic year: 2021

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O ANARQUISMO AOS OLHOS DOS OUTROS: O MOVIMENTO OPERÁRIO NA GRANDE IMPRENSA DO SÉC. XX

Discente: Angelita Cristina Maquera Prof. Dr. André Luiz Joanilho (Orientador)

RESUMO

Este subprojeto pretende estudar as relações de classe que se estabeleceram na Primeira República, principalmente através das imagens que foram constituídas sobre o mundo do trabalho e sobre os trabalhadores por parte da elite republicana. O movimento operário se destacava pela presença masculina, no entanto, é válido destacar a presença feminina. As militantes anarquistas tentaram estabelecer um campo próprio de discussão sobre a participação das mulheres na luta por uma sociedade mais justa. Procuraram publicar artigos nos jornais operários, mas também agir em outros espaços como escolas, ligas de inquilinos, cooperativas e até mesmo nos próprios sindicatos. Compreender a ação dessas militantes é entender um pouco melhor a tentativa do anarquismo em modificar a situação social do país. Assim, as discussões no seio do movimento sobre a condição feminina e seu papel, a despeito de terem sido feitas majoritariamente pelos militantes, denota as sensibilidades para questões da família, da educação e de gênero que se apresentavam naquele momento.

Palavras-chave: Anarquismo; gênero; movimento operário.

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INTRODUÇÃO

Estudar qual imagem era veiculada da classe operária em jornais não operários é conhecer parte da sociedade que se constituiu na Primeira República. A elite buscou, e busca, impor suas imagens sobre a sociedade. Assim, pretendemos buscar nos periódicos utilizados pela elite a construção de um imaginário do mundo do trabalho, reconhecendo nele padrões explicativos para a realidade social feitos pela burguesia e, a partir destes padrões, compreender as ações sociais empreendidas por esta classe para impor a sua visão de mundo para os trabalhadores. Destacando o modelo de mulher ideal, que foi instituído pelos dominantes, a partir disto encontramos a resistência feminina, e como os jornais do operariado retratavam essa tentativa de moralização da sociedade industrial.

INFORMAÇÕES

A classe operária em fins do século XIX e início do século XX, buscou construir um discurso identitário tendo por fundamento a sua própria experiência na luta contra as imposições que a sociedade capitalista lhe fazia neste momento. Deve ser lembrado que o capitalismo industrial no Brasil ensaiava os seus primeiros passos, buscando encontrar o seu lugar na divisão internacional do trabalho, assim, as condições de trabalho se apresentavam as piores possíveis, pois ele ainda estava dependente de altas taxas de lucro para fazer as inversões no próprio processo produtivo. No entanto, como contraponto, a sociedade burguesa produz uma visão de mundo que não coaduna com as condições existência da classe operária.

Buscando atrair mão-de-obra européia, os agentes que a recrutavam insistiam na imagem de paraíso tropical, de terra de oportunidades, atraindo imigrantes que tentavam fugir da penúria em

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seus países de origem. Porém, esta imagem se desfazia rapidamente quando esses imigrantes entravam em contato com as condições de trabalho nas fazendas, para onde foram recrutados primeiramente, e nas fábricas, para onde muitos se dirigiam quando se deparavam com a situação de exploração no campo.

No entanto, a elite produzia em profusão imagens sobre o mundo que ela desejava estabelecer e este discurso aparece, principalmente, em jornais que tinham com público um segmento desta elite que tinha contato mais direto com os trabalhadores (médicos, professores, engenheiros, etc.), formando, assim, um imaginário sobre a sociedade..

Dessa forma, o estudo sobre este imaginário permite compreender processos sociais ainda hoje presentes na nossa sociedade, pois tiveram origem quando iniciou o estabelecimento do capitalismo industrial em nosso país.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Este trabalho busca destacar a importância da imprensa operária, pela sua influência à resistência nos locais de trabalho (greves), e também à todas as formas de poder, (escola, família nuclear), contra a disciplinarização , elementos estes construídos pela lógica do capital: o aumento da produtividade.Esta disciplina exigida no ambiente fabril, subjetivamente controlava a vida do trabalhador fora da fabrica, como a nova família.

Com essa nova família, a mulher foi a mais prejudicada, pois ela se torna a responsável por sua família, os discursos médicos enfatizavam por um lado, a importância da mulher para a educação dos filhos, do outro lado ela tinha de vigiar o marido para que não se perdesse nos vícios, prejudicando assim o seu rendimento no trabalho.

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A tese de Margareth Rago demonstra a postura da imprensa operária frente a questão feminina:

“As denúncias que a imprensa operária publica sobre a exploração do trabalho da mulher apelam, em primeiro lugar, para o problema moral da sexualidade e para os obstáculos à realização da função materna. (...) o lugar de trabalho é a antítese do lar.”77

Os textos libertários, mostravam uma imagem de mulher construída aos olhos masculinos, os quais retratam a mulher como frágil e com a vocação natural da maternidade, no discurso feminino encontramos o oposto, uma mulher independente e que luta contra as injustiças sociais, como a jornalista e escritora, Maria Lacerda de Moura.

Essa moralização burguesa, não só reprimia a sexualidade feminina, como se preocupava com a ocupação operária nas cidades.No imaginário burguês o pobre estava ligado a sujeira, a partir disso percebemos o tentativa dos dominantes de controlar o cotidiano do trabalhador, criando o modelo de fábrica moderna, com melhores instalações e mais limpeza , constrói-se a subjetividade burguesa, de que a moradia deve estar limpa.

“Percebidos como selvagens, ignorantes, incivilizados, rudes, feios e grevistas, sobre os trabalhadores urbanos que compõem a classe operária em formação nos inícios da industrialização no Brasil constitui-se paulatinamente uma vasta empresa de moralização.”78

77 RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986 78 Idem. Pág.12

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A nova indústria se constituía de discursos médicos, de engenheiros entre outros doutores, o que favorecia sempre o burguês, para o anarquista Bakunin, “A ciência burguesa legitima a exploração”.Para este anarquista de grande influência no movimento , era necessário a instrução do proletariado, pois só assim ele poderia conseguir sua emancipação, e o único caminho para isso é a associação.79

Para entender o processo de disciplinarização, se torna importante o debate das obras de Michel Foucault, através de sua metodologia e a concepção de relações de poder:

“Houve, durante a época clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo do poder. (...) ao corpo que se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, se torna hábil ou cujas forças se multiplicam.”80 Estas informações anteriores mostram alguns parâmetros que irão ser abordados no decorrer da pesquisa.

“Tomamos o nome de anarquistas ou libertários, porque somos inimigos do Estado, isto é, do conjunto de instituições políticas que têm por fim, a todos, os seus interesses e a sua vontade mascarada ou não com a vontade popular.”81

OBJETIVOS

Esta pesquisa tem como objetivo:

79

BAKUNIN, M. O socialismo libertário. Lisboa: Editorial Presença, 1984

80 FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. O nascimento da prisão: RJ, Vozes 1977 81 A Terra Livre, 10-12-1905.

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- Compreender processos sociais que foram originados no início do século XX, como as relações de produção; constituição de um imaginário sobre o mundo do trabalho e sobre os trabalhadores; - Verificar a formação de um discurso sobre o social produzido pela

elite republicana e o seu estabelecimento como visão de mundo predominante;

- Estudar o período da Primeira República tendo em vista a formação de uma classe operária e a constituição de um discurso identitário promovido pelos próprios trabalhadores.

METODOLOGIA APLICADA

Além das questões constantes no projeto principal, pretendemos desenvolver este trabalho com a pesquisa no jornal O Estado de São Paulo que a Universidade dispõe na forma de microfilme junto ao Centro de Documentação e Pesquisa Histórica. Para o desenvolvimento teórico do trabalho, contamos com a biblioteca do campus que possui as principais obras sobre o período.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As organizações sindicais, a emancipação do proletariado, a nova mulher, a formação da cultura operária e as correntes teóricas anarquistas, são fascinantes na pesquisa, todas as lutas por uma sociedade mais justa movimentam este estudo.

“A este conjunto de procedimentos disciplinares, os anarquistas e operários em geral se opuseram numa luta ferrenha, buscando realizar sua utopia de construção de um novo mundo, mais humano, mais justo, mais livre, onde todos teriam seus direitos de vida assegurados.”82

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