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TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical A EXECUÇÃO DA SENTENÇA NACIONAL E ESTRANGEIRA E SUAS PECULIARIDADES. Inez Balbino Petterle Advogada

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A EXECUÇÃO DA SENTENÇA NACIONAL E ESTRANGEIRA E SUAS PECULIARIDADES

Inez Balbino Petterle Advogada Área do Direito: Arbitragem, Processual, Civil.

Palavras-chave: Arbitragem, Sentença arbitral, Nacionalidade, Territorialidade, Lei nº 9.307/1996 artigo 34.

O caso em tela refere-se à decisão proveniente do Superior Tribunal de Justiça, por meio da decisão unânime da 3ª Turma, no Recurso Especial STJ nº 1.231.554-RJ, relatado pela Ministra Nancy Andrighi, em que se posicionou no sentido de que a nacionalidade da sentença arbitral é determinada exclusivamente pelo local em que for proferida.

O motivo gerador da arbitragem foi proveniente de um contrato de prestação de serviços na plataforma da Petrobras P-36, que afundou na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, em 2001. O caso deflagrou uma série de litígios na Justiça brasileira e do exterior, acompanhados de debates sobre homologação de sentenças arbitrais estrangeiras.

A empresa Nuovo Pignone, filial da General Electric (GE) de óleo e gás, com sede na Itália, prestou serviços para a Marítima, que atuou na construção da plataforma. A decisão arbitral determinou que a Petromec, subsidiária da brasileira Marítima Petróleo e Engenharia e responsável solidária no caso, pagasse US$ 2,6 milhões à Nuovo Pignone, segundo informações do processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A Petromec argumentou que se tratava de uma sentença estrangeira e, dessa forma, dependeria de homologação na Justiça brasileira para ser executada, como transcrevemos: “A decisão advinda de um órgão internacional é estrangeira, independentemente de ser emitida em português por um árbitro brasileiro. O que define a nacionalidade é o organismo que profere a sentença, e não a língua ou o lugar que ela é proferida”.

Ao ingressarem em juízo, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ/RJ) decidiu que, mesmo que a sentença arbitral tenha sido prolatada no Brasil, essa é proveniente de uma Câmara de Arbitragem estrangeira. Dessa forma, de acordo com o artigo 35 da Lei nº 9.307/1996, deveria ser submetida a homologação pelo Supremo Tribunal Federal (STF).1

1 Art. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Supremo Tribunal Federal.

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A contrario sensu do entendimento do TJ/RJ, o STJ afirmou, por meio do voto da Ministra Nancy Andrighi, que, por mais que as partes houvessem instaurado e escolhido as regras da International Chamber of Commerce (ICC), isso não alteraria a nacionalidade da sentença proferida no Brasil.

Para uma melhor compreensão, a Lei da United Nations Commission on International Trade Law (Uncitral) define o que é uma arbitragem nacional e internacional, como abaixo transcrevemos in litteris:

“3) Un arbitraje es internacional si:

a) las partes en un acuerdo de arbitraje tienen, al momento de la celebración de ese acuerdo, sus establecimientos en Estados diferentes, o

b) uno de los lugares siguientes está situado fuera del Estado en el que las partes tienen sus establecimientos:

i) el lugar del arbitraje, si éste se ha determinado en el acuerdo de arbitraje o con arreglo al acuerdo de arbitraje;

ii) el lugar del cumplimiento de una parte sustancial de las obligaciones de la relación comercial o el lugar con el cual el objeto del litigio tenga una relación más estrecha; o

c) las partes han convenido expresamente en que la cuestión objeto del acuerdo de arbitraje está relacionada con más de un Estado.”2

Lembramos, a despeito do que mencionamos no texto acima, que a sentença arbitral estrangeira, para ser executada no Brasil, precisa de prévia homologação no Superior Tribunal de Justiça, de acordo com o previsto no artigo 35 da Lei nº 9.307/1996.

“Art. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Supremo Tribunal Federal.”

2 Uma arbitragem é internacional é:

a) Se as partes de um acordo de arbitragem tiverem, no momento da conclusão desse acordo, os seus lugares em estados diferentes, ou

b) um dos seguintes locais estiver situado fora do Estado em que as partes têm seus estabelecimentos:

i) o lugar da arbitragem, se foi determinado na convenção de arbitragem ou à arbitragem no âmbito do acordo;

ii) o lugar de cumprimento de uma parte substancial das obrigações da relação de negócio ou o lugar com o que o objeto da disputa é uma conexão mais estreita, ou

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Em 2004, por meio da Emenda Constitucional nº 45/2004, a competência de executar os títulos executivos judiciais enumerados no artigo 475-N do Código de Processo Civil (CPC), que se refere, no inciso IV, à sentença arbitral e, no inciso VI, à sentença estrangeira homologada pelo STJ, foi deslocada do STF para o STJ.

A Convenção de Nova Iorque, o tratado internacional mais importante sobre o reconhecimento e execução das sentenças arbitrais estrangeiras do mundo, foi redigida por sugestão da Câmara de Comércio Internacional para suprir a lacuna que existia sobre a homologação das sentenças arbitrais. Essa Convenção foi ratificada por mais de 130 países no mundo inteiro, sendo o Brasil o último da América do Sul. E, mesmo com 40 anos de atraso, a ratificação pelo Brasil foi bastante comemorada.

Transcrevemos o artigo 1º da Convenção de Nova Iorque (1958), promulgada pelo Brasil por meio do Decreto nº 4.311/2002, que prevê o reconhecimento e a execução da sentença arbitral estrangeira:

“A presente Convenção aplicar-se-á ao reconhecimento e à execução de sentenças arbitrais estrangeiras proferidas no território de um Estado que não o Estado em que se tencione o reconhecimento e a execução de tais sentenças, oriundas de divergências entre pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas. A Convenção aplicar-se-á igualmente a sentenças arbitrais não consideradas como sentenças domésticas no Estado onde se tencione o seu reconhecimento e a sua execução.”

Observamos, por meio do que expressa o ordenamento jurídico nacional, artigo 34 § único da Lei nº 9.307/1996, o critério que define a nacionalidade da sentença arbitral:

“Art. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente de acordo com os termos desta Lei.

Parágrafo único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do território nacional.”

Observamos no nosso ordenamento jurídico que o lugar da arbitragem, qual seja, o local em que foi proferida a sentença arbitral, não suscita grandes dúvidas, pela clareza do artigo 34; e ainda no inciso IV do artigo 10 “ao lugar em que será proferida a sentença arbitral”.

Dessa forma, afirmamos que o ordenamento jurídico brasileiro adotou o sistema territorialista, o local onde for proferida a sentença arbitral (ius solis), de tal sorte que:

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− são sentenças arbitrais estrangeiras aquelas prolatadas fora de nosso território; − e sentenças arbitrais nacionais aquelas proferidas em território nacional.

Nesse sentido, são salutares as lições de J. E. Carreira Alvim (Comentários à Lei de Arbitragem. Rio de Janeiro: Juruá, 2007, p. 181), ao consignar que:

“Para ser considerada estrangeira, basta que a sentença arbitral tenha sido proferida fora do território nacional, pouco importando a nacionalidade dos árbitros ou do tribunal, bem assim as regras (materiais ou procedimentais) que tenham presidido o juízo arbitral. Por isso, determina a Lei nº 9.307/96, dentre os requisitos obrigatórios do compromisso, dele conste o lugar em que será proferida a sentença arbitral, pois é este o seu elemento nacionalizante ou internacionalizante. Da mesma forma, se for proferida no território brasileiro, a sentença arbitral será nacional, ainda que

proferida por árbitro ou tribunal estrangeiro, segundo regras (materiais ou procedimentais) não-nacionais. O critério adotado foi o ius solis.”

De tal sorte, podemos analisar outros casos de homologação de sentença arbitral estrangeira, como ressalta a Ministra Nancy Andrighi em seu voto, que transcrevemos:

“1) SEC 894/UY (Corte Especial, Ministra Nancy Andrighi, DJe de 09.10.2008), Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional – a sentença foi considerada proferida na cidade de Montevidéu e, por consequência, autuada como sendo oriunda do Uruguai.

2) SEC 611/US (Corte Especial, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ de 11.12.2006) – ‘sentença arbitral proferida na Flórida, Estados Unidos, pela Câmara Internacional do Comércio – Corte Internacional de Arbitragem’.

3) SE 1.305/FR (decisão monocrática proferida pelo Min. Barros Monteiro, DJ de 07.02.2008) – por outro lado, não houve dúvidas acerca da internacionalidade da sentença arbitral, como se depreende pelo seguinte excerto, em que o relator consigna que ‘inicialmente a requerida ofereceu contestação alegando que as firmas dos árbitros, embora brasileiros, deveriam ser autenticadas no país em que foi proferido o Laudo Arbitral, ou seja, na França e não no Brasil’.” (Sem destaque no original.)

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CONCLUSÃO

Apesar de estarmos tocando em um conceito básico da Lei de Arbitragem, a nacionalidade da sentença arbitral, já definida anteriormente pela Lei nº 9.307/1996, artigo 34, § único, a decisão foi tratada de forma direta e pontual pelo Superior Tribunal de Justiça, para que não deixe brechas para outras decisões duvidosas pela matéria.

Concluímos que, sendo a sentença arbitral em comento de nacionalidade brasileira, ela constitui, nos termos dos artigos 475-N, IV, do CPC e 31 da Lei da Arbitragem, título executivo extrajudicial idôneo para embasar a ação de execução, sendo desnecessária a homologação pelo STJ, o que beneficia e muito a utilização da arbitragem em casos como esse, garantindo celeridade e um custo infinitamente mais baixo do que o processo judicial, motivando, dessa forma, a utilização desse instituto pelas empresas nacionais e estrangeiras.

Referências

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