UFPB – PRG _____________________________________________________________X ENCONTRO DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA
EDUCAÇÃO, ÉTICA E SUSTENTABILIDADE: REFLEXÕES SOBRE O PROLICEN/UFPB NO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA
Girlene de Melo Andrade (1) ; Cláudia Albuquerque Prazim (2) ; Maríllia Freire de Mendonça (2) ; Swamy de Paula Lima Soares (3) .
Centro de Educação/ Departamento de Fundamentação da Educação
RESUMO
Este texto objetiva discutir a relação entre ética, sustentabilidade e educação, à luz das experiências desenvolvidas no Projeto – PROLICEN: “Formação e educação no debate entre educação e desenvolvimento sustentável” em João Pessoa – PB. O referido projeto, ligado a Próreitoria de Graduação da Universidade Federal da Paraíba UFPB, teve como principal norte o debate sobre sustentabilidade ética e educação, a partir da construção de oficinas pedagógicas ministradas com alunos do terceiro período do curso de Pedagogia, Campus I UFPB. Foram realizadas duas oficinas com 50 alunos, a partir de quatro eixos trabalhados de forma interligada: o eixo econômico, político/social, cultural e ambiental. Como resultados parcialmente conclusivos, destacamos a necessidade de ampliação da discussão sobre desenvolvimento local e educação; entendemos que o alargamento do debate depende de uma ação mais incisiva da Universidade e outros setores da sociedade civil na articulação de propostas que envolvam os mais diversos temas que incidem sobre este debate.
PalavrasChave: Educação, ética, desenvolvimento sustentável.
1. Introdução
A questão do desenvolvimento local sustentável tem sido debatida em várias programáticas governamentais há alguns anos, especialmente com a consolidação de gestões municipais inovadoras no cenário brasileiro a partir de meados dos anos 80 (LESBAUPIN, 2000); juntase a isso o crescimento da discussão sobre o papel das questões ambientais nas gestões em todas as instâncias federativas do Estado, bem como em instituições de ensino superior, especialmente as Universidades Públicas. Esse crescimento se explica, também, pelo acirramento do debate internacional sobre sustentabilidade, que teve nas conferências internacionais os seus maiores impulsos de sucessos e insucessos. Esse texto procura contribuir, de forma modesta, para a discussão sobre as possíveis articulações entre educação e desenvolvimento sustentável, através dos resultados do projeto “Formação e integração no debate entre educação e desenvolvimento sustentável” no período 2005.01 e 2005.02. Da mesma forma, procuramos contribuir para a reflexão sobre o papel de certas instituições sociais, no caso, a Universidade, na promoção deste debate em seus cursos de formação de professores.
Para isso, iremos descrever os procedimentos utilizados para a realização da oficina e, posteriormente, discutir os principais resultados em articulação com os textos que subsidiaram nossas reflexões sobre o tema. Destacamos que, como resultados de publicação das atividades, dois textos foram apresentados no II Colóquio Internacional de Políticas Curriculares, demonstrando o esforço não só na divulgação dos trabalhos realizados, mas, sobretudo, o compromisso de formação integral do licenciado em pedagogia, articulando, no projeto, as ações de ensino, pesquisa e extensão. 2. Descrição Metodológica 4CEDFEPLIC01
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) (1) Bolsi sta; (2) Voluntári o(a); (3) Pr of(a) Ori entador(a)/Coordenador(a).As ações do projeto foram desenvolvidas em, basicamente, três grandes momentos; neles procuraremos dar conta de nossa proposta inicial: contribuir para a formação de licenciandos da UFPB, a partir da pluralidade e integralidade, expressa na condição indissociável entre ensino, pesquisa e extensão.
Em um primeiro momento foram realizados estudos sobre o conceito de sustentabilidade e as implicações para com os sistemas formais de educação (a escola). Estes estudos foram coordenados pelo professor coordenador do projeto e pelas duas professoras colaboradoras, e desenvolvidos através de reuniões, aulas, exposições dos professores, seminários, etc.
Um segundo momento de estudos e discussão se concentrou no debate sobre a realidade social e educacional pessoense. Na verdade, um dos motes investigativos do Projeto eram as possíveis ações de inovação da Gestão municipal, que assumiu em Janeiro de 2005, no sentido de aproximação da educação escolar com a realidade de desenvolvimento local. Nossa expectativa se dava pelo fato da gestão ter assumido um discurso de maior participação popular e fortalecimento dos conceitos de cidadania; da mesma forma, nos apoiamos em algumas primeiras ações que apontavam para uma inovação na gestão de políticas públicas, com destaque para as políticas de geração de renda empreendidas nos primeiros meses da gestão Ricardo Coutinho. A discussão sobre a realidade do município contribuiu para que as oficinas fossem pensadas a partir de um movimento de reflexão da própria realidade local.
Para isso, as alunas visitaram duas escolas municipais (Escola João Gadelha e João XXIII, ambas situadas em bairros de alta concentração populacional) para coletar dados sobre o funcionamento destas unidades, bem como entrevistar atores que evidenciassem a sua visão sobre a realidade local e as perspectivas de integração entre a escola e a comunidade (especificamente o diretor da escola e um grupo de três professores). Como falamos, este trabalho investigativo objetivou inserir as alunas no quadro da realidade local, levantando subsídios para a montagem da situação problema que iria ser trabalhada nas Oficinas (junto aos estudantes de pedagogia da Ufpb). A elaboração das mesmas apresentavase como terceiro desafio do projeto.
Após estes momentos iniciais foram formuladas oficinas sobre educação e desenvolvimento sustentável. Tais oficinas tiveram como base tanto as reflexões do grupo (professores e alunos bolsistas envolvidos) quanto as propostas de articulação entre escola e desenvolvimento sustentável desenvolvidos em alguns municípios nordestinos. Na verdade, nas discussões que deram subsídios ao projeto, discutimos algumas experiências apresentadas pelo professor orientador que vinculavam propostas de desenvolvimento com educação; juntase a isso as informações coletadas nas duas escolas públicas de João Pessoa. As oficinas foram realizadas com 50 alunos do curso de Pedagogia, no sentido de debater a temática em interação com a formação desses sujeitos. As oficinas tiveram como norte quatro eixos ligados à sustentabilidade do desenvolvimento local relacionadas com educação: econômico, político/social, cultural e ambiental.
3. Resultados
a. Formação do educador e desenvolvimento sustentável: desafios éticos e políticos
Uma das grandes questões que se colocam no debate entre educação e desenvolvimento sustentável é como os educadores estão sendo formados para discutir/trabalhar a temática. Neste sentido, destacamos dois tipos de desafios para a formação: o primeiro referese ao aprofundamento sobre o tema, não se limitando aos chavões que propagam, tanto a educação como o desenvolvimento sustentável, os grandes “salvadores” de nossos desastres sociais e ambientais que, historicamente, foram construídos na formação de nossa sociedade. O segundo grande desafio é proporcionar uma reflexão ética sobre o papel do educador, distanciandose de concepções reducionistas e, ao mesmo tempo, construindo reflexões a partir da experiência/reflexão dos próprios educadores. Nesse verdadeiro caleidoscópio de teorias e práticas sociais, o educador se encontra em permanente desafio: analisar o discurso e as práticas a partir de uma profunda reflexão da realidade, baseada na ética da ação educativa.
No que se refere à articulação entre educação e desenvolvimento sustentável, a tensão se revela nos níveis colocados anteriormente. Na verdade, percebemos de forma equivocada uma ressurreição de discursos que atribuem à educação escolar e ao desenvolvimento de certas instâncias federativas (no caso, os municípios) a única alternativa “salvacionista” de se empreender um desenvolvimento que englobe a sustentabilidade econômica, social e ambiental (ALTVATER, 1995; JARA, 1998). Esses discursos tendem a isolar as instâncias locais dos fenômenos nacionais e globais (coadunase com isso a falácia do fim do Estado Nação e a pouca problematização das questões nacionais ou regionais), atribuindo o sucesso ou o fracasso das práticas sociais exclusivamente aos atores que pertencem àquelas instâncias, no caso, os municípios. Da mesma forma, muitos desses discursos isolam o fator educacional, atribuindo a ele a total responsabilidade pela situação social das realidades locais, sem a devida problematização de outros fatores sociais tão relevantes para a reversão dos pífios indicadores sociais da maioria dos municípios brasileiros (SOARES, 2004).
Nesse sentido, destacamos duas possíveis tensões para o educador: por um lado, a tensão entre os limites e possibilidades da ação educativa na promoção de um desenvolvimento sustentável; a segunda tensão, que engloba a primeira, é sobre quais os projetos e práticas que se interpõem na construção do conceito de sustentabilidade, e como lhe dar com essa problemática. Os desafios postos incidem reflexões que vão desde a análise mais profunda da realidade onde este educador está inserido, quanto sua perspectiva ética e política frente a essa mesma realidade, procurando construir uma “postura de cidadania ampliada” tanto em seus educandos quanto em si próprio. Nessa perspectiva, a educação não só é afirmada como um direito, mas como um direito subjetivo, universal e inalienável, se constituindo como condição fundamental para a conquista da cidadania e para a construção de uma sociedade sustentável (MOURA, 2003). Ser cidadão, portanto, é uma das finalidades pedagógicas de nossa sociedade. O educador possui um dever ético de promover a cidadania em sua prática pedagógica, na possível luta por uma sustentabilidade ampliada, que inclua diversos aspectos do ser humano. Estes nortes/princípios teóricometodológicos subsidiaram o processo de percepção da realidade, nas ações de coleta de dados nas escolas públicas e, especialmente na formulação e desenvolvimento das oficinas temáticas.
b. A experiência das oficinas
Foram realizadas quatro oficinas com 50 alunos do curso de graduação em Pedagogia, a partir de quatro eixos trabalhados de forma interligada: o eixo econômico (sendo tratados assuntos como economia solidária, renda e educação, situação econômica das comunidades, projetos inovadores da atual gestão no que se refere ao financiamento de pequenos empreendimentos), político/social (temas como educação e democracia, papel ético do educador frente ao direito à educação por parte dos educandos, práticas de participação popular), cultural (educação, cultura e comunidade; tradição cultural e (re)elaboração da cultura; aspectos do município e do bairro; aspectos da família e da comunidade) e ambiental (ambiente e educação (educação ambiental); relação entre conhecimento e preservação do meio ambiente; utilização racional dos recursos naturais; dimensão de luta política e social nas questões do ambiente). O trabalho com os eixos procurou destacar as possibilidades de implantação de práticas inovadoras a partir de um compromisso ético dos educadores com os educandos e a comunidade; na verdade, entendese o debate ético vinculado à prática política e social, onde a reflexão da realidade é o passo fundamental da ação e nova reflexão. Neste sentido, foram discutidas formas de organização do espaço escolar que pudessem contribuir para essas inovações, através da mobilização dos atores que compõem a escola.
De forma geral as oficinas iniciavam com uma sensibilização coletiva sobre o assunto (contanto, em certos momentos, com breves explicações dos educadores, geralmente com o auxílio de textos). O segundo passo era levantar o debate através de assuntos do cotidiano (divididos em subgrupos), como a questão do tratamento do lixo na comunidade, a capacidade de geração de renda no município, a relação com os recursos naturais, etc. A abordagem das temáticas procurava explorar os pontos polêmicos, as idéias contrárias, as soluções e propostas diversas. Neste sentido, partimos do pressuposto da não “unicidade” de visões sobre sustentabilidade, escola, ética, cidadania ou ambiente. O terceiro momento das oficinas era a sistematização e apresentação dos resultados dos grupos, com o auxílio de recursos didáticos que possibilitassem uma maior interação entre os atores. Por fim, era sugerido um esforço
coletivo para buscar estratégias de inclusão da discussão na vida cotidiana da escola, através do diálogo com o Projeto Político Pedagógico, maior abertura para discussão nas instâncias participativas, etc.
Na verdade, o momento final se apresentava enquanto um dos mais ricos das oficinas, tendo em vista que desafiava os participantes a discutirem os assuntos de seu objeto de investigação no curso: a educação em geral e a escola em particular, evidenciando as diferenças, as concepções distintas de mundo e as várias práticas que se apresentam subjacentes aos conceitos trabalhados. Juntase a isso o desafio hercúleo de dialogar com o Projeto Político Pedagógico das escolas: desafio na medida em que seria necessário efetivamente trabalhar o PPP em uma perspectiva processual com a participação efetiva dos membros da comunidade escolar; tal caráter daria conta das dimensões políticas de um desenvolvimento que se apresenta sustentável a partir da participação/conscientização dos atores locais (no caso, os atores da própria escola).
Todo o processo das duas oficinas contou com uma sistematização (registro) das atividades tanto dos ministrantes envolvidos quanto do público alvo, os alunos de Pedagogia. A deliberação final do encontro (uma espécie de “plenária final”) sugeriu que o material advindo dos registros servisse de base para novas turmas de “multiplicadores”; da mesma forma, fora sugerida a publicação destes relatórios como forma de divulgação de uma experiência exitosa na área de formação de educadores sobre educação e sustentabilidade.
4. Considerações Finais
Ao final do processo, no mês de maio de 2006, a equipe composta pelo Professor Coordenador, pelas Professoras Colaboradoras e pelas Alunas de Pedagogia, chegou a algumas conclusões relevantes. São elas:
Ø O objetivo geral, bem como os objetivos específicos do projeto foram atingidos, com a reorientação do público alvo das oficinas;
Ø O material produzido fora compatível com as necessidades do grupo;
Ø A expectativa do grupo que participou das oficinas temáticas fora muito maior do que a esperada pela equipe, merecendo destaque o nível de interesse e a carência da discussão da temática no âmbito do Curso de Pedagogia da UFPB;
Ø Os participantes reivindicaram novas oportunidades de formação na área;
Ø O tempo dedicado às oficinas foi insuficiente para aprofundar os temas, sendo necessário um desdobramento das oficinas a partir de outras ações formativas;
Ø O espaço físico, localização e condições do local de realização das oficinas foram adequados para o bom desenvolvimento das atividades.
Neste sentido, a título de conclusão, destacamos a importância da Universidade enquanto espaço de diálogo sobre a formação de educadores, tendo como perspectiva, inclusive, o debate sobre ética, sustentabilidade e educação. Os desafios para a continuidade do debate são muitos; nosso texto procurou contribuir para uma reflexão de uma realidade local, repleta de êxitos e pontos a serem (re)inventados. A prática refletida nos convida a (re)criar novos espaços de participação e construção de uma ética ampliada, que estimule a prática consciente e a emancipação humana.
5. Referências
ALTVATER, E. O preço da riqueza pilhagem ambiental e a nova (des)ordem mundial. Ed. Unesp, São Paulo, 1995.
JARA, Carlos J. A sustentabilidade do desenvolvimento local. SEPLAN, Recife, 1998. LESBAUPIN, Ivo. Poder Local X Exclusão Social. Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 2000.
MOURA, Abdalaziz. Princípios e fundamentos da proposta educacional de apoio ao desenvolvimento sustentável – PEADS: uma proposta que revoluciona o papel da escola diante das pessoas, da sociedade e do mundo. Glória de Goitá, PE: Serviço de Tecnologia Alternativa, 2003.
SOARES, Swamy de Paula Lima. Educação e Desenvolvimento Sustentável: limites e possibilidades da ação política local. Dissertação de Mestrado. UFPE, Recife, 2004.