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A intervenção do serviço social na gestão participativa das mulheres idosas institucionalizadas na Sociedade Espírita Obreiros da Vida Eterna SEOVE - Florianópolis/SC

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA AMILTON GONÇALVES

A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA GESTÃO PARTICIPATIVA DAS MULHERES IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS NA SOCIEDADE ESPÍRITA

OBREIROS DA VIDA ETERNA SEOVE – FLORIANÓPOLIS/SC

Palhoça 2009

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AMILTON GONÇALVES

A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA GESTÃO PARTICIPATIVA DAS MULHERES IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS NA SOCIEDADE ESPÍRITA

OBREIROS DA VIDA ETERNA SEOVE – FLORIANÓPOLIS/SC

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do titulo de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Professora Msc. Vera Nícia Fortkamp de Araújo

Palhoça 2009

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AMILTON GONÇALVES

A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA GESTÃO PARTICIPATIVA DAS MULHERES IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS NA SOCIEDADE ESPÍRITA

OBREIROS DA VIDA ETERNA SEOVE – FLORIANÓPOLIS/SC

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do titulo de Bacharel em Serviço Social e aprovado em sua forma final pelo Curso de Serviço Social, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 22 de junho de 2009.

__________________________________

Prof.ª e orientadora Vera Nícia Fortkamp de Araújo, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________ Prof.ª Maria Isabel da Silva, Msc. Universidade Federal de Santa Catarina

_________________________________ Prof.ª Regina Panceri, Dra.

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A Idade de Ser Feliz

Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para

realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.

Uma só idade para a gente se encontrar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer. Fases

douradas em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e

entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.

Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e

quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa.

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Dedico esta etapa da minha vida a minha mãe Olentina Gonçalves, pelos seus 81 anos bem vividos, pela sua capacidade, autonomia e disposição para o bem viver.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus pela conquista desta etapa na minha vida.

Aos meus pais, Manoel Gonçalves (in memoriam) e à minha mãe Olentina Gonçalves, que me orientaram para a vida e a lutar pela conquista dos meus ideais.

Aos meus irmãos, Erádio, Agricio, Gorett, Eliza e Jurandir, que me incentivaram com seus exemplos de vida.

Aos meus sogros Camilo e Maria Custódia e aos meus cunhados e cunhadas, que sempre estiveram dispostos a me ouvir e dar sugestões. Sou muito grato a todos eles.

Aos meus filhos Gabriela e Filipe pela paciência, incentivo e compreensão. Amo muito vocês!

À minha amada esposa Terezinha, que sempre esteve presente colaborando na realização deste trabalho, com bondade, amor e dedicação.

Em especial agradeço à minha orientadora pedagógica, Vera Nícia, pelo apoio e orientação. Muito aprendi com seus conhecimentos na área do idoso e com a sua dedicação pela profissão que exerce. Muito Obrigado!

À minha supervisora de estágio, Patrícia, que contribuiu para o desenvolvimento deste trabalho.

Aos gestores e funcionários da SEOVE, pela acolhida.

Às idosas internas da SEOVE, pelo carinho com que fui recepcionado e laços afetivos que surgiram. A troca de experiência foi motivo para a elaboração deste trabalho.

Aos colegas de turma, em especial à minha amiga Renata, pela contribuição em minha graduação.

Aos meus colegas de trabalho do Centro de Memória da ALESC, pela atenção dedicada.

Agradeço a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a conclusão deste trabalho.

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RESUMO

Neste Trabalho de Conclusão de Curso apresentaremos a intervenção do Serviço Social na gestão participativa das mulheres idosas internas institucionalizadas, a partir das ações desenvolvidas no ambiente institucional – Sociedade Espírita Obreiros da Vida Eterna - SEOVE, no qual desenvolvemos a experiência profissional, cujo eixo temático é a gestão participativa com idosos em Instituição de Longa Permanência para Idosos – ILPI. Este estudo procura evidenciar a prática profissional voltada para a garantia e efetivação de direitos humanos e sociais, vinculada ao projeto ético político em consonância com o Código de Ética da profissão do Assistente Social, com metodologia adequada, para a realidade da pessoa idosa institucionalizada. Trabalhar com o segmento populacional idoso exige, dos profissionais, conhecimentos sobre o processo de envelhecimento pelo qual vem passando a população brasileira, oportunizando o desenvolvimento e planejamento de ações para o seu enfrentamento como é abordado neste estudo. A preocupação com a velhice corresponde à preocupação com o futuro de todos os indivíduos, partindo do pressuposto de que todos nós envelheceremos, a institucionalização se estabelece em apenas uma das várias temáticas do envelhecimento que merece a atenção de toda a sociedade, e de pessoas voltadas para o estudo de suas questões. A proposta da gestão participativa vem com o intuito de mostrar as potencialidades dos sujeitos na elaboração e execução de vários atos. Aos gestores institucionais cabe a vontade para implantar e capacitar a equipe de recursos humanos. Estimular e preparar as pessoas idosas a atuarem como atores principais do processo de reconhecimento e afirmação dos seus direitos, preservando a sua independência, autonomia, cidadania, integração e participação efetiva na sociedade, prolongando a sua existência com bem estar e qualidade de vida, através de ações profissionais com atitudes pautadas principalmente na ética.

Palavras-chave: ILPI, Idosos. Serviço Social. Gestão participativa. Autonomia. Independência. Potencialidades.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1– Equipe de Recursos Humanos da SEOVE ... 20 Figura 2 – Equipe Técnica do Jardim de Infância Irmã Scheila... 20 Figura 3 – Envolvimento no Canteiro de flores - capacidade e desempenho ... 56 Figura 4 – Demonstração da autonomia das idosas no trato com o plantio das flores ... 57 Figura 5 –Oficina de Pintura – Autonomia e criatividade ... 58 Figura 6 – Oficina de pintura - Alegria e satisfação pelo resultado da produção... 59

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS: DISPOSIÇÕES EM LEI ... 13

2.1 APRESENTANDO A DINÂMICA DO HISTÓRICO INSTITUCIONAL: A SOCIEDADE ESPÍRITA OBREIROS DA VIDA ETERNA - SEOVE E SUAS CARACTERÍSTICAS ... 17

2.2 HISTÓRICO DE IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL ... 26

3 A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA SEOVE: UMA PROPOSTA DA GESTÃO PARTICIPAVA DAS IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS ... 31

3.1 A INSTRUMENTALIDADE COMO MEIO DE TRABALHO DO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL PAUTADO NO PROJETO ÉTICO POLÍTICO ... 37

3.2 POLÍTICAS SOCIAIS VIABILIZANDO OS DIREITOS ÀS PESSOAS IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS ... 39

3.3 A EXPERIÊNCIA DA PRÁTICA PROFISSIONAL NO CAMPO DE ESTÁGIO ... 46

3.4 A GESTÃO PARTICIPATIVA DAS IDOSAS INTERNAS INSTITUCIONALIZADAS: UMA INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL ENFATIZANDO A AUTONOMIA E A INDEPENDÊNCIA ... 54

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 60

ANEXOS ... 67

ANEXO A - Organograma da SEOVE ... 68

ANEXO B – Certificado de Inscrição ... 70

ANEXO C - Estatuto Social da SEOVE ... 72

ANEXO D – Procedimentos em Caso de Óbito... 81

ANEXO E – Regimento Interno do Grupo Amigas da Fraternidade “Regine Abreu” . 84 ANEXO F – Lei do Voluntariado ... 89

ANEXO G – Regimento Interno do Lar de Jesus ... 91

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1 INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso - TCC é o resultado da prática de estágio curricular obrigatório do Curso de Serviço Social – UNISUL, desenvolvida na Sociedade Espírita Obreiros da Vida Eterna – SEOVE, no período de 22 de agosto de 2007 a 03 de novembro de 2008, assim como de todo o processo de formação acadêmica, com base nos estudos e nos procedimentos teórico-metodológicos, técnico-operativos e ético políticos que estiveram presentes durante todo o processo de aprendizagem.

Instituições específicas para atendimento de pessoas idosas com 60 ou mais anos de idade têm diversos nomes, como por exemplo, abrigo, lar, casa de repouso, clínica geriátrica, asilos e as atualmente, denominadas de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), que correspondem aos locais físicos, sob regime de internato ou não, de caráter público ou privado, com ou sem fins lucrativos. Tal atendimento é realizado durante um período indeterminado por instituições que dispõem de funcionários capacitados, a atender as necessidades de cuidados com a saúde, alimentação, higiene, repouso, lazer e outras atividades características da vida institucional.

Contudo, a grande maioria das instituições não está preparada para proporcionar, aos seus residentes, serviços individualizados que respeitem a personalidade, privacidade e modos de vida diversificados. Há uma desvalorização das necessidades das pessoas idosas, por se acreditar que estas limitam-se a certas prioridades fisiológicas. A rotina é condicionada a horários estabelecidos pela instituição, sendo o tempo das pessoas idosas preenchido por ações rotineiras do dormir, comer e repousar, intercaladas com atividades passivas como assistir a programas pela TV.

Considerando que a velhice faz parte do curso da vida e, como outras fases da vida, é repleta de dificuldades e conquistas, perdas e ganhos. Durante este período da vida, como em outros, a pessoa idosa precisa ser reconhecida como pessoa e como cidadão. Pelas leis brasileiras o envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social. Então, para que possa haver um envelhecimento saudável e em condições de dignidade, uma vez que a pessoa idosa continua cidadão, é necessária a viabilização de formas alternativas de

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participação, ocupação e convívio social, para que possa sentir-se em condições de buscar e lutar pelos recursos que são seus de direito, pela melhoria e pela qualidade de vida no ambiente em que está inserida.

Por meio de estudos teóricos, bem como sobre a Política Nacional do Idoso (PNI), e demais políticas, o Serviço Social trata especificamente da sua execução, atuando pelo exercício profissional na defesa e na garantia dos direitos conquistados da pessoa idosa nelas contemplados. Desta forma, compreendemos a necessidade da valorização da autonomia e da cidadania, fatores considerados importantes no trabalho da auto-estima da pessoa idosa, determinantes da saúde e da doença, assim como do bem estar geral.

A nossa experiência no campo de estágio, pautada nas dimensões ético-políticas, técnico operativas e teórico-metodológicas, vem demonstrar que é possível dinamizar o cotidiano das idosas institucionalizadas desenvolvendo atividades que valorizem a sua participação nas ações cotidianas.

Junto à família ou em grupos de seus interesses é que devemos aproveitar essas motivações e transformá-las em ações de participação no sentido da construção da cidadania.

Surge daí a necessidade de um plano de ação do Serviço Social enfatizando a importância da participação das idosas internas compreendendo as decisões das atividades que lhes dizem respeito, na construção da gestão participativa em uma instituição de longa permanência para elas.

Desta forma, escolhemos como tema deste TCC “A Intervenção do Serviço Social na Gestão Participativa das Mulheres Idosas Institucionalizadas na SEOVE – Florianópolis/SC”.

A questão da problemática que direciona o TCC, é: Qual a contribuição da Intervenção do Serviço Social na construção da gestão participativa das mulheres idosas institucionalizadas na SEOVE?

Entendemos que o modo pelo qual podemos contribuir no avanço do processo de trabalho do Serviço Social na esfera da SEOVE, em primeiro momento significa conquistar espaço discutindo a nossa proposta de intervenção e o desenvolvimento de ações que apontem a participação social das idosas institucionalizadas nas atividades da SEOVE, seja nos grupos de convivência, junto aos familiares e, mais especificamente, sobre a conquista da sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade da qual faz parte, como bem

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podemos constatar, a partir das diretrizes da Política Nacional do Idoso (PNI). Com isso temos como hipótese levantada que as idosas institucionalizadas possam adquirir autonomia em relação à gestão participativa da SEOVE conforme prevê o Estatuto do Idoso que trazemos para a discussão neste estudo.

Ressaltamos a contribuição e a importância da intervenção do Serviço Social no desenvolvimento nas atividades da gestão participativa das idosas institucionalizadas na SEOVE, que teve como resultado atividades planejadas com a participação do grupo das idosas do Lar de Jesus. Foi possível percebermos as potencialidades das idosas institucionalizadas que, mesmo diante das suas limitações, marcaram presença, atuando com autonomia em todas as atividades desenvolvidas, como veremos no decorrer deste trabalho.

Destacamos as atividades que envolveram a música, as do “Canteiro de Flores” e as da Oficina de Pintura, por encontrarmos nestas ações, meios favoráveis para o desenvolvimento da gestão participativa das idosas internas.

O trabalho visa, no entanto, refletir sobre o desenvolvimento da gestão participativa com as pessoas idosas internas institucionalizadas, tornando-se uma realidade da sua inclusão no planejamento das ações cotidianas vivenciadas no ambiente institucional.

Entendemos por gestão participativa a oportunidade que possibilita a formação e o fortalecimento de grupos que possam fazer valer a sua vontade, desde que seja respeitada a vontade e os anseios da maioria.

Para alcançar os objetivos propostos neste estudo teórico e prático, o Trabalho de Conclusão de Curso divide-se em quatro capítulos: o primeiro capítulo se constitui na introdução. No segundo capítulo apresentaremos o estudo do histórico institucional, a contextualização do histórico das Instituições de Longa Permanência para Idosos; como também o espaço institucional apontando a sua história, seu plano de ação, a rede de apoio, e a implantação do Serviço Social.

No terceiro capítulo, discorreremos sobre a intervenção do Serviço Social na gestão participativa das mulheres institucionalizadas na SEOVE, a partir da experiência da prática profissional, abordando a instrumentalidade utilizada, o projeto ético político da profissão, o diálogo estabelecido com as idosas internas, individualmente ou em grupos, as políticas sociais e a reflexão sobre a gestão participativa na perspectiva da autonomia.

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No quarto capítulo, as considerações finais, momento em que se propõe a contribuição do Serviço Social, na forma organizacional de gestão participativa de pessoas idosas, buscando a valorização destas pessoas, com vistas à sua plena integração e participação no espaço cotidiano em que vivem e na sociedade.

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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS: DISPOSIÇÕES EM LEI

O despontar das Instituições de Longa Permanência para Idosos, remete- nos à Idade Média, onde surgem locais de abrigos para rejeitados e desvalorizados socialmente, (velhos, mendigos, órfãos, dementes), em que as pessoas ou entidades que prestavam estes serviços buscavam a salvação da alma.

Alcântara (2004), em seu livro, Velhos institucionalizados e família: entre abafos e desabafos, revela indícios das primeiras instituições asilares que surgem no Cristianismo.

De acordo com dados históricos, as primeiras instituições filantrópicas voltadas a abrigar essa população surgiram no Império Bizantino, no século V da era cristã. Há registro de que o primeiro asilo foi fundado pelo Papa Pelágio II (520-590), que transformou a sua casa em hospital para velhos. (ALCÂNTARA, p.31, 2004).

A criação dos asilos surgiu da necessidade de solucionar a problemática das enfermidades, da pobreza e mendicidade e, com o passar dos tempos, essas classes vieram sendo trabalhadas de maneira isolada, passando a existir espaços diferenciados: os hospitais, os leprosários, os manicômios, os sanatórios, orfanatos e os asilos que passam a aceitar aqueles que não se incluíam nas outras instituições, como pobres, mendigos, os que perambulavam pelas ruas e os velhos.

Segundo a abordagem de Groisman (1999), “a história do asilo se relaciona a uma história da velhice, na verdade os asilos talvez sejam peças importantíssimas dessa história”. O autor aborda sobre o surgimento do Asilo São Luiz no Rio de Janeiro, nos finais do Século XIX, marcando o início de uma nova era para a velhice, no Brasil:

Pensar a constituição de um novo tipo de prática – a institucionalização da velhice – é inevitável esbarrar na questão de se identificar um movimento que separou uma determinada parcela da população – no nosso caso, os velhos – e lhe conferiu uma identidade própria, elegendo-a como alvo especifico de uma prática assistencial. Neste momento, a “velhice desamparada” emerge como uma categoria que classifica e separa determinados indivíduos do aglomerado de tipos que compõe a mendicância urbana, destinando-lhes um lócus privilegiado de assistência: O asilo de velhos. (GROISMAN, 1999 p.176).

Somente no século XX, o asilo passou a ser uma instituição para velhos, sendo a maior parte dessas instituições filantrópicas, com visão assistencialista,

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comumente mantidas por associações religiosas (espíritas, católicas, evangélicas), ou outras organizações da sociedade civil. Em geral muitas não possuíam infra-estrutura adequada e profissional qualificada para atender as pessoas idosas, oferecendo condições precárias de atendimento, estabelecendo-se dessa forma, como verdadeiros depósitos de velhos.

De acordo com Alcântara (2004, p. 32), as instituições existentes no século XX atendiam a velhice abandonada, que se configurava como uma população pobre e sem vínculos familiares. “O rótulo velhice institucionalizada encobria, então, várias categorias, moribundos, indigentes, pobres, inválidos, abandonados, solitários, doentes, alcoólatras e outros desvalidos”.

Conforme Rezende (2004), no Brasil e países de língua portuguesa, as instituições destinadas a abrigarem pessoas idosas, necessitadas de lugar para morar, alimento e cuidado por período integral, são conhecidas por asilos ou albergues. Sendo, em nossa sociedade, a expressão asilo, lembrada como um ambiente de pobreza e rejeição, contendo uma carga negativa, sendo geralmente aplicada quando se refere a uma instituição designada a atender idosos carentes.

O modelo asilar brasileiro ainda tem muitas semelhanças com as chamadas instituições totais, ultrapassadas no que diz respeito à administração de serviços de saúde e/ou habitação para idosos.

Goffman (2001) define instituição total como:

Um local de residência e trabalho, onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada. (GOFFMAN, 2001 p11).

Nesse espaço os indivíduos tornam-se cidadãos violados em sua individualidade, sem controle da própria vida, sem direito a seus pertences sociais e à privacidade, com relação difícil ou inexistente com funcionários e o mundo externo. De acordo com Alcântara (2004 apud CAMARANO 2007, p.172) “reconhece-se que no Brasil, recorrer a institucionalização de longa permanência é uma atitude polêmica, carregada de preconceitos.”

Camarano afirma que:

[...] Parte do preconceito pode ser decorrente do fato de que a história da institucionalização da velhice começou como uma prática assistencialista, predominando na sua implantação a caridade cristã. Mais tarde, a assistência, passou a receber influência da medicina social. Somente no inicio do século XX as instituições tiveram seus espaços ordenados: as

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crianças em orfanatos, os loucos em hospícios e os velhos em asilos, mas a velhice já se configurava como um problema social. A institucionalização era reflexo da pobreza individual e familiar e o termo asilo cristalizou-se como de instituição para idosos pobres. (CAMARANO, 2007, p.172).

Na análise de Neri (2003) em conteúdos de textos e jornais do Estado de São Paulo publicados entre 1995 e 2002, a respeito de noções que configuram as crenças, preconceitos, estereótipos, valores e ideologia sobre a velhice é que estas são socialmente aprendidas e aceitas pela sociedade:

Pode-se dizer que atitudes negativas, crenças incorretas preconceitos e estereótipos em relação à velhice são tão velhos quanto a rejeição do ser humano à dependência, ao sofrimento, à doença e à morte, que se tornam cada vez mais prováveis com o envelhecimento. Do mesmo modo, tem sido tema recorrente nas sociedades humanas a rejeição à concentração de poder religioso e econômico entre os mais velhos. No entanto, como temas de estudo científicos, essas questões só despontaram nas ciências sociais nos últimos 55 anos, tangidas pelo processo de envelhecimento populacional, que permitiu a emergência de novas categorias etárias, tais como a terceira idade, meia idade, velhice avançada, bem como a institucionalização de políticas, profissões, organizações e serviços para atender às demandas desses novos segmentos populacionais. (NERI, 2003, p.14)

Com base no estudo de Siqueira e Moi (2003), o processo de envelhecimento no Brasil caminha rapidamente incidindo em intensa diversidade e problemas sociais, tornando-se complicado prever a competência do país em dar um retorno apropriado ao crescimento da população das pessoas idosas.

Percebe-se, neste sentido, que nem a família, nem a sociedade e nem o poder público estão preparados para conviver com essa nova realidade demográfica. Observa-se que o processo de “modernização” do país vem acabando com as construções tradicionais de abrigo à velhice, destacando-se a rede de relações familiares, sem inserir novos modelos de proteção.

A acelerada urbanização da sociedade brasileira nas últimas décadas vem causando um crescente acesso da mulher no campo de trabalho, trazendo alterações no grupo familiar, com diminuição das famílias numerosas, o que faz aumentar a procura por novas formas de acolhimento às pessoas idosas fora do contexto familiar.

Nesse cenário estabelecem-se as instituições de longa permanência, ainda utilizando a denominação de instituições asilares que em, sua maioria, são mantidas por Organizações Não Governamentais (ONGs) e destinadas ao

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atendimento das pessoas idosas necessitadas e de casas geriátricas ou de repouso, algumas atendendo a um público idoso com melhores condições econômicas.

Nas reflexões de Silva (2007), sobre temas pertinentes relacionados ao envelhecimento, a autora questiona sobre o crescimento dos asilos em nosso país, e afirma que a principal causa é a falta de políticas públicas, democráticas, solidárias e com condições estruturais à elaboração da qualidade de vida da população brasileira da qual os velhos fazem parte. Segundo a autora:

Além da falência do Estado, outra, é a falência da família. Embora esta falência tenha a ver com as políticas publicas, existem outros fatores de desenvolvimento social e biométrico contribuindo para que as famílias não possam ou não queiram valorizar e proteger seu velho. Hoje em dia, com a supervalorização da beleza física, da produção, da agilidade de movimentos e do pensar, o velho passou a enfear os ambientes, a depender, física e intelectualmente, dos mais jovens. [...] Todos no grupo familiar têm suas ocupações, tanto os adultos quanto as crianças, não havendo tempo para conversar, ouvir e muito menos trocar afeto. O velho é o passado da família que nem sempre se constitui numa boa lembrança. Assim seja por falta de recursos, para atender as necessidades básicas e/ou as suas fragilidades físicas e emocionais, acabam se tornando um peso para os familiares, que vem no asilamento mais que uma solução, um alivio. O asilo é um espaço de vida para o velho pobre ou para o que não é pobre, mas a família o rejeita. É equipamento com a função de assistência pública ou privada [...] (SILVA, 2007, p.78/79).

Nos estudos de Siqueira e Moi (2003), percebe-se que nas instituições asilares brasileiras há um crescimento na procura por vagas, não só por parte das pessoas idosas com alta dependência, necessitando de atendimentos específicos, como também, por idosos “jovens”, na maior parte compreendidos na faixa etária de 60 a 65 anos. Estando esses idosos, totalmente fora do mercado de trabalho, e da proteção familiar em decorrência das transformações socioeconômicas em curso na nossa sociedade.

A instituição asilar, como modalidade de proteção, preenche a lacuna aberta pelas dificuldades da família em atender às necessidades de seus idosos e pela falta de implementação de programas que apóiem sua permanência na comunidade e no ambiente familiar, como proposto na Política Nacional do Idoso. (SIQUEIRA E MOI, 2003, p.167).

A Política Nacional do Idosono Decreto Nº. 1.948, de 3 de julho de 1996 no seu Art. 3º, traz, na forma da Lei, a prestação da assistência social aos idosos.

Entende-se por modalidade asilar o atendimento, em regime de internato, ao idoso sem vinculo familiar ou sem condições de prover à própria subsistência de modo a satisfazer as suas necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência social.

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E no Parágrafo Único do mesmo Decreto, declara que: “a assistência na modalidade asilar ocorre no caso da inexistência do grupo familiar, abandono, carência de recursos financeiros próprios ou da própria família.”

Neste sentido, na sua grande maioria, a família, na atualidade, enfrenta determinados problemas que não consegue solucionar internamente, e acaba repassando para outras instituições, que não a familiar, as questões que antes eram de sua responsabilidade.

A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG - 2003) adotou a expressão “Instituições de Longa Permanência para Idosos” (ILPI) o correspondente para designar esse tipo de instituição. Define como “estabelecimentos para atendimento integral institucional, cujo público alvo é pessoas de 60 anos e mais, dependentes ou independentes, que não dispõem de condições para permanecer com a família ou em seu domicílio.”

A Resolução da Diretoria Colegiada - RDC/ANVISA nº 283, de 26 de setembro de 2005, em seu Art. 1º, aprova o Regulamento Técnico que define normas de funcionamento para as Instituições de Longa Permanência para Idosos, de caráter residencial. E no Art. 4º da mesma RDC, define ILPI como:

Instituições governamentais e não governamentais, de caráter residencial, destinadas ao domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condições de liberdade, dignidade e cidadania.

Torna-se indispensável ao Serviço Social, aos gestores das organizações e do próprio Estado ter conhecimento da realidade das instituições no intuito da compreensão das diferentes dimensões do processo de envelhecimento. A partir daí desenvolver ações para que seja garantida a qualidade nos serviços prestados à população idosa que lhe permita manter a autonomia, independência e a participação como cidadã na vida de sua comunidade.

2.1 APRESENTANDO A DINÂMICA DO HISTÓRICO INSTITUCIONAL: A SOCIEDADE ESPÍRITA OBREIROS DA VIDA ETERNA - SEOVE E SUAS CARACTERÍSTICAS

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Para apresentarmos o histórico institucional da SEOVE, buscamos conhecer sobre o que havia sido escrito em Relatórios de Atividades da SEOVE, (2005, 2006 e 2007). A leitura realizada possibilitou-nos conhecer melhor a SEOVE. Para tanto, procuramos contextualizar a situação do país na época de seu surgimento.

Na década de 70, especificamente de 1969 a 1974, o país era governado pelo Presidente militar Emílio Garrastazu Médici, período considerado o mais repressor dos governos militares. Havia um rígido controle político interno através de prisões arbitrárias, censura total dos meios de comunicação, tortura e desaparecimento de presos políticos. Mas, apesar deste rígido controle, Médici obteve êxitos econômicos em sua administração, sendo que, no campo social, criou o Plano de Integração Social, para a participação dos trabalhadores nos lucros das empresas. Porém, os trabalhadores informais ficaram à margem deste plano e a demanda por um atendimento sócio-assistencial crescia.

Neste sentido, ou seja, para amparar o seguimento populacional idoso, nasceu da aspiração missionária do comerciante Alcides Abdala Filho, um lar edificado em um terreno pertencente à sua família, localizado no Bairro Campeche, Florianópolis/SC nos idos de 1970, denominado Sociedade Espírita Obreiros da Vida Eterna – SEOVE.

O envolvimento do idealizador com o clube de serviços da maçonaria e a comunidade em geral, especialmente o Movimento Espírita Florianopolitano, permitiu a construção física das obras assistenciais da SEOVE em 10 de fevereiro de 1972, fundada por Alcides Abdala Filho, que foi o primeiro presidente da instituição.

A SEOVE é uma sociedade civil de caráter educacional, cultural, filantrópico, de assistência social, sem finalidade econômica, pessoa jurídica de direito privado que serve desinteressadamente à comunidade sem qualquer discriminação. Possui sua sede própria localizada no Bairro Campeche, Distrito de Florianópolis no Estado se Santa Catarina, registrada no Registro Civil Títulos, Documentos e Pessoas Jurídicas, de Nº A – 12, às fls. 189, sob termo Nº 928, de 28 de março de 1972. (Relatório de Atividades 2005-SEOVE p.10). Considerada de Utilidade Pública Federal conforme proc. 604/94-83, Estadual, segundo a Lei Nº 5.023 de 02/07/74 e Municipal através da Lei 1.134/72.

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Por ser uma sociedade de Assistência Social, a SEOVE está vinculada às Políticas Nacionais de Assistência Social. Sendo assim, tem seu registro no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) nº229. 166/74.

A organização tem por objetivo o atendimento da demanda relacionada a idosos e crianças e o trabalho com a comunidade. Sua missão é:

Amparar, assistir, orientar, capacitar, recuperar e educar o ser humano biopsicosocial e espiritual, proporcionando aos trabalhadores da casa integração no campo de trabalho para seu aprimoramento espiritual, divulgando a doutrina espírita, integrando-se ao movimento espírita. (Relatório de atividades – SEOVE, 2006, p. 07)

Consta ainda no Relatório de Atividades da SEOVE (2005), que a instituição é também uma entidade religiosa embasada nos princípios da Doutrina Espírita pela qual busca propiciar assistência religiosa aqueles que desejarem, respeitando as suas crenças e mantém as seguintes atividades:

• Exposições Doutrinárias Públicas;

• Atendimento Fraterno;

• Estudos Sistemáticos da Doutrina Espírita;

• Grupo Mediúnico de Assistência Espiritual;

• Assistência Fluidoterápica às idosas internas e à comunidade freqüentadora;

• Evangelização à Infância e à Juventude;

• Grupo de Canto.

A SEOVE organiza-se administrativamente em conformidade com as disposições legais estatutárias, adaptadas ao novo Código Civil Brasileiro, aprovado pela Lei Federal nº. 10.406, de janeiro de 2002, seguindo padrões hierárquicos estabelecidos no organograma – Anexo A.

A Assembléia Geral é o Poder Supremo de última instância da Sociedade: a ela é submetido o Relatório da Presidência, composta da síntese das principais realizações operacionalizadas pela Diretoria; demonstrações da receita e das despesas, balanço social e parecer do Conselho Fiscal relativo ao exercício social.

Segundo o Estatuto Social da SEOVE (ANEXO C), artigo 9°, a receita da sociedade é constituída de:

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b) Doações, legados, donativos e contribuições; c) Subvenções, auxílios, acordos e outros; d) Produtos de campanhas e festividades; e) Produtos de vendas, artesanais e livros.

Passamos a apresentar o quadro de RECURSOS HUMANOS DA

SEOVE:

Figura 1– Equipe de Recursos Humanos da SEOVE

Fonte: Dados da Sociedade Espírita Obreiros da Vida Eterna - SEOVE, 2006.

FUNÇÕES FUNCIONÁRIOS/COLABORADORES Coordenador Pedagógico 01 Supervisora 01 Professores 05 Auxiliares de Sala 03 Serviços Gerais 02 Total de Servidores 12

Figura 2 – Equipe Técnica do Jardim de Infância Irmã Scheila

Fonte: Dados da Sociedade Espírita Obreiros da Vida Eterna – SEOVE, 2006.

Diante deste quadro, ora apresentado, dos recursos humanos existentes para o devido atendimento às idosas institucionalizadas, até o momento, na SEOVE, a realidade com a qual nos deparamos é a de que mudanças ainda precisam acontecer, como por exemplo, a capacitação de toda a equipe envolvendo tanto os

FUNÇÃO N° FUNCIONARIOS

Secretária 01

Técnico Nível Superior 01

Técnico em Enfermagem 05 Assistente Social 02 Auxiliar de enfermagem 02 Serviços Gerais 14 Motorista 01 Arrecadador de Recursos 01 Total de Servidores 27

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gestores, quanto os funcionários, os estagiários e voluntários, realizando uma constante avaliação, como instrumento facilitador à conquista de um perfil adequado para atendimento às idosas.

Para as Instituições como a SEOVE é importante ter o Registro e o Certificado de Entidade Social e exercer o controle social, através da participação atuante nos Conselhos de Direito Municipal e Estadual da Pessoa Idosa, representados por uma profissional do Serviço Social. Tal registro garante, desta forma, a manutenção de índices e parcelas aceitáveis de recursos. Neste sentido consegue manter-se, por meio dos convênios firmados com o Governo Federal, Estadual e Municipal, pelos quais são liberados recursos financeiros através de Subvenção Social, das contribuições fixadas nos recursos recebidos pelas idosas institucionalizadas, através de pensões, aposentadoria ou do Beneficio de Prestação Continuada (BPC), onde no caso de curatela1 a instituição fica com 100% do salário e nos casos de procuração com a pessoa idosa, a SEOVE administra 70% do benefício e 30% é repassado para as internas.

Conta, também, com a colaboração dos associados por meio de contribuição mensal na conta de energia elétrica e através de carnês. Outros valores são provenientes com a realização de brechó, bazar beneficente e ainda das doações em espécie feitas pela comunidade.

A Receita da SEOVE é revertida para pagamento de salários do quadro de Recursos Humanos, encargos sociais, alimentos, material de limpeza e higiene, medicamentos e serviços de manutenção.

O custo-assistência às idosas institucionalizadas aumenta devido à sua longa permanência na instituição e nos casos do agravo de saúde, com um significativo acréscimo de situações de dependência física que exigem melhor qualidade do atendimento na área da saúde e mais RH qualificados.

O Plano de Ação, constituído pela SEOVE no ano 2001, veio ao encontro do seu reordenamento institucional, conforme orientação da Lei federal 8842/94 que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso e define no Art. 1º o seu objetivo que é, “assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua

1

Estão sujeitos à curatela – aqueles que, por enfermidades ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil. (Art.1.767. Cap II da curatela, seção I dos interditos – Novo código Civil, 2006 p.305).

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autonomia, integração e participação efetiva na sociedade”, e posteriormente a adequação ao Estatuto do Idoso, Lei 10741 de 01/10/2003, Art.1°. “É instituído o

Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com “Idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos”. A Política Nacional do Idoso e segundo o Estatuto do Idoso, determina o resgate dos vínculos familiares, o que demanda uma ação específica ao regime asilar, tanto para atuar com o idoso interno quanto para atuar com quem está em vias de internação. É assegurado no Estatuto do Idoso, Art. 49: As entidades que desenvolvem programas de institucionalização de longa permanência adotarão os seguintes princípios:

I – preservação dos vínculos familiares;

II – atendimento personalizado e em pequenos grupos;

III – manutenção do idoso na mesma instituição, salvo em caso de força maior;

IV – participação do idoso nas atividades comunitárias, de caráter interno e externo;

V – observância dos direitos e garantias dos idosos;

VI – preservação da identidade do idoso e oferecimento de ambiente de respeito e dignidade.

Atualmente, 70% das idosas internas atendidas na SEOVE, possuem alguma dependência física por doença crônica - degenerativa, todas indistintamente não dispõem de recursos para prover sua subsistência, necessitando de cuidados especiais. São 16 idosas com deficiências físicas, sendo que 07 utilizam cadeiras de roda, 03 das internas são deficientes visuais, 04 com deficiência auditiva, 01 com grau de dependência III (Conforme Resolução da ANVISA nº 283/2005) e 01 que não fala (muda).

Os trabalhos da Organização estão direcionados para o atendimento de 25 idosas que vivem em regime de internato no Lar de Jesus. Esse número de atendimento dá-se em razão do custo-internação e exigências legais, que estabelecem as normas para a construção das instalações físicas para moradia e dos espaços disponíveis que asseguram o acesso à mobilidade segura.

As idosas institucionalizadas na SEOVE têm uma agenda de atividades desenvolvidas semanalmente, de acordo com o Plano de Atividades do ano de 2005:

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• Participação nas atividades do Grupo de Convivência “Amigos da Fraternidade Regine Abreu”.

• Caminhadas pelos arredores da Instituição;

• Atividades físicas;

• Bingo;

• Atividades manuais de costura, crochê, argila, etc;

• Leitura do evangelho;

• Aulas de música;

• Momentos para ouvir estórias.

• Outras atividades foram desenvolvidas durante o ano de 2007 como podemos constatar:

• Festa dos aniversariantes do mês;

• Visita de grupo de jovens e alunos das escolas da comunidade;

• Festas em datas comemorativas (páscoa, dia das mães, natal...);

• Participação das idosas nas palestras do Centro Espírita da casa;

• Integração dos idosos com a criança, estimulando o idoso a participar de festividades do Jardim de Infância “Irmã Scheilla”;

• Visitas de outras instituições asilares e grupos de idosas, objetivando a integração;

• Passeios a outras instituições;

• Participação em bailes para a terceira idade.

Com relação às atividades propostas na SEOVE para as idosas internas, percebemos que são desenvolvidas sem a sua participação na programação e decisão. Isso vem dificultando uma maior integração no exercício da sua cidadania e nas práticas democráticas no cotidiano institucional. Foi a partir desta constatação que direcionamos à nossa intervenção profissional, como abordaremos no decorrer deste trabalho.

Ressaltamos a importância da capacitação para a instituição como meio facilitador na aplicação de conhecimentos, a fim de poder trabalhar as atividades não só como meio de entretenimento, mas, aproveitar da sua essência para tratar de assuntos como: família, amizade, envelhecimento, saúde-doença, a morte e as perdas e ganhos entre outros, com a institucionalização, principalmente na perspectiva da autonomia.

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A SEOVE também possui, em seu Plano de Ação constituído em 2001 pelo Serviço Social, os seguintes atendimentos:

Jardim de Infância, com 85 crianças na faixa etária entre 02 a 06 anos

denominado “Creche Irmã Scheila”, no qual se estabelece a Política Pedagógica para a criança expressa no Referencial Curricular Nacional (MEC/98). Conta com 04 professoras cedidas pela Secretaria Municipal de Educação através do Convênio Cessão de Professores.

As crianças atendidas são oriundas das famílias de baixa renda ou cujas mães trabalham fora de casa; na maioria são crianças carentes de recursos financeiros, afetivos e sócio-culturais, moradoras do Bairro Campeche e arredores.

Grupo de Convivência da Pessoa Idosa, denominado de Grupo de

Convivência “Amigos da Fraternidade Regine Abreu”, fundado em 19 de julho de 2006, substituindo o Clube de Mães que já existia desde 1974, no qual um grupo de voluntárias ensinava artesanato a pessoas da comunidade.

Atualmente, as atividades acontecem às quartas-feiras, das 14 ás 17 horas, nas dependências do Centro de Convivência da Pessoa Idosa, tendo como coordenadora a vice-presidente da SEOVE Regine Abreu, e o apoio de um grupo de voluntárias que organizam as atividades.

Participam destas atividades 37 idosas da comunidade do Campeche e arredores e 03 idosas internas do “Lar de Jesus”, com idades entre 60 e 80 anos. O grupo tem como finalidade o aprendizado e produção de artesanato como: corte e costura, bordados, tapeçaria, crochê, tricô, reforma e confecção de roupas para as idosas e confecção de enxovais para bebês, entre outras. Parte da produção é comercializada em bazar e a renda é destinada à auto-sustentação do grupo e manutenção da entidade.

Ressaltamos, no início de nosso estágio, a observação da presença de três idosas internas, que participavam com vontade, demonstrando familiaridade com o grupo, uma vez que haviam acompanhado a trajetória do grupo de convivência desde a sua fundação. Com relação às demais idosas institucionalizadas, não demonstravam interesse, necessitando de maior estímulo e acompanhamento, apresentando dificuldades para se locomoverem ao local do encontro, devido ao grau de dependência, ocasionado por doenças degenerativas. Percebe-se a falta de um projeto que inclua as idosas na participação do planejamento de atividades desenvolvidas pelo grupo de convivência, buscando

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alternativas que as incluam em tarefas compatíveis com as suas condições físicas, os seus gostos e demais necessidades.

Cabe aqui destacar a rede2² sócio assistencial de apoio ao idoso institucionalizado, pela qual, o Serviço Social busca contar com o apoio das instituições articulando-se através de uma rede de parcerias e dentre elas podemos destacar:

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina – Desenvolve o Projeto

de Extensão, denominado de Atenção Odontológica. Os profissionais e estudantes de odontologia realizam visitas uma vez por semana à entidade para atender as idosas, como também as crianças do Jardim de Infância.

Secretaria Municipal de Saúde- É por meio de profissionais do Posto de

Saúde Fazenda do Rio Tavares, que as crianças do Jardim de Infância “Irmã Scheilla”, recebem atendimento na Unidade Local de Saúde; o médico também faz a visita domiciliar às idosas do Lar de Jesus através do Programa de Saúde da Família – PSF e quando necessário é realizado o fornecimento de medicamentos e materiais para procedimentos.

Rotary Clube Atlântico de Florianópolis colabora com a SEOVE

realizando trimensalmente almoços fraternos cuja renda é revertida para a entidade.

SESC - Serviço Social do Comércio – através do Projeto Mesa Brasil,

semanalmente faz um repasse de frutas e verduras e/ou gêneros alimentícios doados por empresas privadas cadastradas no Projeto.

Empresas Privadas - Colaboram com doações semanais e mensais com

produtos de higiene e limpeza, pescados e produtos hortifrutigranjeiros.

UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina - Desenvolve

atividades de educação física através do programa Viver Ativo.

UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina – Pedra Branca do

Município de Palhoça – Em agosto de 2007, a SEOVE em convênio com a UNISUL, estabeleceu uma parceria, designando um acadêmico no Curso de Serviço Social para desenvolver estágio curricular obrigatório, contribuindo com a prática profissional, tendo a carga horária de 120h/semestrais, com a participação do Supervisor de Campo neste processo de formação profissional de fundamental importância, em conjunto com a orientação pedagógica de uma professora. O curso

2

Sistemas de suporte social voltadas a inclusão/proteção social. (LEMOS E MEDEIROS, 2002, p. 895).

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de Serviço Social dessa universidade traz uma fundamental contribuição à vida social cotidiana das idosas institucionalizadas internas, no sentido de perceber e de garantir o seu direito à gestão participativa, numa instituição onde ainda é frágil tal dinâmica.

Segundo diagnóstico realizado pela SAE (Serviço Assistencial Espírita) da Instituição (Relatório de Atividades da SEOVE, 2006), percebemos algumas limitações no que diz respeito aos recursos financeiros, tendo como causa o custo/internação que aumenta devido à situação de dependência e agravos de saúde, decorrentes da idade avançada em que se encontram as idosas atendidas pela SEOVE, exigindo, assim, melhor atendimento na área da saúde e de mais RH qualificados.

Os convênios associados não estão sendo cumpridos pelo poder público, dentro dos prazos previstos pela Instituição, o que dificulta ainda mais a administração das finanças na SEOVE.

Nos últimos quatro anos, o valor da arrecadação dos mantenedores associados e dos mantenedores internos (idosas) permanece ascendente, no entanto, na avaliação geral, os dados financeiros informam que o custo com manutenção, pagamento de salários e encargos sociais aumentaram significativamente enquanto que a receita não aumentou na mesma proporção. Desta forma, fica impossível atender as solicitações para novas vagas de internação para idosas no “Lar de Jesus”, e também para crianças no Jardim de Infância “Irmã Scheila”.

2.2 HISTÓRICO DE IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Pesquisamos nos relatórios de atividades (2005/2006) o registro de como se iniciou o Serviço Social na SEOVE, localizada no Bairro Campeche. Constatamos que foi diante da necessidade de consolidar o reordenamento institucional, seguindo as normas legais e com a finalidade de manter a responsabilidade técnica pela obra, perante órgãos públicos e de classes, por pessoas profissionalmente capacitadas que exerçam a coordenação dos programas asilar e de educação infantil que o Serviço Social na instituição foi implantado com a contratação da primeira Assistente

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Social em 04/09/2001 a qual continua até os dias de hoje fazendo parte do quadro de funcionários. Desde então esta profissional do Serviço Social vem sendo mediadora entre as idosas institucionalizadas e os demais setores da Obra, buscando alternativas para a defesa dos seus direitos e melhoria na qualidade de vida.

A contratação da Assistente Social é feita através de indicação da Presidência da SEOVE, regida pelas normas da CLT. (Conforme Regimento Interno “Lar de Jesus”, Cap. III, Art. 11 – ANEXO G), tendo como critério para a admissão escolaridade de nível superior e experiência profissional e/ou especialização na área.

Atualmente, a SEOVE conta com dois Assistentes Sociais, sendo que um atende à parte administrativa e tem como competência realizar atividades administrativas de secretaria, executando serviços de contabilidade, sob a orientação da Presidência e da Assessoria Administrativa e Jurídica. E o outro na área da Assistência Social, responsável pela área social do idoso, que compreende os funcionários, as crianças e o voluntariado.

A atuação do Serviço Social na SEOVE está pautada no objetivo de assegurar à pessoa idosa e às crianças seus direitos enquanto cidadãos. Tem como destaque a prioridade no atendimento às mulheres idosas institucionalizadas, justamente por ser considerada uma Instituição de Longa Permanência para Pessoas Idosas.

Os instrumentos técnicos utilizados pelo Serviço Social na SEOVE para o desenvolvimento das ações profissionais ou atividades específicas desenvolvidas pelas Assistentes Sociais são: entrevistas, atendimento individualizado, reuniões, relatórios, prontuário social, planejamento e visita domiciliar.

Pautamos-nos, nas atribuições regulamentadas no Código de Ética do Assistente Social no Art. 4°, inciso VI da Lei n° 8 662/93 que regulamenta a profissão e que diz: “Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais.”

No desempenho das atividades citamos como atribuições específicas do Serviço Social na área da Assistência Social, conforme consta no Relatório de Atividades da SEOVE (2005/2006):

• Manter a organização e atualização de documentação das idosas internas;

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• Realizar o atendimento às idosas que apresentam problemas de ordem social;

• Participar de reuniões de nível técnico, assessorando eventuais tomadas de decisões;

• Elaborar calendário mensal de recreações;

• Manter contato direto com voluntários inscritos dentro dos padrões da instituição;

• Realizar visitas domiciliares para novas internações ou, se se fizer necessário, aos familiares dos idosos internos;

• Realizar visitas periódicas às idosas que forem hospitalizadas;

• Promover a integração das internas com as crianças e com a comunidade;

• Apresentar o idoso recém chegado aos demais idosos, aos funcionários e voluntários e indicar o quarto onde vai dormir apresentando-o aos demais colegas de quarto;

• Orientar o idoso quanto às normas da instituição, tais como: horário de dormir, horário das refeições, horário de banho;

• Promover o trabalho das idosas, cuja finalidade principal é a de manterá sua saúde física e mental, organizando um cronograma do qual constará qual tarefa cada idosa realizará na semana;

• Fazer contato com o responsável pela idosa em caso de doença grave, internação e óbito;

• Comunicar aos responsáveis, no caso de óbito, providenciar a roupa adequada para o sepultamento, manter os telefones e endereços dos familiares atualizados, para comunicação rápida.

• Manter as pastas das internas atualizadas com certidão de nascimento ou casamento, carteira de identidade (CI), cadastro de pessoa física (CPF), registro do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), entre outros;

• Registrar ocorrências diárias relativas às idosas, permitindo uma análise do perfil social das mesmas, tais como, ingestão de bebidas alcoólicas, brigas, queixas, interação com as visitas, etc.;

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• Fazer mapa mensal da evolução do número de vagas, registrando óbitos, retorno ao lar, internações, expectativa de vida, carência social e afetiva, estado de saúde de quando ingressou na instituição e atual, preparando dados para o relatório anual e apresentá-lo à Diretoria;

• Receber os voluntários e integrá-los na comunidade interna;

• Promover festividades e passeios para as idosas;

• Providenciar e encaminhar relatório para a Secretaria da Família;

• Providenciar e efetuar pagamento de 30% do beneficio que recebe, seja proveniente da aposentadoria ou pensão (previsto no Estatuto do Idoso), às idosas que possuem noção de dinheiro;

• Realizar reuniões com as idosas e funcionários para ouvir sugestões, reclamações, solicitações;

• Fornecer relatório anual à Diretoria da SEOVE;

• Fornecer relatório trimestral ao setor administrativo, coordenação do setor de voluntários;

• Coordenar o setor de Prestação de Serviços à Comunidade, requisitados pela Justiça Federal ou Estadual (p.12/2005);

• Participar das reuniões do Conselho Municipal de Assistência Social e do Idoso.

Quanto às condições de trabalho, o Serviço Social dispõe de uma sala arejada, localizada nas dependências do Lar de Jesus, equipada com uma mesa, três cadeiras, armário-arquivo, computador com internet, impressora e telefone.

A relação do Serviço Social com os demais profissionais da instituição se estabelece através de palestras, seminários, estudos, atividades em regime de co-educação, mediação entre funcionários, dirigentes e supervisores. Para a tomada de decisão, utiliza-se a estratégia de decisão conjunta entre presidente da SEOVE, equipe técnica e serviço de voluntariado para as questões do cotidiano, (Relatório de Atividade 2006, item 3º, f), embora se encontre dificuldades na comunicação e na hierarquia de funções acumuladas ao longo dos anos, impossibilitando os gestores de manter um plano institucional orientado nos princípios da gestão participativa.

A relação do Assistente Social da SEOVE e as idosas dá-se com o intuito de promover a preservação dos vínculos familiares através do estímulo para que se

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realizem visitas, ressaltando a importância da presença física e do carinho da família, amigos e conhecidos.

As propostas de ação do Serviço Social na Instituição vêm ao encontro dos desafios internos e externos em relação às fontes de receita e adequação entre aspirações pessoais e objetivos institucionais e as próprias demandas das idosas institucionalizadas. O que se está continuadamente a exigir, em razão das orientações legais, dos pensamentos de sócios efetivos e de voluntários, é que os recursos possam manter um quadro técnico e de servidores adequados ao número de pessoas atendidas, principalmente às portadoras de doenças crônicas degenerativas.

De acordo com os relatórios (2005/2006), as possibilidades do Serviço Social na Instituição são reconhecidas através dos trabalhos prestados à comunidade. A partir de sua efetivação, a SEOVE vem desenvolvendo espaço de trabalho ao profissional Assistente Social num vasto campo de atuação, tendo como principal demanda o segmento populacional idoso que, como já é do nosso conhecimento, tem a perspectiva de crescimento para as próximas décadas. Estas possibilidades podem ser muito mais expandidas através da consolidação de um projeto político de transformação institucional, buscando uma conscientização do Governo, da família e da sociedade, de modo a assegurar a interdisciplinaridade das ações, serviços, programas e projetos de atenção à pessoa idosa.

Estudos sobre o envelhecimento da população, ou seja, pessoas com 60 anos ou mais de idade, informam que esse segmento vem tendo um crescimento acelerado. Assim sendo, tem-se a expectativa de que, no ano 2025, estaremos com um contingente de idosos da ordem de, aproximadamente, 32 milhões de pessoas. Conforme Veras e Camargo (1995), o Brasil deverá ocupar o sexto lugar no mundo em população idosa.

Essa possibilidade impõe a necessidade de se desenvolver Políticas Públicas que atendam às demandas desse segmento populacional por saúde, educação, assistência social, enfim, por condições dignas de vida, devendo a SEOVE permanecer atenta a estas demandas.

A seguir destacamos como foco do nosso estudo, o tema da gestão participativa como veículo para o desenvolvimento da autonomia, cidadania, independência, integração e participação efetiva na sociedade.

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3 A INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA SEOVE: UMA PROPOSTA DA GESTÃO PARTICIPAVA DAS IDOSAS INSTITUCIONALIZADAS

O tema da participação social está presente no texto da Política Nacional do Idoso (Lei nº. 8842, de 4 de janeiro de 1994) em seu primeiro artigo, que declara o seguinte: "a Política Nacional do Idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade." Participar significa ter consciência do processo em que se está envolvido sobretudo, sentir-se cidadão e considerado como tal. É a participação que viabiliza possibilidades para que as pessoas possam influir nas tomadas de decisões. A gestão participativa se efetiva como veículo para o desenvolvimento da cidadania, valorizando a autonomia e a independência.

De acordo com o artigo publicado por Elisandra Villela G. Sé (2007)3, Autonomia, dependência e independência são condições que se entrelaçam, presentes em nosso curso de vida com diferentes formas de manifestação pelas pessoas e por uma sociedade. É possível que uma pessoa seja dependente, mas, sem perder sua autonomia. À medida que amadurecemos nos libertamos das relações e necessidades de apoio, segurança e assistência dos outros. A natureza da dependência e da autonomia se transforma ao longo da vida e o equilíbrio dessas duas condições vai se alterando. A busca de identidade e individualidade propicia o desenvolvimento da autonomia, autoconfiança e o senso de agenciar a própria vida nos dão a certeza de que não estamos sozinhos.

A dependência física, às vezes, se confunde com perda de autonomia; desta forma percebemos que as pessoas, na sua grande maioria, consideram que o envelhecimento está associado à falta de controle da vida por conta da perda dessa independência. O espaço social tem ampla responsabilidade sobre as condições de autonomia, dependência e independência das pessoas idosas.

Segundo a autora, a autonomia é uma necessidade básica do ser humano e essencial ao bem-estar individual, sendo importante eleger eventos na

3

ElisandraVillela G.Sé - Fonoaudióloga, Mestre em Gerontologia - UNICAMP, Doutoranda em Lingüística - UNICAMP, Membro do Ambulatório de Neuropsiquiatria e Saúde Mental do Idoso do HC- UNICAMP. Co-autora do livro "Exercite sua Mente - Um guia prático de aprimoramento de memória, linguagem e raciocínio. Prestígio Editorial - Ediouro, 2005.

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vida em que possamos praticar, de forma plena e satisfatória, nossa autonomia e nela investir. Independência é a capacidade funcional, isto é a capacidade de realizar as atividades básicas do nosso dia-a-dia (alimentar-se, fazer a higiene pessoal, ir ao toalete, tomar banho, vestir-se, locomover-se, etc...) e atividades instrumentais da vida (fazer compras, pagar as contas, usar meio de transporte, preparar uma refeição, cozinhar, cuidar da própria saúde, manter sua própria segurança) a ponto de sobreviver sem ajuda para o auto cuidado e o manejo instrumental da vida.

Conforme Goldim (2002)

Uma pessoa autônoma é um individuo capaz de deliberar sobre seus objetivos pessoais e de agir na direção dessa deliberação. Respeitar a autonomia é valorizar a consideração sobre as opiniões e escolhas, evitando, da mesma forma, a obstrução de suas ações, a menos que elas sejam claramente prejudicadas para outras pessoas. Demonstrar falta de respeito para com um agente autônomo é desconsiderar seus julgamentos, negar ao individuo a liberdade de agir com base em seus julgamentos, ou omitir informações necessárias para que possa ser feito um julgamento, quando não há razões convincentes para fazer isso. (GOLDIM, 2002, p. 85).

É necessário que os indivíduos tenham consciência de suas experiências de vida, prestarem atenção a si mesmos, descubram o que vai no seu interior, revejam suas próprias convicções, e estejam abertos a novos aprendizados, no sentido de se sentirem capazes de expressar-se nas suas particularidades.

Paulo Freire (1996) pensa em autonomia como um método que se vai construir na experiência de inúmeras decisões que vão sendo tomadas de maneira coletiva e na cooperação; ela amadurece no confronto com a liberdade dos outros. A autonomia, nesse sentido, é um conceito relacional; somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa, sua ação se exerce sempre em um contexto de interdependência em um sistema de relações. Podemos pensar autonomia, então, como um processo de comunhão com o outro, através do diálogo que cria comunidades de seres livres e participantes. Nesse processo em construção temos o direito de decidir e decidindo é que aprendemos a fazer opções. “A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser” (FREIRE, 1996, p.107).

O processo de autonomia, conforme Silva (2007) deve estar centrado em experiências estimuladoras de decisões e responsabilidades, vale dizer em experiências respeitando a liberdade e a cultura do outro.

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Segundo Silva (2007)

O homem moderno tem buscado emancipar-se das forças externas e tradicionais (sejam as de natureza, sejam as do poder tradicional), também dos seus limites físicos e culturais e ainda de regras externas à sua vontade. O homem não nasce livre, nasce pronto para a liberdade. Ele será livre se para isso se preparar, isto é, se todo o seu potencial for explorado para o exercício da liberdade. A educação estimula a capacidade decisória que o afirma como ser social. A participação nesse processo é o principal estimulo. Se a educação é possível, a participação também o é. Ela acelera o ritmo da mudança da vida. O homem ao responder como sujeito aos desafios que partem do mundo, recria o seu mundo – o mundo histórico cultural. (SILVA. 2007, p.86).

Em instituições de longa permanência para idosos, muitas vezes a dependência física é confundida com dependência para tomar decisões o que dá origem à perda da individualidade. A perda do comando da própria vida e sobre o ambiente o qual está inserido, pode ter conseqüências com expressões negativas para a saúde física e mental em todas as idades.

Conforme Borges (2002)

O processo natural de envelhecimento e as restrições em oportunidades que a sociedade impõe aos indivíduos podem acarretar a perda da autonomia para decidir o que é melhor para si, locomover-se, consumir, ter segurança, participar e responder plenamente por si. A possibilidade de perda da autonomia marca os velhos como um estigma, condenando-os ao isolamento, à desvalorização e à improdutividade. A autonomia – capacidade de decidir – e a independência – capacidade de realizar algo pelos próprios meios – são assim, valores a serem alcançados, pois, além de serem indicadores de saúde, identificam idosos considerados bem sucedidos. (BORGES, 2002 p.1037).

De acordo com Borges (2002), não basta só encorajar a independência e a competência, mas também investir em adaptações ambientais que dêem oportunidades para o comportamento autônomo em um ambiente mais estimulador, e que atividades, desde as consideradas básicas, sejam fundamentais para que o idoso possa ser mais ativo, participativo, competente e satisfeito com a sua liberdade e autonomia.

Mudanças sociais significativas podem derivar da alteração de conceitos arraigados que, ao preconizar uma postura paternalista e assistencialista, dificultam a inserção do idoso na sociedade. Ao contrário, a busca da consolidação de uma política de direitos, onde o idoso é considerado como um cidadão com direitos e deveres, significa investir em sua melhor adaptação social. (BORGES, 2002 p. 1037).

A dinâmica institucional do atendimento ao idoso internado em instituições de longa permanência além de ter a preocupação da infra-estrutura mínima de

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internação, é necessária para que não aumente a marginalização, a discriminação, os maus tratos, o abandono como também não seja privado de sua liberdade e constar na sua programação de ações que seja o protagonista de sua história de vida, por meio da gestão participativa, encorajando-o à independência no exercício das atividades cotidianas.

Neste contexto, apresentamos a gestão participativa como meio de fortalecer a capacidade de decisão e potencializar vontades e desejos que só podem ser garantidos com o exercício da autonomia que, consequentemente, gera a independência favorecendo, desta forma, a participação das pessoas idosas em planejar ações no seu cotidiano, tornando-as sujeitos ativos capazes de interagir no espaço institucional na condição de internos.

Logo, a gestão participativa visa criar espaço de participação constituindo benefícios às pessoas idosas internas, permitindo o compartilhamento de um sentimento de respeito mútuo, viabilizando a prática da cidadania, impulsionando a percepção das possibilidades de ação diante das necessidades.

Podemos dizer com base em Borges (2002), que a percepção do sentimento de que as idosas internas podem fazer algo para satisfazer

necessidades que até então estavam adormecidas vem trazer melhorias para suas vidas, apesar das limitações, tanto da instituição quanto dos próprios usuários dos serviços.

Segundo Araújo (2009).

A gestão participativa na realidade compõe a gestão das demandas e necessidades apontadas pelos cidadãos; os programas, projetos e o planejamento das ações são instrumentos que o Serviço Social se utiliza para intervir como respostas a estas necessidades e demandas (ARAÚJO, 2009, p.01)

A proposta da gestão participativa ressalta a inclusão dos usuários ao poder decisório, possibilitando uma visão ampla de todo andamento dos serviços prestados à comunidade. Uma proposta voltada para os direitos básicos do ser humano, porém, na prática, encontra-se dificuldades para viabilizá-la, como argumenta Borges:

A participação tem legitimidade de caráter moral e é normalmente proposta como um direito básico do ser humano. Tem relação com o conceito de democracia, principalmente na América Latina, onde certamente é mais fácil encontrar não-participação e obstáculos para o seu desenvolvimento do que a participação. A necessidade de participação é inerente à identidade do ser

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