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Como o ensino de Física pode influenciar políticas sociais

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE FÍSICA

CURSO DE LICENCIATURA EM FÍSICA

VITOR LOGULLO DE SOUZA

COMO O ENSINO DE FÍSICA PODE INFLUENCIAR POLÍTICAS

SOCIAIS

NITERÓI 2019

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VITOR LOGULLO DE SOUZA

COMO O ENSINO DE FÍSICA PODE INFLUENCIAR POLÍTICAS

SOCIAIS

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Física da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Licenciado.

Orientador: Prof. Dr. José Antônio e Souza

Niterói 2019

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5 Dedico este trabalho ao meu pai, por todo apoio que me deu quando decidir entrar para cursar Física.

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AGRADECIMENTOS

A toda minha família, especialmente a minha mãe Jorgivete Logullo e ao meu irmão Ygor Logullo por todo apoio durante toda minha jornada na universidade. Agradeço também ao meu tio Carlos Jorge Logullo por toda ajuda que me deu na confecção da monografia. Ao meu falecido pai Arli Souza, fica um agradecimento especial, por todo apoio estrutural e emocional, sem ele realmente o caminho seria muito mais difícil.

Ao meu professor orientador José Antonio, por todo apoio e orientação nessa caminhada de conclusão de curso.

Aos professores e professoras da Universidade Federal Fluminense, em especial a professora Lucia da Cruz de Almeida e ao professor Gustavo França Gomes por fazerem parte da banca da monografia.

A todos aqueles que fizeram parte da minha jornada na universidade, aos amigos que fiz pelo campus, em especial a Vinicius, Henrique, Jean, Felipe, Diogo, Rodrigo Torrão, Lucas, Arthur, Roberto, Murilo e Leonardo.

A minha namorada Keiko Giunto, por todo apoio e incentivo a ser uma pessoa melhor e terminar essa jornada da graduação.

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RESUMO

A Física, sendo da área de exatas, muitas vezes fica de fora de discussões do âmbito social. Mas ser da área de exatas, implica ficar de fora dessas discussões? Hoje em dia temos diversos recursos pedagógicos para facilitar entrarmos nesses assuntos e o ensino de Física tem um papel muito importante na construção de um raciocino lógico, que hoje em dia a falta afeta uma grande parcela da nossa sociedade. O ensino mais humanizado e personalizado, das ciências exatas, causa uma ruptura no modelo atual empregado, em sua maioria, nas salas de aula. Este trabalho traz sugestões para tornar o ensino de física menos mecânico.

Palavras Chave: Ensino de Física. Tecnologia. História da Ciência. Ensino e Política.

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ABSTRACT

Physics, being from the exact area, often stays out of discussions of social scope. But being in the exact area does it mean that you're not in the middle of these discussions? Nowadays we have several pedagogical resources to make it easier for us to enter these subjects and the teaching of Physics has a very important role in the construction of a logical reasoning, which nowadays the lack affects a great part of our society. The more humanized and personalized teaching of the exact sciences causes a rupture in the current model employed, for the most part, in classrooms. This paper brings suggestions to make teaching physics less mechanical.

Keywords: Physics Teaching. Technology. History of Science. Teaching and Politics.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 10

2. JUSTIFICATIVA ... 11

3. ARGUMENTÇÃO DE FATOS ... 12

3.1) O professor como facilitador da aprendizagem ... 12

3.2) Questões metodológicas como base para a construção do

ensino de Física nas escolas. ... 16

3.3) Os livros didáticos como sustentadores do modelo arcaico do

ensino de Física. ... 17

3.4) O resgate da história como ferramenta fundamental para a

modernização do aprendizado em Física. ... 22

3.5) O uso racional de novas tecnologias como ferramentas

facilitadoras no ensino de Física ... 28

4. CONCLUSÃO ... 32

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1.

INTRODUÇÃO

Os rumos da educação no Brasil sempre foram mais norteados por fatores governamentais, do interesse das classes dominantes, do que propriamente educacionais. Isso acarretou alguns problemas, tendo em vista que os interesses governamentais, muitas das vezes, são bem diferentes dos interesses educacionais. Acabamos de viver um período eleitoral conturbado, nunca tivemos tantos candidatos desde 1989, primeira eleição pós intervenção militar. Essa semelhança é dada pelo fato do país ter passado por um processo de impeachment e estar com a situação governamental fragilizada. Com todo esse imbróglio a educação vem sendo severamente afetada, tivemos congelamento das verbas e alguns projetos de índole duvidosa sendo discutidos. Um dos projetos que vem ganhando grande força e é um projeto que está nos planos de quem está no poder, é o PROJETO

DE LEI Nº 867, DE 2015 do Deputado IZALCI PSDB/DF, “Escola sem

Partido”. Temos nesse projeto uma grande tentativa de intervenção dos interesses da classe dominante do país na educação, o que pode não ser benéfico para os rumos do ensino.

O ensino de física, sendo o ensino de uma ciência exata, não foge disso tudo que falamos acima. Também é afetado por toda essa problemática política. Além disso carece de uma humanização, trazendo como consequência um desinteresse e uma dificuldade dos alunos, principalmente para os que não possuem muita aptidão para essa área de conhecimento. O ensino não deve ser direcionado para um grupo de pessoas, deve ser amplo, para todos. A humanização do ensino faz com que sejam discutidos temas como: machismo, preconceito, desigualdades sociais e racismo, assuntos muito em alta nos dias de hoje, que não podem mais ser ignorados pelos professores. Paulo Freire defendia a humanização do homem para o ensino. Quando se trata do ensino das ciências exatas, essa humanização tem se dado de uma forma mais lenta e menos efetiva. Esses assuntos sempre foram muito presentes na história da ciência. Presentes, mas pouco discutidos. Isso aproxima o conteúdo do aluno, construindo uma identificação entre eles. Essa discussão parece ser muito difícil quando falamos do ensino de física, que sempre pareceu bem mecânico e divorciado dessas questões.

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2.

JUSTIFICATIVA

Neste trabalho destacaremos inicialmente experiências com alunos do ensino médio. Neste sentido, a primeira evidência que nos saltou os olhos é a falta de interesse quanto ao que estava sendo ensinado, em quase todos os assuntos lecionados. Atribui-se isso, entre outros motivos, o modelo ensino arcaico que ainda insistimos em praticar em nossas escolas e a banalização do conhecimento pelas redes sociais. Desse modo, vale ressaltar a figura do professor como centro do saber, apresentando-se como o detentor do conhecimento, que é o que o modelo de ensino atual prega. Pretende-se mostrar nesta monografia como o ensino de Física dentro da sala de aula pode, e deve, influenciar no meio social e na opinião crítica do aluno; mas, para isso, devemos rever como esse ensino é praticado.

A Física é a ciência que estuda a natureza e seus fenômenos (Físis, em grego antigo, significa Natureza). Todos nós, seres humanos, estamos envoltos nisso, não podemos separar a natureza do nosso dia a dia. Logo não conseguimos nos desvencilhar da Física sem evidenciar tais

fenômenos no nosso cotidiano. Pode-se, então, relacionar a Física a maior parte dos acontecimentos a nossa volta. Então porque não usamos isso quando vamos dar aula? Quando usamos aplicações do conteúdo que estamos querendo passar, o aluno se sente mais interessado em aprender. Além disso, uma aula para ser menos cansativa e mais proveitosa, depende de uma boa relação professor/aluno. Isto vai depender, fundamentalmente, do clima estabelecido pelo professor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos estudantes e da criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles (ou seja, vai depender da maior ou menor aptidão natural do docente para ensinar, ou seja, de sua vocação para professor). Indica também, que o professor, educador da era pós-industrial, deve buscar educar para

mudanças, para a autonomia, para a liberdade possível numa abordagem global, trabalhando o lado positivo dos alunos e a formação de um cidadão consciente de seus deveres e de suas reponsabilidades sociais.

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3. ARGUMENTAÇÃO DE FATOS

3.1) O professor como facilitador da aprendizagem

Entende-se que todos os currículos para o ensino de Física, em nível médio, deveriam contemplar aspectos conceituais que permitam o entendimento da composição, propriedades e transformações dos materiais, destacando as implicações sociais relacionadas à sua produção e ao seu uso. Observa-se, no entanto, que esta condução não se aplica, via de regra não acontece. O ensino tradicional coloca a cultura da Física na escola de nível médio em uma situação pouco contextualizada, com excesso de conceitos tradicionais que impõe ao aluno uma ciência que exige apenas boa memória para ser considerada como aprendizagem. Assim, o que muitas vezes chamamos de ensino de Física é entendido como treinamento e manejo de memorização de fórmulas e problemas. Os conceitos lecionados em sala de aula, em majoritariamente, limitam-se a definições capazes de permitir a resolução de problemas fictícios de livros didáticos, incapazes de ir além e atingirem o envolvimento com fenômenos físicos naturais que ocorrem o nosso dia a dia. Diante disso, o professor tem uma importância fundamental como mediador, democratizador, transformador e globalizador na escola.

O processo histórico de educação teve início com a vinda da coroa Portuguesa para o Brasil. Nessa época, para ser professor bastava a alguém ter o conhecimento e a experiência no assunto que iria lecionar. Estas pessoas eram consideradas como os detentores do saber. Acreditava-se que, se o professor dominasse o conteúdo, estaria garantido o processo de aprendizagem. Atualmente a exigência ao professor vem aumentando; seu papel não se restringe ao mero domínio cognitivo. Então ensinar virou muito mais do que transmitir conhecimentos. Os métodos didáticos ativos do professor começam a substituir gradualmente os métodos passivos da educação tradicional. O aluno passa a ser livre, relacionando conteúdos com suas vivências pessoais, sendo constantemente levado a pensar de forma crítica e a tomar decisões. Assim o diálogo entre professor e aluno fica mais aberto, com isso eles trocam mais experiências e conhecimentos. As atividades são discutidas e enfrentadas de forma que todos são responsáveis por elas. Os educandos fazem uma série de

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13 descobertas e interiorizam conhecimentos que não estavam tendo significado ou não eram conhecidos. O professor tem, portanto, o dever de levar isso em consideração, jamais baseando seus ensinamentos no pressuposto de que o aluno é uma “tabula rasa”, pois ele convive em uma sociedade que transmite, mesmo que de maneira informal, algum tipo de conhecimento.

A princípio, levar em conta o meio que o aluno vive parece ser uma ideia simples, no entanto não é. Analisando-se detalhadamente o que significa levar em consideração o que o aluno já sabe, pressupõe-se uma postura diferente daquela que vem sendo adotada pela maioria dos professores, ou seja, exige que o professor faça uma análise prévia acerca do assunto e ensine de maneira participativa e não linearizada, dentro de uma visão mais crítica e aberta do ensino. Essa forma de ensino, em que os alunos têm espaços para expor suas opiniões, para discutir ideias de maneira a poder confrontá-las deveria ser sempre o objetivo principal do ensino em sala de aula. Quando trabalhamos em sala de aula no intuito de desenvolver a reflexão e o questionamento de nossos alunos, estaremos auxiliando na formação de cidadãos críticos e reflexivos, do que há uma grande deficiência dos tempos modernos. Não podemos ignorar que hoje, para se ter uma clara visão do mundo e a capacidade de interagir e compreender a natureza, são necessários conhecimentos cada vez mais amplos e complexos. Tais conhecimentos devem estar interligados com o pensamento crítico, pois sem conhecimento o indivíduo terá dificuldade em intervir na sociedade, bem como modificá-la. Estes cidadãos, quando são incentivados a questionar a realidade social, buscando um melhor entendimento da mesma, provocam a emancipação coletiva vivenciada entre a prática e o conhecimento.

“a maneira como os conceitos científicos são trabalhados na escola abre caminho para a revisão e a melhor compreensão dos conceitos espontâneos (prévios) que cada aluno traz dentro de si. Assim, refletindo o cotidiano de sua classe social, o aluno leva para a escola, sob forma de conceitos espontâneos, certos conhecimentos e valores, dos quais vão adquirindo progressiva e consciência através desse movimento”

[ Moysés, 1997, p.38]

As relações humanas, embora complexas, são peças indispensáveis na realização comportamental e profissional de um ser humano. Desta forma, a

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14 análise dos relacionamentos entre professor e aluno envolve interesses e intenções, sendo esta interação o expoente das consequências, pois a educação é uma das fontes mais importantes do desenvolvimento comportamental de agregação e de valores nos membros da espécie humana. Neste sentido, a interação estabelecida caracteriza-se pela seleção de conteúdo, organização e sistematização didática para facilitar o aprendizado dos alunos e exposição onde o professor explorará seus conteúdos. Desta forma, o aprender se torna mais interessante quando o aluno se sente competente pelas atitudes e métodos de motivação em sala de aula. O prazer pelo aprender não é uma atividade que surge espontaneamente na maioria dos alunos, pois não é uma tarefa que cumprem com satisfação, sendo em alguns casos, encarada como obrigação. Para que isto possa ser mais bem cultivado, o professor deve despertar a curiosidade dos alunos, suas ações no desenvolver das atitudes. O professor não deve se preocupar somente com o conhecimento através da absorção de informações, mas também com processo de construção da cidadania do aluno. Apesar de tal, para que isto ocorra, é necessária a conscientização do professor de que seu papel é de facilitador de aprendizagem, aberto às novas experiências, procurando compreender, numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e tentar levá-los à auto realização. De modo concreto, não podemos pensar que a construção do conhecimento é entendida como individual. O conhecimento é produto da atividade e do conhecimento humano marcado social e culturalmente. O papel do professor consiste em agir como intermediário entre os conteúdos da aprendizagem e a atividade construtiva para assimilação.

“o bom professor é que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”

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15 Devido ao crescimento dos meios de comunicação e facilidade de acesso à informação pelas redes sociais, cada vez mais se torna difícil uma interação amigável entre a escola e os alunos. Por outro lado, a necessidade da materialização do conhecimento fluido e muitas vezes sem conteúdo confiável, tornou-se o grande desafio do aprendizado consolidado nas escolas. Diante deste paradigma contemporâneo torna inevitável nos reinventarmos como educadores atendendo esta demanda social. Uma alternativa a esta dualidade é ensinar exemplificando com fatos do dia a dia de cada cidadão e o ensino de Física é sem dúvidas uma das melhores disciplinas para esta alternativa de aprendizagem. Propõem-se aqui, para cada assunto trabalhado, uma discussão inicial aberta com exemplos que sejam da realidade do meio do grupo presente.

Em uma aula de Leis de Newton, quando vamos falar da primeira lei, a lei da inércia, falamos que: todo corpo tende a se manter em repouso ou em movimento retilíneo uniforme, caso nenhuma força atue sobre ele ou o somatório das forças atuantes no corpo seja nulo. O aluno costuma não entender muito bem. Para melhorar o entendimento costumamos dar exemplos desenhados no quadro, um exemplo comum começa com o desenho de um bloco sobre uma linha desenhada, para falar que é o chão, depois desenhamos os vetores demonstrando as forças, quando o bloco está parado o aluno consegue entender, porque as forças se anulam, mas quando o bloco está se movendo, o entendimento costuma ser mais complexo, pois fica mais difícil dele visualizar que pode se mover com a resultante das forças sendo zero. Após o aluno ter tido todo esse entendimento, não quer dizer que ele vai se interessar pelo conteúdo.

O conceito sobre Leis de Newton está muito presente no meio de todos, é possível a gente pegar alguns processos já vividos por eles, por exemplo: Quando estamos dando aula para uma turma de maior poder aquisitivo, podemos falar dar o exemplo de quando viajamos de avião e ele começa decolar, nós colamos no banco e quando estamos dentro do carro e ele freia bruscamente, nós vamos para frente e com isso ressaltar a importância do uso do cinto de segurança. Quando a aula é para uma turma de menor poder aquisitivo, podemos falar de quando andamos de ônibus e ele freia bruscamente. Isso lhes remetem a lembranças e associações com coisas já vividas e faz com que vejam uma relação com o seu ambiente.

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3.2) Questões metodológicas como base para a construção do

ensino de Física nas escolas.

O processo ensino-aprendizagem em Física se inicia, qualquer que seja o caso, com algumas reflexões que fundamentam a tomada de importantes decisões: o que ensinar, por que ensinar, para quem ensinar e como ensinar. Ao decidir o que ensinar, com os currículos escolares muito apertados, é difícil fugir um pouco do padrão já pré-estabelecido, mas não podemos esquecer que: os temas ensinados devem sempre estar vinculados à realidade dos alunos e devem ter a prioridade de preparar os alunos para a vida (inclusive para a vida acadêmica, mas não somente esta), e não apenas para passarem de ano ou no vestibular. Os conteúdos aprendidos devem ser instrumentos de cidadania e de desenvoltura social, para que os alunos possam viver e sobreviver circulando com desenvoltura na sociedade científico-tecnológica cada vez mais exigente em conhecimento.

Podemos citar alguns exemplos de como a Física aparece no dia a dia do aluno. Dentre os principais destacam-se: 1) Quando vamos falar de ondas eletromagnéticas podemos citar o princípio básico dos detectores de movimento, que detectam a radiação infravermelha que o corpo emite e de todos os meios de comunicação moderno. 2) A Física está muito atrelada à prevenção de acidentes, o uso do cinto de segurança e o airbag ser obrigatório nos automóveis está relacionado a grandeza física impulso. O limite de velocidade ao se fazer uma curva, pode ser citado em uma aula sobre resultante centrípeta. O porque é perigoso quando há disparos de armas de fogo para o alto, podemos citar em uma aula sobre lançamentos explicando que o projétil volta com a mesma velocidade de lançamento (desprezando-se, é claro os efeitos da resistência do ar, que não são pequenos neste caso. Mas, de qualquer maneira, a velocidade do projétil ao retornar é tal que ele ainda pode inflingir graves danos ou até mesmo matar). Quando formos falar da força de atrito reforçar o porquê o freio abs se tornou item obrigatório de segurança. 3) A questão das bandeiras tarifárias da energia elétrica quando estamos com escassez hídrica no país, das formas de gerações de energia. A questão do porque temos áreas que são melhores para os voos de asa-delta, quando fomos falar de trocas de calor.

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17 Uma abordagem usando exemplos assim parece mais frutífera do que somente decorar classificações, nomenclaturas e fórmulas, que por sua vez virão como consequência natural do estudo que se faça. Nem sempre será possível fazer uma abordagem dessa maneira e esse tipo de contextualização não é encontrado sempre nos livros didáticos, mas temos que sempre tentar começar as aulas assim. Neste momento o professor irá ser tomado de arrojo e pesquisará para ele mesmo produzir seu material. Além disso, deve-se considerar a quem vai ensinar e não procurar padronizar currículos de modo a ensinar usando os mesmos exemplos a um estudante de uma região mais longe do grande centro e a um estudante de uma área mais central. São realidades e repertórios pessoais diferentes, que devem ser sempre considerados. O professor deve fazer uma reflexão sobre qual tipo de aluno ele deseja educar. Ao decidir por que ensinar algo em Física, o educador tem que refletir sobre o que ensinar. A Física é uma ciência que ajuda as pessoas a entender como a natureza, como as coisas ao nosso redor funcionam, via domínio de um método científico. Ensinar Física deve ser um instrumento para a cidadania, a democracia e o livre pensar.

Não há uma receita, um padrão, infalível para como ensinar. Temos recomendações, exemplos e experiências que devem ser consideradas: primeiro, há necessidade de fugirmos da assepsia no ensino, mostrando os conteúdos vinculados á realidade e não apresentando-os limpos, prontos, estanques ao universo e confinados à sala de aula e a lousa. Devemos sempre partir do concreto para o abstrato, partindo do que o aluno já sabe para o que ele ainda deve saber. Esse tipo de ensino pode ser conseguido aproximando-se a ciência da realidade do aluno e procurando falar com ele a mesma linguagem, impedindo que o conhecimento seja algo esotérico, somente acessível a um pessoal “diferenciado”. Devemos tirar o peso das avaliações como fator de opressão e de punição do aluno e colocá-las mais como um fator de avaliação do trabalho do docente. Temos que valorizar mais o processo avaliativo de como foram as respostas do que propriamente a nota atribuída ao aluno no final, mostrando que vale mais o caminho de aprendizagem percorrido a um teste que pode avaliar de maneira equivocada todo o processo educacional do aluno.

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3.3) Os livros didáticos como sustentadores do modelo arcaico

do ensino de Física.

Um fator de extrema importância na avaliação do ensino é olharmos para os livros didáticos utilizados. Os professores, em sua grande maioria, utilizam livros didáticos e/ou apostilas como instrumento de suporte principal de suas aulas. Com isso não podemos deixá-los de lado, quando trabalhamos a questão do ensino. Os livros que eram utilizados, em sua maioria, traziam consigo o modelo antigo cheio de fórmulas matemáticas, exemplos e exercícios. Com os novos estudos sobre o ensino, foi visto que é preciso uma contextualização, uma abordagem lógico-cientifica e histórica do conteúdo. O Governo Federal junto ao Ministério da Educação (MEC), para tentar se adequar a essa nova realidade, elaborou um Guia dos livros didáticos do Programa Nacional do livro didático (PNLD 2018). Esse Guia só é adotado obrigatoriamente pelos colégios federais de ensino, não é obrigatório a todos os colégios, mas os outros colégios públicos também podem aderir ao Guia. O Guia só visa dar uma orientação com ajuda na avaliação das obras didáticas, mas a escolha dos livros fica a cargo do professor.

Dados sobre o número de adesão ao Guia PNLD:

http://www.fnde.gov.br/programas/programas-do-livro/livro-didatico/dados-estatisticos

Usaremos as diretrizes desse Guia como base para a discussão dos livros didáticos usados em sala de aula. O PNLD é um programa que visa ajudar ao professor na escolha dos livros a serem utilizados em sala de aula. Os livros que são indicados são avaliados por uma banca formada por professores pesquisadores em educação e professores da educação básica com larga experiência no magistério, que se candidatam para fazer tal tarefa. Eles são

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19 escolhidos a partir de critérios previamente estabelecidos pelo MEC. O processo de avaliação começa com a publicação do Edital de Convocação 04/2015 – CGPLI, no Diário Oficial da União de 02/02/15, documento orientador das editoras para a inscrição das coleções didáticas a serem avaliadas pedagogicamente. A avaliação é realizada por universidades públicas, sob a coordenação da Secretária de Educação Básica (SEB/MEC). As universidades são selecionadas por meio de concorrência pública (Edital 42/2016). Para os livros didáticos de Física, a universidade selecionada foi a Universidade Federal de São Carlos – UFSCar.

O Guia serve para apresentar os livros didáticos aprovados no processo avaliativo, por meio de resenhas que informam aos professores da rede pública de ensino as características pedagógicas de cada obra, seus pontos fortes e suas limitações. O livro didático para o Ensino Médio deve ser inserido, constituindo-se como mais uma ferramenta de apoio à construção dos processos educativos, com vista a assegurar a articulação das dimensões ciência, cultura, trabalho e tecnologia no currículo dessa etapa da educação básica. Organizando conteúdos e metodologias de forma que, ao final do Ensino Médio, o estudante demonstre, conforme o art. 12 das DCNEM, o domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna; e o conhecimento das formas contemporâneas de linguagens. (Guia PNLD 2018)

O Guia visa atender às finalidades propostas para o Ensino Médio no Brasil contemporâneo. Os livros devem, como mediador pedagógico, proporcionar, ao lado de outros materiais pedagógicos e educativos e do professor, ambiente propício à busca pela formação cidadã, favorecendo aos estudantes atuação crítica frente às questões que se colocam para a sociedade, a ciência, a cultura e a tecnologia. Como parte integrante de suas propostas pedagógicas, as obras didáticas devem contribuir, efetivamente, para a construção de conceitos, posturas frente ao mundo e à realidade, favorecendo, em todos os sentidos, a compreensão de processos sociais, científicos, culturais e ambientais. Nessa perspectiva, elas devem representar culturalmente a sociedade contemporânea na qual se inserem, propondo abordagens que: promovam a imagem da mulher reforçando seu protagonismo social; abordem as temáticas de gênero; proporcionem debates relativos à superação de todas

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20 as formas de violência; promovam a educação em direitos humanos, afirmando os direitos de crianças, adolescentes e idosos; incentivem ações pedagógicas voltadas para o respeito e valorização da diversidade no que se refere aos conceitos de sustentabilidade e cidadania; promovam positivamente a imagem de afrodescendentes e dos povos do campo, a cultura e história afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros; abordem a temática das relações étnico-raciais, do preconceito, da discriminação racial e da violência correlata, visando a construção de uma sociedade antirracista, solidária, justa e igualitária. (Guia PNLD 2018)

O livro exerce um papel importante de auxílio e complemento para o professor, logo sua escolha tem que ser cuidadosa. O corpo docente da escola, ao escolher o livro didático, tem que ter bem definido o que ele espera do mesmo. Sem ter bem definido em sua base o que você quer, o Guia PNLD não vai conseguir ajudar muito. Este Guia coloca algumas sugestões para o professor seguir na hora de tomar uma decisão sobre a escolha do livro. Abaixo colocamos tais sugestões dadas do ponto de vista do professor.

Fornecer informação científica e geral: diante da impossibilidade de se

conhecer tudo e de manter-se atualizado em todas as frentes de estudo, uma função importante do livro didático está em assegurar a qualidade, a correção e a atualização das informações científicas e gerais que apresenta. Quanto mais aprofundadas e voltadas aos objetivos do ensino, mais essas informações contribuem com a tarefa docente de ensinar conhecimentos válidos e pertinentes.

Oferecer formação pedagógica diretamente relacionada ao componente curricular em questão: tendo em vista que as

transformações de natureza epistemológica e teórica realizadas numa determinada área do conhecimento implicam, também, mudanças metodológicas em relação aos procedimentos e às estratégias de ensino, um livro didático que incorpore adequadamente tais avanços poderá contribuir de forma mais expressiva para a formação continuada dos professores.

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21 • Auxiliar no desenvolvimento das aulas sem retrair a autonomia docente: um bom livro didático não se furta de oferecer ao(à) professor(a)

um planejamento detalhado e coerente para as aulas, assumindo o seu papel de atuar como um manual. Todavia, não pode desempenhar tal função prescindindo do professor e secundarizando a sua atuação. Professores(as) devem desempenhar um papel ativo, crítico e criativo em relação às propostas subjacentes ao livro didático, sempre pensando nos usos diferenciados que ele pode ensejar, como alterações de sequências, incorporação de atividades complementares, exploração de aspectos diversos da realidade local, dentre outros.

Subsidiar a avaliação dos conhecimentos, habilidades e atitudes a serem construídos no processo de ensino-aprendizagem: práticas de

avaliação sempre se mostram desafiadoras aos docentes, razão pela qual espera-se que o livro didático contribua com a apresentação de critérios, estratégias e instrumentos de avaliação condizentes com as situações de ensino que propõe.

Contribuir para a operação de práticas interdisciplinares na escola:

assim como a avaliação, a perspectiva interdisciplinar tem se revelado um desafio constante. Importante apoio do livro didático ao trabalho docente pode se dar pela indicação de sugestões para o planejamento, desenvolvimento e avaliação de projetos interdisciplinares.

Disponibilizar um bom Manual do Professor: muitas das funções

anteriormente apresentadas se efetivam no Manual do Professor, que constitui um recurso essencial para o bom uso do livro didático, na medida em que explicita os fundamentos da proposta didático-pedagógica e orienta o docente em relação ao seu manejo, contribuindo substancialmente para a formação pedagógica.

O guia também possui questões de caráter eliminatório para as obras didáticas, que são, segundo o próprio Guia PNLD 2018 da Física:

a. Respeito à legislação, às diretrizes e às normas oficiais relativas ao Ensino Médio;

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22 b. Observância de princípios éticos necessários à construção da cidadania e ao convívio social republicano;

c. Coerência e adequação da abordagem teórico-metodológica assumida pela obra no que diz respeito à proposta didático-pedagógica explicitada e aos objetivos visados;

d. Respeito à perspectiva interdisciplinar na abordagem dos conteúdos; e. Correção e atualização de conceitos, informações e procedimentos;

f. Observância das características e finalidades específicas do Manual do Professor e adequação da obra à linha pedagógica nela apresentada;

g. Adequação da estrutura editorial e do projeto gráfico aos objetivos didático-pedagógicos da obra.

Lendo as resenhas dos livros, lembrando que esse trabalho não visa fazer uma análise dos livros didáticos, vemos que os livros são bem parecidos uns com os outros, mas atendem, de um modo geral, a tudo que é necessário para um bom auxílio da aula. Os livros trazem contextualização com temas de ciência, tecnologia e sociedade, contexto histórico, exercícios resolvidos e propostos.

No entanto, um trabalho recente de Petra e Souza (2019), chama atenção para o fato de que muitos desses livros contêm, pelo menos no caso específico da Física do nível médio, várias imprecisões e também alguns erros conceituais, uns mais graves outros menos, espalhados por todos seus volumes.

O Guia não é utilizado por todos os colégios, mas o pegamos como base para fazer uma avaliação, pois ele utilizado como base pelo maior instancia governamental do país. Mesmo com todas as orientações do guia e os livros se adequando as novas diretrizes do ensino contemporâneo, não podemos observar a utilização de todas essas ferramentas na maior parte das salas de aulas, que insistem na metodologia puramente matemática do ensino de Física.

3.4) O resgate da história como ferramenta fundamental para a

modernização do aprendizado em Física.

A história da ciência é de suma importância para que o aluno possa vincular o conhecimento científico com o momento histórico associado a sua geração. O avanço científico é diretamente ligado ao processo histórico que está

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23 sendo vivenciado. A primeira luneta para observação dos astros não surgiu apenas porque Galileu Galilei estava com vontade, mas, sim, porque havia uma demanda muito grande, dos reis da época, por um instrumento desse. O entendimento de que uma abordagem histórica da ciência no ensino é necessária, pode criar uma situação mais propícia para que o aluno possa contextualizar os conceitos estudados e ter a possibilidade de fazer uma retomada histórica desses mesmos conceitos físicos, mas a abordagem histórica não pode ser ingênua, superficial e não pode se resumir à apresentação da biografia do cientista ou aquele clássico capítulo de introdução nos livros didáticos. Deve sim ser um recurso instrucional frutífero para construção e contextualização do conhecimento. É também importante fazer sempre um paralelo entre o contexto histórico da época da criação do conhecimento científico e o contexto atual. Na história da ciência temos muitos exemplos de questões vividas por pessoas de hoje em dia, respeitando as devidas proporções, que podem servir para aproximar o aluno do conhecimento, mostrar a ele que os grandes cientistas, os quais desenvolveram grandes teoremas e assuntos, também eram pessoas comuns e não seres de outros planetas como é falado às vezes por alguns alunos. Temos exemplos aqui de passagens históricas de alguns cientistas que são falados nas aulas de Física. Suas histórias são cercadas de conflitos sociais da época, que persistem nos dias de hoje. Saber dessas histórias, é uma possibilidade incluir esses assuntos no ensino de Física, assuntos que são essenciais para a construção da cidadania do indivíduo.

A seguir apresentamos algumas breves passagens biográficas de personagens importantes da Ciência, com o intuito de ilustrar os conceitos discutidos até agora.

Johannes Kepler

Nascido em 1571, não muito longe da atual cidade alemã de Stuttgart, era de origem humilde. Em uma Europa onde os conflitos eram constantes no século XVI, o pai de Kepler passava pouco tempo em casa, até que um dia desapareceu. Teve uma vida com poucos recursos financeiros e um pouco sofrida, quando era pequeno contraiu varíola, o que trouxe algumas sequelas

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24 para o resto de sua vida. Sofria de visão fraca e problemas de pele. Mas tudo isso não foi capaz de diminuir a importância de seus trabalhos.

“As biografias cientificas muitas vezes exageram o brilhantismo de biografado, mas, no caso de Kepler, não há exagero – ele se destacou pelos dotes matemáticos.” (Uma história da Ciência,2010 p.25)

Kepler estudou Física e astronomia em Tuinguen. Lá ele foi apresentado a uma teoria, que havia sido recentemente formulada, sobre o movimento dos planetas, do Sol e da Lua. Essa teoria era a teoria de Nicolau Copérnico, onde o Sol está no centro do sistema. No século XVI os Reis e a população tinham um grande interesse em astrologia. Acreditavam que os astros exerciam grande influência nas vidas terrenas, por isso havia muito interesse nas pesquisas sobre as posições dos planetas e estrelas. Kepler, quando se formou assumiu o posto de professor de matemática em Graz, na Áustria. Como veio de uma origem humilde, fazia horóscopos para complementar sua renda.

No século XVI um grande conflito religioso foi responsável por uma mudança na vida de Kepler: a reforma protestante. O estado de Graz, onde ele vivia, foi dominada por católicos e Kepler era luterano; com isso sofreu grandes perseguições, tendo sua vida ameaçada por diversas vezes. Essas ameaças o fizeram aceitar um convite que tinha recebido do famoso astrônomo dinamarquês Tycho Brahe, para ir trabalhar com ele em Praga. Brahe era muito egoísta e não permitia que Kepler acessasse suas anotações. Apenas 18 meses após sua chegada Brahe faleceu e Kepler foi promovido, com isso teve acesso ao rico acervo, até então guardado e protegido por seu ex-chefe, com diversas anotações. Tycho Brahe mapeou posições de 777 das 2500 estrelas que conseguimos enxergar a olho nu com uma boa visibilidade do céu. De posse desse rico acervo e já com suas próprias anotações, ele conseguiu formular suas leis, hoje em dia conhecidas como as Leis de Kepler

Galileu Galilei

Nascido em 15 de fevereiro de 1564, época e local com grande influência e poder da igreja católica. Por intervenção de seu pai, um homem empobrecido

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25 da pequena nobreza, entrou para a faculdade de medicina. Seu pai achava que assim o filho iria alcançar uma solida posição social, mas não era essa carreira que Galileu almejava para si. Após o segundo ano de faculdade, nunca completado, conheceu a Física e a matemática. Observando um pêndulo fez sua primeira importante constatação: em pequenas oscilações a frequência do pêndulo é constante.

Galileu, considerado um dos maiores físicos experimentais, é, por suas habilidades manuais, muito conhecido: seus trabalhos na área da mecânica, no estudo do movimento, como, por exemplo, a prova que dois corpos caem com a mesma aceleração(essa constatação levou Einstein , quase 300.anos.depois, a formular o princípio da Equivalência, um dos pilares básicos da Relatividade geral. Uma história muito famosa, porem equivocada, sobre largar dois corpos do alto da Torre de Pisa, costuma ser contada para ilustrar essa situação. Ele também foi o primeiro a enunciar como Lei da Inércia.

“Nessas experiências, ele fazia uma pequena esfera de metal rolar, primeiramente por um plano inclinado, depois através de uma superfície horizontal, para subir, a seguir, por um segundo plano inclinado. Alterando o declive deste último, ele notou que a esfera quase sempre atingia a mesma altura, com pequenas variações causados pelo atrito. Desta forma, inferiu que, se o segundo plano tivesse inclinação nula, ou seja, também fosse horizontal, a esfera rolaria indefinidamente. Nasceu, assim, o princípio da inércia, que Newton usaria depois na construção da sua teoria” (Os cientistas 1,1972 p.82)

No início do século XVII Kepler havia acabado de lançar seu livro As Tábuas Rudolfinas. O movimento dos planetas era um assunto de muito interesse de alguns nobres e reis da Europa. Galileu sempre foi uma pessoa ambiciosa, e buscou pesquisar sobre o sistema planetário também. De posse de uma invenção recém descoberta por um holandês, a luneta, buscou aperfeiçoa-la e usa-aperfeiçoa-la para observar os corpos celestes. Em uma dessa observações constatou que a superfície da lua não era perfeitamente lisa: existiam muitas crateras e imperfeições. Observou também que Jupiter contava com três luas. Isso o aproximou de alguns nobres e o fez entrar em guerra com a igreja católica. Para a igreja, na época, os corpos celestes eram perfeitos e a terra era o centro

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26 do universo, mas Galileu observou e mostrou que não era bem assim e se tornou um grande defensor do modelo heliocêntrico. A igreja, para mostrar o seu poder o mandou para o tribunal da Inquisição dentro de um convento dominicano em Roma. Galileu foi sentenciado a prisão domiciliar e suas obras, como as de Kepler, foram proibidas pela igreja.

Em discurso no seu julgamento, Galileu falou:

“Eu, Galilei, filho do falecido Vincenzo Galilei, florentino, de setenta anos de idade, intimado pessoalmente à presença deste tribunal e ajoelhado diante de vós, Eminentíssimos e Reverendíssimos Senhores Cardeais Inquisidores-Gerais contra a gravidade herética em toda a comunidade cristã, tendo diante

dos olhos e tocando com as mãos os Santos Evangelhos, juro que sempre acreditei, que acredito, e, mercê de Deus, acreditarei no futuro, em tudo quanto é defendido, pregado e ensinado pela Santa Igreja Católica e Apostólica. Mas, considerando que (...) escrevi e imprimi um livro no qual discuto a nova doutrina (o heliocentrismo) já condenada e aduzo argumentos de grande força em seu favor, sem apresentar nenhuma solução para eles, fui, pelo Santo Ofício, acusado de veementemente suspeito de heresia, isto é, de haver sustentado e acreditado que o Sol está no centro do mundo e imóvel, e que a terra não está no cento, mas se move; desejando eliminar do espírito de Vossas Eminências e de todos os cristãos fiéis essa veemente suspeita concebida mui justamente contra mim sinceridade e fé verdadeira, abjuro, amaldiçôo e detesto os citados erros e heresias, e em geral qualquer outro erro, heresia e seita contrários a Santa Igreja, e juro que no futuro nunca mais direi nem afirmarei, verbalmente nem por escrito, nada que proporcione motivo para tal suspeita a meu respeito.”

(Os Cientistas 1,1972 p.69) Marie Curie

Primeira mulher a ganhar um prémio Nobel e posteriormente se tornar a primeira pessoa a ganhar dois prémios Nobel, um de Física outro de química. Nascida na Polônia em 7 de novembro de 1867, filha caçula de dois professores. Cresceu em uma Polônia que buscava independência da Rússia. Seus pais,

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pró-27 poloneses, acabaram sendo demitidos pelos seus chefes russos. Isto fez com que acabassem buscando empregos de menor remuneração. Aos 7 anos de idade perdeu sua irmã, aos 10 anos perdeu sua mãe. Com essas perdas entrou em depressão e acabou se mudando para o interior na casa de parentes. Sempre gostou de estudar e gostaria de iniciar os estudos em uma instituição de ensino superior, mas em sua região nenhuma das universidades aceitava mulheres. Essa situação a fez fazer um acordo com sua irmã, primeiramente ela iria ajudar a irmã financeiramente a estudar medicina, posteriormente a irmã a ajudaria financeiramente a cursar Física em Paris. Com isso, em 1891, Marie Curie iniciou o curso de Física na Universidade de Paris. Na mesma época um instrutor da Escola de Física e Química industrial da Cidade de Paris, chamado Pierre a conheceu e se apaixonou por ela, posteriormente os dois viriam a se casar. Marie, depois de formada, queria voltar para sua terra natal, tentou um emprego na Universidade de Cracóvia que recusou seu pedido simplesmente por ela ser mulher. Seu marido, Pierre, convenceu-a a retornar a Paris para obter o doutorado.

Marie e Pierre, o casal Curie, iniciaram a pesquisa sobre a recente descoberta de Henri Becquerel, o que viria ser chamado, pela Madame Curie, de radioatividade. O trabalho sobre radioatividade deu ao trio Becquerel, Marie e Pierre Curie o Prêmio Nobel em Física em 1903, sendo ela a primeira mulher a ganhar o prêmio. Ao continuar com as pesquisas com os minérios de urânio, Marie percebeu, dessa vez sozinha, que deveria haver outros elementos ali com intensidade radioativa ainda maior. Esses elementos são o que hoje em dia chamamos de Polônio (uma homenagem a terra onde nasceu), e Rádio, descobertos em 1898. Essas descobertas a fizeram receber outro Prêmio Nobel, dessa vez em Química, tornando-a primeira mulher a receber dois prêmios Nobel. Os prêmios não fizeram com que o machismo sobre ela fosse deixado de lado: no mesmo ano do segundo Nobel, a Academia Francesa de Ciências não a elegeu como membro por uma diferença dois votos. Naquela época a radioatividade ainda estava sendo descoberta; não se conheciam ainda seus efeitos nocivos. Madame Curie estudou por muito tempo esse assunto. Isso fez com que ela ficasse muito exposta a radioatividade. Complicações dessa exposição excessiva a trouxeram a óbito em 4 julho de 1934.

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28 Essas passagens são apenas alguns exemplos de como a construção do conhecimento científico não surge de repente, faz parte de um contexto histórico que está sendo vivido e com esse contexto podemos aprender muitas coisas que vai além de somente uma fórmula, uma lei, um teorema.

Em seu livro A parte e o todo, o físico alemão Heisenberg questiona qual é a responsabilidade do cientista sobre o que fazem com suas pesquisas. Umas das passagens mais marcantes na história do século passado foram as explosões nas cidades Japonesas de Hiroshima e Nagasaki. O físico Otto Hahn, um dos grandes responsáveis pelas pesquisas com a fissão nuclear, teria alguma responsabilidade nessas explosões que mataram milhares de pessoas e causou grandes destruições?

“Otto Hahn e nós apenas cumprimos nosso papel no desenvolvimento da ciência moderna. Esse desenvolvimento é um processo vital, no qual a humanidade ou, pelo menos, o homem europeu embarcou há séculos, ou, se vice preferir dize-lo de maneira menos enfática, que ele aceitou. Sabemos por experiencia que ele pode levar para o bem ou ao mal. Mas, especialmente durante o século XIX, quando se confiava no progresso, todos estávamos convencidos de que, com a ampliação dos conhecimentos, o bem prevaleceria e as possíveis consequências negativas de todo esse processo poderiam ser mantidas sob controle. A possibilidade de construir bombas atômicas nunca ocorreu seriamente nem a Hahn, nem a ninguém; na época, nada na Física apontava essa direção.” (Heisenberg,1996 p.227)

Esse é um questionamento que poderia ser trazido em uma aula de Física? Vai depender do papel que o professor quer desempenhar, do tipo de aula que ele quer dar, mas vemos claramente, que com essa passagem podemos trazer um questionamento sobre ética, em uma aula de Física sem, necessariamente, ter uma total transgressão da aula.

3.5) O uso racional de novas tecnologias como ferramentas

facilitadoras no ensino de Física

Uma coisa que não se pode mais negar, é: vivemos em um mundo cercado de tecnologia e essas tecnologias estão cada vez mais acessíveis a

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29 todos. Os professores não podem mais negar essa existência, temos que começar a usá-las a nosso favor.

Quando entramos em sala de aula, quase todos os alunos têm um celular com internet. Em algumas escolas os celulares ainda são proibidos em sala de aula, algumas aconselham os professores a expulsarem de sala o aluno que pegar o celular durante a aula. Isso acaba gerando uma revolta na comunidade estudantil, pois o celular já se tornou item indispensável na vida de algumas pessoas. O que queremos é tentar um maior engajamento dos alunos e uma fuga dos padrões tradicionais expositivos para o ensino da Física. Como o celular é um item com o qual eles já estão muito acostumados a mexer podemos começar, ao invés de proibir a usá-los para pesquisas rápidas, como por exemplo, podemos pedir para pesquisarem sobre a notícia das bandeiras tarifárias das contas de energia elétrica, com isso entrar no assunto da geração, da transformação, da energia e mostrar o porquê uma forma é mais cara que a outra. O jovem de hoje em dia tem acesso a uma variedade muito grande de informações muito facilmente, se o nosso papel, como educadores, for somente chegar na frente do quadro e passar informação, os alunos podem achar chato e também sentir que poderiam estar em outro lugar.

Um dos aparelhos tecnológicos, que ainda sofre certa resistência no meio, é o Datashow. Com ele podemos projetar a tela do computador ou do tablet no quadro ou em um painel. Hoje em dia existem alguns sites com simulações de experimentos físicos, que podem ajudar a mostrar de forma mais interativa e realista o fenômeno que está sendo estudado. Um dos sites que mostra com diversos simuladores sobre vários assuntos da Física é o:

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Imagem do endereço citado acima.

https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulations/category/physics

Neste site podemos baixar diversos simuladores sobre variados assuntos. Ao invés de somente jogar o conteúdo e as fórmulas no quadro, nós mostramos, de forma simulada, como acontece na realidade.

Um que é muito fácil de usar e não precisa ser baixado, você usa diretamente no próprio site, é o da energia mecânica em uma pista de skate. Nele conseguimos ver a energia mecânica se conservando, a energia potencial gravitacional se transformando em cinética. Essa visualização deixa a aula mais interativa e traz o aluno para a sala de aula e para o assunto.

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31 Imagem ilustrativa de uma simulação usando o conceito de energia mecânica.

https://phet.colorado.edu/sims/html/energy-skate-park-basics/latest/energy-skate-park-basics_pt_BR.html

Para o aluno que não consegue visualizar como os assuntos agem na vida real, o simulador serve para trazer uma contextualização com o dia a dia, tirando o assunto do mundo abstrato. Os simuladores, quando usados em sala, mostram uma grande aceitação perante os alunos.

O Datashow também pode servir como aliado para deixar a aula um pouco menos monótona, de ser só falar e quadro, podemos com a utilização de apresentações do PowerPoint, fazer uma aula com mais envolvimento. Devemos tomar cuidado para que essas apresentações sejam usadas para deixar a aula menos chata e cansativa. Temos que fazer apresentações interativas, onde conseguimos fazer com que os alunos tenham interesse em ficar olhando para o quadro.

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4. CONCLUSÃO

Estamos vivendo em um mundo muito dinâmico, muito tecnológico, com muito acesso à informação. É fácil constatar que o professor já deixou de ser o detentor de todo conhecimento para virar um mediador do saber. Toda essa tecnologia deixa aquela aula do modelo arcaico cada vez mais desinteressante. Os professores de Física, para tornarem as aulas mais interessantes, vão ter que deixar o modelo de aula somente matemático e começar a tentar fazer referências do conteúdo ensinado com o dia a dia do aluno, contextualizar os assuntos. A contextualização, o uso da tecnologia e entender o período no qual o conhecimento foi desenvolvido, usando a história da ciência, faz com que a aula se torne mais interessante ( é claro que nada disto significa que o mais importante não seja o fato da pessoa que se propõe a ensinar ter realmente APTIDÃO NATURAL PARA SER PROFESSOR, PRINCIPALMENTE NOS NÍVEIS FUNDAMENTAL E MÉDIO, NÍVEIS PARA OS QUAIS OS CURSOS DE LICENCIATURA SE PROPÕEM A PREPARAR OS PROFISSIONAIS DE ENSINO. Um bom curso de Licenciatura pode tornar ainda melhor um bom professor nato, mas não pode transformar uma pessoa sem vocação num professor! A grande maioria das pessoas que terminaram a educação básica pode, infelizmente, relatar casos em que foram alunos de pessoas que, embora algumas vezes tivessem até boa vontade, eram péssimos didatas! Isso quando não se deparavam nas salas de aula com indivíduos que exibiam claramente uma enorme frustração em estar ali, demonstrando claramente que consideravam lecionar um fardo, do qual gostariam de se livrar o mais rápido possível!)

O atual momento em que vivemos, por ser uma época de ascensão do obscurantismo cultural, dos preconceitos étnicos e de gênero, e, na política, de formas atualizadas de nazi-fascismo, torna mais importante do que nunca desenvolver um acentuado senso crítico nos alunos de nível médio, para que sejam capazes de distinguir uma informação que pode ser boa, de uma que é mentira e/ou não tem base científica nenhuma, já que hoje em dia informação chega a eles a todos os momentos (é sempre oportuno lembrar o comentário do genial Umberto Eco: A INTERNET DEU VOZ A TODOS OS IDIOTAS DO

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33 MUNDO! Basta acompanhar algumas declarações da equipe de governantes atuais para constatar o quão sábias são essas palavras!). O ensino da Física tem um papel importante em todo esse processo, não podendo estar de fora só por ser uma disciplina da área de exatas.

Vamos agora elaborar um pouco mais sobre os comentários finais do último parágrafo. Dada à gravidade do momento político por que passa o país, e dada a notória tendência deste governo a tentar influir, quase sempre de maneira desastrosa (o nefasto projeto Escola sem Partido é apenas a “ponta do iceberg”) parece-nos muito interessante comparar a situação atual com aquela da Alemanha na década de 1930, período de vigência do regime nazista (deveríamos pelo menos tentar aprender algo com a história, para ver se os mesmos erros não se repetem. Conseguiremos?). É claro que a situação não é exatamente a mesma, mas vamos relatar abaixo duas conversas que o criador da Mecânica Quântica, Werner Heisenberg teve, entre 1935 e 1937, uma delas com um estudante universitário que pertencia à Juventude Hitlerista, e outra com Max Planck, o criador da Teoria Quântica[ HEISENBERG, Ambas estão relatadas no capítulo 12 do já citado livro de Heisenberg, A PARTE E O TODO.

Após ser admitido ao gabinete do pesquisador, disse o estudante, na primeira conversa: “Assisto a suas aulas e sei que podemos aprender muito com o senhor, mas, afora isso, não temos nenhum contato. Já o ouvi tocar mais de uma vez. Não é muito frequente eu ter a oportunidade de ouvir música. Sei também que o senhor foi membro do Movimento da Juventude, como eu. Mas nunca comparece às reuniões atuais dos jovens, sejam elas dirigidas pela Associação de Estudantes Nacional-Socialistas, pelo Movimento Hitlerista ou por qualquer outra entidade. Sou líder do Movimento Hitlerista, e gostaria muito de vê-lo numa de nossas reuniões. Mas o senhor age como se fosse um daqueles velhos catedráticos conservadores, que vivem imersos no passado, para quem a nova Alemanha é estranha, senão odiosa. Não consigo imaginar que uma pessoa que uma pessoa tão jovem e musical como o senhor possa mostrar tamanha falta de simpatia pelos jovens, por aqueles de nós que ansiamos por fazer todo o possível para construir uma Alemanha melhor. Precisamos de pessoas com mais experiencia, que estejam dispostas a nos ajudar nesta tarefa. Talvez o senhor

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34 se oponha a muitas coisas feias que estão acontecendo, como a perseguição e expulsão de pessoas inocentes.”

Heisenberg respondeu: “Se fosse uma questão de me aliar aos estudantes jovens, de trabalhar pelo que acredito ser correto, eu poderia oferecer meu apoio, na fala e na ação. Mas agora que um numero tão vasto de pessoas foi atirado na arena, a opinião de um punhado de estudantes e professores mal chega a ter importância. Além disso, os lideres dessa revolução tem-se o empenhado em que a nação fique surda à razão: continuam a escarnecer dos chamados intelectuais e de todos os que mostram maior discernimento espiritual do que os novos dirigentes. O senhor sente-se seguro de estar no caminho certo para construir uma Alemanha melhor? É claro que não vou negar que o senhor possa, pessoalmente, ter a intenção de chegar lá, mas, de modo geral, tudo o que podemos dizer com certeza é que a antiga Alemanha está sendo destruída e que as injustiças florescem por toda parte; tudo o mais são fantasias. Se vocês estivessem simplesmente procurando remediar injustiças que existem, eu estaria a seu lado até o fim. Mas o que está acontecendo é algo muito diferente. O senhor há de se dar conta de que não posso ajuda-los quando a Alemanha está sendo destruída. É simples assim.

O Estudante: O senhor está sendo injusto...Na vida econômica, a corrupção campeou como nunca. Quando o governo ficou sem dinheiro, por ter que pagar reparações de guerra ou porque pessoas comuns ficaram pobres demais para pagar os impostos ele simplesmente imprimiu mais dinheiro. Por que não? O fato de muita gente velha e fraca ser despojada de seus últimos centavos e ter que passar fome não pareceu preocupar ninguém. O governo tinha dinheiro suficiente; os ricos ficaram mais ricos; os pobres, mais pobres. E o senhor tem que admitir que houve judeus envolvidos em alguns dos piores escândalos dos últimos anos.”

Heisenberg: “E isso habilita a encarar os judeus como um tipo especial de seres humanos, a trata-los com indignidade e a expulsar um grande número de pessoas eminentes da Alemanha? Por que não deixam aos tribunais a tarefa de punir os culpados, seja qual for sua religião ou raça?”

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35 Estudante: “Simplesmente porque isso não acontece. A justiça transformou-se, há muito tempo, numa justiça política, num meio de perpetuar o statu quo degenerado, de proteger a classe dominante sem se preocupar com o povo. Olhe para as sentenças brandas que eles deram a alguns dos piores vigaristas...E os deputados do Reichstag só buscavam conseguir o máximo de vantagens materiais para seus partidos. Acusavam-se uns aos outros de gananciosos, apenas para se mostrarem mais gananciosos, eles mesmos. Enquanto isso, o bem geral era esquecido.”

Heisenberg, em uma passagem do livro, conta sobre uma conversa que teve com Planck, a passagem está descrita mais ou menos assim: “Planck recebeu-me numa sala de estar recebeu-meio sombria e antiquada, mas recebeu-mesmo assim acolhedora; para completar o quadro, só faltava um velho lampião a óleo sobre a mesa central. Parecia ter envelhecido muitos anos desde nosso último encontro. Seu rosto de feições bem talhadas criara rugas profundas, seu sorriso parecia torturado e ele tinha uma aparência terrivelmente cansada.

- O senhor veio me pedir conselhos sobre questões políticas – foi logo dizendo -, mas temo já não poder aconselhá-lo. Não tenho esperança de deter a catástrofe que está prestes a tragar nossas universidades e, a rigor, o país inteiro. Antes que o senhor me fale de Leipzig (e, acredite, as coisas não podem estar pior por lá do que aqui em Berlim), eu gostaria de informá-lo sobre minha conversa com Hitler dias atrás. Eu tinha esperança de convencê-lo de que ele estava causando imensos danos às universidades alemãs, particularmente à pesquisa na Física, ao expulsar nossos colegas judeus; de lhe mostrar como era insensato e imoral vitimizar homens que sempre pensaram em si como alemães e que tinham oferecido a vida pela Alemanha, como todos os demais. Não consegui fazer-me entender. Pior: não há linguagem em que se possa falar com um homem desses que perdeu todo o contato com a realidade. O que os outros lhe dizem é, quando muito, uma interrupção incômoda, que ele abafa imediatamente com repetições incessantes das mesmas velhas frases sobre a decadência da vida intelectual sadia nos últimos quatorze anos, sobre a necessidade de deter a degradação mesmo nesse estágio avançado, e assim por diante. O tempo todo, tem-se a impressão fatal de que ele acredita em todos os absurdos que despeja e se entrega a seus delírios ignorando todas as

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36 influências externas. Está tão possuído por suas chamadas ideias que já não é acessível à argumentação. Um homem assim só pode levar a Alemanha ao desastre.

Falei-lhe então dos últimos acontecimentos em Leipzig e do plano de alguns membros mais jovens da equipe, de pedir demissão coletiva, para deixar claro que até que sim; mas não adiante. Mas Plank estava convencido de que todos os protestos desse tipo se haviam tornado inúteis.

- Fico contente em ver que os senhores ainda são suficientemente otimistas para acreditar que podem deter a degradação com atos desse tipo. Infelizmente, os senhores superestimam a influência da universidade ou os acadêmicos. O público não ouviria praticamente nada sobre sua renúncia. Ou os jornais não falariam dela, o tratariam seus protestos como atos de maníacos mal orientados e impatrióticos. É impossível deter um deslizamento de terra depois que ele começa. Quantas pessoas ele destruirá, quantas vidas humanas irá tragar, é só questão de uma lei natural, mesmo que não saibamos prever seu curso exato. O próprio Hitler já não é capaz de determinar o curso futuro dos acontecimentos; ele é um homem arrastado por suas obsessões, e não um piloto no comando de um veículo. Não sabe se as forças que desencadeou irão enaltecê-lo ou destroçá-lo em pedaços.”

É também muito instrutivo relatar uma outra conversa que Heisenberg teve com Adolf Butenandt, um bioquímico alemão, em 1943, ou seja, em plena vigência da guerra, relatada no capítulo 15 do mesmo livro:

“Terminando o ataque, conseguimos sair, escalando um amontoado de blocos de concreto e de aço retorcido. Lá fora, fomos recebidos por uma visão assombrosa. Toda a praça em frente ao Ministério estava iluminada pelas labaredas vermelhas que saíam dos andares superiores dos prédios vizinhos. Aqui e ali, o fogo também se alastra até o térreo, e havia poças incandescentes de fósforo no meio da rua. A praça estava cheia de gente ansiosa por voltar para casa, esperando em vão o transporte para os bairros mais distantes.

Butenandt e eu deixamos o abrigo juntos e resolvemos fazer companhia um ao outro enquanto nos dirigíamos para nossas casas, em Fichteberg e Dahlem. A princípio, consolamo os com a ideia de que talvez o ataque aéreo se houvesse

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37 restringindo ao centro da cidade, poupando os bairros residenciais afastados. Depois, vimos que a Potsdamer Strasse era ladeada por coroas de chamas numa extensão de muitos quilômetros. As brigadas de incêndio haviam começado a trabalhar em alguns lugares, mas, pelo tanto que conseguiam, era como se tentassem esvaziar um lago com uma colher de chá.

Tinhamos que contar com pelo menos uma hora em meia de caminhada em passo acelerado da praça Potsdamer até Dahlem, de modo que dispusemos de tempo para um conversa bastante longa, não sobre a situação da Alemanha – isso era por demais evidente a nosso redor -, mas sobre nossas esperanças e planos para o período pós-guerra.

Butenandt perguntou-me:

- Em sua opinião, quais são as nossas chances de fazer pesquisa cientifica na Alemanha depois da guerra? Muitos de nossos melhores institutos terão sido destruídos, muitos jovens cientistas terão sido mortos, e existirão outras necessidades mais gerais e urgentes. O desenvolvimento científico não ocupará um lugar elevado na lista de prioridades. No entanto, é provável que a pesquisa cientifica seja um pré-requisito para a retomada econômica; sem ela, a Alemanha tem pouca probabilidade de assumir seu lugar na comunidade europeia.

- Creio que há boas razões para esperar – respondi – que muitos alemães se lembrem do trabalho de reconstrução depois da Primeira Guerra Mundial e recordem que algumas das contribuições mais importantes, como a das indústrias química e óptica, resultaram da combinação de esforços de cientistas e engenheiros. É provável que se dê conta de que o desprezo nazista pela ciência foi umas das razões do atual colapso da Alemanha. É claro que essa história não me convence de todo. A raiz do mal é consideravelmente mais profunda. O que estamos vendo diante de nós é apenas a consequência natural do mito do ocaso dos deuses, da filosofia do “tudo ou nada”, que tem atraído o povo alemão repetidamente. A confiança dessa gente num Fuhrer, num herói destinado a guia-la para fora do perigo e da miséria, rumo a um futuro mais brilhante e mais nobre, livre de todas as retrisções externas, ou então, se a sorte lhe for adversa, disposta a marchar resolutamente para a destruição, essa crença terrível é nosso pior flagelo. Ela substitui a realidade por uma ilusão

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38 gigantesca e impede qualquer entendimento real entre nós e as nações com que temos de conviver. Assim, eu preferiria formular sua pergunta da seguinte maneira: depois que nossas ilusões tiverem sido completa e implavavelmente destroçadas pela realidade, poderá a pesquisa científica ajudar-nos, a nós, alemães, a chegar a uma visão ponderada e crítica do mundo e de nossa posição nele? Em outras palavras, estou pensando mais nos aspectos educacionais da ciência do que nos econômicos, em seu possível papel no desenvolvimento do pensamento crítico. É claro que o número de pessoas aptas a desempenhar um papel ativo na ciência nunca será muito grande, mas os cientistas sempre foram respeitados na Alemanha; em geral, seus conselhos costumavam ser ouvidos, de modo que se pode esperar que suas opiniões tenham uma acolhida justa.

- Com certeza – disse Butenandt -, a educação para o pensamento racional é uma tarefa digna, e devemos fazer o máximo para as promove-la depois da guerra. Na verdade, do como correram as coisas, as pessoas deveriam ter aberto os olhos há muito tempo para a realidade, para o fato, por exemplo, de que a confiança no Fuhrer não serve de substituto para as matérias-primas, de que a verborragia não é uma alternativa viável para as conquistas técnicas e cientificas. Uma olhadela no mapa para os territórios gigantescos que estão sob o controle dos Estados Unidos, da Grã Bretanha e da Rússia, e para a minúscula área que é a Alemanha, deveria ter bastado para nos advertir contra as aventuras militares. Mas nós, alemães, achamos extremamente difícil pensar com lógica e sensatez. Por certo não nos faltam indivíduos inteligentes, mas, como nação, tendemos a ser sonhadores, a enaltecer a imaginação acima do intelecto, a exaltar o sentimento acima da razão. Por isso, há uma necessidade urgente de restituirmos honradez ao pensamento científico, o que não deverá ser muito difícil nos tempos nada românticos que fatalmente se seguirão a esta guerra.”

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

Pessoa Jr, Osvaldo. Quando a abordagem histórica deve ser usada no

ensino de ciências? Ciência e Ensino. 1996

de Castro, Ruth Schmitz. de Carvalho, Anna Maria Pessoa. História da

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de Educação – USP, São Paulo. 1992

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Silva, Luciano Fernandes. De Carvalho, Marcelo Luiz. Professores de Física

em formação inicial: Ensino de Física, a abordagem CTS e os temas controversos. Investigações em Ensino de Ciências – V14(1), pp. 135-148,

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PERSPECTIVA DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA E DO MOVIMENTO C.T.S. NO ENSINO DE CIÊNCIAS. Ciência & Educação, v. 9, n. 2, p. 177-190,

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Heisenberg, Werner. A parte e o Todo. Contraponto Editora LTDA, 1996.

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Mosley, Michael. Lynch, John. Uma História da Ciência. 2011.

Bodanis, David. E = mc² - Uma biografia da equação que mudou o mundo e

Referências

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