A LÍNGUA INGLESA COMO INSTRUMENTOS DE TRABALHO: AS VOZES DOS EGRESSOS DO CURSO TÉCNICO DE INFORMÁTICA INTEGRADO
Maurivan Barros Pereira Mestrando do curso de Pós-Graduação do Programa em Ensino de Ciências e Matemática – UNEMAT
maurivanbarros@hotmail.com
ALINE SILVA DE ASSIS Acadêmica do curso de Ciências da Natureza habilitação em Química - IFMT
RESUMO
O estudo traz uma abordagem reflexiva e teórica acerca do tema“a Língua Inglesa como instrumentos de trabalho: as vozes dos egressos do Curso Técnico de Informática Integrado da Escola Estadual 29 de Julho”. O presente trabalho teve como objetivo analisar o processo de ensino e aprendizagem dos integrantes do curso técnico profissionalizante de informática com base na proposta pedagógica da escola, assim, verificar como se perpetuou o conhecimento de língua Inglês no curso. Com o intuito de verificar o uso da língua como facilitadora do exercício profissional do técnico em informática adotou-se como instrumento de coleta de dados o questionário, o qual foi aplicado com duas turmas: 2012 e 2013. A amostragem que embasou o estudo é de 51, 7% do total que concluíram o curso. Nesse sentido, foram entrevistados 18 técnicos em Informática que obtiveram a titulação nesses anos citados. Dos 51,7% dos entrevistados 77,7% estão inseridos no mercado de trabalho em Confresa, sendo que apenas 11,1% estão atuando como técnico, uma vez que 88,9 receberam formação e estão desenvolvendo outras funções no marcado de trabalho. Uma rápida análise da matriz do curso permite verificar um único objetivo referente ao Inglês: “Noção básica da língua estrangeira, necessária para o bom desempenho na área de informática”. Ou seja, há divergências entre o que diz a voz da escola (matriz curricular), a filosofia da escola em assumir a função de formar sujeitos críticos capazes de se relacionar com o outro através do conhecimento, da cultura, relações sociais e políticas.Contudo a voz do cidadão egresso do curso revela afragilidade dos conhecimentos adquiridos nas aulas de Língua Inglesa oferecidas no curso técnico. As vozes dos egressos sinalizam de que o ensino e aprendizagem em Língua Inglesa no Curso Técnico de Informática necessita caminhar com mais intensidade na perspectiva dos múltiplos saberes.
Palavras- chaves:Língua inglesa, educação, linguística aplicada.
INTRODUÇÃO
É importante destacar o papel das políticas públicas para o ensino e aprendizagem em nosso país. Diante do cenário atual faz-se necessário refletir sobre o ensino de Língua Inglesa e como tem se dado a regulamentação da disciplina no contexto educacional. Segundo Vasconcellos (2009), a reflexão precisa ajudar a identificar os elementos que condicionam a prática e a entender como os mesmos
interferem na percepção que os sujeitos constroem da existência. Conforme Dutra e Mello (2004) ressaltam, a reflexão não deve se limitar ao momento da prática que estar sendo analisada, mas também se estender ás experiências passadas.Ou seja, toda a historicidade do professor deve ser considerada até mesmo as experiências enquanto aluno Conforme Cox e Assis-Peterson (2008), o processo histórico do ensino de língua inglesa no Brasil teve seus momentos como coadjuvantes e momentos como protagonistas. No trabalho “o drama do ensino de inglês na escola públicas brasileira”, destacou-se diferentes reformas educacionais que influenciaram diretamente no ensino da língua. Ao longo de meio século de história em que ocorreram reestruturação e reorganização nas maneiras de como se concebem o ensino, percebemos tais mudanças a partir dos regulamentos e/ou documentos normatizados pela a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei 9394/96), Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), e as Orientações Curriculares (OCs).É importante pensarmos nessas políticas públicas que estruturam e delegam o ensino da disciplina, pois são documentos que nortearão as reflexões da prática pedagógica que o professor de Línguas fará ao longo do exercício docente e de sua formação continuada.
O estudo teve como objetivo analisar como foi produzida a proposta pedagógica para que os egressos obtivessem o conhecimento de língua estrangeira (Inglês) no curso profissionalizante de informática. Por último, buscou-se investigar como os egressos lidam com termos técnicos em inglês apreendidos durante o curso, isto é, se o curso os ajudou a atuarem no mercado de trabalho e como estar sendo o desempenho deles no mercado de trabalho.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa apresenta caráter bibliográfico e descritivo, com aplicação de questionários sémi-estruturados com os alunos egressos do curso técnico em informática e análises do projeto político pedagógico e do plano do curso técnico em informática da Escola Estadual 29 de Julho. Foram aplicados 18 questionários com alunos egressos de 2012 e 2013, conforme disponibilidade de cada técnico de informática. A pesquisa ainda teve como princípio metodológico a não probabilísticas para a escolha dos alunos que responderam aos questionários.
A análise dos dados teve como suporte teórico a Análise de Conteúdo, caracterizada como “conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (BARDIN, 2006, p. 38).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A princípio procuramos saber se eles ao iniciarem o curso técnico sabiam da importância da Língua Inglesa como ferramenta para compreender e trabalhar com a linguagem dos computadores, ou seja, dos programas de multimídias, 72,2% disseram que sabiam da relevância do inglês na formação de um técnico em Informática, 27,8% não sabiam dessa relação próxima das linguagens. Questionamos se consideravam os conhecimentos de Língua Inglesa importante para a formação técnica, 22,2 % responderam que às vezes, embora 77,7% responderam que sim, pois reconhecem que a Língua Inglesa tem relevância no curso: “usava-se muito termos técnicos em inglês para realização de programação de software”. (Aluno A).
Outra questão foi em relação à metodologia usada nas aulas de Língua Inglesa, se eles estavam satisfeitos com os conhecimentos obtidos nas aulas e a relação deles com o exercício da profissão. A grande maioria dos entrevistados reconheceu que aprenderam pouco, embora, todos concordaram de que “a língua Inglesa é importante para se entender os vários códigos que se tem em uma programação e não só para isso, no dia a dia o inglês também é muito importante”. (Aluno B). Percebemos através das vozes dos entrevistados que o aprendizado em Língua Inglesa no curso técnico de informática ainda precisa de avanços, ou seja, a linguagem dos programas de computadores necessita ser pensada de forma sistemática desde a proposta pedagógica do curso até as ações realizadas pelos professores das disciplinas.
Percebemos na matriz do curso um único objetivo referente ao Inglês: “Noção básica da língua estrangeira, necessária para o bom desempenho na área de informática”.
É preciso contrapor as vozes da escola e as vozes de quem são formados por ela, para que novas perspectivas de ensino e aprendizagem ocorram, se estabeleçam nos espaços públicos de ensino. Foi percebido também das vozes dos egressos o mito ou crença de que a Língua Inglesa não é apreendida de forma concisa, de modo a estabelecer comunicação oral, escrita por ser uma Língua difícil. Percebemos um discurso preestabelecido a partir das experiências do outro que fracassou. Os Estudos teóricos, em especial os da Linguística Aplicada tem demonstrado que é possível pensar o ensino de Línguas na perspectiva da relação recíproca com outro.
É preciso romper a distanciamento entre as línguas (LM e LE) causado pela falta de conhecimento e a diferença dos sujeitos. Segundo Dias e Assis-Peterson “ouvir as vozes dos outros nos ajuda a achar as nossas próprias vozes” (2006, pag. 111). Nesse sentido, a pesquisa buscou refletir sobre o processo e o resultado do ensino e aprendizagem da Língua Inglesa num curso profissionalizante.
Refletir sobre as ações pedagógicas desenvolvidas por professores e alunos da escola pública é de grande relevância porque são as vozes da escola juntamente com as vozes sociais que permearam pela escola por certo período de formação é que darão suporte para que as crenças e mitos sobre o ensino/aprendizagem de Língua Inglesa se reconstruam com qualidade a partir de ações concretas que vão além da lista de conteúdos e de único objetivo. É preciso ultrapassar o conhecimento básico de língua Inglesa e avançar em busca da compreensão da cultura, costumes, adversidades existentes entre os sujeitos de outras línguas. É preciso ousar com propostas pedagógicas que incentivem e assegure aos aprendizes a comunicação verbal e não verbal em LI.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A linguística aplicada é uma ciência que permite ao professor a refletir sobre a prática de ensino da língua inglesa e de sua própria formação teórico-pedagógica. Ela é fundamental na formação do professor porque além de despertar o senso investigação de suas ações em sala de aula possibilita o diálogo com outras disciplinas, por ela possuir um caráter investigativo e multidisciplinar. A formação do professor na perspectiva da linguística aplicada, torna-se muito mais solida, pois através das discussões teóricas e empíricas possibilitada pelo viés da Linguística Aplicada, o professor vai além do diálogo com sua área de formação, ou seja, as concepções de ensino e aprendizagem do educador ganha dimensões mais amplas porque aprende em parcerias com as teorias de outras áreas do conhecimento.
É preciso pensar a linguagem dos computadores como uma segunda linguagem, e em parceira com os professores de informática conduzir o aluno a ir além dos termos técnicos em informática expressos em inglês. Buscar essa cultura em que os sistemas são criados de forma interdisciplinar. Nesse sentido, a justificativa do Plano de curso, amparado pela portaria 0034/2008 expressa que “a pratica da interdisciplinaridade do Ensino Médio deve servir como elo legitimador da multiplicidade preponderante em
todos os planos da ciência. É tarefa indisciplinar uma verdadeira preparação para o mundo de trabalho”. É através dessa harmonia, múltiplas de saberes, que a escola realiza no coletivo de seus pares a formação com qualidade de jovens para interferir e modificar o mundo que o cercam. As vozes dos egressos são testemunhas de que o ensino/aprendizagem em Língua Inglesa no Curso Técnico de Informática necessita caminhar com mais intensidade na perspectiva dos múltiplos saberes.
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. ( Rego, l. A. Trad. ). Lisboa : edições 70, 2006. BRASIL. Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394/96. de 20 de dezembro de 1996, Brasília D.O.U, 1996.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília: Ministério da Educação, 2010.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: Terceiro e quarto ciclos do ensino
fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
COX, Maria Inês Pagliarini; ASSIS-PETERSON, Ana Antonia de. O drama do ensino
de inglês na escola pública brasileira. Cuiabá: EdUFMT, 2008.
DIAS, Maria Helena Moreira; ASSIS-PETERSON, Ana Antonia de. O inglês na
Escola Pública: vozes de pais e alunos. Cuiabá: EdUFMT, 2006.
DUTRA, Deise Prina; MELLO, Heliana. A prática reflexiva na formação inicial e
continuada de professores de língua inglesa. In ABRAHÃO, Maria Helena
(organização). Campinas, SP; Pontes Editores, Artelíngua, 2004.
Plano do curso técnico em informática da Escola Estadual 29 de Julho, 2008, Confresa/MT.
Projeto Político Pedagógico da Escola Estadual 29 de Julho, 2013, Confresa/MT.
SEDUC. Secretaria de Estado de Educação. Orientações Curriculares: Concepções
para a Educação Básica/Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso.
Cuiabá: SEDUC-MT, 2010.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento: Projeto de
ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico – elementos metodológicos para elaboração e realização. São Paulo: Libertad editora, 2009.