VIII Encontro da ABECS – Feira de Santana – 05 a 07 de 2014
A INVESTIGAÇÃO LEXICOGRÁFICA EM MOCAMBO DOS NEGROS E A
ESCRITA DE
BAHIA HUMORÍSTICA
Patrício Nunes Barreiros (UEFS)
Liliane Lemos Santana Barreiros (UEFS)
VIII Encontro da ABECS – Feira de Santana – 05 a 07 de 2014
Itapura
é uma vila fundada no final do século
XIX por escravos fugidos, localizada no vale das
Serras do Mocambo, no município de Miguel
Calmon-BA e conta hoje com pouco mais de 500
habitantes. Inicialmente o nome da vila era
Mocambo dos Negros, depois passou a Itabira
e, a partir do Decreto Estadual nº 1.978 de
01/01/1944, mudou para Itapura. No início da
década de 1930, uma companhia de extração de
minério instalou-se na vila. De repente, a
pequena comunidade constituída por uma dezena
de famílias de ex-escravos viu-se invadida por
mineiros e comerciantes de várias partes do país.
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Mucambo dos Negros > Itabira > Itapura
Entre 1933 e 1935, o escritor baiano Eulálio Motta
(1907-1988) morou em Itapura onde abriu uma farmácia.
Ele tinha acabado de concluir o curso de Farmácia na
Faculdade de Medicina da Bahia e regressou ao sertão, de
onde havia partido em 1926 para estudar em Salvador.
No acervo do escritor, encontra-se uma caderneta com anotações
do cotidiano da pequena vila, listas de palavras e expressões
utilizadas pelos moradores. Toda essa pesquisa etnográfica e
linguística foi realizada em função da escrita do livro inédito
Bahia
Humorística que se encontra preservado numa caderneta. Esse
manuscrito inédito constitui-se de quarenta e oito causos
engraçados que exploram com riqueza de detalhes o cotidiano
dos trabalhadores rurais, a feira livre, as conversas com as pessoas
mais idosas do lugar, revelando o modo de vida, as crenças, o
imaginário e os usos linguísticos. O esforço de Eulálio Motta para
traduzir a cultura sertaneja faz parte de um projeto maior do
escritor que, na década de 1930, adentrou no ambiente rural do
sertão baiano com claras intenções de explorar a cultura do povo
sertanejo (BARREIROS, P., 2012, 2007).
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A pesquisa etnográfica que Eulálio Motta
realizou para escrever
Bahia Humorística
constitui-se num riquíssimo acervo, tanto no
sentido linguístico quanto histórico, pois
oferece uma oportunidade de estudo da
realidade linguística e social da comunidade.
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A pesquisa tem como
corpus o acervo do escritor Eulálio Motta, especialmente a caderneta Bahia
Humorística, os cadernos escritos na década de 1930, os textos publicados no jornal Mundo Novo e o
Lidador e cartas escritas a familiares entre 1932 e 1934. Foi realizada a descrição da caderneta e dos
cadernos fólio a fólio com o objetivo de identificar as anotações. Além disso, elaborou-se um índice das
palavras anotadas por Eulálio Motta na caderneta
Bahia Humorística e verificou-se o seu emprego na
construção dos causos.
As peculiaridades lexicais, presentes em
Bahia Humorística, foram analisadas a partir da teoria de
estruturação dos campos lexicais, fundamentada em teóricos como: Horst Geckeler (1976), Mario Vilela
(1979; 1994) Eugenio Coseriu (1964a; 1964b; 1967; 1973; 1976) entre outros. Após o levantamento das
lexias no
corpus, fez-se a organização do vocabulário em seis campos lexicais.
O estudo está subsidiado pelos aportes teóricos da lexicologia (ARAGÃO, 1990, 1983; COSERIU, 1978,
1977, CARDOSO, 2000, VILELA, 1994) e dos usos e práticas sociais da escrita (BOURDIER, 2003;
CHARTIER, 2001; DE CERTEAU, 2008; HANKS, 2008).
REFERÊNCIAS
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