VI Jornada de Iniciação Científica do INPA • 18 a 20 de Junho de 1997 • Manaus - AM
AVALIAÇÃO DO TEOR DE NUTRIENTES E COMPOSTOS ORGÂNICOS
DE LENTA
DECOMPOSIÇÃO
EM LEGUMINOSAS
ARBÓREAS
DA
AMAZÔNIA.
AnaRitaLopes F·anas (1) ; omaS . Sena Alfaiala (2)
(I). (2).
Bolsista PIBIC; Pesquisador INPAlCPCA.
A baixa fertilidade natural da grande maioria dos solos da Amazônia tem sido o maior obstáculo para a introdução de uma agricultura do tipo convencional que se pratica em outras regiões tradicionalmente agrícolas. Para aumentar a produtividade desses solos é necessário o uso de fertilizantes que devido ao elevado custo na região dificultam a sua utilização. Assim, tem-se que explorar preferencialmente as possibilidades de expandir a área agrícola com reduzida ou nenhuma aplicação de fertilizantes. As pesquisas na Amazônia têm mostrado que o nitrogênio é um dos elementos com o nível mais reduzido no solo, em consequência da atividade agrícola na região (SANCHEZ et al., 1983; SMYTH et al. 1987). A substituição parcial ou total de fertilizantes nitrogenados pode ser obtida através da maximização dos processos biológicos que ocorrem naturalmente no solo, como a fixação biológica de N pelas plantas leguminosas e também pela incorporação dos resíduos dessas leguminosas ao solo.
Existe na Amazônia uma grande diversidade de espécies de plantas leguminosas arbóreas fixadoras de nitrogênio. A perspectiva à médio prazo é de que essas leguminosas sejam selecionadas como componentes de sistemas agroflorestais. No caso das leguminosas arbóreas fixadoras de nitrogênio as vantagens são ampliadas pela incorporação ao solo de matéria orgânica rica em nitrogênio, o que possibilita as culturas não leguminosas consorciadas se beneficiarem indiretamente da fixação biológica do N2, tomando o sistema auto-sustentável com relação a este nutriente.
O presente trabalho tem como objetivos selecionar espécies arbóreas de Leguminosae, nativas da Amazônia, que apresentem rusticidade e crescimento rápido para utilização como adubos verdes nos solos de baixa fertilidade da Amazônia.
Foram coletado aproximadamente 500 g de material vegetal (galhos e folhas) de 28 espécies de leguminosas nodulíferas (NOD) e não nodulíferas (NÃO NOD) do arboreto da Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas do INP A. Com 8 anos de idade o referido arboreto apresenta fonnaçao arbórea, as seguintes especies foram coletadas:
1) Albizia (Albizia lebbeck) NOD 2) Jucá (Caesalpinia ferrea) NÃO NOD
3) Cassia grandis NÃO NOD
4) Ingá mari-mari (Cassia leiandra) NÃO NOD 5) Pau rainha (Centrolobium paraensis) NOD
6) Clitoria amazonum NOD
7) Copaiba (Copaifera multijuga) NÃO NOD 8) Cynometrea bauhiniaefolia NÃO NOD
9) Mosquiteiro de capivara (Dalbergia inundata) NOD 10) Angelim vermelho (Diniria excelsa) NÃO NOD 11)Fava tamboril (Enterolobium maximum) NOD
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12) Fava orelha de macaco (Enterolobium schonburgkii) NOD 13) Muirapiranga (Eperva bijuga) NÃO NOD
14) Jutai mirim (Hymenaea intermedia) NÃO NOD 15) Jutai pororoca (Hymenaea parvifolia) NÃO NOD
16) Inga cf cinnamonea NOD
17) Inga sp Ingai NOD
18) Leucena (Leucaena leucocephala) NOD 19) Mulungu (Erythrina fusca) NOD
20) Visgueiro (Parkia pendula) NÃO NOD
21) Pithecellobium inaequale NOD 22) Pithecellobium sanguineum NOD
23) Macacaúba (Platymiscium duckey) NOD
24) Senna multijuga NÃO NOD 25) Arabá (Swartzia polyphylla) NOD
26) Tachi preto (Tachigalia paniculata) NOD 27) Fava mutum (Vatairea guianensis) NÃO NOD 28) Angico (Anadenanthera peregrina) NOD
O material vegetal (galhos e folhas) para o estudo foi coletado do terço médio das plantas. Em seguida foi lavado com água destilada, colocado em sacos de papel perfurados e posto para secar em estufa com circulação forçada de ar, com temperatura variando de 65 a 70°C e depois moídos. Além do nitrogênio e carbono, foram analisados, na biomassa foliar, todos os macronutrientes (Ca, Mg, P, K, S) e micronutrientes (Zn, Cu, B, Mn, Fe).
Os resultados das análises foliar (Tabela 1) das leguminosas mostraram que nas espécies nodulíferas o teor de nitrogênio nas folhas variou de 1,83 a 3,99%, enquanto que nas espécies não nodulíferas o teor de N variou de 1,17 a 3,23%. O maior teor encontrado foi na folha de leucaena (3,99%) e o menor foi no jutaí pororoca (1,17%). Em geral, a concentração de N nas folhas foi maior nas espécies nodulíferas (média de 2,56% de N) do que nas espécies não nodulíferas (média de 1,99% de N). Esses resultados estão de acordo com outros trabalhos que tem mostrado concentrações de N sempre mais elevada nas espécies nodulíferas (HOGBERG, 1986).
Com relação ao teor de fósforo, em geral a concentração desse nutriente foi mais elevada nas folhas das espécies não nodulíferas, e variou entre 0,052 a 0,266, enquanto que nas espécies nodulíferas os valores situaram-se entre 0,064 a 0,197. HOGBERG (1986) também observou alta concentração de P em espécies não nodulíferas.
A figura 1 mostra que houve uma alta correlação entre os teores de N e P nas folhas das espécies não nodulíferas, sendo que o mesmo não foi observado com relação as espécies nodulíferas. HÓGBERG &ALEXANDER (1995) observaram uma alta correlação entre o teor de N e P em espécies não, nodulíferas pertencentes a subfamilia Caesalpinioideae e ausência de correlação nas espécies nodulíferas.
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Tabela 1-Teor de nutrientes nas folhas das leguminosas estudadas.
Leguminosas N P K Ca Mg S Cu Fe Mn Zn ~ - --
-
- -
- - -
-- - % --- ------ pprn ---- --Albiria lebbeck 3,44 0,13 1,4 1,96 0,22 0,18 5 125 10 18 9 9 Caesalpinia ferrea 2,88 0,14 0,90 1,21 0,15 0,20 6 64· 25 27 2 6 5 Cassia grandis 1,83 0,11 0,57 1,74 0,15 0,23 5 326 14 27 6 9 1 Cassia leiandra 2,21 0,08 0,49 1,87 0,14 0,32 5 240 47 22 7 5 2 Centrolobium 2.03 0,19 1,4 1,34 0,25 0,29 10 219 52 97 paraensis 7 4 Clitoria amazonum 2,24 0,10 0,57 1,7 0,21 0,24 6 194 68 63 4 9 1 Copaifera multijuga 1,97 0,09 0,48 1,11 0,15 0,12 6 93 136 91 6 1 Cynometra 1,96 0,13 0,63 1,4 0,21 0,14 10 235 23 21 bauhiniaefolia 9 5 8 Dalbergia inundata 1,83 0,07 0,45 3,54 0,14 0,13 5 280 100 48 5 8 9 Dinizia excelsa 1,39 0,05 0,34 0,63 0,09 0,13 4 200 48 17 2 5 Enterolobium 3,73 0,09 0,56 0,39 0,23 0,29 7 145 31 18 maximum 8 5 E. schonburgkii 2,19 0,10 0,42 253 0,18 0,23 14 160 66 30 1 2 Eperva bijuga 1,28 0,08 0,79 0,6 0,17 0,15 6 85 66 21 7 4 3 Hymenaea 1,28 0,06 0,38 0,74 0,15 0,09 5 82 43 34 intermedia 9 3 2 Hymenaea parvifolia 1,17 0,06 0,39 0.64 0,14 0-,096 5 46 31 28 4 2 Inga cinnamonea 2,81 0,11 0,66 0,93 0,2 0,36 11 250 83 31 1 3 3 Inga sp ingae 2,99 0,13 0,79 0,88 0,17 0,38 6 222 25 30 9 4 7 Leucaena 3,99 0,17 1,77 2,5 0,34 0,44 9 189 14 28 leucocephala 3 3 Erythrina fusca 2,31 0,07 0,69 3,3 0,3 0,15 7 406 26 21 5 1 6 Parkia pendula 1,74 0,07 0,41 0,9 0,17 0,20 5 270 15 18 5 1 3VI Jornada de Iniciação Científica do INPA • 18 a 20 de Junho de 1997 • Manaus - AM Pithecellobium 2,11 0,10 1,35 1,3 0,21 0,13 8 123 124 44 inaequale 4 4 Pithecellobium 1,9 0,06 0,45 1,02 0,15 0,43 5 134 20 23 sanguineim 3 4 8 8 Platymiscium duckey 2,16 0,13 1,21 1,5 0,39 0,23 12 104 41 29 3 Senna multijuga 3,23 0,26 1,45 2,1 0,18 0,10 5 100 20 33 ," 1 7 ".. ~ Swartzia polyphylla 2,47 0,13 0,79 0,41 0,11 0,09 8 75 50 22 4 4 5 Tachigalia 2,21 0,09 0,89 1,49 0,14 0,21 6 147 36 21 paniculata 8 6 6 Vatairea guianensis 3,01 0,26 1,77 0,53 0,26 0,19 11 54 14 24 6 4 Anadenanthera 2,57 0,14 0,90 1,76 0,26 0,20 10 175 83 35 peregrina 4 6 5
Com relação aos demais nutrientes, os teores de cálcio, magnésio e enxofre foram mais
elevados nas espécies nodulíferas, principalmente o mosquiteiro de capivara que apresentou uma
concentração bastante elevada de cálcio. Não houve muita variação no teor de potássio nas folhas
de ambos grupos de espécies.
5,0 - 5,0 -y =0,95 + 8,61x r2 =0,76 y
=
1,76+
6,80x r2=
0,14 4,0 -o
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•
não nodulíferasFigura 1 - Relação entre os teores de nitrogênio e fósforo na matéria seca das
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