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DINÂMICA ESPAÇO-TEMPORAL DA HANSENÍASE NO ESTADO DE SERGIPE (2004-2010)

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DINÂMICA ESPAÇO-TEMPORAL DA HANSENÍASE NO ESTADO DE SERGIPE (2004-2010)

RESUMO

A hanseníase ainda representa um grave problema de saúde pública no Brasil, não só devido a sua prevalência, mas também aos danos advindos das incapacidades funcionais e estigma relacionados a doença. Este trabalho objetivou descrever a dinâmica espaço-temporal desta endemia no Estado de Sergipe durante o período de 2004 a 2010. Para esta finalidade, foi realizado um estudo ecológico a partir de dados secundários provenientes do SINAN e banco de dados do IBGE. As informações coletadas foram analisadas segundo a estatística descritiva e utilizadas na construção de mapas de séries temporais para localização de áreas de risco. Ao final do estudo, observou-se uma redução dos coeficientes de detecção da hanseníase nesta unidade da federação, apesar destes indicadores permanecerem em patamares que os classificam como muito alto. Além disso, foram identificadas heterogeneidade quanto à distribuição da hanseníase na área estudada e variações das classificações dos níveis de endemicidade nos municípios sergipanos durante o período estudado.

Percebeu-se, ainda, que uma porção significativa das notificações realizadas é relativa a casos diagnosticados tardiamente, o que contribui para propagação desta endemia. Mesmo com diagnóstico tardio, a maioria dos indivíduos não apresentou incapacidades decorrentes da hanseníase, evento que pode ser consequência de subnotificação, uma vez que a avaliação destas muitas das vezes é ignorada.

PALAVRAS-CHAVE: Hanseníase; Áreas de Risco; Sergipe.

SPATIAL-TEMPORAL DYNAMIC OF LEPROSY IN SERGIPE STATE (2004-2010)

ABSTRACT

Leprosy still represents a serious public health problem in Brazil, not only because of it high prevalence, but also, of the damages coming from the functional disabilities and stigma related to this disease. This study aimed to describe the spatial and temporal dynamic of this infection in the State of Sergipe. For this goal, it was realized an ecological study based on secondary data from the Information System for Notifications Diseases (ISND) and statistic directory of IBGE. Information was collected and analyzed by descriptive statistic and used in the construction of temporal series maps to locate risk areas. At the end of this research, it was noticed a reduction of leprosy detection rates in this federal unit, despites those indicators remain in levels that classifies them as very high. Besides, it was identified heterogeneity in the distribution of leprosy in the studied area and a variation of the endemicity classification’s levels of the Sergipe’s municipalities in the studied period. It was noticed as well that a significant portion of the realized notifications is inherent in late diagnosed cases. This contributes to spread this endemic disease. Even with late diagnose, most of the individuals hasn’t disabitlies due to leprosy, this event can be consequent of underreporting since notifications of them are ignored.

KEYWORDS: Leprosy; Risk Areas; Sergipe.

setembro, 2011. 

 

ISSN 2236‐9600   

SEÇÃO: Artigos  TEMA: Epidemiologia   

DOI: 10.6008/ESS2236‐9600.2011.002.0003

     

   

Cláudia Moura de MELO 

http://lattes.cnpq.br/0905716723973397   claudia_moura@unit.br  

 

José Aislan Correia SANTOS 

http://lattes.cnpq.br/8192349293453138  joseaislan@hotmail.com  

 

Laura Angélica Gomes SANTOS 

laura@hotmail.com  

             

Recebido: 08/09/2010  Aprovado: 30/09/2011 

 

             

Referenciar assim: 

 

MELO, C. M.; SANTOS, J. A. C.; SANTOS, L. 

A. G.. Dinâmica espaço‐temporal da  hanseníase no estado de Sergipe (2004‐

2010). Scire Salutis, Aquidabã, v.1, n.2,  p.23‐34, 2011. 

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INTRODUÇÃO

A hanseníase ainda representa um grave problema de saúde pública no Brasil. Além de ser uma infecção com agravantes inerentes às doenças de origem socioeconômica e cultural, é também marcada pela repercussão psicológica gerada pelas deformidades e incapacidades físicas, decorrentes do processo de adoecimento. São essas deformidades e incapacidades físicas, uma das causas do estigma e do isolamento do indivíduo na sociedade (BRASIL, 2008).

Sabe-se que a hanseníase é uma doença que tem como agente etiológico o Mycobacterium leprae, a única bactéria capaz de infectar nervos periféricos (BARRETO;

SALGADO, 2010). Este microrganismo foi descoberto e descrito pela primeira vez por Gerhard H.A. Hansen em 1873 na Noruega (ARAUJO, 2003).

Segundo Amaral e Lana (2008), esta moléstia é uma doença infecto-contagiosa, de evolução lenta, que se manifesta principalmente através de sinais e sintomas dermatoneurológicos. Nos estágios iniciais, desencadeia alterações da sensibilidade térmica, hiperestesia, seguida de hipoestesia e, após algum tempo, anestesia (LIMA; PRATA; MOREIRA, 2008). Por ser uma doença de evolução crônica, quando identificada tardiamente, pode gerar uma série de desordens graves aos portadores, tais como, incapacidades funcionais das mãos, pés e olhos, decorrentes do marcante comprometimento dos nervos periféricos (LIMA et al., 2010).

A lesão nervosa ocasionada pelo M. leprae determina alterações sensitivas e motoras que levam a instalação de graus variados de incapacidade física, e podem interferir na vida social e econômica dos pacientes, resultando no estigma e discriminação dos mesmos (GOMES; FRADE;

FOSS, 2007). Isto mostra que a problemática da hanseníase vai além dos seus altos índices de prevalência, já que engloba os impactos na vida dos pacientes, advindos deste alto poder incapacitante e do preconceito inerentes a esta doença (BRASIL, 2002; MELÃO et al., 2011).

A transmissão do M. leprae se faz pelo contagio direto, após um longo período de interação com o hospedeiro que possua uma alta carga bacilar. Este indivíduo libera os bacilos por meio da via área, que é o principal meio de eliminação e porta de entrada deste microrganismo, que penetra na mucosa respiratória (BRASIL, 2002; ARAÚJO, 2003; LIMA et al., 2010). A hanseníase apresenta um período de incubação médio de dois a sete anos. No entanto, existem referências de períodos mais curtos, de sete meses, bem como períodos mais longos, de dez anos (BRASIL, 2009)

O diagnóstico é essencialmente clínico e epidemiológico, realizado por meio da análise da história e condições de vida do paciente, do exame dermatoneurológico, para identificar lesões ou áreas cutâneas com alteração de sensibilidade e/ou comprometimento de nervos periféricos (sensitivo, motor e/ou autonômico) (BRASIL, 2009). Podendo-se utilizar a baciloscopia como exame complementar do diagnóstico e controle da doença pelo tratamento poliquimioterápico (ARAUJO, 2003; BRASIL, 2009).

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A classificação operacional da hanseníase identifica o estágio da infecção pelo número de lesões cutâneas. Os casos com até cinco lesões cutâneas são classificados como paucibacilares, representados pelas formas clínicas Tuberculóide e Indeterminada. Os casos com mais de cinco cutâneas são multibacilares. Enquadram-se neste grupo as formas Virchowiana e Dimorfa (BRASIL,2009) .O doente multibacilar é a principal fonte de infecção, pois apresenta elevada carga bacilar na derme e em mucosas, podendo eliminar bacilos no meio exterior por meio das vias aéreas (SILVA et al., 2010). As formas clínicas podem ser visualizadas na figura 1.

Figura 1: Formas clínicas da hanseníase: a) Indeterminada b) Tuberculóide c) Dimorfa d) Virchowiana.

Fonte: Araújo (2003).

Nas décadas 80 e 90, houve redução drástica da prevalência da hanseníase pela implementação da poliquimioterapia de curta duração em larga escala, ocasionando decréscimo da prevalência global e aproximando-se da meta para eliminação, proposta pela Organização Mundial da Saúde – OMS, que visa a redução das taxas para menos de 1 caso / 10000 habitantes (MARTELLI et al., 2002).

Em 2005, as taxas de hanseníase mundial foram reduzidas em aproximadamente 90%, quando comparadas com as décadas anteriores, observando-se uma queda de 37,8% da incidência da doença no Brasil, entre 1998 a 2003 (OPROMOLLA; DALBEN; CARDIM, 2005).

Ainda assim, no início do ano 2006 o Brasil ainda era considerado o 2º país em número absoluto de casos, apresentando uma taxa de prevalência de 1,5 casos/10.000 habitantes, ficando atrás da Índia. No ano anterior tinha apresentado uma taxa de detecção de 2,06 casos/10.000 habitantes, ocupando o 3º lugar de casos novos detectados (WHO, 2005). As estimativas da OMS divulgam que em 2009, foram detectados 37.610 casos novos em território brasileiro, valor acima da meta de eliminação (WHO, 2010).

A epidemiologia da hanseníase no Estado de Sergipe apresenta-se, atualmente, com diversas lacunas a serem esclarecidas, principalmente com relação a informações sobre períodos recentes. Neste sentido, o presente estudo objetivou a descrição da dinâmica espaço-temporal e a caracterização do perfil epidemiológico desta infecção no Estado de Sergipe no período de 2004- 2010, de modo a contribuir com informações epidemiológicas que permitam o direcionamento de ações públicas de saúde.

a

b

c d

(4)

 

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo epidemiológico exploratório do tipo de ecológico, a partir de informações coletadas na base dados do Sistema Nacional de Agravos Notificáveis (SINAN), além de informações sócio-demográficas e bases cartográficas fornecidas pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), disponibilizadas em seus sites oficiais.

Na coleta de dados, foram incluídas as informações referentes às notificações de casos humanos de hanseníase, ocorridas no Estado de Sergipe no período de 2004 a 2010. Foram excluídas as notificações de casos de infecção hanseniana de pacientes com endereço residencial em outras unidades da federação.

Os dados coletados foram tabulados e analisados segundo a estatística descritiva em planilha eletrônica do software Microsoft Office Excel© versão 2007. E, após esta etapa, os resultados obtidos foram utilizados para a construção de gráficos de séries temporais e representações cartográficas, utilizando o software Tab Win® versão 3.0.

As variáveis estudadas englobaram dados sociodemográficos, tais como o município e zona de residência, o ano da notificação do agravo, o sexo, a faixa etária e a escolaridade dos portadores de hanseníase. Além de dados clinico-epidemiológicos inerentes a esta enfermidade, como a classificação operacional, a forma clínica, os motivos para interrupção do tratamento e o grau das incapacidades identificadas no momento da notificação e alta.

O presente estudo não requereu a submissão à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa, uma vez que se utilizou de informações de domínio público. Entretanto, para minimizar o efeito da ocorrência de riscos do tipo I, relacionados à interpretação equivocadas de informações, os dados coletados foram sempre analisados por dois pesquisadores.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao se analisar os dados espaciais, faz-se necessário considerar que a distribuição da população de um Estado entre os municípios se dá de forma desigual. Existindo, dessa forma, territórios com populações pequenas. A análise de indicadores em áreas com esta característica requer uma atenção especial, já que estes apresentarão denominadores pequenos. Como consequência disto, o estimador destes coeficientes ficará instável e flutuará desordenadamente, sendo este fenômeno conhecido como flutuações aleatórias dos indicadores (BRASIL, 2007).

Sendo assim, é possível que algumas das unidades geográficas classificadas neste estudo como áreas hiperendêmicas apresentem coeficientes elevados devido a sua pequena população.

O que torna sensato que se investigue, em estudos posteriores, a ocorrência das classificações obtidas, e que não se tome as informações relatadas de maneira isolada para avaliar as condições de saúde das populações analisadas.

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Para efeito da análise do grau de endemicidade da hanseníase nos diferentes municípios, foi empregado o critério de classificação recomendado por Brasil (2010), que se utiliza de coeficientes de detecção anual para uma população de 100.000 habitantes. Nesta escala, os valores concebidos como baixos são aqueles menores de 2,00, os médios variam de 2,00 a 9,99, os altos vão de 10,00 a 19,99, os classificados como muito altos faz variações de 20,00 a 39,99.

Áreas com valores a partir de 40,00 são consideradas como hiperendêmicas.

Tradicionalmente, as regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste brasileiras são consideradas como áreas de altas prevalências da hanseníase (BRASIL, 2009). No entanto, é importante que se saiba que esta infecção não apresenta uma distribuição homogênea. Em países endêmicos se observam diferenças na sua prevalência entre regiões, estados, microrregiões, municípios e, no caso de grandes cidades, entre espaços intra-urbanos, concentrando-se nos locais de maior pobreza (AMARAL; LANA, 2008). Sabe-se que as condições sócio-econômicas e culturais têm grande influência na distribuição e propagação da endemia hanseniana, apresentando uma estreita relação com as condições precárias de habitação, baixa escolaridade e ainda, com movimentos migratórios que facilitam a difusão do organismo patogênico (LANA et al., 2007).

No Estado de Sergipe, foi possível observar a heterogeneidade da endemia. Os resultados obtidos mostraram que no ano de 2004, dos 75 municípios, 25% apresentaram coeficientes baixos, 15% tiveram valores classificados como médio, 15% como alto, 20% como muito alto e 25% como hiperendêmico (Figura 2).

No ano de 2007, 27% dos municípios obtiveram baixos coeficientes, 12% apresentaram indicadores classificados como médios, 12% como altos, 28% como muito alto e 21% foram considerados hiperendêmicos. Em 2010, 31% dos municípios sergipanos apresentaram baixos coeficientes, 19% exibiram valores médios, 16% valores altos, 23% muito altos e 12% foram classificados hiperendêmicos.

Figura 2: Distribuição espacial dos coeficientes de detecção anual da hanseníase (x100000) no Estado de Sergipe, nos anos de 2004, 2007 e 2010.

2004 2007 2010

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Quando se compara as representações cartográficas presentes na Figura 2, observa-se o clareamento das imagens no decorrer do tempo. Uma vez que as áreas com maiores coeficientes estão representadas por cores escuras, este fato indica uma redução dos níveis de endemicidade da hanseníase.

No período estudado foram registradas 4198 notificações de casos humanos de hanseníase, apresentando variações temporais com tendência descendente neste intervalo, como pode ser observado na Figura 3.

  Figura 3: Coeficientes de detecção anual da hanseníase (x100000) no Estado de Sergipe, 2004-2010.

A análise dos coeficientes anuais de detecção da hanseníase permite perceber que os valores que dizem respeito ao período estudado permanecem em patamares que os identificam como muito alto. Contudo, no ano de 2010, este indicador apresentou diminuição de 37,1% do valor do coeficiente relativo ao ano de 2004. Esta redução do número de casos notificados, contraria Santos et al. (2007) que afirma uma tendência na elevação das taxas de detecção nos Estados nordestinos, principalmente nos Estados do Maranhão, Piauí, Sergipe e Ceará.

Quando se analisa o coeficiente de detecção da hanseníase e sua tendência, em indivíduos menores de 15 anos de idade, observa-se que o território sergipano mais uma vez apresentou valores muito altos, exibindo, desta vez, uma redução, no ano de 2010, de 27,7% do valor do coeficiente de 2004 (Figura 4). Este indicador é submetido a parâmetros de classificação diferentes daqueles utilizados na população em geral e tem a função de medir a força da transmissão recente da endemia (BRASIL, 2010).

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Série1 33,21 37,66 31,29 31,87 26,51 29,16 20,89

0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00

Coeficiente de detecção

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Série1 7,71 9,43 6,58 8,32 7,91 4,54 5,57

0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00

Coeficientede detecção

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Figura 4: Coeficiente de detecção anual da hanseníase em indivíduos menores de 15 anos (x100000) no Estado de Sergipe, 2004-2010.

A hanseníase é considerada uma doença de adultos devido ao longo período de incubação, no entanto, crianças também são suscetíveis a esta enfermidade (IMBIRIBA et al., 2008). Em condições de alta transmissibilidade e exposição precoce ao bacilo, o risco de adoecimento aumenta, e desse modo a faixa etária é tomada como a referência de maior gravidade da endemia (LANA et al., 2007).

Durante o período de 2004 a 2010, o percentual de casos de infecção humana pelo M.

leprae no gênero masculino (49,81%) foi menor que no feminino (50,19%). Todavia, o coeficiente de prevalência foi maior entre os homens (20,81 x 10.000) do que nas mulheres (19,82 x 10.000).

A literatura indica maior incidência no gênero masculino devido a uma maior exposição ao bacilo (IMBIRIBA et al. 2008; LIMA et al., 2010). No entanto LANA et al. (2000) identificaram resultados contrários, justificando-o como uma consequência da maior mobilidade social das mulheres, principalmente, devido sua progressiva inserção no mercado de trabalho nos últimos anos.

No que se refere a faixa etária, houve maior concentração de casos entre indivíduos que faziam parte da população economicamente ativa, com idade de 20 a 39 anos, correspondendo a 38,02% das notificações no período estudado. Em menores de 15 anos, houve maior percentual entre jovens de 10 a 14 anos (4,65%), o que condiz com longo período de incubação da doença (Figura 5).

Figura 5: Percentual de casos de hanseníase notificados segundo faixa etária, Sergipe (2004-2010).

Quanto ao nível educacional, os casos de infecção hanseniana foram mais frequentes entre indivíduos que possuíam escolaridade compreendida entre o 6º e 9º ano incompleto do ensino fundamental (21,02%) (Figura 6). Miranzi, Pereira e Nunes (2010) mostraram em sua pesquisa que 34% dos casos avaliados haviam estudado no máximo até o sétimo ano do ensino fundamental.

0,07 0,29 2,41 4,65 6,65

38,02 31,52

5,00 4,34 5,19

1,88

<1 Ano 1-4 5-9 10-14 15-19 20-39 40-59 60-64 65-69 70-79 80 e +

Casos notificados (%)

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Figura 6: Percentual de casos hanseníase notificados no Estado de Sergipe (2004-2010) segundo a escolaridade.

Em relação à zona de residência, os indivíduos infectados moram, em sua maioria, na região urbana, correspondendo a 75,3% dos casos notificados. Os que vivem na zona rural representaram 13,55%, os residentes na região peri-urbana apresentaram a menor porcentagem (0,98%). As demais notificações (10,1%) tiveram a informação ignorada. No estudo realizado no extremo Sul de Santa Catarina por Melão et al. (2011), foi identificado que 81,5% dos casos pertenceram à zona urbana e 11,1% à zona rural, observada a ocorrência de um caso na região peri-urbana e 5,6% tiveram a informação ignorada. Na população de Uberaba/MG estudada por Miranzi, Pereira e Nunes (2010), 82,8% dos casos residiam na zona urbana, 1,3% moravam na zona rural e 15,8% tiveram a informação ignorada.

No que tange à classificação operacional, os indivíduos que no momento da notificação foram identificados como multibacilares representaram 47,09% dos casos (Tabela 1). Este fato indica que uma parte significativa da população tem apresentado diagnóstico tardio, que contribui para a continuidade da cadeia de transmissão, uma vez que os casos multibacilares são considerados como capazes de transmitir a infecção (SILVA et al., 2010). A partir disto, presume- se que esta prevalência na população é resultado de medidas de controle pouco eficazes, já que demostra uma situação em que a endemia está abandonada às suas tendências naturais, e o grande número de focos transmissores mantém a geração de novos doentes (OLIVEIRA et al., 1996).

Tabela 1: Classificação operacional da hanseníase no momento da notificação no Estado de Sergipe (2004- 2010).

Classificação operacional n fr(%)

Paucibacilar 2218 52,83

Multibacilar 1977 47,09

Ignorado/branco 3 0,07

Total 4198 100

A estratégia adotada para o controle desta doença no Brasil é baseada na detecção precoce de casos e o tratamento destes por poliquimioterapia (AMARAL; LANA, 2008). A

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classificação operacional direciona os esquemas terapêuticos utilizados no tratamento da hanseníase, que é essencialmente ambulatorial. Os indivíduos paucibacilares são tratados com rifampicina e dapsona por um período de seis meses. E no tratamento de pacientes multibacilares é acrescentada a clofazimina à terapia anterior, estendendo-o para um ano de duração (BRASIL, 2010).

A forma clínica Tuberculóide representou a maior porção dos casos notificados (24,99%), seguida da indeterminada (24,30%), ambas situadas no grupo operacional paucibacilar (Tabela 2).

Em um estudo realizado no centro de referência para o tratamento de hanseníase do Estado do Maranhão, Lima et al (2010) identificaram, a forma clínica Dimorfa como a de maior número de casos (58,46%), seguida da Virchowiana (19,6%).

Tabela 2: Distribuição dos casos de hanseníase segundo as classificações da forma clínica no momento da notificação no Estado de Sergipe (2004-2010).

Forma clínica n fr(%)

Indeterminada 1020 24,30

Tuberculóide 1049 24,99

Dimorfa 830 19,77

Virchowiana 834 19,87

Não Classificada 248 5,91

Ignorada 217 5,17

Total 4198 100

A classificação dos pacientes quanto ao número de lesões cutâneas decorrentes da infecção revelou um dado contraditório, já que demonstrou que 85,9% dos casos notificados apresentaram um valor acima de cinco lesões. Este dado sugere que este é o percentual que representa a porção de casos multibacilares. No entanto, a base de dados do SINAN, a mesma fonte utilizada para essa variável, revela que apenas 47,09% dos casos notificados foram classificados desta forma.

Outra variável observada foi a avaliação do grau de incapacidade dos pacientes em função da doença. Esta é uma tarefa imprescindível no momento do diagnóstico da hanseníase e alta do tratamento por cura, obedecendo a critérios estabelecidos pela OMS. Brasil (2010) descreve esta escala de classificação, composta por três níveis: O grau 0 reúne pacientes sem qualquer problemas nos olhos, mãos e pés devido a hanseníase. O grau 1 engloba os portadores da infecção com diminuição ou perda de sensibilidade nos olhos, mãos e pés. Os pacientes classificados no último dos níveis, o grau 2, são aqueles que apresentam alterações oculares de maior gravidade, lesões tróficas e/ou traumáticas nos pés e mãos.

A estratégia global priorizada pela OMS para o período de 2011 a 2015 visa à redução do número de pacientes com grau 2 de incapacidade de hanseníase e para tal indica que este objetivo guie programas nacionais na garantia do diagnóstico precoce de modo a prevenir a progressão para deformidades e incapacidades (WHO, 2010).

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Em Sergipe, a análise da distribuição dos graus de incapacidade, identificados no instante da notificação, revelou um aspecto positivo, uma vez que expressou que a maior parte dos casos (59,39%) foram classificados como grau 0, mesmo com o alto percentual de diagnóstico tardio (Tabela 3). Lima et al. (2010) explicam este fenômeno como uma possível consequência de uma melhora da assistência à saúde, com diagnósticos mais precoces, busca ativa de casos e melhor oferta de atendimento, po¬dendo, porém, ser resultado de subnotificação.

A ausência de incapacidades representou o maior percentual durante avaliação no momento da cura, correspondendo a 42,19%. Todavia, o mesmo evento de subnotificação dos graus de incapacidade no momento da notificação é observado na alta. Na primeira situação os casos não avaliados e os que tiveram a informação ignorada totalizaram 17,39% das notificações (Tabela 3). Na segunda, a porcentagem é ainda maior (50,38%), o que põe em questão a real prevalência dos graus de incapacidades notificados.

Tabela 3: Distribuição dos casos de hanseníase segundo os graus de incapacidade avaliados no momento da notificação e na alta por cura, no Estado de Sergipe (2004-2010).

Grau de incapacidade Notificação Alta

n fr (%) n fr (%)

0 2493 59,39 1771 42,19

1 731 17,41 218 5,19

2 244 5,81 94 2,24

Não avaliado 659 15,7 1013 24,13

Ignorado 71 1,69 1102 26,25

Total 4198 100 4198 100

O principal motivo para a interrupção do tratamento no Estado de Sergipe foi a cura (76,56%). O óbito representou 1,17% e a porcentagem de abandono 2,43% (Tabela 4). Lima et al.

(2010) encontraram uma porcentagem de cura igual a 68% e o óbito representou a minoria dos casos.

Tabela 4: Distribuição da evolução do tratamento para hanseníase no Estado de Sergipe (2004-2010).

Interrupção do tratamento n Fr (%)

Cura 3214 76,56

Transf. para o mesmo município 19 0,45 Transf. para o outro município 129 3,07 Transferência para outro estado 27 0,69

Transf. para outro país 7 0,17

Óbito 49 1,17

Abandono 102 2,43

Transferência não especificada 149 3,55

Não preenchido 502 11,96

Total 4198 100

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CONCLUSÕES

No presente estudo foi identificado que os coeficientes de detecção anual da hanseníase na população geral e em menores de 15 anos apresentaram redução durante o intervalo estudado no Estado de Sergipe.

Foi observado, também, que a prevalência da infecção foi maior entre os homens, apesar do maior número de notificações de indivíduos do sexo feminino. E que os casos notificados concentraram-se em indivíduos com idade entre 20 e 39, com nível de escolaridade entre o 6º e 9º ano incompleto do ensino fundamental e que residem na zona urbana.

A classificação operacional identificada no momento da notificação foi maior nos casos paucibacilares, no entanto os multibacilares ainda representam uma parcela significativa da população. A forma clínica tuberculóide representou a maior porção dos casos notificados, seguida da indeterminada. A avaliação da incapacidade no momento notificação foi maior entre aqueles que apresentaram grau 0. Todavia os casos que não foram avaliados ou que tiveram avaliação ignorada no momento da alta representou a metade das notificações. A principal evolução do tratamento foi a cura, o óbito representou 1,17% e a porcentagem de abandono 2,43%.

Observou-se, ainda, a ocorrência de heterogeneidade na distribuição espacial da endemia entre os municípios sergipanos, além da variação das classificações destes ao longo do intervalo estudado. Dessa maneira, foi perceptível que apesar da melhoria do quadro epidemiológico, apontada pela redução dos coeficientes de detecção, existe a necessidade da realização de atividades destinadas ao controle desta infecção, por meio do diagnóstico precoce e tratamento dos indivíduos infectados, concentradas em áreas de maior gravidade da endemia de modo a quebrar a cadeia de transmissão da doença. Para tanto, faz-se necessário o uso de informações que reflitam com maior fidedignidade a realidade epidemiológica desta doença, obtidas por meio de investigação e registro da ocorrência desta endemia, de modo a eliminar o percentual de subnotificações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, E. P.; LANA, F. C. F.. Análise espacial da Hanseníase na microrregião de Almenara, MG, Brasil.

Rev. Bras. Enferm., Brasília, v.61, n. spec., 2008.

ARAUJO, M. G.. Hanseníase no Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., v.36, n.3, p.373-382, 2003.

BARRETO, J. G.; SALGADO, C. G.. Clinic-epidemiological evaluation of ulcers in patients with leprosy sequelae and the effect of low level laser therapy on wound healing: a randomized clinical trial. BMC Infections diseases, v.10, n.237, p.2-9, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 7 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2009.

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Referências

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