Universidade Federal de Pelotas Disciplina de Microeconomia 1 Professor Rodrigo Nobre Fernandez
Lista 2 - Soluções
1) Derive as agregações de Engel e Cournot para o caso den bens. Reescreva essas agregações em termos de elasticidades.Interprete (por exemplo, é possível que todos os bens que um indivíduo consuma sejam bens inferiores? Por quê? Se um indivíduo consome n bens, no máximo quantos bens podem ser inferiores?
S: Derivando a relação de “adding-up”,
p1x1(p, m) +p2x2(p, m) +...+pnxn(p, m) =m com relação à renda, obtermos a agregação de Engel:
p1∂x1(p, m)
∂m +p2∂x2(p, m)
∂m +...+pn∂xn(p, m)
∂m = 1
Multiplicando cada termo do lado esquerdo da equação por xxim
im e rearranjando os termos obtemos:
p1x1 m
m x1
∂x1(p, m)
∂m
+p2x2 m
m x2
∂x2(p, m)
∂m
+...+pnxn m
m xn
∂xn(p, m)
∂m
= 1 Logo a agregação de Engel escrita em termos de elasticidades:
s1η1+s2η2+...+snηn= 1
ondesi=pmixi é a fração da renda gasta com o bemi eηi é a elasticidade renda do bemi.
Podemos concluir que:
1. Todas as elasticidades renda podem ser iguais a um. Nesse caso, um aumento da renda a um aumento na mesma proporção do consumo de todos os bens.
2. Seηi>1 para algum bemi, então deve existir algum bemjdiferente do bemital queηj<1: se a fração da renda consumida do bemiaumentou mais proporcionalmente à renda, o consumo de algum outro bem j terá que aumentar menos que proporcionalmente à renda.
3. No máximo n-1 bens podem ser inferiores. Se todos os bens são inferiores, então a elasticidade renda será negativa para todo bem i. Como si≥0 , então se todas as elasticidades renda forem negativas, a igualdade acima não será verificada.
Se derivarmos a relação de “adding-up” em relação ao preço do bem i, obtemos a agregação deCournot:
xi(p, m) +
n
X
j=1
pj∂xj(p, m)
∂m = 0
Multiplicando a expressão por pmi, obtemos a agregação de Cournot em termos de elasticidades:
pixi(p, m)
m +
n
X
j=1
pjpi m
∂xj(p, m)
∂m = 0
Reescrevendo a expressão acima (multiplique o somatório por xxj
j):
pixi(p, m)
m +
n
Xxjpj m
pi xj
∂xj(p, m)
∂m = 0
Em termos de elasticidades:
si+
n
X
j=1
sjεMji = 0 Rearranjando os termos da última equação, obtemos:
si
1 +εMji
=−
n
X
j=1,j6=1
sjεMji (1)
Se o bem i é elástico (inelástico), então εMii <−1, e o lado esquerdo de (1) é negativo (positivo). O lado direito de (1) deve ser negativo (positivo) também, ou seja, a soma ponderada das elasticidades preço cruzadas dos outros bens com relação ao bemi deve ser na média positiva (negativa). Portanto, se a demanda do bem i é elástica (inelástica), então os outros bens devem ser , na média ponderada pela fração gasta em cada bem, substitutos (complementares) do bemi,independente de como esse bens afetem a função de utilidade.
Outra implicação que pode ser extraída de (1) é a reação dos gastos nos outros bens devido a uma mudança no preço do bemi: essa reação depende da elasticidade preço dei. Se a demandai é elástica, então quando o preço do bemi diminui, o gasto com os outros bens diminui também.
2) Suponha a existência de n bens. Usando a propriedade de homogeneidade das funções de demanda Marshalliana, mostre que as elasticidades preço e renda para um dado bemi satisfazem a seguinte igualdade:
ηi+Pn
j=1ij= 0
onde ηi é a elasticidade renda do bem i e ijé a elasticidade preço da demanda do bem i com relação ao preço do bem j. Interprete intuitivamente a relação acima.
S: A função de demanda Marshalliana é homogênea de grau zero nos preços e na renda. Logo, para cada bemi=1,...,n temos:
xi(tp, tm) =xi(p, m),∀t >0 Derivando essa expressão em elação at, obtemos:
∂xi(tp, tm)
∂m m+
n
X
j=1
∂xi(p, m)
∂pj pj= 0 (2)
para todot>0. Dividindo a igualdade acima porxi(tp, tm), fazendo, t=1 e reescrevendo (2) em termos de elasticidades obtemos a expressão desejada:
ηi+Pn
j=1ij= 0 válida para todo i=1,...n.
3) Suponha que a elasticidade renda da demanda per capita de cerveja é constante e igual a 0.75 e a elasticidade preço é também constante e igual 0.5. Os consumidores gastam em média, R$ 400,00 por ano com cerveja. A renda média anual destes consumidores é de R$ 6.000,00.
Cada garrafa de cerveja custa R$ 3,00.
a) Se o governo pretende desestimular o consumo de cerveja em 50%, qual deve ser o aumento no preço para que essa meta seja alcançada?
S: A elasticidade preço constante igual -0.5 significa que um aumento em 10% no preço leva a uma redução na quantidade demandada de 5%. Logo, um aumento no preço em 100% levaria à redução almejada pelo governo de 50% na quantidade consumida de cerveja. Cada garrafa de cerveja passaria então a custa R$ 6,00.
b) Suponha que o governo estimou um aumento de R$ 3.000,00 na renda média. O governo deseja manter o nível de consumo de cerveja constante no próximo ano, usando um imposto sobre a cerveja. Qual deve ser o aumento no preço da cerveja no próximo ano para que seu consumo não se modifique, dado que a previsão do aumento da renda se realize?
Como a elasticidade renda da demanda de cerveja é constante igual a 0.75 e um aumento na renda de R$
3.000,00 sobre uma renda de R$ 6.000,00 corresponde a um aumento de 50% na renda, o aumento no consumo de cerveja é de 0.75x0.5=35.50%. Pelo mesmo motivo explicado no item a, o aumento no preço da cerveja necessário para anular o efeito do aumento de renda é de 2x37.50% = 75%. Cada garrafa de cerveja passaria a custar R$ 5,25.
4) Encontre as demandas Hicksianas e a função despesa para os seguintes casos : a) u(x1, x2) =xα1x1−α2 ,0< α <1
b) Quais são os parâmetros do problema?
S:
L=p1x1+p2x2+µ
u−xα1x1−α2
As CPOs do problema são:
µαxα−11 x1−α2 =p1 (3)
µ(1−α)xα1x−α2 =p2 (4)
u=xα1x1−α2 (5)
Divida (3) por (4) para obter:
x2= 1−α
α
p1 p2
x1 (6)
Insira (6) em (5) e obtenha:
xh1 = ¯u α
1−α
1−αp2 p1
1−α
(7) Substituindo (7) em (6):
xh2 = ¯u α
1−α
−αp1 p2
α
(8) Inserindo as demandas compensadas na restrição orçamentária, temos a função dispêndio:
e(p1, p2,u) = ¯¯ uα−α(1−α)α−1pα1p1−α2 (9) b) u(x1, x2) =ax1+bx2 a, b >0
S: Neste caso, não podemos montar o Lagrangiano para resolver o problema, pois a solução será de canto.
Porém, podemos resolver o sistema usando a intuição econômica. Intuitivamente, o consumidor irá adquirir apenas o bem relativamente mais barato, na quantidade que lhe assegure o nível de utilidade ¯u. Deste modo, as demandas Hicksianas são:
xh1(p1, p2,u) =¯
¯
u, se pa1 <pb2 qualquer valor entre 0 e ¯u, se pa1 =pb2 0, se pa1 >pb2
xh2(p1, p2,u) =¯
¯
u, se pa1 >pb2 qualquer valor entre 0 e ¯u, se pa1 =pb2 0, se pa1 <pb2 A função de dispêndio é dada por:
e(p1, p2,u) = ¯¯ uminnp1 a,p2
b o
c) u(x1, x2) = axρ1+bxρ21/ρ
a, b >0 e 0< ρ <1
S: Primeiramente usaremosa=b=1, e então formulamos o Lagrangiano:
L=p1x1+p2x2+µ
u¯− xρ1+xρ2ρ1
As CPOs são:
p1=λ
xρ1+xρ21−ρρ xρ−11
(10)
p2=λ
xρ1+xρ2ρ1−1
xρ−12
(11)
¯
u= xρ1+xρ21ρ
(12) Portanto:
¯
uρ= xρ1+xρ2 Dividindo (10) por (11) teremos:
x1 p1
p2 ρ−11
=x2 (13)
Substituindo (13) em (12) teremos:
x1= ¯u
p
ρ ρ−1
1
p
ρ ρ−1
2 +p
ρ ρ−1
1
1 ρ
(14)
Inserindo (14) em (13) teremos:
x2= ¯u
p
ρ ρ−1
2
p
ρ ρ−1
2 +p
ρ ρ−1
1
1 ρ
(15)
Podemos inserir (14) e (15) na função objetivo para obtermos a função de custos mínimos:
p1u¯
p
ρ ρ−1
1
p
ρ ρ−1
2 +p
ρ ρ−1
1
1 ρ
+p2u¯
p
ρ ρ−1
2
p
ρ ρ−1
2 +p
ρ ρ−1
1
1 ρ
¯ u
p
ρ ρ−1
2 +p
ρ ρ−1
1
1ρ
p1p
1 ρ−1
1 +p2p
1 ρ−1
2
¯ u
p
ρ ρ−1
2 +p
ρ ρ−1
1
ρ1
p
ρ ρ−1
1 +p
ρ ρ−1
2
¯ u
p
ρ ρ−1
2 +p
ρ ρ−1
1
p−1ρ
Denote ρ−1ρ =r, então ρ−1ρ =1r e−ρ−11 = 1−r e com um pouco de álgebra tediosa teremos:
e(p1, p2,u) = ¯¯ u(pr2+pr1)1r d) u(x1, x2) =min{ax1, bx2}a, b >0
S: Este é outro caso onde não podemos usar o método de Lagrange, pois a função de utilidade não é diferenciável. Devemos, mais uma vez, resolver o problema usando a intuição econômica. Como os bens são complementares perfeitos temos que: ax1=bx2. Então teremos quexh1(p1, p2,u) =¯ ua¯ exh2(p1, p2,u) =¯ ¯ub. Desse modo, a função dispêndio é:
e(p1, p2,u) = ¯¯ up2 b +p1
a
5) Resolva os seguintes itens para as seguintes funções de utilidade do exercício 5: a,b e c.
a) Verifique se as demandas Hicksianas são homogêneas de grau 0 nos preços.
S: Vamos mostrar para o bem 1, para o outro bem é similar:
(Cobb-Douglas)
xh1(tp1, tp2,u) = ¯¯ u α
1−α
1−αtp2 tp1
1−α
=xh1(p1, p2,u)¯ (Linear)
xh1(tp1, tp2,u) =¯
¯
u, se tpa1 <tpb2 qualquer valor entre 0 e ¯u, se tpa1 =tpb2 0, se tpa1 >tpb2
=xh1(p1, p2,u)¯
(CES)
xh1(tp1, tp2,u) = ¯¯ u
"
(tp1)
ρ ρ−1
(tp2)
ρ
ρ−1+ (tp1)
ρ ρ−1
#1ρ
= ¯u
t
ρ ρ−1p
ρ ρ−1
1
t
ρ ρ−1
p
ρ ρ−1
2 +p
ρ ρ−1
1
1 ρ
=xh1(p1, p2,u)¯
b) Mostre a validade do lema de Shephard.
S: Vamos mostrar para o bem 1, para o outro bem é similar:
(Cobb-Douglas)
e(p1, p2,u) = ¯¯ uα−α(1−α)α−1pα1p1−α2
∂e(p1, p2,u)¯
∂p1 = ¯uα1−α(1−α)α−1pα−11 p1−α2 = ¯u α
1−α
1−αp2 p1
1−α
=xh1(p1, p2,u)¯ (Linear) Nesse caso a função não é diferenciável.
(CES)
e(p1, p2,u) = ¯¯ u(pr2+pr1)1r
∂e(p1, p2,u)¯
∂p = ¯u(pr2+pr1)1r−1pr−11 =xh1(p1, p2,u)¯
c) Mostre que a demanda Hicksiana obedece a Lei da Demanda.
S: Faremos apenas para a função Cobb-Douglas e para a CES:
∂e(p1, p2,u)¯
∂p1 = ¯uα1−α(1−α)α−1pα−11 p1−α2 = ¯u α
1−α
1−αp2 p1
1−α
=xh1(p1, p2,u)¯
∂xh1(p1, p2,u)¯
∂p1 = ¯u(1−α) α
1−α
1−αp2 p1
1−α 1 p1 <0 (CES)
∂e(p1, p2,u)¯
∂p1 = ¯u(pr2+pr1)1r−1pr−11 =xh1(p1, p2,u)¯
∂xh1(p1, p2,u)¯
∂p1 = ¯u 1−r
r
(pr2+pr1)1r−2rp2(r−1)1 + ¯u(r−1) (pr2+pr1)1r−1pr−21
∂xh1(p1, p2,u)¯
∂p1 = ¯u(r−1) (pr2+pr1)1r−1
−1 r
(pr2+pr1)−1rp2(r−1)1 +pr−21
<0
6) Cicero possui a seguinte função de utilidade u(x1, x2) =x1x2 e uma renda de R$ 24,00.
Inicialmente o preço do bem 1 custa R$ 1,00 e o preço do bem 2 R$ 2,00. Suponha que o preço do bem 2 aumentou 50%. Calcule os efeitos renda, substituição e total.
S: Primeiramente devemos construir o Lagrangiano para encontrar as demandas:
L=x1x2+λ[m−p1x1−p2x2] As CPOS são:
Lx1=x2=λp1 (16)
Lx2=x1=λp2 (17)
Lλ=m=p1x1+p2x2 (18)
Dividindo (16) por (17) e isolando x2 teremos que:
x∗2=x1 p1
p2
(19) Substituindo (19) em (18) encontramos que:
x∗1= m
2p1 (20)
Inserindo (20) em (19) temos que:
x∗2= m
2p2 (21)
Para os valores dados, sabemos quex∗1(p1, p2, m) = 12 ex∗2(p1, p2, m) = 6. A demanda do bem dois ao preço novo é: xN2 (1,3,24) = 4. Aos novos preços, o quanto de renda seria necessário para que o indivíduo consiga atingir a mesma curva de indiferença, antes da variação dos preços? A conta é bem simples:
m= (1×12) + (3×6)
m= 30
Calculamos a demanda do bem 2 usando essa renda virtual, isto é: xh2(1,3,30) = 5. O efeito substituição é a diferença entre a demanda compensada (com a renda virtual) e a demanda antes da variação dos preços:
ES=xh2(1,3,30)−x∗2(1,1,24) = 5−6 =−1. Por outro lado, o efeito renda é a diferença entre a nova demanda e a demanda compensada, ou seja: ER=xN2 (1,3,24)−xh2(1,3,30) = 4−5 =−1. O efeito total é a soma dos dois anteriores: ET=ER+ES=-2.
7) A função de demanda de Douglas Cornfield pelo bem x é x(px, py, m) = 2m/5px. Sua renda é de R$ 1.000,00 e o preço dex é R$ 5,00 e o dey é R$ 20,00. Se o preço dex cai para R$ 4,00, pede-se:
a) Calcule a mudança na demanda pelo bemx.
S: Primeiramente calcularemos a demanda dex antes e depois da mudança dos preços:
xantes(5,20,1000) = 80
xdepois(4,20,1000) = 100
Então teremos que:
4x=xdepois−xantes= 20
b) Calcule o efeito renda e o substituição.
S: Vamos usar a restrição orçamentária do consumidor para obtermos a demanda do bemy:
m=pxx+pyy
m=px2m 5px+pyy y=3m
5py
Calcularemos a demanda virtual, isto é, quanto de renda o consumidor precisa a este novo preço de x para se manter na mesma curva de indiferença. Novamente usamos a restrição orçamentária do consumidor:
m= (80×4) + (30×20)
m= 920 Agora calcularemos a demanda compensada de x:
xcompensada(4,20,920) = 92
Repetiremos o mesmo procedimento que realizamos no exercício anterior:
ES=xcompensada(4,20,920)−xantes(5,20,100) = 92−80 = 12
ER=xantes(4,20,100)−xcompensada(4,20,920) = 100−92 = 8
ET=ES+ER= 20