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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM MÚSICA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM MÚSICA

RAFAEL DA SILVA FONTE

ADAPTAÇÁO DE DOBRADOS PARA QUARTETOS DE CLARINETES: UMA ALTERNATIVA PARA A PRÁTICA DA

MÚSICA DE CÂMARA EM BANDAS DE MÚSICA

Salvador

2021

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ADAPTAÇÁO DE DOBRADOS PARA QUARTETOS DE CLARINETES:

UMA ALTERNATIVA PARA A PRÁTICA DA MÚSICA DE CÂMARA EM BANDAS DE MÚSICA

Salvador 2021

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Profissional da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial do curso de Mestrado Profissional.

Área de concentração: Criação Musical Orientador: Prof. Dr. Pedro Robatto

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Música- UFBA F682 Fonte, Rafael da Silva

Adaptação de dobrados para quartetos de clarinetes: uma alternativa para a prática da música de câmara em bandas de música / Rafael da Silva Fonte.- Salvador, 2021.

114 f. : il. Color.

Orientador: Prof. Dr. Pedro Robatto

Trabalho de Conclusão (mestrado profissional) – Universidade Federal da Bahia. Escola de Música, 2021.

1. Música de câmara. 2. Música para clarineta. 3. Dobrados (Música marcial). I. Robatto, Pedro. II. Universidade Federal da Bahia. III. Título.

CDD: 785.14 Bibliotecário: Levi Santos - CRB5:1319

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ADAPTAÇÁO DE DOBRADOS PARA QUARTETOS DE CLARINETES:

UMA ALTERNATIVA PARA A PRÁTICA DA MÚSICA DE CÂMARA EM BANDAS DE MÚSICA

A Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Profissional da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial do curso de Mestrado Profissional foi aprovada.

Salvador, 25 de novembro de 2021 Banca Examinadora

Dr. Pedro Robatto (orientador)

Dr. Joel Luís da Silva Barbosa

Dr. José Maurício Valle Brandão

Marta Maria Vidigal Barbosa de Almeida

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À minha mãe, Liliana Maria, minha maior incentivadora na música, na fé e na vida.

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Ao meu pai, Silas Fonte, pelo incentivo ao estudo. Obrigado por vender um terreno para comprar minha primeira clarineta.

Às minhas irmãs, Leilane e Dayane, por estarem sempre presentes, mesmo distantes.

À minha avó Zelair, tios e tias. Obrigado por sempre torcerem por mim.

Ao querido Professor e Orientador Pedro Robatto. Obrigado pelas conversas e orientações.

Levarei cada ensinamento para minha vida.

Ao André Favarão, pela parceria até aqui.

Ao Tiago, Handenberg e Alancaster (Palheta Sonora). Este projeto começou com vocês.

Ao Tiago Teixeira, pela amizade, lealdade e inspiração.

À Banda do 2° Batalhão de Polícia do Exército, pelos esforços para que eu me especializasse.

À Banda Sinfônica do Exército. Obrigado por me acolherem tão bem.

Ao Filipe Sales, pela parceria e ajuda nas adaptações dos dobrados.

Ao Lucas Sales pela coautoria na adaptação do dobrado Quatro dias de viagem.

Ao grupo de câmara da Banda Sinfônica do Exército (Renata Garcia, Francisco Júnior e Filipe Sales). Obrigado pelo excelente trabalho que fizeram na gravação das adaptações dos dobrados.

Ao Professor Joel Barbosa, pelas orientações, antes mesmo de ingressar no mestrado.

À coordenação, professores e alunos do programa do PPGPROM da UFBA. Obrigado por todo estímulo.

À todos que torceram para que eu chegasse até aqui.

À Deus... meu fôlego de vida.

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PPGPROM, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2021.

RESUMO

O presente trabalho busca tecer reflexões a respeito da formação de um repertório camerístico de dobrados, dentre as obras tradicionais do Exército brasileiro, adaptados para quarteto de clarinetes. Foram adaptadas as seguintes obras do compositor Antônio Manoel do Espírito Santo: Dobrado 220, Dobrado Cisne Branco, Dobrado 182, Dobrado Quatro Dias de Viagem, Dobrado Bombardeio da Bahia. Para tanto, esta pesquisa se configura como um Estudo de Caso de caráter qualitativo e como instrumento de coleta de dados, utilizamos a entrevista semiestruturada, a qual contou com a participação de clarinetistas de uma Banda militar do Exército, sediada em São Paulo. Assim, este estudo se justifica por ser incentivo da prática da música de câmara em bandas de música militares ou civis, utilizando o principal repertório desses grupos musicais brasileiros, o dobrado, adaptado para quarteto de clarinetes. Além disso, este trabalho é composto de um Memorial descritivo, um artigo científico, relatório profissional das práticas orientadas, partituras dos dobrados adaptados para quarteto de clarinetes e um álbum gravado em estúdio dos dobrados adaptados.

Palavras-chaves: banda de música, música de câmara, dobrados, clarinetistas

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PPGPROM, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2021.

ABSTRACT

The present work seeks to reflect on the formation of a chamber music repertoire of Dobrados (brazilian marchs), among the traditional works of the Brazilian Army, adapted for clarinet quartet. The following works by composer Antônio Manoel do Espírito Santo were adapted:

Dobrado 220, Dobrado Cisne Branco, Dobrado 182, Dobrado Quatro Dias de Viagem, Dobrado Bombardeio da Bahia. Therefore, this research is configured as a case study of qualitative character and as a data collection instrument, we used a semi-structured interview, which included the participation of clarinetists from a military band of the Army, in São Paulo. Thus, this study is justified because it encourages the practice of chamber music in civil or military music bands, using the main repertoire of this music groups, Dobrados, adapted for clarinet quartet. In addition, this work is composed of a descriptive Memorial, a scientific article, a professional report on the oriented practices, adapted Dobrados scores for clarinet quartet and an album with the studio recording of the adapted Dobrados.

Keywords: Army´s band, Dobrado, Chamber Music, clarinetist

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Banda da Assembleia de Deus em Santa Cruz - RJ ... 15

Figura 2: Músicos da Banda do Colégio Atlas ... 16

Figura 3: Banda do 2° Batalhão de Polícia do Exército ... 17

Figura 4: Quarteto de clarinetes Palheta Sonora ... 18

Figura 5: Gravação do quarteto ... 20

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

2 QUARTETO DE CLARINETES PALHETA SONORA ... 17

3 MESTRADO PROFISSIONAL EM MÚSICA NA UFBA ... 18

3.1 MESTRADO PROFISSIONAL DURANTE A PANDEMIA DE COVID 19 ... 20

4 DISCIPLINAS CURSADAS NO MESTRADO PROFISSIONAL COM ÊNFASE EM CRIAÇÃO MUSICAL ... 21

4.1 MUS 502 ESTUDOS BIBLIOGRÁFICOS E METODOLÓGICOS ... 21

4.2 MUSD45 ESTUDOS ESPECIAIS EM INTERPRETAÇÃO ... 21

4.3 MUSF07 PRÁTICA DE BANDA ... 21

4.4 MUSE95 OFICINA DE PRÁTICA – INTERPRETATIVA ... 22

5 SEMESTRE LETIVO SUPLEMENTAR (formato remoto) ... 22

5.1 MUSE95 ELABORAÇÃO E REDAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS ... 23

5.2 OFICINA DE PRÁTICA TÉCNICO-INTERPRETATIVA ... 23

5.3 MUSE99 PREPARAÇÃO DE RECITAL/CONCERTO SOLÍSTICO ... 24

5.4 MUSE97 PRÁTICA CAMERÍSTICA ... 24

6 DISCIPLINAS CURSADAS DURANTE O SEMESTRE II (formato remoto) ... 24

6.1 MUSE91 MÚSICA, SOCIEDADE E PROFISSÃO ... 24

6.2 MUSD42 MÉTODOS DE PESQUISA EM EXECUÇÃO MUSICAL ... 25

6.3 MUSE95 OFICINA DE PRÁTICA TÉCNICO-INTERPRETATIVA ... 25

6.4 MUSE92 EXAME QUALIFICATIVO ... 25

7 DISCIPLINA CURSADA DURANTE O SEMESTRE III (formato remoto) ... 26

7.1 MUSE95 OFICINA DE PRÁTICA TÉCNICO-INTERPRETATIVA ... 26

8 ATIVIDADES EXTRACURRICULARES ... 26

8.1 GRAVAÇÃO DA SONATA PARA CLARINETE E PIANO DE FRANCIS POULENC ... 26

8.2 MOSTRA DA PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL (PPGPROM) DA ESCOLA DE MÚSICA DA UFBA ... 27

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8.3 XV SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS

(SIMCAM) ... 27

8.4 I FESTIVAL NACIONAL DE OFICINAS ARTÍSTICAS ... 27

8.5 GRUPO DOS CLARINETISTAS MILITARES BRASILEIROS ... 27

9 PRODUTO FINAL ... 28

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 30

APÊNDICE A – ARTIGO ... 32

APÊNDICE A: FORMULÁRIO DE REGISTRO DE PRÁTICAS PROFISSIONAIS SUPERVISIONADAS/PPS ... 47

MUSE95 PRÁTICA TÉCNICO-INTERPRETATIVA (semestre I) ... 47

APÊNDICE B: FORMULÁRIO DE REGISTRO DE PRÁTICAS PROFISSIONAIS SUPERVISIONADAS/PPS ... 50

MUSF07 PRÁTICA DE BANDA (semestre I) ... 50

APÊNDICE C: FORMULÁRIO DE REGISTRO DE PRÁTICAS PROFISSIONAIS SUPERVISIONADAS/PPS ... 52

MUSE95 PRÁTICA TÉCNICO-INTERPRETATIVA (semestre suplementar remoto) ... 52

APÊNDICE D: FORMULÁRIO DE REGISTRO DE PRÁTICAS PROFISSIONAIS SUPERVISIONADAS/PPS ... 54

MUSE97 PRÁTICA CAMERÍSTICA (semestre suplementar remoto) ... 54

APÊNDICE E FORMULÁRIO DE REGISTRO DE PRÁTICAS PROFISSIONAIS SUPERVISIONADAS/PPS ... 56

MUSE95 PRÁTICA TÉCNICO-INTERPRETATIVA (semestre II) ... 56

APÊNDICE F: FORMULÁRIO DE REGISTRO DE PRÁTICAS PROFISSIONAIS SUPERVISIONADAS/PPS ... 58

MUSE95 PRÁTICA TÉCNICO-INTERPRETATIVA (semestre III) ... 58

ANEXO 1: ... 60

PARTITURA DA ADAPTAÇÃO DO DOBRADO 220 ... 60

ANEXO 2: ... 72

(12)

PARTITURA DA ADAPTAÇÃO DO DOBRADO CISNE BRANCO ... 72

ANEXO 3: ... 81

PARTITURA DA ADAPTAÇÃO DO DOBRADO 4 DIAS DE VIAGEM ... 81

ANEXO 4: ... 92

PARTITURA DA ADAPTAÇÃO DO DOBRADO 182 ... 92

ANEXO 5: ... 105

PARTITURA DA ADAPTAÇÃO DO DOBRADO BOMBARDEIO DA BAHIA ... 105

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MEMORIAL

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A banda é som. Música. Melodia. É o ritmo cadenciado das marchas e dobrados [...] que compassa o coração da gente para segui-la pelas ruas, ou nos chama para praça. E ao som das harmonias criadas por aqueles instrumentos, ás vezes um pouco desafinados, manejados por mãos duras e calejadas, somos transportados para um espaço mágico, onde as pessoas sorriem, se integram, aplaudem e se emocionam.

Maria de Fátima Granja (1984 p.79-80)

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INTRODUÇÃO

Escolhi para iniciar este Memorial, a epígrafe citada anteriormente a fim de sintetizar todo o sentimento e apreço que possuo por estes grupos musicais, as bandas de música. Da mesma maneira, detenho uma profunda afeição pelo principal repertório das bandas, o dobrado. Sendo assim, mesmo tendo consciência de que o Memorial, geralmente, se constitui de um relato de experiência traçado a partir do início do mestrado profissional, se fez necessário, tendo em vista o tema desta pesquisa, constituir uma narrativa que descrevesse um pouco da minha vivência musical em bandas de música e consequentemente, minha prática com o repertório de dobrados.

Posto isto, iniciei meus estudos musicais aos dez anos de idade em uma escola de música de uma instituição religiosa em Santa Cruz, Rio de janeiro, minha cidade natal. A escola funcionava de forma bastante informal e tinha o objetivo primo de formar músicos para suprirem as necessidades da banda da igreja. Dois importantes nomes para a música naquele contexto eram Lucrécio Torquato e Altamiro Quaresma, conhecido como “Miro”. Lucrécio era saxofonista, clarinetista e maestro do coral da igreja. Além disso, era o responsável por realizar a iniciação musical de jovens e adultos e isto se dava por meio da apresentação, de forma individual, de lições de solfejo. Quando o aluno alcançava a lição 100 (cem), era considerado apto a fazer parte da banda.

A banda de música da igreja tinha o “Miro” como regente e possuía em sua formação instrumentos de madeiras, instrumentos de metais e instrumentos de percussão, bem como instrumentistas de toda faixa etária. Era muito interessante observar o cuidado dos músicos mais experientes com os mais novos como também o respeito que os jovens tinham com os mais velhos da banda. O grupo musical era composto por quase cinquenta músicos e seu repertório era formado por hinos sacros, marchas e dobrados, porém, este último era executado com mais frequência pela banda de música durante as reuniões da igreja e eventos externos de caráter religioso. Havia dobrado em homenagem ao pastor da igreja, em homenagem ao maestro, em homenagem a algum componente da banda, todos estes de autoria de Altamiro Quaresma. É importante destacar que neste período, o gênero dobrado, em minha experiência, não tinha um caráter marcial, mas sim, religioso, tendo em vista este estilo composicional ser executado durante as atividades religiosas da igreja.

A banda dispunha de poucos recursos, de modo que, os instrumentos não possuíam sequer uma manutenção especializada. Não tínhamos métodos para estudos específicos e não possuíamos professores capacitados para cada instrumento. Tudo ficava a cargo do regente da

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banda que era trombonista de formação, porém tinha a incumbência de ensinar todos os naipes que compunham o grupo musical. Fato muito comum no cotidiano das bandas. No entanto, assim como diz a canção “A banda” de Chico Buarque de Holanda, “ a marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu, a lua cheia que vivia escondida surgiu, minha cidade toda se enfeitou, pra ver a banda passar [...]”, era com esta euforia que éramos recebidos pelos moradores das localidades onde a banda de música da igreja passava em passeata, para convocar todos para uma espécie de reunião ao ar livre. Isso era fator motivador para todos os participantes da banda que, apesar das dificuldades, encontravam forças para seguir com o trabalho musical. Foi neste contexto bandístico que fui inserido ainda criança.

Como citado anteriormente, não tínhamos métodos de estudos de clarinete, sendo assim, para aprimorarmos a nossa técnica, utilizávamos os dobrados que faziam parte do repertório da banda. Logo, posso afirmar que fui musicalizado no clarinete por meio dos dobrados que faziam parte do cotidiano da banda de música da igreja.

Figura 1: Banda da Assembleia de Deus em Santa Cruz - RJ

Fonte: Acervo pessoal. Catedral das Assembleias de Deus em Santa Cruz. 1996

Com o passar dos anos, busquei especialização musical em outras escolas da região como a escola de música da Assembleia de Deus em Marechal Hermes/RJ e a escola de música da Assembleia de Deus em Campo Grande/RJ. Nesta última, tive a chance de obter um aperfeiçoamento mais completo e assim estudar teoria musical, harmonia, solfejo e ter aulas com professores de clarinete. Menciono aqui o professor Moisés Santos, clarinetista do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que teve uma influência significativa neste momento da minha experiência como estudante de clarinete.

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Paralelo ao estudo técnico do clarinete, decidi tocar em diversas bandas de música carioca. Toquei na banda do colégio Atlas, na qual ganhei uma bolsa de estudos por fazer parte do corpo artístico da instituição. Participei da banda do município de Pedra de Guaratiba e município de Itaguaí. Porém, minha participação mais significativa foi na Banda Portugal.

Figura 2: Músicos da Banda do Colégio Atlas

Fonte: acervo pessoal. 1992

Fundada em 1921, a banda Portugal é a mais antiga das bandas portuguesas no Brasil ainda em atividade no país e foi criada inicialmente com a função prima de apoiar os eventos da comunidade luso brasileira no Rio de Janeiro. Segundo o trabalho de Oliveira (2017) a respeito das bandas portuguesas no Brasil, a banda Portugal foi a que mais conseguiu projeção artística dentre as bandas da comunidade lusitana, principalmente nas décadas de 80 e 90 na qual ganhou por diversas vezes o Concurso Estadual de Bandas sendo considerada “Hors Concours” em 1992.

Em 2006, ingressei no curso de formação de Sargento Músico do Exército Brasileiro.

Foi um momento totalmente novo em minha experiência musical, pois, além do contato com o repertório básico das bandas militares, ou seja, dobrados, hinos e canções; durante o período de formação, recebia instruções concernentes a fardamento, legislação militar, ordem unida, prática de acampamento, prática de tiro entre outros temas com relação à caserna.

Ao final do período de formação na escola de sargentos, de acordo com a nota obtida nas avaliações durante o curso, tive a oportunidade de escolher, mediante a classificação, a região do Brasil na qual pretendia trabalhar. Neste caso, escolhi a banda do 2° Batalhão de Polícia do Exército em Osasco/SP.

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Figura 3: Banda do 2° Batalhão de Polícia do Exército

Fonte: Acervo do 2° Batalhão de Polícia do Exército. 2017

A Banda de Música do 2º Batalhão de Polícia do Exército foi criada no ano de 1972, no então 2º Batalhão de Guardas, sediado no Parque D. Pedro, São Paulo-SP. Com a extinção do 2º Batalhão de Guardas em 1995, a banda foi transferida para o 2º Batalhão de Polícia do Exército, em Osasco – SP e atualmente, é composta por 64 militares, oriundos de diversas regiões do país.

Após atuar por quase 15 anos na banda do 2° Batalhão de polícia do Exército, fui transferido para a Banda Sinfônica do Exército. Fundada em 2002, a banda possui a máxima de realizar um trabalho musical sinfônico tendo em vista constituir, por meio da arte, uma conexão entre a sociedade e as tradições da caserna. Atualmente, a banda sinfônica possui 75 militares oriundos de diversos lugares do país. Além disso, a Banda Sinfônica recebeu importantes solistas nacionais e internacionais além de ser laureada com diversos prêmios, incluindo o de “Melhor projeto de Música Erudita” e o “Premio especial de Cultura”, ambos concedidos pela Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA.

2 QUARTETO DE CLARINETES PALHETA SONORA

Além de tudo que foi mencionado até aqui, concernente a minha trajetória como clarinetista de banda e a influência do repertório de dobrados em minha formação musical, foi determinante para esta pesquisa, minha experiência com música de câmara em um quarteto de clarinetes chamado Palheta Sonora. O grupo, que atuou durante três anos em cidades da região metropolitana de São Paulo, executava, inicialmente, um repertório composto por música popular brasileira e música erudita já consagrada no cenário desta formação

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instrumental. No entanto, na busca por constituir um repertório que caracterizasse uma individualidade sonora, decidimos fazer adaptações de dobrados para o quarteto. Foi neste contexto que nasceu, em 2015, o projeto “Dobrado Desdobrado” que visava adaptar, para quarteto de clarinetes, alguns dobrados tradicionais do Exército Brasileiro, em virtude dos integrantes do grupo serem oriundos de Banda de Música Militar.

Figura 4: Quarteto de clarinetes Palheta Sonora

Fonte: Acervo pessoal. São Paulo/2015

O projeto teve duração de dois anos e obteve, apesar da inovação, um retorno positivo do público e dos músicos. O grupo encerrou suas atividades em 2017, todavia deixou neste pesquisador, o desejo de seguir com este projeto, a fim de formar um repertório camerístico de dobrados adaptados para quarteto de clarinetes, com a finalidade de atender os clarinetistas de banda de música militar ou civil.

3 MESTRADO PROFISSIONAL EM MÚSICA NA UFBA

O desejo de cursar o mestrado profissional na Universidade Federal da Bahia (UFBA) começou em 2018 quando apresentei o artigo Regentes do Exército brasileiro: reflexões acerca de sua formação e função1 , no 1° Encontro de Bandas e Fanfarras da Bahia realizado na instituição supracitada. Nesta oportunidade, tive contato com o professor Joel Barbosa que era coordenador do encontro e com alguns clarinetistas que estavam cursando o mestrado. O contato com estes profissionais me fez perceber que o curso era bastante prático e que sua estruturação era baseada em módulos com datas pré-definidas. Isso permite que o aluno não se afaste de sua prática instrumental, bem como continue com sua rotina profissional diária.

Assim, ingressei no mestrado profissional com ênfase em criação musical no segundo semestre de 2019 sob a orientação do Professor Dr Pedro Robatto. O anteprojeto apresentado

1 Disponível no repositório da UFBA: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/31403

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para ingresso no curso tinha como produto final, apresentar adaptações de dobrados para quarteto de clarinetes de todos os dobrados tradicionais do Exército, que constam no total de 17 obras. No entanto, a partir da orientação do professor Robatto, percebemos que seria um trabalho inviável tendo em vista a duração do curso. Por isso, como critério de escolha, dentre os dobrados tradicionais do Exército, decidimos adaptar para quarteto de clarinetes, os dobrados do compositor Antônio Manoel do Espírito Santo. Foram adaptados para esta formação os seguintes dobrados, cujas partituras se encontram em anexo neste trabalho:

 Dobrado 220 (Avante Camaradas)

 Dobrado 182

 Dobrado Cisne Branco

 Dobrado Bombardeio da Bahia

 Dobrado Quatro Dias de Viagem

As adaptações para quarteto de clarinetes foram realizadas por este autor com o objetivo de incentivar a prática da música de câmara em bandas de música por meio do principal repertório destes grupos musicais, o dobrado. Para maiores informações a respeito desta pesquisa, vide o artigo “Adaptações de dobrados para quarteto de clarinetes: uma alternativa para a prática da música de câmara em bandas de música” que se encontra como Apêndice neste trabalho.

É importante citar a contribuição da classe de bacharelado em clarinete da UFBA nos laboratórios de música de câmara ministradas pelo professor Pedro Robatto. Nelas, tive a chance de verificar se as adaptações soavam bem para a formação de quarteto de clarinetes e a partir de então, realizar as alterações necessárias. Igualmente significativa foi a contribuição dos clarinetistas da banda do 2° Batalhão de Polícia do Exército com o qual realizei entrevistas como coleta de dados para o artigo acadêmico, bem como do quarteto de clarinetes da Banda Sinfônica do Exército com o qual tive a oportunidade de ensaiar e gravar as adaptações em estúdio.

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Figura 5: Gravação do quarteto

Fonte: Acervo pessoal. Estúdio da Fatec em Tatuí – SP. 2020

3.1 MESTRADO PROFISSIONAL DURANTE A PANDEMIA DE COVID 19

No início do ano de 2020, enfrentamos uma crise sanitária em decorrência da pandemia de Covid 19, na qual mudou radicalmente a nossa realidade. Como consequência disso, a estrutura montada para o mestrado profissional, que acontecia de forma presencial, foi totalmente alterada. Assim, todos os eventos acadêmicos foram suspensos para maior segurança dos alunos e professores, no entanto, no segundo semestre, a instituição decidiu criar o semestre letivo suplementar, a fim de ofertar disciplinas optativas, de forma remota, para o aperfeiçoamento dos alunos durante este período.

A retomada do curso se deu, oficialmente, a partir do primeiro semestre de 2021 ainda de forma remota. Tivemos que nos adaptar com o chamado “novo normal” e criar uma rotina acadêmica, antes realizada presencialmente, de forma remota e com uso imprescindível da tecnologia. A partir de então, todas as disciplinas do curso, inclusive as aulas práticas de clarinete, passaram a ser realizadas por videochamadas e com o apoio de áudios, emails e leituras de apoio recomendadas antecipadamente pelo professor.

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4 DISCIPLINAS CURSADAS NO MESTRADO PROFISSIONAL COM ÊNFASE EM CRIAÇÃO MUSICAL

Semestre I (formato presencial)

 MUS502 Estudos Bibliográficos e Metodológicos

 MUSD45 Estudos Especiais em Interpretação

 MUSF07 Prática de Banda

 MUSE95 Oficina de Prática Técnico-Interpretativa

4.1 MUS 502 ESTUDOS BIBLIOGRÁFICOS E METODOLÓGICOS

A disciplina esteve a cargo do professor Pedro Amorim e teve como finalidade esclarecer o aluno com relação ao processo de investigação do tema escolhido. As aulas eram bastante participativas, na qual cada aluno expunha seu projeto e podia receber recomendações dos colegas e aconselhamentos do professor. Além disso, recebemos orientações concernentes a como redigir um artigo acadêmico, bem como a criação do produto final do mestrado.

4.2 MUSD45 ESTUDOS ESPECIAIS EM INTERPRETAÇÃO

A disciplina foi orientada pelo professor Lucas Robatto de modo que, tinha como apoio textos de autores como Pierre Bourdieu, Umberto Eco, Adorno, Foucault entre outros. As aulas eram repletas de momentos de reflexão concernentes à literatura recomendada, bem como esclarecimentos a respeito de assuntos relacionados ao nosso projeto de pesquisa. Isso fez com que tivéssemos maior clareza quanto ao nosso trabalho final de mestrado, de modo que muitos alunos decidiram repensar os seus projetos. Além disso, todas as discussões em sala nos faziam refletir a respeito do momento atual da sociedade no qual a música tem papel fundamental.

4.3 MUSF07 PRÁTICA DE BANDA

Esta prática supervisionada foi realizada na banda do 2° Batalhão de Polícia do Exército (2BPE), grupo musical que atuava como clarinetista. A banda do 2° BPE tem a função prima de musicalizar os eventos da tropa com Hinos, Dobrados e Canções militares, bem como realizar apresentações, para o público em geral, com um repertório bastante variado que abarca obras populares e eruditas.

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4.4 MUSE95 OFICINA DE PRÁTICA – INTERPRETATIVA

As aulas de Clarinete ministradas pelo professor Pedro Robatto eram realizadas juntamente com a turma de graduação da Universidade. Isso nos dava a oportunidade de apresentar a obra estudada para a turma, de modo que cada aluno tinha a chance de fazer observações pertinentes quanto à peça executada. Além disso, o professor Robatto disponibilizava um horário durante a semana para atender, individualmente, os alunos do mestrado. Em um desses encontros, expus minha necessidade de conhecer mais o repertório brasileiro para clarinete e assim, decidimos dar prioridade a obras de autores nacionais. Desse modo, a primeira obra escolhida foi a peça solo para clarinete do compositor Ronaldo Miranda intitulada Lúdica. Como peça de confronto comissionada para um concurso Nacional de Jovens intérpretes brasileiros, a obra composta em 1983, possui avançado nível de dificuldade técnica. No entanto, trabalhamos a peça ao longo do primeiro encontro presencial, bem como por meio do auxílio de áudios enviados para o professor com os trechos estudados da peça. Assim, ao final do segundo encontro presencial, já com a obra do autor Ronaldo Miranda considerada satisfatória, decidimos iniciar os estudos do Concertino para Clarinete e Orquestra de Francisco Mignone2. Obra emblemática para a construção de um repertório nacional para clarinete, a peça é considerada uma das primeiras obras brasileiras de concerto para o instrumento e, segundo Fernando Silveira (2008) em seu trabalho de edição e crítica a respeito do Concertino, é a primeira, que se tem notícia, a ser executada no Brasil por um clarinetista brasileiro, no caso, o clarinetista José Botelho, para quem a peça foi escrita.

5 SEMESTRE LETIVO SUPLEMENTAR (formato remoto)

O semestre letivo suplementar foi criado no segundo semestre de 2020 para atender, em caráter emergencial, o corpo discente da Universidade, diante da crise sanitária causada pela pandemia de covid 19. Foram ofertados componentes curriculares e extracurriculares adaptados ao formato online e ministrados por vários professores da instituição. Além disso, a adesão dos estudantes era facultativa e posteriormente, poderia ser incluída na carga horária curricular do curso.

Foram cursadas, durante o semestre suplementar, as seguintes disciplinas:

 Elaboração e Redação de Artigos Científicos

2 Francisco Paulo Mignone (1897-1986), nascido em São Paulo, foi compositor, pianista e regente. Em suas obras identificamos em sua grande maioria influências rítmicas brasileiras, além das influências afro brasileiras, ao introduzir a percussão e outras especificidades desta cultura. Mignone defendia o nacionalismo, pois reconhecia que havia nas suas composições uma variedade, diversidade, que denotava ambiente e cor às suas obras. (Silveira, 2006).

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 MUSE95 Oficina de Prática Técnico-Interpretativa

 MUSE99 Preparação de Recital/Concerto Solístico

 MUSE97 Prática Camerística

5.1 MUSE95 ELABORAÇÃO E REDAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

A disciplina ministrada pelo professor Lélio Alves, de forma remota, possuía como objetivo principal orientar o aluno a elaborar o artigo científico. Para isso, o professor, por meio de textos e slides, abordava assuntos concernentes à pesquisa científica tal como metodologias, escolha do tema, pesquisa do material, coleta de dados dentre outros tópicos.

Além disso, foi concedida oportunidade aos alunos que tinham seus artigos mais adiantados, de submeterem seus trabalhos em congressos, a fim de publicarem seus artigos. Sendo assim, minha pesquisa, foi aceita em dois eventos da pós-graduação em Música da UFBA que aconteceram paralelos ao período da disciplina - Colóquio da pós-graduação em Música da UFBA; Encontro 30+30. Neste último, tive a oportunidade de realizar a apresentação do meu trabalho por meio da plataforma Youtube3 e publicar o artigo Adaptações de dobrados para quartetos de clarinetes: Uma alternativa para a prática da música de câmara em bandas de música, juntamente com pesquisas de outros autores que também submeteram seus trabalhos para o evento.

5.2 OFICINA DE PRÁTICA TÉCNICO-INTERPRETATIVA

A oficina foi ministrada pelo professor Pedro Robatto e demos continuidade ao trabalho iniciado anteriormente, no semestre presencial, com o Concertino para Clarinete e Orquestra de Francisco Mignone. A obra é dividida em três movimentos – Fantasia: mostra a virtuosidade do clarinetista por meio de cadências de recitativos operísticos; Toada: tem melodia de características brasileiras e explora o lirismo e o timbre do clarinete; Final: de caráter virtuosístico, utiliza ritmos que tem origem no baião. Sendo assim, tivemos que nos adaptar, para melhor desenvolvimento das aulas remotas, á prática da comunicação por áudio e vídeo como estratégia de interação entre professor e aluno. De forma antecipada, eu enviava áudios do trecho da obra para o professor Robatto, de modo que ele pudesse tecer comentários pertinentes a minha prática musical – sonoridade, articulação, interpretação entre outros pontos. Ao fim do semestre, conseguimos concluir o estudo do Concertino de Mignone e obtivemos resultados bastante satisfatórios.

3 Link da apresentação no Encontro 30+30: https://youtu.be/96yRPxiyV9A

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5.3 MUSE99 PREPARAÇÃO DE RECITAL/CONCERTO SOLÍSTICO

Nesta disciplina, igualmente ministrada pelo professor Pedro Robatto, abordamos temas a respeito da perfomance solista visando a preparação do recital de clarinete para o fim do curso. Além disso, para dar continuidade ao estudo de obras eruditas do repertório clarinetístico de autores brasileiros, decidimos estudar o Concerto (1988) para clarinete e orquestra do compositor Ernst Mahle4.

5.4 MUSE97 PRÁTICA CAMERÍSTICA

Esta prática supervisionada foi realizada, quase que inteiramente, com o quarteto de clarinetes da Banda Sinfônica do Exército, sediada em Osasco, São Paulo. Este momento foi bastante significativo, pois tive a chance de verificar na prática, como soavam as adaptações dos dobrados para quarteto de clarinetes que faziam parte do meu produto final.

6 DISCIPLINAS CURSADAS DURANTE O SEMESTRE II (formato remoto)

 MUSE91 Música, Sociedade e Profissão

 MUSD42 Métodos de Pesquisa em Execução Musical

 MUSE95 Oficina de Prática Técnico-Interpretativa

 MUSE92 Exame Qualificativo

6.1 MUSE91 MÚSICA, SOCIEDADE E PROFISSÃO

O objetivo central da disciplina era ampliar os horizontes de percepção da turma, concernentes às articulações entre música e sociedade, com ênfase especial nas questões ligadas á profissão, ponto onde as tensões, sempre presentes nas relações sociais, se salientam de maneira mais abrangente. As aulas, ministradas pelos professores Lucas Robatto e Rodrigo Heringer, nos fizeram aprofundar em questões muitas vezes “dolorosas” como, por exemplo, a relação entre gosto musical e classe social, bem como adotou, principalmente, conceitos importantes do sociólogo Pierre Bourdieu, para nos fazer investigar sobre diversos temas, pouco abordados no fazer musical.

4 Ernst Mahle nasceu no ano de 1929, em Stuttgart, Alemanha e mudou-se para o Brasil em 1951. “Estudou composição com Hans Joachim Koellreuter e complementou sua formação musical em cursos no exterior com Messiaen e Fortner, além de estudar regência com Rafael Kubelik e Mueller-Kray. É co-fundador da Escola de Música de Piracicaba "Maestro Ernst Mahle" e membro da Academia Brasileira de Música” (cadeira n.6) (Mahle, 2019).

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6.2 MUSD42 MÉTODOS DE PESQUISA EM EXECUÇÃO MUSICAL

A disciplina ministrada pelos professores Lucas Robatto, José Maurício e Suzana Kato, tinha como objetivo principal tecer reflexões a respeito da pesquisa científica dentro do campo da interpretação e performance musical. Sendo assim, cada docente teve a oportunidade de compartilhar suas experiências com relação ao que é produzido no campo acadêmico, como também, do que é realizado em termos práticos. Através da literatura recomendada pelos professores, tivemos contato com diferentes tipos de escrita acadêmica e assim, obtivemos uma visão crítica concernente ao tema. Além disso, a disciplina esclareceu que o mestrado profissional e o mestrado acadêmico possuem a mesma titulação, assim como elucidou que o produto final do mestrado profissional deve buscar ter relevância na sociedade.

6.3 MUSE95 OFICINA DE PRÁTICA TÉCNICO-INTERPRETATIVA

Assim como nos semestres anteriores, a oficina continuou tendo a supervisão do Professor Pedro Robatto e seguiu a mesma metodologia de ensino, iniciada anteriormente.

Ainda no formato remoto, as aulas eram realizadas por intermédio de videochamadas e áudios enviados previamente para o professor. Como repertório, demos prosseguimento aos estudos do Concerto (1988) para clarinete e orquestra de Ernst Mahle. O concerto em questão possui três movimentos: Moderato; Lento (tema nordestino – o cego); Vivo. A obra inteira é repleta de influências da música brasileira, especialmente, o segundo movimento, que possui um caráter musical do folclore nordestino. Apesar de ser considerada por muitos uma obra emblemática para o contexto clarinetístico brasileiro, a peça possui poucas gravações e um número reduzido de citações em artigos e publicações em geral. Ao finalizar os estudos do concerto supracitado, decidimos iniciar os estudos de uma obra do período clássico, de modo que pudéssemos refinar algumas questões técnicas na minha prática do clarinete. Assim, a obra escolhida para tal, foi o Concerto n°1 de Louis Spohr para clarinete e orquestra. A peça, composta no início do século XIX, é a primeira dentre os quatro concertos dedicados ao clarinete e possui três movimentos –Allegro, Adagio, Rondo (Vivace). A obra faz parte do repertório avançado para o instrumento e foi dedicada ao virtuoso clarinetista alemão Johann Simon Hermstedt.

6.4 MUSE92 EXAME QUALIFICATIVO

O exame qualificativo aconteceu no final do mês de março de 2020 e teve como banca os seguintes professores – Professor Dr Pedro Robatto, Professor Dr Joel Barbosa e Professora Marta Vidigal. O objetivo principal do exame qualificativo é apresentar à banca

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avaliadora, a pesquisa em andamento, para que possa verificar o progresso do trabalho e se necessário, apontar os tópicos a serem modificados, para que, sejam alterados em tempo hábil.

Em meu caso, foi recomendado que nos slides de apresentação, se elencassem os itens mais importantes do trabalho ao invés de se utilizar um texto corrido.

7 DISCIPLINA CURSADA DURANTE O SEMESTRE III (formato remoto)

7.1 MUSE95 OFICINA DE PRÁTICA TÉCNICO-INTERPRETATIVA

A oficina, sob orientação do professor Pedro Robatto, seguiu o mesmo formato de ensino dos semestres anteriores, tendo como suporte o envio, antecipado, de áudios da obra estudada e aulas por meio de videochamadas. Assim, concluímos os estudos necessários do Concerto nº 1 para Clarinete e orquestra de Spohr e iniciamos o estudo da peça intitulada Clarinete Solo do compositor baiano Marcos di Silva5. A obra é uma composição contemporânea e possui três partes – primeira parte Jocoso onde parece haver dois personagens distintos em um momento de descontração; segunda parte Obstinado onde o músico pode expor sua capacidade virtuosística através dos grandes saltos intervalares e trechos em legato e staccato; terceira parte Jocoso onde o compositor retorna ao tema inicial da obra. Foi de extrema importância para a compreensão da peça, as orientações do professor Robatto, que além de ter interpretado a obra, contribuiu, juntamente com o autor, nas acentuações da segunda edição da composição.

8 ATIVIDADES EXTRACURRICULARES

Ao longo do curso, além dos eventos relativos ao mestrado, tive a oportunidade de participar de alguns eventos artísticos e acadêmicos descritos a seguir:

8.1 GRAVAÇÃO DA SONATA PARA CLARINETE E PIANO DE FRANCIS POULENC A obra, composta em 1963, consiste em três movimentos – Alegro Tristamente, Romanza, Alegro com fuoco. A gravação, disponível no Youtube6, foi realizada na área de convivência da Escola Municipal de Música de São Paulo e ocorreu no final do segundo

5 Professor e pesquisador de Teoria e Composição Musical na Universidade Federal da Bahia, Doutor em Composição Musical (UFBA). Como pesquisador, tem atuado na área de Teoria Musical, especialmente Musicologia Digital e contornos melódicos. Atualmente é o coordenador do curso de Composição e Regência da UFBA, já foi vice-coordenador do mesmo curso e vice-chefe do Departamento de Música.

6 Link da gravação da Sonata de Poulenc: https://youtu.be/gvH1K-LSueM

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semestre de 2020, como parte integrante da disciplina Música de Câmara da instituição supracitada, coordenada pela professora Marta Vidigal.

8.2 MOSTRA DA PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL (PPGPROM) DA ESCOLA DE MÚSICA DA UFBA

A Mostra PPGPROM reuniu, entre os dias 21 e 24 de Dezembro de 2020, os talentos da Pós-graduação profissional em música da UFBA. Nossa participação está disponível na plataforma Youtube7 e contou, além da minha presença, com a participação dos clarinetistas Lucas Ferreira e Walter Júnior, alunos da turma do mestrado profissional. A obra apresentada na ocasião foi o Dobrado Pretencioso do compositor João Cavalcanti.

8.3 XV SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE COGNIÇÃO E ARTES MUSICAIS (SIMCAM) O XV Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais (SIMCAM) foi um evento promovido pela Associação Brasileira de Cognição e Artes Musicais (ABCM) e realizado em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. O Simpósio, realizado totalmente no formato remoto, foi um fórum multidisciplinar dedicado a amplo espectro de discussões de questões científicas relevantes ao estudo dos processos cognitivos relacionados à música. Na ocasião, apresentei, juntamente com Lucas Ferreira e Walter Júnior, a obra contemporânea Nubelus Clarinus8 do compositor Arthur Rinaldi.

8.4 I FESTIVAL NACIONAL DE OFICINAS ARTÍSTICAS

O Festival, organizado pela Confederação Nacional de Bandas e Fanfarras, foi um evento artístico e musical no formato virtual de aprendizagem, direcionado aos componentes de bandas e fanfarras do estado de São Paulo e todo o Brasil. O festival realizou diversas oficinas online que fomentou o desenvolvimento da prática instrumental, regência de grupos musicais, bem como oficinas artísticas em geral. No evento citado, como professor, realizei uma aula9 de clarinete para os níveis básico e intermediário.

8.5 GRUPO DOS CLARINETISTAS MILITARES BRASILEIROS

Criado em fevereiro de 2021, o grupo é formado por clarinetistas de todas as bandas militares do Brasil, com o objetivo de unificar e propagar informações a respeito do instrumento e sua relevância para a história das bandas militares brasileiras na atualidade.

7 Disponível no endereço eletrônico: https://youtu.be/P6mIB0ZObAU

8 Disponível no endereço eletrônico: https://youtu.be/zImGbPQuse8

9 Disponível no endereço eletrônico: https://youtu.be/xMhH8py3Jls

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Como forma de produção de conteúdo e interação com outros clarinetistas, o grupo realiza encontros remotos com personalidades musicais ligadas à vida militar, bem como gravações do repertório de dobrados adaptados, por este proponente, para quarteto de clarinetes. Sendo assim, foram gravadas, até o presente momento, as adaptações para quarteto do Dobrado 18210 e Dobrado Quatro dias de viagem11.

9 PRODUTO FINAL

Como já exposto anteriormente neste trabalho, o produto final do mestrado profissional, tende a ser um trabalho com relevância social, ou seja, de modo geral, deve trazer alguma contribuição para um grupo de pessoas. Nas bandas militares, nas quais os dobrados adaptados foram interpretados, o retorno dos músicos foi bastante positivo, tanto na interpretação da obra quanto aos benefícios adquiridos pela prática da música de câmara com este repertório. Além disso, as adaptações de dobrados para quarteto de clarinetes, isto é, música de câmara, atraíram um público diferente daquele estritamente militar.

Quanto a adaptar um repertório de banda, o dobrado, para quarteto de clarinetes, decidi não realizar modificações a ponto de retirar as características principais deste estilo composicional. Contudo, algumas inovações são claramente reconhecidas, tal como a cadência na adaptação do Dobrado 220 e um pequeno trecho do Lago do Cisne de Tchaikovsky na adaptação do Dobrado Cisne Branco.

Concernente ao percurso trilhado para a produção do produto final, iniciamos os ensaios do quarteto de clarinetes a partir do segundo semestre de 2020, com encontros semanais. À medida que as adaptações dos dobrados eram finalizadas, realizávamos laboratórios para conhecer a opinião dos outros participantes do grupo. No entanto, percebemos que para realizarmos um trabalho com maior refinamento, deveríamos ter a supervisão de um profissional com maior experiência artística com música de câmara e assim, decidimos convidar o clarinetista e produtor musical Luca Raele que, além de participar desde 1991 do célebre conjunto de clarinetes Sujeito a Guincho, possui vasta experiência na produção musical no eixo popular e erudito.

Após diversos ensaios, a fim de realizar o registro fonográfico do trabalho, decidimos realizar dois dias de gravação no estúdio da FATEC em Tatuí, São Paulo. O estúdio possui instalações distribuídas em uma área com mais de 500 metros quadrados e abriga diversas salas, como a sala que realizamos a gravação, que possui capacidade para atender 70 músicos.

10 Endereço da gravação do Dobrado 182: https://youtu.be/Ji8iUjluwIs

11 Endereço da gravação do Dobrado Quatro dias de viagem: https://youtu.be/jDVr1YqnCjI

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Além disso, fomos assistidos pelos alunos do curso de Produção Musical da instituição e pelo coordenador do curso Zé Pires que nos auxiliou, juntamente com Raele, em todo o processo de gravação em estúdio. Vale ressaltar que, além de todo o desafio existente quanto à produção de um registro em estúdio, havia os obstáculos devido à pandemia de Covid 19.

Tudo devia ser realizado seguindo os protocolos de distanciamento social e utilização de máscara.

Após o período de gravação, iniciamos, sob a supervisão de Zé Pires, o processo de mixagem e masterização do material gravado. Todo o procedimento foi realizado de forma remota, tendo em vista a crise sanitária que enfrentávamos no momento. Assim, a partir da gravação que realizamos em estúdio, escolhíamos um áudio base e apoiado nisso, fazíamos as modificações necessárias.

Assim sendo, a partir do exposto, este trabalho possui como produto final, um álbum12 gravado em estúdio com todas as adaptações de dobrados para quarteto de clarinetes – Dobrado 220, Dobrado 182, Dobrado Cisne branco, Dobrado Quatro dias de viagem, Dobrado Bombardeio da Bahia e contou, além da minha participação, com a presença dos seguintes clarinetistas: Filipe Sales, Francisco Júnior e Renata Garcia, todos pertencentes à Banda Sinfônica do Exército. Posteriormente, o objetivo será disponibilizar este material em todas as plataformas de streaming.

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao encerrar o Mestrado, consigo perceber quanto aprendizado obtive ao longo do curso. Seria impossível enumerar todo conhecimento adquirido por meio do contato com outros profissionais que faziam parte do corpo discente da pós–graduação bem como durante os encontros das disciplinas do mestrado.

Concernente às aulas de Clarinete com o Professor Dr Pedro Robatto, considero que foram de extrema importância para o meu amadurecimento como músico prático. Não possuía experiência com o repertório brasileiro tampouco com o repertório de música contemporânea e era considerado um “Romântico”, devido a minha vivência com obras deste período da música. No entanto, apesar dos avanços, acredito que o período de pandemia trouxe certo retardo aos meus estudos, tendo em vista a falta de encontros presenciais com o professor.

Ademais, tive que me adaptar a enviar gravações, a encontrar um ambiente propício para

12https://drive.google.com/drive/folders/1-JsYSDmW0gPkExgIay6v-POSZZq0PBjD

Link da gravação em estúdio das obras apresentadas como produto final: Dobrado 182, Dobrado 220, Dobrado Bombardeio da Bahia, Dobrado Cisne Branco, Dobrado Quatro Dias de Viagem.

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gravar, a descobrir o melhor aplicativo de gravação de áudio ou adquirir um bom gravador.

Porém, apesar das intempéries, segundo o professor, finalizo o curso sendo um clarinetista mais maduro em termos sonoros, musicais e interpretativos.

Com relação às aulas teóricas - reflexivas, percebo que não me tornei um pesquisador perito nos autores abordados como Pierre Bourdieu, Umberto Eco, Theodor Adorno, Michel Foucault, mas sim, levantei questionamentos, ampliei a visão, estimulei percepções, bem como passei a dar enfoque a temas muitas vezes esquecidos com relação a aspectos presentes além da performance musical, especialmente na relação entre música e questões sociais.

No que tange ao trabalho de adaptação de dobrados para quarteto de clarinetes, percebi ainda mais, o potencial que as bandas de música possuem em termos de composição. Este estilo composicional, genuinamente brasileiro, ainda necessita ser mais explorado pelos músicos atuantes, seja por meio de pesquisas, arranjos, adaptações ou simplesmente, pela não substituição deste repertório por outro estritamente estrangeiro, como é o caso de diversas bandas.

Concluo afirmando que o Mestrado profissional me transformou não apenas como um Clarinetista ou músico de banda, mas também como indivíduo e que o trabalho de adaptação de dobrados para clarinetes, tema central desta pesquisa, pode ser incentivo para outros naipes e outros grupos musicais, pois não é um trabalho fechado em si mesmo. Assim, finalizo este memorial com uma citação de Fred Dantas...“relembrei minha vivência, colecionei dados, propondo uma atitude inovadora para chegar a uma conclusão: a banda continua.”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES DA SILVA, L. E. Musicalização através da banda de música escolar: uma proposta de metodologia de ensaio fundamentada na análise do desenvolvimento musical de seus integrantes e na observação da atuação dos “mestres de banda” Tese (Doutorado), Programa de Pós-Graduação em Música, Centro de Letras e Artes, UNIRIO, 2010.

DANTAS, F. M. Composição para banda filarmônica: atitudes inovadoras. Tese (Doutorado), Escola de Música, UFBA, 2015.

EXÉRCITO BRASILEIRO. Boletim do Exército Brasileiro Nº 25 de 23 de junho, portaria 008, 2000

FEITOSA, M. F. C. A expressividade da música brasileira para Clarinete e Orquestra.

Dissertação (Mestrado), Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo, Politécnico do Porto, Porto, 2019

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FONTE, R.; ROBATTO, P. Adaptações de dobrados para quarteto de clarinetes: uma

alternativa para a prática da música de câmara em bandas de música. In: CANDUSSO, Flávia Maria Chiara. 30+30: Pós-graduação & música, Salvador: EDUFBA, 2020. p, 277-293.

Disponível em:<http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/33438>. Acesso em: 26 Out. 2021.

GRANJA, M F. A banda: Som e Magia. Dissertação (Mestrado), Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Rio de Janeiro, 1984.

HOLANDA, C. B. A banda. Interprete: Chico Buarque. Composição: C. Buarque. In: Chico Buarque de Hollanda. São Paulo: RGE, 1966, disco vinil, lado A, faixa 1 (2,12 min).

MAHLE, E. Biografia e obra de Ernst Mahle. In:Portal Música Brasilis, 2009. Disponível em: <http://musicabrasilis.org.br/compositores/ernst-mahle>. Acesso em: 27 de setembro de 2021.

OLIVEIRA, A. H. S. Bandas de Música portuguesas no Brasil – tradição, apogeu e realidade atual. In: Anais III SIMPOM, 2014. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2014. Disponível em: <

http://seer.unirio.br/index.php/simpom/article/download/4663/4163>. Acesso em: 22 de Jul.

2021.

OLIVEIRA, J. Z. Reflexões sobre a importância da prática deliberada para otimização da performance musical do clarinetista. Dissertação (Mestrado), Escola de Música, UFBA, Salvador, 2019.

ROCHA, J. R. F. O dobrado: breve estudo de um gênero musical brasileiro. Belo Horizonte: UFMG, 2011.

SILVEIRA, F. Concertino para Clarineta e Orquestra de Francisco Mignone: Reflexões Interpretativas. In: Revista do Conservatório de Música da UFPel, 2008. Pelotas: UFPel, 2008. Disponível em: <https://periodicos.ufpel.edu.br >. Acesso em: 20 de Jun. 2021.

SOUSA, P. M. As bandas de música na história da música em Portugal. Lisboa: Fronteira do Caos, 2017.

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APÊNDICE A – ARTIGO

ADAPTAÇÕES DE DOBRADOS PARA QUARTETO DE CLARINETES: UMA ALTERNATIVA PARA A PRÁTICA DA MÚSICA DE CÂMARA EM BANDAS DE

MÚSICA

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo tecer reflexões a respeito da prática da música de câmara em bandas de música por meio de adaptações do gênero musical brasileiro de dobrados para quarteto de clarinetes. Para isso, utilizamos nesta pesquisa a adaptação para quarteto de clarinetes do dobrado 220 (Avante Camaradas) do compositor Antônio Manoel do Espírito Santo. Assim, este estudo de caso de caráter qualitativo foi realizado na banda de música do 2° Batalhão de Polícia do Exército em Osasco/São Paulo e se serviu de entrevista semi- estruturada como técnica de coleta de dados, contando com a participação voluntária de quatro clarinetistas da banda de música. Logo, este trabalho se justifica por utilizar o principal repertório das bandas de música brasileiras, o dobrado, adaptado para a formação camerística, como um caminho para a prática da música de câmara em bandas de música e outros grupos musicais.

Palavras-chaves: Banda de Música, Quarteto de Clarinetes, Música de Câmara, Dobrado, Naipe de Clarinetes.

ADAPTATIONS OF “DOBRADO” FOR CLARINET QUARTET: AN

ALTERNATIVE FOR THE PRACTICE OF CHAMBER MUSIC IN MUSIC BANDS

ABSTRACT

This article aims to reflect on the practice of chamber music in music bands through adaptations of the Brazilian musical genre called “Dobrado” to clarinet quartets. For this, we used in this research the adaptation for clarinet quartet of the “Dobrado 220” (Avante Camaradas) by the composer Antônio Manoel do Espírito Santo. Thus, this qualitative case study was carried out in a military music band in Osasco / São Paulo and used a semi- structured interview as a data collection technique, with the voluntary participation of four clarinetists from the music band. Therefore, this work is justified by using the main repertoire of Brazilian music bands, the “Dobrado”, adapted for chamber music formation, as a way to practice chamber music in music bands and other musical groups.

Keywords: Music Band, Clarinet Quartet, Chamber Music, “Dobrado”, Clarinet Section

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INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo tecer reflexões a respeito da prática da música de câmara em bandas de música por meio de adaptações do gênero musical brasileiro de dobrados para quarteto de clarinetes. Essa abordagem se deve à atuação deste pesquisador como clarinetista de banda militar do Exército, bem como concludente do curso de Mestrado Profissional da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Além disso, foi determinante para este trabalho, a experiência musical como integrante em um quarteto/trio de clarinetes chamado “Palheta Sonora”. Esse grupo atuou durante três anos em cidades da região metropolitana de São Paulo e executava, inicialmente, um repertório tradicional para esta formação. Na busca por constituir uma identidade musical do grupo, nasceu, em 2016, o projeto “Dobrado Desdobrado” que visava adaptar, para quarteto/trio de clarinetes, dobrados tradicionais do Exército Brasileiro, em virtude dos integrantes serem oriundos de Banda de Música Militar. O grupo encerrou suas atividades no ano seguinte, no entanto, deixou no autor deste trabalho, o desejo de contribuir para a formação de um repertório de dobrados adaptados para música de câmara a fim de atender à demanda de clarinetistas de banda de música.

Tomando como ponto de partida a experiência citada anteriormente, tendo em vista fomentar a prática da música de câmara nas bandas, escolhemos para ser adaptado para quarteto de clarinetes o gênero musical “dobrado” que, como obra musical brasileira, executada para elevar o moral da tropa nas solenidades da caserna13, é o repertório principal das bandas de música militares. Além disso, este estilo composicional não é exclusividade das bandas de instituições beligerantes.

Diversas bandas civis que representam cidades, igrejas ou associações utilizam o dobrado como repertório básico em suas apresentações. Dantas (2017, p.29), corrobora tal constatação ao afirmar que as bandas de música mantêm “vínculo com os movimentos militares e com as ocasiões religiosas”.

É importante ressaltar que o fato do dobrado ser o principal repertório das bandas de música, tornou esse gênero parte da cultura de muitos músicos brasileiros, bem como de diversos clarinetistas do país, sendo utilizado como método de iniciação musical em várias bandas. Temos como exemplo, a experiência do autor deste artigo que aprendeu a tocar clarinete em uma banda de música de uma igreja com a utilização de diversos dobrados.

13Termo sinônimo a quartel ou aquartelamento.

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Porém, este não é um caso isolado, por meio do contato com outros clarinetistas que atuam em diversas bandas e orquestras brasileiras, constatamos que muitos possuem a formação musical iniciada em bandas de música com a utilização desse gênero musical.

Concernente ao tema da pesquisa, a abordagem se deve a observação deste autor, como clarinetista de banda de música militar, nas dificuldades encontradas na prática musical do naipe de clarinetes tais como: afinação, timbre, articulação, dinâmica, sonoridade entre outros. Tais dificuldades ocorrem em decorrência do fato dessas bandas terem a função prima de executarem o repertório de dobrados ao ar livre e com intensidade forte para musicalizarem eventos civis ou militares. Isso faz com que o naipe muitas vezes, perca a referência de uma sonoridade mais refinada. Por isso, tendo em vista encontrar meios para solucionar as dificuldades supracitadas, escolhemos a prática da música de câmara com adaptações de dobrados para quarteto de clarinetes, a fim de contribuir para o aperfeiçoamento musical desse naipe como um todo.

Assim, concernente aos benefícios da prática camerística, vejamos o que SACKS (2016, p.11, tradução nossa) nos afirma:

Os benefícios da prática da música de câmara na busca por explorar novas sonoridades são incontáveis, pois com um número reduzido de instrumentistas, o risco de desequilíbrio sonoro é menor, sendo, portanto, mais fácil o ajuste musical de um pequeno grupo do que de um grande coletivo [...] grupos menores de instrumentistas permitem a realização focalizada de idéias musicais.14

Desse modo, considerando tais benefícios e tendo em vista o fato de o dobrado fazer parte do repertório cotidiano dos profissionais de banda, juntamente com este artigo, iniciamos um trabalho de escolha e adaptação para quarteto de clarinetes de alguns dobrados dentre o repertório básico de obras musicais do Exército Brasileiro. A respeito desse repertório básico, constam o Boletim do Exército Nº 25 do ano de 2000, que “estas composições devem estar presentes em todas as bandas e fanfarras do território nacional, bem como possuir as partituras do regente e as partes individuais dos instrumentos”. Dentre essas composições, constam os seguintes dobrados:

1. Dobrado ao Exército Brasileiro 2. Dobrado Barão do Rio Branco 3. Dobrado Batista de Melo 4. Dobrado Comandante Narciso

14 Texto original: “The benefits of the chamber setting in the search for new and interesting sound are numerous.

Primarily, with a single player on an instrument, the risk of unbalanced sound is significantly smaller, as it is obviously easier for one musician to adjust than a large group to do so collectively […] Smaller ensembles allow for the focused realization of ideas with less prospect of poor reception due to means outside of the composition and music themselves”.

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5. Dobrado Guararapes 6. Dobrado Mato Grosso 7. Dobrado O Guarani 8. Dobrado Os Flagelados 9. Dobrado os Quatro Tenentes 10. Dobrado Quatro Dias de Viagem 11. Dobrado Saudades de Minha Terra 12. Dobrado Sargento Calhau (Cisne Branco) 13. Dobrado Primeiro grupo de Aviação Embarcada 14. Dobrado Bombardeio da Bahia

15. Dobrado n° 182

16. Dobrado n° 220 (Avante Camaradas) 17. Dobrado Marcha de Guerra Brasil

(BOLETIM DO EXÉRCITO BRASILEIRO, Nº 25, 23 de junho de 2000, p.27, portaria 008).

Sabemos, entretanto, que o repertório de dobrados executados por Bandas Militares do Exército é mais extenso do que o apresentado no referido boletim, todavia esse documento serve como ponto de partida para o presente artigo. Assim, decidimos adaptar para quarteto de clarinetes, apesar da relação do Boletim supracitado conter 17 (dezessete) composições do gênero, os dobrados do compositor baiano Antônio Manoel do Espírito Santo – dobrado 220;

dobrado Bombardeio da Bahia, dobrado 182, dobrado Cisne Branco, dobrado Quatro Dias de Viagem.

Sobre o compositor Antônio Manoel do Espírito Santo, não possuímos muitas informações a respeito de sua trajetória. Porém, no estudo de Meira e Schirmer (2000) concernente à História da música militar e bandas militares, consta que o compositor foi mestre de banda e compositor de diversos dobrados. Além disso, foi aprendiz do Arsenal de Guerra da Bahia, onde, no passado, eram ensinados ofícios aos jovens em situação de vulnerabilidade social. De acordo com o estudo citado anteriormente, Antônio Manoel do Espírito Santo, mesmo falecido aos 29 anos de idade, deixou-nos um legado de mais de duzentas obras de mais alto nível. Infere-se que o número “220”, título de uma de suas obras (dobrado 220), seja o número de catálogo de suas composições, visto que essa informação se faz recorrente em outros dobrados do autor.

Dessa forma, a partir do que foi apresentado, este artigo tem como objetivos específicos, os seguintes pontos: 1)Descobrir os atributos musicais trabalhados com a adaptação do dobrado para quarteto de clarinetes; 2) Conhecer os benefícios da prática da música de câmara para o naipe de clarinetes; 3) Realizar propostas para implantação da prática da música de câmara em bandas de música.

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Para tanto, utilizamos como instrumento de coleta de dados, a entrevista semi- estruturada que segundo Laville e Dionne (1999, p. 188) é uma série de perguntas abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimento. A mesma está registrada mais adiante neste artigo e ocorreu após uma oficina de música de câmara realizada na banda de música com a adaptação para quarteto de clarinetes do dobrado 220 (Avante Camaradas) contando com a participação, voluntária, de quatro clarinetistas da banda.

No que tange à modalidade de pesquisa, este artigo se configura como um Estudo de Caso de caráter qualitativo. Logo, busca se aprofundar em uma realidade particular, específica, de modo que suas conclusões não devem ser difusas. Porém, possibilita compreender de forma concreta uma determinada realidade (PENNA, 2015, p.101).

Quanto ao referencial teórico, este trabalho se ampara na pesquisa de Frederico Meireles Dantas (2015) acerca da Composição inovadora para banda filarmônica; dos escritos de Pedro Marquês de Sousa (2017) que trata da história das bandas de música em Portugal; e no estudo de Everaldo do Espírito Santo e Santos (2018) com relação ao aperfeiçoamento do músico filarmônico através das práticas camerísticas.

Apesar de possuir informações relevantes quanto às bandas de música militares e civis e o aperfeiçoamento do músico, nenhuma dessas pesquisas aborda a formação de um repertório de dobrados adaptados para música de câmara, fato que justifica o presente trabalho.

1 - O DOBRADO – contextualizando

O gênero musical dobrado é uma marcha, ou seja, é resultado das atividades de musicalização das manobras militares. Concernente a isso, Sousa (2017, p. 107) nos expõe:

A marcha é o gênero musical que resultou diretamente da dimensão funcional da música militar, pela sua utilização operacional nas manobras táticas [...] em linha de combate. O termo marcha originalmente significa um tipo de manobra [...].

No entanto, para maior compreensão da relação entre essas manobras militares e o dobrado, necessitamos discorrer a respeito desses deslocamentos. A respeito disso, Rocha (2011, p.4), em sua pesquisa a respeito do gênero musical dobrado, expõe basicamente três tipos de manobras realizadas pelas tropas de cavalaria:

1) Passo de estrada – deslocamento lento para longos percursos;

2) Passo de parada ou passo dobrado – deslocamento com o andamento próximo ao dobro do anterior.Utilizada em desfiles, continências e paradas militares;

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3) Passo acelerado – deslocamento com andamento rápido utilizada para o ataque.

Diante do exposto, tendo em vista auxiliar na marcação da cadência das tropas nos deslocamentos abordados anteriormente, era tradição a utilização de grupos de músicos com instrumentos de percussão e instrumentos de sopro. Segundo Rocha (2011), com o passar do tempo, o termo “passo dobrado”, que se referia, como já mencionado, ao deslocamento da tropa com andamento próximo ao dobro do “passo de estrada”, passou a ser sinônimo do gênero musical executado pelos grupos de instrumentistas que tocavam nessa manobra, ou seja, em desfiles, continências e paradas militares.

Com a formação de diversas bandas civis e militares em todo o território brasileiro, o

“passo dobrado” europeu, gradativamente, foi absorvendo diversas características regionais, se desvinculando da influência das marchas européias e se consolidando como um gênero musical de identidade própria com características harmônicas, formais, melódicas e contrapontísticas que o diferenciava de outros gêneros musicais do mesmo estilo.

Dessa forma, podemos afirmar que, o “passo dobrado”, sob a denominação genérica de “dobrado”, se afastou do seu modelo europeu e por meio de tantas características distintas de sua origem, se tornou uma marcha genuinamente brasileira.

Quanto a isso, Rocha (2011, p. 7) nos afirma:

[...] Resultou, daí, a gradativa consolidação de uma marcha brasileira, que, sob a denominação genérica de “dobrado”, foi adquirindo e sedimentando características muito peculiares. E, na medida em que foi se distanciando dos modelos herdados do passo dobrado e das marchas européias, o dobrado foi se consolidando como a marcha nacional brasileira por excelência [...].

No que tange à forma do dobrado, sua estrutura mais básica é dividida em três partes – parte A, parte B e TRIO- acrescidas de introdução, ponte e coda. Apesar disso, encontramos no repertório brasileiro, dobrados que possuem inúmeras variações quanto a forma, no entanto, apesar da riqueza de detalhes quanto à estrutura do dobrado, não caberia neste artigo as inúmeras informações a respeito dos aspectos formais deste gênero e suas diversas características.

Assim, podemos inferir que o dobrado é uma marcha com características brasileiras, executada em ritmo binário, andamento metronômico entre 112 e 116 passos por minuto e com harmonia definida de acordo com as regras clássicas.

Vale ressaltar que, o dobrado possui uma linguagem instrumental própria. Dantas (2015) aborda essa linguagem como “função instrumental”, ou seja, o que cada grupo de instrumentos da banda de música executa para dar identidade ao gênero. Assim, de acordo com o autor mencionado, identificamos, basicamente, as seguintes funções:

Referências

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