Faculdade de Direito
Departamento de Direito Público
JOÃO VICENTE GRANJA DE MACEDO
A ANÁLISE DA INTERNET COMO MEIO DE PROPAGANDA ELEITORAL
JOÃO VICENTE GRANJA DE MACEDO
A ANÁLISE DA INTERNET COMO MEIO DE PROPAGANDA ELEITORAL
Monografia
apresentada
à
banca
examinadora da Faculdade de Direito da
Universidade Federal do Ceará como
requisito parcial para a obtenção do grau
de bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Dr. Francisco Regis
Frota Araújo
JOÃO VICENTE GRANJA DE MACEDO
A ANÁLISE DA INTERNET COMO MEIO DE PROPAGANDA ELEITORAL
Monografia submetida à Coordenação
do curso de Direito da Universidade
Federal do Ceará como requisito parcial
para a obtenção do grau de bacharel em
Direito.
Orientador: Prof. Dr. Francisco Regis
Frota Araújo
Aprovada em ____/____/____
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
PROF. DR. FRANCISCO REGIS FROTA ARAÚJO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
________________________________________________________
MESTRANDO TIBÉRIO CARLOS SOARES ROBERTO PINTO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
________________________________________________________
MESTRANDO ERIC DE MORAES E DANTAS
A minha família, que sempre me apoiou
tanto nos momentos de alegria quanto
nos momentos de tormenta, na maioria
das vezes, inclusive, fazendo grandes
sacrifícios pessoais para que pudesse
desfrutar de uma educação de alto nível.
Em suma, por eles é quem devo minha
retidão de caráter.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Francisco Regis Frota Araújo por todo o apoio dispensado no presente
ano. Desde minha aprovação no concurso público da Polícia Federal, em meio a grande
agitação e pressão, física e psicológica, o mesmo se mostrou totalmente solidarizado
com minha situação, prestando-me um apoio incondicional. Sem contar o fato de, por
motivos técnicos, ter pegado essa orientação monográfica de última hora, sem
pestanejar,
comprovando,
assim,
mais
uma
vez
o
apoio
supracitado.
Ao Mestrando Eric de Moraes e Dantas, que desde o período colegial – Cursinho
Colégio Ari de Sá Cavalcante - já se mostrava um grande amigo.
Ao amigo Mestrando Tibério Carlos, desde os tempos da disciplina de Direito
Tributário II, como monitor, já se mostrava disponível para esclarecer dúvidas,
demonstrando total cordialidade.
RESUMO
A presente monografia tem como objeto de estudo a utilização da internet como instrumento de
propaganda eleitoral. Esta por sua vez, tem como objetivo a captação de voto dos eleitores,
utilizando diversas modalidades com o fim de convencê-los que determinado candidato é o
mais apto para exercer um cargo público eletivo. Sendo importante seguir o que diz a
legislação em relação à propaganda eleitoral, preservando-se, dentre outros, o princípio da
igualdade de condições para aqueles que disputam a pleito. No aspecto da propaganda eleitoral,
onde tantas limitações existem, a internet mostra-se um meio apropriado e barato para a
propagação das propostas dos candidatos e no mundo da democracia tem mostrado um enorme
vigor. A utilização da internet proporciona uma maior interação entre candidato e eleitor,
quebrando barreiras e tornando a disputa mais igualitária. Nas campanhas eleitorais, a internet
era pouco explorada até as eleições de 2008, sofrendo bastantes restrições.
Contudo, a Lei nº 12.034/09 trouxe modificações sobre essa modalidade de propaganda
eleitoral, que serão abordadas com detalhes no decorrer deste trabalho monográfico.
ABSTRACT
This monograph has as its object of study using the internet as a tool for electioneering. This in
turn is aimed at attracting votes from voters using several modalities in order to convince them
that a particular candidate is better able to perform elective public office. While it is important
to follow what the law says regarding electioneering, preserving, among others, the principle of
equal conditions for those who dispute the claim. In the aspect of electioneering, where there
are so many limitations, the Internet proves to be a suitable and inexpensive means for the
propagation of the candidates' proposals and democracy in the world has shown a tremendous
force. The use of the Internet provides greater interaction between candidate and voter,
breaking barriers and making the dispute more egalitarian. In election campaigns, the Internet
was little explored until the 2008 elections, suffering enough restrictions.
However, Law No. 12.034/09 modifications brought about this type of electioneering, which
are discussed in detail throughout this monograph.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ... 10
1 PROPAGANDA POLÍTICA ... 13
1.1 Propaganda eleitoral ... 15
1.2 Propaganda intrapartidária ... 18
1.3 Propaganda partidária ... 18
1.4 Propaganda institucional ... 20
2 PROPAGANDA ELEITORAL ... 23
2.1 Propaganda lícita ... 24
2.2 Propaganda ilícita ... 26
2.2.1 Propaganda criminosa ... 26
2.2.2 Propaganda irregular ... 29
3 PROPAGANDA ELEITORAL NA INTERNET ... 32
3.1 Evolução do disciplinamento ... 32
3.2 Lei nº 12.034/09 ... 34
3.2.1 Modalidades permitidas ... 37
3.2.2 Modalidades proibidas ... 39
3.2.3 Direito de resposta ... 40
CONCLUSÃO ... 42
REFERÊNCIAS ... 45
INTRODUÇÃO
O presente trabalho monográfico visa discorrer sobre a utilização da internet como
instrumento de propaganda eleitoral, que passou a seguir regras próprias após as
mudanças que ocorreram com a regulamentação da Lei nº 12.034/09.
Neste trabalho, houve o cuidado de analisar a obediência ao princípio da liberdade
plena de pensamentos e de informação nas formas e modalidades de propaganda
eleitoral, inclusive quanto à propaganda eleitoral pela internet, uma vez que o Direito
Eleitoral tem que observar as regras constitucionais.
A propaganda eleitoral é instrumento essencial para um candidato a cargo de
representação popular, é nela que ele vai tentar convencer o eleitorado de que é o
melhor entre os outros concorrentes.
Assim, os candidatos e partidos políticos irão empregar todas as formas para que
suas propostas cheguem até seus eleitores, utilizando-se desde métodos antigos até o
que existir de mais atual, como a mídia eletrônica, pois o que interessa é uma maior
captação de sufrágio.
Outro aspecto de importância relevante para a feitura desta monografia mora no
fato de que a legislação eleitoral é muito instável no tempo e no conteúdo de suas
normas. O que era proibido numa dada eleição, poderia ser permitido em outra e
vice-versa. Havia sempre uma expectativa no ano eleitoral, às vezes angustiante para
candidatos e partidos políticos, pois não se sabia ao certo o que era lícito ou ilícito em
propaganda, sempre se fazendo necessária a consulta a advogados especialistas na área
eleitoral.
Nesse sentido, um fator importante a ser observado por quem vai se beneficiar da
propaganda eleitoral é o quesito da tempestividade da propaganda eleitoral.
Caracteriza-se propaganda extemporânea, aquela que, embora feita pelos meios lícitos de
manifestação eleitoral, é posta em prática em momento vedado em lei especifica.
A possibilidade trazida pelas modificações da Lei nº Lei 9.504/97 e pela Lei nº
12.034/09 de se utilizar a internet fez com que as campanhas eleitorais ficassem mais
disputadas, não existindo privilégios para partidos maiores em detrimento dos menores.
Na internet há uma disputa igualitária, sendo também passível de condenações caso haja
qualquer descumprimento das regras a serem seguidas.
Destarte, o modelo que foi regulamentado aqui no Brasil teve como fonte de
inspiração a 1ª campanha realizada por Barack Obama, ao enxergar a internet como uma
importante forma de divulgação de propostas e uma maneira eficiente na arrecadação de
fundos para campanha.
Nesse azo, estão sites, blogs e páginas em redes sociais, proporcionando uma
maior aproximação entre candidatos e uma parcela considerável da população, sendo
seguidas todas as recomendações trazidas pela Lei nº 12.034/09.
No decorrer deste trabalho monográfico, procura-se responder a determinados
questionamentos, tais como: quais as diferentes espécies de propaganda política? O que
se entende por propaganda eleitoral lícita? O que se sabe sobre propaganda eleitoral
ilícita e suas modalidades: a criminosa e a irregular? Em que consiste a propaganda
eleitoral na internet?
Ademais, esta pesquisa tem como justificativa, a relevância do assunto, não só
para os candidatos a cargos públicos, mas para toda a população que precisa estar ligada
a tudo que diz respeito à eleição daqueles que irão, através de seu voto, comandar o
país, importando-se as diferentes formas de divulgação de idéias e propostas dos
candidatos, inclusive através da internet.
resposta no que diz respeito à propaganda eleitoral na internet e sobre quem recai a
responsabilidade pela divulgação de propaganda irregular.
Assim, para fins didáticos, a presente monografia divide-se em três capítulos,
distribuídos na forma explicitada a seguir.
No primeiro capítulo, analisa-se a propaganda política e suas espécies. No
segundo capítulo, trata-se da propaganda eleitoral lícita, bem como da propaganda
eleitoral ilícita e suas modalidades: a criminosa e a irregular. Por fim, no terceiro
capítulo, verifica-se a utilização da internet como meio de propaganda eleitoral.
1 PROPAGANDA POLÍTICA
O termo propaganda está inserido no conceito de publicidade, podendo ser considerada
uma das espécies deste gênero. Esta nada mais é do que a comunicação de determinado
acontecimento ou fato a todos os seus destinatários, de modo que essa comunicação não tem
interesse que seja assimilada como algo positivo ou negativo.
A propaganda política enquadra-se no tema do Direito Eleitoral, sendo este o ramo do
direito público que estuda todas as etapas do processo eleitoral, tais como o alistamento, a
diplomação, os crimes e o processo. Ela reúne um conjunto de técnicas empregadas para
convencer as pessoas na tomada de suas decisões.
Propaganda consiste em uma técnica de apresentação de argumentos e opiniões ao público, de tal modo organizada e estruturada para induzir conclusões ou pontos de vista favoráveis aos seus enunciantes. É um poderoso instrumento de conquistar a adesão de outras pessoas, sugerindo-lhes idéias que são semelhantes àquelas expostas pelos propagandistas. (Coneglian apud Ferreira, 2010, p. 30).
A ideia de propaganda política é tão antiga quanto a de democracia. Todos que precisam
da votação popular para ocupar uma função pública inevitavelmente terão de se munir de
técnicas e métodos de propaganda para difundir suas idéias. A propagação de informações
políticas também configura exercício de cidadania porque quanto mais informada estiver a
sociedade, melhor será sua escolha e sua consciência política.
A democracia, fundamentada em princípio que domina todas as formas de convivência política, traduz na convicção mais sedimentada, hoje aceita, que todo homem é titular do direito fundamental de participar politicamente de sua cidade. Mais ainda do direito fundamental de ter uma participação efetiva e onerosa em benefício de si mesmo e do outro em qualquer parte do Planeta, em qualquer cidade, onde haja homens a lutar pelos seus direitos. Não há democracia sem que o direito fundamental à participação política, social e econômica esteja plenamente assegurado. Não há participação política sem que o traçado da democracia se mostre firme.
[...]
É exatamente a participação do cidadão que manifesta a extensão do exercício da liberdade individual e social, a condição do princípio da igualdade no Direito. Como se dá a participação política do cidadão e, principalmente, o grau e a forma livre de exercício dessa atuação, e a efetividade do resultado de tal participação é que configuram o paradigma democrático acolhido em dada sociedade. Assim, a cidadania é o outro nome com que se veste o princípio democrático. (PINTO apud ROCHA, 2009, on-line).para a democracia. Quanto mais bem informada estiver a população, melhor será a sua opção
de voto e menores serão as fraudes na obtenção deste.
Em relação ao aspecto político, a propaganda se distingue da propaganda comum, voltada para o consumo, justamente por apresentar finalidade diversa, tendo por
objetivo interferir nas decisões tomadas pela organização política institucionalizada,
atingindo, desta forma, todas as classes sociais, devendo ser minuciosamente
regulamentada por legislação específica. (PINTO apud VELLOSO, 2009, on-line).
É impossível o Estado deixar de regular o exercício do direito de propaganda política,
deixando-a ao encargo dos interessados. Diferentes razões impõem esse regramento à
sociedade. A manutenção da ordem pública, da moral e dos bons costumes, o controle do
abuso do poder político e econômico, a defesa da soberania, dos direitos e a imposição dos
deveres, individuais e coletivos, previstos na Constituição Federal, bem como a defesa dos
princípios fundamentais, vigentes no País, são alguns dos fatores que estão a indicar a
necessidade do controle jurídico-estatal da propaganda política. Esse controle deverá ser
exercido conforme a lei, de forma exclusiva pela Justiça Eleitoral.
O Tribunal Superior Eleitoral decidiu em um de seus julgados que: “Em período
eleitoral, a liberdade de informação sofre restrições, com intuito de preservar necessário
equilíbrio e igualdade entre os candidatos.” (Ac. n.º 3806, de 10/04/2003, rel. Min. Barros
Monteiro).
As informações, quais quer que sejam, só chegam ao conhecimento geral quando
veiculadas por meios de comunicação de massa. Quem não tem formas de divulgar suas idéias
não tem acesso ao poder e, assim, não faz com que suas idéias cheguem ao seu público alvo.
Na sociedade globalizada de hoje não tem como fazer propaganda política entregando-se
panfletos ou “santinhos” de mão em mão.
De acordo com Cândido (2006, p. 156) a propaganda política rege-se por princípios, os
quais servem de base para nortear a campanha dos candidatos, quais sejam:
3º) Princípio da responsabilidade – toda a propaganda é de responsabilidade dos partidos políticos e das coligações, solidários com os candidatos e adeptos pelos abuso e excesso que cometerem.
4º) Princípio do igualitário - todos, com igualdade de oportunidades, têm o direito à propaganda, paga ou gratuita.
5º) Princípio da disponibilidade - decorrente do princípio da liberdade de propaganda, significa que os partidos políticos, coligações, candidatos e adeptos podem dispor da propaganda lícita, garantida e estipulada pelo Estado, já que a lei pune com sanções penais a propaganda criminosa e pune a propaganda irregular com sanções administrativas-eleitorais, precipuamente.
6º) Princípio do controle judicial da propaganda – consiste na máxima segundo a qual á Justiça Eleitoral, exclusivamente, incumbe a aplicação das regras jurídicas sobre a propagandae, inclusive, o exercício de seu Poder de Polícia.
A propaganda política é gênero, dividida em espécies: propaganda eleitoral, propaganda
intrapartidária, propaganda partidária e propaganda institucional, as quais serão abordadas de
forma detalhada, com o objetivo de evitar possíveis equívocos na leitura da monografia e na
interpretação legal.
1.1 Propaganda eleitoral
A Constituição Federal, ao tratar dos princípios fundamentais, em seu artigo 1º, afirma
que a República Federativa do Brasil constitui-se de Estado Democrático de Direito. No
parágrafo único do mesmo artigo está escrito que: “todo poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. O conceito
de propaganda eleitoral de acordo com Djalma Pinto (2006, p. 231) é:
A propaganda eleitoral é aquela feita por candidatos e partidos políticos, que objetiva a captação de voto para investidura na representação popular. Está intimamente relacionada com o processo eletivo, sendo direcionada para captar a simpatia do eleitor por ocasião da escolha de seus governantes.
A democracia brasileira é exercida sob a forma da representação, sendo pré- requisito o
direito de acesso de todos ao poder, em igualdade de condições. A própria atuação dos veículos
de comunicação passa a seguir as regulamentações de lei específica com o objetivo de
preservar igualdade na disputa política. Assim, a partir de 1º de julho do ano da eleição, às
emissoras de rádio e televisão são impostas certas vedações, elencadas no art. 45 da Lei nº
9.504/97, in verbis:
III – veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes;
IV – dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação;
V – veicular ou divulgar filmes, novelas, minisséries ou qualquer outro programa com alusão ou crítica a candidato ou partido político, mesmo que dissimuladamente, exceto programas jornalísticos ou debates políticos;
VI – divulgar nome de programa que se refira a candidato escolhido em convenção, ainda quando preexistente, inclusive se coincidente com o nome do candidato ou com a variação nominal por ele adotada. Sendo o nome do programa o mesmo que o do candidato, fica proibida a sua divulgação, sob pena de cancelamento do respectivo registro.
O direito à liberdade de propaganda é mencionado no art. 248 do C.E, que diz: “ninguém
poderá impedir a propaganda eleitoral, nem inutilizar ou perturbar os meios lícitos nela
empregados”. Não se limitou o legislador a proclamar a liberdade de propaganda; garantiu a
sua eficácia através da consagração das duas figuras delitivas, para punir os que atentarem
contra a propaganda lícita, quais sejam:
Art.331. Inutilizar, alterar ou perturbar meio de propaganda devidamente empregado:
Pena – detenção até seis meses ou pagamento de noventa a cento e vinte dias-multa.
Art. 332. Impedir o exercício de propaganda:
Pena – Detenção até seis meses e pagamento de trinta a sessenta dias multa.
Todo candidato, partido ou coligação tem direito à propaganda, entretanto, este direito
não é absoluto. Tem ele por limite as normas de postura e a ordem pública. O legislador deixou
bem claro esse direito ao dispor no art. 249, do Código Eleitoral, que “O direito de propaganda
não importa restrição do poder de polícia quando este deva ser exercido em benefício da ordem
pública.”
Nesse sentido, a veiculação da propaganda eleitoral só é permitida após o dia 5 de julho
do ano eleitoral, ou seja, a partir de 6 de julho daquele ano (art. 36, caput, da Lei 9.504/97). Já
o final da propaganda eleitoral ocorrerá com o término da votação, quando não há mais
possibilidade de captação de voto, sendo que certas modalidades de propaganda podem ter sua
veiculação encerrada anteriormente, como as previstas no artigo 240 do Código Eleitoral. Este
dispositivo deve ser lido e interpretado com cuidado. Veja-se, in verbis:
Art. 240. A propaganda de candidatos a cargos eletivos somente é permitida após a respectiva escolha pela convenção. (Vide Lei nº 12.034, de 2009)
O que se pretende com esse período de proibição à propaganda é garantir a paz e ordem
nos momentos anteriores e posteriores à votação. Entretanto, como já foi dito anteriormente,
alguns tipos de propaganda podem ser veiculados inclusive no dia do pleito.
Diante do que foi dito, a ninguém é dado o direito de, até o dia 5 de julho do ano em que
houver eleição, fazer propaganda eleitoral. Saliente-se que a restrição que se faz à atuação da
imprensa não fere o princípio constitucional de liberdade de expressão ou de informação, pois
decorre de outros princípios igualmente constitucionais, que são os de lisura e legitimidade dos
pleitos e igualdade dos candidatos.
O Juiz Eleitoral tem autorização legal para providenciar as medidas cabíveis para fazer
cessar uma ilicitude eleitoral, posto que a Justiça Eleitoral tem a função de presidir, organizar,
promover e fiscalizar as eleições, bem como de exercer o poder de polícia sobre a propaganda
eleitoral.
A questão da responsabilidade sobre a propaganda eleitoral era atribuída aos partidos
políticos, de acordo com o aludido no art. 241 do Código Eleitoral, in verbis:
Art. 241 – Toda propaganda eleitoral será realizada sob a responsabilidade dos partidos e por eles paga, imputando-lhes solidariamente nos excessos praticados pelos seus candidatos e adeptos.
Assim, a responsabilidade dos partidos é principal, já a responsabilidade de candidatos
ou adeptos é derivada, havendo solidariedade entre ambos. Houve muitas mudanças em
relação a este assunto, modificando-se essa repartição de responsabilidade com a
regulamentação da Lei nº 8.713/93, da Lei nº 9.100/95 e da Lei nº 9.504/97.
Um dos pontos que gerou divergência foi justamente em relação à responsabilidade
atribuída somente aos partidos políticos. No Código Eleitoral, já nas leis supracitadas,
destinaram a responsabilidade sobre toda despesa de campanha aos partidos políticos ou seus
candidatos, incluindo as que eram gastas com a elaboração das campanhas eleitorais,
conforme o que rezam os arts. 17 e 20 da Lei nº 9.504/97:
Art. 17 – As despesas de campanha eleitoral serão realizadas sob a responsabilidade dos partidos, ou de seus candidatos, e financiadas na forma desta Lei.
[...]
repassados pelo comitê, inclusive os relativos a cota do Fundo Partidário, recursos próprios ou doações de pessoas físicas ou jurídicas, na forma estabelecida nesta Lei.
Diante das mudanças, ao partido pode ser atribuída responsabilidade caso tenha realizado
realmente as despesas, mas se estas fossem realizadas pelo candidato, o partido pode ser ou não
responsabilizado.
No que diz respeito ao conteúdo da propaganda eleitoral a responsabilidade é destinada
sobre quem elabora e confecciona a propaganda (partido) ou sobre quem se beneficia da
propaganda (candidato).
1.2 Propaganda intrapartidária
A propaganda intrapartidária é realizada pelos postulantes a cargos eletivos, ficando
restrita a sua divulgação ao público interno dos respectivos partidos políticos aos quais são
filiados. É permitida na quinzena anterior à data marcada à realização das convenções
partidárias, que devem ocorrer entre o dia 10 e 30 de junho do ano eletivo e seu objetivo é
captar votos dos convencionais, a fim de que o postulante seja escolhido candidato. Dessa
forma, os partidos políticos devem comunicar a data das convenções com antecedência
suficiente para que se dê o prazo para a propaganda intrapartidária. A Lei 9.504/97, em seu art.
36, § 1º, faz menção à propaganda intrapartidária, in verbis:
Art. 36 - [...]
§1º - Ao postulante a candidatura a cargo eletivo é permitida a realização, na quinzena anterior à escolha pelo partido, de propaganda intrapartidária com vista à indicação de seu nome, vedado o uso de rádio, televisão e outdoor.
Como foi anteriormente citado, é vedada a veiculação da propaganda intrapartidária por
meio de rádio, televisão e outdoor. Esta consiste basicamente em mensagens aos
convencionais, através do uso de cartazes e faixas, dispostos nas proximidades do local onde
será realizada a convenção, além de telefonemas, reuniões, mensagens eletrônicas e contatos
pessoais, tudo conforme as resoluções do TSE.
1.3 Propaganda partidária
menciona aquilo que é considerado permitido e vedado em relação à propaganda partidária, a
saber:
Art. 45 – A propaganda partidária gratuita, gravada ou ao vivo, efetuada mediante transmissão por rádio e televisão será realizada entre as dezenove horas e trinta minutos e as vinte e duas horas, com exclusividade:
I – Difundir os programas partidários;
II – transmitir mensagens aos filiados sobre a execução do programa partidário, dos eventos com este relacionados e das atividades congressuais do partido;
III – divulgar a posição do partido em relação a temas político-comunitários;
IV – promover e difundir a participação política feminina, dedicando ás mulheres o tempo que será fixado pelo órgão nacional de direção partidária, observado o mínimo de 10% (dez por cento).
§ 1º - Fica vedada, nos programas de que trata este Título:
I – a participação de pessoa filiada a partido que não a responsável pelo programa; II - a divulgação de propaganda de candidatos a cargos eletivos e a defesa de interesses pessoais ou de outros partidos;
III - a utilização de imagens ou cenas incorretas ou incompletas, efeitos ou quaisquer outros recursos que distorçam ou falseiem os fatos ou a sua comunicação.
§ 2º - O partido que contrariar o disposto neste artigo será punido:
I – quando a infração ocorrer nas transmissões em bloco, com a cassação do direito de permissão no semestre seguinte;
II – quando a infração ocorrer nas transmissões em inserções, com a cassação de tempo equivalente a 5 (cinco) vezes ao da inserção ilícita, no semestre seguinte.
Existem critérios que fazem com que os partidos tenham direito à propaganda gratuita
partidária. A Lei dos Partidos Políticos, em seus arts. 48 e 49, versa sobre este tema:
Art. 48 – O partido registrado no Tribunal Superior Eleitoral que não atenda ao disposto no art. 13 tem assegurada a realização de um programa em cadeia nacional, em cada semestre, com a duração de dois minutos.
Art. 49 – O partido que atenda ao disposto no art. 13 tem assegurada:
I - a realização de um programa, em cadeia estadual em cada semestre, com a duração de vinte minutos cada;
II – a utilização do tempo total de quarenta minutos, por semestre, para inserções de trinta segundos ou um minuto, nas redes nacionais, e de igual tempo nas emissoras estaduais.
Nesse azo, essa espécie de propaganda não poderá ser divulgada durante o segundo
semestre do ano de eleição, conforme estabelece art. 36, § 2º da Lei 9.504/97.
Ressalte-se ainda que não é raro que a propaganda intrapartidária e partidária sejam
desviadas de sua finalidade, a fim de ressaltar a figura, as ações e os méritos do filiado que será
candidato no próximo pleito. Sendo motivo de posicionamento do TSE:
A legitimidade para representar contra partido por desobediência à lei pertence
exclusivamente a outro partido ou ao Ministério Público. Como se trata de propaganda
partidária realizada fora do período eleitoral, não existem candidatos nem coligações
partidárias. Assim, a única parte que pode representar é outro partido. Na Lei 9.096/95, em art.
45, § 3º o tema ficou decidido. Diz o dispositivo:
Art. 45 – [...]
§3º - A representação que somente poderá ser oferecida por partido político, será julgada pelo Tribunal Superior Eleitoral quando se tratar de programas em bloco ou inserções nacionais e pelos Tribunais Regionais Eleitorais quando se tratar de programa em bloco ou inserções transmitidas nos estados correspondentes.
Quando ocorre infração do texto legal, afirma Coneglian (20010, p.205- 206) que há um
desvio da propaganda partidária. Fere a lei a propaganda gratuita em que se encontre um desses
elementos:
1. Participação de pessoa filiada a outro partido;
2. Divulgação de propaganda de candidatos a cargos eletivos; 3. Defesa de interesses pessoais;
4. Defesa de outros partidos;
5. Utilização de imagens ou cenas incompletas ou incorretas;
6. Utilização de efeitos ou quaisquer recursos que distorçam ou falseiem os fatos ou a sua comunicação.
Em caso de violação ao disposto no artigo citado, o partido será punido com a cassação
do direito de transmissão no semestre seguinte, quando a infração ocorrer nas transmissões em
bloco,e com a cassação de tempo equivalente a cinco vezes ao da inserção ilícita, no semestre
seguinte, quando a infração ocorrer nas transmissões em inserções.
1.4 Propaganda institucional
A propaganda institucional deve ser autorizada por agente público e custeada pelo Poder
Público, não sendo permitida a ajuda financeira privada. Djalma Pinto (2006, p. 242) menciona
o conceito de propaganda institucional: “É aquela feita pelo Poder Público para prestação de
contas de suas atividades perante a população. Objetiva divulgar as realizações da
Administração, orientar os cidadãos sobre assuntos de seu interesse, sem servir, contudo, de
instrumento de promoção pessoal. Está assim autorizada no art. 37, § 1º, da Constituição
Federal:
contar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem a promoção pessoal de autoridades e serviços públicos.
Ou seja, tem-se como divulgar programas, atos, obras e serviços patrocinados ou
realizados pela Administração Pública, de forma objetiva e transparente. Tendo, portanto,
natureza informativa.
A Lei 9.504/97, em seu art. 73, caput, VI, alíneas “b”, “c” e VII, §3º estabeleceu
vedações à publicidade institucional:
Art. 73 – São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre os candidatos nos pleitos eleitorais:
[...]
VI – nos três meses que antecedem ao pleito: [...]
b) com exceção da propaganda de produtos e serviços que tenham concorrência no mercado, autorizar publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, salvo em casa de grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral.
c) fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, fora do horário eleitoral gratuito, salvo quando, a critério da Justiça Eleitoral, tratar-se de matéria urgente, relevante e característica das funções de governo.
VII – realizar, em ano de eleição, antes do prazo fixado pelo inciso anterior, despesas com publicidade dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, que excedam a média dos gastos nos três últimos anos que antecedem o pleito ou do último ano imediatamente anterior à eleição.
[...]
§3º - As vedações do inciso VI, do caput, alíneas b e c, aplicam-se apenas aos agentes públicos das esferas administrativas cujos cargos estejam em disputa na eleição.
Esta determinação legal tenta impedir o abuso do poder político, tendo como objetivo
maior a igualdade entre os candidatos e, assim, assegurar a transparência dos pleitos. Sobre o
assunto supracitado Djalma Pinto (2006, p. 243-244) diz:
A distorção da propaganda institucional, com a finalidade de promover a pessoa do
titular do poder, através da exaltação de seu nome, acarreta abuso de autoridade, sujeitando, o
infrator, se candidato, ao cancelamento do registro de sua candidatura. Diante do exposto,
dispõe o art. 74, caput, da Lei 9.504/97, a saber:
Art. 74 – Configura abuso de autoridade, para os fins do art. 22 da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, a infringência do disposto no § 1º do art.37 da Constituição Federal, ficando o responsável, se candidato, sujeito ao cancelamento do registro ou diploma.
2 PROPAGANDA ELEITORAL
Um aspecto interessante na utilização da propaganda eleitoral é que o candidato nunca
está satisfeito quando se trata desta, pois tem sempre o medo de perder votos. Diante dessa
situação a propaganda eleitoral tenta abranger todos os meios de comunicação, não se
restringindo a um meio de comunicação específico.
Com o objetivo de fazer distinção entre propaganda política e propaganda eleitoral
Coneglian (2010, p. 31) aclara:
De qualquer forma a propaganda política é aquela que procura convencer o leitor (eleitor) a respeito de determinada atitude ou conduta ou programa de aspecto político. Neste ponto, a propaganda política é gênero, do qual propaganda eleitoral é espécie. Por sua vez a propaganda eleitoral é aquela dirigida diretamente à conquista do sufrágio para determinada e precisa eleição. A propaganda política busca adepto para uma idéia, uma ideologia, um partido, uma corrente. A propaganda eleitoral busca a conquista do eleitor e de seu voto.
Diante do exposto, tem que haver uma conciliação entre a liberdade e a isonomia na
propaganda eleitoral, levando-se em consideração que a propaganda é um conjunto de técnicas
utilizadas para estimular pessoas a tomarem suas decisões. No tocante à propaganda eleitoral,
que tem o objetivo de conquistar votos para os candidatos, tem que ser realizada tomando
como base a liberdade do cidadão na escolha em quem votar.
Como a propaganda eleitoral envolve um dos direitos fundamentais do cidadão, a
liberdade de pensamento, devem ser ponderados todos os princípios constitucionais, na medida
em que pode haver embate no direito à propaganda e no direito à liberdade de pensamento.
Devendo haver uma igualdade no acesso às informações, uma vez que a legitimidade da
propaganda eleitoral demanda uma ampliação de democracia.
2.1 Propaganda lícita
A propaganda lícita é aquela que é realizada de forma correta, de acordo com a lei,
diferentemente da propaganda irregular e criminosa, assunto debatido posteriormente neste
trabalho. De acordo com Cândido (2006, p.159):
Tem ela por pressuposto o Princípio da Liberdade da propaganda política. Será lícita toda a propaganda, por qualquer forma executada, que não proibida por lei comum ou criminal. As formas de sua realização ficam à conta dos partidos políticos e seus adeptos dos próprios candidatos e, fundamentalmente das empresas de publicidade que invadem o marketing político eleitoral.
Diante desse assunto, pode-se dizer que a mídia, principalmente a eletrônica, foi quem
liderou no que diz respeito às veiculações das publicidades. Muitos investimentos foram feitos
com as agências de publicidade e propaganda. Modernos sistemas e formas de comunicação de
massa, muitas vezes, utilizados nas vésperas dos pleitos, burlam os mecanismos de fiscalização
e controle da Justiça Eleitoral, os quais deverão ser severamente combatidos.
O primeiro requisito para ser constatada a licitude da propaganda eleitoral é o momento
de sua veiculação. Conforme o art. 36, da Lei nº 9.504/97, somente é permitida após o dia 5 de
julho do ano da eleição.
Outras exigências são encontradas, na propaganda eleitoral, e duas são consideradas
imprescindíveis para que a mesma seja transmitida ao eleitor, independente de sua modalidade:
a inclusão da legenda do Partido e a utilização da língua nacional.
Destarte é vedada a propaganda eleitoral que se mostre ofensiva à moral e aos bons
costumes tidos como padrões na sociedade. De acordo com Djalma Pinto (2006, p. 235):
Ofende a moral e os bons costumes a propaganda eleitoral que, por exemplo, exibe cenas de nudez. Num país, em que cresce de forma, preocupante, a gravidez de criança com menos de 15 anos, não se pode admitir que a exploração da sensualidade atinja também o horário eleitoral gratuito sob a supervisão da Justiça Eleitoral.
cartazes, de até
4m² (quatro metros quadrados) e que não contrariem a legislação eleitoral (art.
37, §2º da Lei nº 9.504/97).
Consideram-se bens de uso comum do povo, para fins eleitorais, além dos definidos no
Código Civil, aqueles a que a população em geral tem acesso, tais como clubes, lojas, cinemas,
igrejas, ginásios, centros comerciais, estádios, ainda que de propriedade privada.
Já nos bens particulares, conforme o art. 37, §2º, da Lei nº 9.504/97, independe da
autorização da Justiça Eleitoral e de licença municipal a veiculação de propaganda eleitoral
realizada através do uso de placas, faixas, pinturas ou cartazes. Também fica sob a
responsabilidade do partido, coligação ou candidato, de acordo com a art. 38, da lei nº
9.504/97, a veiculação de propaganda eleitoral pela distribuição de folhetos, volantes e outros
impressos.
Uma forma mais natural de exemplo de propaganda lícita é a propaganda gratuita pelo
rádio e televisão, motivo de bastante disputa, tanto entre os partidos como também entre os
candidatos, inclusive muitas vezes essas disputas são resolvidas através de medidas judiciais.
Diante do exposto, Cândido (2006, p. 160 e 161), elenca outros meios de propaganda lícita:
• Divulgação escrita ou falada, de modo direto: (Art. 244, I e II do C.E):
a) Fazer inscrições, nas fachadas dos prédios do partido, dos nomes dos candidatos ou siglas, com livre chamamento de voto.
b) Usar alto-falantes e amplificadores, das 8 às 24 horas, nesses mesmos locais, ou em veículos à sua disposição, também para veiculação de chamamentos e mensagens eleitorais. Proibição ou restrição: lei criminal comum, de posturas; art. 244, parágrafo único do Código Eleitoral e, também, o art. 39, § 5º, I, da Lei das Eleições.
• Divulgação pela imprensa:
a) Pelo rádio e televisão: participação dos candidatos em debates, entrevistas noticiários e comentários, entre si ou com convidados.
b)Pelo jornal ou revista: publicação de fotos do candidato, a pedidos, manifestos, declarações ou entrevistas, isoladas ou com outros candidatos e convidados.
Restrição: O Princípio Igualitário da Propaganda.
• Divulgação por meios tradicionais: comícios, passeatas, carreatas, reuniões, confraternizações e participações em solenidades partidárias e sociais. Distribuição, pessoal ou por adeptos, de impressos, ‘santinhos’, folhetos, currículos, propostas e plataformas eleitorais, inclusive por mala direta.
Restrição: Lei das Eleições, art. 39, § 5º, III.
• Divulgação em lugares cedidos ou autorizados:
a) Em locais públicos: colocação de faixas, cartazes, bandeiras estandartes e outras formas de chamamento, colocados em quadros ou painéis, previamente indicados pelas autoridades administrativas, sob o controle da Justiça Eleitoral, com a participação do Ministério Público (art. 256 do C.E). b) Em prédios particulares: é livre a propaganda lícita em prédios particulares
Restrição: legislação comum, criminal e de posturas.
A propaganda praticada de forma lícita é de interesse para se manter o Estado
Democrático de Direito. Com o sistema eleitoral baseado no sufrágio universal e direto, com
voto obrigatório e secreto, como o que existe aqui no Brasil, a lei, garante e até estimula o
candidato e os partidos políticos a se utilizarem da propaganda lícita.
2.2 Propaganda ilícita
A propaganda é considerada ilícita quando não é realizada em consonância com as
exigências da legislação. Existem duas modalidades dessa propaganda ilícita: a propaganda
criminosa e a propaganda irregular, ambas irão ser estudas neste trabalho. Vale ressaltar, que as
duas acarretam sanções eleitorais stricto sensu, porém a propaganda criminosa acarreta ao
infrator, cumulativamente, as penas criminais previstas em lei.
Cabe ao juiz eleitoral, o papel de fiscalizador da propaganda, devendo tomar as devidas
providências contra as práticas ilegais, não lhe sendo permitido, contudo, instaurar
procedimento de ofício para sancionar os infratores. Consequentemente, o juiz eleitoral deverá
comunicar o fato ao Ministério Público, para que proceda como achar necessário. É importante
ressaltar que o exercício do poder de polícia do juiz eleitoral não depende de provocação,
devendo ser exercido quando perceber que houve emprego de alguma irregularidade.
2.2.1 Propaganda criminosa
O crime eleitoral, no sentido amplo, é a prática ou exercício de ato, com previsão de
pena, que contraria regra jurídica já positivada no ordenamento. O ato de lesão está relacionado
com o processo eleitoral, o qual compreende desde o alistamento eleitoral até a diplomação do
eleito.
A propaganda eleitoral criminosa é aquela cujo tipo penal está previsto em lei eleitoral
vigente. Conforme Pinto (2006, p. 234):
O Código Eleitoral não é taxativo em relação aos crimes eleitorais e nem aos crimes de
propaganda eleitoral, havendo tipos penais previstos em leis esparsas. Nesse sentido, são
exemplos de crimes eleitorais definidos no Código Eleitoral:
Art. 323 – Divulgar, na propaganda, fatos que sabe inverídicos, em relação a partidos ou candidatos e capazes de exercerem influência perante o eleitorado:
Pena – detenção de dois meses a um ano, ou pagamento de 120 a 150 dias-multa. Parágrafo único – A pena é agravada se o crime é cometido pela imprensa, rádio ou televisão.
Art. 324 – Caluniar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando fins de propaganda, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena – detenção de seis meses a dois anos, e pagamento de 10 a 40 dias-multa. §1º Nas mesmas penas incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§2º A prova da verdade do fato imputado exclui o crime, mas não é admitida:
I – se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido, não foi condenado por sentença irrecorrível;
II – se o fato é imputado ao Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro; III – se o crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
Art. 325 – Difamar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de propaganda, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena – detenção de três meses a um ano, e pagamento de 5 a 30 dia-multa.
Parágrafo único – A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
Art. 326 – Injuriar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de propaganda ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena – detenção até seis meses, ou pagamento de 30 a 60 dias-multa. § 1º O juiz pode deixar de aplicara a pena:
I – se o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II – no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena – detenção de três meses a um ano e pagamento de 5 a 20 dias-multa, além das penas correspondentes à violência prevista no Código Penal.
Art. 327 – As penas cominadas nos artigos 324, 325 e 326, aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é cometido:
I – contra o Presidente da República ou qualquer chefe de governo estrangeiro; II – contra o funcionário público, e, razão de suas funções;
III – na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da ofensa. [...]
Art. 331 – Inutilizar, alterar ou perturbar meio de propaganda devidamente empregado:
Pena – detenção até seis meses ou pagamento de 90 a 120 dias-multa. [...]
Art. 334 – Utilizar organização comercial de vendas, distribuição de mercadorias, prêmios e sorteios para propaganda ou aliciamento de eleitores:
Pena – detenção de seis meses a um ano e cassação do registro se o responsável for candidato.
Art. 335 – Fazer propaganda, qualquer que seja sua forma, em língua estrangeira: Pena – detenção de três meses a sis meses e pagamento de 30 a 60 dias-multa. Parágrafo único – Além da pena cominada, a infração ao presente artigo importa na apreensão e perda do material utilizado na propaganda.
Art. 337 – Participar, o estrangeiro ou brasileiro que não estiver no gozo de seus direitos políticos, de atividades partidárias inclusive comícios e atos de propaganda em recintos fechados ou abertos:
Pena – detenção até seis meses e pagamento de 90 a120 dias-multa.
Parágrafo único – Na mesma pena incorrerá o responsável pelas emissoras de rádio ou televisão que autorizar transmissões de que participem os mencionados neste artigo, bem como o diretor de jornal que lhes divulgar os pronunciamentos.
Ademais a toda condenação definitiva por crime eleitoral acarreta, também, a
inelegibilidade do autor pelo prazo de oito anos, após o cumprimento da pena, de acordo com a
o art. 1º, I, e, da lei Complementar nº 64/90, com as alterações da Lei Complementar nº
135/2010 (Lei da Ficha Limpa), sem prejuízo das sanções impostas.
Há, ainda, na Lei 9.504/97, com as devidas alterações da Lei. 11.300/06, nos art. 39, §§
5º ao 8º e no art. 40, a prescrição de dispositivos nos quais ocorre tipificação de propaganda
eleitoral criminosa, in verbis:
Art. 39 – [...]
§5º Constituem crimes, no dia da eleição, puníveis com detenção, de seis meses a um ano, com alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e multa no valor de cinco mil UFIR:
I – o uso de alto-falantes e amplificadores de som ou a promoção de comício ou carreata;
II – a arregimentação de eleitor ou a propaganda de boca de urna;
III – a divulgação de qualquer espécie de propaganda de partidos políticos ou de seus candidatos.
§6º É vedada na campanha eleitoral a confecção, utilização, distribuição por comitê, candidato, ou com a sua autorização, de camisetas, chaveiros bonés, canetas, brindes, cestas básicas ou quaisquer outros bens ou materiais que possam proporcionar vantagem ao eleitor.
§7º É proibida a realização de showmício e de evento assemelhado para a promoção de candidatos, bem como a apresentação, remunerada ou não, de artistas com a finalidade de animar comício e reunião eleitoral.
§8º É vedada a propaganda eleitoral mediante outdoors, sujeitando-se a empresa responsável, os partidos, coligações e candidatos à imediata retirada da propaganda irregular e ao pagamento de multa no valor de 5.000 (cinco mil) a 15.000 (quinze mil) UFIRs.
Art. 40 – O uso, na propaganda eleitoral, de símbolos, frases ou imagens, associadas ou semelhantes às empregadas por órgão de governo, empresa pública ou sociedade de economia mista constitui crime, punível com detenção, de seis meses a um ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período, e multa no valor de dez mil a vinte mil UFIR.
Outra espécie de propaganda criminosa é a captação ilícita de votos, citada no art. 41-A
da Lei nº 9.504/97 e no artigo 299 do Código Eleitoral, já que se considera crime a compra de
votos do eleitor em troca de bens de uso pessoal e até dinheiro. Diante do exposto, afirma
Ramayana (2010, p.394):
O que é considerado crime e dá suporte para a deflagração da ação de captação ilícita de sufrágio é a mercantilização do voto em troca de bens de primeira necessidade da população. Exemplos: dentadura em troca de voto, injeção remédios, alimentos, materiais de construção e promessas diretas de emprego.
Vale lembrar que existem as determinações dos juízes eleitorais, que terão que ser
cumpridas. Se não forem, estarão os infratores no cenário da desobediência judicial prevista no
Código Eleitoral, no art. 347, a saber: “Art. 347 - Recusar alguém cumprimento ou obediência
a diligências, ordens ou instruções da Justiça Eleitoral ou opor embargos à sua execução: Pena
– detenção de três meses a um ano e pagamento de 10 a 20 dias-multa.”
Tanto na irregularidade como no crime, a propaganda eleitoral enseja sanções stricto
sensu, ou seja, não admite interpretações extensivas. Na propaganda criminosa, além das
sanções ordinárias, existem as criminais, discriminadas na legislação, como as penas privativas
de liberdade.
2.2.2 Propaganda irregular
Uma conduta delituosa que não está descrita em lei no respectivo capítulo dos crimes
eleitorais nem presente na legislação eleitoral extravagante como sendo crime eleitoral, não
configura como crime eleitoral; configura, sim, uma conduta de propaganda irregular.
Na propaganda irregular, há uma inobservância à legislação eleitoral. A mesma não está
definida, pela própria lei, como crime eleitoral, não ensejando ao seu descumprimento a
aplicação de natureza penal. Em tal caso, as sanções pelo seu descumprimento acarretam
sanções de natureza administrativa, civil e eleitoral.
Portanto, quando a lei não fizer menção
que determinada conduta for crime, mas lhe impuser restrições; por exclusão, tratar-se-á de
propaganda irregular. O Código Eleitoral lista, no art. 243, algumas normas de propaganda
política vedadas, a saber:
Art. 243 – Não será tolerada propaganda:
I – de guerra, de processos violentos para subverter o regime, a ordem política e social ou de preconceitos de raça ou de classes;
III – de incitamento de atentado contra pessoas ou bens;
IV – de instigação à desobediência coletiva ao cumprimento da lei de ordem pública; V – que implique em oferecimento, promessa ou solicitação de dinheiro, dádiva, rifa, sorteio ou vantagem de qualquer natureza;
VI – que perturbe o sossego público, com algazarra ou abusos de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;
VII – por meio de impressos ou de objeto que pessoa inexperiente ou rústica possa confundir com moeda;
VIII – que prejudique a higiene e a estética urbana ou a contravenha a posturas municiais ou a outra qualquer restrição de direito;
IX – que caluniar, difamar ou injuriar quaisquer pessoas, bem como órgãos ou entidades que exerçam autoridade pública.
São exemplos de propaganda irregular: a propaganda eleitoral extemporânea (art. 36,
caput, da Lei nº 9.504/97); a que descumprir o que diz o parágrafo único do art. 240, do Código
Eleitoral, aquela que é paga por candidatos ou por terceiros (art. 241 do Código Eleitoral); sem
legenda ou com o emprego de meios publicitários que criem estados mentais, emocionais ou
passionais na opinião pública (art. 242 do Código Eleitoral); realizada na forma do art. 244, II,
do Código Eleitoral, de modo contrário à lei de posturas municipais, a menos de 500 metros
dos Poderes Executivo e Legislativo, dos tribunais judiciais, dos hospitais e casas de saúde, das
escolas, bibliotecas públicas, igrejas e teatros quando em funcionamento e dos quartéis e outros
estabelecimentos militares (art. 244, parágrafo único, I a VI, do Código Eleitoral); qualquer
descumprimento não criminoso às regras disciplinadoras da propaganda estabelecidas pelo
poder de polícia eleitoral (art. 249, do Código Eleitoral); transgressões pertinentes à origem de
valores pecuniários, influência, uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do
poder de autoridade; abuso no exercício de função, cargo ou emprego da n administração
pública em geral; uso indevido, desvio ou abuso do poder político; utilização indevida de
veículos ou meios de comunicação social (Lei Complementar nº 64/90, arts. 19 e 22, caput); e
o abuso do poder econômico, corrupção ou fraude, desde que o fato não caracterize crime
(Constituição Federal, art. 14, § 10), além de outras.
Considera-se também irregular a propaganda realizada em táxi, pelo fato do mesmo
depender de concessão do poder público (art. 37, da Lei nº 9.504/97), em jornal de entidade
sindical (art. 24, VI, da Lei nº 9.504/97), ou em qualquer jornal em espaço superior a 1/8 de
página.
De igual natureza, existe um rol de uma série de consequências previstas na legislação
aos infratores, abordado por Cândido (2006, p.163), a saber:
a)A cassação do registro e candidato (art. 334 do C.E);
b)Ineficácia contratual de candidatos ou partidos com empresas que possam burlar ou tornar inexequíveis quaisquer dispositivos do Código Eleitoral ou instruções baixadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (art. 251 do C.E);
c)Cassação do direito de transmissão da propaganda partidária gratuita pelo rádio e pela televisão (art.45, §2º, da Lei dos Partidos Políticos);
d)Anulabilidade da votação (art.222 do C.E);
e)Solidariedade dos partidos na responsabilidade imputada aos candidatos e adeptos pelos excessos que cometerem (arts. 241 e 243, §1º, do C.E);
f)Inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 3 (três) anos subseqüentes à eleição em que se verificou o ato, além da cassação do registro do candidato ( LC nº 64/1990, art. 22, XIV).
Diante do exposto, e com o objetivo de combater os efeitos causados pelo uso da
propaganda irregular, a Constituição Federal faz menção à Ação de Impugnação de Mandato
Eletivo (art. 14, §§ 10 e 11) e a Lei Complementar nº 64/90 cita a Investigação Judicial
Eleitoral, ambas proporcionam medidas processuais que têm o objetivo de fortalecer o Estado e
suas instituições eleitorais.
No que diz respeito ao uso de propaganda irregular pode-se dizer que estará sujeito à
punição o responsável pela divulgação, podendo ser tanto o próprio beneficiado quanto
qualquer outro interessado. De acordo com o art. 40-B da Lei nº 9.504/97, a saber:
Art. 40-B. A representação relativa à propaganda irregular deve ser instruída com
prova da autoria ou do prévio conhecimento do beneficiário, caso este não seja por ela
responsável.
Parágrafo Único. A responsabilidade do candidato estará demonstrada se este,
intimado da existência da propaganda irregular; não providenciar no prazo de
quarenta e oito horas, sua retirada ou regularização, ou, ainda, se as circunstâncias e
as peculiaridades do caso específico revelarem a impossibilidade de o beneficiário
não ter tido conhecimento da propaganda.
Caso fique comprovado o prévio conhecimento do beneficiário, mesmo que não seja ele
quem elaborou a propaganda, poderá sê-lo considerado responsável. Se, no prazo estipulado de
quarenta e oito horas, não for tomada nenhuma providência, a responsabilidade do candidato
será caracterizada. Havendo mais de um responsável pela propagação de propaganda irregular
a multa será cumulativa e individual.
3 PROPAGANDA ELEITORAL NA INTERNET
A internet é vista como um campo livre, que por sua vez, faz com que o mundo possa ter
conhecimento sobre determinada pessoa ou assunto. Trata-se de um meio de comunicação que
rompe fronteiras, tornando possível uma interação entre pessoas que podem se comunicar a
partir de qualquer lugar do planeta. Tendo como pontos positivos um custo baixo e facilidades
técnicas, em oposição ao rádio e à televisão, observa-se que tanto os publicitários de campanha
e os candidatos a cargos eletivos vêm utilizando ainda mais a propaganda através da internet.
Diante do exposto, a propaganda eleitoral explorou a utilização da internet para que
houvesse uma maior abrangência na captação de sufrágio e divulgação de suas idéias. Tendo
como objetivo de contribuir no poder decisório dos eleitores, preserva o mínimo de igualdade
entre os candidatos ao pleito.
Outro ponto positivo que surgiu com a veiculação da propaganda política pela internet
foi fazer com que candidatos que pertencem a partidos pequenos também tivessem vez, pois,
com o uso desse mecanismo, podem expor suas ideias de uma forma mais ampla, já que
possuíam pouco tempo para apresentá-las na televisão e no rádio. Sendo a internet considerada
uma forma bastante democrática de divulgação de suas campanhas, ressalvando o princípio de
liberdade de expressão e comunicação.
Os candidatos e marqueteiros mostraram interesse pela internet por se tratar de um meio
de comunicação mais completo que os convencionais, pois ela, internet, explora a escrita, a
palavra e a imagem, que chegarão a qualquer lugar do mundo numa fração de segundos, sem
contar um dos seus aspectos mais singulares, qual seja sua interatividade para com os
internautas.
Os mesmos princípios que regem qualquer espécie de propaganda política regem a
propaganda eleitoral na internet, princípios estes que já foram abordados anteriormente nesta
monografia, sendo os norteadores de seu caráter e finalidade.
As modificações decorrentes da propaganda eleitoral geraram muita polêmica. A Lei nº
9.504/97 apresenta diminutos dispositivos acerca do tema da propaganda eleitoral por meio da
internet. Entretanto, a regulamentação da propaganda eleitoral é feita pelo Tribunal Superior
Eleitoral, a cada nova eleição, através de resoluções.
A hipótese da utilização da mídia eleitoral por meio da internet surgiu nas eleições de
1998, quando as resoluções do TSE abordaram o tema supracitado. A Resolução 20.106/1998,
em seu art. 13, §3º, ampliou a restrição de propaganda antes do período eleitoral aos sítios
mantidos pelas empresas de comunicação social na internet e demais redes destinadas à
prestação de serviços de telecomunicações de valor adicionado (art. 45, §3º da Lei nº
9.504/97).
Como até 2002 ainda não existia legislação específica sobre propaganda eleitoral pela
internet, o TSE editou a resolução nº 20.988/02, que diz que a propaganda pela internet deve
seguir as mesmas regras impostas ao rádio e a televisão, além de manter a propaganda através
do domínio www.nomedocandidatonúmerodocandidatouf.can.br e proibir que qualquer tipo de
propaganda que seja realizada em páginas de provedores de acesso à internet, independente do
período.
Já a resolução nº 21.610/2004 do TSE é a norma que versou sobre a propaganda eleitoral
e suas vedações destinadas aos agentes públicos em campanha eleitoral, nas eleições
municipais de 2004.
A resolução supracitada deixou de regulamentar determinadas condutas praticadas com a
utilização da internet, possibilitando várias situações que deixaram tanto os candidatos como
também o povo com muitos questionamentos do que poderia ser ou não utilizado sem ser
considerada infração. Não mencionava nada, por exemplo, sobre a utilização do Orkut e outras
redes sociais ou a postagem de vídeos no Youtube, sem se enquadrar em divulgação pessoal do
candidato.
Ademais, pode-se citar que a 1ª campanha realizada para eleger Barack Obama, em 2008,
serviu de inspiração para incentivar uma maior utilização da internet não só como uma forma
de captação de votos como também na arrecadação de fundos para financiar sua campanha, já
que os candidatos podem receber doações até mesmo por cartão de crédito.
Ressalte-se, ainda, que as disposições gerais sobre a propaganda eleitoral encontradas no
Código Eleitoral, na Lei nº 9.504/97 e nas resoluções do TSE aplicam-se a todas as suas
modalidades, inclusive em relação à propaganda realizada na internet. Logo, propaganda
eleitoral pela internet deve seguir as regras gerais da propaganda eleitoral, devendo ser
realizada em língua nacional, podendo ser veiculada após o dia 5 de julho, devendo mencionar
a legenda do partido, das coligações, o nome da coligação e o nome do Vice, se for candidato à
eleição majoritária.
Diante de todo esse panorama, resta-se clara a necessidade de uma regulamentação mais
pormenorizada a respeito dos temas relacionados à internet e seus desdobramentos na
propaganda eleitoral, principalmente por esta ser uma modalidade de propaganda eleitoral em
constante crescimento em decorrência dos avanços tecnológicos no atual mundo globalizado,
objetivando, assim, como já citado neste trabalho monográfico, uma maior democratização no
processo eletivo.
A minirreforma eleitoral aprovada pelo Congresso Eleitoral transformou-se na Lei nº
12.034/2009, que alterou as Leis nº 9.504/97 e nº 9.096/95, estabelecendo as normas para a
eleição do ano de 2010 no que diz respeito ao tema deste capítulo.
As eleições municipais de 2012 foram reguladas, além da legislação eleitoral pertinente,
pela Resolução do TSE nº 23.370, donde não houve alterações significativas em razão de já
haver legislação eleitoral esclarecendo os principais assuntos (Lei 12.034/09).
Na época em que a Lei nº 9.504/97 foi elaborada a internet ainda não era tão utilizada
pela maioria da população. Assim, a utilização da internet não foi abordada com detalhes na lei
supracitada. Por sua vez, a Lei nº 12.034/09 impôs condições e limites para a exibição da
propaganda eleitoral na internet. “Tentar enquadrar a internet nos limites de uma lei restritiva é
tarefa gigantesca e não se sabe quanto será eficaz.” (CONEGLIAN, 2010, p. 400).
De acordo com a o art. 57-A da Lei nº 9.504/97, incluído pela Lei nº 12.034/09, “é
permitida a propaganda eleitoral na internet, após o dia 5 de julho do ano da eleição.” Contudo
será considerada propaganda antecipada qualquer modalidade que ocorrer antes desta data,
acarretando ao responsável pela divulgação da propaganda e o seu beneficiário, quando for
demonstrado seu prévio conhecimento, ao pagamento de multa ou o equivalente ao custo da
propaganda.
No entanto, um ponto difícil de ser combatido é o anonimato, citado no art. 57-D da Lei
nº 9.504/97, pois fica difícil saber diferenciar se o candidato possui ou não conhecimento
antecipado da realização da propaganda eleitoral extemporânea ou se outra pessoa, se fazendo
passar por ele, realizou a propaganda com total má-fé.
Outro ponto que foi abordado com as devidas alterações feitas pela Lei nº 12.034/09 foi a
proibição da venda de cadastros eletrônicos. A entrega gratuita desses cadastros seria a doação
de bem estimável em dinheiro. A Lei nº 9.504/97 em seu art. 57-E menciona este tema, a saber:
Art. 57-E São vedadas às pessoas relacionadas no art. 24 a utilização, a doação ou a cessão de cadastro eletrônico de seus clientes, em favor de candidatos, partidos ou coligações.
§1º É proibida a venda de cadastro de endereços eletrônicos.
§2º A violação do disposto neste artigo sujeita o responsável pela divulgação da propagada e, quando comprovado seu prévio conhecimento, o beneficiário à multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a R$ 30.000,00 (trinta mil reais).