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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

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Academic year: 2023

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

ANA BEATRIZ SANTOS PADILHA

MEMORIAL

ÑAÑIKE, DOCUMENTÁRIO COMO RESISTÊNCIA DO POVO TUXÁ KINIOPARÁ

Salvador Novembro de 2022

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ANA BEATRIZ SANTOS PADILHA

MEMORIAL

ÑAÑIKE, DOCUMENTÁRIO COMO RESISTÊNCIA DO POVO TUXÁ KINIOPARÁ

Memorial apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção de grau de bacharel em Comunicação com habilitação em Produção em Comunicação e Cultura.

Orientador: Prof. Marcelo Ribeiro.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

COLEGIADO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO

Salvador, 02/12/2022 às 14:00

Ata de defesa pública de Trabalho de Conclusão de Curso

Nesta data, o Trabalho de Conclusão de Curso intitulado Ñañike, documentário como resistência do povo Tuxá Kiniopará, de autoria de Ana Beatriz Santos Padilha, sob orientação de Marcelo Rodrigues Souza Ribeiro, foi apresentado em sessão pública e avaliado pela comissão examinadora, composta por Marcos Oliveira de Carvalho e Iago Oliveira Porfirio da Silva.

Com base em escala de notas de 0,0 (zero) a 10,0 (dez), considerando-se a média exigida para aprovação de 5,0 (cinco), de acordo com o Regulamento do Trabalho de Conclusão de Curso do Colegiado de Graduação da Faculdade de Comunicação e com o Regulamento de Ensino de Graduação e Pós-Graduação da Universidade Federal da Bahia, foram atribuídos ao referido TCC as seguintes notas:

Tabela de avaliação Nota Assinaturas Examinador 1 10,0

Examinador 2 10,0

Orientador 10,0

Média final (valor numérico): 10,0 Média final (por extenso): dez

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família e amigos por todo carinho, amor e força, em especial aos meus pais, Manoel Luis e Betânia Padilha, que são meus guias. Por me apoiarem em todas as minhas decisões e me incentivarem a não desistir. A minha avó Beatriz e Ana, que são exemplos de luta e resistência. À minha tia Natália e Tio Dero pela preocupação, apoio e ajuda, mesmo distantes se faziam presentes.

Agradeço a Igor Paiva, meu companheiro, pelo incentivo, parceria e colaboração. Aos meus irmãos Brisna, Lorrã e Karuana que colaboraram comigo na execução do projeto Ñañike.

Sou grata a Vitor Tuxá e a Edmarcos Satel, queridos amigos que acompanharam essa minha caminhada mais de perto. E em especial a minha amiga Raquel Franco por todo carinho, afeto e dedicação em me ajudar sempre que precisei.

Agradeço às pessoas envolvidas em todo o processo de execução deste projeto, aos entrevistados pela disponibilidade e colaboração e a minha comunidade indígena.

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“Minhas memórias se afogam, desbotadas Honrando mortos, e aqui jaz tanta glória Pela floresta, os pais contando história Emoldurando as crenças arraigadas.”

(Beatriz Tuxá)

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RESUMO

Esse memorial retrata a elaboração do documentário Ñañike (saudades), que narra a desterritorialização do povo Tuxá. O trabalho enfatiza a importância de reconhecer e respeitar a identidade cultural dos povos indígenas, e mostrar como os equipamentos tecnológicos e os meios de comunicação colaboram na vida dos povos originários e como a linguagem oral é passada de pais para filhos e avós para netos. O documentário foi feito com a comunidade indígena Tuxá Kiniopará que teve suas terras na cidade de Rodelas inundadas pela barragem de Itaparica na década de 1980.

O filme tem duração de 27 minutos e 37 segundos, com direção de Beatriz Tuxá, edição de Rafael Oliveira. As filmagens aconteceram em três dias: 19, 20 e 21 de setembro. Traz à memória como ponto inicial de compartilhamento de experiências e vivências entre as gerações desse povo, e tem como objetivo gerar visibilidade ao povo indígena Tuxá, dando voz, através do audiovisual, mostrando como essas histórias permanecem vivas.

Palavras-chave: Povos Indígenas, Tuxá Kiniopará; Identidades; Comunicação.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Cacique Derisvaldo fumando cachimbo...10

Figura 2 - Imagem da aldeia feita por drone. ... ...23

Figura 3 - Imagens de alguns indígenas que participaram do filme...31

Figura 4 - Dona Tereza Cruz ... 32

Figura 5 - Dona Ana Rosa Padilha...32

Figura 6 - Dona Beatriz Pires...32

Figura 7 - Cacique Derisvaldo...32

Figura 8 - Registro de gravações Karuana Tuxá………...50

Figura 9 - Registro de gravações João Eudes……….………...…...51

Figura 10 - Registro de gravações Cacique Derisvaldo………...51

LISTA DE MAPAS Mapa 1- Localização das Aldeias na Bahia………...….….………...12

Mapa 2- Localização Aldeia em Ibotirama………...…...12

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 9

2. COMUNICAÇÃO E IDENTIDADE ... 14

2.1 A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NO RESGATE E PRESERVAÇÃO DA CULTURA INDÍGENA. ... 16

3. HISTÓRIA DO POVO TUXÁ ... 18

4. DOCUMENTÁRIO ÑAÑIKE ... 20

4.1 PROCESSO...21

5. PROJETO DE REALIZAÇÃO DO FILME-DOCUMENTÁRIO ... 26

5.1 PRÉ-PRODUÇÃO, PRODUÇÃO E PÓS-PRODUÇÃO...47

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 52

REFERÊNCIAS ... 53

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1 INTRODUÇÃO

Os povos originários são parte constituinte do Brasil, mas uma parte da população Brasileira só conhece os povos indígenas por meio da televisão. Atualmente, pelas redes sociais, assistimos a um crescimento de casos em que indígenas buscam coletar e preservar seu conhecimento e tradições orais através de recursos tecnológicos, por exemplo podcast, áudio livro, documentário etc. Esses recursos comunicacionais tecnológicos, são hoje, ferramentas de grande importância para esses povos.

A cultura é dinâmica e o fato de as novas tecnologias terem chegado aos povos originários não faz deles menos indígenas. A cultura sempre evolui, se movimenta conforme o tempo e o espaço. O homem cria e recria. Essas tecnologias chegaram para as comunidades como ferramenta para a educação, pesquisa, divulgação de produtos e da sua identidade. Antes, os nativos só assistiam ao que os brancos faziam, mas agora os brancos começam a assistir à cultura dos indígenas. (DIAKARA apud LANA, 2021).

Esses produtos comunicacionais feitos por indígenas têm gerado mais visibilidade e dado cada vez mais voz às causas e movimentos indígenas, que lutam por sua identidade e território em uma sociedade que em parcela, ainda não considera essas particularidades dos povos originários como parte de sua diversidade cultural. Entretanto, essa tendência predominante vem ao longo do tempo sendo questionada por movimentos indígenas, assim como por agentes sociais, ao longo dos anos.

As comunidades indígenas estão a cada dia que passa percebendo que as tecnologias digitais são muito úteis para preservação e documentação de sua história e cultura colaborando na transmissão de valores culturais.

Conforme se observa históricos que compõem o contexto de comunidades indígenas, entende-se a indispensabilidade de uma observação sutil do indígena com seu território, com a natureza e costumes. De acordo com o Censo 2010, o IBGE aprimorou a pesquisa sobre a população indígena no Brasil, ao todo foram registrados 896.9 mil indígenas, que corresponde a 0,47% da população brasileira, 63,8% vivem em área rural e 36,2% na área urbana. Vale mencionar também que as terras indígenas constituem 12,5% do território do país, segundo a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), um total de 106,7 milhões de hectares1.

1 Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de- noticias/releases/14262-asi-censo-2010-populacao-indigena-e-de-8969-mil-tem-305-etnias-e-fala-274-idiomas

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Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo ser um instrumento de denúncia, dando visibilidade às narrativas e identidade do povo Tuxá por meio de recursos comunicacionais, através do produto de documentário sobre o povo Tuxá Kiniopará, que teve seu território inundado na década de 80.

Em uma música de minha autoria chamada “Sempre Tuxá” em que eu uno o toante “A triba Tuxá é Forte” a uma autoria própria eu transfiro para o papel o que eu ouvia sobre a chegada dos Tuxá: “Chegamos com pouca gente, nossa aldeia Kiniopará, eram vinte e duas famílias os primeiros a chegar. E com muito sofrimento, outra aldeia, outro lugar, mesmo estando noutra terra, seremos sempre Tuxá.

“A triba Tuxá é forte É forte aldeia será A triba Tuxá é forte, Tem caboclo pra guerrear’.

Toante Tuxá.

Figura 1- Cacique Derisvaldo fumando cachimbo.

Fonte: Rafael Oliveira.

A desterritorialização do povo Tuxá no final da década de 1980 pela barragem de Itaparica até hoje é uma lembrança de dor e tristeza para os que ali já viveram. A proposta do produto para o filme documentário é registrar, através de entrevistas, as narrativas dos que vivenciaram essas histórias, sendo obrigados a deixar suas terras para seguir para novos

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destinos, uma parte na nova cidade de Rodelas e em Ibotirama (ambas na Bahia), além da área situada no município de Inajá (PE). Os que seguiram para Ibotirama, região oeste da Bahia, foram guiados pelo cacique Manoel Novais.

A relação entre a oralidade e o povo Tuxá é intensa e essencial nesse contexto de desafios inseridos na comunidade, onde o embate que se destaca no cotidiano é sua sobrevivência étnica e cultural. Nas lutas pelos seus direitos, a presença e durabilidade das práticas orais de resistência e luta assumem um sentido político. Ter acesso a recursos tecnológicos é importante pois os mesmos são aliados, sendo utilizados para garantir a manutenção dessas práticas para impedir o apagamento da história desse passado coletivo.

As histórias dos povos indígenas no Brasil são repletas de processos violentos, de genocídio e de esbulho territorial. O povo Tuxá teve uma grande parcela do seu território tradicional inundado pela construção da Hidrelétrica de Itaparica ao fim da década de 80, fazendo com que a aldeia se dividisse, esse processo foi muito doloroso e sofrido para esse povo.

Como já mencionado, parte do povo Tuxá foi para Ibotirama e nas mediações de Inajá, e a outra ficou na aldeia nova, em Rodelas, mas originalmente habitava um complexo de ilhas denominada de Seis Marias, na parte baixa do São Francisco, especialmente na Ilha da Viúva.

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Os mapas 1 e 2 abaixo apresentam as localizações do povo Tuxá em Ibotirama, no oeste da Bahia, em Rodelas e Inajá.

Mapa 1

Aldeia Tuxá nas regiões de Ibotirama, Rodelas e Inajá;

Fonte: https://www.google.com.br/maps Mapa 2

Aldeia Tuxá em Ibotirama;

Fonte: https://www.google.com.br/maps

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Tendo suas terras tradicionais inundadas, seu território sagrado submerso, com a construção da hidrelétrica de Itaparica, eles foram forçados a mudar de território. A injusta desterritorialização sofrida por esse povo, causou feridas irreparáveis.

O povo indígena Tuxá tem como origem os povos autóctones que habitaram imemorialmente os trechos encachoeirados do sub-médio São Francisco, onde hoje se encontram as divisas dos Estados da Bahia e Pernambuco. Os relatos dos primeiros contatos de grupos indígenas destas regiões com a coroa portuguesa datam ainda do século XV. (CRUZ, 2018, p.40).

Este território não era propriedade, mas sim fundamento de sua subjetividade. Muitos dos traços culturais dos Tuxá são guardados pelos mais velhos, como uma biblioteca viva que guarda a memória ancestral nascida neste local.

O tema abordado no documentário de curta duração intitulado Ñañike, são as narrativas dos anciãos que passaram por essa injusta desterritorialização e narrativas dos jovens e adultos da comunidade que aceitaram serem entrevistados. O objetivo do curta é mostrar como ainda hoje esse trágico acontecimento afeta esse povo. Ñañike que tem como significado “suspiro”, um suspiro tão profundo que lembra o sentimento de saudades, Ñañike significa “saudades” na língua Dzubukuá, dialeto pertencente ao tronco linguístico Macro-jê, língua materna do povo Tuxá.

O Curta traz também a força da imagem de arquivo através do documentário Adeus Rodelas de 1988, imagens que estão no tempo e carregam a história de sua época, o tempo que tem nela, que em suas manifestações, carrega não apenas as formas históricas, mas os diferentes caminhos pelos quais construímos nossas próprias memórias. Penando também a relação de imagem e palavra, com a poesia Riscos de um Coração Inundado, marcando o tempo dos acontecimentos, tendo como uma preocupação o futuro, mas também o passado dessas histórias em comum, vivenciada por esse povo.

Como escreve Daniel Munduruku (2017, p. 117), “A tradição é passada pelo uso da palavra. O "dono" dela é o ancião”. Trazer a identidade desse povo utilizando desses recursos comunicacionais, tendo o audiovisual como instrumento de resistência e empoderamento, torna-se essencial. Os testemunhos, lembranças e depoimentos dos que vivenciaram essa fatalidade, traz à tona uma memória coletiva que se tece com a memória individual dos que vivenciaram um processo de deslocamento forçado, onde até hoje reflete nas novas gerações.

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2 COMUNICAÇÃO E IDENTIDADE

Por mais de 500 anos de massacre, escravidão e dominação cultural, sendo obrigados a suprimir e negar sua cultura e identidade, como forma de sobrevivência diante de uma sociedade que os privou de direitos e possibilidades de vida (LUCIANO, 2006). Após tanto tempo de repressão cultural, essas populações hoje vêm aos poucos resgatando suas culturas e identidades – e ocupando espaços dos quais permaneceram predominantemente excluídas, no passado, como as universidades. O documentário Ñañike surge desse lugar em que eu vi a necessidade de compartilhar no meio acadêmico as vivências dos povos originários, fortalecendo a luta indígena e rompendo pensamentos coloniais ainda existentes.

Esses povos possuem uma forma diferente de se relacionarem consigo e com os outros e de se constituírem como sujeitos. É possível analisar que a tradicional forma de transmissão do conhecimento desses povos é por meio da oralidade. A construção identitária se constrói através de crenças e rituais ancestrais que foram passadas de geração em geração, o que faz com que sua cultura continue viva. Para o indígena sua ancestralidade é sagrada, Ailton Krenak diz que “A ancestralidade é a casa da sabedoria". O ancestral é importante pois contribui para evolução desses povos, com sua herança espiritual.

Para Gersem Baniwa (2006) viver a memória dos ancestrais significa projetar o futuro a partir das riquezas, dos valores, dos conhecimentos e das experiências do passado e do presente, para garantir uma vida melhor e mais abundante para todos os povos.

Essas pessoas construíram suas histórias por meio da memória, que se incorpora ao cotidiano por meio das tradições e costumes, tendo como instrumento principal a oralidade dos mais velhos, que relatam sobre o passado de sua etnia e história, fazendo com que esses conhecimentos permaneçam vivos entre eles.

Segundo Gersem Baniwa (2006) a dinâmica e a intensidade da relação com a identidade variam de povo para povo e de região para região, de acordo com o processo histórico de contato vivido.

Nesta concepção em que a identidade marca o encontro com o passado, repensamos a identidade cultural dos povos indígenas, em que, num primeiro momento do processo colonizador, a interação entre o indígena e o branco fora marcada pelo gradativo apagamento da cultura e da etnia, pela força das armas do colonizador (SILVA, JOSELAINE, 2018, p. 3).

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A comunicação, liberdade de expressão e opinião é um direito humano. O interesse da nova geração indígena em restaurar o valor e o significado da identidade de seu povo é evidente em comparação com as gerações mais antigas.

O direito à comunicação permite que os povos originários mantenham seus próprios meios de comunicação. O acesso à mídia, garante que os meios de comunicação reflitam e leve em consideração a diversidade cultural dos povos indígenas. Para que isso ocorra, é preciso que a sociedade brasileira reconheça a importância da diversidade desses povos que a compõem.

Os artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988 asseguram direitos aos povos originários, tais como o respeito à identidade cultural desses povos, mas na prática a realidade é bem diferente, pois essas leis estão sob ataque o tempo todo. Um exemplo é a omissão e morosidade na demarcação e regularização de terras e exploração ilegal de recursos naturais, contra o patrimônio indígena, esses conflitos têm resultado infelizmente em mais mortes dessa população. A relação que esses povos têm com a terra é um elemento central da identidade cultural deles.

No sentido estrito, a tradição oral designa a arte da palavra numa sociedade, ou mais exatamente, nos grupos sociais que desconhecem a escrita como meio de transmissão do saber. Nesta acepção, a tradição oral engloba a poesia, as baladas, os provérbios, os mitos, os contos e toda a literatura oral. (FREIRE, J. R. B. A canoa do tempo. 1992.

p. 138-164).

Boa parte de estereótipos associados à identidade indígena é fruto da educação primária, quando se vê nas escolas assuntos relacionados ao “Descobrimento” do Brasil, marcado pela violência colonial, e se faz conexão aos povos originários, atrelando-os ao passado, mas, na verdade, é a partir deles que construímos a história de nossa nação (ACOSTA, CRUZ, 2019).

O indígena repetidamente foi representado e mostrado na mídia como o selvagem, o mau, além da representação “positiva” de postura romântica, em imagens, livros e histórias sobre a ideia do bom selvagem de José de Alencar, onde em O Guarani, Peri é representado através desse mito, como corajoso, sem ganância, criando estereótipos quanto ao que é ser indígenas, mas nós, povos indígenas, somos diversos.

A reafirmação da identidade não é apenas um detalhe na vida dos povos indígenas, mas sim um momento profundo em suas histórias milenares e um monumento de conquista e vitória que se introduz e marca a reviravolta na história traçada pelos colonizadores europeus, isto é, uma revolução de fato na própria história do Brasil (LUCIANO, 2006, p. 42, 43).

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2.1 A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NO RESGATE E PRESERVAÇÃO DA CULTURA INDÍGENA

As tecnologias têm sido aliadas dos povos originários para salvaguarda de todas as histórias que são contadas de geração em geração, que são um bem imaterial. Ter contato com esses recursos têm sido importantes na documentação e conservação cultural de diferentes povos. Ter acesso a essas ferramentas de tecnologia é crucial, pois são fundamentais para divulgar informações que por anos foram negadas na mídia, ou que eram mostradas de forma deturpadas. Infelizmente ainda é comum tratar culturas indígenas como se não houvesse diferenças de costumes, crenças, organização e cultura própria.

O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. Isso tanto é mais grave porque, nas condições atuais da vida econômica e social, a informação constitui um dado essencial e imprescindível (SANTOS, 2003, p. 20).

As redes sociais estão sendo usadas para fazer denúncias, para organizar manifestações, ativismo e protestos, sendo uma das ferramentas principais de trabalho de alguns jovens indígenas que vem se destacando nesse meio. Tem sido utilizada também para divulgação e venda de artesanatos, esses povos vêm conquistando e garantindo espaços importantes que contribui para o fortalecimento de produções audiovisuais, clipes, documentários dentre outros.

Assim, para Gersem Baniwa (2006), entrar e tornar-se parte da modernidade não significa abrir mão de sua origem ou tradição e modo de vida, mas sim interagir conscientemente com outras culturas para que se possa realizar seu próprio valor.

Onde se vê um crescente protagonismo indígena digital, com produções de conteúdos em rádios e televisões, antes era preciso um esforço maior para se comunicar com outras aldeias para articulações como denunciar garimpeiros, barcos pesqueiros, hidrelétricas e outras intervenções nesses territórios, mas atualmente, com o acesso a plataformas digitais, ficou mais fácil essas articulações, assim como fazer denúncias mais eficazes que tenham um alcance maior que mostrem de fato o que realmente acontece nessas comunidades, e o que efetivamente vem acontecendo nesses territórios.

A produção de audiovisual indígena que vem sendo fonte de apoio a lutas e resistência desses povos com o objetivo de fortalecimento de suas identidades, cultura e território gera conteúdos diversos, tendo ainda infelizmente que lutar por espaços na comunicação brasileira.

A prática comunicacional tecnológica - o ato de filmar, fotografar, escrever - pode ser apenas um ato individual, desprovido de um sentido coletivo. Mas pode também ser

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um ato transformador, de construção de vínculos comunitários, de pertença e de registros da cultura, bem como de conquistas de direitos. Pode, inclusive, revolucionar. As ferramentas de comunicação, se bem utilizadas, são verdadeiros instrumentos favoráveis à conquista de melhores condições de vida. (ALMEIDA:

BRITO, Vida pastoral, 2017).

O fato de algumas comunidades indígenas terem acesso a tais tecnologias, é um avanço, e não os faz menos indígenas, o acesso à internet tem contribuído na luta desses povos, por ser um meio rápido de disseminação de informações por todo o mundo, onde a maioria das pessoas podem ter acesso. Percebo hoje, entre as comunidades indígenas, uma crescente tentativa de resgate e preservação dos costumes desses povos, utilizando a câmera de vídeo, o celular e as redes sociais como grande aliada.

As atuais gerações indígenas nascem, crescem e vivem com um novo olhar para o futuro, potencialmente possível e alentador, diferente das gerações passadas que nasciam e viviam conscientes da tragédia do desaparecimento de seus povos.

(LUCIANO, 2006, p. 42).

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3 HISTÓRIA DO POVO TUXÁ

Os indígenas Tuxá habitavam a cidade de Rodelas e diversas ilhas do norte da Bahia, às margens do Velho Chico (rio São Francisco). Autodenominam-se “Índio Tuxá, nação Proká, caboclos de arco e flecha e maracá”. Seu dialeto é o Dzubukuá, uma língua que pertence à família linguística Karirí, pertencente ao tronco linguístico macro-jê, que no processo de colonização foi perdida.

No final da década de 80 os Tuxá tiveram suas terras inundadas pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF), com a construção da barragem de Itaparica (UHE Luiz Gonzaga), que inundou quatro cidades, sendo duas em Pernambuco e duas na Bahia, entre as cidades submersas estava Rodelas (BA), território Tuxá.

As tensões e conflitos gerados pela definição estatal de instalação das hidrelétricas na região da aldeia, não se processou sem resistências, negações, pressões e negociações que geraram termos estabelecidos entre indígenas e a CHESF[...]

(CALVACANT; CORRÊA; GUMES; SILVÃO; SOUZA. 2021).

O povo Tuxá tinha como centro espiritual a Ilha da Viúva, lugar sagrado. Na memória dos mais velhos a Ilha era um lugar que sempre trazia boas recordações, tinha muita abundância, era onde tinham suas roças, faziam plantações, tinham várias árvores frutíferas, hortaliças e onde também criavam animais, infelizmente as terras em que esse povo vivem hoje, em Ibotirama, são pouco cultiváveis e férteis.

"A terra e os recursos naturais nela existentes são a própria essência da identidade cultural dos povos indígenas". (RUIZ, 2006).

Gersem Baniwa (2006) fala sobre territórios serem condição para a vida desses povos, não apenas no sentido de bens materiais ou fatores de produção, mas também como o ambiente em que todas as formas de vida se desenvolvem. Um território é, assim, um conjunto de vidas, espíritos é lugar sagrado de valores, saberes e tradições que garantem a possibilidade e o sentido da vida individual e coletiva.

O toré é o ritual sagrado desse povo, é celebração, uma prática de integração entre os sentimentos indígenas e a mãe natureza, buscando a conexão com a energia divina sendo aberto a quem queria participar (não-indígenas) e também fechado (na mata) apenas para os próprios indígenas. Os rituais desse povo são mais que uma comemoração, o toré é um modo de interlocução entre o mundo físico e o mundo espiritual do Povo Tuxá. É através dos toantes,

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cantados durante esses momentos, o caminho de conexão entre os mundos que os inspiram e os fortalecem em todos os momentos da vida (SOUZA; TOMAZ; SANTOS, 2018).

Durante a realização do ritual, os toantes que são cantados têm seu ritmo marcado pelo acompanhamento do maracá, momento em que todos os indígenas estão trajados com suas vestes, adereços, cachimbo de madeira ou barro e grafismos feitos com o sumo do jenipapo. O Anjucá é uma bebida sagrada preparada com a entrecasca da Jurema, e está presente nesse momento, para o povo tuxá a jurema é força e conexão espiritual com os encantados. A utilização de jurema e fumo é bem mais intensa nestas ocasiões.

A pessoa que liderou os grupos que se dirigiram à região de Ibotirama foi o cacique Manoel Novais (que se encantou), junto a algumas lideranças. O cacique Manoel, sempre foi muito respeitado por essas pessoas, hoje ele é lembrado por todos com muito carinho.

Em 1986, no dia 13 de abril, ele lidera a princípio um grupo de 22 famílias, os primeiros a chegar nesse novo território. Diante de todas as injustiças vividas frente à obra desenvolvimentista da usina hidrelétrica, que já dava como certa a inundação do território Tuxá, antiga Rodelas (aldeia mãe), o cacique Manoel Novais seguiu junto a lideranças e aos que o seguiram para esse novo território ao oeste da Bahia, há 12 km da cidade de Ibotirama. O segundo grupo que foi para a região era num total de 74 famílias, totalizando 96 famílias.

Fundando assim, a Aldeia Tuxá Kiniopará. A conquista desse novo assentamento se deu através de muitas lutas contra a empresa Companhia Hidrelétrica do São Francisco.

Na música Nação Tuxá Canção, de minha autoria eu descrevo através de relatos, mesmo não passando por todo esse processo que meus pais e avós passaram, sobre como foi essa saída forçada de nossas terras: " Nas profundezas das águas, mora um mundo adormecido. Um território de mãos velha aldeia um jazigo, uma história a se contar". Tudo que os Tuxá vivenciam hoje, é em grande parte relacionado com as questões da inundação, e principalmente a luta atual pela sobrevivência e preservação dos costumes tradicionais entre os mais jovens.

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4 DOCUMENTÁRIO ÑAÑIKE

Eu me chamo Narumurá, sou registrada como Ana Beatriz, pertenço ao povo Tuxá Kiniopará e nasci em Ibotirama-Ba. Cresci ouvindo dos meus avós e dos meus pais, todo esse processo de retirada do nosso povo de seu antigo território. Ter a história do meu povo documentado é eternizar todos aqueles rostos e vozes, em especial de nossos anciões, que são livros vivos e são muito importantes para nós, nossos troncos velhos.

Desde que eu entrei na universidade, decidi que todas as atividades as quais me permitissem falar sobre povos originários e minha etnia, eu faria. Considero que ao mesmo tempo que foi um processo árduo, foi também um processo lindo, justamente porque fazendo isso eu me sentia mais próxima de meu povo. No meio acadêmico, entre leituras, ensaios fotográficos, artigos, curtas, clipes poéticos e musicais, eu me via em um lugar de (re)criação de minha história aqui, e voltando à minha aldeia, pensando sempre em como contribuir como Tuxá a esse povo.

São mais de 650 km entre Ibotirama e Salvador e o que sempre me fez prosseguir foi saber que eu não estava aqui sozinha, ou por mim, mas sim por um povo. Costumo dizer que de forma inconsciente desde que eu ingressei na UFBA, me preparava para esse projeto, era algo que eu queria muito fazer, mostrar a potência cultural e identitária de um povo, pessoas essas que passaram por esse "dilúvio" sem chuva, abandonando seu passado, onde o pouco que se pode ver ainda hoje é uma pequena parte da antiga caixa d'água da resistentes Rodelas.

“O território indígena é sempre a referência à ancestralidade e a toda a formação cósmica do universo e da humanidade. É nele que se encontram presentes e atuantes os heróis indígenas, vivos ou mortos” (LUCIANO, 2006, p. 101).

Esse documentário Ñañike, reúne as histórias de um povo, uma etnia que viveu às margens do velho chico na cidade de Rodelas e que teve suas terras alagadas. O povo Tuxá teve suas terras submersas, tendo que deixar toda uma história ancestral para trás, onde infelizmente seu povo foi dividido, o que gerou grandes perdas culturais e identitárias. Enquanto alguns indígenas decidiram continuar lutando por seu território, conhecido hoje como aldeia mãe;

outros uniram-se ao cacique Manoel Novais que decidiu ir em busca de uma outra terra para morar.

A construção do meu argumento tem como base uma poesia de minha autoria "Riscos de um coração inundado" que no curta é interpretada por Karuana Tuxá. Além das narrativas de moradores da comunidade, principalmente dos anciãos que vão falar como foi vivenciar esse

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processo violento e doloroso dessa retirada de seu território e como foi a chegada nesse novo lugar, esse novo território.

4.1 PROCESSO

Ñañike (Saudades) é um curta de 27 minutos e 37 segundos de duração. O documentário aborda a desterritorialização do povo Tuxá após a inundação de suas terras pela barragem de Itaparica.

Justificativa

A realização desse documentário é importante pois visa contar as histórias, lutas e cultura do povo Tuxá Kiniopará, através dos moradores de sua comunidade, em especial seus anciões, e assim dar voz a quem passou pelo pungente processo de desterritorialização tendo como consequência o enfraquecimento cultural. O documentário Ñañike tem o intuito de fazer o resgate dessas narrativas para que as mesas sejam compartilhadas não apenas com os jovens Tuxá.

Objetivo

Gerar visibilidade ao povo indígena Tuxá, dando voz, através do audiovisual, mostrando as suas narrativas e como essas histórias permanecem vivas, sendo passadas através dos mais velhos pela oralidade, trazendo a tecnologia como aparelho fundamental para isso, como ferramenta que tem colaborado com esses povos. O documentário também é uma memória de resistência e denúncia.

Estar de volta à aldeia para fazer as filmagens, me trouxe um olhar instigante sobre a história daquelas pessoas, aflorado pela imaginação, criatividade e gratidão em ver esse projeto se concretizando.

Inicialmente, assim como descrito no primeiro roteiro o projeto foi pensando para ter uma quantidade maior de pessoas entrevistadas, o que infelizmente não aconteceu por vários fatores e contratempos, por exemplo a Maria do Carmo que não estava na aldeia aquela semana, a Natália que não se sentiu confortável em ser entrevistada, o João Batista e Carlos Alberto que apesar de serem entrevistados, não tiveram suas imagens no filme. Além de que conforme o

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processo de montagem do filme foi sendo feito e para que as narrativas tivessem conexão algumas cenas do primeiro roteiro foram modificadas ou retiradas.

Os dias de gravações foram cansativos, 3 dias intensos, onde pude contar com o apoio de Rafael Oliveira, que foi o câmera e editor do curta, não precisando nesse caso, solicitar o material do LabAV. Como auxiliar de produção eu contei com o apoio de Mizael Lorrã, meu irmão, que vem colaborando comigo em diversos processos e projetos e Karuana, jovem artista Tuxá, que também é minha irmã. Desde quando eu fiz a proposta para Rafael, que é de Ibotirama (não indígena) o mesmo foi muito solícito. Ele já havia feito outros trabalhos dentro da comunidade, mas nada segundo ele, igual ao que eu estava propondo. Encaminhei o roteiro e referências para que ele pudesse entender de fato o que eu queria passar.

Tive gastos como por exemplo com logística, gasolina, lanche e com as filmagens e edição que foram acordados com Rafael. Nos reunimos pessoalmente e oficialmente na aldeia, onde eu pude explicar melhor para ele as cenas e o apresentar as pessoas que seriam entrevistadas. Tivemos alguns imprevistos como a quantidade de dias de gravações que precisou ser alterada, passando de 5 dias para três, mas tudo se encaminhou para que as gravações acontecessem da melhor forma possível.

Dia 19 fomos ao trabalho, contei como equipe nesse primeiro dia, Mizael Lorrã, jovem Tuxá. Saímos bem cedo de Ibotirama, passamos na casa de Rafael e seguimos para a aldeia. De Ibotirama para lá são 12km de distância. Ao chegarmos na comunidade, as primeiras entrevistadas foram a dona Beatriz, minha avó materna. Os olhos dela contavam sua história sem que precisasse falar, em um momento ela se emociona porque lembra de sua mãe e do quanto sentia saudades dos ensinamentos culturais e espirituais que ela passava. Nesse mesmo dia entrevistamos também a dona Ana Rosa, minha avó paterna, entrevistá-la é sempre novo, as histórias podem até ser a mesma, mas são contadas com emoções diferentes. Meu pai Manoel Luiz costuma dizer que nunca se cansa de ouvi-la contar sobre seu passado, e que já ouviu as mesmas histórias inúmeras vezes. Penso que talvez seja por isso que não se canse de ouvi-las- é sobre respeito, ancestralidade e identidade. Na escola indígena ela é sempre chamada para contar histórias às crianças.

No segundo dia entrevistamos a dona Tereza Cruz e João Eudes (mãe e filho) ambos nascidos em Rodelas na antiga aldeia. João Eudes é liderança do povo Tuxá, veio para Ibotirama ainda jovem, sua mãe conta que não queria deixar o seu território, mas como era uma decisão concreta de seu esposo, ir em busca dessa terra desconhecida, ela seguiu com ele.

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Entrevistamos nesse mesmo dia o Cacique Derisvaldo, no quintal de sua casa, ele cantou alguns toantes, pedindo que Lorrã, guerreiro Tuxá, que estava na equipe, participasse com ele nesse momento. Hoje os toantes dos Tuxá Kiniopará são puxados pelos homens e as mulheres acompanham. Derisvaldo nos contou sobre alguns dos ensinamentos que seu pai, falecido cacique Manoel Novais o passou, e falou também sobre o pouco que ele se recordava do momento em que seu pai saiu com mais alguns indígenas à procura de uma terra para o seu povo morar.

Pensei em fazer filmagens com drone, como Rafael tinha o material, fizemos as imagens do rio São Francisco e da aldeia, apresentada na figura 1.

Figura 2 - Imagem da aldeia feita por drone.

Fonte: Rafael Oliveira.

No último dia de gravação, os entrevistados foram João Batista liderança, Tuxá e Carlos Alberto. Foi o dia mais cansativo, pude acompanhar um processo em que só pessoas específicas dentro da aldeia podem participar, o da retirada e fazer da jurema. Fomos até a mata e acompanhamos passo a passo esse ritual, com todo respeito aos ensinamentos que ali naquele momento nos foi passado. Eu entendia que para Rafael tudo aquilo era novo. Para mim, mesmo

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tendo familiaridade com o que eu estava vendo naquele momento, eu nunca havia participado desse processo, em que normalmente não é permitido gravar e mostrar ao não indígena. Eu nem sei descrever a quão privilegiada fui aquele dia, na volta limpamos o terreiro do encantado cacique Manoel Novais (todos que estavam presente colaboraram com a limpeza do espaço) onde costuma acontecer o Toré, e como já havia comunicado aos guerreiros e guerreiras que teríamos esse momento, alguns dos deles compareceram para a dança.

Em meio às gravações do toré, após registrarmos também o preparo da jurema, recebi uma mensagem pessoalmente de um dos guerreiros. O que ele me trouxe foi que infelizmente eu teria que apagar boa parte do material registrado naquele dia, os que foram feitos na mata, com João Batista e Carlos Alberto, que naquele momento não participariam mais do filme. Ele disse que os encantados não estavam satisfeitos com o que fizemos, e que a jurema é nossa ciência, não deveria ser mostrada. Sem hesitar, naquele mesmo momento eu tirei o cartão da câmera, coloquei no notebook e comecei a excluir o que era me dito para não ser mostrado. Eu não nego que lamentei muito não ter mais aquelas imagens, que ficaram muito lindas, mas o respeito que tenho pelos meus ancestrais não me faria passar por cima dessa ordem.

Segundo Melo (2002), como em outros discursos sobre o real, o documentário pretende descrever e interpretar o mundo da experiência coletiva. [...] No entanto, não devemos esquecer que qualquer relato (independentemente de sua natureza) é sempre resultado de um trabalho de síntese, que envolve a seleção e a ordenação de informações.

Ter feito essa produção documental, com entrevistas, foi uma caminhada de pesquisas e sensibilidade. Entender como seria esse contato com os entrevistados ou como eu elaboraria as perguntas para ter boas e precisas respostas dessas pessoas, principalmente das anciãs, foi importante para que tivesse um bom resultado.

Uma diferença marcante entre o documentário e o cinema de ficção é aquele não poder ser escrito ou planificado de modo equivalente a este último; o percurso para a produção do documentário supõe uma liberdade que dificilmente se encontra em qualquer outro gênero. Um documentário é construído ao longo do processo de sua produção. Mesmo existindo um roteiro, o formato final somente se define com as filmagens, a edição e a montagem. (MELO,2002, p.26).

O processo de decupagem e montagem foi cansativo, e mesmo tendo essa dificuldade referente a distância (Rafael em Ibotirama e eu em Salvador), conseguimos nos comunicar.

Rafael através do roteiro organizado em cenas, sequências e sons, que construíram o discurso do curta, em conformidade com o apresentado no argumento, teve poucas dúvidas no momento da montagem.

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Os planos que objetivei fazer inicialmente foram planos fechados (close-up), Plano geral (PG), Plano detalhe (PD), Ângulo normal, dentre outros que foram sendo testados durante o momento das gravações ao que melhor se enquadrasse ao momento.

Martin (2005) diz que a escolha de cada plano é condicionada pela necessária clareza da narração: deve existir adequação entre a dimensão do plano e o seu conteúdo material.

As canções usadas para compor a trilha sonora do filme foram toantes pertencentes ao povo Tuxá, do álbum sonoro Tuxá Kiniopará, disponível em plataformas digitais. Um projeto que serviu como inspiração para o documentário foi a execução do "Áudio livro Tuxá Kiniopará: Um presente do passado para o futuro”, que reúne narrativas das pessoas da comunidade, tendo como idealizadores desses dois projetos eu e o Vitor Tuxá, jovem escritor indígena. Salvar o passado, preservar a memória e resgatar as tradições é uma constante preocupação dos jovens indígenas.

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5 PROJETO DE REALIZAÇÃO DO FILME-DOCUMENTÁRIO

1-Para que?

Para gerar visibilidade ao povo indígena Tuxá, dando voz, mostrando as suas narrativas e como essas histórias permanecem vivas, sendo passadas através dos mais velhos pela oralidade. O documentário também é uma memória de resistência e denúncia.

2- Definir o conflito.

A aldeia Tuxá foi inundada ao fim da década de 1980, pela barragem de Itaparica, causando um processo violento e forçado de retirada desse povo, de seu território.

3-Qual é o binômio?

Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF) x Povo Tuxá.

4- Qual é o fio condutor?

A ideia desse documentário é mostrar como viviam aquelas famílias em seu antigo território e como estão vivendo hoje, através de suas narrativas, em especial dos anciões da comunidade Tuxá.

5-Proposta Metafórica?

As imagens captadas são principalmente dos anciões. A ideia é viajar entre essas lembranças que são narradas, com imagens de Rodelas antiga, antes da aldeia ser inundada e também o trajeto da saída desse território, intercaladas com os rostos dessas pessoas.

6- Qual o ponto de vista que vamos assumir no documentário?

O ponto de vista é o dos anciões que passaram por esse momento tão sofrido de retirada de seu território e se realocaram em Ibotirama, no oeste da Bahia. Essas narrativas Tuxá, sobre o desterro, são expressões da dor e do sofrimento infligido, tecendo uma memória em torno de experiências compartilhadas numa tentativa de refazer sua própria história.

7- Qual é o super objetivo?

Mostrar como foi para essas pessoas esse processo de retirada de seu território e como estão vivendo hoje nessa nova terra.

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8- Qual é o conflito geral e o interno?

O geral como foi para essas famílias receberem a notícia da inundação de suas terras e como foram forçadas a deixarem seu território de origem e todo esse processo de mudanças.

O interno é a busca por esse novo território desconhecido, como eles foram tratados ao chegar nesse espaço e suas lembranças.

9- Estrutura Narrativa

Situação inicial: O povo Tuxá em Rodelas vive em suas terras tradicionais.

1°P.G: A barragem de Itaparica inunda algumas comunidades daquela região.

Desenvolvimento do conflito

O povo Tuxá teve suas terras inundadas pela barragem de Itaparica na década de 1980, o que fez com que seu povo se dividisse, em um processo muito doloroso e sofrido para todas aquelas famílias.

2° P.G: A aldeia é inundada e em busca de um novo território para viver, ela se divide.

Clímax:

Uma parte do povo Tuxá foi para Ibotirama, nas mediações de Inajá, e a outra ficou na aldeia nova, em Rodelas. Originalmente o povo Tuxá habitava um complexo de ilhas denominado de Seis Marias, na parte baixa do São Francisco, especialmente na Ilha da Viúva.

Tendo suas terras tradicionais inundadas, seu território sagrado submerso, com a construção da hidrelétrica de Itaparica, eles foram forçados a mudar de território. A injusta desterritorialização sofrida por esse povo causou feridas irreparáveis.

Desenlace final:

Como essas famílias vivem e estão hoje em dia, o que esse passado deixou e o que essas famílias carregam sobre isso.

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10- Logline:

Desterritorialização do povo Tuxá após a inundação de suas terras pela barragem de Itaparica.

11- Storyline:

Após o povo Tuxá ter suas terras inundadas pela barragem de Itaparica no final da década de 1980, a aldeia se dividiu em grupos: enquanto alguns indígenas decidem continuar lutando por seu território mãe; outros unem-se ao cacique Manoel Novais que decidiu ir em busca de uma outra terra para morar.

12-Sinopse:

Ñañike

Ñañike é um documentário que reúne histórias do povo Tuxá Kiniopará, cuja aldeia está localizada a oeste da Bahia, a 12 quilômetros da cidade de Ibotirama. O povo Tuxá teve suas terras inundadas pela barragem de Itaparica na década de 1980, o que fez com que seu povo se dividisse, em um processo muito doloroso e sofrido para todas aquelas famílias. Uma parte do povo Tuxá foi para Ibotirama, nas mediações de Inajá, e a outra ficou na aldeia nova, em Rodelas. Originalmente o povo Tuxá habitava um complexo de ilhas denominado de Seis Marias, na parte baixa do São Francisco, especialmente na Ilha da Viúva. Tendo suas terras tradicionais inundadas, seu território sagrado submerso, com a construção da hidrelétrica de Itaparica, eles foram forçados a mudar de território. A injusta desterritorialização sofrida por esse povo causou feridas irreparáveis.

13-Argumento:

RISCOS DE UM CORAÇÃO INUNDADO Poesia de Beatriz Tuxá.

Intérprete: Karuana Tuxá.

Eu vim de um tempo de guerra, Da luta para viver,

O lugar que me criei As águas não deixam ver Inundaram minha infância,

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E o meu choro infantil Em soluços virou rio Que queria desaguar, Banhava o leito da rua Sem colo pra me ninar.

A história, que será narrada através do documentário, também é descrita na poesia

“Riscos de um coração inundado”, declamada por Karuana Tuxá, que faz a marcação temporal das histórias entre a Aldeia velha, hoje submersa em Rodelas, a saída desse território em busca de um outro e a chegada em uma terra desconhecida, Ibotirama.

Dona Beatriz, anciã Tuxá, conta um pouco de suas vivências em seu tempo de criança, e lembra uma infância divertida, mesmo tendo que trabalhar tão jovem para ajudar em casa. Na beira do seu fogão a lenha, fazendo seu beiju, ela recorda sua história.

Dona Ana Rosa, mãe de 10 filhos e também anciã, fala como foi difícil sua trajetória até os dias de hoje e lembra os bons momentos vividos na aldeia "mãe", antiga aldeia Tuxá, que hoje se encontra submersa. Dona Ana, mais conhecida como Anita, relembra o quanto era bom tomar banho no rio, sentada em seu banquinho no quintal de sua casa, nas sombras de sua mangueira ao som dos pássaros.

E o meu tormento menina Era só lamentação A vida cumpria a sina Pela minha intuição.

Dona Tereza, conhecida como Terezinha, amante do cultivo de plantas medicinais, narra em seu quintal, sua chegada nesse novo mundo, tão distante e onde muitos não queriam ir, ao mesmo tempo desejado. Dona Ana Rosa e dona Beatriz, narram em suas perspectivas os mesmos acontecimentos.

Derisvaldo, conhecido como Dero, filho do cacique Manoel Novais, que já se encantou, traz junto com seu canto (o toré), sua história como um dos vários jovens que tiveram que deixar seu lar em busca de uma terra desconhecida, no quintal de casa ele se emociona ao falar da trajetória de seu pai.

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Mas eu que escapei da morte Como ovelha desgarrada Fui tecendo a minha sorte Noutra terra encantada Mas a aldeia no meu peito É viva e faz brotar

Todo sentimento indígena Que eu preciso pra sonhar.

João Eudes fala sobre como tem sido nesse novo território e como a Chesf tratou os Tuxá. Ele conta como foi que as pessoas que viviam nas proximidades (Ibotiramense) os receberam. Beatriz, Ana Rosa e Derisvaldo também trazem suas narrativas sobre a Chesf, e a chegada em Ibotirama.

Eu parti pra outra terra Meu povo estava sem chão A nação quase se encerra, Sem Rodelas, sem Toré, Sem taba ou sustentação.

Encontrei ventos e serras, Estranha situação

Avistei morros distantes Que parecem ilusão.

Meu vestido amarrotado A vida vestida em missão De construir outra história, Mas passado não se enterra não

Tereza, Ana Rosa, Beatriz, João Eudes e Derisvaldo cantam toante encerrando as falas.

Karuana encerra o filme declamando:

Vou rogar para Tupã Pois Tuxá não vive em vão Vou rasgar a minha roupa

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Pra inventar minha nação.

Sempre nascida na alma Lá, onde ninguém apaga Os riscos do coração.

FICHA TÉCNICA

Título de Produção: “Ñañike”

Duração: 27: 37

Roteiro e Direção: Beatriz Tuxá.

Colaborador de produção: Mizael Lorrã.

Câmera, edição e montagem: Rafael Oliveira.

Poesia: Karuana Tuxá, autoria Beatriz Tuxá

Entrevistados: Ana Rosa, Beatriz Pires, Tereza Cruz, João Eudes e Cacique Derisvaldo.

Sonorização: Toantes pertencentes ao povo Tuxá.

Música: Añi e Mulher Correnteza de Beatriz Tuxá

Imagens de Rodelas: Documentário Adeus Rodelas 1988.

Figura 3 - Imagens de alguns indígenas que participaram do filme.

Fonte: Rafael Oliveira.

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Imagens das anciãs entrevistadas e do cacique Derisvaldo.

Figura 4 - Dona Tereza Cruz. Figura 5 - Dona Ana Rosa Padilha.

Figura 6 - Dona Beatriz Pires Figura 7 - Cacique Derisvaldo.

Fonte das quatro figuras: Vitor Tuxá.

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ROTEIRO: Ñañike/ Primeira Versão.

Por Beatriz Tuxá.

SEQUÊNCIA 1 Cena 1 (ext/dia)

Imagem: A estrada, entrando na Aldeia Tuxá, a mata, o rio São Francisco e suas ondas.

Música: Toante indígena.

Cena 2 (ext/dia)

Imagem: Karuana Tuxá está declamando, andando pela aldeia:

“Eu vim de um tempo de guerra, Da luta para viver,

O lugar que me criei As águas não deixam ver”.

Cena 3

Imagem: fotos e vídeos da inundação.

Voz off: Karuana declamando:

“Inundaram minha infância, E o meu choro infantil Em soluços virou rio Que queria desaguar, Banhava o leito da rua Sem colo pra me ninar”.

SEQUÊNCIA 2 Cena 1 (ext/dia)

Imagem: Dona Beatriz está na beira do seu fogão a lenha, fazendo seu doce de banana. Ela se apresenta e conta suas vivências.

Música: som de pássaros.

(34)

Cena 2 (ext/dia)

Imagem: Fotos e vídeos da inundação na aldeia velha, em Rodelas-Ba.

SEQUÊNCIA 3 Cena 1 (ext/dia)

Imagem: Dona Ana Rosa, sentada em seu banquinho no quintal de sua casa, nas sombras de sua mangueira.

Música: som de pássaros.

Cena2

Imagem: Karuana Tuxá declamando no meio da mata:

“E o meu tormento menina Era só lamentação

A vida cumpria a sina Pela minha intuição”.

SEQUÊNCIA 4 Cena 1(ext/dia)

Imagem: Derisvaldo, na beira do rio, sentado às margens, emocionado, fala sobre a trajetória de seu pai.

Música: Derisvaldo canta:

"No rio de são Francisco, no outro lado de lá

Tem duas caboclas índias, dançando seu toré

Bebendo água no seu coité

Ô cabocla do mato só vem folgar". (Toante do povo Tuxá) Cena 2 (ext/dia)

Imagem: Karuana Tuxá, na beira do rio, em cima da canoa, declama:

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“Mas eu que escapei da morte Como ovelha desgarrada Fui tecendo a minha sorte Noutra terra encantada Mas a aldeia no meu peito É viva e faz brotar

Todo sentimento indígena Que eu preciso pra sonhar”.

SEQUÊNCIA 5 Cena 1 (ext/dia)

Imagem: Dona Tereza, narra em seu quintal, como foi essa chegada nessa nova aldeia.

Música:

"Eu cheguei agora, ôh nessa nova aldeia

Eu vim do meu reinado e foi Deus quem mandou.

Ôh reinarrá, rêo, reainarrá rêo”. (toante do povo tuxá).

SEQUÊNCIA 6 Cena 1(ext/dia)

Imagem: Carlos Alberto, no meio da mata, ensina a fazer a Jurema, desde a retirada da raiz na mata, até o preparo da bebida sagrada do povo Tuxá.

Música:

"Ôh Jurema, Jurema, juremeira

Ôh Jurema, jurem, Juremá". (toante do povo tuxá).

O soar do maracá.

SEQUÊNCIA 7 Cena 1(int/dia)

Imagem: Natália, em sua casa sentada, enquanto faz colares de sementes de açaí, fala sobre sua trajetória nesse processo de retirada de um território e busca por outro.

Música: Som do maracá.

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SEQUÊNCIA 8 Cena 1 (int/dia)

Imagem: Maria do Carmo, sentada em uma cadeira dentro de sua casa narra o processo de aceitação quanto a seu tom de pele, e seu cabelo crespo.

Música:

SEQUÊNCIA 9 Cena 1 (ext/dia)

Imagem: João Eudes, sentado na frente de sua casa, embaixo de uma árvore, fala sobre como tem sido nesse novo território, ele conta como foi que quem vivia nas proximidades (Ibotiramense) os recebeu.

Música: João Eudes cantando.

Cena 2(ext/dia)

Imagem: Karuana Tuxá declamando no meio da mata:

“Vou rogar para Tupã Pois Tuxá não vive em vão Vou rasgar a minha roupa Pra inventar minha nação”.

Cena 3 (ext/dia)

Imagem: Karuana Tuxá andando pela aldeia declamando:

“Sempre nascida na alma Lá, onde ninguém apaga Os riscos do coração.

Música: som do maracá”.

Fim.

(37)

ROTEIRO: Ñañike Por Beatriz Tuxá.

SEQUÊNCIA 1 Cena 1 (ext/tarde)

Imagem: O rio São Francisco, um guerreiro fumando o cachimbo, imagens da aldeia Tuxá vista de cima.

Música: Toante indígena.

Cena 2 (ext/tarde)

Imagem: Karuana Tuxá está declamando, na beira do rio São Francisco. Vídeos da inundação.

Música: Melancólica.

Karuana:

Eu vim de um tempo de guerra, Da luta para viver,

O lugar que me criei As águas não deixam ver Inundaram minha infância, E o meu choro infantil Em soluços virou rio Que queria desaguar, Banhava o leito da rua Sem colo pra me ninar.

SEQUÊNCIA 2 Cena 1 (ext/tarde)

Imagem: Estrada. Dona Beatriz dançando o toré. Na beira do seu fogão a lenha, fazendo beiju ela se apresenta.

Áudio: Apresentação.

Música: som ambiente e de pássaros

Cena 2 (int/tarde)

(38)

Imagens: Povo Tuxá dançando Toré, dona Beatriz na frente de sua casa, sentada em uma cadeira.

Áudio: Recordações do cultivo, plantações na aldeia mãe.

Música: som ambiente e de pássaros

SEQUÊNCIA 3 Cena 1 (ext/tarde)

Imagem: Dona Ana Rosa, sentada em sua cadeira no quintal de sua casa, nas sombras de sua mangueira.

Áudio: Se apresenta.

Música: som ambiente e de pássaros.

Cena 2 (int/tarde)

Imagens: Aldeia Tuxá em Ibotirama do alto, dona Beatriz na frente de sua casa, sentada em uma cadeira.

Áudio: Narra sobre serem obrigados a deixarem suas terras.

Música: Toré, som ambiente e de pássaros.

Cena 3 (ext/tarde)

Imagem: Aldeia inundada. Dona Ana Rosa, sentada em sua cadeira no quintal de sua casa, nas sombras de sua mangueira.

Áudio: Continua apresentação.

Música: som ambiente e de pássaros.

SEQUÊNCIA 4 Cena 1 (ext/tarde)

Imagem: Karuana Tuxá brincando com a água, declama as margens do Rio São Francisco.

Música: som melancólico, e toré.

Karuana:

E o meu tormento menina Era só lamentação A vida cumpria a sina

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Pela minha intuição.

SEQUENCIA 5 Cena 1(ext/tarde)

Imagem: Dona Tereza, em seu quintal, sentada em uma cadeira embaixo de sua jaqueira.

Áudio: Se apresenta e narra recordações familiares com seus pais.

Música: som ambiente e pássaros.

SEQUÊNCIA 6 Cena 1 (ext/tarde)

Imagem: Dona Ana Rosa, sentada em sua cadeira no quintal de sua casa, nas sombras de sua mangueira.

Áudio: Fala de seus pais e como era o trabalho em Rodelas, lembra de como era no engenho.

Música: som ambiente e toré.

SEQUÊNCIA 7 Cena 1 (int/tarde)

Imagem: Estrada. Dona Beatriz está na cadeira na frente de sua casa.

Áudio: Fala sobe o sustento de sua família, em que trabalhavam na aldeia velha.

Música: som ambiente, toré e som de pássaros.

Cena 2 (ext/tarde)

Imagem: Dona Tereza, em seu quintal, sentada em uma cadeira embaixo de sua jaqueira.

Áudio: Narra sobre não gostar de falar de seu casamento e conta com o que sua família trabalhava.

Música: Toré, som ambiente.

SEQUÊNCIA 8 Cena 1 (int/tarde)

Imagem: Estrada. Dona Beatriz. Sentada na cadeira na frente de sua casa.

Áudio: Conta sobre as pessoas de sua família que foram para o novo território.

Música: som ambiente e toré.

(40)

SEQUÊNCIA 9 Cena 1 (ext/tarde)

Imagem: Dona Ana Rosa.

Áudio: Narra um dia importante em sua vida, quando ela teve um de seus filhos.

Música: Som ambiente e toré.

SEQUÊNCIA 10 Cena 1(ext/tarde)

Imagem: Dona Tereza. Sentada na cadeira em seu quintal.

Áudio: Fala sobre a história do Padroeiro São João Batista.

Música: Toré, som ambiente.

Cena 2(int/tarde)

Imagem: Dona Beatriz. Sentada numa cadeira na frente de sua casa.

Áudio: Fala sobre o Padroeiro São João Batista.

Música: Toré, som ambiente.

Cena 3(ext/tarde)

Imagem: Dona Ana Rosa. Sentada embaixo das sombras de sua mangueira em seu quintal.

Áudio: Fala sobre o Padroeiro dos Tuxá.

Música: Toré, som ambiente.

SEQUÊNCIA 11 Cena 1(int/tarde)

Imagem: Dona Beatriz. Sentada numa cadeira na frente de sua casa.

Áudio: Fala sobre os rituais.

Música: Som ambiente e pássaros.

Cena 2(ext/tarde)

Imagem: Guerreiros dançando o toré, câmera muda para Dona Ana Rosa.

Áudio: Narra às histórias que ouvia do Serrote e as ciências dos antigos.

Música: Canção Añi, de Beatriz Tuxá e som ambiente.

(41)

SEQUÊNCIA 12 Cena 1 (ext/Noite)

Imagem: Derisvaldo, dançando o toré, com um guerreiro Tuxá.

Música: Toré “Reinarrá, reinarrô”, e som ambiente.

Cena 2 (ext/Noite)

Imagem: Derisvaldo, em seu quintal, sentado em um banco à beira da fogueira, com seu cachimbo e maracá na mão.

Áudio: Apresentação e como se tornou cacique.

Música: som ambiente.

Cena 3 (ext/Noite)

Imagem: Com cachimbo na mão, sentado no banco.

Áudio: Conta a trajetória de seu pai e quem foram os grupos de pessoas que seguiram o cacique Manoel Novais para o novo território.

Música: Som ambiente.

SEQUÊNCIA 13 Cena 1 (ext/tarde)

Imagem: João Eudes, sentado em uma cadeira em seu quintal.

Áudio: Fala sobre como o povo Tuxá recebeu a notícia da barragem de Itaparica.

Música: Som ambiente.

Cena 2(ext/tarde)

Imagem: Dona Tereza. Sentada em uma cadeira em seu quintal.

Áudio: Relata a mudança e quão foi doloroso ter que se separar de sua família.

Música: Som ambiente.

Cena 3(ext/tarde)

Imagem: Dona Ana. Em seu quintal, sentada.

Áudio: Conta do medo de ir para um lugar desconhecido.

Música: Som ambiente.

(42)

SEQUÊNCIA 14 Cena 1 (ext/tarde)

Imagem: João Eudes, sentado em uma cadeira em seu quintal.

Áudio: Lembra como os Ibotiramense os receberam.

Música: Som ambiente e pássaros.

SEQUÊNCIA 15 Cena 1 (ext/Noite)

Imagem: Derisvaldo, sentado em seu banquinho no quintal de sua casa.

Áudio: Fala sobre sua família, a chegada em Ibotirama e como era a aldeia.

Música: Som ambiente.

Cena 2(ext/tarde)

Imagem: Dona Tereza. Em seu quintal, sentada.

Áudio: Narra como era o território Tuxá Kiniopará na região de Ibotirama.

Música: Som ambiente.

Cena 3(ext/tarde)

Imagem: Dona Ana. Em seu quintal, sentada.

Áudio: Fala sobre o quão foi difícil chegar a um lugar desconhecido.

Música: Som ambiente.

SEQUÊNCIA 16 Cena 1 (ext/tarde).

Imagem: Karuana Tuxá, na beira do rio, trajada, declamando.

Karuana:

Mas eu que escapei da morte Como ovelha desgarrada Fui tecendo a minha sorte Noutra terra encantada Mas a aldeia no meu peito É viva e faz brotar

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Todo sentimento indígena Que eu preciso pra sonhar.

SEQUÊNCIA 17 Cena 1(ext/tarde)

Imagem: João Eudes, sentado em uma cadeira em seu quintal. Áudio: Fala sobre as promessas que a Chesf fez.

Música: Som ambiente.

Cena 2(ext/tarde)

Imagem: Dona Ana. Em seu quintal, sentada.

Áudio: Conta o que a Chesf fez para os Tuxá, após a realocação.

Música: Som ambiente.

Cena 3(ext/tarde)

Imagem: Dona Tereza. Em seu quintal, sentada numa cadeira.

Áudio: Se recorda da riqueza que deixou em Rodelas indo para um lugar desconhecido, rodeados de promessas.

Música: Som ambiente.

SEQUÊNCIA 18 Cena 1 (ext/Noite)

Imagem: Derisvaldo. sentado em seu banquinho no quintal de sua casa.

Áudio: Fala do processo de se habituar nesse lugar estranho (nova aldeia), mas que hoje é familiar.

Música: Som ambiente.

SEQUÊNCIA 19 Cena 1 (ext/tarde)

Imagem: João Eudes. sentado em uma cadeira em seu quintal.

Áudio: Fala sobre a perda cultural e espiritual de sua etnia.

Música: Som ambiente.

(44)

SEQUÊNCIA 20 Cena 1 (ext/noite)

Imagem: Derisvaldo. sentado em seu banquinho no quintal de sua casa, imagens do toré e indígenas tomando a jurema.

Áudio: Traz em sua fala, os ensinamentos que seu pai Cacique Manoel Novais o passou, e recorda sobre os ensinamentos da jurema.

Música: Som ambiente.

SEQUÊNCIA 21 Cena 1 (ext/tarde).

Imagem: Imagem do toré. Karuana Tuxá, no meio da estrada na aldeia, trajada, declamando.

Música: Som ambiente, música melancólica.

Karuana:

Eu partir para outra terra Meu povo estava sem chão, A nação quase se encerra, Sem Rodelas, sem Toré, Sem taba ou sustentação.

Encontrei ventos e serras, estranha situação

Avistei morros distantes Que parecem ilusão.

Meu vestido amarrotado A vida vestida em missão De construir outra história, Mas passado não se enterra não

SEQUÊNCIA 22 Cena 1 (ext/tarde)

Imagem: João Eudes. sentado em uma cadeira em seu quintal.

Áudio: Reafirma a força e resistência do povo Tuxá.

Música: Som ambiente.

(45)

SEQUÊNCIA 23 Cena 1(ext/tarde) Imagem: Dona Tereza.

Áudio: Cantando o toante “Adeus Rodelas”.

Música: Som ambiente.

Cena 2(ext/tarde) Imagem: Dona Ana.

Áudio: Cantando um toante “Jesus Cristo é nosso pai”.

Música: Som ambiente.

Cena 3(ext/tarde) Imagem: Dona Beatriz.

Áudio: Cantando um toante “Ôh mãe d’agua”.

Música: Som ambiente.

Cena 4(ext/tarde) Imagem: João Eudes.

Áudio: Cantando um toante “Nova Aldeia”.

Música: Som ambiente.

Cena 5(ext/Noite)

Imagem: Derisvaldo e um guerreiro.

Áudio: Cantando um toante “Reinarrá, Reinarrô”.

Música: Som ambiente.

SEQUÊNCIA 24 Cena 1 (ext/tarde).

Imagem: Karuana Tuxá, na beira do rio, trajada, encerra declamando.

Música: Som ambiente, música melancólica.

Karuana:

(46)

Vou rogar para Tupã Pois Tuxá não vive em vão Vou rasgar a minha roupa Pra inventar minha nação.

Sempre nascida na alma Lá, onde ninguém apaga Os riscos do coração.

SEQUÊNCIA 25 Cena 1 (ext/tarde).

Imagem: A aldeia submersa, em Rodelas. A aldeia em Ibotirama.

CRÉDITOS FINAIS: MÚSICA “Mulher Correnteza” DE BEATRIZ TUXÁ.

(47)

5.1 PRÉ-PRODUÇÃO, PRODUÇÃO E PÓS-PRODUÇÃO

1. Quantos entrevistados? Foram sete pessoas entrevistadas e uma que declamou poesia, usados no filme somente os depoimentos de cinco dessas pessoas.

Nomes Data de nascimento Karuana Tuxá-Poesia 24-04-2006 Dona Beatriz 14-02-1945 Dona Ana Rosa 24-08-1939 Dona Tereza Cruz 10-08-1942 Derisvaldo Cruz 10-09-1975 João Eudes 24-05-1962 João Batista 16-03-1976 Carlos Alberto 16-11-1975

2. Porque, quem são, perfis dos entrevistados?

Foram pessoas que passaram por esse processo de retirada de seus territórios, indígenas que vivenciaram essa mudança.

Dona Beatriz, anciã Tuxá, tem 77 anos, é conhecida como Biata. Nasceu e cresceu numa aldeia velha em Rodelas, trabalhou em Salvador como cozinheira em casa de família, e foi para Ibotirama com o segundo grupo que teve como líder cacique Manoel Novais.

Dona Ana, mais conhecida como Anita. Tem 81 anos, mãe de 10 filhos, todos de parto natural feito em casa por parteira. Conhecida na aldeia por gostar de contar e compartilhar com a juventude suas histórias.

Dona Tereza, conhecida como Terezinha, amante do cultivo de plantas medicinais, narra em seu quintal, sua chegada nesse novo mundo, tão distante e onde muitos não queriam ir, ao mesmo tempo desejado.

Derisvaldo, conhecido como Dero, atual cacique da aldeia, filho do cacique Manoel Novais, importante líder representante desse povo.

João Eudes ou Dindo como é chamado na comunidade, é cantor, e liderança indígena que tem uma narrativa forte e política de todo o processo de inundação.

(48)

Carlos Alberto, Ninão como é conhecido na aldeia, foi ainda jovem para Ibotirama, está sempre presente nos rituais Tuxá, faz o preparo da jurema e é conhecedor dos toantes.

João Batista, conhecido como Ninho, forte liderança Tuxá, conhecedor dos toantes e participante ativo de movimentos, mobilizações e lutas.

CRONOGRAMA DE TRABALHO:

Pré-produção:

• Julho

Dia 10 a 18, solicitar material no LabAV.

(Como opção solicitar empréstimo de material a Secretaria de Cultura de Ibotirama, ou contratar um câmera).

Dia 20 a 30, fazer contato com os entrevistados.

•Agosto

Dia 13, ida a Aldeia Tuxá Kiniopará (apresentação do projeto a comunidade indígena Tuxá e ao cacique).

Apresentar cronograma de gravação para equipe de produção: Mizael Lorrã e Karuana Tuxá.

Produção:

•Setembro

Dia 19 início das gravações. Saída a campo para filmagens.

Dia 20 gravações entrevistas.

Dia 21 último dia de gravação.

Pós-produção:

•Outubro / novembro

Decupagem, Edição e montagem.

11 Finalização do vídeo.

•Orçamento

Alimentação: R$ 60 Transporte: R$ 90

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Gravação e Edição de vídeo: R$ 400 Total: 550

Dias em que cada pessoa foi entrevistada:

Dia 19- Dona Beatriz, Dona Ana Rosa.

Dia 20 - Dona Tereza, Derisvaldo, João Eudes e Karuana Tuxá-Poesia.

Dia 21- João Batista, Carlos Alberto e Karuana Tuxá-Poesia.

PERGUNTAS PARA OS ENTREVISTADOS

PERGUNTAS: JOÃO EUDES 1. Apresentação, nome, idade?

2. Quais foram essas promessas que a Chesf fez?

3. Irrigação, Casa, Ceasa (promessas feitas)

4. Quantas famílias vieram para Ibotirama, como foi essa vinda?

5. Como o povo de Ibotirama recebeu esses “índios”?

6. Ainda corre em justiça algum trâmite sobre a indenização?

7. A Funai foi ineficiente referente a essa realocação?

8. Os Tuxá foram realocados para onde, quais foram esses territórios?

9. Capitão Francisco Rodelas, você conhece a história dele?

10. Sente Saudades de Rodelas?

PERGUNTAS: DERISVALDO 1. Apresentação, nome, idade?

2. O senhor chegou em Ibotirama jovem, como foi essa vinda para cá?

3. Como o senhor imaginava essa terra desconhecida?

4. Cantar no rio de São Francisco.

5. Sente Saudades de Rodelas?

PERGUNTAS: DONA TEREZA 1. Apresentação, nome, idade?

2. A senhora pode falar como foi à chegada em Ibotirama?

Referências

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