IN MEMORIAM
PROFESSOR ENJOLRAS VAMPRÉ
Homenagem de
Nascido em Larangêiras, Estado de Sergipe, em 4 de Julho de I885r
fez os estudos preparatorios no Ginásio Ciências e Letras de São Paulo. Diplomou-se em 1908 pela Faculdade de Medicina da Baía. Durante o curso acadêmico foi interno da Cadêira de Clínica Psiquiátrica e Mo'éstias Nervosas. Em 1906 foi nomeado interno do Hospital de Isolamento da peste bubônica, tendo sido designado, em 1907, paro chefe da comissão para saneamento da cidade de Alagoinhas.
Em 1908 defendeu tese de doutoramento — Considerações sobre as perturbações nervosas e mentais na peste bubônica — logrando aprovação distinta. Foi o melhor aluno d e sua turma, figurando seu retrato no Panteon da Faculdade de Medicina da Baía e conquistando o premio de viagem à Europa. Nesta viagem e em outra, realizada em 1925 — co-missionado agora pela Faculdade de Medicina de S . Paulo — frequentou em Paris, os cursos de Babinslci, Dèjèrine, Foix, Guillain, Bertrand e, em Berlim, o serviço neuro-psiquiátrico da Charité. Ainda na Alemanha, es-tudou nos serviços de Daldorf, Wuhlgarten, Herzberg e Brech. Em 1911 foi nomeado médico-interno do Hospício de Alienados de Juquerí e, em 1912, nomeado diretor da secção de neuro-psiquiatria do Instituto Pau-lista.
Estudante ainda, foi presidente da Sociedade Beneficiente Acadêmica. Logo depois de diplomado cooperou na fundação da Sociedade Médica da Baía. Em 1910 ingressou na Sociedade de Medicina de S. Paulo, onde percorreu todos os postos: primeiro secretario (1914), bibliotecario (1919), vice-presidente (1920), presidente (1921). Fundador da Associação Pau-lista de Medicina, foi seu presidente em 1935. Fundador da Secção de Neurologia e Psiquiatria desta Sociedade foi seu primeiro presidente, em 1930. Foi, tambem, membro da Sociedade de Neurologia e Psiquiatria do Rio de Janeiro, membro correspondente da Academia Nacional de Medicina de Buenos Aires, membro correspondente da Sociedade de Neu-rologia de Paris, membro honorario da Academia Nacional de Medicina (Rio de Janeiro), presidente honorario da Associação Médica do Instituto Penido Burnier.
Suas atividades como professor se iniciaram em 1925 quando foi con-tratado para reger a Cadeira de Psiquiatria e Moléstias Nervosas na Fa-culdade de Medicina de S. Paulo. Em 1935, desdobrando-se a cadêira, foi contratado para reger a de Neurologia. J á em 1932, a Congregação da Faculdade, por decisão unanime, enviara aos poderes competentes longo e documentado memorial propondo-o para a regencia definitiva, independentemente de concurso. A isso se recusou e dando notável exemplo de amor à disciplina e grande elegancia moral, insistiu para que fossem abertas as inscrições para concurso. Viu realizados seus desejos
em fins de 1935, dando pública demonstração de suas capacidades científico-professorais fio tocante à Neurologia. Esse concurso — realizado aos 50 anos de idade — veio coroar sua extraordinária atividade
Como professor, nunca poz d e parte o que considerava como dever, sacrificando suas obrigações pessoais em prol do ensino. Suas aulas, cheias de ensinamento e eminentemente práticas, n u n c a tiveram cunho livresco ou literario. Premiando-o, todas as turmas de alunos da Faculdade de Medicina de S. Paulo o homenagearam. Foi paraninfo dos médicos diplomados em 1928. Sua febril atividade foi causa eficiente de sua morte prematura, ocorrida durante uma aula que proferia. Faleceu em 17 de Maio de 1938, aos 53 anos de idade e em pleno apogeo de suas faculdades científicas, enlutando e deixando um v a s t o irreparavel na Neu-rologia Brasileira.
A morte de Enjolras Vampré, desfalcando S. Paulo de um de seus grandes valores intelectuais, alem de consternar a todos os que o conhe-ceram pessoalmente, acabrunhou profundamente seus discipulos. Na Es-cola Neurológica que fundara e na qual cada um tinha atribuições defini-das e bem orientadefini-das, houve um periodo de perplexidade e estagnação.
Passados, porem, os primeiros tempos de indecisão, a reação veio, continuada e firmemente. J á em fins desse fatídico ano de 1938, os discipulos firmavam-se, novamente, no rumo que o Mestre lhes traçara e reuniam-se sob a direção de seus dois continuadores: Adherbal Tolosa e Paulino Longo. O primeiro assumiu, após concurso, direção da cátedra vacante e do Serviço de Neurologia da Faculdade de Medicina da Uni-versidade de S. Paulo; o segundo conquistou, também mediante concurso, a cátedra de Neurologia da Escola Paulista de Medicina e, lá, constituiu
um Serviço nos moldes daquele em que se formara.
Constituiram-se, assim, por desdobramento, duas escolas que conti-nuaram a rota da primeira, com as mesmas normas de conduta, a mesma severidade nos conceitos, a mesma simplicidade nas manifestações e, até, com identidade de propositos. São dois grupos que em tudo se harmo-nizam e que, para as grandes decisões, se consultam mutuamente.
Fruto desta harmonia de vistas é, tambem, esta revista. Fundada sob a égide destas duas escolas neurológicas, A R Q U I V O S DE N E U R O
-P S I Q U I A T R I A é uma nova demonstração da união dos discipulos e da vitalidade dos principios que sempre nortearam a ação do Mestre inol-vidado.