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Psicol. cienc. prof. vol.9 número2

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Academic year: 2018

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pesquisa realiza-da pelo Conse-lho Federal de Psicologia, des-crita no livro "Quem é o Psi-cólogo Brasilei-r o ? " (S.Paulo: EDICON, 1988) apresenta uma enorme quanti-dade de informações sobre a catego-ria, parte das quais ainda não foi objeto de análises mais profundas.

Algumas características gerais chamam a atenção: dos profissionais brasileiros, 46% trabalham somente como psicólogos, enquanto 25% atuam na Psicologia e em outras áreas de atividade. Cerca de 50% são assa-lariados (CLT ou servidor) e 36% atuam como autônomos; estes, entre-tanto, apresentam uma carga horária média de trabalho menor até 24 horas por semana.

Uma outra característica históri-ca da nossa profissão no Brasil é sua ênfase na atuação Clínica. Os dados da pesquisa revelam que, com relação a emprego principal, 55% indicaram a Clínica, 12% a área de Escolar e 19% a área de Organizacional. Entre-tanto, sabe-se, pelas mesmas fontes, que do total da categoria, 7 3 % atuam numa única área (dos quais 39% em Clínica) e 27% atuam em duas ou mais áreas.

É interessante ressaltar a trajetó-ria dos profissionais na área da Psico-logia Clínica: dos que ingressam na área (o 1° emprego de 46% da catego-ria é na Clínica), 13% abandonam¬ na, principalmente por baixo rendi-mento; destes, 36% vão para a Orga-nização. Entretanto, 77% permane-cem na área, embora os dados reve-lem 10% de desempregados na Psico-logia Clínica. Dos remanescentes, 60% ficam só na Clínica, enquanto

os 40% restantes buscam atuar simultaneamente em outras áreas — geralmente docência ou Escolar.

Quais as atividades

desenvolvi-das pelos psicólogos clínicos?

A pesquisa identificou que das 15 atividades mais citadas, 10 podem ser consideradas como "atividades tradicionais". As 5 atividades mais desenvolvidas são, em ordem decres-cente, também consideradas como tradicionais: psicoterapia individual (citada por 70% dos psicólogos clíni-cos), psicodiagnóstico, orientação de pais, aplicação de testes e aconselha-mento psicológico. Por outro lado, as cinco atividades consideradas "mais modernas" são: psicoterapia de casal, psicoterapia de família, orientação se-xual, supervisão extra-acadêmica e assistência a pacientes clínicos e cirúr-gicos.

Finalmente, o conjunto de dados da pesquisa ratifica a hipótese de que a Clínica é a área que mais absor-ve profissionais durante suas respecti-vas carreiras, ou seja, ainda é vista como "área nobre" da Psicologia, o sonho da maioria dos profissionais. Entretanto, é a área onde, em média, se trabalha menos e conseqüentemen-te também se ganha menos.

Vários autores já discorreram so-bre este quadro, desenvolvendo análi-ses sobre as implicações dessa ênfase clínica, observada no desenvolvimen-to da Psicologia, enquandesenvolvimen-to profissão, no Brasil. Da mesma forma, várias tentativas foram esboçadas procuran-do explicar por que, em nosso país, a profissão assumiu essas característi-cas. Neste sentido, identificam-se na literatura, hipóteses tanto de natureza macro social como de natureza mole-cular, tais como: categoria oriunda de segmentos sociais mais privilegiados, pouco comprometidos com os setores populares; importação do modelo médico de atuação; os currículo dos cursos reproduzem e enfatizam este modelo clínico tradicional; modelo de atuação adequado às características do sistema capitalista brasileiro , etc...

Sem pretender entrar no mérito dessas questões, uma conseqüência é óbvia: a ênfase histórica nesse modelo

de atuação profissional centrado no consultório particular, transformou o psicólogo num profissional acessível apenas às camadas economicamente privilegiadas de nosso país; a grande massa da população ainda não teve acesso aos benefícios que a Psicologia pode oferecer. Em outras palavras, a Psicologia enquanto profissão no Bra-sil, ainda não alcançou um nível de relevância social proporcional ao acú-mulo de conhecimentos observados na área; tal índice só pode ser avalia-do em função da contribuição social efetiva que esses profissionais venham oferecer, contribuindo para a supera-ção dos problemas que afetam amplas camadas da população.

Com essas colocações, não se es-tá defendendo a extinção da

Psicolo-gia Clínica enquanto área de atuação. Mas a análise dos dados da pesquisa sugere que o amadureci-mento da profissão, no entido de am-pliar sua relevância social, certamente implicará a busca de novas formas de atuação profissional, inclusive na tradicional Psicologia Clínica, na perspectiva da democratização dos serviços da Psicologia. Neste sentido, deve-se ressaltar que há vários sinais muito promissores de uma tendência à diversificação na atuação dos pro-fissionais. No entanto, esforços nesta direção deverão ser redobrados. E inegável as contribuições que os psi-cólogos podem dar em áreas funda-mentais como a saúde e a Educação. Nos últimos anos, é crescente o nú-mero de trabalhos desenvolvidos por grupos pioneiros nas mais diversas áreas.

Neste ano, a categoria terá no Congresso Unificado, a ser realizado em setembro, uma excelente oportu¬ nindade para discutir esta e outras questões relevantes. Este número da revista PSICOLOGIA-CIÊNCIA E PROFISSÃO representa uma contri-buição neste sentido, através da pu-blicação de trabalhos produzidos por profissionais brasileiros, relacionados com a área da Psicologia Clínica.

Referências

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