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Aluguel social + cultura: multifuncionalidade como agente no processo de reabilitação urbana

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Academic year: 2021

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CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

GIOVANA CRISTINA FARIA DE SOUZA

ALUGUEL SOCIAL + CULTURA - MULTIFUNCIONALIDADE

COMO AGENTE NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO URBANA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA 2017

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ALUGUEL SOCIAL + CULTURA - MULTIFUNCIONALIDADE

COMO AGENTE NO PROCESSO DE

REABILITAÇÃO URBANA

Trabalhode conclusão de curso apresentado à disciplina deTrabalho de Conclusão de Curso I do Curso Superior de Arquitetura e Urbanismo do Departamento Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo – DEAAU-da Universidade Tecnológica Federal do Paraná -UTFPR, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Arquitetura eUrbanismo. Orientadora: Profa. Dra. Yumi Yamawaki

CURITIBA 2017

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TERMO DE APROVAÇÃO

ALUGUEL SOCIAL + CULTURA MULTIFUNCIONALIDADE COMO AGENTE NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO URBANA

Por

GIOVANA CRISTINA FARIA DE SOUZA

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado em 11 de Junho de 2018 como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

A candidata foi arguida pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

Prof. Renata Akyiama UNIVERSIDADE POSITIVO - PR

Prof. Isuru Yamamoto UTFPR

Profa. Simone Polli UTFPR

Prof. Yumi Yamawaki (orientadora) UTFPR

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PR

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Gostaria de agradecer primeiramente à minha mãe, que sempre esteve presente, o meu grande exemplo e porto seguro, sem você nada teria sido possível. À toda a minha família, em especial ao Tio Nelson e ao meu pai.

Ao meu namorado, João Pedro, que me ajudou muito. Aos meus amigos, que dividiram esse momento comigo.

A todos os meus professores, que foram fundamentais para a minha formação. Principalmente aos que se dispuseram a me auxiliar no desenvolvimento desse trabalho através de assessorias e orientações.

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FARIA,Giovana. Reabilitação da rua 13 de maio.2017.Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo), Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2017.

O presente trabalho tem por objetivo embasar um projeto de reabilitação para uma área central de Curitiba: a Rua 13 de maio. A base se deu através da exploração de conceitos como memória e história, paisagem urbana, vitalidade urbana, diversidade urbana e apropriação do espaço público, esses conceitos são complementares uns aos outros. O processo de esvaziamento e degradação dos centros urbanos, os tipos de intervenções urbanas, a gentrificação associada às intervenções e o aluguel social também foram fundamentais para a compreensão do problema. O projeto será uma intervenção em uma quadra com a proposta de diversificar usos através de um edifício multifuncional

Palavras-chave: aluguel social, multifuncionalidade, escola de teatro, diversidade urbana.

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FARIA, Giovana. 13 de maio streetrehabilitation.2017.Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo), Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2017.

The following paper aims to provide the foundations of an urban rehabilitation project for one of Downtown Curitiba’s areas: the Rua 13 de Maio (13 de Maio Street). The basis was set through the analysis of concepts as Memory and History, Urban Landscape, Urban Vitality, Urban Diversity and Appropriation of Public Urban Space, these concepts are complementary to each other. Also, the process of urban areas degradation and emptying, the kinds of urban interventions, gentrification associated with these interventions and the concept of Social Rent are necessary for the comprehension of the problem. The project will be an intervention on a block with the proposal to diversify uses through a multifunctional building.

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Figura 1: Localização da Rua 13 de maio. ... 49

Figura 2: Área Calma de Curitiba. ... 50

Figura 3: Redução de Acidentes na área Calma. ... 50

Figura 4: Teatro Hauer - hoje.Fonte: Google Street View, 2017. ... 54

Figura 5: Teatro Hauer em 1913. Fonte: Lookfordiagnosis, 2017. ... 54

Figura 6: Teatro Hauer durante o restauro em 2016. ... 54

Figura 7: Teatro José Maria Santos à noite. ... 55

Figura 8: Teatro Lala Schneider. ... 57

Figura9: SeboArcádia. ... 58

Figura 10: Edifício Vermelho - Solar dos Guimarães. ... 59

Figura 11: Edifício Laranja - Solar dos Guimarães. ... 59

Figura 12: Fachada do Colégio Martinus na Rua 13 de maio. ... 60

Figura 13: Escola Anjo da Guarda. ... 61

Figura 14: Casa Kirchgassner. ... 63

Figura 15: Demografia. ... 65

Figura 16: Pirâmide Etária Curitiba. ... 66

Figura 17: Pirâmide Etária São Francisco. ... 67

Figura 18: Pirâmide Etária Centro. ... 67

Figura 19: Domicílios segundo tipo (casa, casa de vila, condomínio e apartamento). ... 68

Figura 20: Déficit habitacional de Curitiba, Centro e São Francisco. ... 68

Figura 21: Redes de Infraestrutura no Centro e São Francisco. ... 69

Figura 22: Estabelecimentos ativos segundo setor de atividade econômica. 69 Figura 23: Domicílios por classes de rendimento nominal mensal domiciliar per capita em salários mínimos. ... 70

Figura 24: A proporção de habitantes por carro em Curitiba. ... 71

Figura 25: Número de Habitantes por Carro nas Capitais. ... 71

Figura 26: Habitantes por veículo em Curitiba. ... 72

Figura 27: Ocorrências registradas em 2010. ... 72

Figura 28: Áreas Verde Curitiba, Centro e São Francisco. ... 73

Figura 29: Áreas verdes na Rua 13 de maio. ... 73

Figura 30: Uso do Solo na Rua 13 de maio. Fonte: Elaborado pela autora, 2017. Base: IPPUC, 2015. ... 74

Figura 31: Número de Pavimentos por edificação na Rua 13 de Maio.Fonte: Elaborado pela autora, 2017.Base: IPPUC, 2015. ... 75

Figura 32: Mapa de Equipamentos Municipais dos Bairros Centro e São Francisco. ... 76

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autora,2017. Base: IPPUC, 2017. ... 79

Figura 36: Incidência Solar do Terreno. Fonte: Elaborado pela autora, 2018. 79 Figura 37: Volumetria do Entorno. Fonte: Elaborado pela autora, 2018. ... 80

Figura 38: Mapa Síntese. Fonte: Elaborado pela autora, 2018. ... 81

Figura 39: Zoneamento dos Lotes que compõe o terreno. ... 82

Figura 40: Usos Permitidos no Setor Especial São Francisco. ... 83

Figura 41: Parâmetros de Ocupação no Setor Especial São Francisco. ... 83

Figura 42: Usos Permitidos no Setor Especial Histórico. ... 84

Figura 43:Parâmetros de Ocupação no Setor Especial Histórico. ... 85

Figura 44: Imóveis Tombados e UIPs no entorno do terreno. ... 87

Figura 45: Implantação do Projeto. ... 88

Figura 46: Sistema Estrutural. ... 89

Figura 47: Vazios no projeto. ... 90

Figura 48: Elevações Rítmicas. ... 90

Figura 49: Modulação baseada no corpo humano. ... 91

Figura 50: Organização das habitações de acordo com as possíveis configurações familiares. Fonte:Gifu Prefecture, 2007. ... 91

Figura 51: Planta de uma tipologia de apartamento. ... 92

Figura 52: Sala com pé direito duplo. ... 93

Figura 53: Cooperativa de Habitação La Balma. ... 93

Figura 54: Estratégia Ambiental. ... 95

Figura 55: Relação com o bairro. ... 96

Figura 56: Circulações e Espços Comunitários. ... 97

Figura 57: Sistema Estrutural. ... 98

Figura 58: Varanda. ... 98

Figura 59: Circulação horizontal e escadas metálicas. ... 99

Figura 60: Tipologias habitacionais. ... 100

Figura 61: Tamanhos das diferentes tipologias. ... 101

Figura 62: Plantas do Edifício. ... 101

Figura 63: Praça das Artes e Conservatório Dramático Musical. ... 102

Figura 64: Setorização Praça das Artes. ... 102

Figura 65: Corte Longitudinal Praça das Artes. ... 103

Figura 66: Conservatório Dramático Musical de São Paulo após restauro. . 104

Figura 67: Recepção no primeiro pavimento. ... 105

Figura 68: Salas de Dança e Música. ... 106

Figura 69: Praça das Artes. ... 106

Figura 70: Perspectiva Escola de Artes Performativas. ... 107

Figura 71: Conceito do projeto. ... 108

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Figura 75: Implantação Complexo Júlio Prestes. ... 111

Figura 76: Escola de Música do Complexo Júlio Prestes. ... 111

Figura 77: Planta de Implantação do Complexo Júlio Prestes. ... 112

Figura 78: Complexo Júlio Prestes - Permeabilidade e Fruição Pública. ... 113

Figura 79: Dinâmicas espaciais da Gentrificação em Paris. ... 115

Figura 80: Explorar as visuais. ... 117

Figura 81: Estratégia de Implantação. ... 118

Figura 82: Planta de Implantação... 119

Figura 83: Detalhe Térreo 1 - Praça Central e escada de conexão com o térreo 2. ... 120

Figura 84: Setorização. ... 121

Figura 85: Acessos Térreo 1. ... 122

Figura 86: Usos Térreo 1. ... 122

Figura 87: Acessos Térreo 2. ... 123

Figura 88: Usos Térreo 2. ... 124

Figura 89: Planta do Anfiteatro. ... 125

Figura 90: Perspectiva vista a partir da Rua Treze de Maio. ... 125

Figura 91: Planta das Lojas - Térreo 1. ... 126

Figura 92: Planta do Coworking. ... 127

Figura 93: Planta Restaurante. Fonte: Elaborado pela autora, 2018. ... 128

Figura 94: Distribuição da Escola de Teatro nos pavimentos. ... 128

Figura 95: Planta Escola de Teatro - Térreo 1. ... 129

Figura 96: Escola de Teatro - Térreo 2. ... 130

Figura 97: Escola de Teatro - Primeiro Pavimento. ... 131

Figura 98: Planta - Distribuição das unidades habitacionais. ... 132

Figura 99: Corte - Distribuição das unidades habitacionais. ... 132

Figura 100: Número de Unidades Habitacionais. ... 133

Figura 101: Unidade de 1 Quarto. ... 133

Figura 102: Unidade Estúdio. ... 134

Figura 103: Unidade 2 Quartos. ... 134

Figura 104: Unidade 3 Quartos. ... 135

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BID CDP ICES IPHAN IPPUC

Banco Interamericano de Desenvolvimento Condicionantes, Deficiências e Potencialidades Iniciativa Cidades Emergentes e Artístico Nacional Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano

ISCTE -CET Instituto Universitário de Lisboa – Centro Especialização Tecnológico

PAS Plano de Aluguel Social

PlanHab s.d.

Plano de Habitação Sem data

UIEP Unidade de Interesse Especial de Preservação UIP Unidade de Interesse de Preservação

ZC ZR-4

Zona Central Zona Residencial 4

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1. INTRODUÇÃO ... 14 1.1. Delimitação do Tema ... 14 1.1.1. Problema de Pesquisa ... 14 1.1.2. Hipótese ... 14 1.2. Objetivos ... 14 1.2.1. Objetivo Geral ... 14 1.2.2. Objetivos Específicos ... 15 1.3. Justificativa ... 15

1.4. Estruturado Trabalho e Metodologia da Pesquisa ... 17

2. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA ... 18

2.1 Cidade: Memória e História ... 18

2.1.1. Paisagem Urbana ... 20

2.1.2. Diversidade Urbana e Segurança ... 22

2.1.3. Vitalidade Urbana ... 25

2.1.4. Apropriação do Espaço Público ... 28

2.2. Centro das Cidades ... 31

2.2.1. Intervenções Urbanas ... 33 a) Renovação ... 36 b) Reabilitação ... 37 c) Revitalização ... 39 d) Requalificação ... 40 e) Regeneração ... 41

f) A Intervenção para a Rua 13 de Maio ... 42

2.2.2. Gentrificação e Intervenções Urbanas ... 42

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3.2. Rua Treze de Maio ... 49

3.2.1. Aspectos Históricos de ocupação e desenvolvimento ... 51

3.2.2. Características Socioeconômicas e Urbanas ... 65

3.2.3. Estrutura Urbana ... 75

3.3. O terreno ... 78

3.3.2. Uso do Solo ... 81

3.3.3. Imóveis e Preservação ... 85

4. ESTUDOS DE CASO ... 88

4.1. Habitação de Interesse Social ... 88

4.1.1. Kitaga Apartament Building - Sanaa ... 88

4.1.2. Cooperativa De Habitação La Balma - Lacol Arquitetura Cooperativa E La Boqueria ... 93

4.2. Escolade Teatro ... 102

4.2.1. Conceito e Inserção Urbana:Praça das Artes – Brasil Arquitetura 102 4.2.2. Programa e Usos: Escola de Artes Perfomáticas– 2º lugar do concurso Projetar.org ... 107

4.3. PolíticasHabitacionais ... 110

4.3.1. Complexo habitacional e Cultural Júlio Prestes – Biselli & Katchborian Arquitetos ... 110

4.3.2. Medidas Para Controle Do Mercado Imobiliário em Paris .... 114

5. DIRETRIZES PROJETUAIS ... 117

5.1. Diretrizes Gerais ... 117

5.1.1. Conceito e Estratégia de Implantação ... 117

6. O PROJETO ... 119

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6.4. Lojas ... 125 6.5. Coworking ... 126 6.6. Restaurante ... 127 6.7. Escola de teatro ... 128 6.8. Aluguel Social ... 131 6.8.1. As Unidades Habitacionais ... 133 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 136 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 137 9. APÊNDICE ... 149

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1. INTRODUÇÃO

1.1. DELIMITAÇÃO DO TEMA

Edifício de aluguel social e uma escola de teatro, com térreo público, na quadra delimitada pelas ruas: Treze de Maio, Duque de Caxias, Mateus Leme e Doutor Claudino dos Santos.

1.1.1. Problema de Pesquisa

Como incentivar a permanência das pessoas na rua 13 de maio? 1.1.2. Hipótese

Criando diferentes motivos e possibilidades para as pessoas usufruírem do espaço em diferentes momentos, circunstâncias e horários, as pessoas poderão permanecer mais na Rua 13 de maio.

1.2. OBJETIVOS

1.2.1. Objetivo Geral

Utilizar vazios urbanos para construção de um edifício multifuncional que otimize a fruição e a permanência nos espaços públicos na quadra delimitada pelas ruas: Treze de Maio, Duque de Caxias, Mateus Leme e Doutor Claudino dos Santos.

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1.2.2. Objetivos Específicos

a) Entender o processo de degradação dos centros urbanos. b) Conhecer conceitos para melhoria da qualidade das ruas. c) Conhecer o histórico da Rua 13 de maio.

d) Levantar os usos existente na Rua 13 de maio e os diferentes micro setores. e) Analisar as características socioeconômicas dos bairros São Francisco e Centro. f) Identificar potenciais e a vocação da rua.

g) Escolher o tipo de intervenção para mitigar o problema. h) Compreender projetos similares.

i) Elaborar as diretrizes projetuais para melhorar a qualidade espacial e aumentar o fluxo de usuários.

j) Propor um projeto de edifício que contribua para a reabilitação da área em que está inserido.

1.3. JUSTIFICATIVA

O tema do trabalho é um edifício multifuncional, que abrigará residências voltadas para o aluguel social, uma escola de teatro e um restaurante. A área escolhida para intervir foi a quadra delimitada pelas ruas: Treze de Maio, Duque de Caxias, Mateus Leme e Doutor Claudino dos Santos, na região central de Curitiba.

Os centros urbanos são os locais de mais fácil acesso pela maioria da população. Em geral são lugares infra estruturados e dinâmicos. Porém, esses mesmos espaços vêm passando por um processo de esvaziamento e degradação. Villaça (2001) defende esse processo como sendo parte da mudança das classes mais abastadas para outras regiões da cidade e a tomada dos centros pelas classes populares.

Os centros são lugares de muito uso durante o dia, por abrigarem muito comércio e serviço, mas com um esvaziamento noturno devido ao pouco uso

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residencial, ou seja, toda a infraestrutura existente é pouco aproveitada por moradores.

Como parte desse processo está a região central de Curitiba, com muitos imóveis abandonados ou subutilizados, mesmo que segundo o IPPUC (2015) a cidade possua um déficit habitacional de 5,34%.

O recorte surgiu após uma análise de toda a extensão da rua 13 de maio, que foi identificada como uma área com diversas potencialidades, porém, com pouco uso comercial, sendo uma rua apenas de passagem, com um fluxo intenso de carros e com baixo fluxo de pedestres, com muitos terrenos subutilizados para estacionamentos e edificações em mal estado de conservação.

A quadra escolhida para a intervenção faz uma conexão direta com o Largo da Ordem e possui uma grande vocação cultural, com vários equipamentos para diversas modalidades, como teatro, música e artes plásticas. O próprio espaço público, principalmente no Largo da Ordem, serve como espaço para manifestaçoes artísticas. O aluguel social é uma forma de garantir o direito à moradia, porém sem dar o direito à propriedade. Uma solução que vem sendo amplamente implementada em países desenvolvidos como Estados Unidos e na Europa, com relativo sucesso, porém, quase inexistente na América Latina. O aluguel pode ser uma forma complementar para a redução do déficit habitacional em camadas de renda baixa. (PASTERNAK, BOGÚS, 2014)

O restaurante, foi uma demanda levantada através de entrevistas no local, pois as pessoas, após assistirem apresentações artísticas, costumam buscar lugares próximos para se alimentarem e darem continuidade ao momento de lazer. Quanto a sua presença no projeto funcionaria como um aglutinador e pessoas motivando uma maior permanência no local.

O aluguel social, o restaurante e a escola de teatroconstituiem a multifuncionalidade do edifício. O térreo, que será público, permitirá que as pessoas interajam com o ambiente e com as manifestações culturais, aumentando o fluxo de pessoas e dando incentivos para a sua permanência no local.

A diversidade de funções e usos geram aapropriação e permanência, de diferentes pessoas e em diversos horários. (JACOBS, 2011)

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“Um bairro mais diversificado socialmente, é, portanto, propício para uma ‘urbanidade’ ou mesmo para a ideia de integração social, segurança e ‘cidadania’. ” (NETTO, 2006, p.1)

1.4. ESTRUTURADO TRABALHO E METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa foi estruturada em 4 grandes tópicos: Conceituação Temática, Interpretação da Realidade, Estudos de Caso e Diretrizes.

Na conceituação temática, buscou-se referencial teórico e conceitos para o melhor entendimento e suporte do trabalho a ser desenvolvido. Entendendo as problemáticas de regiões centrais, onde o projeto seria implantado.

A interpretação da realidade se deu através de diversos diagnósticos para compreender as características da área de intervenção. Os estudos de caso foram um suporte para entendimento de como foram feitas intervenções semelhantes em outras localidades. Por fim, as diretrizes são o resultado de toda a análise feita no decorrer do trabalho, a resultante de tudo que foi previamente abordado e estudado. A metodologia adotada para o desenvolvimento do trabalho envolveu o método exploratório. Foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica, para a conceituação temática e os estudos de casos, utilizou-se livros, artigos científicos, teses, dissertações e web sites. Para a interpretação da realidade foram utilizados dados estatísticos e levantamentos de informações in locu, além da elaboração de mapas para melhor entendimento das informações coletadas em relação ao espaço estudado. As diretrizes foram baseadas numa análise do referencial teórico e dos diagnósticos levantados.

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2. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA

2.1 CIDADE: MEMÓRIA E HISTÓRIA

A cidade costuma ser o espaço onde acontecem as interações sociais dos indivíduos. É esse espaço que adere os acontecimentos para que eles não fiquem perdidos no tempo. Muitas memórias coletivas podem ter como a única coisa em comum o espaço em que elas aconteceram, a cidade. (ABREU, 1998)

Segundo Pesavento (2005) a recuperação da cidade implica no registro da materialidade (lembranças, personagens, prédios, etc.), mas também em encontrar os significados que esta cidade abrigou ao longo do tempo, construindo através desse conjunto uma identidade urbana, formada pelos sentidos e formas que individualizouesse espaço na história.

Infelizmente não há muitos vestígios do passado nas cidades brasileiras. Devido a influência Iluminista no século XIX, o objeto de análise e preocupação das pessoas passou a ser as perspectivas do futuro, relegando o passado a mero processo de alterações até atingir o “ápice” social, logo, as memórias e sua influência poderiam ser omitidas. Durante o século XX aconteceram grandes projetos modernizadores nas cidades, e qualquer apego ao passado era tido como conservadorismo e sinônimo de atraso.Foi só depois dos grandes acontecimentos trágicos do século XX, como as guerras e o holocausto, que a sociedade passou a viver o presente, desconfiar do futuro e revalorizar o passado. (ABREU, 1998).

O resgate desse passado pode acontecer de diversas formas, através das memórias sociais, memórias coletivas, da história, da geografia, do patrimônio histórico, etc.Para entender a memória das cidades é necessário entender os diferentes tipos de memória e como elas impactam na memória da cidade.

Para Abreu (1998), a memória individual é muito subjetiva e única, enquanto que a memória de um lugar, de uma cidade, é uma memória compartilhada, ou seja, uma memória coletiva.

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Porém, Pesavento (2005) define a memória social como parte de uma vida em comum, e amemória coletiva como o modo institucional e cultural com que uma comunidade passa a evocar, construir e transmitir seu passado, ou seja, é a institucionalização da memória social.

As memórias coletivas são dinâmicas, e estão baseadas no ponto de vista e experiências de um determinado grupo social. Essas memórias podem ser registradas em documentos, tornando-se memória histórica. Esses registros normalmente ocorrem em momentos de ruptura, quando o que se deseja lembrar já está muito distante e está quase se perdendo no passado. (ABREU,1998)

Há também uma relação importante entre memória e história. Na mitologia grega Mnemósine era a deusa da memória e Clio, sua filha, musa da história. Ambas eram responsáveis por elaborar narrativas sobre o passado. Mas a escrita e a fama, fizeram a história o registro autorizado, atividade marcada pelo atributo de permanência. A narrativa histórica reconstrói o passado que toma o lugar do acontecido, substituindo-o como uma versão estável do tempo que passou. (PESAVENTO, 2005).

ParaAbreu(1998), os fatos históricos são uma forma mais concreta de obter as informações do passado, pois são obtidos com um maior distanciamento, evitando deixar-se levar pelas experiências pessoais. A história como ciência possui um compromisso com a verdade, não sendo imune a equívocos, porém devendo sempre ser revista e reorganizada. "Segundo a sua orientação, a memória pode conduzir à história ou distanciar-se dela." (Le Goff, 1990, p.379)

Le Goff (1990) defende que os fenômenos da memória são resultados de sistemas dinâmicos que existem apenas na medida em que são mantidas ou reconstituídas.A memória coletiva, foi muitas vezes manipuladapelas forças sociais que lutavam pelo poder, criando esquecimentos e silêncios na história.

Sobre o impacto da memória e da história na vida individual e coletiva Venrant (apud Le Goff, 1990) afirma que a memória representa a conquista do homem sobre o seu passado individual, assim como a história seria para um grupo social a conquista do seu passado coletivo.

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O lugar onde se desenvolveram essas memórias é muito importante. "Não há memória coletiva que não se desenvolva num quadro espacial." (HALBWACHS, 1990, p.92). "[...] As imagens espaciais desempenham um papel na memória coletiva." (HALBWACHS, 1990, p.99). Ainda segundo Halbwachs (1990), o lugar é uma marca do grupo e o grupo é marcado pelo lugar. Todos os elementos possuem um sentido para o grupo que ocupou o espaço correspondendo a aspectos de suas vidas e da sua sociedade.

Para Abreu (1998) é preciso se conscientizar de que o resgate da memória nas cidades deve associar-se a recuperação das formas herdadas de outros tempos, mas também buscar o que não deixou marcas na paisagem, o que pode ser recuperado nas instituições de memória.

Para Paoli (1992) a noção de “patrimônio histórico” deveria evocar um passado vivo, preservando coisas significativas e diversas para a coletividade, e não apenas relativas às instituições de poder. No entanto, isso nem sempre ocorre, pois infelizmente a preservação é dissociada dos significados coletivos, não expressando as experiências sociais que deveriam representar e tornando assim o patrimônio pouco atrativo.

2.1.1. Paisagem Urbana

Para compreender os conceitos de paisagem urbana é necessário antes definir o termo “paisagem”.

Segundo Maciel e Lima (2011) o conceito de paisagem, antes associado ao naturalismo, passa a ser definido como a expressão morfológica da integração entre os fatores naturais e sociais a partir do século XX.

Para Burle Marx (1981), a paisagem é composta por aspectos ecológicos, biogeográficos eculturais, além das qualidades estéticas e funcionaisconsideradas pela arquitetura.

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Neste contexto, é possível extrair da definição de paisagem um conceito adequado para paisagem urbana, que éa paisagem da cidade. Como propõe Landim (2004, p.36):

A paisagem urbana representa a cidade, e assim torna-se possível conhecer a cidade por meio de sua paisagem, pois, enquanto a cidade se configura como linguagem, a paisagem urbana apresenta-se como a sua representação, a qual torna possível esse conhecimento, estabelecendo relações entre o modo de representar, no caso, a paisagem urbana, e o objeto a ser representado, no caso, a cidade.

Ainda segundo Landim (2004), a paisagem da cidade gera percepções através de todos os elementos que a compõe. Os diferentes usos, elementos e características da cidade são geradores da paisagem urbana, e a partir dela pode-se fazer um diagnóstico completo de toda a dinâmica social, econômica e cultural de uma cidade. Em contrapartida, Carlos (1992) defende que a paisagem urbana é uma forma de manifestação do urbano. A paisagem vai além da aparência, ela introduz os elementos da discussão do urbano como um processo e não apenas como forma. Na paisagem se encontram diversos elementos que podem gerar uma discussão sobre a evolução da produção espacial e a forma como ela foi produzida. A autora também fala sobre os dois elementos principais para a paisagem urbana: o espaço construído e o movimento da vida.

Capel (2002) enfatiza a identificação dos tipos de paisagemurbanapela associação às atividades econômicas, podendo encontrar, em uma cidade, uma paisagem industrial, de comércio, de lazer, dos espaços dedicados ao transporte e às comunicações, sugerindo o estudo das funções econômicas através dos usos do solo.

O estudo da paisagem urbana é muito importante para o planejamento das cidades. Para Lynch (1998) a paisagem urbana possui multiplicidade de funções, entre elas recordar e causar prazer.

A paisagem urbana é ampla e complexa, podendo abranger diversas escalas. Para Rossi (1982) na escala da rua, os imóveis de moradia e a estrutura da propriedade territorial são elementos fundamentais da paisagem urbana.

Um cenário físico vivo e integrado, capaz de gerar uma imagem nítida, possui uma função social. Ele pode fornecer a matéria-prima para símbolos e memórias coletivas da comunicação de um grupo. Uma paisagem impressionante é a estrutura

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que muitos povos utilizam para construir seus mitos de importância social. Essa imagem ambiental dá ao seu possuidor um forte senso de segurança emocional. (LYNCH, 1998)

2.1.2. Diversidade Urbana e Segurança

A composição espacial e os usos dados a um determinado lugar influenciam diretamente na segurança desse espaço. SegundoJacobs (2011) quanto mais diversificado forem os usos de uma rua, mais pessoas circularão e isso gerará maior segurança.

Netto (2006) critica grande parte da produção daarquitetura nas cidades. A tipologia, que ficou consagrada nos anos 1990 e empregada pelo mercado da construção civil, se vale de edifícios verticalizados com recuos laterais e frontal e térreos privados isolados através de gradil. Este tipo de construção induz a utilização de automóveis e gera um esvaziamento das ruas pela ausência de usos que atraiam a circulação de pedestres. Como consequência aumenta a incidência de crimes.

Vale notar que a tipologia dos edifícios com recuos, grades, guaritas e térreos privados só foi consagrada porque parece responder aos anseios de classes média e alta por mais segurança – mas que termina por gerar exatamente o efeito oposto. (NETTO, 2006, p. 1)

Vivan e Saboya (2012), sob um prisma mais específico, criticam os zoneamentos das cidades brasileiras, que na maior parte dos casos nãorestringem qualquer tipo de padrão construtivo, limitando-se a regular o uso do solo e definiríndices construtivos generalistas. Com isso os padrões empregados diminuem a relação com a rua, tornando os espaços com menor trânsito de pessoas e, consequentemente, mais inseguros.

Reforçando isso, Tanscheit (2016, p.1)expõeque “A noção de segurança é perdida no momento em que uma localidade se torna vazia, não recebe iluminação, uso ou até mesmo a atenção adequada. ”

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Essas noções têm por base as propostas de JaneJacobs em seu livro Morte e Vida nas Grandes Cidades (2011). Jacobs, acrescenta ao já exposto, que se existem casos de violência em uma rua ou em um bairro, as pessoas se tornam temerosas em relação às ruas, e quando isso ocorre, as pessoas usam menos as ruas, o que as torna ainda mais inseguras.

Outro ponto abordado por Jacobs (2011) é a necessidade de “olhos para rua”.Neste sentido Vivan e Saboya (2012, p.3) afirmam:

A conexão visual das edificações destaca-se na segurança das edificações e dos espaços públicos como um fator que pode favorecer a redução dos crimes. Locais aparentemente mais seguros também incentivariam seu uso, o que por sua vez reforça a vigilância natural, em um círculo virtuoso.

Vivan e Saboya (2012) dizem que as portas e janelas são dispositivos que por possibilitarem a comunicação visual com a rua podem inibir algumas atitudes de criminosos. Não necessariamente por sempre haver alguém olhando, mas por deixar, no criminoso, a dúvida de que pode estar sendo observado. A edificação sem bloqueio e próxima a um espaço público com bom nível de movimentação sugere uma combinação que reforça a vigilância público x privado.

Através de um estudo exploratório realizado na cidade de Florianópolis, que analisou a ocorrência de crimes e os espaços em que eles ocorreram, Vivane Saboya (2012) concluem que os resultados obtidos demonstraram que a arquitetura e o ambiente podem ter influenciado o comportamento. “Mais especificamente, relações de Inter visibilidade entre os espaços edificados e os espaços públicos possuem influência na distribuição da ocorrência de crimes. Tais resultados corroboraram a literatura existente. ” (VIVAN e SABOYA, 2012, p.18).

Entretanto, o mesmo estudo também afirmaqueo tipo de uso urbano é mais relevante para a distribuição dasocorrências de crimes do que a existência ou não de visibilidade entre o interior e o exterior. De forma ainda inconclusiva, o estudo revelou que a ocorrência de crimes é maior em áreas comerciais.Mas ainda assim os autores são contrários a criação de bairros exclusivamente residenciais.

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Bondaruk (2007),da Polícia Militar do Paraná, realizou uma pesquisa associando a ocorrência de crimes em Curitiba à arquitetura e ao desenho urbano. Ele concordou com os principais preceitos de Jacobs. A partir do que foi escrito pela norte-americana, Bondaruk selecionou alguns pontos essenciais para a manutenção da segurança em uma determinada área. São eles: Usos principais combinados, tamanho reduzido das quadras, edifícios com estado de conservação variados e densidade alta de pessoas.

Os usos principais são aqueles que sozinhos atraem as pessoas a um lugar, e a combinação deles propicia que hajam mais pessoas nas ruas em diferentes horários. O tamanho reduzido das quadras faz com que os diferentes usos sejam de fato combinados e misturados, fazendo com que o trajeto das pessoas se cruzem. O estado de conservação variado dos edifícios gera uma diversidade de classes sociais no mesmo espaço. E finalmente, a densidade alta de pessoas sustenta a vida comercial e social do bairro. (JACOBS apud BONDARUK, 2007).

Para Jacobs (2011) uma rua segura que se vale da presença de desconhecidos precisa de três características principais: a primeira é que deve ser nítida a separação entre o espaço público e privado; a segunda é que devem existir olhos para a rua; e a terceira é a de que deve ter usuários transitando ininterruptamente.

“Um bairro mais diversificado socialmente, é, portanto, propício para uma ‘urbanidade’ ou mesmo para a ideia de integração social, segurança e ‘cidadania’. ” (NETTO, 2006, p.1)

Para conseguir toda essa diversidade, está sendo amplamente discutida a importância das fachadas ativas. O Plano Diretor Estratégico de São Paulo (2013, p.1) define fachadas ativas como: “a ocupação da fachada localizada no alinhamento de passeios públicos por uso não residencial com acesso aberto à população e abertura para o logradouro. ” Os objetivos associados, citados no plano, são:

Promover usos mais dinâmicos dos passeios públicos em interação com atividades instaladas nos térreos das edificações a fim de fortalecer a vida urbana nos espaços públicos. Evitar a multiplicação de planos fechados na interface entre as construções e o passeio público.(Plano Diretor Estratégico de São Paulo, 2013, p.1)

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As fachadas ativas são exemplo claro de que, ainda que seja necessário a delimitação expressa entre o público e o privado, esses núcleos demandam conexão, justamente por sua interposição proporcionar segurança (JACOBS, 2011). Neste sentido:“ conectar os espaços entre o que é público e o que é privado pode ser um trunfo para evitar a perda da noção de segurança. ” (TANSCHEIT, 2016, p.1)

Segurança e qualidade do espaço público possuem uma relação mútua, pois uma depende da outra, e para termos cidades melhores para as pessoas é necessário que ambas estejam presentes no espaço público. Gehl (2013) afirma que caminhar com segurança é necessário para que as cidades sejam convidativas e funcionais para as pessoas, da mesma forma, a recíproca também é verdadeira. A segurança, real ou percebida, é essencial para a vida na cidade.

2.1.3. Vitalidade Urbana

A vitalidade urbana se refere à vida nos espaços públicoseémuito importante para as cidades. Segundo Saboya (2016, p.1) a vitalidade urbana: “é um conceito complexo e multifacetado, que acontece a partir da interação entre diversos padrões sociais, espaciais e econômicos. ”

Ainda segundo Saboya (2016, p.1):

Um lugar possui vitalidade quando há pessoas usando seus espaços: caminhando, indo e vindo de seus afazeres diários ou eventuais; interagindo, conversando, encontrando-se; olhando a paisagem e as outras pessoas; divertindo-se das mais variadas maneiras e nos mais diversos locais; brincando, especialmente em parques e praças, mas também na rua; e assistindo apresentações artísticas, especialmente as informais e improvisadas, entre outras manifestações. Inclui também toda uma gama de atividades relacionadas às trocas comerciais, tais como entrar e sair de lojas, perguntar e pesquisar preços, olhar vitrines, comprar, pechinchar, etc. Quando acontece informalmente no próprio espaço público, como é o caso de camelôs e barraquinhas de venda de comidas, a própria atividade comercial é parte da vitalidade urbana. Em suma, a vitalidade urbana pode ser entendida como a alta intensidade, frequência e riqueza de apropriação do espaço público, bem como à interação deste com as atividades que acontecem dentro das edificações.

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Netto et al (2012) corroboram o apresentado descrevendo a vitalidade como um conjunto de condições encontradas em espaços em que há intensa presença de pessoas nas ruas, grupos em interação e trocas microeconômicas. O papel das densidades e da forma urbana pode ser associado ao tema da interatividade e inovação na economia urbana. Para os autores, a vitalidade é impactada de diferentes formas pelas morfologias arquitetônicas. Essas morfologias impactam não somente a vitalidade, por isso para entende-la é necessário compreender as implicações que elas possuem em suas dinâmicas mais amplas.

Para Saboya (2016),o fator mais óbvio, que influencia a vitalidade urbana, é a quantidade de pessoas e atividades que podem preencher os espaços públicos. A quantidade de pessoas, economias e área construída é diretamente proporcional à vitalidade urbana.

Gehl (2013) oferece um contraponto, pois essa densidade geraria um fluxo de pessoas passando pelas ruas, mas não necessariamente uma permanência. A cidade tem que ser entendida não somente através da quantidade de pessoas, mas de quanto tempo elas mantêm-se no espaço. Os lugares que oferecem oportunidades de permanência são muito mais vivos, já que os percursos de passagem costumam ser rápidos, ligando apenas origem e destino, e não são suficientes para evitar a sensação de esvaziamento. O autor discorre também sobre o fato de ser muito melhor investir na qualidade espacial para atrair as pessoas aos espaços públicos do que aumentar o número de pessoas em uma região. Pois, para ele, é mais fácil e mais eficiente trabalhar com a qualidade do que com a quantidade.

Gehl (2013, p.68) é claro ao afirmar que, muito mais do que o adensamento, as cidades precisam de espaços com qualidade, conforme se observa da seguinte passagem: "O que a cidade viva realmente precisa é uma combinação de espaços públicos bons e convidativos e certa massa crítica de pessoas que queira utilizá-los." Além disso, adiciona-se um novo elemento para a trama da vitalidade urbana a partir da declaração de Netto et al (2012, p.264): “A dimensão das intensidades das presenças e interações e a dimensão dos conteúdos simbólicos da interação e valores subjetivos são complementares e igualmente importantes para a vitalidade urbana.”

Como forma de permanência no espaço, há a contraposição das formas de deslocamentos. O tráfego lento, proporcionado pelo caminhar calmo, gera um tempo

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maior de permanência nos espaços. Gehl (2013) confronta dois exemplos: Veneza, onde a maioria das pessoas se deslocam a pé. E as cidades modernas, com bairros voltados para os automóveis, onde há um maior número de pessoas circulando, porém de forma rápida através dos seus carros. Mesmo com uma população menor, Veneza possui mais vitalidade, as pessoas demoram mais para se deslocar, e os caminhos se tornam menos óbvios, podendo haver paradas em lojas e desvios no caminho previsto.

Saboya (2016, p.1) afirma que “movimento de pedestres é um dos componentes basilares da vitalidade”. Ao mesmo tempo caracteriza os automóveis como “desvitalizadores” do espaço urbano. Porém, para garantir a vitalidade urbana, é necessário garantir a acessibilidade aos espaços públicos: “É importante pensar em alimentá-los com linhas de transporte coletivo e a infraestrutura correspondente, bem como ciclovias, faixas de pedestres e outros equipamentos que aumentem a segurança dos pedestres e ciclistas. ” (SABOYA, 2017, p. 1).

Há uma clara tendência, já há algumas décadas, especialmente entre os estudiosos da cidade, no sentido de priorizar modos de transporte coletivos e não motorizados. Sistemas eficientes, com boa cobertura, pontuais e frequentes são ferramentas valiosas para democratizar o acesso à cidade e dar suporte a experiências plenas e enriquecedoras do espaço urbano, bem como promover o encontro e o acesso aos diferentes recursos que fazem parte de nossa cada vez mais complexa e variada existência. São, portanto, fatores de vitalidade. (Saboya, 2016, p.2)

Outro fator de grande importância na vitalidade urbana é o espaço de transição entre o espaço público, a rua, e o espaço residencial, privado. Essa transição tem grande impacto, podendo ou não, reforçar a vida na cidade, através de espaços ativos, abertos, com muitas portas, unidades baixas e cuidadosamente planejadas no nível térreo pode-se alcançar uma maior vitalidade urbana. (GEHL, 2013).

Sobre esse espaço de transição Netto et al (2012), dizem que o envolvimento de encontros no espaço público e a possibilidade de acesso ao espaço construído, constituem uma relação que envolve também um potencial de comunicação e a constituição de trocas sociais, políticas e microeconômicas que se manifestam localmente.

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Gehl (2013) defende também que é necessário que haja uma grande diversidade no térreo, e para isso um mesmo empreendimento não pode ocupar mais do que 5m da fachada. Assim, grandes empreendimentos poderiam ficar no andar superior e ter apenas o seu acesso no nível da rua, evitando espaços residuais, sem acesso direto para a rua.

Os autores citados partem da classificação tradicional (seja como crítica favorável ou contraposição) proposta por Jacobs (2011), que elenca como um dos critérios para uma maior harmonia entre desconhecidos e segurança no espaço urbano, a clara delimitação entre o espaço público e privado, ainda que, por outro lado, demonstrem que é necessária alguma forma de intersecção, mesmo que por meio de espaços de transição, como proposto por Gehl.

Assim como Jacobs(2011) defendia os olhos da rua, Saboya (2013) afirma que além da proximidade física, entre o espaço público e privado, é necessário que haja também conexões visuais através da permeabilidade das fachadas.

2.1.4. Apropriação do Espaço Público

Segundo o dicionário Aurélio (2016) apropriação é: “derivação fem. sing. de Apropriar. 1- Tornar próprio; 2 – Acomodar; 3 - Aplicar, atribuir; 4 - Tornar ou ser adequado ou conveniente a;5 - Apossar-se; 6 - Tornar seu uma coisa alheia”.

A apropriação do espaço é o uso do espaçocomo se ele fosse seu. E quando falamos de espaços públicos há o enfrentamento de um grande problema, eles são de todos, porém muitas vezes, o sentimento é de que eles não são de ninguém.

Para Silva (2009), a apropriação do espaço público pode se dar através de diferentes formas. O uso dos espaços é uma das mais importantes, pois,as pessoas podem se concentrar em um local pelo uso que foi proposto a ele, ou pelo uso que as pessoas costumam fazer do espaço. A autora (ibid, p.30) relembra Gehl e cita que “Os tipos de uso nos espaços públicos podem ser divididosem atividades necessárias, opcionais e sociais”.

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Outro fator importante é a atratividade e qualidade espacial, um lugar atrativo, com grande qualidade espacial, atrai mais pessoas do que um lugar com pouca qualidade. Os pontos de atratividadepodem estar associados às edificações ou aos espaços abertos, que adquirem um caráter específico e marcante na paisagem urbana(SILVA, 2009).

Ferreira (2007, p.16) acrescenta a importância da atividade política como uma das possibilidades para a apropriação coletiva:

Ao considerar o espaço público, socialmente construído, também como locus da ação política cotidiana, não pretendo dissociar funções distintas que esse espaço pode abrigar.A compreensão do lazer, da recreação e do ócio, como atividades fundamentais para o desenvolvimento humano, e complementares ao trabalho e a demais atividades sociais, pode garantir ao espaço público uma dimensão mais ampla do que algumas sínteses que visam classificar áreas livres de acordo com sua utilização.

Para Carlos (2004) a apropriação do espaço é um direito de cidadania, que é dificultado pela segregação de classes. A cidade como produção social vem sendo um elemento exterior à sociedade. Os espaços da cidade passaram a ser tidos como produtos da acumulação capitalista. Neste sentido, a prática socioespacial é empobrecida. Isso impõe restrições às formas de apropriação da cidade, pela limitação do uso, porque o processo de acumulação generaliza-se no espaço.

A reflexão sobre a cidade é, fundamentalmente, uma reflexão sobre a prática sócio-espacial que diz respeito ao modo pelo qual se realiza a vida na cidade, enquanto formas e momentos de apropriação do espaço como elemento constitutivo da realização da existência humana (CARLOS, 2004, p.13).

Enquanto que, para Telésforo (s.d.), a apropriação não tem a ver com propriedade, mas com o uso, e precisa acontecer coletivamente como condição de possibilidade à apropriação individual. Portanto, não seria afetado diretamente pelo modo de acumulação de bens.

Em um estudo na cidade de Criciúma/SC, Vieira (2010) concluiu que existe uma relação direta entre a configuração do espaço e sua apropriação. As formas do espaço público podem potencializar o seu uso. Aspectos como orientação,

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legibilidade, estrutura e identidade são critérios de qualidade fundamentais para que um conjunto de espaços públicos possa vir a compor um sistema e para que a sua configuração facilite a apropriação pelas pessoas.

Elementos morfológicos como a vegetação, as edificações, sua organização em lotes e quadras, dentre outros, são partes que se organizam ou são organizadas configurando espaços públicos que irão formar a estrutura urbana, e que são capazes de dar-lhe sustentação e vitalidade. Argumentamos que, para a leitura desta estrutura, se faz necessária a decomposição destes elementos em diversas escalas de tempo e de espaço, com o objetivo de obter uma análise mais completa, capaz de nos aproximar da compreensão do todo. (VIEIRA, 2010, p. 43)

Mendonça (2007) salienta que as apropriações espontâneas (quando um meio é utilizado para uma finalidade diferente da qual foi atribuída a ele) não implicam em inadequação ou indícios de marginalidade. Pelo contrário, podem indicar criatividade, capacidade de melhor aproveitamento das infraestruturas públicas e fornecer subsídios que alimentem o projeto e a construção futura de ambientes desta natureza. O vínculo ao ambiente urbano, quanto apropriação do espaço, pode ser utilizado para compreender os desejos e necessidades de uma determinada população.

A amplitude e variedade de espaços públicos gera o esvaziamento deles. A cidade tem um número limitado de pessoas. Portanto, é necessário que haja planejamento em relação a esses espaços, que devem respeitar uma escala humana. Espaços grandes demais precisam de muita gente para que se tenha a sensação de que está sendo ocupado. Além de que existe um ciclo, as pessoas são atraídas a lugares que estão sendo ocupados por outras pessoas (GEHL,2013).

A vitalidade urbana é sem dúvida a melhor forma de gerar apropriação do espaço público. ConformeJacobs (2011) afirmava, as pessoas tendem a ocupar espaços previamente ocupados, ou seja, que pessoas atraem mais pessoas. Essa vitalidade e atração de pessoas certamente gera mais segurança para a apropriação do espaço.

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2.2. CENTRO DAS CIDADES

Áreas urbanas centrais, em geral, englobam um bairro ou um conjunto de bairros, com forte poder de concentração de pessoas e atividades, com infraestrutura urbana, serviços e equipamentos públicos, acervo edificado, serviços de vizinhança e oportunidade de trabalho. Essas áreas são comumente chamadas de centro e se encontram articuladas, ou não, em torno do núcleo original da cidade. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2008)

Os centros das cidades são locais extremamente dinâmicos, com fluxo de pessoas, veículos e mercadorias provenientes de atividades terciárias. Costumam ser uma referência e historicamente abrigam diversas instituições públicas e religiosas. (VARGAS E CASTILHO, 2015)

No entanto, Villaça observa que nem todas as cidades possuem um conjunto de instituições públicas e religiosas. Para a análise, o autor divide as cidades em: históricas, que exaltam o poder político e o poder religioso; capitalistas, que exaltam apenas o poder político; e tipicamente capitalistas, onde a maioria das cidades brasileiras se encaixam, que não exaltam nem o estado nem a religião.

Os centros principais, de cidades tipicamente capitalistas, segundo Villaça (2012): “são dominados pela atividade privada de comércio e serviços, pela propriedade privada da terra urbana e pelo mercado imobiliário. Em resumo, pelo lucro. ”

Vargas e Castilho (2015) observam que os centros das cidades têm recebido diversos nomes: centro histórico, centro de negócios, centro tradicional, centro de mercado, centro principal ou, simplesmente centro.

Para Villaça (2001) o centro principal é o lugar mais democrático das cidades. Pois ele surge como o local de maior convergência de deslocamentos dentro de uma cidade. Por isso, o centro não precisa estar localizado geograficamente no meio do território da cidade, mas é o local que (ibid, 2001, p.239): “minimiza o somatório dos deslocamentos do conjunto dos membros da aglomeração. Tal ponto seria aquele no qual toda a comunidade se reuniria no menor tempo possível. ”

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Os centros se congestionam pela intensidade de atividades, ao mesmo tempo que a concorrência de outros lugares para morar e viver é ampliada. Atividades ditas nobres e outras grandes geradoras de fluxos, como instituições públicas saem do centro. Com isso, atividades de menor rentabilidade, informais e por vezes, ilegais e praticadas por usuários e moradores com menor ou quase nenhum poder aquisitivo tomam o lugar deixado vazio.Como resultante, a arrecadação diminui e o poder público reduz a sua atuação nos serviços de limpeza e segurança públicas. (VARGAS e CASTILHO, 2015)

Villaça (2001), na sua tese sobre o espaço intra-urbano, faz uma análise completa sobre as modificações dos centros das cidades brasileiras a partir das classes de alta renda. O autor afirma que, o processo chamado de “decadência” do centro se deu pela saída das classes dominantes dos centros e mudança para outras áreas da cidade. Como consequência, a tomada do centro pelas camadas populares. “Por volta da década de 70 – variando um pouco conforme a metrópole -os centros já estavam bastante abandonados, principalmente como local de compras, diversões e escritórios profissionais liberais das burguesias” (VILLAÇA, 2001, p. 283) Segundo o Manual de Reabilitação de Áreas Urbanas centrais do Ministério das Cidades (2008):

Muitas famílias de classe média optaram por sair do centro nas últimas décadas porque preferiam morar em apartamentos ou casas mais modernas, em bairros mais segregados, ou porque consideravam as condições do centro deterioradas. Para as famílias de menor renda, o acesso a essas unidades deixadas vazias no centro é economicamente impossível, e as opções mais viáveis continuaram sendo os cortiços, favelas e loteamentos precários na periferia. No entanto, em algumas áreas centrais, ainda moram muitas famílias para quem essa localização é importante em função, especialmente, da proximidade do trabalho.

Processo similar aconteceu na Espanha, Outón (2013) relata que o crescimento das cidades e o aparecimento de novos bairros residenciais ocasionaram o abandono de residências e proporcionou um processo crescente de abandono, degradação e marginalização dos centros históricos.

Tanto Outón (2013) quanto Villaça (2001) denotam a importância, dentre outros fatores, do automóvel nos deslocamentos urbanos no processo de abandono dos centros.

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A nova força, que surgiu então e provocou a ruptura dos centros principais com as elites que o sustentavam, foi constituída pelo aumento da mobilidade espacial motivada pelo aumento da taxa de motorização das classes de mais alta renda de nossas cidades e pela nova produção do espaço coerente com os novos padrões de mobilidade territorial que tais classes passaram a apresentar. (VILLAÇA, 2001)

Algumas das características gerais desse período são a generalização do automóvel como forma de deslocar-se até o ponto de consumo, a incorporação massiva da mulher no trabalho, modificações na unidade familiar e nos tipos de habitações. Tudo isso, definitivamente, conduz a um uso intensivo do tempo, fora da jornada de trabalho convencional, que se atrai do ato de compra para desfrutá-lo juntamente com o tempo dedicado a vida familiar e o lazer. (OUTÓN, 2013, tradução minha)

Além do centro tradicional, as cidades costumam ter outras centralidades, o que nos Estados Unidos costuma ser chamado de poli nucleação (VILLAÇA, 2001). Sobre Centro Histórico as autoras Vargas e Castilho (2015, p.2) afirmam:

O conceito de Centro Histórico está associado à origem do núcleo urbano, reforçando a valorização do passado. Este último conceito cristaliza-se, por vezes, como se as demais partes da cidade não tivessem contribuído para a história da sua gente, refletida sucessivamente na sua estrutura em construção. O Centro Histórico não deve, portanto, ser analisado como se fosse um lugar predestinado à fantasmagoria de perda causada mais pelo desaparecimento das referências do presente que pela real saudade do passado. Nessa direção, são valorizados os lugares geográficos, os elementos arquitetônicos (religiosos e civis) e, por extensão, urbanos (estrutura urbana e bairros), em detrimento do conteúdo social.

Maricato (2011) chama atenção para duas problemáticas. O centro possui uma infraestrutura excepcional em relação a outras regiões da cidade e está sofrendo um processo de esvaziamento, mantendo essa infraestrutura ociosa em horários não comerciais. Enquanto que as periferias estão crescendo de forma extensiva e horizontal em áreas carentes de infraestrutura.

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Castriota (2007) analisa de forma ampla e crítica todo o panorama de patrimônio histórico e preservação. Segundo ele, inicialmente, todo esse processo iniciou com políticas que protegiam apenas edificações, estruturas e artefatos individualmente, de forma que possuíam efeitos bastante limitados, raramente se considerando o entorno imediato. A concepção de preservação era muito restrita e limitada ao modelo que era seguido. No Brasil, a preservação tem um significado ainda mais restrito, o de “tombar”, que foi o primeiro instrumento introduzido no país na década de 30 e, até hoje, quase o único tipo de proteção efetivamente utilizado.

Sobre a preservação de forma mais completa, em termos de paisagem urbana o autor pontua:

É nesse sentido que nos parece fundamental o conceito contemporâneo de patrimônio ambiental urbano, matriz a partir da qual podemos pensar hoje a preservação do patrimônio, sem cair nas limitações da visão tradicional. Pensar na cidade como um "patrimônio ambiental" é pensar, antes de mais nada, no sentido histórico e cultural que tem a paisagem urbana em seu conjunto, valorizando não apenas monumentos "excepcionais", mas o próprio processo vital que informa a cidade. Neste campo, o tipo de objeto a ser protegido muda, passando do monumento isolado a grupos de edificações históricas, à paisagem urbana e aos espaços públicos. Assim, quando se pensa em termos de patrimônio ambiental urbano, não se pensa apenas na edificação, no monumento isolado, testemunho de um momento singular do passado, mas torna-se necessário, antes de mais nada, perceber as relações que os bens naturais e culturais apresentam entre si, e como o meio ambiente urbano é fruto dessas relações. (CASTRIOTA, 2007, p.15)

Castriota (2007) também faz a diferenciação entre preservação e conservação,sendoessa uma dimensão mais dinâmica e a mudança é inevitável, enquanto aquela pressupõe a limitação da mudança. Por isso, quando referente ao patrimônio urbano, que é um objeto não estático, a conservação precisa ser integrada às políticas mais amplas de desenvolvimento, devendo ser considerada como objeto central do planejamento urbano e regional, valorizando não apenas edifícios, como também a qualidade ambiental de núcleos históricos, a morfologia urbana e o patrimônio cotidiano.

Quando referente a preservação e conservação, inicialmente, os principais atores e instrumentos eram do Estado. Mas quando se ampliou para uma demanda urbana, percebeu-se a necessidade de parcerias privadas, mesmo que o Estado

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tenha se mantido como protagonista dos processos, ainda que de maneira diferenciada atuando de forma contínua e integral no planejamento urbano. (CASTRIOTA, 2007)

Nesse contexto urbano, os termos preservação e conservação passaram a ser substituídos por termos como reabilitação (de forma crítica ao processo de renovação), requalificação, revitalização, etc.

Para Oliveira e Bragança (2012) os processos de reabilitação, revitalização e reutilização dos ambientes construídos, são reflexos de uma atual preocupação sustentável de diminuir impactos ambientais. Esses processos são utilizados para a obtenção de novas dinâmicas, funcionalidades e proficiência e até mesmo uma nova vida aos espaços. As cidades precisam de mudanças para acompanhar as necessidades dos seus habitantes, por isso a transformação deve resultar em locais agradáveis onde as pessoas se sintam convidadas a habitar, explorar a cultura, provar entretenimento e experenciar lazer.

Porém como visto anteriormente, esses processos não são atuais, e surgiram através de uma evolução de conceitos ligados a preservação das memórias dos lugares, a partir de uma intensa procura por identidade e pelas raízes culturais. (ABREU, 1998; CASTRIOTA, 2007; PAOLI, 1992)

Sobre o prefixo “re”, amplamente utilizado para nomear diferentes tipos de intervenções urbanas Vasconcellos e Mello (2008, p.60) definem:

O prefixo RE começa a ser empregado nas novas definições. - Renovação, reabilitação, revitalização, regeneração etc. -representando referências explícitas às preexistências. O RE é uma estratégia que considera (ou finge considerar) a inclusão do Tempo na análise do Espaço, sem, contudo, explicitar um significado e uma metodologia para tal. Aparece aí o modismo oportunista, as imprecisões de definição e da própria metodologia a ser adotada.

Ainda segundo as autoras, Vasconcellos e Mello (2008, p.61), essas intervenções são ações integradas e simultâneas que visam “a retomada de atividades econômicas, a recuperação física dos imóveis e a fixação da população de origem no seu habitat”. São atitudes que envolvem o reconhecimento das pré-existências, reconhecendo o valor da história na cidade e do homem como ser cultural,

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ocasionandoo surgimento dos diversos termos que possuem significados semelhantes.

Esse tipo de intervenção urbana, normalmente surge num contexto de preservação. A preservação é uma ação voltada para a proteção de um bem cultural contra qualquer dano ou degradação, através de instrumentos legais. Se tratando de edifícios pode-se iniciar com uma manutenção preventiva e até mesmo chegar a um processo mais sofisticado de restauração. (VASCONCELLOS e MELLO, 2008)

Segundo Frenkel (2008, p.22) a União Europeia “trabalha no desenvolvimento de políticas públicas de intervenção urbanas que permitem às cidades a promoção de seus objetivos relacionados à coesão social, econômica e territorial”. É através do aumento da produtividade, da competitividade e modernização que se obtém o desenvolvimento econômico e melhorias ambientais e sociais.

Alguns termos se destacam como diferentes conceitos de intervenções urbanas. São eles:

a) Renovação

O termo “renovação” surge como uma solução para tecidos urbanos degradados e é marcado pela ideia de demolição do existente e a construção de edifícios contemporâneos que atendam novas atividades, adaptadas ao processo de mudança. (VASCONCELLOS e MELLO, 2008; FRENKEL, 2008)

A carta de Lisboa (1995, p.1) define renovação como:

Ação que implica a demolição das estruturas morfológicas e tipológicas existentes numa área urbana degradada e a sua consequente substituição por um novo padrão urbano, com novas edificações (construídas seguindo tipologias arquitetônicas contemporâneas), atribuindo uma nova estrutura funcional a essa área. Hoje estas estratégias desenvolvem-se sobre tecidos urbanos degradados aos quais não se reconhece valor como património arquitetônico ou conjunto urbano a preservar.

Nos casos de cidades norte americanas e francesas, a renovação implicou na reocupação de zonas centrais por atividades econômicas, escritório e residencial de elevado valor financeiro e a consequente expulsão da função residencial dos centros

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e a periferização das classes médias e atividades econômicas sem força para competir financeiramente pela localização central. (ISCTE/CET, 2005)

A ideia de renovação atinge principalmente intervenções de larga escala e de transformação integral. Acarretando em uma mudança estrutural que abrange a dimensão morfológica (forma da cidade e da paisagem), dimensão funcional (base econômica e das funções a ela associadas que podem desaparecer ou ser substituídas) e dimensão social (esfera sociológica, geralmente substituição de residentes ou visitantes por outros com níveis de rendimento, instrução e estilo de vida diferentes). (ISCTE/CET, 2005)

Vaz e Jacques (2013) enfatizam os negativos efeitos sociais atingidos através da renovação urbana, como a gentrificação e o impacto cultural para a população local. Mas as autoras também abordam o fato de que o termo renovação urbana possui um conceito diferente na Alemanha. Sendo entendido como um processo permanente de manutenção do ambiente edificado, podendo ocorrer reconstruções, mas não necessariamente.

b) Reabilitação

A reabilitação surgiu como uma crítica aos impactos sociais, econômicos e arquitetônico-urbanísticos dos processos de renovação. A revalorização do patrimônio e a consciência da importância das edificações existentes, assim como da morfologia urbana também contribuíram para isso. (VAZ e JACQUES, 2013)

A Carta de Lisboa (1995, p.1) define reabilitação urbana como:

É uma estratégia de gestão urbana que procura requalificar a cidade existente através de intervenções múltiplas destinadas a valorizar as potencialidades sociais, económicas e funcionais a fim de melhorar a qualidade de vida das populações residentes; isso exige o melhoramento das condições físicas do parque construído pela sua reabilitação e instalação de equipamentos, infraestruturas, espaços públicos, mantendo a identidade e as características da área da cidade a que dizem respeito.

Para Frenkel (2008) a reabilitação urbana, em relação ao edificável, procura conferir um caráter de “habitabilidade”, qualificando construções existentes e implantando novos equipamentos necessários. “Esta intervenção pode implicar em

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um conjunto de ações como: demolição de alguns edifícios, restauração de outros e construção de novos. ”(FRENKEL, 2008, p.23)

Quanto à paisagem urbana,Frenkel (2008) afirma que a reabilitação é um processo que visa a manutenção da população em áreas centrais e que se preocupa com o patrimônio histórico-arquitetônico. A reabilitação atua para a melhora do espaço público, com elementos de visibilidade, e nos espaços de transição e complementares às residências. (FRENKEL, 2008)

Assim como Frenkel, o ISCTE/CET (2005) afirma que a reabilitação, diferente da renovação, não destrói o tecido urbano, o que acontece é uma readaptação a nova funcionalidade urbana. Ocorre a readequação do tecido urbano degradado, enfatizando o caráter residencial, podendo acontecer intervenções complementares tanto no conjunto edificado, como na paisagem urbana. O objetivo é criar condições para que as pessoas possam viver nesses núcleos, como também que a sociedade enquanto coletividade tenha estima por esses lugares. (Arqº Alcino Soutinho in 2º Encontro dos Programas Urban e Reabilitação Urbana, 1998:48 apud ISCTE/CET, 2005)

Yagüe (2010) chama a atenção para o fato de que, se a reabilitação não deve associar-se apenas aos edifícios, mas deve se integrar aos espaços e elementos urbanos, se faz necessário dentro do processo de reabilitação, incluir transporte e infraestrutura, além dos edifícios públicos e privados. Também de acordo com essa ideia mais ampla, o autor salienta a importância da configuração das edificações, dos espaços intersticiais, dos vazios, dos espaços urbanos e das áreas abandonadas. A reabilitação e a revitalização funcionam nesses espaços quando se segue um determinado plano integrado de ações que dão continuidade e homogeneidade a uma área. Enquanto que Castriota (2007) salienta a importância da formulação de estratégias, conscientes da realidade local, para o desenvolvimento desse lugar.

Segundo o Ministério das Cidades (2008) o termo reabilitar significa recompor atividades, habilitando novamente o espaço, através de um processo de gestão de ações integradas, públicas e privadas. Para possibilitar as múltiplas funções urbanas, já localizadas na área em questão, mas sem excluir a implantação de novos usos, atividades e funções, desde que não sejam contraditórias com a identidade do lugar. O processo compreende a recuperação e reutilização do acervo edificado, que

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incluios espaços e edificações ociosas, vazias, abandonadas e insalubres e a melhoria dos espaços de uso coletivo, serviços públicos, equipamentos comunitários e a acessibilidade, na direção do repovoamento da utilização pelas diferentes classes sociais.

Como uma crítica em relação ao termo reabilitar, amplamente utilizado, que traz um sentido estático (reestabelecer – restituir uma coisa ao seu estado antigo) para Yagüe (2010) seria mais próprio falar em revitalizar (dar força e vida à uma coisa) ao ter um sentido de aumento, progressivo e integrador. Assim como incorporar termos como reciclar, que confere um dinamismo e continuidade.

c) Revitalização

Para os autores da Carta de Lisboa (1995, p.1) revitalização:

Engloba operações destinadas a relançar a vida econômica e social de uma parte da cidade emdecadência. Esta noção, próxima da reabilitação urbana, aplica-se a todas as zonas da cidade sem oucom identidade e características marcadas.

Os projetos de revitalização urbana têm como requisitos uma sensação de crise, a negociação entre os setores público e privado e uma vontade conjunta para que a cidade melhore física, econômica e sócio culturalmente. Os objetivos a serem atingidos são uma renovação do espaço público, melhoria na acessibilidade (eixos viários e nós), renovação das atividades, formação de centralidades (através de uso misto e reforço de imagem). (FRENKEL, 2008, p.22)

Para o ISCTE/CET (2005) o processo de revitalização urbana no intuito de trazer “nova vida” ou retomar dinâmicas, enquanto planejamento, traz uma visão organicista e vitalicista para o território urbanizado. Também é visto como um conceito complexo, e as estratégias, metodologias e instrumentos de revitalização podem ser as mesmas englobadas por outros modelos de intervenção.

Vaz e Jacques (2013) descrevem a revitalização urbana como a recuperação de elementos históricos, simbólicos, sociais e ecológicos do local, porém podendo

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