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A recorribilidade das decisões judiciais no juizado especial cível de acordo com a lei nº 9.099/95

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GRANDE DO SUL

MELISSA MACHADO FERREIRA DA CRUZ

A RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES JUDICIAIS NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE ACORDO COM A LEI Nº 9.099/95

Ijuí (RS) 2020

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MELISSA MACHADO FERREIRA DA CRUZ

A RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES JUDICIAIS NO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE ACORDO COM A LEI Nº 9.099/95

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Prof. Me. Maristela Gheller Heidemann

Ijuí (RS) 2020

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Dedico este trabalho à minha família, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise do microssistema do Juizado Especial Cível Estadual. O estudo tem como ponto de partida a contextualização histórica e peculiaridades desse microssistema e apresentação dos princípios que o norteiam. Aborda noções acerca da competência e dos sujeitos que atuam nos Juizados Especiais, fazendo referência quanto à forma dos atos e procedimentos empregados. Em um segundo momento, é realizada a abordagem do sistema recursal previsto na legislação específica, com apontamentos acerca das suas peculiares, limitações, jurisprudência e lacunas existentes.

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This conclusion of course work makes an analysis of the State Special Civil Court mycrossystem. This study starts with the historical contextualization and pecualirities of this mycrossystem and presentation of the principles that guide it. Also, aproachs notions about the competency and the subjects that act in the special court, making reference about the way of the acts and employed procedures. In a second moment, is realized an approach of the recursal system predicted in the specific legislation with appointments about their peccularities, limitations, jurisprudence and existing gaps.

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INTRODUÇÃO...6

1 NOÇÕES GERAIS ACERCA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS...7

1.1 Juizados Especiais Cíveis: contextualização histórica, princípios norteadores e peculiaridades...8

1.2 Da competência e dos sujeitos que atuam no microssistema dos Juizados Especiais Cíveis...13

1.3 Dos atos e procedimentos...16

2 O SISTEMA RECURSAL DOS JUIZADOS CÍVEIS ESTADUAIS...20

2.1 O conceito de recurso...22

2.2 Recurso Inominado...23

2.3 Embargos de Declaração...28

2.4 Irrecorribilidade das decisões interlocutórias...30

2.5 Recurso Extraordinário...32

2.6 Recurso Especial...34

2.7 Da Reclamação por divergência com a Jurisprudência do STJ...35

2.8 Cabimento do Mandado de Segurança contra ato judicial...36

CONCLUSÃO...38

REFERÊNCIAS...38 0

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INTRODUÇÃO

O Juizado Especial Cível é um órgão do Poder Judiciário responsável pelo processamento de ações de menor complexidade. Foram implantados com o propósito de facilitar o acesso à justiça por não ter custas processuais na primeira instância, possibilitando às pessoas com parcos recursos financeiros, que dificilmente recorreriam ao judiciário para socorrer algum interesse ou direito violado fazê-lo a partir de então.

Outro ponto marcante desse microssistema, regulado pela Lei nº 9.099/1995, diz respeito aos princípios que norteiam toda a organização do mesmo, buscando promover a conciliação entre as partes e proporcionando um processo célere, econômico e efetivo.

O presente trabalho tem como objeto trazer à baila considerações relevantes acerca da recorribilidade das decisões judiciais exaradas no curso do processo que tramita no Juizado Especial Cível.

Para tanto, antes de avançar no capítulo de maior relevância, faz-se um apanhado geral sobre a contextualização histórica dos Juizados Especiais, pois errôneo seria imaginar que a ideia da criação dos mesmos se deu ao mesmo tempo da edição da lei que o regulamenta. Na sequência, a fim de localizar o leitor, o trabalho perpassa pelos princípios que norteiam o microssistema dos juizados especiais bem como por aspectos procedimentais do rito sumaríssimo característico do mesmo.

Por fim, ao longo do segundo capítulo é realizada a abordagem do sistema recursal específico dos Juizados Especiais. Neste ponto, toma-se como ponto de referência os meios de impugnação das decisões judicias que estão expressamente previstas na Lei n º 9.099/1995, sem, entretanto, deixar de referenciar questões divergentes atuais que ainda carecem de regulação para fins de sedimentar a total efetividade desse microssistema.

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1 NOÇÕES GERAIS ACERCA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS

Consagrada, hodiernamente, a concepção de que a providência jurisdicional estatal deverá ser efetiva, mediante um processo justo, acessível e realizado em tempo razoável. Nessa toada, ideal que o acesso à justiça seja, de fato, garantido e estendido a todos, cumprindo o Estado com seu papel de oferecer a todos os cidadãos a devida tutela jurisdicional.

Tendo em vista que o acesso à justiça pode ser tomado como um direito humano fundamental, dentro de um sistema jurídico moderno e igualitário que busca não apenas proclamar, mas efetivamente garantir os direitos, observa-se que o país ainda vive um momento de transição para um novo paradigma, com ênfase nos métodos consensuais de solução de conflitos e conciliação. Nesse contexto que se insere a Lei nº 9.099/95, ao passo que traz mais agilidade ao julgamento das demandas, com um procedimento mais célere à prestação jurisdicional.

Referido Diploma Legal trata de disciplinar a criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais para fins de conciliação, processamento, julgamento e execução, na esfera cível, qual seja o objeto do presente trabalho, das causas de menor complexidade e, na esfera criminal, dos delitos de menor potencial ofensivo.

Trata-se de uma Lei cuja pretensão objetiva atribuir celeridade e simplicidade ao processo jurisdicional, buscando compor os conflitos de modo a propiciar efetividade e eficácia à prestação jurisdicional, facilitando ao final, o acesso à Justiça.

Tecidas as primeiras colocações, esclarece-se que o presente capítulo tem por objetivo analisar o tema sob uma ótica geral, perpassando por sua contextualização histórica, seus princípios norteadores e algumas peculiaridades, bem como pretende abordar acerca dos sujeitos, dos atos e procedimento dos Juizados Especiais Cíveis, a fim de possibilitar ao leitor conhecer, ainda que simplificadamente, a ideia central desse microssistema, consagrado constitucionalmente.

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1.1 Juizados Especiais Cíveis: contextualização histórica, princípios norteadores e peculiaridades

Historicamente, há de se ressaltar que a concepção do Juizado Especial não foi a primeira utilizada pelo jurista na busca pela Justiça. Conforme destaca Ana Orcina Souza Valente (2019), em meados de 1982 foram implementados os Conselhos de Conciliação e Arbitragem, visando a solução de pequenos conflitos, demonstrando o insurgente interesse na construção de uma Justiça.

A necessidade de solucionar os conflitos e manter o equilíbrio jurisdicional resultou na aprovação e sanção da Lei nº. 7.2441/84, que tratava dos Juizados das Pequenas Causas, com competência para as causas que tinham como valor da causa até 20 (vinte) salários mínimos. De acordo com Grazielle Ellem da Silva (2019), o Poder Judiciário brasileiro visualizou a institucionalização dos Juizados de Pequenas Causas com base nas experiências consolidadas de países ligados ao sistema jurídico Common Law, no qual, possibilitou o avanço de seus objetivos de possibilitar o acesso à Justiça.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi incorporada a necessidade da criação dos “juizados especiais”, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas de menor complexidade, com sua posterior implantação em todo o território nacional, passando a ter caráter obrigatório e não mais facultativo ao Estado, como era até então.

Nesse sentido Bacellar (apud VALENTE, 2019. p.1):

Foram os Juizados Especiais, estabelecidos no art. 98, inciso I, da Constituição da República, com a significativa ampliação da esfera de abrangência de atuação – não mais restrita a pequenas causas e agora com competência para as causas de menores complexidade -, tanto no âmbito Estadual quanto Federal, que verdadeiramente introduziram na órbita processual brasileira um sistema revolucionário e realmente diferenciado de aplicação da justiça. O desafio popular “vá procurar seus direitos” passou a ser aceito, e houve uma pequena, mas significativa inversão desse estado de coisas.

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A norma expressamente instituída na Constituição Federal denota o compromisso e a preocupação do legislador constitucional com a universalização do acesso à tutela jurisdicional, obrigando o legislador infraconstitucional a criar órgãos e procedimentos jurisdicionais diferenciados para permitir o acesso dos economicamente menos favorecidos à justiça. (grifo do autor)

Denota-se que o sistema dos juizados especiais, na lição de Anne Clarissa Fernandes de Almeida Cunha (2019), acaba por se organizar como uma estrutura à parte do Judiciário, no entanto, não hierarquicamente inferior a este, possuindo uma proposta de via alternativa de tutela de justiça, tratando-se de um modelo mais popular e participativo de justiça, que representa, de fato, uma adequação do desejo de uma justiça rápida, sem custas e sem formalismos. Ainda, Luis Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart (2004, p. 741) ensinam que:

O Juizado Especial é órgão da jurisdição estatal, constituindo verdadeira estrutura vinculada ao Poder Judiciário, por expressa determinação constitucional. Por isso, os agentes que ali atuam exercem jurisdição e são dotados de atribuição jurisdicional, podendo suas decisões gerar coisa julgada material.

Por certo, o sistema dos Juizados Especiais representa meio de acesso à Justiça, permitindo que cheguem ao Judiciário conflitos que talvez não demandassem resposta estatal fosse pela via do procedimento comum. Ainda, fatores como a dispensa de advogado nas causas de até vinte salário mínimos e a ausência de custas no primeiro grau são fatores que colaboram para o sucesso desse procedimento especial.

No entanto, não se pode tratar a Lei nº 9.099/95 como uma simples norma procedimental, sob pena de não lhe dar o valor que merece, uma vez que encontra sua origem na Carta Cidadã e se presta a assegurar uma justiça ágil, segura e efetiva aos seus jurisdicionados.

Por certo, o sistema dos Juizados Especiais calca-se a partir da interpretação da norma contida na Lei nº 9.099/95, da qual podem extrair-se princípios e regras que diferenciam o procedimento sumaríssimo do procedimento comum. Conforme ensina Luciano Alves Rossato (2012, p 23), os princípios informadores sustentam todo o Sistema dos Juizados Especiais, carregando em seu bojo o ideal de garantir amplo acesso ao Poder Judiciário e a rápida solução das lides, respeitando-se o devido processo legal.

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Brilhantemente, Antônio Pereira Gaia Júnior (2018) atenta ao fato de que para a devida prestação de um serviço público de qualidade, que tenha origem na provocação do órgão público responsável à análise e possível realização da pretensão até a entrega da efetiva prestação jurisdicional, é necessário que o Direito Processual vá além de normas formais, encravando em princípios que lhe provenham a diretriz, o contorno e a solidez, assegurando a manutenção da paz social e a garantia da segurança jurídica. De forma ampla, devem ser observados, por qualquer que seja o procedimento adotado, os princípios do devido processo legal, do acesso à justiça e da instrumentalidade. Por óbvio, em que pese a carga idealizada para os Juizados Especiais, os princípios que norteiam esse sistema especial não podem se sobrepor ao devido processo legal, em especial ao contraditório e à ampla defesa.

Acerca dos princípios norteadores do Sistema dos Juizados Especiais, os quais encontram-se positivados na Lei nº 9.099/95, comenta Xavier (2016):

Consoante o disposto no art. 2º, a Lei dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais está calcada, estruturada e fundamentada em cinco pilares ou princípios fundamentais: oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade. Desse modo, os critérios instituídos pela Lei objetivam a desburocratização, racionalização e simplificação dos procedimentos e são de especial valor para estabelecer a tônica do processo, mormente quando não há previsão legal expressa.

O certo é que, consoante leciona Marco Antônio Garcia Lopes Lorencini (2010, p.24), no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, os princípios e garantias próprios desse sistema convivem com os demais princípios processuais. A busca da simplicidade e informalidade resulta na liberdade de formas; a oralidade, bem mais marcante e presente se comparada com o processo tradicional, persegue a celeridade.

O princípio da oralidade, pode-se dizer que é, com certa margem de segurança, o mais importante princípio da Lei nº 9.099/95, pois permite ao juiz conduzir o processo de forma mais objetiva, sem a preocupação de transcrever a prova oral ou fazer relatório de sentença. De acordo com Rossato (2012, p.24), os atos processuais serão praticados de forma oral, salvo os essenciais, que serão reduzidos a termo nos autos, possibilitando que se estabeleça uma comunicação de mais fácil entendimento nos procedimentos judiciais em trâmite nos Juizados.

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Segundo Marinoni e Arenhart (2004, p. 742): “A oralidade, sem dúvida, contribui não apenas para acelerar o ritmo do processo, como ainda para obter-se uma resposta muito mais fiel à realidade.”

O princípio da simplicidade orienta que o processo deverá ser simples, sem as exigências do procedimento comum, mas ainda assim diretamente relacionado aos demais princípios, preconizando a ideia de que o desenvolvimento do processo deve ser de maneira facilitada, liberto do formalismo. Nessa esteira, aduz Rossato (2012, p. 25) que “a simplicidade é marca dos Juizados Especiais, o que desonera o procedimento da complexidade própria do procedimento ordinário.”

Não obstante, cumpre destacar que referida simplicidade, que provavelmente é melhor recepcionada pelo cidadão comum, que desconhece dos trâmites regulares dos procedimentos judiciais, não deve ser confundida com ausência de processo, pois conforme Eline Santos (2019) “as decisões proferidas devem constar nos autos para o posterior registro que servirá de instrução à propositura da execução, bem como para a interposição de recursos, se houver.”

O princípio da informalidade possui como escopo abrandar o rigor formal e extremado que advém da justiça comum. Nas palavras de Santos (2019):

Almeja-se, assim, que os atos jurídicos reduzam sua forma ao mínimo necessário para delimitar o seu conteúdo, distinguindo-o dos demais atos. Em outras palavras, tal princípio busca a informalidade dos atos processuais, objetivando o desapego à formalidade observada no ordenamento jurídico brasileiro, já tido como algo cultural na seara jurídica.

No entanto, bem pontua Silva (2019) ao tecer que referido princípio não visa à informalidade absoluta, uma vez que todo ato jurídico se apresenta revestido de determinada forma, sem a qual seria difícil a concretização do próprio direito. O que buscou o legislador foi amenizar o formalismo excessivo, que não leva a nada e conduz à complexidade sem utilidade e perniciosa.

Buscou-se, assim, com o princípio da informalidade facilitar às partes o acesso à linguagem, à forma simplificada e prática, para que assim se alcance um resultado efetivo. Assim,

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Vinculados os demais critérios, o princípio da informalidade é levado às suas mais altas consequências no procedimento do juizado especial. A fim de tornar o processo menos burocrático e mais rápido (e assim mais acessível), tudo deve ser feito de maneira mais simples e informal possível. (MARINONI; ARENHART, 2004, p. 744).

O princípio da economia processual objetiva compactar os atos processuais para alcançar a celeridade da prestação jurisdicional, contemplando, com isso, que o maior número de atos seja praticado no menor espaço de tempo e de forma menos dispendiosa possível. Leciona Rossato (2012) que os atos processuais se concentram em audiência, com a presença das partes e seus procuradores, buscando-se a máxima efetividade de cada um deles e evitando assim a abertura de novos prazos.

Dessa forma, pode-se vislumbrar que a economia processual advém da diminuição do número de atos processuais praticados no processo e, consequentemente, na economia de tempo e de recursos. Além do mais, de acordo com Santos (2019), nenhum ato processual é inútil, sendo todos aproveitados, com uma única finalidade, qual seja a de garantir a economia processual, para que as partes possam chegar ao fim do processo o mais breve possível.

Já o princípio da celeridade é consequência natural dos princípios da informalidade e simplicidade, o qual traz o sentido de realizar a prestação jurisdicional com rapidez, celeridade, presteza, sem causar prejuízos em relação à segurança jurídica.

Assim, de acordo com a ideia de José Lourenço Torres Neto (2019):

A celeridade se entende eficiente através de algumas outras medidas como a concentração dos atos processuais em única audiência, instauração imediata da audiência de conciliação, vedação das modalidades de intervenção de terceiros, simplificação dos atos e termos processuais, enfim, entre outros, que impedem condutas meramente protelatórias uma vez que não pode estar desvinculada dos outros princípios já descritos anteriormente.

Em linhas gerais, a observância dos princípios específicos do Sistema dos Juizado Especiais faz desse, sua própria razão de ser, que, do contrário, acabaria por representar uma hipertrofia desnecessária à justiça comum, já tão sobrecarregada. Não obstante, a efetiva aplicação dos princípios supramencionados, facilita o acesso e satisfação à prestação jurisdicional, resultando um procedimento mais rápido do que o procedimento comum.

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1.2 Da competência e dos sujeitos que atuam no microssistema dos Juizados Especiais Cíveis

Aos Juizados Especiais a Constituição Federal atribui a missão de dirimir as demandas de menor complexidade, conforme se depreende do mandamento constitucional:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I – juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.

Nas palavras de Rossato (2012, p. 29), o constituinte não definiu o parâmetro sobre quais causas se enquadrariam nesse conceito indeterminado, cabendo ao legislador infraconstitucional definir as demandas, fixando, assim, a competência dos Juizados Especiais. Ainda, menciona o autor que, diferentemente do que acontece nos Juizados Especiais Federais e da Fazenda Pública, os quais possuem competência absoluta fixada em lei, no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, não assim o fez o legislador, podendo ao autor postular uma causa de menor complexidade tanto perante os Juizados Especiais Cíveis quanto à Justiça Comum. Essa faculdade encontra lastro no entendimento encampado no Enunciado 1 do FONAJE – Fórum Nacional dos Juizados Especiais - (o exercício do direito de ação no Juizado Especial Cível é facultativo para o autor), cabendo-lhe ponderar os prós e os contras de tal opção.

No que se refere à competência dos Juizados Especiais Cíveis, a previsão legal está disposta no art. 3º da Lei nº 9.099/95, e assim reza:

Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas: I – as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo; II – as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil1; III - a ação de despejo para uso próprio;

1 Salienta-se que este inciso refere ao art. 275, do Código de Processo Civil de 1973, já revogado, porquanto o Novo Código de Processo Civil (NCPC), de 2015, não prevê o procedimento sumário. No entanto, sua leitura deve ser feita em conjunto com o art. 1.063, do NCPC.

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IV – as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo.

§ 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução: I – dos seus julgados;

II – dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário mínimo, observado o disposto no § 1º do art. 8º desta Lei.

§ 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial.

§ 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.

Tratando-se de competência em razão do valor da causa, vislumbra-se, a partir da consideração de Ricardo Cunha Chimenti (2012, p. 60), a seguinte situação:

Em razão exclusivamente do valor (ratione valoris), quer se trate de pedido principal, quer se trate de pedido contraposto, nos Juizados dos Estados e do Distrito Federal são aceitas as causas que não excedam a 40 vezes o salário mínimo (ou 20 salários mínimos se o autor estiver desacompanhado de advogado), facultando-se ao autor a renúncia ao valor excedente e às partes a conciliação sobre valor superior. “Para efeito de alçada, em sede de Juizados Especiais, tomar-se-á como base o salário mínimo nacional” (Enunciado 50 do FONAJE).

Quanto à competência territorial, encontram-se fixadas no art. 4º da Lei nº 9.099/95 as regras para os processos relativos ao Juizado Especial Cível, que assim dispõe:

Art. 4º É competente, para as causas previstas nesta Lei, o Juizado do foro: I – do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local onde aquele exerça atividades profissionais ou econômicas ou mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou escritório;

II – do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;

III – do domicílio do autor ou do local do ato ou do fato, nas ações para reparação de dano de qualquer natureza.

Parágrafo único. Em qualquer hipótese, poderá a ação ser proposta no foro previsto no inciso I deste artigo.

Santos (2019), reforça que a competência territorial é relativa, e admite prorrogação se não alegada oportunamente, sem a necessidade de apresentação de exceção. Não obstante, diferentemente da incompetência em razão do lugar prevista para a justiça comum, no microssistema dos Juizados Especiais, tal incompetência pode ser reconhecida de ofício pelo juiz da causa e, ainda, caso assim não seja, poderá ser alegada pelo demandado na própria contestação, independentemente de exceção de incompetência.

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A Lei nº 9.099/95 privilegia a participação de juízes leigos e de conciliadores, sendo que em relação aos mesmos, tem-se que:

O juiz leigo deverá ser preferencialmente advogado com experiência de cinco anos. Não estará incompatibilizado para o exercício da advocacia, exceto perante o próprio Juizado Especial em que atua. Atuará no processo e, ao final, proferirá laudo arbitral, que deverá ser homologado por sentença, em decisão irrecorrível (...). Interessante é que o juiz leigo poderá conduzir a própria audiência de instrução e proceder à colheita da prova. Assim ocorrendo, apresentará a proposta de sentença ao juiz togado em até dez dias, sendo as partes intimadas no próprio termo de audiência da data para a leitura da sentença (Enunciado 95, do FONAJE). De outro lado, a lei também incentiva a figura do conciliador, que fomentará a autocomposição das partes. Os conciliadores serão escolhidos preferencialmente entre bacharéis em Direito e, neste caso, estarão impedidos de atuar no próprio Juizado Especial. A sessão de conciliação poderá ser conduzida exclusivamente pelo conciliador, sendo desnecessária a presença do juiz togado ou leigo na sessão de conciliação (Enunciado 06, do FONAJE) (ROSSATO, 2012, p. 44).

Relativamente aos demais atores desse sistema, pode-se dizer que há restrição à participação nos processos que tramitam nos Juizados Especiais Cíveis. De maneira bastante didática, traz à luz Rossato (2012, p. 43) que podem ocupar o polo ativo no procedimento sumaríssimo:

(...) Pessoas naturais, capazes e que não estejam presas (...) A firma individual. As microempresas e as empresas de pequeno porte, definidas na Lei Complementar n. 123/2006. As pessoas jurídicas qualificadas como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, nos termos da Lei n. 9.720/99. As sociedades de crédito ao microempreendedor, nos termos do art. 1º, da Lei n. 10.194/2001 (com a redação dada pela Lei n. 12.126/2009). O condomínio residencial, exclusivamente na hipótese de cobrança contra o condômino (Enunciado 09, do FONAJE) (...). O espólio sem herdeiro incapaz (Enunciado 148, do FONAJE): o espólio constitui no conjunto ativo e passivo de bens deixados pelo de cujus enquanto não houver a devida partilha. Não existindo herdeiros incapazes, admite-se figurar no polo ativo da ação.

No tocante ao polo passivo, conforme Rossato (2012, p.44), por sua vez, podem atuar nesta condição:

Pessoas naturais capazes, desde que não estejam presas; empresas de pequeno porte; microempresas; firmas individuais; espólio sem herdeiro incapaz; outras pessoas jurídicas de direito privado NÃO FALIDAS, incluindo-se sociedades de economia mista (vide Enunciado 131, do

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FONAJE) e excluindo-se as pessoas jurídicas de direito público, já que estas poderão figurar como rés nos Juizados Especiais da Fazenda Pública.

Cumpre destacar que referem os autores supramencionados que resta vedada toda e qualquer forma de intervenção de terceiros nos Juizados, inclusive a assistência ou o recurso de terceiro prejudicado.

1.3 Dos atos e procedimentos

O Sistema dos Juizados Especiais adota regras diferenciadas no que tange aos atos e prazos processuais. Segundo lição de Rossato (2012, p. 27):

Atendendo-se ao princípio da oralidade, somente serão registrados por escrito os atos processuais essenciais (princípio da escrita não foi totalmente dispensado) e os demais poderão ser praticados oralmente, filmados ou gravados em audiência, sendo que a parte poderá pedir a sua transcrição quando da interposição dos recursos. Transitada em julgado a decisão, poderão ser destruídos. Além disso, os atos processuais somente serão declarados nulos quando não for atingida a sua finalidade, ainda que não tenha sido observada a forma prevista em lei.

Nessa esteira, ensinam Marinoni e Arenhart (2004, p. 758):

O processo tem início pela apresentação de pedido, escrito ou oral, diretamente à secretaria dos juizados especiais. Para que o pedido seja aceito, é necessário constar, de forma simples e em linguagem clara e acessível, o nome, a qualificação e o endereço das partes; os fatos e fundamentos de forma sucinta; e o objeto e seu valor (art. 14, § 1º, Lei 9.099/95). Admite-se a cumulação alternativa e sucessiva de pedidos, bem como o pedido genérico (quando se não puder especificar, de maneira pronta, a extensão da obrigação). Compete à parte autora instruir seu pedido, prontamente, com os documentos que entenda convenientes para instruir sua pretensão, muito embora possa apresentar tais peças mais tarde, por ocasião da audiência, sem nenhum ônus ou preclusão (art. 33, Lei 9.009/95).

No sistema do Juizado Especial, o pedido, não sendo possível determinar a extensão da obrigação, comporta a formulação de pedido genérico, consoante o disposto no art. 14, § 2º, da Lei nº 9.099/95. No entanto, a sentença que o apreciar deve ser, necessariamente, líquida (art. 38, parágrafo único do mesmo Diploma Legal). Outrossim, não há óbice quanto a existência de pedido alternativo ou cumulação de pedidos, exigindo-se para tanto que os assuntos sejam conexos, em observância ao art. 15 (LORENCINI, 2010, p. 36).

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Trata-se de uma das formas encontradas pelo legislador para facilitar o pleno acesso da camada social menos favorecida à jurisdição, sem os entraves burocráticos do processo. Ademais, embora a assistência de advogado seja dispensável nas causas de valor inferior a 20 salários mínimos, uma vez ultrapassado esse limite, entende-se que a assistência obrigatória que encontra-se prevista no art. 9º da Lei nº 9.099/95 se faz necessária a partir da fase instrutória, não se aplicando para a formulação do pedido e a audiência inaugural, consoante Enunciado 36 do FONAJE (XAVIER, 2016).

Acerca da vigência do Novo Código de Processo Civil e suas implicações com o sistema dos Juizados Especiais, Rafael Estrela Nóbrega (2017) chama a atenção para o debate suscitado em torno da questão dos prazos processuais. Isso porque o Código de Processo Civil prevê, em seu art. 219, caput, a contagem dos prazos em dias úteis, o que acaba por prolongar a duração do processo, sendo a Lei nº 9.099/95 omissa nesse quesito. Uma vez superadas as discussões sobre o tema, restou definido que a contagem de prazos em dias úteis mostra-se aplicável ao âmbito dos Juizados Especiais, sem ofender o princípio da celeridade, em virtude da aplicação subsidiária do Código de Processo Civil.

O processo independe do pagamento de custas, taxas ou despesas, mas isto no âmbito do primeiro grau de jurisdição. A ressalva repousa quando da interposição de recurso, oportunidade na qual haverá a necessidade de pagar despesas processuais no primeiro grau de jurisdição. Dessa forma, a sentença de primeiro grau não importará às partes o ônus da sucumbência, sendo possível, aplicar as sanções atinentes à litigância de má-fé. No segundo grau de jurisdição, por seu turno, julgado o recurso, haverá a incidência de sucumbência, relativa às despesas com honorários advocatícios (MARINONI; ARENHART, 2004).

A respeito do ato citatório, Rossato (2012, p. 48) leciona que o mesmo guarda correspondência com os princípios norteadores dos Juizados Especiais, não sendo decretada a sua nulidade se atingida a finalidade de chamar o réu ao processo. Nesse sentido, comparecendo o réu espontaneamente, suprida estará a falta ou nulidade da citação. Da mesma foram, dispõe o art. 18 da Lei nº 9.099/95 admitida também a citação pelo correio, com aviso de recebimento em mão própria. Não obstante, sendo necessário, poderá ser realizada por meio de oficial de justiça, independentemente de mandado ou de carta precatória. Não se admite, entretanto, citação por edital, salvo no processo de execução, quando realizada a pré-penhora ou o arresto executivo.

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O procedimento sumaríssimo exige a efetiva participação das partes, que deverão comparecer às audiências designadas, atendendo-se ao princípio da oralidade, bem como oferecer a defesa no tempo oportuno. Nessa esteira, segue Rossato (2012, p. 48):

(...) quando o autor deixar de comparecer a qualquer audiência – de conciliação ou de instrução e julgamento – estará deixando de cumprir ônus que era seu e, consequentemente, será proferida sentença de extinção do processo, sem resolução do mérito (art. 51, I, da Lei n. 9.099/95). Não obstante, poderá a parte ser representada por preposto, que não se confunde com o advogado constituído aos autos. A contumácia do réu, por sua vez, recebe a denominação revelia, que, nos Juizados, será caracterizada não só como a ausência de oferecimento de defesa, como também pelo não comparecimento do mesmo às audiências de conciliação ou de instrução e julgamento. Em razão disso, tendo o réu não comparecido à audiência ou não apresentado a defesa, incidirão os efeitos material – presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor – e processual – deixará de ser intimado dos demais atos processuais.

Estando presentes as partes, terá início a audiência de tentativa de conciliação sendo que, “em decorrência do princípio da oralidade, as partes devem comparecer pessoalmente às audiências designadas” (ROSSATO, 2012, p. 50). Cabe àquele que dirige a sessão tanto ouvir as partes na busca da solução como esclarecer quanto às vantagens da conciliação, mostrando-lhes os riscos e as consequências do litígio.

De acordo com Marinoni e Arenhart (2004, p. 759),

Obtida a conciliação, será ela reduzida a termo e homologada pelo juiz togado, servindo como título executivo judicial (art. 22, § único, Lei 9.099/95). Se não tiver êxito a conciliação, será oferecida às partes a possibilidade de se submeterem à arbitragem. Se qualquer delas recusar a proposta, terá seguimento normal o processo. Caso ambas aceitem, instaura-se o procedimento arbitral, facultando-instaura-se às partes a escolha do árbitro, dentre os juízes componentes do juizado. Escolhido o árbitro, este será convocado para a mesma sessão, para instaurar o procedimento; se ele não estiver presente, o juiz designará data próxima para audiência arbitral, convocando o juiz leigo (árbitro) para a sessão. Instruído o feito, pelo árbitro, compete-lhe, imediatamente ou no prazo de cinco dias, proferir laudo arbitral (podendo, inclusive, decidir por equidade), que será, posteriormente, submetido à homologação pelo juiz togado, em sentença irrecorrível, que valerá como título executivo.

No que diz respeito à produção de provas, o art. 32, da Lei nº 9.099/95, refere que são admitidos para a comprovação dos fatos “todos os meios de prova moralmente legítimos,

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ainda que não especificados em lei”. Por conseguinte, admitem-se todos os meios de prova, como oitiva de testemunhas, depoimentos pessoais, prova pericial, entre outros. O momento para a produção é a audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas anteriormente. Deve-se, contudo, ter em mente que a prova pericial, no sistema do Juizado Especial, somente poderá ter por objeto as questões de fato pouco complexas (ROSSATO, 2012, p. 54).

Sobre a questão, Marinoni e Arenhart (2004, p. 760) dizem que:

Admite-se a produção de todas as provas, típicas ou atípicas. Em regra, a prova será produzida em audiência, ainda que não tenha havido prévio requerimento a respeito, cabendo ao magistrado indeferir a prova considerada excessiva, impertinente ou protelatória (art. 33, Lei 9.099/95). A prova, produzida oralmente na audiência, não será produzida a escrito, devendo-se registrar na sentença, o essencial das informações trazidas no depoimento.

Encerrada a instrução, tem início a fase de julgamento. E das sentenças proferidas no âmbito dos juizados, conforme disposto no art. 41, § 1º da Lei nº 9.099/95, excetuada a sentença homologatória de conciliação ou de laudo arbitral, caberá recurso para o próprio juizado, o qual será julgado por uma Turma composta de três juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, sendo as partes representadas, necessariamente, por advogados.

Ante o exposto até o presente momento, é possível inferir sem maiores dificuldades que o microssistema dos Juizados Especiais Cíveis proporcionou maior efetividade ao acesso à Justiça, uma vez que é responsável pelo processamento de ações de menor complexidade e não possuir custas processuais em primeira instância. Ademais, é regido por princípios próprios e busca proporcionar um processo célere, econômico e efetivo.

De outra banda, no que diz respeito aos recursos cabíveis, a Lei nº 9.099/95, acabou por reduzir de forma significativa o arsenal contestatório em comparação ao permitido pelo Código de Processo Civil, conforme verificar-se-á no próximo capítulo. Dessa forma, em que pese a tônica da faculdade que goza autor em propor a demanda junto ao Juizado Especial Cível, se assim o fizer, aceitará os limites processuais previstos no referido Diploma Legal.

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2 O SISTEMA RECURSAL DOS JUIZADOS CÍVEIS ESTADUAIS

A partir deste ponto, passar-se-á à análise do sistema recursal dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais.

No que tange aos recursos, a Lei nº 9.099/95 traz em seu bojo um sistema próprio, no qual estão previstos o recurso contra sentença (art. 41) e os Embargos de Declaração (art. 48). Há também possibilidade de interposição de Recurso Extraordinário contra acórdão da Turma Recursal, desde que haja matéria constitucional em debate. Nesse sentido, dispõe a Súmula 640 do STF:

Súmula 640, STF – É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.

Não obstante, excluindo essas modalidades, existe ainda grande controvérsia acerca de quais seriam os outros recursos cabíveis em face das decisões proferidas nos Juizados Especiais. Sobre a questão, Felippe Borring Rocha (2017, p. 311-312) leciona que:

O entendimento assente é que do acórdão da Turma Recursal cabe o recurso extraordinário para o STF (art. 102, III, da CF e arts. 1.029 e seguintes do CPC) e, da decisão que o inadmite na origem, agravo em recurso extraordinário para o STF (art. 1.042 do CPC). Igualmente, prevalece o entendimento de que, no caso de o relator proferir monocraticamente uma decisão (art. 932 do CPC), caberia agravo interno para a Turma Recursal (art. 1.021 do CPC). Também é amplamente majoritário o entendimento de que não cabe recurso especial para o STJ (art. 105, III, do CPC). Sem a menor dúvida, no entanto, o grande embate, na atualidade, é sobre o cabimento do agravo de instrumento (art. 1015 do CPC). Ainda hoje minoritária, a corrente pelo cabimento desse recurso vem crescendo exponencialmente, com o ostensivo apoio do STJ.

Por ora, serão abordados no presente trabalho os recursos em espécie previstos na legislação especial sem, no entanto, furtar-se de tecer, ainda que brevemente, comentários acerca da discussão atual acerca do cabimento ou não do agravo de instrumento no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e do remédio que vem sido adotado como meio a

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suprimir tal impossibilidade ainda vigente. Tal escolha dá-se em razão de não ser intenção da autora do presente trabalho, esmiuçar-se em questões que demandariam aprofundamento demasiado sobre o tema e acabariam por resultar em trabalho por demais extenso.

Seguindo, ao que parece, acertou o legislador ao criar um órgão dentro da estrutura dos Juizados Especiais com vistas a rever as decisões proferidas em primeiro grau de jurisdição. Dessa forma, as Turmas Recursais são vitais ao adequado funcionamento do sistema.

Acerca das Turmas Recursais, destaca-se que as mesmas não possuem natureza de tribunais, uma vez que não gozam de autonomia administrativa, financeira e orçamentária dentro da estrutura judiciária. Ainda, a Turma Recursal, em caráter de excepcionalidade, possui algumas atribuições originárias, como, por exemplo, o julgamento da restauração de autos, o julgamento do mandado de segurança ou da reclamação. E, ao conjunto da Turmas Recursais de uma unidade federativa dá-se o nome de Conselho Recursal. (ALEXANDRE CHINI, ALEXANDRE FLEXA, ANA PAULA COUTO, FELIPPE BORRING ROCHA, MARCO COUTO, 2019, p. 200).

Outro ponto que merece destaque é a disposição legal prevista no § 2º do art. 41 da Lei nº 9.099/95 que reza que quando se tratar da interposição de recurso junto ao microssistema do Juizado Especial Cível, a presença de um advogado é obrigatória em sede recursal. Em relação à questão, entende Rocha (2017) que os mecanismos recursais são mais complexos do que aqueles necessários ao ajuizamento da ação, o que justifica de forma acertada a obrigatoriedade da assistência técnica em fase recursal. Ainda, pontua que se assim não o fosse, correr-se-ia o risco de entregar à Turma Recursal a tarefa de rever a decisão, como que numa modalidade especial de reexame necessário, o que acabaria por ferir os princípios fundamentais do processo, tais como a inércia, a imparcialidade, a congruência, o tantum

devolutum quantum appellatum etc. Portanto, uma manifestação recursal realizada sem

advogado deve ser reputada como inválida e ineficaz tal qual como ocorreria no juízo ordinário.

A seguir, será abordado o conceito de recurso bem assim pontuadas as principais características dos recursos cabíveis na seara do Juizado Especial Cível consoante previsão legal específica. Por fim, comentários acerca do cabimento ou não do agravo de instrumento,

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discussão latente na atualidade, bem como considerações acerca do cabimento do mandado de segurança contra ato judicial.

2.1. O conceito de recurso

Recurso é um meio que goza a parte prejudicada de provar o seu direito ao reexame da matéria, buscando assim obter a modificação ou a reforma da decisão do órgão a quo, ou seja, nada mais é do que a possibilidade de revisão da decisão proferida pelo juiz de primeiro grau, com a finalidade de obter-lhe a invalidação, a reforma, o esclarecimento ou a integração. Nessa toada, para Fredie Didier Júnior e Leonardo Carneiro da Cunha (2016, p. 89) “o recurso traduz-se como o meio de impugnação da decisão judicial utilizado dentro do mesmo processo em que é proferida. Pelo recurso, prolonga-se o curso do processo”.

Conceitualmente, os autores acima mencionados, na mesma obra, dispõem que “recurso é o meio ou instrumento destinado a provocar o reexame da decisão judicial, no mesmo processo em que proferida, com a finalidade de obter-lhe a invalidação, a reforma, o esclarecimento ou a integração”.

Para José Carlos Barbosa Moreira, (2002, p. 233), “É o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial que se impugna”.

Ainda, complementando, Nelson Nery Júnior (2004, p. 212) refere, sobre o recurso, que “É o meio processual que a lei coloca à disposição das partes, do Ministério Público e de um terceiro, a viabilizar, dentro da mesma relação jurídica processual, a anulação, a reforma, a integração ou o aclaramento da decisão judicial impugnada”.

Da leitura até este ponto, percebe-se que a interposição de recurso é permeada de voluntariedade, sendo essa uma das características essenciais a esse meio de impugnação2, de

2Além da voluntariedade, as seguintes características essenciais também são atribuídas à construção do conceito

de recurso: expressa previsão em lei, desenvolvimento no próprio processo no qual a decisão impugnada foi proferida, manejável pelas partes, terceiros prejudicados e Ministério Público, e com o objetivo de reformar, anular, integrar ou esclarecer decisão judicial. (NEVES, 2017).

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sorte que à parte prejudicada com uma decisão judicial recai o ônus de recorrer, mas não a obrigação para tanto.

Portanto, da análise do conceito de recurso, constata-se que o mesmo possui várias finalidades, destacando-se, dentre elas, a percepção de ser uma via a fim de sanar uma necessidade psicológica de uma das partes envolvida na relação processual, ou seja, uma vez insatisfeita com a decisão em primeira instância, pode a parte pedir a revisão em instância superior com possibilidade de haver decisão diferente da anterior, preferencialmente mais benéfica.

Por fim, em que pese o recurso represente um instrumento do processo, no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais, a Lei nº 9.099/95 conferiu ao sistema recursal características que não destoam dos princípios informadores do ambiente célere e simples do microssistema em questão, sendo esse um dos fatores a ser levado em consideração pelo autor quando da oportunidade de ingressar com a ação perante o Juizado Especial Cível ou junto à Justiça Comum.

2.2 Recurso Inominado

O Recurso Inominado, que recebe este nome diante ausência de nomenclatura específica, é uma espécie recursal exclusiva dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais prevista no art. 41 da Lei nº 9.099/95, que assim dispõe:

Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o próprio Juizado.

§ 1º O recurso será julgado por uma turma composta de 3 (três) juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.

§ 2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado.

De acordo com Rocha (2017, p. 312), “Nos Juizados Especiais, em face da sentença, seja definitiva ou terminativa, proferida antes ou depois da citação, cabe “recurso inominado”. Trata-se, pois de recurso análogo à apelação (art. 1009 do CPC)”. Entretanto, cuide-se que o

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recurso inominado deve se utilizar subsidiariamente das regras previstas no Código de Processo Civil para a apelação.

Assim, segundo Chini et al. (2019, p. 201-202), o objetivo do recurso inominado é:

“(...) promover a revisão dos vícios contidos na sentença e nas decisões interlocutórias não preclusas, decorrentes de uma equivocada interpretação das questões jurídicas ou fáticas deduzidas em juízo. Neste passo, é preciso reconhecer que a falta de registro escrito dos fatos ocorridos ao longo do procedimento, conforme preceituado pelo art. 38, efetivamente fragiliza o julgamento recursal das matérias de fato. Mas isto não significa que o “recurso inominado” não possa analisar tais elementos, como se fosse um recurso de direito estrito. Na verdade, a Turma Recursal deve tomar em consideração os fatos ocorridos no procedimento que puderem ser levados ao seu conhecimento. Destarte, defendemos que as audiências de instrução e julgamento sejam gravadas, como previsto no art. 13, § 3º, da Lei nº 9.099/95, para viabilizar a sua utilização durante o procedimento recurso (art. 44), permitindo um maior contato dos integrantes da Turma Recursal com os fatos apresentados em audiência.”

Nessa mesma esteira, Rocha (2017) refere que o recurso inominado se presta a apreciar tanto matéria de direito quanto de fato, em pese seja o procedimento sumaríssimo marcado por intensa oralidade. Para tanto, defende que sejam buscados mecanismos capazes de incrementar a aplicação do art. 443 da Lei nº 9.099/95, o que permite maior contato dos integrantes da Turma Recursal com os fatos ocorridos em audiência, numa busca de minimizar a fragilidade do julgamento recursal das matérias de fato decorrentes da observância da falta de registro escrito da prova oral consoante previsão legal do art. 36 da referida Lei.

Da leitura do art. 44 da Lei nº 9.099/95 Maurício Ferreira Cunha (2018, p. 105) leciona que “qualquer das partes poderá requerer, até o trânsito em julgado da decisão (art. 13, § 3º), a transcrição dos conteúdos das fitas magnéticas que foram objeto de gravação dos atos processuais em audiência de conciliação, instrução e julgamento", podendo as mesmas serem inutilizadas após o trânsito em julgado da decisão.

Acerca do prazo para interposição do aludido recurso e demais providências, assim dispõe o art. 42 da Lei nº 9.099/95:

3 Art. 44. As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 13 desta Lei, correndo por conta do requerente as despesas respectivas.

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Art. 42. O recurso será interposto no prazo de 10 (dez) dias, contados da ciência da sentença, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.

§ 1º O preparo será feito, independentemente de intimação, nas 48 (quarenta e oito) horas seguintes à interposição, sob pena de deserção.

§ 2º Após o preparo, a Secretaria intimará o recorrido para oferecer resposta escrita no prazo de 10 (dez) dias.

Portanto, a despeito do que estabelece a Lei, o prazo para interpor e para responder ao recurso inominado é de 10 dias, contados a partir da data da ciência da sentença4. A petição de interposição do mesmo, já acompanhada das razões, deverá ser realizada por advogado e entregue por escrito (não se admitirá, em hipótese alguma, a forma oral) na secretaria do Juizado ou no setor de protocolo correspondente. E da interposição, independentemente de intimação, inicia-se o prazo de 48 horas para a juntada do comprovante de preparo das custas e taxas5 (art. 54, parágrafo único da Lei nº 9.099/95), não havendo óbice para que o recorrente apresente o comprovante de pagamento do preparo já no momento da interposição do recurso (CHINI et al., 2019).

Ilustrando a consequência da ausência do preparo recursal, colacionam-se jurisprudências recentes do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Ementa: RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE

NULIDADE DE ATO JURÍDICO C/C RESTITUIÇÃO DE VALORES. GRATUIDADE JUDICIÁRIA REVOGADA. INTIMAÇÃO PARA O RECOLHIMENTO DAS CUSTAS EM 48 HORAS DESATENDIDA. DESERÇÃO. AUSÊNCIA DE CONDIÇÃO DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL. ART. 42, §1º, DA LEI 9.099/95. RECURSO NÃO CONHECIDO, POR DESERTO. (Recurso Cível, Nº 71009228081, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Elaine Maria Canto da Fonseca, Julgado em: 20-05-2020) (grifo nosso)

Ementa: RECURSO INOMINADO. SEGUNDA TURMA RECURSAL

DA FAZENDA PÚBLICA. ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.

FUNDAÇÃO LA SALLE. AÇÃO ANULATORIA DE ATO

ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. AGENTE

PENITENCIARIO DA SUSEPE. REPROVAÇÃO NO TESTE DE APTIDÃO FÍSICA. AUSÊNCIA DE PREPARO RECURSAL. PEDIDO DE

BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.

4 Enunciado 13, FONAJE – Nos Juizados Especiais Cíveis, os prazos processuais contam-se da data de intimação ou da ciência do ato respectivo, e não da juntada do comprovante da intimação.

5 Enunciado 80, FONAJE – O recurso inominado será julgado deserto quando não houver o recolhimento integral do preparo e sua respectiva comprovação pela parte, no prazo de 48 horas, não admitida a complementação intempestiva (art. 42, § 1º, da Lei 9.099/1995).

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INTIMAÇÃO PARA COMPROVAR RENDA OU REALIZAR O PREPARO DESATENDDA. RECURSO DESERTO. No presente caso a Recorrente interpôs Recurso Inominado, objetivando a reforma da sentença proferida pelo Juízo a quo, sem ter juntado o comprovante de pagamento das custas recursais, tendo em vista o pedido de AJG. Contudo, após análise dos autos, foi proferido despacho intimando a Recorrente para juntar comprovante de renda atualizado, para análise acerca da possibilidade de concessão do benefício ou comprovar o recolhimento do preparo, no prazo de 05 (cinco) dias úteis, sob pena de não conhecimento do presente recurso, todavia, a parte Autora restou inerte. Portanto, diante da ausência de preparo e da inércia da Recorrente, o Recurso Inominado não pode ser conhecido. RECURSO INOMINADO NÃO CONHECIDO. (Recurso Cível, Nº 71007627060, Segunda Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: Adriane de Mattos Figueiredo, Julgado em: 20-05-2020) (grifo nosso)

Ainda, acerca do preparo, insta trazer à baila as considerações tecidas por Chini et al. (2019, p. 210-211):

“(...) Conforme disposto no parágrafo único do art. 54 da Lei, o preparo compreende ‘todas as despesas processuais, inclusive aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição, ressalvada a hipótese de assistência judiciária gratuita’. O objetivo dessa cobrança cumulativa é desestimular a impugnação da sentença, promovendo a maior aceitação da decisão de primeiro grau.

O preparo, no entanto, não será devido pelas partes acobertadas pela gratuidade de justiça, conforme preceituado pela legislação específica, notadamente pela Lei nº 1.060/1950 (Lei de Gratuidade de Justiça) e pelos arts. 98 e seguintes do CPC.”

Seguindo, tema que gera divergência de entendimentos é o que versa sobre o juízo de admissibilidade do recurso inominado. Isso por que, em alusão à sistemática prevista no Novo Código de Processo Civil, a apelação (que seria o recurso análogo ao inominado) deixou de ter a sua admissibilidade no juízo prolator da decisão e passou a ser feita exclusivamente na instância recursal, conforme previsão do art. 1.010, § 3º, do CPC. Assim, no entendimento de Rocha (2017, p. 319) “à luz dessa diretriz, no procedimento do ‘recurso inominado’, o juiz do Juizado somente teria atribuição para corrigir erros materiais, deferir gratuidade de justiça, formar juízo de retratação (quando cabível) e julgar embargos de declaração”.

No entanto, a jurisprudência construída após a vigência do Novo Código de Processo Civil preferiu ignorar as mudanças ocorridas no procedimento de apelação e decidiu manter o

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juízo de admissibilidade sendo feito pelo primeiro grau de jurisdição (ROCHA, 2017). Nesse sentido, o Enunciado 166, do FONAJE: Nos Juizados Especiais Cíveis, o juízo prévio de admissibilidade do recurso será feito em primeiro grau.

Cumpre salientar que a posição prevalente na jurisprudência não admite a utilização da via adesiva para interposição do recurso inominado, por conta da aplicação dos princípios fundamentais dos recursos, especialmente da taxatividade (CHINI et al., 2019). Nesse sentido jurisprudência do Tribunal de Justiça gaúcho:

Ementa: RECURSO INOMINADO. RECURSO ADESIVO. AÇÃO DE

OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONSUMIDOR. ENERGIA ELÉTRICA. READEQUAÇÃO FÍSICA DA REDE ELÉTRICA. REMOÇÃO DE POSTES DE ENERGIA. RESTRIÇÃO DO USO DE PROPRIEDADE RURAL. CUSTO DA OBRA A SER SUPORTADO PELA PARTE

AUTORA. RECURSO ADESIVO NÃO CONHECIDO. SENTENÇA

MANTIDA. Os autores postulam a remoção de dois postes de energia elétrica que se encontram dentro de sua propriedade, impedindo o pleno gozo desta, já que frustram a utilização das terras para plantio, assim como o cercamento da propriedade, já que necessitam mantê-los acessíveis aos funcionários da requerida. A sentença julgou procedente a ação, para determinar a remoção dos postes, às expensas dos autores. Inconformada, a ré recorre, postulando seja julgada improcedente a ação proposta, enquanto os autores apresentam recurso adesivo. Não merece ser conhecido o recurso dos autores, pois inexiste a figura do recurso adesivo, na Lei 9.099/95, sendo, pois, inviável, em sede de Juizado Especial. Igualmente, não merece prosperar o recurso inominado interposto pela ré, pois não demonstra minimamente que inviável a realização da determinação sentencial, em razão de se tratar de rede que abastece o município e diversas outras famílias, ônus que lhe competia e não se desincumbiu, tudo não passando de meras alegações. Registre-se que seria de fácil demonstração técnica por parte da concessionária de energia a inviabilidade do pedido dos autores, o que não fez. E nesse quadro, não há como modificar a sentença. Ônus de retirada dos postes pela parte autora, pois ausente recurso hábil por parte destes. Prazo para o cumprimento da obrigação de fazer, esclarecido: 30 (trinta) dias a contar deste julgamento, mantidas as astreintes fixadas na sentença. Sentença mantida, a teor do disposto no art. 46 da Lei

9.099/95. RECURSO DOS AUTORES NÃO CONHECIDO

E RECURSO DA RÉ DESPROVIDO. UNÂNIME. (Recurso Cível, Nº 71008812927, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Elaine Maria Canto da Fonseca, Julgado em: 29-04-2020) (grifo nosso)

Ementa: RECURSO INOMINADO. VÍCIO. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO

DE VALORES E DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.

AQUISIÇÃO DE FORNO DE MICROONDAS. DEFEITO.

SUBSTITUIÇÃO POR OUTRO APARELHO QUE IGUALMENTE

APRESENTOU DEFEITO. ENCAMINHADO À ASSISTÊNCIA

TÉCNICA SEM RESOLUÇÃO. NO CURSO DO PROCESSO, CERCA DE 4 MESES APÓS O ENVIO À ASSISTÊNCIA, FOI ENTREGUE APARELHO COM VOLTAGEM ERRADA, QUE QUEIMOU. NOVA SUBSTITUIÇÃO. PROSSEGUIMENTO DO FEITO COM RELAÇÃO

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AOS DANOS MORAIS, CONFIGURADOS EXCEPCIONALMENTE EM CONCRETO. QUANTUM FIXADO EM R$ 1.000,00 QUE NÃO COMPORTA REDUÇÃO. ADEQUADO ÀS PARTICULARIDADES DA SITUAÇÃO FÁTICA. IMPOSSIBILIDADE DE RECURSO ADESIVO NO RITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. MOTIVO PELO QUAL NÃO SE CONHECE DO PEDIDO DE MAJORAÇÃO DA CONDENAÇÃO.

SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DA CORRÉ

IMPROVIDO. RECURSO DA AUTORA NÃO CONHECIDO.

(Recurso Cível, Nº 71008366726, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Fabiana Zilles, Julgado em: 30-04-2019) (grifo nosso)

No que toca aos efeitos recursais, conforme previsto no art. 43 da Lei nº 9.099/95, o recurso inominado tem apenas efeito devolutivo, podendo o juiz recorrido dar-lhe efeito suspensivo para evitar lesão irreparável para qualquer uma das partes (MARINONI; ARENHART, 2004). Ou seja, a interposição do recurso não suspende o processo, o que está em consonância à intenção de celeridade dos Juizados Especiais.

Contudo, para Chini et al. (2019, p. 215):

O mesmo art. 43, permite a concessão do efeito suspensivo quando ficar demonstrada não apenas a probabilidade da decisão gerar dano grave à parte recorrente (periculum in mora), mas também motivos para se acreditar que o recurso tenha chances de ser conhecido e provido (fumus boni iuri). A natureza desse pronunciamento, portanto, é cautelar (art. 300 do CPC) e deve ser objeto de fundamentação específica.

Portanto, em sede de Juizados Especiais Cíveis, em regra, durante o procedimento recursal, a sentença estará produzindo todos os seus efeitos, principais e acessórios.

2.3 Embargos de Declaração

A Lei dos Juizados Especiais Cíveis regula em seu texto o recurso de embargos de declaração nos arts. 48 a 50 e trata-se de uma modalidade especial de recurso em que os fundamentos se limitam aos vícios na correção ou na completude da decisão, examinado pelo próprio juiz ou Turma Recursal que a proferiu. Ressalta-se que os aludidos artigos tiveram sua redação modificada, respectivamente, pelos arts. 1.064, 1.065 da Lei nº 13.105/2015 (Novo CPC).

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Conforme dispõe o artigo 48 da Lei nº 9.099/95: “Caberão embargos de declaração contra sentença ou acórdão nos casos previstos no Código de Processo Civil”. Sendo que, contra decisões das Turmas Recursais são cabíveis somente os Embargos Declaratórios e o Recurso Extraordinário, nos exatos termos do Enunciado 63, do FONAJE.

Note-se que, muito embora disponha o art. 1.022, do CPC que cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: III – corrigir erro material, considera Cunha (2018, p. 107) que “como o CPC/2015 não alterou, nem revogou a redação do parágrafo único do art. 48 da Lei nº 9.099/95, deve prevalecer o entendimento segundo o qual os erros materiais podem ser corrigidos independentemente de provocação da partes”, ou seja de ofício.

À luz de uma ótica microscópica, segundo Nery Junior (2004, p. 785), “Os embargos de declaração têm finalidade de completar a decisão omissa, ou ainda, de aclará-la, dissipando obscuridades ou contradições”.

Não obstante, a fim de conceituar obscuridade, contradição e omissão, utiliza-se a lição de Chimenti (2012, p. 292):

Verifica-se a obscuridade quando a decisão recorrida não elucida deforma clara determinado ponto da controvérsia, impossibilitando seu perfeito entendimento pela parte. Há contradição se o julgado apresenta teses inconciliáveis entre si, ou seja, incoerência entre as proposições apresentadas eu entre a fundamentação e a parte dispositiva. Omisso é o julgado que não aprecia questão pertinente ao litigio e que deveria ser apreciada.

Da leitura do art. 49, da Lei nº 9.099/95, infere-se que os embargos deverão ser interpostos no prazo de 5 (cinco) dias, contados da ciência da decisão. Ainda, em nome da oralidade, a interposição do recurso poderá ser feita tanto oralmente, durante a sessão de instrução e julgamento, devendo então ser reduzido a termo, como por petição escrita. Ademais, ao formular o recurso, “o embargante deverá indicar o ponto da decisão que entende inexato, as razões de sua irresignação e o pedido de integração, no caso de omissão ou erro material, ou esclarecimento, nas hipóteses de obscuridade ou contradição” (CHINI et al., 2019, p. 235).

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O art. 50 da Lei nº 9.099/95 sofreu alteração em sua redação original a partir da vigência do Novo CPC, que até então dispunha que a interposição de embargos declaratórios suspendia a contagem do prazo para outros recursos. A nova redação prevê efeito interruptivo da interposição deste recurso, assim, com a intimação da decisão que apreciou os embargos, inicia-se novamente e por inteiro, o prazo interrompido.

Por fim, para oferecimento dos embargos de declaração não será necessário realizar o preparo, por expressa previsão legal (art. 48 da Lei nº 9.099/95 e art. 1.023 do CPC). Da mesma forma, não conferem os embargos declaratórios direito à resposta, ao passo que não se abre vista à parte contrária para se manifestar, pois o que se busca não é uma nova decisão e sim, um aperfeiçoamento da decisão já tomada.

2.4 Irrecorribilidade das decisões interlocutórias

A verdadeira revolução de mentalidade que o modelo do juizado propõe faz com, em regra, o recurso de agravo de instrumento não seja admitido. Nessa toada, Chimenti (2012, p. 253) pondera que:

Diante dos princípios da celeridade (art. 2º da Lei n. 9.099/95) e da concentração, que determinam a solução de todos os incidentes no curso da audiência ou na própria sentença (art. 29), a quase totalidade da doutrina sustenta a irrecorribilidade das decisões interlocutórias proferidas na fase de conhecimento do processo. Como decorrência, tais decisões não transitam em julgado e poderão ser impugnadas no próprio recurso interposto contra sentença, sendo por isso incabível o agravo de instrumento.

Portanto, como não faz a Lei nº 9.099/95 alusão às decisões interlocutórias, pressupõe-se que as mesmas são irrecorríveis, porém, como não precluem, podem pressupõe-ser objeto de questionamento futuro. Corroborando esse entendimento, o Enunciado 15, do FONAJE – Nos Juizados Especiais não é cabível o recurso de agravo, exceto nas hipóteses dos artigos 544 e 557 do CPC.

A jurisprudência amplamente majoritária também não admite o agravo de instrumento, merecendo destaque as seguintes conclusões:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO CONTRA

(32)

URGÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL QUANTO À

INSURGÊNCIA RECURSAL NO ÂMBITO

DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. LEI 9.099/95. RECURSO NÃO CONHECIDO. (Agravo de Instrumento, Nº 71009447178, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Giuliano Viero Giuliato, Julgado em: 15-06-2020)

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ 3ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS - PROJUDI Rua Mauá, 920 - 14º Andar - Alto da Glória - Curitiba/PR - CEP: 80.030-200 - Fone:

3210-7003/7573 Autos nº 1615-72.2020.8.16.9000 Recurso:

1615-72.2020.8.16.9000 Classe Processual: Agravo de Instrumento Assunto Principal: Liminar Agravante: TAM LINHAS AEREAS S/A. Agravados:

RODRIGO BUENO CAPRI Tamara Mohamad

Ataya AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO

INTERLOCUTÓRIA. JUIZADO ESPECIAL CÍVEL. NÃO CABIMENTO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO NA LEI Nº 9.099/95. RECURSO NÃO CONHECIDO. Relatório dispensado (Lei nº 9.099/95, art. 38).1. O recurso de agravo de instrumento é inadmissível na sistemática do Juizados Especiais Cíveis. 2. Para o Lei nº 9.099/95 trâmite mais célere das causas de menor complexidade, a consagrou a regra da irrecorribilidade das decisões interlocutórias. Nesse sentido: TJPR. 2ª Turma Recursal, 2215-30.2019.8.16.9000. Londrina. Rel.: Juiz Helder Luis Henrique Taguchi. J. 17.06.2019. Portanto, o recurso é inadmissível e não pode ser conhecido, devendo o feito de origem prosseguir em seus ulteriores termos. Diante do exposto, com fulcro no artigo 932, inciso III, do Código de Processo Civil, não conheço do3. presente Agravo de Instrumento, julgando extinto o procedimento recursal, sem resolução de mérito. Custas pela agravante.4. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Oportunamente, arquive-se. Curitiba, data da assinatura digital. Fernanda Karam de Chueiri Sanches Magistrada

Muito embora não exista previsão legal quanto à possibilidade de interposição de agravo de instrumento para atacar decisões interlocutórias, o que se observa é que essa questão ainda é controversa entre os doutrinadores e jurisprudência. Sobre esse tema, leciona Chini et al. (2019, p. 204) que a posição adotada pela maioria da doutrina e jurisprudência:

(...) sustenta que o sistema dos Juizados Especiais seria incompatível com o recurso de agravo de instrumento e que o mandado de segurança seria suficiente para suprir esta falta, aplicável apenas em situações excepcionais, quando presentes os requisitos legais. O fundamento seria a própria Lei do Mandado de Segurança, que dispõe que não caberá mandado de segurança de “decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo” (art. 5º, II, da Lei nº 12.016/2009). Dessa forma, a decisão interlocutória proferida no primeiro grau dos Juizados Especiais, por desafiar apenas “recurso inominado”, sem efeito suspensivo (art. 43), poderia ser atacada por mandado de segurança.

Referências

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