ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE: ENTRE PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES NA CIDADE DE FORTALEZA
CARLOS RAFAEL VIEIRA CAXILE
E-mail: rafaelcaxile@hotmail.com
Temos como objetivo central nessa pesquisa explicitar algu-mas práticas culturais, principalmente, congos e maracatus, presen-tes na cidade de Fortaleza, a partir do final do século XIX, enquan-to expressão e manifestação da cultura popular, rica em aspecenquan-tos simbólicos, espaços de sociabilidade, construção de conhecimentos e integração cultural; momentos de liberação e contestação da or-dem vigente. A população vive a cidade a seu modo, produzindo lazer e festa. Os rituais que a constituem situam-se entre o universo religioso e profano, o que confere mais autonomia para a população operar nesses espaços. As manifestações populares apresentadas possuem como característica fundamental a imbricação entre o sa-grado e o profano, cujo entendimento implica considerá-lo em con-junto. São exatamente as fronteiras pouco definidas desses campos que oferecem margem às práticas devocionais, às orações, às sim-patias, igualmente à diversão, ao lazer e a bebedeira, constituindo--se em momentos importantes de sociabilidade, superação de dese-jos, produção de experiências e constituição de memória.
A Cidade de Fortaleza, no final do século XIX, era palco de uma série de práticas culturais relacionadas à igreja católi-ca. Essas manifestações religiosas apresentavam espetaculares manifestações externas de fé, expressas no culto aos santos, pro-cissões e funerais. Esses festejos organizados pelas irmandades1
1 A Historiadora Marina de Mello e Souza, na obra, Reis Negros no Brasil Escravista, trás importantes considerações sobre as funções das irmandades presentes no Bra-sil: “As irmandades foram elementos fundamentais no exercício de uma religiosida-de colonial e barroca, caracterizada pelo culto aos santos, pelas religiosida-devoções pessoais e pela pompa das procissões e festas, marcadas pela grandiosidade das manifestações exteriores da fé, na qual conviviam elementos sagrados e profanos. A essa
especifici-em homenagespecifici-em aos padroeiros, ou outros de devoção, eram um dos momentos mais importantes da vida da própria cidade, tan-to em função do público que atraía, como pelos transtan-tornos que causava à organização do trabalho. Para descontentamento das autoridades civis e religiosas, preocupadas com o cumprimento da ordem e com a continuidade da postura oficial católica. Essas manifestações, raramente, não confundiam as práticas sagradas com as profanas nas comemorações de rua. Além dos sermões, das missas, novenas e procissões, eram importantes as danças, coretos, barracas de diversão, fogos de artifício, comidas e bebi-das. (CAMPOS, 1985)
Desde a chegada da família real no Brasil em 1808, foi cres-cente a preocupação das autoridades com a ordem pública, proibia--se com freqüência músicas, danças e batuques, que ao aglomera-rem-se em número considerável de negros, na maioria das vezes, terminava em desordens. A repressão no decorrer do tempo tor-nou-se mais intensa, atingindo até as manifestações anteriormente aceitas, como aquelas que faziam parte dos festejos realizados pe-las irmandades de cor. (DEBRET, 1940)
Na cidade de Fortaleza, as medidas de controle e proibição dos festejos populares variavam de um momento para o outro, quan-do as ameaças de revoltas estavam no presente, intensificavam-se as proibições radicalmente às manifestações populares, considera-dos momentos propícios para rebeliões. Em outros momentos mais estáveis, alegava-se que as diversões populares desrespeitava a or-dem e causava a vadiagem, incompatíveis com a posição da capital do Ceará e a pretendida civilização. (CAMPOS, 1985)
dade do catolicismo colonial agregava-se um caráter prático e imediatista, que bus-cava consolo e soluções para questões do cotidiano, principalmente por interferên-cia dos santos, aos quais eram dirigidas promessas que seriam cumpridas mediante o alcance da graça pedida. [...] Desde cedo as irmandades tornaram-se exclusivas e determinadas categorias raciais e sociais, agrupando as pessoas conforme a cor de sua pele e seu lugar na hierarquia social. [...]” (Souza, 2002,p.184-185) Para um maior aprofundamento sobre irmandades ver: Reis, 1991; Soares, 2000.
O período que compreende o final do século XIX e as primei-ras décadas do século XX marca um conjunto de importantes trans-formações sociais, políticas e econômicas. Na formação histórica do Brasil, acontecimentos como o fim da mão de obra escrava, implan-tação do regime republicano, instauração do trabalho assalariado, em grande parte desencadeados pelo surgimento de novas forças e valores sociais e das injunções demandadas pelo sistema capita-lista que então se tornava hegemônico, foram alguns dos aspectos decisivos ao processo de construção de uma nova ordem econômi-ca, política e social no país. No rastro desse quadro de mudanças, as principais cidades brasileiras passaram por uma série de reformas urbanas e sociais. Efeitos práticos dos desejos dominantes de mo-dernização da sociedade, tais reformas buscavam alinhar os cen-tros urbanos locais aos padrões de civilização e progresso dissemi-nados pelas metrópoles da Europa. (SCHWARCZ, 2001)
Todo esse desejo de reformas e intervenções que despontou na cidade de Fortaleza a partir da segunda metade do século XIX, evidencia a existência de um processo que objetivou racionalizar a cidade e disciplinar seus moradores. É nesse período, que se es-tende até a segunda metade do século XX, no processo de consti-tuição de seu meio urbano, que pretendemos iniciar a análise da participação popular em comemorações, festejos e manifestações, principalmente Congos e Maracatus, entendendo-os como um mo-mento significativo de sociabilidade, construção de conhecimo-mentos e produção de memoria. Integração de culturas e tensões são algu-mas de suas facetas, de expressões autônoalgu-mas e de resistência aos novos comportamentos requeridos pela ideologia da modernidade, expressos principalmente pelos termos civilização e progresso. Re-cuperaremos tais vivencias na imprensa periódica, em documentos oficiais, em relatos de memorialistas, e através de história oral e imagens discutindo seus significados e conflitos.
As camadas populares revelam uma maneira própria de vi-ver o espaço urbano de moradia, de trabalho e lazer, bem como sua
religiosidade. Burlam a vigilância dos espaços institucionalizados, quer os ligados a Igreja católica, quer aqueles sob autoridades polí-ticas civis, pois também vivem, em parte, as tentativas de imposição da disciplina de trabalho, quanto ao emprego fixo, à assiduidade e aos horários estabelecidos. O desejo de impor controle e disciplina as camadas populares era manifesto sob essas diversas formas.
No final do século XIX e início do século XX, algumas mani-festações populares ainda eram bastante praticadas na cidade de Fortaleza e, entre boi surubi, pastorinhas e fandangos há o auto dos reis de congo muito observado e relatado por memorialistas cea-renses, como também os maracatus. Os congos são registrados até a primeira década do século XX, depois desaparecem das anotações e dos registros oficiais. Em compensação o maracatu emerge com força total, principalmente, a partir de 1936, data em que passa a desfilar nos carnavais de rua de Fortaleza. Dessa forma, buscare-mos responder no decorrer da pesquisa o porquê de determina-das manifestações populares desaparecem, quase integralmente, dos espaços urbanos de Fortaleza, e outras aparecem no seu lugar. Quais foram os mecanismos de aceitação da prática do maracatu na cidade de Fortaleza em detrimento das demais manifestações de negros e mestiços. Essas são algumas questões que buscaremos responder no decorrer da pesquisa.
O maracatu do Morro do Moinho, Maracatu do Outeiro, da Apertada Hora, da Rua de São Cosme e do Manuel Conrado se apre-sentavam principalmente durante o período de festas natalinas. A partir das primeiras décadas do século XX, os maracatus deixaram de se apresentar em períodos de festas de fim de ano e passaram a participar dos carnavais de rua da cidade de Fortaleza. Raimun-do Alves Feitosa desfilou no corso fortalezense com o recém-criaRaimun-do maracatu Az de Ouro, no ano de 1936, sendo esse o primeiro mara-catu a participar nos carnavais de rua de Fortaleza.
O carnaval, especificamente, era uma festa importante no âmbito da cultura da cidade. Apesar de considerado profano, sua
compreensão só se completa se pensada em relação à quaresma, um tempo de jejum, abstinência de carne, sacrifícios e orações, proposto pela Igreja Cristã em preparação à Páscoa: celebração de Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. É nessa oposição que o carnaval ganha sentido. Trata-se de festas que aglutinam rituais e outras práticas vivenciadas de forma menos intensa nas demais co-memorações.
O carnaval era festejado desde o final do século XX, em For-taleza, constituindo-se em mais uma de suas tradições populares. A principal forma de comemoração era o famoso entrudo, consistin-do em foliões que davam verdadeiros banhos d’água nos transeun-tes, os quais, em geral, acabavam aderindo à brincadeira. Era hábi-to, entre as famílias da elite, reunirem-se e fazerem uma guerra de limão-de-cheiro. Mulheres e homens participavam e, muitas vezes, a brincadeira finalizava-se com um animado baile e comes e bebes.
Nessas brincadeiras, havia também extrapolações dos pa-drões aceitáveis, tais como o uso de limão-de-cheiro com outros líquidos, tinturas para manchar as roupas, água com odores desa-gradáveis ou mesmo pimenta, com o objetivo de atingir os olhos dos transeuntes. Nem todos aceitavam a natureza da brincadeira e muitos partiam para briga.
Essa forma de brincar o carnaval, originária da tradição por-tuguesa e introduzida no Brasil desde os tempos coloniais, que se diferenciava de outras formas européias, como, por exemplo, a de Veneza, com o tempo foi sendo considerada não muito civilizada, contudo, as práticas descritas não foram de todo eliminadas, convi-vendo durante longo tempo com as novas.
Mudanças na forma de comemorar, a partir de meados do sé-culo XIX, revelam transformações do meio urbano, de incorporação de novos comportamentos associados à modernidade. Trata-se de uma trajetória de convivência das manifestações populares e de sua participação na festa, como também na elaboração do espetáculo, a partir do qual os trabalhadores menos favorecidos tornam-se
assis-tência (dos préstitos e corsos), e mesmo essa condição deveria ser bem comportada, vigiada pela polícia.
Todos os anos, o Carnaval ocupava os espaços e referências na imprensa de Fortaleza, quer sobre a chamada para os prepara-tivos, quer sobre o transcorrer da folia, dos bailes. Entre as suas formas de apresentação, que passaram a ser valorizadas, cons-tava a realização do préstito carnavalesco, o desfile de carros e pessoas pelas avenidas da cidade, com diversas alegorias, confi-gurando sátiras e homenagens a personagens ou a acontecimen-tos recentes.
As várias maneiras de intervenção das autoridades para con-trolar certos hábitos e práticas da população – tais como a da Igreja, em relação a algumas procissões, ou da polícia, contra determina-das manifestações populares, a fim de instaurar a ordem e o silên-cio – podem ser entendidas dentro do contexto de estabelecimento de um novo modo de vida na cidade, até mesmo de acentuar a dis-ciplina do trabalho. Daí, viam a necessidade de extinguir tradições não condizentes e promover a repressão ao desejo de se divertir livremente. Mesmo que as autoridades mencionadas agissem por razões distintas, possuíam em comum a pretensão de controle so-bre o tempo livre da população.
Entendendo que as festas populares são potencialmente mo-mentos de liberação e sociabilidade, muitas vezes proporcionando quebras de comportamentos padronizados, a intenção é pensar a prática do maracatu em Fortaleza, enquanto expressão e manifesta-ção da cultura popular, integrando diversas tradições, com grande envolvimento das camadas menos favorecidas.
Em um contexto de conflitos sociais entre grupos em busca de hegemonia, buscaremos contextualizar o maracatu como for-mação de identidade, ou seja, de superação da invisibilidade entre diferentes segmentos da sociedade, bem como, estratégias de ma-nutenção e instrumentalização dos processos de afirmação, resis-tências, solidariedades e cidadania.
Assim, as nações de maracatu, garantindo a participação
social, contribuem para a construção da cidadania, do trabalho, do reconhecimento da riqueza e do direito à diferença, isto é, da dig-nidade humana.
É relevante ainda ressaltar que nenhuma pesquisa comece sem uma inspiração, uma motivação ou, por assim dizer, uma ques-tão de interesse, que é inerente a quem busca conhecer, identificar ou descobrir alguma coisa. A partir dessa afirmativa, foi possível destacar três fatores que considero fundamentais como inspiração para o desenvolvimento da pesquisa aqui proposta. O primeiro, é o fato de apresentar interesse pelas práticas afro-descendentes des-de os tempos des-de criança, quando acompanhava as manifestações como deslumbrado espectador; o segundo é o fato de ter a cons-ciência que as práticas populares são um patrimônio para o povo cearense, e que faz parte de um movimento cujo reflexo se encontra presente no cotidiano da minha cidade; o terceiro é um fator que se reflete no fato de eu ter ascendido a uma condição acadêmica as-segurada por uma formação que envolve a sensibilidade com o ser humano, que privilegia o respeito ao diferente. Daí a evocação da sensibilidade no trato com as manifestações populares. As práticas culturais aqui apresentadas significam estímulo ao sentimento, à sensibilidade e à lembrança e esses elementos estão presentes no contexto da memória coletiva.
Nos últimos anos, o foco dos estudos a respeito da presença dos negros na sociedade brasileira tem se deslocado, estudiosos do tema vem buscando redirecionar suas análises, no intuído de perce-ber o papel histórico desempenhado por esses indivíduos, como im-portantes sujeitos no processo histórico de formação da sociedade brasileira. Nesse sentido, historiadores tem se voltado cada vez mais para a análise de diferentes variáveis de modo que modelos cris-talizados nos quais a relação negro- escravidão que direcionava ao negro escravo ou liberto o papel de figurante na sua história, sendo incapaz de agir eficazmente no processo histórico, fosse superado.
Dessa forma, esses indivíduos foram sendo analisados a par-tir de suas histórias que os mostram como seres humanos subme-tidos á dominação branca e que tinham outros valores e projetos – diferentes daqueles da sociedade dominante – e lutaram por eles. Construindo alternativas de vida, sempre lutando de diversas ma-neiras, construindo alternativas de vida de diversas formas e con-quistaram “direitos”, transformando as próprias relações de a que estavam submetidos.
Historiadores estão privilegiando nos seus estudos as vozes e atitudes desses homens e mulheres, que lutaram para ter o direito de ir e vir, ter acesso a terra, manter linhagens e laços de solidarie-dade arduamente construídos através de manifestações culturais e outras práticas sociais.
Nesse sentido devemos compreender que o nascimento do mundo atlântico, com milhões de africanos se deslocando para as Américas, onde muitas vezes tornaram a população dominante em certas áreas, envolveu uma relação de trocas culturais onde o do-minado interagiu com o dominante. Sendo assim, através dessas trocas culturais novas identidades foram sendo formadas.
As reflexões sobre a formação de identidade estão se voltan-do cada vez mais para uma perspectiva que desvaloriza associações com raça e aproximam-se da individualidade, comunidade e soli-dariedades. Proporcionando dessa maneira mais de uma maneira para se entender a relação estabelecida entre as experiências sub-jetivas do mundo e os aspectos sociais, culturais e históricos forma-dos a partir de subjetividades frágeis e significativas.
O conceito de identidade de uns tempos para cá vem sen-do entendisen-do como nevrálgico nas relações teóricas e políticas emergentes dentre as principais, pertencimento, etnicidade. A recente popularidade do termo é resultado da pluralidade de significados que pode atrelar. O conceito permite compreender a formação do coletivo, e considerar os padrões de inclusão e ex-clusão que ele cria.
A relação entre identidade e diferença, entre similaridade e alteridade é uma operação intrinsecamente política. Isso se dá, principalmente, quando as coletividades políticas refletem sobre o que possibilita suas conexões obrigatórias. O fundamental do con-ceito é entender como se dá a compreensão das relações de paren-tesco que podem ser uma conexão imaginária, mas mesmo assim muito importante nesse sentido.
A linguagem que distingue a identidade aparece quando os indivíduos procuram pensar sobre o pertencimento a um grupo ou comunidade. Esse pensamento permite a transformação em estilos de solidariedade, e produz um debate sobre o lugar em que se devem constituir as fronteiras em torno de um grupo. Nesse sentido, a identidade se torna uma questão de poder e autoridade de um grupo procurando realizar-se a si próprio de uma forma política.
Stuart Hall entende que possuir uma identidade cultural é estar em permanente contato com algo imutável e atemporal, li-gando passado, presente e futuro numa linha ininterrupta, o que ele chama de “cordão umbilical”, o mesmo de tradição. Esse cordão umbilical é a fidelidade do individuo às suas origens, sua consci-ência diante de si mesmo, sua autenticidade. Isso permite ao su-jeito conferir significados às suas vidas dar sentido à sua história. (HALL, 2003, p.34)
Durante muito tempo a sociedade branca ocidental atribuiu a concepção de identidade a partir do fator biológico, do corpo. A sociedade branca ocidental tem dividido claramente os atributos do corpo, como sendo forte nos negros, e os atributos da mente, como características dos brancos. Contudo, estes atributos físicos tidos como negativos – pois na concepção capitalista ocidental, o corpo é inferior e dependente da mente, de certa forma adquiriu um novo prestígio na sociedade pós-moderna em que vivemos. As atividades corporais são hoje bem valorizadas através de imagens que perpassam culturas.
A proeminência atual dos corpos racializados bonitos e per-feitos não mudam em nada as formas cotidianas da hierarquia social. A imagem da negritude com associações históricas de brutalidade, crime, preguiça ou fertilidade excessiva continuam se sobrepondo.
Buscando combater as formas de discriminação racial e ex-clusão social, muitos movimentos negros apareceram no Brasil. Surgiram como uma contra-interpretação da modernidade que os criou; esses movimentos negros formaram-se a partir de subjetivi-dades raciais, e ao serem analisados demanda que se considere as relações sociais nas quais essas pessoas fazem parte e a pratica po-lítica que articulam estes indivíduos através de raízes tradicionais e da memória histórica.
A prática do maracatu na cidade de Fortaleza busca dar con-tinuidade a luta pela promoção do negro, numa busca pela igualda-de racial numa sociedaigualda-de marcada pelo preconceito. Nesse sentido, deve-se considerar a importância dessa manifestação no interior das comunidades, sendo visto por muitos como a prática afro-des-cendente mais eminente em Fortaleza. Reforçando a idéia dos par-ticipantes dos maracatus, de buscar na África o referencial para a afirmação de uma identidade negra que pudesse denotar orgulho aos seus membros.
Os afro-descendentes brasileiros mesmo depois de cem anos do fim da escravidão, ainda sofrem um forte preconceito racial e exclusão social.O racismo corresponde á suposição da existência de uma hierarquia social biológica entre os seres humanos, a partir de uma classificação em diferentes grupos, tendo por base caracte-rísticas físicas arbitrariamente selecionadas. Segundo Sergio Costa essa hierarquização trás conseqüências socioeconômicas quanto político-culturais para as sociedades que a praticam. Afirma o autor que as primeiras correspondem ao surgimento de uma estrutura de oportunidades desigual, de forma que aqueles que sofrem uma po-sição inferior na hierarquia racial imaginada são sistematicamente desfavorecidos na competição social, restando-lhes os piores
pos-tos de trabalho, salários proporcionalmente menores, dificuldades de acesso ao sistema de formação escolar e profissional, etc.
A dimensão cultural do racismo, por sua vez, expressa-se no cotidiano, através de formas de comportamento (escolhas matri-moniais, tratamento pessoal discricionário), rituais (insultos ra-cistas, humilhações), assim como através da marginalização social espacial.
Movimentos anti-racistas buscam enfrentar o racismo nos dois níveis destacados. Do ponto de vista socioeconômico, procura--se estabelecer uma igualdade de oportunidade de modo a neu-tralizar as conseqüências distributivas da discriminação racial. O racismo, em sua dimensão sociocultural, é combatido em diversas frentes, sendo as principais: reformas curriculares escolares, revi-são jurídica e maior punição a crimes de racismos.
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