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Análise das influências do projeto balde cheio no desenvolvimento socioeconômico do município de Três de Maio

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Academic year: 2021

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(1)

DO RIO GRANDE DO SUL

Departamento de Ciencias Administrativas, Contabeis, Economicas e da Comunicacao

Departamento de Estudos Agrarios

Departamento de Ciencias Juridicas e Sociais

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM

DESENVOLVIMENTO

ROBSON WEISS MACHADO

ANALISE DAS INFLUENCIAS DO PROJETO BALDE CHEIO NO

DESENVOLVIMENTO SOCIOECONOMICO DO MUNICiPIO DE TRES DE MAIO

Ijui (RS) 2014

(2)

ROBSON WEISS MACHADO

ANALISE DAS INFLUENCIAS DO PROJETO BALDE CHEIO NO

DESENVOLVIMENTO SOCIOECONOMICO DO MUNICiPIO DE TRES DE MAIO

Dissertacao apresentada ao Programa de P6s- graduacao Stricto Sensu em Desenvolvimento, area de concentracao da pesquisa: Gestao de Organizacoes e Desenvolvimento, da UNIJUI

- Universidade Regional do Noroeste do

Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtencao do titulo de Mestre.

Orientador: Professor Doutor DilsonTrennepohl

Ijui (RS) 2014

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1. M149a Machado, Robson Weiss.

Análise das influências do projeto balde cheio no desenvolvimento socioeconômico do município de Três de Maio / Robson Weiss Machado. – Ijuí, 2014. –

116 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Dr. Dílson Trennepohl”.

1. Três de Maio. 2. Balde cheio. 3. Economia. 4. Social. 5. Produtores rurais de leite. I. Trennepohl, Dílson. II. Título.

CDU: 33(816.5) 631.11:637.11

Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/1879

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

ANÁLISE DAS INFLUÊNCIAS DO PROJETO BALDE CHEIO NO

DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DO MUNICÍPIO DE TRÊS DE MAIO

elaborada por

ROBSON WEISS MACHADO

como requisito parcial para a obtenção do grau de

Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Dilson Trennepohl (UNIJUÍ): ___________________________________________

Profa. Dra. Janete Stoffel (UFFS): _______________________________________________

Prof. Dr. David Basso (UNIJUÍ): ________________________________________________

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Para Maria, minha mae, Joao, meu pai, ambos guerreiros incansaveis e demonstradores de que somos fortes nao pelas vezes em que somos testados, mas pelas vezes em que levantamos e continuamos seguindo em frente.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, fonte de infinita energia, renovacao e inspiracao.

Aos meus pais Maria Berenice Weiss e Joao Luiz Correia Machado, aos quais devo minha vida e os principios que carrego comigo. Em especial, neste periodo de construcao e desconstrucao de conceitos que caracteriza o mestrado, foi possivel amadurecer os ensinamentos recebidos na infancia para melhor compreender o que realmente importa: a condicao das pessoas, transmissoras e receptoras de acoes, envolvidas no processo.

As Leis da Natureza que, atraves da flora e fauna, demonstram o quanto precisamos estar conscientes de nossa responsabilidade com as geracoes futuras, respeitando os limites postos e colaborando com novas ideias para solucionar os inconvenientes sociais e economicos trazidos pela tecnologia, no que diz respeito ao legado outorgado aqueles que nos sucedam.

A Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI), por oportunizar o acesso ao conhecimento didatico e, principalmente, as reflexoes fortemente presentes durante estes dois anos de curso. Tambem agradeco pelo apoio financeiro atraves da Bolsa de Estudos ofertada e pelo incentivo na realizacao de publicacoes, sem as quais a construcao do saber ficaria comprometida, pois o saber em segredo nada agrega a realidade.

A Sociedade Educacional Tres de Maio (SETREM), pelo incentivo sempre presente durante o mestrado, desde o estagio de docencia ate o inicio das atividades docentes na instituicao. Tambem agradeco ao auxilio financeiro proporcionado, o qual contribuiu fortemente nesta fase de viagens e estudos. A todos os alunos que, somente pelo fato de existir, contribuem no crescimento pessoal e profissional, alem de representarem um importante fator motivacional para o aperfeicoamento constante de nossos pensamentos, palavras e acoes. Aos professores da Setrem, cada qual com suas preciosas contribuicoes, em especial ao professor Adalberto Lovato, sempre atencioso e prestativo.

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em especial ao prefeito municipal Sr. Olivio Jose Casali e aos profissionais: Valdir Ortiz, Pablo Jones Salazar, Eduardo Juliani e Angela Cristine Camilo.

As empresas e entidades parceiras que colaboraram na construcao deste trabalho: Debora Carina da Rosa (FUNCAP), Anderson Rodrigo Danette (BRF) e Juliano Alarcon Fabricio (Cooperideal) pela cooperacao e prestatividade concedidas.

As familias de produtores rurais, agora mais especializadas, que concordaram em compartilhar suas vivencias e "abrir a porteira" de suas propriedades para a realizacao deste trabalho.

Aos amigos inigualaveis e insubstituiveis que estiveram comigo durante esta caminhada. Em especial Wilson Antonio Nascimento de Oliveira e Cecilia Smaneoto de quem recebi sempre preciosas e decisivas contribuicoes.

Aos colegas do mestrado pelas preciosas e gratificantes contribuicoes, em especial a Ana Claudia Leite, Vilmar Bueno da Silva e Elvis Mognhon, os quais proporcionaram momentos impares de discussao, crescimento pessoal e profissional. A "minha prenda" Daiane Maria Moraes, pela incansavel disposicao na revisao e correcao das peripecias de redacao deste trabalho.

Aos professores do mestrado, que atraves de seus questionamentos e inquietacoes pode instigar a construcao do saber na sua forma mais natural: a realidade nao esta posta, mas se constr6i gradativamente atraves da complexidade e da diversidade de nossas acoes.

Assim como a felicidade nao se encontra no final do percurso, mas nos varios momentos presentes durante a caminhada, todos tiveram participacao, cada qual em um momento unico e importante da trajet6ria construtora deste trabalho. Minha gratidao, a todos que participaram em algum momento desse percurso, e expressa neste momento com palavras e, futuramente, sera expressa em acoes que possam

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0 tempo e as jabuticabas Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que ja vivi ate agora. Tenho mais passado do que futuro... Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas... As primeiras, ele chupou displicente... mas percebendo que faltam poucas, r6i o caroco... Ja nao tenho tempo para lidar com mediocridades... Nao quero estar em reunioes onde desfilam egos inflados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobicando seus lugares, talentos e sorte. Ja nao tenho tempo para conversas interminaveis... Ja nao tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronol6gica, sao imaturas... Detesto fazer acareacao de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretario geral do coral... As pessoas nao debatem conteudos... apenas os r6tulos... Meu tempo tornou-se escasso para debater r6tulos... quero a essencia... minha alma tem pressa... Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropecos... nao se encanta com triunfos... nao se considera eleita antes da hora... nao foge de sua mortalidade...

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0 essencial faz a vida valer a pena... e para mim basta o essencial... (Rubem Alves)

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RESUMO

A presente dissertacao tem objetivo de realizar a "Analise das Influencias do Projeto Balde Cheio no Desenvolvimento Socioeconomico do Municipio de Tres de Maio". Reflete sobre as mudancas positivas que a transferencia de tecnologia, proposta pelo projeto, traz para os produtores rurais de leite do municipio de Tres de Maio com enfase nos impactos sociais e economicos, abrangendo temas e autores que tratam do desenvolvimento, primeiramente social, no acesso a bens e servicos, para somente depois ser reconhecido como economico. Caracteriza-se e analiza-se o municipio de Tres de Maio, suas caracteristicas de ocupacao e formacao do territ6rio, e o processo de desenvolvimento das familias rurais do interior do municipio. Identificam-se os elementos constituintes da cadeia produtiva do leite, desde a genese da alimentacao, a partir da necessidade maior de alimentos, diante do crescimento da populacao, ate as potencialidades atuais da cadeia produtiva para a economia mundial, brasileira, regional e local, bem como a situacao atual da cadeia produtiva na regiao Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Busca-se olhar de forma completa o projeto Balde Cheio, desde a sua criacao em 1998 na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaria (Embrapa), evolucao no Brasil, metodologia e estrategias de acao, convergindo na atuacao do projeto no municipio de Tres de Maio. Os resultados alcancados durante o tempo de vigencia do projeto apontam, nas acoes que desencadeiam o processo, mudancas de postura e visao das familias de produtores rurais, ocasionando melhoria na qualidade de vida e resgate da auto-estima, revigorando o orgulho de ser produtor de leite e a crenca no agroneg6cio. O projeto Balde Cheio como instrumento de mudanca da realidade social e economica, desenvolvido pela Embrapa, destaca-se como projeto analisado. Entende-se ser o agroneg6cio, principalmente a atividade leiteira, um segmento privilegiado da economia, que pelas caracteristicas pr6prias tem condicoes de proporcionar uma qualidade de vida digna as familias rurais e consequente acrescimo ao restante da populacao do municipio onde esta inserido o projeto Balde Cheio. Palavras-chave: Tres de Maio, Balde Cheio, Economico, Social, Produtores Rurais de Leite.

(11)

The aim of this thesis is to analyse the influense of a Project called "Balde Cheio", that started in 2010, and lasted for two years, on the social and economic development of Tres de Maio, a municipallity in the worth of Brazil. It considers the positive changes that technology transfers has brougth to the typical small milk farmers on the social efects, impovemet in the access to goods ande services and, after that on economic impact. A analyses was made, is Will as of the historic development of the rural families in Tres de Maio. A comprehensive identification of the elements that are incladed in the dairy supply chain was made, based on the increment for good necessity caused by increaring population in all levels, regional and global. A top down approach of dairy production, considering the global market, national market, regional e finally the local market inside the municipality of Tres de Maio, was considered. Starting with a broad analysis, at national level, of the project "Balde Cheio", that started in Brazil in 1998, its strategies, methods and actual actions converging to the local case. Results of the program draw attended to charper in vision and attitudes of the rural families, trigging improvement in life quality and self-stream, resourcing the pride of heeding a farmer and optimistic view of the agribusiness. The project was an effective instrument to change the social and economical reality. The way, the agribusiness, in particular the dairy activity, is an relevant player for the economy, with its own characteristics to provide an upright and fair life to rural families and, consequently, to the whole municipality.

Keys-word: Tres de Maio, Balde Cheio, Economic, Social, Rural Milk Producers

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 F6rmula para o calculo do valor agregado...24

Figura 2 Brasil com destaque no estado do RS...30

Figura 3 Regiao Noroeste do RS...30

Figura 4 Mapa dos limites territoriais do municipio de Tres de Maio...31

Figura 5 Tanque isotermico produzido pela empresa Jardinox...32

Figura 6 Vista aerea do parque onde ocorre a cada dois anos a Expoterneira...33

Figura 7 Evidencias da ordenhacao de gado na Mesopotamia...37

Figura 8 Fluxograma simplificado da cadeia produtiva do leite...41

Figura 9 Principais elos da cadeia produtiva do leite...43

Figura 10 Logomarca do programa Leite Legal...45

Figura 11 Possiveis resultados futuros esperados com o programa Leite Legal...46

Figura 12 Variacao do preco do litro de leite pago ao produtor no periodo 2012-2013...48

Figura 13 Producao mundial de leite (em toneladas) por vaca e por continente durante o periodo de 2000-2010...50

Figura 14 Crescimento anual da demanda e oferta mundial do leite durante o periodo 1997- 2012...50

Figura 15 Producao mundial de leite em milhoes de litros (2008-2012)...51

Figura 16 Producao brasileira de leite em milhoes de litros (2008-2012)...52

Figura 17 Ranking dos maiores produtores mundiais de leite em 2011...52

Figura 18 Variacao de importacoes e exportacoes brasileiras (1999-2010)...54

Figura 19 Diferenca da producao de leite da regiao Noroeste do RS (1990-2010)...54

Figura 20 Crescimento do volume de producao de leite em estados brasileiros em 2012...57

Figura 21 Logomarca do projeto Balde Cheio a nivel nacional...63

(13)

2010..72

Figura 24 Acude da UD Pioneira no municipio de Tres de Maio em 2013...79

Figura 25 Unidade de lacteos (BRF II) em Tres de Maio no ano de 2013...81

Figura 26 Quadro de Controle de Producao utilizado nas propriedades rurais...82

Figura 27 Vista aerea da UD Pioneira no ano de 2012...86 Figura 28 Distribuicao territorial das UDs no municipio de Tres de

Maio...87

Figura 29 Sistema de "balde ao pe"...88 Figura 30 Sistema de sala de ordenha...88

(14)

Figura 31 Distribuicao por hectare das terras nas propriedades rurais do municipio de Tres de

Maio no ano de 2013...89

Figura 32 Divisao da area cultivavel em piquetes...91

Figura 33 Piquetes na UD Pioneira do municipio de Tres de Maio no ano de 2010...91

Figura 34 Visita de estudo a propriedade de Santa Catarina no ano de 2010...92

Figura 35 Antiga sala de ordenha ("balde ao pe") da UD 10...93

Figura 36 Nova sala de ordenha da UD 10...93

Figura 37 Planilha utilizada para controle da propriedade rural...98

Figura 38 Composicao da renda decorrente da atividade leiteira na UD Pioneira durante o ano de 2012...100

Figura 39 Composicao do rebanho na UD Pioneira durante o ano de 2012...100

Figura 40 Resultado economico da UD Pioneira durante o ano de 2012...101

Figura 41 Composicao do Patrimonio na UD Pioneira durante o ano de 2012...101

(15)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Producao e utilizacao dos principais componentes da producao lactea em propriedades rurais no Rio Grande do Sul no ano de

2004...47

Tabela 2 Projecao Comparativa entre producao de grao e producao de leite no municipio de

Tres de Maio durante o periodo 2010-2020...58 Tabela 3 Avaliacao da situacao economica dos agentes da cadeia produtiva do leite na regiao

Noroeste do Rio Grande do Sul no ano de 2013...60 Tabela 4 Distribuicao das localidades atendidas no projeto Estradas Pr6-Lacteo no Municipio de Tres de Maio no ano de

2013...78

Tabela 5 Projecao de Investimentos na industria leiteira para o RS no ano de 2013...79

Tabela 6 Informacoes da propriedade modelo - UD Pioneira no municipio de Tres de Maio no ano de 2010...85 Tabela 7 Localizacao das UDs no municipio de Tres de Maio no ano de

2013...87

Tabela 8 Relacao de maquinas e precos dos servicos prestados no municipio de Tres de Maio no ano de

2012...94

Tabela 9 Interferencia do VA na UD Pioneira no municipio de Tres de Maio durante o periodo de 2010 a

2012...99

Tabela 10 Interferencia do VA na UD 01 no municipio de Tres de Maio durante o periodo de

2010 a 2012...102 Tabela 11 Interferencia do VA na UD 02 no municipio de Tres de Maio durante o periodo de

2010 a 2012...102 Tabela 12 Interferencia do VA na UD 03 no municipio de Tres de Maio durante o periodo de

2010 a 2012...103 Tabela 13 Interferencia do VA na UD 04 no municipio de Tres de Maio durante o periodo de

2010 a 2012...103

Tabela 14 Resultado economico de 05 UDs para o municipio no municipio de Tres de Maio durante o periodo de 2010 a

2012...104

Tabela 15 Variacao do volume de producao das primeiras UDs no municipio de Tres de Maio durante o periodo de 2010 a

(16)

Tabela 16 Pontos em comum das UDs no Municipio de Tres de Maio no ano de 2013...105

(17)

SUMARIO

INTRODUÇAO... 13

1 O DESAFIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONOMICO ... 17

1.1 O Desenvolvimento Socioeconomico ... 18

1.2 O Papel da Agricultura no Desenvolvimento ... 21

1.3 Perspectivas do Desenvolvimento Sob a Otica do Consumo ... 25 1.4 Perspectivas Sociais do Desenvolvimento Local em Familias Rurais... 26 2 CARACTERISTICAS DO MUNICIPIO DE TRES DE MAIO... 29

2.1 A Formacao do Municipio de Tres de Maio - RS... 29

2.2 Caracteristicas de Desenvolvimento do Municipio ... 32

3 O PROCESSO DE EXPANSAO DA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE ... 35

3.1 Genese da Alimentacao e Evolucao da Producao Leiteira... 35

3.2 Caracteristicas da Cadeia Produtiva do Leite ... 41

3.3 Potencial da Cadeia Produtiva no Desenvolvimento ... 49

3.4 Situacao Atual da Cadeia Produtiva na Regiao ... 56

4 PROJETO BALDE CHEIO E O IMPACTO NO DESENVOLVIMENTO... 61

4.1 Origem e Evolucao no Brasil... 61

4.2 Objetivo, Metodologia e Estrategias de Acao ... 64

4.3 Um Projeto de Desenvolvimento Agricola (PDA) ... 66

4.4 O projeto Balde Cheio no municipio de Tres de Maio ... 70

5 ANALISE DOS RESULTADOS E AVALIAÇAO DO IMPACTO DO PROJETO BALDE CHEIO NO MUNICIPIO DE TRES DE MAIO - RS ... 76

5.1 Articulacao Institucional - Objetivos e Expectativas ... 77

5.2 Implantacao: Inicio, Investimentos e Publico Alvo ... 84

5.3 Acoes Desenvolvidas e suas Metas... 90

5.4 Resultados Alcancados e Perspectivas Futuras ... 95

CONCLUSAO... 108

(18)

13 13 INTRODUÇÃO

0 presente trabalho contempla um estudo sobre as nuances da producao agricola de cunho familiar, sob uma tentativa de caracterizar e ainda analisar a producao leiteira. Em termos de estudos te6ricos, o trabalho analisou os processos envolvidos na dinamica das unidades de producao familiar, com a influencia de um projeto oriundo de pesquisas da Embrapa e denominado: Balde Cheio.

A pesquisa observa os elementos que compoem a cadeia produtiva do leite, com enfase na grande regiao Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (RS), local onde se localiza o municipio em estudo. No mesmo local se concentram unidades produtivas de grandes industrias da atividade leiteira, com e o caso das empresas BRF e CCGL, as quais colaboram para formar a bacia leiteira da macro regiao Noroeste. Neste contexto, as familias produtoras de leite necessitam de informacao e acompanhamento para modificar positivamente seus metodos produtivos a fim de manterem-se competitivos, ter a valorizacao, qualificacao e preservacao do seu produto e, principalmente, manter um padrao digno de qualidade de vida. Desta forma, coloca-se como problematica da pesquisa: 0 projeto Balde Cheio proporciona mudancas na realidade socioeconomica dos produtores rurais do municipio de Tres de Maio?

Levando em conta o valor minimo (em torno de um salario minimo) que cada trabalhador precisa receber para continuar na atividade agricola, Basso (2013) adverte que os reduzidos ganhos com a atividade agricola colocam algumas familias de produtores rurais como fortes candidatos ao exodo rural. Tal pensamento fato tem repercussao no presente exodo rural (IBGE, 2013), o qual apresenta significativa reducao da populacao rural. Neste contexto, o projeto Balde Cheio representa uma alternativa para influenciar o desenvolvimento socioeconomico do meio rural, a partir da utilizacao de tecnologia e implantacao de acoes concretas para a producao lactea (CAMARG0, 2012).

Inerente a analise estao presentes discussoes e reflexoes a cerca da responsabilidade social do projeto ao interagir com os nucleos familiares na tentativa de modificar sua realidade. Nesta perspectiva, Camargo (2011) destaca

(19)

produtiva das unidades de producao familiar, conciliando maior retorno sobre o investimento e melhoria das condicoes do produtor rural. Para tanto, a analise contemplou o processo de diagn6stico, implantacao e acompanhamento

(20)

15 15 do Projeto de Desenvolvimento Agricola (PDA) Balde Cheio no municipio de Tres de Maio, identificando as alternativas encontradas pelo PDA na valorizacao das potencialidades agroindustriais e na definicao de estrategias de promocao do desenvolvimento.

Como pr6ximo passo procurou-se fazer uma revisao das teorias estudadas, tendo por base renomados autores que, a partir de sua autoridade no assunto, permitem a sustentacao e composicao mais s6lida deste estudo. A estrategia de escrita procura identificar, analisar e explicitar os avancos galgados na dinamica do agroneg6cio, com enfase na producao leiteira de cunho familiar, que possibilite maior qualidade de vida aos produtores rurais. Neste sentido, as familias profissionalizadas do meio rural recebem o conhecimento necessario para compreender que e possivel mudar, ficando a seu criterio a decisao sobre a responsabilidade pelo compromisso assumido, nao somente com sua familia, mas com outras celulas sociais, na medida em que sua propriedade serve de exemplo e, de acordo com a metodologia do projeto, de sala de aula pratica, sendo aberta a visitacao como Unidade Demonstrativa (UD) das acoes.

Faz parte do intuito desse trabalho servir de exemplo e referencia para que outros municipios, a partir dos resultados alcancados em Tres de Maio, sintam-se motivados a participar do Projeto de Desenvolvimento Agricola (PDA) Balde Cheio e, assim, de acordo com a realidade particular de cada municipio, possam alcancar resultados semelhantes ou superiores ao municipio tema deste estudo.

0 trabalho esta estruturado em cinco capitulos. 0 primeiro capitulo apresenta consideracoes introdut6rias ao assunto, resgatando o tema "desenvolvimento" na perspectiva social, sua historicidade, seus conceitos, a relacao com a condicao humana, as perspectivas sob a 6tica do consumo e ainda, uma relacao da agricultura com o desenvolvimento no que tange as mudancas resultantes e necessarias as familias rurais. Para dar maior autoridade ao texto foram utilizados autores como: Ilya Prigogine, Douglas North, Antonio Vazquez Barquero, Amatya Sen & Bernardo Kliksberg e Fernando Guilherme Ten6rio.

0 capitulo dois retrata um recorte hist6rico do municipio de Tres de Maio, enfatizando a formacao do municipio e as nuances de desenvolvimento do municipio.

(21)

publicos de pesquisa Prefeitura Municipal de Tres de Maio, Camara Municipal de Tres de Maio, Fundacao de Economia e Estatistica (FEE) e Instituto Brasileiro de

(22)

15 15 No terceiro capitulo tem-se a analise da cadeia produtiva do leite, retrocedendo aos prim6rdios da alimentacao humana na busca pela origem de consumo deste produto e sua influencia nos habitos sociais. Consolidado o consumo lacteo e premente sua necessidade na alimentacao humana, tem-se a estruturacao da cadeia produtiva do leite, a qual passa a ser analisada em suas caracteristicas e potencial no desenvolvimento, bem como a situacao atual da cadeia produtiva na regiao Noroeste do RS. Toda essa reflexao contara com o auxilio dos autores: Pamela Adriele Sperotto, Carlos Aguedo Paiva, Mokiti Okada, Leopoldo Costa, Mario Batalha, Paulo Antonio Zarth e dos meios de comunicacao site Milkpoint, jornal Zero Hora e Cooperjornal.

Para o quarto capitulo sao elucidadas as peculiaridades do projeto Balde Cheio, desde sua concepcao, nascimento, evolucao no Brasil, objetivo, metodologia e estrategias de acao. A relacao do projeto Balde Cheio com um Projeto de Desenvolvimento Agricola (PDA) e evidenciada pelas etapas transpostas durante a sua execucao, relacionando com influencia do projeto no municipio de Tres de Maio. Este resgate do projeto Balde Cheio tera como mentores: Arthur Chinelato de Camargo, Rita Vieira, Ana Primavesi, Sonise dos Santos Medeiros & Norma da Silva Valencio, Marc Dufumier e os meios publicos de pesquisa: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuaria (Embrapa).

O quinto e ultimo capitulo versa o fechamento da producao textual deste estudo com a relacao do projeto Balde Cheio com os produtores rurais de leite do municipio de Tres de Maio. Trara a observacao a respeito das articulacoes, objetivos e expectativas do projeto aos interessados, demonstrando atraves do processo de implantacao: as acoes iniciais, investimentos e publico alvo, como tambem as metas e procedimentos ao longo do periodo de vigencia do projeto, finalizando a explanacao com os resultados alcancados tanto para as familias de produtores rurais, quanto para o municipio tresmaiense, trazendo como ultimo elemento as perspectivas futuras com o projeto. Para este desfecho colaborarao: Mario Volpe, Amatya Sen, Eduardo Cotrim, Nicolau Athanassof e o 6rgao publico Prefeitura Municipal de Tres de Maio, com forte participacao da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente (SAM).

(23)

abordagem abdutiva, na coleta de dados referentes aos resultados obtidos com o

(24)

16 16 municipio de Tres de Maio. Seguindo os principios do metodo abdutivo de pesquisa a realidade esta posta, ou ainda, a realidade existe com suas particularidades pr6prias onde "cada caso e um caso". Neste vies, a pesquisa transcorreu de forma investigativa, da mesma forma como os detetives que vao coletando indicios ou sinais e formando uma teoria para o caso que investigam, o esforco despendido devera realizar a "abducao da realidade". A abducao e uma especie de intuicao, mas que nao se da de uma s6 vez, indo passo a passo para chegar a uma conclusao, ou ainda, percorrendo a trajet6ria de busca por uma conclusao oriunda da interpretacao racional de sinais, indicios ou signos. A orientacao de Carbonera (2013) e de que a abducao e diferente da inducao por nao estabelecer regras gerais sobre a observacao, mas a causa especifica do efeito especifico observado.

Neste contexto, tendo como populacao alvo as familias de produtores rurais de leite do municipio de Tres de Maio, a amostra foi definida durante o processo de pesquisa a partir do metodo de pesquisa abdutivo. Atraves de uma abordagem quali-quantitativa, foram entrevistados (sem a utilizacao de questionarios ou modelos prontos) produtores rurais, tecnicos extensionistas, profissionais de empresas coletoras da materia prima e os coordenadores a

(25)

17

1 O DESAFIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONOMICO

0 capitulo expoe o pensamento argumentativo a respeito das particularidades do desenvolvimento com vistas para o enfoque social do tema. Neste ambito, Chiavenato (2005) destaca que a fascinante "era da comunicacao", que rompe distancias e aproxima oportunidades no contexto de um mundo globalizado, traz como consequencia dos processos de troca a utilizacao dos recursos em sua essencia pura: o consumo. Como variacao haja vista conhecida, o consumismo1

apresenta-se como uma indesejada consequencia do tao almejado desenvolvimento, que por vezes ecoa somente em faixas sociais distintas e cada vez mais heterogeneas, seguindo a premissa: quanto maior a renda, maior o consumismo.

Como um "ser da terra", o homem alimenta-se de produtos oriundos da terra, e depois se torna alimento para esta mesma terra, no eterno ciclo da vida. Nossa fragil condicao humana, por vezes menosprezada pela ganancia de poucos e a conivencia de muitos, torna-se mais evidente quando percebemos a importancia da agricultura para esta geracao e para as geracoes futuras. Neste contexto, amplia-se o foco, tem-se a visao sistemica das atividades e a producao da terra recebe atencao dos sistemas agrarios, os quais padronizam as acoes e intensificam a interferencia humana no planeta, ampliando a capacidade de producao e, talvez, demonstrando uma alternativa para o problema da fome. De forma mais abrangente a "fome" de que carece a grande maioria da populacao nao vem a ser necessariamente de alimentos, mas sim de etica e comportamentos politicos. Um importante fator do desafio percebido no desenvolvimento vem a ser etica na economia, segundo a qual os contratos firmados entre os agentes produtivos deveriam respeitar a manutencao da vida a despeito de eventuais deficits economicos.

A economia de mercado criou sociedades de mercado e, nestas sociedades, o consumo ostensivo (consumismo) impera de forma a suprimir os preceitos de um desenvolvimento sustentavel. Quando Sen & Kliksberg (2010) chamam a atencao para o fato de que 01 Bilhao de pessoas passam fome no mundo, apesar do problema nao ser a falta de alimentos, ou ainda,

1 A distincao entre consumo e consumismo reside no grau de utilizacao dos recursos disponiveis.

Barbosa (2010) orienta que o consumo (intimamente relacionado com os elementos de oferta e demanda) pode ser entendido como o reflexo dos nossos modos de vida, atrelado a nossa maneira de pensar e os desejos individuais e coletivos. Ja o consumismo possui um significado

(26)

pejorativo haja vista que existe na medida em que as decisoes de consumo tem consequencias negativas (acarretando prejuizos ou danos) para o bem estar particular e coletivo. Desta forma, o consumismo pode ser enquadrado como uma patologia do consumo.

(27)

da situacao de paises como a Argentina, onde a producao de alimentos e tres vezes maior do que a populacao e, ainda assim, pessoas passam fome. Do que realmente estao falando? Podemos ou queremos eliminar os imensos problemas da pobreza e da fome? Teremos condicoes de praticar um desenvolvimento sustentavel conciliado com a melhoria de condicoes das familias rurais?

1.1 0 Desenvolvimento Socioeconomico

Desde os meados do seculo XVII, quando as contribuicoes do fil6sofo e matematico Leibnitz (1646-1716)2 deram significado aos conceitos evolutio e

developpement como sendo mudancas sequenciais temporais e inevitaveis, ate a utilizacao na biologia do termo "desenvolvimento" como integrante da mesma familia que crescimento e evolucao. Prigogine (1996) revela que os processos longe do equilibrio aproximam-se mais ainda da realidade repleta de flutuacoes e incertezas. No contexto politico de intervencoes sociais, um pensamento cartesiano de que projetos elaborados com perspicacia e competencia sejam aplicados na integra, tal qual projetados no local especificado e com os agentes escolhidos, retrata uma forma de pensar distante da realidade probabilistica, segundo a qual esta mesma realidade e reconstruida diariamente a partir da interacao dos agentes envolvidos.

Ao se considerar uma situacao concreta de desenvolvimento, elementos como o respeito a complexidade da realidade e a inclusao de um numero maior de variaveis (alem das conhecidas variaveis economicas) sao fundamentais. Para desenvolver e preciso percorrer a trajet6ria da mudanca e, durante este percurso a oscilacao premente apresenta ciclos distintos de ordem e caos. Neste contexto, caracteristicas como adaptabilidade, criatividade e resiliencia sao imprescindiveis para interagir com a complexidade de uma realidade em constante mutacao. 0 caos da mudanca proporcionado pela integracao de uma nova tecnologia associado a carencia de conhecimentos previos, perfaz uma realidade cada vez mais presente no atual patamar de especializacao necessario para acompanhar as exigencias da globalizacao. Desta forma, desenvolvimento pode ser compreendido como uma mudanca adaptativa, capaz de gerar a assimilacao e a adaptacao de habilidades individuais e coletivas que criem uma tensao na realidade posta, a fim de proporcionar melhoria das condicoes de

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18 vida e estreitamento das

desigualdades.

2 Fil6sofo e matematico alemao que dentre outras contribuicoes estao a descoberta do calculo, da

aritmetica binaria e das operacoes de "somas" e "diferencas": calculo integral e calculo diferencial. Fonte: IME (2013).

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Identificar fatores capazes de promover ou limitar o desenvolvimento economico de determinada regiao, constitui o ponto de partida para o estudo do desenvolvimento local e regional, alem disso, faz-se necessaria a identificacao de possiveis acoes de intervencao das politicas publicas e do planejamento estrategico com seus resultados potenciais. Nesta linha de pensamento, as contribuicoes de Douglas North abrangem estas analises em dois textos considerados como base de suas proposicoes: Teoria da Localizacao e Crescimento Economico Regional, publicado no Journal of Political Economy, em 1955, e "A Agricultura

no Crescimento Economico Regional", publicado no Journal of Farm Economics, em 19593

(NORTH, 1955 apud TRENNEPOHL, 2011).

Diferentes agentes estao envolvidos no processo de desenvolvimento regional. Neste sentido North (1959) apud Trennepohl (2011) propoe o questionamento: "a regiao precisa ou nao se industrializar se quiser continuar a crescer"? Tendo por base o processo de desenvolvimento das diversas regioes dos Estados Unidos e o crescimento da economia canadense, seus estudos demonstraram que o crescimento economico nao esta atrelado ao grau de industrializacao da regiao. Como fator importante de crescimento economico esta a capacidade de exportacao dos produtos, a qual amplia a renda per capita da regiao, o acesso a bens de consumo importados e propicia o desenvolvimento de outras atividades. O exemplo da regiao do Veneto (nordeste da Italia), nao possui exuberante industrializacao local, apresentando uma realidade economica alicercada em pequenas e medias empresas conciliando produtos tradicionais com atividades tecnologicamente avancadas, sendo responsavel por 14% (quatorze por cento) das exportacoes do pais. No entanto, seu grau de especializacao e qualidade de producao o coloca como importante exportador de materia prima a outras regioes, tal fato valoriza a estrutura local e converge para um desenvolvimento end6geno caracterizado pelo aumento das capacidades sociais: bem estar social, economico e cultural.

Considerando o adjetivo regional, deve-se atentar para a delimitacao atraves de diferentes aspectos: geograficos, administrativos, economicos, culturais, etc. Desta forma, a analise das mudancas sociais e economicas em determinado local, pressupoe que o termo desenvolvimento regional esta vinculado a um determinado estagio ou tempo especifico de

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19 uma regiao ou pais quando comparada a outros. Costa (2010) complementa que a exemplo da

3 Ambos os textos foram citados em Trennepohl (2011, p.34) e publicados no Brasil em:

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Comissao Economica para a America Latina (CEPAL) sao elaborados diagn6sticos sobre as realidades economicas dos paises da regiao, constituindo uma 6tica economica baseada no "falso Censo de universalidade" da teoria economica vigente, que prioriza o crescimento economico. Nesta linha de pensamento o crescimento economico seria uma condicao indispensavel, mas insuficiente diante do contexto social emergente.

De forma complementar ao desenvolvimento regional, tem-se outra modalidade de desenvolvimento: o desenvolvimento end6geno. Como a pr6pria tonica da palavra, end6geno corresponde a um crescimento que "vem de dentro" e externaliza seus resultados atraves das variacoes economicas. Barquero (2001) traz a concepcao de desenvolvimento end6geno como sendo um desenvolvimento autossustentado que, utilizando a acumulacao de capital e o progresso tecnol6gico, gera rendimentos crescentes enfatizando o papel dos atores economicos (publicos e privados) envolvidos no processo. 0 paradigma do desenvolvimento end6geno surge para atender as necessidades da populacao local, considerando a participacao ativa da comunidade. Como objetivo primeiro e almejado o bem-estar economico, social e cultural da comunidade local, trazendo novas abordagens sobre o desenvolvimento, vinculadas as caracteristicas e capacidades de cada sociedade.

0 municipio de Tres de Maio apresenta acoes que denotam o desenvolvimento end6geno, evidenciando o enfoque anteriormente citado, uma vez que tanto a materia prima (leite), quanto seus derivados (queijo, requeijao, iogurte, bebidas lacteas, etc.) impulsionam a demanda oriunda de outras regioes e estados. Barquero (2001) enquadra o desenvolvimento end6geno, como uma forma de compreender os efeitos da atuacao publica no desenvolvimento local. Neste contexto, o municipio de Tres de Maio, a partir do Programa Produtividade e Qualidade do Setor Lacteo 2010-2020, desenvolve acoes de assessoria ao produtor rural, a fim de promover mudancas significativas no agroneg6cio e, principalmente nas condicoes sociais das familias assistidas pelo projeto.

0 pensamento de Brum (2012) corrobora com Barquero (2001) ao enfatizar a importancia da colaboracao mutua dos atores publicos e privados, elevando a produtividade e competitividade das empresas, ao mesmo passo que sao identificadas solucoes para os problemas locais e amplia-se o bem-estar

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20 social, atraves de um dinamismo economico e melhoria da qualidade de vida da populacao. Neste sentido, para ser considerado end6geno o

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desenvolvimento precisa promover a especializacao local, valorizando as iniciativas locais e fomentando a participacao de grupos locais no processo.

Para Sen (2000) o Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) constitui apenas um ponto de partida, sendo muito limitado para conseguir medir o desenvolvimento, sua contribuicao esta em demonstrar algumas dimensoes basicas do processo. Desta forma, a legitimacao do desenvolvimento depende do acesso aos beneficios ao maior numero de pessoas, ampliando as capacidades humanas, a partir de elementos fundamentais relacionados as coisas que as pessoas podem ser, ou fazer, na vida. Para tanto e essencial que as pessoas tenham liberdade para fazer suas escolhas e usufruir dos quatro elementos basicos: vida longa e saudavel, instrucao educacional, acesso aos recursos necessarios a um nivel de vida digno e participacao da vida na comunidade.

A orientacao de Veiga (2006) e de que a amplitude pratica do "desenvolvimento" necessita de projetos sociais, que priorizem a melhoria das condicoes de vida da populacao, sendo o crescimento economico uma consequencia dessa mudanca na realidade social. Dessa forma, ocorre uma mudanca quantitativa no crescimento economico, enquanto no enfoque social ha uma mudanca qualitativa. Neste ponto, reside a complexidade maior do tema quando a analise recai sobre os processos de desenvolvimento rural, em particular das atividades da agricultura familiar, uma vez que elementos meramente economicos sao necessarios, porem insuficientes. Um dialogo bilateral, considerando os anseios e percepcoes da familia rural, denota a importancia de praticas sociais e culturais em patamar mais elevado que somente a perspectiva economica. Diante da heterogeneidade das familias, o conceito de qualidade de vida diverge de forma redundante: para alguns pode ser o acesso ao lazer, para outros o simples fato de ter mais tempo livre, participar da vida em comunidade ou a oportunidade de poder se dedicar a outras atividades, que nao somente o agroneg6cio. Independente da compreensao de cada cidadao, o acesso aos meios necessarios para ter condicoes de trabalho mais dignas, e que tragam melhor retorno financeiro, permitindo melhorar a vida em sociedade, vem a ser a essencia do desenvolvimento.

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21 Desde a invencao da enxada (considerada uma das grandes evolucoes tecnol6gicas para a epoca), ate o aparato tecnol6gico presente atualmente, as

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agricultura influenciaram a colonizacao e o desenvolvimento da economia. No processo de desenvolvimento agricola muitas familias de produtores rurais apresentaram dificuldade de acesso a bens e servicos, caracterizando o que Sen & Kliksberg (2010) definem como os cinturoes de miseria que "guardam" as cidades e demonstram uma das consequencias do exodo rural.

Subsequente ao dominio do fogo, o grande salto humano na dinamica dos processos produtivos ocorreu a cerca de 10.000 (dez mil) anos, com a invencao da agricultura e ampliacao da influencia do homem na modificacao dos ecossistemas (ROMEIRO, 2003). O aperfeicoamento dos processos agricolas ocorreu gradativamente adequando-se a cada regiao e adquirindo caracteristicas especificas. A orientacao de Mazoyer & Roudart (2010) e de que sistemas de cultivo tiveram origem em regioes pr6ximas aos rios, apresentando terras ja fertilizadas e contribuindo para o desenvolvimento dos sistemas agrarios hidraulicos, baseados em cultivos de inundacoes ou irrigados. Na corrente expansao pelo mundo, Veiga (2006) explica que o crescimento extensivo (aumento da populacao e da producao) determinou a agricultura de sequeiro (em locais nao irrigados) e com ela surgiram os primeiros nucleos sedentarios como possiveis bases dos grupos sociais.

A passagem do sistema nomade para o sistema sedentario exigiu novos comportamentos, mais organizacao e uma visao sistemica dos processos produtivos. Neste interim, as condicoes de comunicacao e interligacao subsequentes trazem a definicao de sistema como sendo um conjunto de partes combinadas, que formam um todo organizado (BRUM & MULLER, 2008). A partir do sistema, forma-se o sistema agrario como a materializacao de um sistema de forcas de exploracao do meio, adaptadas as condicoes locais, coerentes com as necessidades e condicoes sociais do momento, atraves do trabalho agricola (MAZOYER & ROUDART, 2010). Silva Neto & Basso (2005) identificam sistema agrario como objeto cientifico (conjunto de conhecimentos) resultante de observacao e analise de uma agricultura particular, capaz de tornar mais compreensivel toda a complexidade envolta nas atividades agricolas. Desta forma, o conhecimento construido gradativamente, procura retratar a complexidade de uma realidade de forma inteligivel, tendo por base um conjunto de criterios interligados, relacionados com o desenvolvimento rural e agrupados em dois conjuntos: agroecossistema (modificacoes impostas aos ecossistemas) e sistema social produtivo (aspectos tecnicos, economicos e sociais). Tendo por base estes conceitos,

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23 23 organizacao e sistema sao elementos que se completam, uma vez que uma

organizacao pode

ser definida como um sistema que funciona a partir da inter-relacao de suas partes. Constituido um sistema agrario, faz-se necessario o estabelecimento de medidas capazes de demonstrar a viabilidade da atividade desenvolvida. Para tanto, o acesso a informacao torna-se imprescindivel, contudo, ainda e grande o numero de agricultores que tem dificuldade de acesso a informacao (preco, volume, demanda de mercado) e esta carencia compromete a tomada de decisao durante a comercializacao. As incertezas prementes que envolvem a atividade agricola afetam a tomada de decisao, pois a producao deve ocorrer, via de regra, quando os custos sao inferiores as receitas e, portanto, ocorre lucratividade na atividade agricola. No amago da incerteza esta a informacao incompleta e a duvida a respeito dos planos de acao, diante de uma situacao onde nao ha subsidios para prever determinado resultado. Dada complexidade da atividade agricola, a mesma exige mais do que fatores de producao (terra, mao de obra, capital e tecnologia), sendo necessario conhecimento de mercado e das politicas (economicas e agricolas) para que o gerenciamento da propriedade rural possibilite minimizar os riscos da atividade.

Dentro das atividades agrarias de producao, ha a nocao de "produtividade do trabalho" (PW) medida atraves do valor agregado (VA) gerado por cada unidade produtiva. 0 calculo do valor agregado (VA) de um sistema agrario faz uso do levantamento dos principais elementos envolvidos (valor, consumo, depreciacao) e possibilita avaliar a capacidade de geracao de riquezas para a sociedade e a viabilidade economica da atividade, corroborando para o planejamento de acoes futuras no incremento da producao rural. Desta forma, pode-se definir valor agregado (figura 1) como a parcela de produto gerado que sobra depois de cobrir as despesas com a depreciacao (instalacoes e maquinarios) e insumos (adubos, sementes, combustiveis, etc.). A "absorcao" do valor agregado e dissipativa, pois diferentes agentes recebem parte do valor: Estado (impostos, taxas), entidades vinculadas (sindicato, cooperativa, igreja) e, caso houver, trabalhadores e arrendatarios. Somente depois de descontar todas as despesas (fixas ou eventuais) o agricultor tera acesso a renda real para sustentar a familia e investir na atividade agricola. 0 calculo do valor agregado (VA) e composto por tres elementos fundamentais: valor da producao (PB), consumo de bens e servicos

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VA = PB - CI - D

VA = valor agregado

PB = valor da producao (producao bruta)

CI = consumo de bens e servicos durante o ciclo de producao (consumo intermediario) D = depreciacao de equipamentos e instalacoes

Figura 1 - F6rmula para o calculo do valor agregado Fonte: Silva Neto (2005)

Para medir a capacidade de geracao de riquezas de um sistema de producao, o calculo do Valor Agregado (VA) precisa trazer as informacoes corretas de cada elemento. Dessa forma, o produto bruto (PB) deve contemplar as receitas envolvidas na prestacao de servicos, obtidas atraves da utilizacao de equipamentos do sistema de producao. No que compete ao consumo intermediario (CI) estao presentes os elementos envolvidos no processo produtivo, ou seja, o que e consumido e transformado direta ou indiretamente para produzir determinado bem ou produto: adubos, sementes, agrot6xicos, medicamentos e alimentos para os animais, pagamentos de servicos (preparo do solo, plantio, colheita). Quanto a depreciacao de capital fixo (D), este elemento figura tudo que sofre desgaste durante o processo de producao: maquinas, equipamentos, instalacoes (BASSO, 2013).

Como premissas basicas para determinar o grau de desenvolvimento de um sistema agrario tem-se: reproducao da fertilidade do agroecossistema e acumulacao de capital na unidade de producao. Neste interim sao avaliados, respectivamente, dois fatores: os efeitos da exploracao do ecossistema e a melhoria das condicoes de vida dos agricultores. Os referidos fatores contribuem decisivamente para a permanencia do homem no campo, incidindo sobre o exodo rural. Fruto de uma economia restritiva no lucro e no valor da propriedade, o exodo rural surge como resultado do sistema agricola excludente, que cobra um alto preco dos produtores menos equipados e com dificuldade de investir e de se desenvolver. Pressionados pela constante necessidade de especializacao, grande parcela dos agricultores abandona a atividade agricola, incrementando os cinturoes de pobreza dos grandes centros urbanos (MAZOYER & ROUDART, 2010).

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25 25 1.3 Perspectivas do Desenvolvimento Sob a Otica do Consumo

0 teor social do desenvolvimento proposto por Sen (2000) encontra ressonancia nas indagacoes de Jose Pepe Mujica (presidente do Uruguai) ao questionar o modelo de desenvolvimento e consumo praticado pelos paises considerados "desenvolvidos" e replicado por paises que anseiam esse titulo. Tais acoes resultam no esgotamento dos recursos naturais e sugerem outros questionamentos: Como sustentar uma economia carente de recursos e materia prima? 0nde reside o contexto social e as condicoes de acesso no mundo desenvolvido?

Modernizar, equipar e especializar os processos agricolas de producao parece, em primeiro momento, um grandioso significado da maravilhosa consequencia do progresso, e este, fruto do desenvolvimento. No entanto, palavras como liberdade, igualdade e solidariedade possuem espaco neste contexto? Complementando esta ideia, Ten6rio (2012) alerta que o "desenvolvimento" vincula-se diretamente aos reflexos sociais provenientes de suas acoes e nao somente ao crescimento economico natural. 0 resgate dos substantivos liberdade, igualdade e solidariedade remete a ideia de justica social. No entanto, esta visao republicana (que preze pelo bem comum) nao significa proposta de decrescimento economico, sua intencao transita na ocorrencia de isonomia de direitos e, principalmente, a criacao de um espaco participativo onde os atores sociais contribuam para as tomadas de decisao. Neste aspecto, o projeto Balde Cheio preza pela concepcao dessa justica social, uma vez que respeita as heterogeneidades de cada familia e recebe suas intensoes, ou seja, os profissionais que desempenham o trabalho sugerem e incentivam a mudanca, contudo, os produtores tem plena autonomia de modificar e adaptar os processos estabelecidos. Isto nao significa a inexistencia de um padrao a ser seguido, mas sim a sua flexibilidade.

0s substantivos liberdade, igualdade e solidariedade de forma coletiva, e dentro dos moldes capitalistas, podem admitir um sentido que nao propriamente o assistencialismo ou paternalismo, mas sim, a oportunidade de acesso a tecnologia e especializacao dos meios de producao. Como ja e de saber coletivo, nao se trata de "dar o peixe", mas ensinar a pescar, atraves da padronizacao de processos e ampliacao da qualidade de producao. Este "ensino" de algo novo vem a ser uma das pretensoes

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26 26 1.4 Perspectivas Sociais do Desenvolvimento Local em Familias Rurais

Diferentemente das abordagens convencionais, Sen (2000) traz uma abordagem preocupada mais com a condicao humana (impacto da condicao socioeconomica na vida) do que simplesmente o crescimento economico. Para o mesmo autor, o desenvolvimento deve culminar com a melhoria das condicoes de vida, abrangendo temas como: nutricao, lazer, capacidade de viver em comunidade, nivel de acesso a bens e servicos, etc. Nesta perspectiva, a analise deve ser mais qualitativa do que quantitativa, pois os elementos envolvidos possuem alto grau de complexidade, diversidade e incerteza. A ideia primeira para determinar o desenvolvimento rural das unidades de producao familiar utilizava como base a visao economica tradicional, segundo a qual a capacidade de investimento na propriedade rural, tanto em instalacoes quanto em especializacao tecnica era o fator de referencia para o dito "agricultor profissional". Na decada de 90, mudancas nesta perspectiva passaram a considerar mais do que o fator economico, sendo evidenciadas questoes como qualidade de vida e acesso aos "bons frutos" do desenvolvimento.

Trabalhar com uma abordagem mais pr6xima da realidade, caracterizada pela presenca maior de indicadores qualitativos, em propriedades rurais de cunho familiar, necessita de uma analise diagn6stico da situacao. Esta analise pode ser evidenciada a partir da capacidade de participacao dos individuos nos beneficios do desenvolvimento, tais como: ter boa saude, educacao de qualidade, estar bem nutrido, ter acesso aos meios de comunicacao, etc. Mais profundamente, alem do acesso a essas variantes, o individuo precisa ter a liberdade e o direito de escolha para poder optar pela forma que consiga melhorar sua condicao e qualidade de vida. Ao contemplar os dois quesitos basicos (liberdade e escolha) a pessoa passa a ter a capacidade de exercer sua influencia sob o meio, contudo, essa capacidade precisa passar por um acompanhamento tecnico que lhes conceda o conhecimento basico necessario para exercer o poder de escolha.

Na perspectiva de um desenvolvimento rural local, a orientacao de Basso (2013) e de que se faz necessario um processo de analise da capacidade territorial, para demonstrar as melhores alternativas de reter os beneficios, valorizar e explorar recursos fisicos e humanos, a fim de evidenciar as necessidades e perspectivas daquele grupo de pessoas. Neste ponto e de vital importancia visualizar a identidade da

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1.4 Perspectivas Sociais do Desenvolvimento Local em Familias Rurais

populacao local, caracterizada pela uniao em torno de projetos e ideias, como tambem seu elemento de diferenciacao dos demais, sendo possivel

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27 avaliar a capacidade de reacao desta populacao em virtude dessas caracteristicas. Com base na identidade e homogeneidade presente nas comunidades rurais, toma maior evidencia a identidade local, tornando perceptiveis os motivos que determinam a aglutinacao de determinadas pessoas em locais especificos.

A concepcao de sistemas agrarios resgatada no item anterior, quando analisada sob a

6tica dos processos de desenvolvimento rural, traz elementos da dinamica da agricultura que possibilitam visualizar os pontos falhos da capacidade dos sistemas produtivos, a fim de corrigi-los e gerar a renda suficiente para que os agentes do processo tenham o acesso a um melhor patamar de vida. Esta visualizacao considera os elementos tecnicos e economicos envolvidos, separando a renda gerada pelo sistema de producao avaliado de outras fontes de renda.

Dentro da abordagem dos sistemas agrarios, o desenvolvimento rural ocorre de forma end6gena, ou seja, desenvolvimento rural a partir do desenvolvimento da agricultura. A viabilidade de tal desenvolvimento perpassa a perspectiva de capacidade dos Projetos de Desenvolvimento Agricola (PDA) em melhorar a capacidade de geracao de renda e, principalmente, de ir alem do acumulo de capital para contemplar os aspectos ecol6gicos e sociais, construindo uma nova realidade que propicie a melhoria no padrao de vida.

Enorme gama de elementos esta envolvida no processo de ampliacao das capacidades das familias rurais, que atraves do empoderamento4 apresenta

como consequencia a transformacao e qualificacao de sua relacao com os demais agentes sociais (Estado, mercado e sociedade civil), bem como o desejo de tornar perene tal condicao. Este pensamento de continuidade encontra ressonancia nas orientacoes de Basso (2013) ao tratar da abordagem baseada em ativos e atores que retrata as estrategias de reproducao social das familias rurais. Tendo por base os estudos de Bebbington5, sao trazidos a tona os elementos essenciais para o

desenvolvimento rural, a saber, da disponibilidade dos recursos (infraestrutura, tecnicos,

naturais, intelectuais, culturais, etc.) e da capacidade de ampliacao e melhoria dos mesmos,

4A orientacao de Chiavenato (2005) e de que Empoderamento ou Empowerment refere-se a

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Empowerment se propoe a transmitir responsabilidade e recursos para todas as pessoas.

5A abordagem proposta por Anthony Bebbington (1999) de acesso das familias a um conjunto de

capital e da forma como eles sao combinados e utilizados para capacitar as pessoas foi citada por Basso (2013, p.89) e publicada por Bebbington na revista World Development, Vol. 27, n. 12,

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28 transformando-os em ativos de capital capazes de ser os "condutores" destes agentes a uma nova condicao social. Desta forma, o enfoque baseado no acesso a ativos e atores, entende que a melhoria dos sistemas produtivos e a consequente ampliacao da renda nao tem condicoes de garantir um processo de desenvolvimento rural sustentavel. Esta sustentabilidade depende exclusivamente do grau de capacitacao transmitido aos atores sociais pelos PDA desenvolvidos, como tambem, de medidas capazes de dar continuidade as atividades ate entao realizadas. Para tanto, a renda excedente gerada a partir das acoes necessita orientacao de investimento a fim de proporcionar frutos futuros, garantindo a continuidade de acoes. Tambem demonstra-se importante a atuacao de 6rgaos publicos e privados, propiciando medidas capazes de manter a transmissao de novos conhecimentos em sintonia com os avancos tecnol6gicos.

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29 2 CARACTERISTICAS DO MUNICiPIO DE TRES DE MAIO

0 enfoque do capitulo retrata peculiaridades relevantes do municipio de Tres de Maio (TM), trazendo a tona a hist6ria do municipio, indicativos culturais e de colonizacao e sua influencia no desenvolvimento local. Dada a retrospectiva hist6rica, sao elencados dados referentes a distribuicao do municipio: sua localizacao, caracteristicas populacionais, ocupacao e distribuicao das terras no que compete ao posicionamento dos produtores rurais, relacionando demais elementos que interfiram na producao leiteira.

2.1 A Formaeao do Municipio de Tres de Maio - RS

Como perfil hist6rico, incialmente Tres de Maio fazia parte do distrito sede de Santo Angelo, vinculando-se posteriormente ao entao constituido municipio de Santa Rosa. Para Camara (2013) a criacao do municipio de Santa Rosa, o "embriao tresmaiense" passou a chamar-se Santa Rosa do Burica, porque se localizava entre os rios que recebem estes nomes.

0 Clube Burica (sede social de eventos na cidade) foi construido para comemorar a

"emancipacao" das terras, sendo que a viabilidade para a construcao da sede, contou com o esforco impar da esposa do entao presidente do clube: a senhora Nely Dane Logemann. A data escolhida para a comemoracao foi o dia 03 de maio, que "coincidentemente" era o dia de aniversario da distinta colaboradora.

Desta forma, o nome da cidade tem suas origens como uma homenagem a esta ilustre senhora. A localidade denominada Burica, recebeu entao o nome de Tres de Maio, rememorando os acontecimentos e o aniversario da senhora Nely Dane Logemann e o lancamento da pedra fundamental do Clube Burica. A municipalizacao de Tres de Maio tem marco no dia 15 de dezembro de 1954, a partir da Lei estadual numero 2526 (CAMARA,

2013).

Zarth (2002) chama a atencao para os elementos colonizadores da regiao (alemaes, italianos e poloneses), os quais contributam para a formacao da agricultura de cunho familiar, realizada em pequenas propriedades rurais. Neste contexto a familia realiza as atividades agricolas e, salvo algumas excecoes, possuem poucos

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recursos para investir na propriedade rural. Complementando esta situacao, dados do IBGE (2013) indicam que a idade media esta na faixa dos 45 (quarenta e cinco) anos e o nivel de escolaridade esta abaixo do ensino medio,

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pois a grande maioria dos produtores abandona os estudos para dedicar-se exclusivamente a atividade agricola.

Dados do IBGE (2013) destacam que no ano de 2013 o municipio de Tres de Maio, localizado na regiao Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (figura 2), conta com 23.726 (vinte e tres mil setecentos e vinte e seis) habitantes distribuidos em uma area de 422,2 km2 (quatrocentos e vinte e dois virgula dois), sendo que 20% (vinte por cento) residem no interior do municipio (regiao rural) e 80% (oitenta por cento) residem na cidade. A despeito da predominancia da populacao urbana, a populacao rural movimenta a economia da cidade, a qual sofre em periodos de estiagem e reducao da produtividade. Dos 496 (quatrocentos e noventa e seis) municipios constituintes do Estado (RS), a cidade em questao faz parte da gama de municipios com menos de 50.000 (cinquenta mil) habitantes, possuindo menos da metade da densidade demografica dos municipios de origem: Santa Rosa e Santo Angelo (FEE, 2013).

Para FEE (2013) a localizacao geografica, dentro do Estado do Rio Grande do Sul (RS), e a regiao Noroeste (figura 3), especificamente na regiao do Alto Uruguai dentro do Corede Fronteira Noroeste, situada as margens da BR 472 e da RS 342, estando distante 480 km (quatrocentos e oitenta) da capital do Estado: Porto Alegre. Em relacao ao nivel do mar, esta a uma altura de 343m (trezentos e quarenta e tres metros) acima, possuindo temperatura media entre 17°C e 20°C durante os meses do ano.

Figura 2 - Brasil com destaque no estado do RS Figura 3 - Regiao Noroeste do RS Fonte: MAPASBRASIL (2013) Fonte: FEE (2013)

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31 31 A populacao de 23.726 (vinte e tres mil setecentos e vinte e seis) habitantes sustenta uma densidade demografica de 56,2 (cinquenta e seis virgula dois) hab/km2 e um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 454.551,00 (quatrocentos e cinquenta e quatro mil quinhentos e cinquenta e um) mil reais (IBGE, 2013). 0 mapa do Plano Diretor Municipal (figura 4) denota a predominancia da area rural em relacao a area urbana (grifado em rosa) (FEE, 2013).

Figura 4 - Mapa dos limites territoriais do municipio de Tres de Maio Fonte: PMTRESDEMAI0 (2013)

Com uma economia diversificada, o municipio conta com agropecuaria, industria, comercio e agroindustria. Destes, a caracteristica agricola do municipio pode ser explicitada por SAM (2013) atraves da presenca de 1.497 (um mil quatrocentos e noventa e sete) produtores de leite, os quais se distribuem em 2077 (dois mil e setenta e sete) propriedades rurais de cunho familiar. As propriedades rurais subdividem-se em 05 distritos comunitarios: Quaraim, Consolata, Progresso, Manchinha e Barrinha. 0 projeto Balde Cheio atende produtores rurais de todas as comunidades, sendo que a maior concentracao de produtores ocorre no distrito de Barrinha (vide figura 31, pg. 104). Tal incidencia em Barrinha tem origens de cunho politico, que afetam diretamente a atuacao do projeto, nao estando relacionada com condicoes de solo e/ou presenca previa de acudes nas propriedades. 0s elementos determinantes sao basicamente as caracteristicas gerais da propriedade (numero de hectares e volume de producao), que precisam estar na media do municipio, a adesao (aceitacao dos direitos e deveres) dos produtores localizados na regiao e , tambem, a sigla politica da familia participante.

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2.2 Caracteristicas de Desenvolvimento do Municipio

Contando com 58 anos de emancipacao, o municipio possui origens culturais europeias (italiano, germanico, polones) e uma economia diversificada entre industria, comercio, agropecuaria e agroindustria (CAMARA, 2013). Destes a agropecuaria e determinante para a economia municipal, contando com grande area aproveitada para a cultura de graos (soja, milho, trigo, girassol, aveia), hortifrutigranjeiros e um numero consideravel de agroindustrias. Neste ambito, SAM (2013) destaca a producao leiteira como importante fator de desenvolvimento, galgando no ano de 2012 o montante de 100.000 (cem mil) litros diarios, a partir de 10.000 (dez mil) bovinos ordenhados em um universo de 17.500 (dezessete mil e quinhentos) cabecas de gado.

Dentro do meio urbano, dados de PMTRESDEMAIO (2013) demonstram a realidade tresmaiense: 130 (cento e trinta) industrias distribuidas nos setores: moveleiro, metal- mecanico, textil, calcadista, artefatos de concreto, cervejaria e tecnologia da informacao (empresas de software). Destacando-se no municipio as empresas: ABASE - Sistemas e Solucoes Ltda e Migrate Company (no ramo de tecnologia), M6veis Cancao (no setor moveleiro) e a empresa Jardinox Tanques Isotermicos Ltda (no setor metal-mecanico) que atraves do trabalho com aco inoxidavel produz, dentre outros produtos, os tanques isotermicos (figura 5) utilizados no transporte das cargas de leite.

Figura 5 - Tanque isotermico produzido pela empresa Jardinox Fonte: PMTRESDEMAIO (2013)

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33 33 As caracteristicas inerentes ao municipio apresentam forte vinculacao com a agricultura, sendo mantida a influencia da producao lactea como fator de movimentacao da economia, tendo relevancia o evento "Expoterneira" (figura 06) que ocorre a cada 02 (dois) anos para demonstrar o potencial e a importancia da atividade leiteira. De forma complementar, e como elemento determinante do crescimento, ha cursos focados na especializacao dos profissionais atraves da Instituicao de Ensino: Sociedade Educacional Tres de Maio (SETREM). A presenca de uma instituicoes de ensino no pr6prio municipio atrai estudantes da regiao e de outros estados, como e o caso do curso de Agronomia, que conta com estudantes vindos do Parana e Mato Grosso. Alem da SETREM tambem existe um polo universitario da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), contudo, para o estudo em questao o referido ponto de ensino nao apresentou acoes relevantes.

Figura 6 - Vista aerea do parque onde ocorre a cada dois anos a Expoterneira Fonte: PMTRESDEMAIO (2013)

Como elemento crescente na economia do municipio, o agroneg6cio voltado para a producao leiteira recebe gradativamente maior atencao. Inicialmente a ocorrencia de procedimentos tecnicos e assistencia recebida de entidades relacionadas com a atividade leiteira utilizavam praticas pre-definidas que ignoravam a heterogeneidade das propriedades, submetendo-as a um mesmo procedimento padrao. Tal pratica limitava os resultados positivos a "simples sorte" de que a propriedade possuisse necessidades afins com o "pacote tecnol6gico" oferecido, com o onus de limitar os resultados e ter como consequencias: menor

Referências

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