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Cooperativas da agricultura familiar do Oeste Catarinense: sistema Ascooper

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUI

ALCEO NEGRI

COOPERATIVAS DA AGRICULTURA FAMILIAR DO OESTE

CATARINENSE: Sistema Ascooper

Ijuí 2011

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ALCEO NEGRI

COOPERATIVAS DA AGRICULTURA FAMILIAR DO

OESTE CATARINENSE: Sistema Ascooper

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Sociologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, como requisito parcial à obtenção do título de graduação em sociologia.

Orientador: Walter Frantz

Ijuí 2011

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FOLHA DE APROVAÇÃO

ALCEO NEGRI

COOPERATIVAS DA AGRICULTURA FAMILIAR DO OESTE

CATARINENSE: Sistema Ascooper

Trabalho de conclusão de curso aprovado como requisito parcial à obtenção da graduação em sociologia apresentado ao Curso de Sociologia, Departamento de Ciências Sociais da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, pela seguinte banca examinadora:

________________________________ Orientador: Prof. Dr. Walter Frantz Departamento de Ciências Sociais, UNIJUÍ

________________________________ Profa. Mcs. Nadia Scariot

Departamento de Ciências Sociais, UNIJUÍ

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RESUMO

O objetivo deste trabalho busca destacar e entender a importância social, política, cultural, ambiental e econômica, das cooperativas familiares do Oeste Catarinense, de modo especial a rede ASCOOPER (Associação das Cooperativas e Associação dos Produtores Rurais do Oeste Catarinense). levando-se em consideração os aspectos sobre seu nascedouro, história, resgate dos agricultores familiares excluídos, projetando quais as suas possibilidades de sobrevivência e de sua importância como ferramentas de luta e de organização da agricultura e familiar. Busca-se ressaltar seus aspectos sobre a produção de atividades diversificadas, as possibilidades de transição do sistema convencional para a agricultura agroecológica, a partir das organizações e das experiências existentes, dos seus agentes de desenvolvimento consolidados em suas bases e unidades produtivas. Objetiva-se introduzir elementos de debate sobre desenvolvimento local sustentável, através da ampliação do sistema cooperativo, ou seja, se estas experiências podem ampliar e fortalecer o sistema cooperativo da agricultura familiar ampliar o controle sobre as cadeias produtivas, de maneira especial os alimentos, as sementes e a agroecologia, melhorar a atividade cooperativa, construindo modelos alternativos de sustentação econômico e financeiro, desenvolvendo da melhor forma possível, as redes de cooperação, nas mais diversas atividades e necessidades da agricultura familiar, sempre buscando o desenvolvimento local sustentável e solidário.

Palavras chaves: Rede Ascooper, Associativismo, Cooperativismo, Organização Coletiva, Agricultura Familiar, Desenvolvimento Local.

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ABSTRACT

The objective of this work seeks to destach and understand the social, political, cultural, environment and economic importance of the family cooperatives in Santa Catarina West, especially the ASCOOPER net, considering the aspects about origin, history, rescue of excluded farmers, designing what are their survival possibilities and their importance like tool´s fight and the organization of family agriculture. To stand out the aspects about the diversified activities production, the transition possibilities of the conventional system to the agroecological agriculture through the organizations and experiences of their development agents consolidated in their bases and units production. Introduce debate elements about sustainable local development through cooperative expansion system, and that this experiences can expand and fortify the cooperative system of family agriculture and control the productives chains (especially the food, seeds and the agroecology), improve the cooperative activity, constructing models of economic and financial support, developing of the best mean, the cooperation nets, in the more activities and necessities of family agriculture, always searching the local sustainable and solidarity development.

Keywords: Network ASCOOPER, Associations, Cooperatives, Collective Organization, Family Farming, Local Development.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APACO: Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste de Santa Catarina.

ASCOOPER: Associação das Cooperativas e Associação dos Produtores Rurais do Oeste Catarinense.

BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

CDRS/SC:Conselho de desenvolvimento rural sustentável do Estado de Santa Catarina. CEPORG:Comissão de produção orgânica de Santa Catarina.

CRESOL: Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária.

EPAGRI: Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Estado de Santa Catarina. FAO: Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação.

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IICA: Instituto Interamericano de Cooperação Para a Agricultura. INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.

IN51: Instrução Normativa 51 – Orientações que trata das normas higiênico sanitárias sobre a produção, refrigeração, transporte, industrialização, armazenagem e venda do leite e seus derivados.

MDA: Ministério do Desenvolvimento Agrário. MPA: Movimento dos Pequenos Agricultores.

MST: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. ONG: Organização não Governamental.

PRONAF: Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. SAF: Secretaria da Agricultura Familiar

SDT: Secretaria de Desenvolvimento Territorial.

SEBRAE:Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. SIE: Serviço de Inspeção Estadual.

SIF: Serviço de Inspeção Federal. SIM: Serviço de Inspeção Municipal.

SISCLAF: Sistema de cooperativa de leite da agricultura familiar com interação solidária. SUASA: Sistema único de atenção à sanidade agropecuária.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO:...01

2. CAPITULO I – CONTEXTO DA PROBLEMATIZAÇÃO:...07

3. CAPITULO II – REFERENCIAL TEÓRICO:...13

4. CAPITULO III-: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO:...26

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:...35

6. REFERÊNCIAS...42

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INTRODUÇÃO

A agricultura moderna ou de precisão e, mais recentemente, o agronegócio e os seus meios de propagação, impuseram, podemos dizer, um modelo hegemônico de agricultura, fazendo valer e ser verdade aquilo que é de interesse desta pequena minoria. As contribuições que pretendemos atingir com este estudo serão no sentido de descrever e pesquisar a histórica, a ousadia de pessoas e organizações autênticas e comprometidas, que visualizam no processo educativo cooperativo a construção de processos e experiências, capazes de dar conta das demandas principalmente dos agricultores familiares, excluídos ou com sérios riscos de exclusão do processo produtivo. A idéia central deste trabalho tem por objetivo abordar experiências de cooperativas, na região Oeste de Santa Catarina, destacando sua historicidade e o seu significado como prática cooperativa capaz de consolidar bases e organizações produtivas.

As organizações cooperativas da agricultura familiar são instrumentos de combate à exclusão social, à medida que permitem poder de ação aos seus associados nas relações econômicas, garantindo-lhes melhor valorização de seu trabalho na produção e distribuição dos bens produzidos. As ações e atividades, de forma associativa e cooperada, permitem o estabelecimento de um novo processo, de reorganização dos agricultores familiares, resgatando a convivência social e coletiva, possibilitando aos associados, o retorno à essência da humanidade, que é o convívio social, que construiu e deu a formatação aos seres humanos.

Trata-se de buscar entender a importância social, política, cultural, ambiental e econômica, das cooperativas familiares do Oeste Catarinense, levando-se em consideração, os aspectos sobre seu nascedouro, história, resgate dos agricultores familiares excluídos, projetando, quais as suas possibilidades de sobrevivência, e de sua importância como ferramentas de luta e de organização da agricultura e familiar.

Busca-se ressaltar seus aspectos sobre a produção de atividades diversificadas, as possibilidades de transição do sistema convencional para a agricultura agroecológica, a partir das organizações e das experiências existentes dos seus agentes de desenvolvimento, consolidadas em suas bases e unidades produtivas.

Com o presente trabalho se busca mostrar quais as possibilidades e como as organizações já existentes poderão proporcionar o desenvolvimento local sustentável, através da ampliação do sistema cooperativo, visando à inclusão social, cultural, econômica, política e ambiental dos agricultores familiares. Busca-se verificar se estas experiências podem ampliar e fortalecer o sistema cooperativo da agricultura familiar, criando um processo educativo, buscando o processo coletivo sobre o individual, ampliando o controle sobre as

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cadeias produtivas, de maneira especial os alimentos, as sementes e a agroecologia. Busca-se saber como a atividade cooperativa, construindo modelos alternativos de sustentação econômico e financeiro, desenvolvendo da melhor forma possível, as redes de cooperação, nas mais diversas atividades e necessidades da agricultura familiar, pode contribuir para o desenvolvimento local sustentável e solidário.

Sustentabilidade deveria ser na prática uma regra. Porém o que podemos observar é que os sistemas e arranjos produtivos da agricultura moderna e globalizada pouco têm se preocupado com a garantia da perpetuação dos ecossistemas naturais, pois, seu modelo econômico agressivo, tenta submeter tudo o que se opor a ele conforme seus interesses, em nome da economia e da produção de mercadorias ao mundo, que cresce a passos largos em seu número de consumidores, de forma especial alimentos.

A transformação dos principais produtos agrícolas, inclusive os alimentos, em simples mercadorias e/ou commodities, sendo objetos de transações comerciais globalizadas, via bolsa de valores, sem que os mesmos cumpram a sua função, a de realmente ser alimento à humanidade, tem produzido verdadeiros desastres, desde o agricultor familiar, até o consumidor, pois, coloca produtores com grandes estruturas produtivas em competidores, com os agricultores familiares, que produzem para o seu sustento, vendendo o excedente de sua produção. Isto gera desigualdades de condições, fazendo com que o agricultor familiar, enfrente muitas dificuldades de estabelecer-se como tal.

Estes fatores são preocupantes. Quando considerados de tal forma, grande parte da população a interpreta como sendo uma trava para o desenvolvimento. Mas não os condenemos. Sabe-se que existem interesses que pensam de tal forma. Este estudo objetiva desenvolver junto com estas entidades cooperativas, agricultores familiares, professor orientador, universidades e demais parceiros, processos de reflexão. Objetiva vislumbrar metas e ações no sentido do fortalecimento das cooperativas familiares do Oeste Catarinense, contribuir para torná-las cada vez mais fortes, desenvolver estratégias que possibilitem ao máximo a inclusão social, no processo produtivo e educação cooperativa.

A globalização interfere na vida de todo mundo, tanto é que se tornou o tema central nos últimos anos. Seu impacto, ao mesmo tempo une e desintegra o mundo. Na sociedade de exclusão e desemprego que desponta um quinto da força de trabalho, seria o suficiente para manter a economia em movimento. O que poderá acontecer com a grande maioria? Virá a ser o Brasil - como sugerem os autores - o exemplo rematado desse quadro tão desigual, composto de ricos confinados em guetos e de massas pobres lutando pela sobrevivência? Autores afirmam que a “bomba-relógio” montada pelo neoliberalismo ainda pode ser

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desmontada. As alternativas que se apresentam à globalização selvagem, teriam como resultado restaurar o primado da política sobre a economia e salvar a democracia com uma face social.

Este estudo pretende contribuir de forma reflexiva, com alguns elementos a cerca do desenvolvimento local, tendo como base as organizações cooperativas da agricultura familiar, como agentes no processo de fomento e de inclusão social, inserindo novas formas para a obtenção de renda, construindo novos conhecimentos e a partir de então, desenvolvendo novas tecnologias, observando-se que estas sejam adaptadas as condições e a realidade do agricultor familiar.

Autores afirmam que o discurso de vários economistas da atualidade, tem dado destaque se uma nação é desenvolvida, ou não, isto tem colocado uma forte polêmica, no que diz respeito ao papel do crescimento econômico, na acumulação do capital existente no país. A polêmica aparece no contexto de assegurar o espaço das teorias do crescimento econômico, cujo sentido, tem demonstrado que uma economia pode crescer sem desenvolver-se, pois, produzir mais produtos, quer sejam, agrícola, industrial, ou de serviços, não significa desenvolvimento, tendo que se levar conta, se o processo de política econômica e social interno de uma nação, conduziu o processo de distribuição de maneira desigual e inconseqüente. É neste sentido que a realidade deve ser explicada, e se tenha o cotidiano claro e real, tal como ele acontece.

A partir da década de 1960, a revolução verde1, aos poucos foi causando “engessamento” e estagnação da economia agrícola, conjugado com exclusão social na agricultura brasileira, os principais impactos negativos começam a ser sentidos, principalmente pelos agricultores familiares, desprovidos de uma melhor estrutura produtiva, foram relegados e marginalizados, por este processo de tecnificação, que inicia a fase de propagação máxima atingindo o campo, mesmo os locais mais distantes, são sacudidos por tecnologias fora dos padrões e necessidades da agricultura familiar, e o que é mais grave, sob a tutela do Estado, principalmente durante o regime ditatorial que deu suporte, inclusive com políticas publicas, de alto custo para o agricultor familiar, onde ocorreu a preparação da

1 Revolução Verde - Foi criada em 1966, em uma conferência em Washington, é o processo de modernização agrícola, porém, já no final da década de 1940, foram desenvolvidas as bases para tal ação. Esse programa foi financiado pelo grupo Rockefeller, sediado em Nova Iorque. Utilizando um discurso ideológico de aumentar a produção de alimentos para acabar com a fome no mundo, o grupo Rockefeller expandiu seu mercado consumidor, fortalecendo a corporação com vendas de verdadeiros pacotes de insumos agrícolas, principalmente para países em desenvolvimento como Índia, Brasil e México. Na prática isso gerou grande exclusão social, e foi apenas mais plano a serviço do capital, concentrando a terra e as riquezas da agricultura nas mãos de alguns grupos internacionais.

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plataforma, para o plano de agricultura convencional, que hoje mostra as suas mazelas, nos mais diversos setores da economia. As políticas agrárias e agrícolas para a agricultura familiar, mesmo após planos de outros governos, na tentativa de encontrar caminhos que viabilizem este setor da economia nacional, tiveram impactos significativos, porém, não conseguiram conter o esvaziamento do campo, ocorrendo problemas sociais preocupantes.

Vivendo com grandes dificuldades, a agricultura familiar, inicia um processo de organização, aos poucos surgem organizações comprometidas com esta causa. Com história um tanto recente, estas organizações, tem conseguido avanços significativos na aglutinação de forças, rumo a construção de processos organizativos dos trabalhadores, objetivando o desenvolvimento de novos arranjos produtivos, nas mais diversas cadeias produtivas, principalmente, com a diversificação da produção, conseguindo agregar valor a sua produção, sendo positiva a sua importância sobre vários aspectos, de modo especial ao pequenos municípios, no fomento do desenvolvimento local. Este será nosso problema de pesquisa: que dimensões estas experiências da região Oeste de Santa Catarina assumem diante das alternativas existentes para a agricultura familiar?

Sendo o Oeste Catarinense uma região com vasta densidade de agricultores familiares, com importância no Estado e no Brasil, esta categoria de trabalhadores é importante, mesmo assim, historicamente foram explorados pelos desígnios da dita “agricultura moderna”, iniciam um processo de organização social muito importante, no final da década de 1990, tendo construído importante capital social e humano. Pode ser considerada uma importante experiência de economia primária.

Este trabalho tem por objetivo, traçar um panorama sobre as atividades desenvolvidas pela rede de cooperativas da agricultura familiar Associação das Cooperativas e Associação dos Produtores Rurais do Oeste Catarinense (ASCOOPER), na organização da cadeia produtiva do leite, na região Oeste Catarinense, inserindo no debate as suas principais atividades e ações, norteadoras dos trabalhos da rede para os próximos anos. Esta tarefa vem reforçar a importância em garantir que, uma das maiores cadeias produtivas da região Oeste Catarinense, possa permanecer sob o controle dos agricultores familiares.

O desafio atual, ao planejar o desenvolvimento, é criar oportunidades de trabalho e renda, utilizando os recursos naturais de forma a recuperá-los, e conservá-los, num ambiente nacional e global de desemprego estrutural crescente, onde sucessivas “crises” econômicas e sociais sacodem o mundo, sobre tudo os países pobres e em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

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Neste contexto, o leite representa uma das maiores, se não a maior e mais importante alternativa de renda, para aos agricultores familiares e para a região. A renda obtida é fundamental e vital para a manutenção das famílias no meio rural. O leite, não é importante apenas para os agricultores familiares, o chamado “cheque do leite”, representa a principal receita circulante no comercio local, o Oeste Catarinense, possui várias empresas no ramo de laticínios, englobando pequenas indústrias artesanais familiares, até empresas multinacionais. É a quarta maior renda agropecuária da região, atrás apenas dos suínos, aves e milho.

Sua existência e fortalecimento são estratégicos, principalmente, para a agricultura familiar, porém, sérias ameaças pairam sobre esta atividade, que vão, desde propostas que defendem a concentração da atividade, até aquelas representadas pelas mudanças da legislação higiênico-sanitária, que regula a qualidade do leite. Estas ameaças podem implicar na exclusão de milhares de agricultores familiares que na maioria dos casos, significará a restrição ou exclusão da própria agricultura familiar, como setor econômico primário. Torna-se indispensável viabilizar o maior número possível, de agricultores familiares e de empresas envolvidas com a atividade.

A estruturação e a consolidação da atividade leiteira de forma heterogênea, desconcentrada e sustentável, constitui-se em fonte de geração de trabalho, melhor distribuição de renda, capaz de superar as dificuldades da região. O leite na agricultura familiar do Oeste Catarinense tem como principal característica a ocupação fundiária adotada, sendo de 24,2 hectares o módulo básico, o lote que era vendido aos agricultores.

Os dados revelam a presença de 88.279 estabelecimentos agropecuários, representando 43,4 % do total do estado de Santa Catarina, destes 70% possuem área igual ou inferior a 20 hectares e 94% igual ou inferior a 50 hectares, os dados apresentados são muito reveladores de que a indisponibilidade de terras na região é muito grande, além disso, o relevo fortemente ondulado favorece a predominância de pequenas áreas para o cultivo das lavouras, e atividades com criações.

Para a sociologia, este estudo pode ser de interesse, à medida que oferece conhecimentos e reflexão, sobre as cooperativas familiares da região Oeste de Santa Catarina. Trata-se de entidades que têm importante função nas relações sociais, de maneira mais apropriada, na geração de trabalho, emprego e renda, construindo, resgatando e respeitando a diversidade ambiental e cultural, transformando-se em ferramenta de luta e de organização para os agricultores familiares.

A importância desta pesquisa decorre do estudo das relações sociais e econômicas, no espaço da organização cooperativa da agricultura familiar e de sua inserção no mercado. A

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pesquisa busca também atender às exigências do curso de sociologia, da Unijuí com vistas à obtenção do Diploma de Bacharel em sociologia.

Este Trabalho está organizado em forma de capítulos, para melhor organizar as idéias, facilitando o entendimento do leitor. O capitulo I, fará uma ampla abordagem sobre o contexto do processo de desenvolvimento que se encontram as cooperativas da agricultura familiar do Oeste Catarinense. O capitulo II, sustentará o trabalho com os referenciais teóricos, abordando importantes trabalhos realizados, no campo da agricultura familiar do associativismo e do cooperativismo, com ênfase no desenvolvimento local sustentável. O capitulo III, fará a análise e interpretação da problemática, fazendo uma sistematização dos dados colhidos por meio da pesquisa.

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CAPÍTULO – I – Contexto da Problematização

Os

mais diversos contextos sociais, sobretudo, os aspectos relacionados aos desdobramentos do modelo de desenvolvimento capitalista, desde o seu princípio é um modelo com “alma e espírito”, excludente, marginalizador, corrupto, elitista e como ultima conseqüência anti-vida. Nesta fundamentação, pretendemos chamar a atenção, sobre a situação degradante com que bilhões de seres humanos são submetidos, em nome do “progresso, do desenvolvimento e do crescimento”. Atualmente este modelo produziu globalmente, multidões de famintos, sem trabalho, sem terras, sem tetos, e em condições trabalhistas desumanas, modelo nocivo e autodestrutivo, que concentra as riquezas e gastos com o supérfluo.

Evidencia-se, sobre o equivocado modelo de desenvolvimento que a atual sociedade se alicerçou, e ainda continua se sustentando, assim, construindo os seus sistemas de “valores”, sejam eles sociais, ambientais, econômicos, culturais e políticos. A imposição do capital acima de todas as coisas produziu muitas mazelas na sociedade, cuja sua cura é de extrema complexidade e dolorida, no momento duvidosa, pois, será possível construir outro modelo de desenvolvimento tendo como base ruínas? Por isso, a morte lenta da sociedade moderna e global é freqüente, pensando assim, este modelo já em sua concepção, foi um sistema construído para destruir, concentrar, degradar.

No quadro a seguir, podemos observar alguns dados sobre estabelecimentos rurais na região Oeste Catarinense.

Extrato de área total (há) Estabelecimentos nº Estab. (%) Estab. (%) acumulados Menos de 2 2.769 3,14 3,14 2 a menos de 5 8.809 9,98 13,12 5 a menos de 10 18.051 20,45 33,57 10 a menos de 20 32.229 36,51 70,08 20 a menos de 50 20.977 23,76 93,84 50 a menos de 100 3.482 3,94 97,78 100 a menos de 1.000 1.828 2,07 99,85 1.000 e mais 120 0,14 99,99 Sem declaração 14 0,01 100,00

Total região oeste 88.279 100,00 100,00

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Então, precisamos caminhar no sentido contrário daquilo que até então aprendemos, as simples coisas são essenciais, para que arremeta o nosso pensamento rumo a construção de um modelo alternativo. Tudo é relativo, não existe verdade absoluta, a ignorância e a tentativa de construir pensamento único e fechado, cega ou esteriliza o nascedouro de novas idéias, ou seja, o que eu não conheço eu ignoro, quando não tento destruir com todas as forças do meu ser.

Será possível elaborar um mapa local, regional e global? Construir um entendimento a respeito de, o porquê ocorrem tantos conflitos, sobre tudo, as questões relacionadas as inquietações sociais, através das lutas, pela terra, água, recursos naturais, liberdade de expressão, raça, em fim, pela redistribuição das riquezas do mundo. É possível afirmar que, é e será necessária a existência de muita mobilização e organização social, movimentos sociais fortes, para que a sociedade consiga dizer para onde o mundo deve navegar.

Talvez, seja possível afirmar que a terra fundamentalmente sempre foi objeto de disputa, isso pode ser identificado através dos tempos, possivelmente desde que o homem tenha se tornado acumulador, por outro lado a terra seria o grande caminho, para revolver os grandes problemas sociais que temos hoje, tais como a fome, violência, o desemprego, as favelas, os problemas de crises de desabastecimento de suprimentos alimentares, ocupação de espaços de forma racional, distribuição de riquezas, problemas ambientais, desconcentração das riquezas entre outros. Conforme música de Dante Ramon Ledesma, porque quando a fome dói, qualquer homem entra em guerra, é preciso evitar esta luta, pois cada pai é um soldado quando é o pão que se disputa

As novas tecnologias devem servir para incluir, não devem tomar o caminho de aprofundar mais ainda as diferenças sociais, degradação ambiental e humana, não pode servir como, mais uma ferramenta de dominação, como exemplo a “modernização” da agricultura. Na América Latina, este processo pode não estar concluído, a pesar de governos nem tanto alinhados com este modelo, a mecanização agrícola ainda prospera a passos largos, agora com outros aliados, com maior poder de dominação como a “biotecnologia e a engenharia genética”, sob controle das mesmas corporações que há séculos dominam as ações no setor agropecuário mundial.

O sistema financeiro global tem sido quase que invariavelmente o vilão dos mais profundos projetos de exclusão social, pois só nasceu graças ao “casamento perfeito”, contraído com o capital industrial, e que agora juntos dominam quase que “todos”os processos de desenvolvimento global, seja qual for sua área de atuação, neste sentido, dominam os meios de produção o capital e a terra.

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O Brasil não ficou imune a este processo, a concentração da terra, com grandes grupos nacionais, internacionais e mistos, dominando o cenário agrário brasileiro. E este modelo da grande propriedade, tem produzido varias situações de miséria, destruição, fome, contaminação e destruição ambiental, erosão genética, entre outros malefícios a sociedade brasileira. É um modelo ineficiente, somente sobrevive graças as ajudas do poder publico, que auxilia este sistema com somas de capital e subsídios.

As regiões de agricultura familiar têm se mostrado eficientes, apesar de somente em 2006 ter sido reconhecida pelo governo brasileiro, como setor importante da economia nacional, no que refere-se a distribuição da terra e das riquezas, gerando emprego e renda, produzindo abundantes quantidades e diversidades de alimentos, em primeiro plano para autoconsumo, depois com a venda dos excedentes, sendo responsáveis pelo abastecimento do mercado interno, que deveria ser o mais importante da nossa nação. Estas vantagens, melhoram a sua eficiência, a medida que as famílias trabalham de forma associativa e cooperativa.

O foco principal deste estudo é o desenvolvimento local, e seus desdobramentos com as atividades cooperativas e associativas, abordar apontamentos relativos ao crescimento, progresso e desenvolvimento. No século XX, em países e regiões afastadas dos centros da “modernidade”, a idéia de desenvolvimento ganha muita força. Na década de 1950, o termo já era empregado correntemente na literatura econômica e na linguagem comum. Autores dizem que a partir daí, tornou-se um componente ideológico essencial da civilização ocidental.

Tanto no discurso neoliberal como no socialista, do socialismo real existente, a idéia de desenvolvimento ganha força neste século, revigorada por teorias e princípios econômicos que vêem no Estado um dos impulsionadores da modernização, garantindo um importante papel ao desenvolvimento econômico e técnico. É dentro do liberalismo, que o termo desenvolvimento substitui a noção de progresso, que vigorou de forma dominante até a década de 1930, associada a uma outra idéia de crescimento. Até então, essas noções permitiam resolver os problemas que se colocavam como, por exemplo, a questão do emprego ou desemprego, do consumo.

A noção de progresso, princípio fundamental do espírito dos enciclopedistas franceses do século 18 e do positivismo, do século 19, até então vinha sendo entendida como um movimento evolucionista, na direção do crescimento e da ampliação de conhecimentos. O progresso, não era restrito apenas ao campo das ciências mas, sobretudo, referia-se a

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melhorias das condições de vida, no sentido das liberdades políticas e do bem-estar econômico.

O progresso assume, antes de tudo, um sentido parcial e prático, um progresso é um melhoramento. Nos âmbitos técnicos e científicos é este sentido que ainda predomina. Por exemplo, uma descoberta como a penicilina ou a eletricidade traz melhoramentos incontestáveis para a vida em sociedade.

Mas o progresso, generalizando o sentido da palavra à evolução de uma sociedade no seu conjunto, trouxe uma representação a princípio globalizante do mundo. Quanto mais a noção de progresso é extrapolada em termos gerais, mais se trata de uma crença, de uma representação a princípio, enfim de uma ideologia. O mito do progresso, tal como é pensado e descrito anteriormente, já fragilizado pela crise financeira mundial nos anos 1930, entra em colapso no “mundo civilizado ocidental”, industrialmente avançado, no final dos anos de 1970. Nos países pouco desenvolvidos industrialmente, este é um conceito que nunca pode ser verdadeiramente considerado, na medida em que o avanço indefinido dos melhoramentos técnico-científicos não aconteceu e que não houve um recuo progressivo e definitivo da miséria.

A noção de progresso entendida entre os séculos XVIII ao XX, sucessivamente associada às idéias de perfeição, evolução, crescimento, não é mais hoje nem automática nem unicamente aplicada a uma seqüência histórica, generalizável para todos os povos e sociedades. A crise da noção de progresso leva a imaginá-lo, como caracterizando etapas sucessivas de uma mesma civilização. A análise social coloca agora em evidência a coexistência conflitual entre civilizações muito diferentes, onde a dominação é uma relação bem mais freqüente que a solidariedade, e onde muitas vezes essa relação é fonte de opressão e miséria.

Como exemplo é possível supor que os agricultores se beneficiam do progresso no caso especifico da agricultura do Sul do Brasil nos últimos trinta anos? A resposta é sim e não, pois as evoluções sociais se produzem sempre por diferenciações com, ao mesmo tempo, “ganhadores” e “perdedores”. E, além disso, a evolução dos modos de vida compreende numerosas dimensões que não tem nenhuma razão para evoluírem positivamente e ao mesmo tempo. Pode-se enriquecer às custas de um trabalho, longo e mais penoso, que polui, degrada e encurta a expectativa de vida.

Contudo pode-se ganhar menos, vivendo-se melhor, com menos degradação ambiental, e melhor qualidade de vida. Onde está o progresso? A “crise” ambiental, econômica e social coloca em xeque esta noção generalizadora e progressiva do progresso e do crescimento.

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Essas crises e a evolução social das sociedades “modernas” no século 20 esgotaram a força mobilizadora desta idéia.

O contexto recente é amplamente favorável para a discussão, e elaboração de um novo tipo ou modelo de desenvolvimento, especialmente para o meio rural e da agricultura camponesa e familiar. Conforme alguns autores, as crescentes evidências do custo ambiental e social do desenvolvimento industrial vigente, a crise ambiental, a queda da renda agrícola, a superprodução aliada à má distribuição de alimentos, decorrentes das novas relações econômicas internacionais, as rupturas recentes, com relação a demografias e do modelo de agricultura familiar, a dissociação entre agricultura, território e meio ambiente, as influencias do pensamento clássico e dos debates contemporâneos acerca do desenvolvimento nos anos de 1950 e 1960 e a contribuição dos movimentos libertários e civis pós 1968, são alguns elementos decisivos, no debate social sobre esta questão.

A agricultura moderna tem sua origem nos séculos 18 e 19 na Europa, os processos que culminaram com a “revolução” agrícola exerceram papel preponderantes na eliminação do feudalismo, e no advento do capitalismo, deixando de serem atividades opostas, para se tornarem cada vez mais complementares.

Ao final da segunda guerra mundial, nasce um amplo processo macroeconômico, e com ele verifica-se um intenso “desenvolvimento” mundial. Altas taxas de crescimento, vão gerar um ciclo de expansão econômica, que dura até meados de 1970. Esse ciclo foi comandado pelos Estados Unidos, e provocou a emergência e o ressurgimento econômico europeu.

Então é bem possível que agricultura familiar tem e terá um grande desafio, segundo o INCRA e a FAO aproximadamente 85% do total de propriedades rurais do país pertencem ao agricultores familiares. São 13,8 milhões de pessoas que têm na atividade agrícola praticamente sua única alternativa de vida, em cerca de 4,1 milhões de estabelecimentos familiares, o que corresponde a 77% da população ocupada na agricultura.

Cerca de 60% dos alimentos consumidos pela população brasileira, são provenientes deste tipo de produção rural, próximo de 40% do valor bruto da produção agropecuária são produzidos por agricultores familiares. Cerca de 70% do feijão consumido pelo país, alimento básico do prato da população brasileira vêm desse tipo de produção rural, possivelmente 40% do valor bruto da produção agropecuária são produzidos por agricultores familiares. Vêm daí também 84% da mandioca, 5,8% da produção de suínos, 54% da bovinocultura de leite, 49% do milho e 40% de aves e ovos.

A agricultura familiar também vem registrando o maior aumento de produtividade no campo nos últimos anos. Na década de 1990, foi o segmento que mais cresceu. Entre 1989 e

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1999, a produção agrícola familiar aumentou em 3,8% ao ano, o bom desempenho ocorreu mesmo em condições adversas para o setor, quando nesse período sofreu uma queda de 4,7% ao ano nos preços recebidos. Esses resultados positivos foram alcançados mesmo tendo a agricultura familiar um histórico de baixa cobertura de crédito rural. É bom ressaltar que apenas 23% dos estabelecimentos familiares rurais acessaram financiamentos nos últimos três anos.

O esforço que o Governo Federal vem realizando, por meio da oferta do crédito rural no âmbito do PRONAF, seguramente acarretará mudanças no histórico desequilíbrio da política de concessão de crédito rural. Pretende-se fortalecer e estimular a agricultura familiar com o objetivo de superar um padrão de carência existente no meio rural em várias regiões do país. Para isso é impossível pensar um projeto nacional de crescimento sustentável considerando não só o enorme potencial da agricultura familiar pela sua expressão econômica, mas também por sua dimensão sócio-cultural e ambiental.

As ações de assistência técnica e extensão rural deverão ser ampliadas, seja ela pública ou privada, a pesquisa agrícola deverá dar atenção às necessidades dos agricultores e da agricultura familiar, será preciso a ampliação do seguro agrícola que garanta a renda dos agricultores, o crédito rural do PRONAF deverá considerar de forma mais efetiva as questões do desenvolvimento regional e territorial.

Vale à pena ressaltar que todos os países desenvolvidos têm na agricultura familiar um sustentáculo do seu dinamismo econômico e de uma saudável distribuição da riqueza nacional. Todos eles, em algum momento da história, promoveram a reforma agrária e a valorização da agricultura familiar. Para se ter uma idéia, a ocupação histórica do território dos Estados Unidos foi na unidade entre gestão e trabalho e a agricultura foi inteiramente baseada na estrutura familiar.

O bom desempenho e o fortalecimento da agricultura familiar estão na dependência da capacidade de articulação dos diversos atores sociais envolvidos e comprometidos com a agricultura familiar, tais como: movimentos sociais, diversos ministérios, governos estaduais e municipais, agentes financeiros, ONGs e outros.

Com tudo isso, a política de crédito rural do PRONAF poderá contribuir ainda mais para a ampliação desses espaços de articulação, disseminando informações e descentralizando a tomada de decisões, promovendo um papel mais efetivo nos processos de financiamento da agricultura familiar. Ao estimular a atividade familiar no campo e, simultaneamente, o aumento da produção, o grande desafio estará na solução estrutural para uma importante questão social e econômica do país.

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CAPÍTULO II – Referencial Teórico

A agricultura familiar e o desenvolvimento da sustentabilidade implicam várias interpretações, segundo alguns estudiosos do assunto, a agricultura familiar não é uma categoria social recente, nem a ela corresponde uma categoria analítica nova na sociologia rural. No entanto, sua utilização, com o significado e abrangência que lhe tem sido atribuído nos últimos anos, no Brasil, assume ares de novidade e renovação. Muitas terminologias foram empregadas historicamente para se referir ao mesmo sujeito tais como, camponês, pequeno produtor, lavrador, agricultor de subsistência, agricultor familiar. A substituição de termos obedece, em parte, à própria evolução do contexto social e às transformações sofridas por esta categoria, mas é resultado também de novas percepções sobre o mesmo sujeito social. A partir dos anos 1990 vem se observando um crescente interesse pela agricultura familiar no Brasil. Este interesse se materializou em políticas públicas, como o PRONAF e na criação do MDA, além do revigoramento da Reforma Agrária. A formulação das políticas favoráveis à agricultura familiar e à reforma agrária obedeceu, em boa medida, às reivindicações das organizações de trabalhadores rurais e à pressão dos movimentos sociais organizados, mas está fundamentada também em formulações conceituais desenvolvidas pela comunidade acadêmica nacional e apoiada em modelos de interpretação de agências multilaterais, como a FAO, o IICA e o Banco Mundial.

Este enfoque tem escolhido a agricultura familiar como um dos seus pilares chaves. Uma pesquisa realizada pela FAO e pelo INCRA, cujo objetivo principal era estabelecer as diretrizes para um “modelo de desenvolvimento sustentável”, escolheu-se como forma de classificar os estabelecimentos agropecuários brasileiros a separação entre dois modelos: “patronal” e “familiar”. Os primeiros teriam como característica a completa separação entre gestão e trabalho, a organização descentralizada e ênfase na especialização.

O modelo familiar teria como característica a relação íntima entre trabalho e gestão, a direção do processo produtivo conduzido pelos proprietários, a ênfase na diversificação produtiva e na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida, a utilização do trabalho assalariado em caráter complementar e a tomada de decisões imediatas, ligadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo (FAO/INCRA, 1994). A agricultura familiar imprime substancial capacidade da multifuncionalidade, que além de produzir alimentos e matérias-primas de forma diversificada, gerando aproximadamente 80% da ocupação no setor rural, favorecendo o emprego de práticas produtivas ecologicamente mais equilibradas, como a diversificação de cultivos, menor uso de agroquímicos e a preservação do patrimônio genético.

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Assim, o meio rural, sempre visto como fonte de problemas, hoje aparece também como portadora de soluções, vinculadas à melhoria do emprego e da qualidade de vida, neste sentido o Brasil precisa de uma estratégia de desenvolvimento, autores sugerem que o projeto de desenvolvimento para o Brasil rural, precisa visar a maximização das oportunidades de desenvolvimento humano em todas as regiões do país, diversificando as economias locais a começar pela própria agropecuária, pois notadamente, é brutal o poder devorador de postos de trabalho da atual modernização das grandes lavouras, exemplificado no caso da cana-de-açúcar, onde a demanda de força de trabalho foi cortada pela metade nos anos 1990, apesar da expansão de 10% da área cultivada.

Além disso, a agricultura familiar está associada à dimensão espacial do desenvolvimento, por permitir uma distribuição populacional mais equilibrada no território, em relação à agricultura patronal, normalmente associada à monocultura. Estas idéias devem ser contextualizadas no debate sobre os caminhos para a construção do desenvolvimento sustentável. Recentemente, vem sendo defendida uma perspectiva que reforça as idéias acima apresentadas é a dimensão territorial do desenvolvimento rural, onde as atividades agrícolas e não-agrícolas devem ser integradas no espaço local, perdendo sentido a tradicional divisão urbana/rural e ultrapassando o enfoque predominantemente setorial agrícola do espaço rural. No âmbito das políticas públicas, isto se traduziu na criação da SDT subordinada ao MDA.

Igualmente, conforme dados recentes da Comissão Pastoral da Terra, seção do Mato Grosso do Sul, o agronegócio perde em eficácia para a agricultura familiar. Pretendendo dar visibilidade à luta dos agricultores familiares, vem-se resgatando e divulgando importantes dados estatísticos que colocam em xeque justificativas de produtividade e geração de emprego do agronegócio, que não coincidem com a realidade. De acordo com a entidade, no Mato Grosso do Sul, se faz uma apologia ao agronegócio alicerçado no capital financeiro.

A divulgação destes dados, segundo a Comissão Pastoral da Terra do Mato Grosso do Sul, tem como objetivo prestar esclarecimentos, à população acerca da superioridade econômica, social, cultural, política e ambiental da agricultura familiar e, portanto, da necessidade do Estado continuar protegendo o setor em detrimento da luta camponesa pela reforma agrária, pela produção agroecológica, bem como a luta dos povos indígenas pela restituição de seus territórios tradicionais.

Um estudo realizado pela doutora Rosemeire Aparecida de Almeida, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, tendo como referência os censos agropecuários do IBGE de 1995/96 e 2006. O seu trabalho teve como foco a análise das transformações na agropecuária, no último período censitário, a partir de duas escalas comparativas: a primeira refere-se ao

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Estado em si, a segunda é a análise comparativa entre amostras regionais, neste caso a região Leste de Mato Grosso do Sul e Norte Central Paranaense. O estudo comparativo destas amostrais regionais se justifica pela reconhecida diferença agrária de Mato Grosso do Sul e do Paraná. O primeiro conjunto de análises revela que em Mato Grosso do Sul, segundo o Censo 2006, a concentração da terra continua sendo realidade, pois as classes de áreas de menos de 50 hectares representam 58,83% dos estabelecimentos e detêm apenas 2,09% da terra, já os estabelecimentos acima de 1000 hectares representam 10,18%, mas possuem 76,93% do território.

No uso da terra, a força da agricultura familiar, neste estudo observa-se, que na escala estadual diz respeito ao aumento significativo na produção de aves no Censo 2006. Ressalta-se que 71,51% desta produção vêm da pequena unidade, até 200 hectares. O mesmo ocorre com a produção de suínos que cresceu 69,87%, sendo a pequena unidade responsável por 70% desta produção. Em relação ao leite a pequena unidade teve um aumento na produção de 41,01% em relação ao censo 1995/96, enquanto a média e a grande unidade reduziram sua produção de leite.

Este aumento na produção de leite está nas classes de área de menos de 50 hectares, que representam em grande medida o tamanho das parcelas dos lotes da reforma agrária.Estas classes de área de menos de 50 hectares, que detém apenas 2,09% da área total, produzem 46,48% do leite no Estado, utilizando pouco financiamento. Segundo os dados fornecidos para a Comissão Pastoral da Terra do Mato Grosso do Sul, os pequenos estabelecimentos do Mato Grosso do Sul que produzem arroz e feijão, foram mais eficientes que as propriedades da agricultura de exportação, de acordo com os dados dos dois últimos censos agropecuários (1995/96 e 2006). Por exemplo, a soja teve um acréscimo de produtividade de apenas 6,77% de quilos por hectare em 2006, comparado aos dados do Censo de 1995/96.

Já o arroz registrou um aumento de produtividade de 67,77% em 2006, comparado com os dados do censo de 1995/96, e o feijão também aumentou a produtividade em 51,19% em relação ao mesmo período. Portanto, apesar destes produtos da agricultura familiar ter sofrido uma redução de área colhida em 2006, o volume da produção foi superior ao de 1995/96. A pesquisa ressalta, por exemplo, que a classe de área responsável pela produção de feijão é a pequena unidade com até 200 hectares. Este estrato responde por 64,07% do total da produção. Apesar de pequeno, estes estabelecimentos têm conseguido se apropriar dos avanços tecnológicos e melhorar sua eficiência produtiva, na geração de empregos no campo, as pequenas unidades empregam mais.

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“Os fatos que recordamos aqui confirmam a existência de camponeses no Brasil, não somente em termos de categoria política, mas também de categoria social e sociológica” (Eric Sabourin; 2009).

A referida pesquisa mostra que a geração de ocupações nos menores estratos de área é também significativa, pois, segundo o Censo 2006, o aumento no número de pessoal ocupado ocorreu nas classes de área de menos de 50 ha, ela sozinha representa 44,18% do total do pessoal ocupado no Estado (93.311). Cruzando as ocupações com o tamanho da terra, a classe de área de menos de 50 ha gera uma ocupação a cada 6,7 ha, enquanto a classe de área acima de 1000 hectares gera uma ocupação a cada 411,56ha.

No que se refere ao valor da produção e financiamento, o mito do agronegócio é desvendado, pois, quando o assunto é financiamento, a pesquisa aponta uma interessante contradição. Os 1.231 estabelecimentos com mais de 1.000ha acessaram 78,97% do valor total dos financiamentos em 2006 e responderam por 51,17% do valor total da produção agropecuária em 2006. Os 4.269 estabelecimentos das classes de área de menos de 50 hectares acessaram 2,45% dos financiamentos em 2006 e responderam por 12,19% do valor total da produção agropecuária.

Proporcionalmente a pequena unidade (menos 50 ha) é quase dez vezes mais eficiente do que a grande unidade, porque acessou R$ 45.606.000 (2,45%) de recursos públicos e respondeu por R$ 434.460.000 (12,19%) do valor de produção agropecuária. Enquanto que a grande unidade que acessou R$ 1.472.448.000,00 (78,97%) respondeu por 1.823.344.000,00 (51,17%). É mais um dado do IBGE a confirmar a eficiência da pequena unidade de produção. A realidade retratada, pela Comissão Pastoral da Terra, em regiões do Mato Grosso do Sul e do Paraná, são semelhantes a inúmeras situações do Oeste Catarinense, onde é possível a constatação da eficiência da agricultura familiar em relação a agricultura de mercado.

O capitalismo contemporâneo, tendo o capital financeiro como centro nervoso da economia, ao contrário da fase industrial clássica, não opera no sentido de incluir o maior número possível de trabalhadores, no mercado de trabalho e de consumo, mas opera pela exclusão de um número cada vez maior pela automação, pela velocidade da inovação tecnológica, no mundo do trabalho. Desvaloriza-se o capital trabalho em relação ao capital financeiro. Portanto, o núcleo do poder está no mundo das finanças, enquanto se fragmenta e dispersa a estrutura produtiva em um cenário, cada vez mais, planetário e globalizado. Na sociedade atual, a submissão do mundo da vida à lógica do capital financeiro, especialmente, passou a ser a ordem das coisas, o sentido do

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poder e da força de regulação das relações sociais. Disso resulta marginalização, quando não exclusão social. (Frantz e Schönardie, 2006, p. 7)

O processo de desenvolvimento da agricultura camponesa, origens da agricultura camponesa e familiar, durante muito tempo esta pergunta dividiu os universitários brasileiros. Autores como Caio Prado Jr (1960) afirma, partindo da análise ortodoxa marxista, que não há (nem houve) camponeses no Brasil, baseando-se numa visão européia segundo a qual só existiria sistema camponês a partir da transformação do sistema feudal da serventia. No Brasil, para Prado Jr (1942), se teria passado diretamente da escravatura para o assalariamento dos trabalhadores rurais. No que tange os pequenos produtores autônomos, que sempre existiram e que ele agrupa sob o termo "pequena lavoura", estes estariam historicamente integrados ao sistema capitalista, sob uma forma dependente. Na verdade, brincando com as palavras, ele reconhece a existência de um campesinato não assalariado, mais ou menos dependente do mercado e dos grandes proprietários.

Algumas pesquisas analisam mais especificamente o caso da agricultura colonial escravista e vislumbra uma "brecha camponesa" na evolução da escravidão no Brasil, que ele compara com diversas situações no Caribe, esta análise evolui para outras formas dependentes de agricultura camponesa, em particular os diversos tipos de arrendamento. Isto Comprova a existência de uma classe camponesa, que corresponde aos agricultores excluídos do pacto político, em outros termos, os sem-vozes, os invisíveis. Conforme pesquisas o termo "camponês" é recente no Brasil (anos 1950). Sua origem é política, sendo associada às reivindicações da esquerda latino-americana em torno dos "campesinos". Assim, o termo

campesinato utilizado no Brasil corresponde a uma categoria política e não à categoria

científica do modelo camponês, defendido por alguns teóricos.

Na verdade, o termo camponês foi banido do vocabulário oficial, após a repressão militar de 1964, que deu fim à experiência das primeiras organizações de pequenos produtores, e de trabalhadores rurais autônomos, as Ligas Camponesas. Certos trabalhos de pesquisa a campo, a parte representada pelo campesinato continua importante no Brasil, com maior densidade no Nordeste, inclusive no âmbito da modernização de uma agricultura de tipo familiar. Este campesinato corresponde a uma das formas particulares da agricultura familiar, constituída a partir de modalidades específicas de produzir e viverem sociedade.

Esta hipótese se confirma no Nordeste, bem como na Amazônia ou Centro-Oeste, com a permanência de comunidades camponesas que mantêm ainda a maioria das cinco características das sociedades camponesas, assim identificadas e organizadas: uma relativa

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autonomia em relação à sociedade global; a importância estruturante do trabalho familiar e do grupo doméstico; um sistema econômico diversificado, parte autônoma e parte integrado a mercados diversificados; relações de interconhecimento e a função decisiva das mediações entre sociedade local e sociedade global.

A unidade indissolúvel do grupo doméstico e de seus membros, ao mesmo tempo produtores e consumidores e o fato de que a terra, do ponto de vista da economia do grupo, é um meio de subsistência e não um capital a rentabilizar, faz com que não seja possível analisar o sistema econômico camponês nos termos da economia industrial E continua: O camponês trabalha a terra para se alimentar: qualquer teoria da economia, camponesa nada mais é que o comentário desta fórmula lapidária (...) mas o camponês produz para um mercado globalizante (...). Todavia, esta exigência é somente acessória para compreender a lógica que preside ao cálculo econômico do camponês. Quando falamos de camponês, é preciso compreender família camponesa (...). Cada produto tem seu destino particular e nenhum pode substituir o outro: o capim alimenta os animais, o trigo, os homens (...)"; Mendras (1976: 11-23).

Mais recentemente, algumas questões projetam o desenvolvimento de um projeto camponês no Brasil para o século XXI. Ele retoma uma série de críticas, feitas aquilo que chama de paradigma do fim do campesinato ou de metamorfose do campesinato em agricultura familiar. Propõe um projeto camponês renovado em torno da autonomia do acesso à terra, aos mercados e à gestão do trabalho familiar, segundo princípios de qualidade de vida. Por outra parte, Carvalho se situa na linhagem política do movimento internacional Via Campesina (de que fazem parte, entre outros, a Confédération Paysanne na França; o MST e o MPA, no Brasil.

A agricultura familiar exerce um papel fundamental e estratégico, no processo de desenvolvimento econômico e social no Brasil, esse papel se evidencia na produção de alimentos, na geração de emprego e renda, na produção de riquezas e na ativação de outros sistemas econômicos, em especial a agroindústria e o comercio.

Apesar de sua importância, enfrentou e enfrenta uma séria crise, que se origina fundamentalmente no modelo econômico adotado no Brasil, e gera desestímulos para o desenvolvimento da agricultura. As políticas econômicas e as políticas agrícolas inadequadas, principalmente nos governos militares, Collor e Fernando Henrique Cardoso, aprofundaram a crise, desde o início da década de 1980, quando o governo federal passa a reduzir os recursos para o financiamento da agricultura, em especial da agricultura camponesa e familiar e, ao mesmo tempo, torna esses recursos oferecidos absurdamente caros para a estrutura da pequena agricultura brasileira.

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Se a crise da agricultura é grande seus efeitos se tornam mais perversos na agricultura familiar, que tem maiores dificuldades de acesso ao crédito e menor capacidade de investimento. É fundamental entender, porém, que a participação da agricultura camponesa e familiar, na produção agrícola da região sul, tem destaque na maioria dos produtos, de maneira especial aqueles que servem de forma direta ou indireta de alimentos de primeira necessidade a população urbana, nas que mantém ativa a população rural e dos pequenos centros urbanos ou pequenos municípios, gerando e produzindo uma grande diversidade de produtos, mantendo ativa a biodiversidade, garantindo a sustentabilidade das gerações futuras.

Mas, afinal que é o agricultor familiar, quem forma a agricultura familiar no Brasil e na região sul. Quando falamos em agricultura familiar, nos referimos a uma parte da agricultura, `porém, existem algumas razões para fazermos essa separação.

Ao observarmos o conjunto da agricultura no Brasil, na região sul, e no estado de Santa Catarina, veremos que existem tipos diferentes de agricultores, há aqueles que possuem grandes propriedades, que não atuam diretamente no trabalho da roça, que possuem empregados que fazem o trabalho na lavoura, vamos observar também outros agricultores, que possuem terras de menor área, que trabalham diretamente na roça, que não tem empregados, onde o trabalho é todo executado pelos membros da família. Vamos ainda observar que, mesmo entre esses agricultores de menor tamanho, existem aqueles que conseguem ter um nível de vida melhor, enquanto que outros encontram dificuldades para manter a si e sua família.

Aos poucos, se observarmos a agricultura como um todo, vamos ver que existem muitas diferenças e variantes entre os agricultores, essas diferenças precisam ser observadas e estudadas, para que possamos conhecer melhor agricultura geral e a agricultura familiar. Estudos realizados pela FAO/INCRA e publicados da revista “Diretrizes de Política Agrária e Desenvolvimento Sustentável”, nos da uma noção da grande diferença que existe no conjunto da agricultura nacional.

O quadro acima nos mostra, as grandes diferenças existentes, entre os modelos de agricultura praticados no Brasil, ou seja, a agricultura familiar e a patronal, onde ocorre o patronato, a separação da gestão e do trabalho, nos indica que o processo entre trabalho e gestão são realizados por públicos diferentes, ou seja, o dono da terra administra e o trabalho é geralmente assalariado.

A agricultura patronal centraliza as tomadas de decisões tipo uma organização de empresa. No sistema patronal, a preocupação com a especialização em determinados produtos é uma constante, adotando modelos padronizados de produção em larga escala, voltados ao sistema

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agroexportador, através do uso intensivo de máquinas e equipamentos, além do uso concentrado de insumos “modernos”. Em regra geral possui um padrão tecnológico mais elevado que a agricultura familiar, tanto produção animal como vegetal. É mais eficiente do que a agricultura familiar em alguns produtos como o arroz, soja, cana-de-açúcar, e carne bovina, pelos dados da FAO, são necessários cerca de sessenta (60) hectares para a geração de um emprego.

O quadro a seguir, mostra um comparativo entre o modelo patronal e agricultura familiar

Modelo Patronal Modelo Familiar

Completa separação entre gestão e trabalho Trabalho e gestão intimamente ligados Organização centralizada Direção do processo produtivo

assegurada diretamente pelos agricultores

Ênfase na especialização Ênfase na diversificação

Ênfase em práticas agrícolas padronizadas Ênfase na durabilidade dos recursos e na qualidade de vida

Predominância de trabalho assalariado Trabalho assalariado complementar Tecnologias dirigidas à eliminação

das decisões de terreno e de momento

Decisões imediatas, adequadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo

Fonte: Projeto Terra Solidária

A agricultura familiar se diferencia da patronal quando o trabalho e a gestão estão intimamente ligados, porque quem administra e quem trabalha são as mesmas pessoas e na maioria das vezes são os membros da própria família, eventualmente são contratados trabalhadores assalariados, para complementar o trabalho da família.

Outro ponto forte da agricultura familiar é a diversificação, ou seja, a pequena propriedade produz uma grande variedade de produtos, não se fixando na especialização. Embora com uma pequena área de terra, a agricultura familiar, apresenta excelentes resultados comparáveis aos da agricultura patronal. Sendo a agricultura familiar mais eficiente, gera em média um emprego a cada nove (09) hectares, ou seja, necessitam sete (07) vezes menos terra que o sistema patronal.

Portanto, agora a definição de agricultura familiar é mais clara e evidente, o trabalho é basicamente oriundo da própria família, geralmente as áreas de terras são pequenas, a renda é proveniente do trabalho da agricultura, oitenta por cento (80%) ou mais.

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Paralelamente, assistimos à evolução do meio rural, como um local de consumidores, muito mais que de produtores. Os neorrurais “ricos” desenvolvem atividades não agrícolas no campo. Eles se beneficiam com novas formas de consumo (residências secundarias, acesso a natureza, lazeres, etc.) e de uma nova domesticidade rural. Este fenômeno, que envolve o Sul do Brasil e a periferia das grandes metrópoles, inclusive o Nordeste, foi amplamente descrito pelo projeto Rurbano (Silva, 1999), Os neorrurais pobres produzem cada vez menos e são cada vez mais dependentes do mercado capitalista do emprego e do s alimentos para sobreviver - (Eric Sabourin – camponeses do Brasil, entre a troca mercantil e a reciprocidade).

Considerando este contexto, a presença do capitalismo financeiro dentro do setor agrícola e agropecuário, a propósito, o capitalismo financeiro nada mais é hoje em dia, do que o capital financeiro, pelo conceito, capital financeiro, é a reunião do capital industrial com o capital bancário que se juntam para fazer um investimento produtivo, ou não, ficando na maioria das vezes na especulação de mercado.

Na atualidade, o capital financeiro, vive da especulação financeira, entorno de títulos que se negociam no mercado financeiro, como exemplos temos os títulos de empresas privadas e públicas, que são as chamadas ações, títulos da dívida de governos, ou seja, títulos da divida pública do governo brasileiro, bem como a compra de empresas privadas ou públicas em todo o mundo pelos fundos de investimento.

O capital financeiro, não são apenas os bancos, são também fundos de pensão, como, PETROS2, funcionários do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal entre outros. São também os fundos de investimentos, como exemplo os do “magnata” George Soros, este fundo de investimento, constituiu a empresa Adecoagro3, que compra as ações de empresas privadas de diversos setores da agricultura, hoje o capital financeiro pode ser também seguradoras, que são empresas privadas, que investem parte do seu capital nas bolsas de valores através de bancos ou empresas de corretagem, se for lucrativo, podem investir em setores da agricultura, como forma de obterem lucros, e não de desenvolver o setor.

2 É um fundo de previdência com sede no Rio de Janeiro que provê aposentadoria complementar aos funcionários da Petrobrás e de outras empresas do setor petroquímico.

3

A adecoagro é hoje uma das principais empresas produtoras de alimentos e energia renovável da América do Sul. Com presença na Argentina, no Brasil e no Uruguai, as suas atividades incluem a produção de grãos, arroz, oleaginosas, lácteos, açúcar, etanol, café, algodão e carne bovina.

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O aumento da liquidez internacional nos anos 2000, deu um poder de fogo assustador aos fundos de investimentos, geraram também um excesso de fusões e de aquisições sadia & perdigão, cooperativas de álcool em São Paulo, outros frigoríficos, empresas de insumos agrícolas diversos. Para se ter uma idéia, do que isto significa, de janeiro à maio de 2007, essas transações movimentaram no mundo US$ 2,18 trilhões, ou seja, R$ 4,25 trilhões, 20% dessas operações foram feitas por fundos de investimentos. Outro modelo especulativo, que atinge a nossa agricultura são os chamados Private Equity4, estes fundos compram participação em empresas, Private Equity, que compram empresas de capital fechado, assumem a gestão, turbinam o crescimento e depois saem do negócio, com a venda ou a abertura do capital, em 2006, essas operações no mundo somaram US$ 750 Bilhões, em 2007 no Brasil, a previsão era de US$ 4 bilhões, por aqui são 48 gestores de fundos que nos últimos anos movimentaram US$ 9 bilhões.

O domínio do capital financeiro na economia brasileira, nos anos 1990, representou um novo modelo de dominação do capital sobre a agricultura, antes o Estado regulava a agricultura, controlava os preços através do programa de garantis de preços mínimos (PGPM)5, possuía uma política de armazenagem e de comercialização, política de crédito rural. Agora o Estado é afastado de suas funções, para dar espaço para a ação das trans nacionais, e isto gerou um novo jeito de organizar a produção agrícola no país.

As conseqüências, deste novo jeito de organizar a produção agrícola, resultaram em muitos problemas na agricultura brasileira, de forma especial aos camponeses e agricultores familiares, como exemplo temos a aceleração da concentração e da centralização do capital.

Conforme o quadro abaixo observamos o exemplo da indústria químico-farmacêutica,

4 É um tipo de atividade financeira realizada por instituições que investem essencialmente em empresas que ainda não são listadas em bolsa de valores, com o objetivo de alavancar seu desenvolvimento.

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O

O ExemploExemplo dada IndústriaIndústria Quím icaQuím ica--FarmacêuticaFarmacêutica

QUIMIO RUSSE L SCHERING CNDA RHODIA U. CARBIDE BAYER A GREVO A VENT IS BA YER RHOD IA HOECHST GE IGY CIBA BIA GRO VESICOL SANDOZ MERK S DOME STAUFFER ICI ISK C IBA

SA NDOZ NOVA RTIS

SYNGENTA B VESICOL

ZE NECA

ZE NECA

CYANAMID

SHELL CYA NA MID

BASF BASF HERBITÉCNICA DEFENSA M ILENIA DOW ELANCO SANACHEM ROHM HAAS

DOW ELA NCO

DOW A GRO DOW A GRO

Fonte: MST ano 2003

Outro exemplo é o setor de sementes, que poderá ocasionar um domínio completo de toda a cadeia produtiva da agropecuária e da agricultura global.

O

O

Exemplo

Exemplo

do

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Setor

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de

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Sementes

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no

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Brasil

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Monsanto antes de

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1997

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praticamente

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não

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atuava

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no

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ramo

ramo

de

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M ilho

M ilho

Híbrido

Híbrido

no

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Brasil

Brasil

Fonte: MST ano 2003

O comercio nacional e internacional, fica a mercê das grandes corporações, impondo regras cada vez mais rígidas, dificultando ainda mais, a presença do comercio de produtos da agricultura familiar e camponesa.

Quatro empresas multinacionais e gigantes Bunge, ADM, Cargill & Monsanto e Louis Dreyfus, negociaram cerca de 60% das exportações brasileiras de grão, óleo e farelo de soja em 2005, as quatro esmagaram 60% dos grãos destinados ao mercado interno.

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Outro fator que é possível ser observado é a concentração da terra, nesse modelo só cabe a grande fazenda. Ocorreu também, um processo de desnacionalização das nossas agroindústrias.

Desnacionalização

Desnacionalização

da

da

Agroindústria

Agroindústria

Com a

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desnacionalização

desnacionalização

da

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econom ia

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brasileira

brasileira

aumentou

aumentou

o

o

monopólio

monopólio

nos

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setores

setores

agroindustriais

agroindustriais

e;

e;

Fonte: MST ano 2003

Ocorreu uma drástica mudança no jeito de produzir, a matriz tecnológica, além do químico – genético - mecânico, incorporou a informática, irrigação e a biotecnologia, Alteração no padrão de financiamento agrícola, (as transnacionais adiantam os insumos para os latifundiários e amarram a entrega da produção para elas), (50% da produção exportada é financiada pelas corporações transnacionais). Seqüestraram o Estado para a execução de políticas que sejam de interesses das transnacionais. Os recursos públicos, como o financiamento agrícola (10 transnacionais pegam no Banco do Brasil R$ 6 bilhões ao ano), investimentos do BNDES, elaboração de leis e repressão aos movimentos camponeses.

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ocorreu

ocorreu

forte

forte

seleção

seleção

dos

dos

camponeses

camponeses

integrados

integrados

Fonte: MST ano 2003

Cada vez mais, é preciso muita organização e cooperação, para que o controle seja efetivo do povo brasileiro dos recursos naturais como a água, minerais, a terra e a biodiversidade. Em resumo, as transnacionais controlam o comércio e os preços dos produtos agrícolas, as fábricas de insumos agroquímicos, as indústrias de máquinas e equipamentos e a agroindústria processadora, as sementes e as matrizes animais, apropriam-se dos recursos naturais e da biodiversidade brasileira e global, influem e tentam dirigir o Estado brasileiro e a geopolítica.

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