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AUTO-ESTIMA E ORIENTAÇÃO COGNITIVA EM PRATICANTES DE ATLETISMO DE ELITE

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Academic year: 2021

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AUTO-ESTIMA E ORIENTAÇÃO COGNITIVA EM PRATICANTES DE ATLETISMO DE ELITE Eduarda M. Coelho J. Vasconcelos-Raposo

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

O objectivo deste estudo foi comparar competidores de atletismo de elite, de ambos os sexos, com praticantes (não elite) de várias modalidades de nível de rendimento inferior. As comparações foram feitas em função da auto-estima e da orientação cognitiva. A amostra foi constituída por 106 indivíduos e foi dividida em dois grupos: estudantes de Educação Física e Desporto e praticantes de Atletismo de alta competição. Para avaliar a auto-estima recorreu-se à Escala de Auto-Estima Global de Rosenberg e para a orientação cognitiva utilizou-se o teste desenvolvido por Vealey (1988). As conclusões do presente estudo confirmaram as propostas teóricas de que atletas com uma orientação cognitiva para a prestação tendem a atingir níveis de rendimento superiores. Relativamente à auto-estima, os valores da escala utilizada neste estudo sugerem que esta não é, eventualmente, adequada para diferenciar atletas em função do nível competitivo.

Palavras-chave: auto-estima, orientação cognitiva, atletismo, elite

SELF-ESTEEM AND COGNITIVE ORIENTATION AMONG TRACK AND FILED ELITE ATHLETES

The purpose of this study was to compare elite competitors of track and field, of both sexes, with non-elite athletes in several disciplines who have a lower performance level. The dependent variables were self-esteem and cognitive orientation. The sample consisted of 106 individuals and was divided into two groups: students of Sport and Physical Education and high-level athletes of track and field. In order to evaluate self-esteem we used Rosenberg's Global Self-Esteem Scale and for cognitive orientation we used the test developed by Vealey. The results confirmed that athletes with a cognitive orientation for performance have a tendency to attain higher levels of sport performance. In regards to self-esteem, the scores obtained with this sample with the test used suggested that it is not adequate to differentiate athletes based on competitive athletic level.

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No alto rendimento, em que se pretende a optimização de todos os factores que potenciam a prestação, a Psicologia do Desporto é fundamental e deve acompanhar o processo de treino desportivo. De acordo com Williams (1986), muitos treinadores e atletas acreditam que entre 40% a 90% do sucesso desportivo resulta de factores psicológicos, e que quanto maior for o nível de prestação do atleta, mais importantes estes se tornam. Segundo Vasconcelos-Raposo (1988), é este tipo de constatação que tem levado atletas e treinadores a procurarem ajuda dos profissionais da Psicologia e de outras Ciências Comportamentais aplicadas ao desporto.

A relação entre as características da personalidade e a performance desportiva tem sido alvo de investigações por parte dos psicólogos, desde o início do envolvimento da Psicologia com o desporto. É, sem dúvida, uma das áreas em que há maior incidência de estudos. Porém, é também aquela à volta da qual se gera maior controvérsia. Até à data, os estudos apresentam-se inconclusivos e com resultados contraditórios. Esta situação, em parte, deve-se ao facto de muito raramente serem estudados atletas verdadeiramente de elite, uma vez que tem sido prática corrente dos psicólogos implantarem o conceito de elite de modo a valorizarem o mais possível o contributo dos seus estudos (Vasconcelos-Raposo, 1996).

No nosso estudo avaliámos a auto-estima (AE) e a orientação cognitiva (OCOG) de atletas com estatuto de alta competição da Federação Portuguesa de Atletismo, condição que considerámos suficiente para os classificar de elite. Estes atletas, por sua vez, foram comparados com outros com um nível de rendimento desportivo inferior.

Auto-estima. A auto-estima (AE) é considerada uma das

componentes da auto-percepção que ocupa uma posição central na explicação do comportamento humano (Fox & Corbin, 1989). Este conceito tem sido muito estudado no contexto desportivo, mas poucos autores o fizeram utilizando uma amostra denominada de elite (Bond & Nideffer, 1992; Mahoney, 1989; Marsh, Perry, Horseley & Roche, 1995).

É opinião generalizada que a actividade física é benéfica a nível psicológico, provocando alterações positivas ao nível da AE. Parece ser também evidente o argumento que os atletas de elite possuem níveis de AE superiores, quando comparados com atletas de nível inferior ou

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com indivíduos sem qualquer participação activa no desporto de competição.

Richman e Rehberg (1986) realizaram um estudo com karatecas, tendo aplicado o Questionário de AE de Rosenberg antes da realização do torneio. Os resultados revelaram que os atletas de nível inferior tinham níveis mais baixos de AE quando comparados com os de nível superior e que a AE também foi significativamente mais elevada para os indivíduos que posteriormente venciam. Concluíram, ainda, que os atletas mais experientes possuíam um nível de AE mais elevado. A AE estava relacionada com as auto-percepções dos praticantes no que respeita à sua forma física e técnica.

Em 1989, Mahoney realizou um estudo em que comparou halterofilistas de elite (3 primeiros lugares do ranking dos EUA em 1987) e não elite (abaixo do 11º lugar do ranking dos EUA em 1987) com o objectivo de identificar algumas variáveis psicológicas importantes que predissessem o alto rendimento desportivo. Os resultados evidenciaram várias diferenças entre os dois grupos. Os atletas de elite patentearam valores mais baixos em medidas de sensibilidade interpessoal, depressão e psicotismo, bem como na gravidade e sintomas de desajustamento psicológico, ou, ainda, níveis significativamente superiores nos valores da motivação e da AE (0.7 vs. 1.2 na Escala de Rosenberg).

Marsh, Perry, Horsely e Roche (1995) realizaram um estudo em que compararam atletas de elite de vários desportos e indivíduos não treinados em que utilizaram o questionário Self-Description

Questionnaire III. Verificaram que a AE dos atletas foi superior à dos

não atletas. Também os atletas masculinos apresentaram níveis superiores relativamente aos femininos.

Nos estudos referidos parece ser evidente que os atletas de elite possuem níveis de AE superiores quando comparados com atletas de nível inferior ou com indivíduos sedentários.

Orientação cognitiva. A definição de objectivos é uma

estratégia motivacional que promove a melhoria da prestação através do foco da atenção em determinados aspectos que promovem o aumento da intensidade e da persistência (Vasconcelos-Raposo, 1993, 1994). O estilo de definição de objectivos que o atleta adopta depende, preferencialmente, da sua orientação cognitiva (OCOG) ser para o resultado ou para a prestação (Burton, 1992; Teixeira, 1993).

Estudos realizados com praticantes de várias modalidades desportivas, abrangendo atletas de diferentes níveis de rendimento e

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usando diversos questionários, verificaram que um estilo de definição de objectivos orientado para a prestação se relaciona positivamente com prestações desportivas de alto nível.

Um estudo realizado por Jackson e Roberts (1992), que ministraram a Escala de Orientação para Objectivos a jovens atletas praticantes de desportos individuais, verificou uma coincidência entre a melhor performance e a ocorrência do “flow”. Para estes autores, o “flow” está associado à OCOG-prestação, ou seja, eles defendem que existe uma maior probabilidade dos indivíduos com OCOG-prestação experimentarem o “flow” e, como tal, atingirem o rendimento máximo. Verificaram, ainda, que, contrariamente, a OCOG-resultado estava muitas vezes associada com os piores desempenhos.

Vasconcelos-Raposo (1993) realizou um estudo com atletas de várias modalidades desportivas, vários escalões etários e de ambos os sexos. Entre outros questionários, utilizou o Teste de Orientação Cognitiva e os seus resultados revelaram diferenças significativas ao nível da OCOG entre os atletas olímpicos e os não olímpicos. Os atletas olímpicos apresentaram valores mais elevados na OCOG-prestação do que os não olímpicos, enquanto para a OCOG-resultado verificou-se o contrário. Quando comparou os atletas por sexo, verificou que não existiam diferenças significativas. Este autor validou o pressuposto teórico do modelo de definição de objectivos, no que se refere às características da OCOG. Com base nos outros testes que utilizou (Perfil Psicológico de Prestação e Factores Psico-Sócio-Culturais-92) confirmou a proposta de Burton (1992) que os atletas olímpicos tendem a considerar as situações como momentos de avaliação para uma progressão rumo aos objectivos que definiram. Enquanto estes atletas tendem a justificar os seus sucessos com base em factores que dependem deles (internos), os não olímpicos procuram justificação em factores externos, sobre os quais não exercem qualquer controlo.

Martin e Gill (1991), num estudo realizado com praticantes de atletismo com idades entre 14 e 18 anos em que avaliaram a OCOG, concluíram que a OCOG-prestação demonstrou ser mais eficaz na predição do sucesso na competição em causa.

Burton (1989, 1992), Weiss e Chaumenton (1992) argumentam que a OCOG-prestação tende a estar fortemente relacionada com níveis de prestação de excelência. A OCOG-prestação tem-se demonstrado eficaz na diferenciação dos atletas por nível de rendimento desportivo (Burton, 1992; Vasconcelos-Raposo, 1993; Vealey, 1988).

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Os autores que estudaram o tipo de OCOG dos atletas e o relacionaram com o nível de prestação desportiva concluíram que a orientação de prestação se relaciona com níveis de rendimento elevados.

Atendendo às características descritas em cada um dos estilos de OCOG, no nosso estudo previu-se que esta diferenciasse os atletas por nível de prestação desportiva. Face a isto, não obstante não termos encontrado tal referência na literatura, pareceu-nos lógico aceitar que exista uma correlação positiva entre a AE e a OCOG dos atletas, ou seja: os atletas com níveis de prestação desportiva elevados apresentarão níveis também elevados de AE e uma OCOG para a prestação; contrariamente, os atletas com baixos níveis de prestação desportiva apresentarão níveis baixos de AE e uma OCOG para o resultado.

Os objectivos definidos para o estudo foram comparar a auto-estima e a orientação cognitiva de atletas: (a) com diferentes níveis de prestação desportiva; (b) do sexo feminino e masculino; (c) de diferentes especialidades; (d) com diferentes tempos de prática; (e) de competição desportiva.

Metodologia

O presente estudo enquadra-se nos métodos quantitativos, com um desenho quasi-experimental e recorrendo à comparação de grupos não-equivalentes, uma vez que a nossa amostra é do tipo de conveniência, ou seja não foi possível recorrer a processo de selecção aleatória. Estes processos levantam algumas questões relacionadas com a validade do estudo, porém, a investigação científica no contexto desportivo muito dificilmente poderá ultrapassar tais constrangimentos. A amostra foi constituída por 106 indivíduos, sendo 37 do sexo feminino e 69 do sexo masculino e caracterizou-se por ter 22.11 (±4.65) (x ± s.d.) anos de idade, 8.11 (±4.33) anos de prática desportiva e 5.82 (±3.54) anos de competição desportiva.

A amostra foi dividida em dois grupos, de acordo com o nível de prestação desportiva apresentado: a um dos grupos designámos por elite e ao outro por geral. Constituíram o grupo geral 13 indivíduos do sexo feminino e 40 do sexo masculino. O segundo grupo (elite) foi constituído por 53 atletas de alta competição (segundo os regulamentos da F.P.A.) praticantes de atletismo das diferentes especialidades, sendo

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27 do sexo feminino e 26 do sexo masculino. Este grupo englobou atletas classificados entre o 1º e o 18º lugar do ranking nacional.

Instrumentos. Os sujeitos responderam a um questionário que englobou questões relativas ao próprio indivíduo, cujas respostas constituíram as variáveis independentes (nível de prestação desportiva, sexo, especialidade praticada, tempo de prática e de competição desportiva); à Escala de Auto-Estima de Rosenberg e ao Teste de Orientação Cognitiva. Estes dois últimos permitiram quantificar as variáveis dependentes auto-estima (AE) e orientação cognitiva (OCOG).

Análise estatística. Para os procedimentos estatísticos foi

utilizado o Software SPSS (Statistics Package for Social Sciences) – versão para Windows.

A análise exploratória dos dados incluiu estatística descritiva (média, desvio-padrão, máximo e mínimo). As diferenças entre grupos foram testadas pelo t-Teste ou pelo ANOVA.

Resultados

Foram calculados os valores relativos às diferenças entre os grupos Geral e de Elite em função das variáveis dependentes AE e do tipo de OCOG. Estes resultados são apresentados no quadro 1.

Quadro 1

Auto-estima e orientação cognitiva dos grupos com diferentes níveis de prestação ( x±s.d.). GRUPO GERAL N=53 ELITE N=53 AE 1 0.81 (±1.03) 0.92 (±1.04) OCOG 2 OCOG-prestação 0.480 (±0.31) a 0.698 (±0.25) a OCOG-resultado 0.340 (±0.25) b 0.212 (±0.19) b

1- Valores compreendidos entre 0 e 6 (valores mais elevados indicam menor AE). 2- Valores compreendidos entre 0 e 1 (valores mais elevados indicam maior orientação). a- p<0.01.: b – p <0.05

Não foram encontradas diferenças significativas quando se comparou a AE dos atletas de Elite e do grupo Geral.

Constatou-se que há diferenças estatisticamente significativas entre o grupo Geral e o de Elite para a variável OCOG- prestação t

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(99,657) -3,931, p = 0.000, e para a OCOG-resultado t (97,225) 2,949, p = 0.004.

Sexo. Foram calculados os valores da AE e OCOG relativos à

caracterização dos dois grupos estudados. Estes resultados são apresentados no quadro 2.

Quadro 2

Auto-estima e orientação cognitiva de acordo com o sexo ( x±s.d.).

SEXO FEMININO N=40 MASCULINO N=66 AE 1 0.70 (±0.77) 0.96 (±1.13) OCOG 2 OCOG-prestação 0.656 (±0.29) 0.553 (±0.31) OCOG-resultado 0.207 (±0.21) a 0.313 (±0.24) a

1- Valores compreendidos entre 0 e 6 (valores mais elevados indicam menor AE). 2- Valores compreendidos entre 0 e 1 (valores mais elevados indicam maior orientação). a- p<0.05 Ao nível da AE, os valores encontrados não evidenciaram diferenças significativas entre os dois sexos. Quanto ao tipo de OCOG, apenas foram encontradas diferenças na orientação para OCOG -resultado t (104) 2,3, p = 0.023.

Especialidade praticada. Para se analisarem os resultados em

função da especialidade praticada, só foram estudados os atletas de Elite, tendo sido, para o efeito, constituídos dois grupos: o primeiro (meio fundo e fundo) composto por praticantes de atletismo de corridas ou marcha de distância igual ou superior a 800m e o segundo (disciplinas técnicas) que integrou os praticantes das outras especialidades do atletismo (corridas de velocidade, corridas de barreiras, saltos, lançamentos e provas combinadas).

Quadro 3

Auto-estima e orientação cognitiva de acordo com a especialidade do atletismo praticada ( x±s.d.).

ESPECIALIDADE ½ Fundo e Fundo

N=23 Disciplinas Técnicas N=30 AE 1 0.727 (±0.77) 1.07 (±1.20) OCOG 2 OCOG-prestação 0.568 (±0.28) a 0.798 (±0.18) a OCOG-resultado 0.300 (±0.21) b 0.145 (±0.14) b

1- Valores compreendidos entre 0 e 6 (valores mais elevados indicam menor AE). 2- Valores compreendidos entre 0 e 1 (valores mais elevados indicam maior orientação). a , b - p< 0.01

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A comparação dos grupos para a AE e a OCOG em função da especialidade do atletismo praticada não evidenciou diferenças estatisticamente significativas ao nível da AE.

Constatou-se que há diferenças estatisticamente significativas entre os especialistas de meio fundo e fundo e os das disciplinas técnicas para a variável OCOG-prestação t (34,570) -3,432, p = 0.002 e para a OCOG-resultado t (36,847) 3,002, p = 0.005.

Tempo de prática e de competição desportiva. Para se analisarem

os resultados em função do tempo de prática e do tempo de competição desportiva, a amostra total foi dividida em três grupos: o primeiro grupo (0-5) foi constituído por indivíduos que tinham até 5 anos de prática ou de competição desportiva; o segundo grupo (6-10) foi constituído por indivíduos que tinham entre 6 e 10 anos de prática ou de competição desportiva; o terceiro grupo (+10) foi constituído por indivíduos que tinham mais de 10 anos de prática ou de competição desportiva.

Quadro 4

Auto-estima e orientação cognitiva dos grupos com diferentes anos de prática desportiva ( x±s.d.). ANOS DE PRÁTICA 0-5 N=32 6-10 N=49 +10 N=25 AE 1 0.76 (±0.87) 1.09 (±1.14) 0.58 (±0.93) OCOG 2 OCOG-prestação 0.507 (±0.32) 0.624 (±0.31) 0.635 (±0.29) OCOG-resultado 0.277 (±0.23) 0.280 (±0.25) 0.286 (±0.23) 1- Valores compreendidos entre 0 e 6 (valores mais elevados indicam menor AE)

2- Valores compreendidos entre 0 e 1 (valores mais elevados indicam maior orientação)

Quando se comparou o nível de AE e a OCOG, tanto para a prestação como para o resultado, não foram encontradas diferenças significativas entre os três grupos de anos de prática desportiva (quadro 4).

A comparação das médias para determinar se existiam diferenças estatisticamente significativas para as variáveis AE e OCOG em relação aos três grupos com diferentes anos de competição desportiva não permitiram a rejeição da hipótese nula.

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Quadro 5

Auto-estima e orientação cognitiva dos grupos com diferentes anos de competição desportiva ( x±s.d.). ANOS DE COMPETIÇÃO 0-5 N=55 6-10 N=39 +10 N=11 AE 1 0.98 (±1.09) 0.86 (±1.03) 0.40 (±0.52) OCOG 2 OCOG-prestação 0.599 (±0.31) 0.550 (±0.32) 0.675 (±0.20) OCOG-resultado 0.256 (±0.23) 0.314 (±0.24) 0.275 (±0.21) 1- Valores compreendidos entre 0 e 6 (valores mais elevados indicam menor AE)

2- Valores compreendidos entre 0 e 1 (valores mais elevados indicam maior orientação)

Discussão e conclusões

Ao analisarem-se os valores encontrados para a AE dos dois grupos em estudo verificou-se que as diferenças encontradas não foram estatisticamente significativas. A AE não diferenciou estatisticamente os atletas por nível de rendimento. O nível da AE dos atletas de alta competição foi inferior ao dos estudantes. Atendendo a que o instrumento que usámos avalia a AE global assim como o sucesso académico (Bachman & O’Malley, 1986), sugerimos que os elevados níveis de AE poderão advir do facto de os indivíduos que constituem o grupo Geral terem sido recentemente bem sucedidos na admissão ao ensino superior, que poderá ser entendido como um estímulo suficiente para elevar a AE daqueles.

No entanto, podemos verificar que, em geral, os valores da AE encontrados foram elevados para ambos os grupos. Isto pode ser justificado pelo facto de os indivíduos que constituíram a amostra serem todos fisicamente activos. De acordo com vários autores (Melnick & Moorkerjee, 1991; Trujillo, 1983), a prática de uma actividade física permite aumentar os níveis de AE e/ou estar associada a valores elevados desta (Cruz, Machado & Mota, 1996; Gavin, 1992). Os resultados validam o argumento que a actividade física, por si só, é um bom promotor da AE.

Verificou-se, em ambos os grupos, que os sujeitos apresentaram valores superiores na OCOG-prestação comparativamente com a OCOG-resultado. E tal como seria de esperar, foram os atletas de Elite que apresentaram uma prestação superior e uma OCOG-resultado inferior comparativamente aos do grupo Geral. A literatura

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tem descrito uma relação estreita entre a OCOG-prestação e o alto nível de rendimento (Acevedo, Dzewaltowski, Gill & Noble, 1992; Burton, 1989, 1992; Jackson & Roberts, 1992; Martin & Gill, 1991; Vasconcelos-Raposo, 1993, 1994; Weiss & Chaumenton, 1992). Concluímos, então, que relativamente à OCOG, esta diferenciou os atletas por nível de rendimento, tanto na vertente de prestação como na de resultado.

Apesar dos indivíduos do sexo masculino apresentarem níveis de AE inferiores comparativamente com os sujeitos do sexo feminino, essas diferenças não foram estatisticamente significativas.

Os sujeitos do sexo masculino apresentaram valores superiores aos do sexo feminino na resultado e inferiores na OCOG-prestação, embora esta última não se tenha confirmado estatisticamente. De acordo com os resultados obtidos neste estudo é provável que os indivíduos do sexo masculino atribuam maior importância à comparação com os seus adversários do que os do sexo feminino e utilizem este processo para se manterem motivados. Outros estudos realizados chegaram a conclusões semelhantes (Gill, Kelly, Martin & Caruso, 1991; White & Duda, 1994).

Apesar dos especialistas de meio fundo e fundo apresentarem níveis superiores de AE comparativamente aos das disciplinas técnicas, essas diferenças não foram estatisticamente significativas.

Os atletas das disciplinas técnicas apresentaram uma OCOG-prestação superior e uma OCOG-resultado inferior aos de meio fundo e fundo. Isto talvez aconteça por dois motivos. Primeiro porque as recompensas que advêm do sucesso desportivo destes dois tipos de atletas serem diferentes: enquanto os especialistas de meio fundo e fundo realizam semanalmente competições em estrada em que estão em causa prémios de elevado valor monetário, os especialistas das disciplinas técnicas raramente participam em provas em que sejam atribuídos prémios por classificação. A participação deste segundo grupo de atletas visa, principalmente, a melhoria do nível de prestação independentemente da classificação e dos eventuais prémios a receber. Segundo, a própria natureza dos gestos técnicos justifica, em parte, poderem contribuir para a explicação das diferenças encontradas, especialmente se tomarmos em consideração as razões enunciadas para a participação nas competições. Assim, é provável, que nas disciplinas técnicas o sucesso dos praticantes dependa mais da mestria do gesto técnico, tal como promovido pelas características da OCOG- prestação,

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em detrimento da comparação com os adversários (característica da OCOG - resultado).

Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas para as variáveis independentes tempo de prática e de competição desportiva.

Os resultados do nosso estudo confirmaram a proposta teórica que uma orientação cognitiva para a prestação está associada a melhores níveis de rendimento desportivo. Esta constatação emerge das diferenças estatisticamente significativas obtidas nas comparações feitas, que tiveram como variáveis independentes o nível de prestação e a especialidade. Os nossos dados também confirmaram os resultados de Vasconcelos-Raposo (1993), uma vez que os atletas do sexo masculino estão mais orientados para o resultado do que os do sexo feminino. Referências bibliográficas

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