Direito Civil IV – Responsabilidade Civil
Responsabilidade Objetiva e a Teoria do Risco
• Atos ilícitos: são aqueles contrários ao direito,
portanto, antijurídicos, que tem o escopo de transgredir um dever.
• É elemento costumeiramente presente na
caracterização da responsabilidade civil, mas não traduz-se em regra, uma vez que o dever de indenizar pode existir mesmo quando o sujeito age licitamente, por força de norma legal;
• Quanto à culpabilidade, o ato ilícito deve ser
fruto de ação ou omissão culpável, ou seja, dolosa ou culposa;
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Responsabilidade Objetiva e a Teoria do Risco
•O Código Civil de 1916 alicerçava a
responsabilidade civil na idéia de culpa, discriminando-a no artigo 159: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”.
•As hipóteses de responsabilidade objetiva
estavam diluídas em pontos isolados do Código e na legislação esparsa;
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• A idéia de culpa para estabelecimento da
Responsabilidade Civil remonta ao direito francês e pressupunha, além da ação ilícita, do dano e do nexo de causalidade, a busca pelo motivo subjetivo que impulsionou a conduta do agente;
• Passa a destoar do contexto de avanços
tecnológicos experimentados pela sociedade no século XX, sobretudo no aspecto estrutural e bélico; emergência da teoria do risco;
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• A teoria do risco, nas palavras de Venosa, “leva em conta a
potencialidade de causar danos [...] o perigo da atividade do causador do dano por sua natureza e pela natureza dos meios adotados”.
• A teoria do risco e, conseqüentemente, a responsabilidade
objetiva, surgem em abordagens pontuais da legislação brasileira, notadamente na regulamentação de atividades específicas, como a administração de estradas de ferro, acidentes de trabalho, seguro de acidentes de veículos, dentre outros;
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• Teoria do risco administrativo: responsabilidade objetiva do
Estado (art. 37, par. 6º, CF/88);
• Teoria do risco criado: o agente cria o risco, por causa de
outra pessoa ou de uma coisa;
• Teoria do risco da atividade (risco profissional): a atividade
desempenhada cria riscos a terceiros, aos direitos de outrem;
• Teoria do risco-proveito: vislumbrada nas situações em que
o risco é inerente a uma atividade lucrativa, onde o agente tem um proveito do risco criado;
• Teoria do risco integral: não são cabíveis as excludentes de
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• Jurisprudência:
• Dano moral. Instituição bancária. Inclusão errônea do nome
do correntista junto ao cadastro de emitentes de cheques sem fundos. Responsabilização. Teoria do risco profissional. -"Não elide a responsabilidade da instituição bancária pelo ressarcimento dos danos morais oriundos da inclusão errônea do nome do correntista junto ao Cadastro dos Emitentes de Cheques sem Fundos o fato de a falsificação da assinatura emitida na cártula devolvida ser de boa qualidade, impossibilitando a identificação da inautenticidade. A instituição bancária deve arcar com os danos oriundos dos riscos da atividade empreendedora"(TRF - 4.ª R. - 3.ª T. Ap. 97.04.24359-6 - Rel. Paulo Afonso Brum Vaz - j. 11.05.2000).
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• O Código Civil de 2002 regula, de maneira explícita, a responsabilidade civil objetiva e subjetiva, consagrando expressamente a primeira no artigo 927:
• Artigo 927, CC: Aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
• Parágrafo único: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem;
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• Depreende-se a consolidação no ordenamento
jurídico brasileiro da convivência harmônica entre as responsabilidades;
• O parágrafo único do artigo 927 pode ser
decomposto em duas abordagens distintas: a primeira refere-se à especificidade dos casos trazidos pela própria legislação, a quem o Código Civil confere plena legitimidade, dirimindo a abordagem apenas doutrinária ou jurisprudencial;
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Responsabilidade Objetiva e a Teoria do Risco • A segunda, refere-se à consagração da teoria do
risco no direito brasileiro, com a sedimentação de um tipo jurídico aberto, já que o legislador não especifica ou direciona quais sejam os agentes empreendedores de atividade de risco que se enquadram na definição do dispositivo;
• A lacuna, obviamente, cria amplo espectro de ação
ao magistrado, que identificará, no caso concreto, àquele a quem a norma se dirige;
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• Destarte, a constatação e mensuração do risco será determinada pelo livre convencimento do magistrado. Nas palavras de Maria Helena Diniz, o risco pode ser definido como a “possibilidade da ocorrência de um perigo ou sinistro causador de dano ou de prejuízo, suscetível de acarretar responsabilidade civil na sua reparação.”
• A doutrina é pacífica na interpretação de um outro ponto nevrálgico do parágrafo único do artigo 927, qual seja a necessidade de comprovar-se a habitualidade da prática da atividade para constatação da possibilidade de responsabilização;
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• O exercício da atividade potencialmente nociva ou danosa, portanto, deve ser regular, independentemente da ilicitude da conduta, já que sua simples execução pode gerar danos a outrem;
• O entendimento doutrinário dominante é de que aquele que com sua atividade ou meios utilizados, cria um risco, deve suportar o prejuízo que sua conduta acarreta, ainda porque essa atividade de risco lhe proporciona um benefício direto ou indireto; tal proveito é, regra geral, de natureza econômica (risco-proveito);
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• O legislador admitiu ainda a responsabilização objetiva específica em situações de responsabilidade civil indireta, a exemplo do ato de terceiro (art. 932) e
da guarda da coisa ou do animal (arts. 936, 937 e 938);
• Venosa aborda ainda outros desdobramentos do risco, a exemplo do profissional, decorrente do exercício de uma atividade laboral; do excepcional, decorrente do exercício de atividade que acarreta excepcional risco; do criado, decorrente de atividade cujo exercício cria, por si só, um perigo;
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• As ressalvas do artigo 944 do CC:
• A indenização mede-se pela extensão do dano
(caput); se houver excessiva desproporção entre
a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.”
• Para Gagliano e Pamplona Filho é sedimentado
que a indenização somente pode ser medida pela extensão do dano, sob pena do enriquecimento sem causa;
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• Contraditoriamente, o legislador estabelece no parágrafo único, possibilidade de diminuição da indenização devida, se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano;
• Tal prerrogativa cria um conflito aparente com a responsabilidade objetiva, haja vista a possibilidade de o magistrado mensurar o estabelecimento da indenização de acordo com o “teor” da conduta do agente. Portanto, poderia o juiz trabalhar com a possibilidade de redução do quantitativo da indenização se, ainda que a responsabilidade fosse objetiva, não teve o infrator intenção de lesionar, mesmo que o dano seja considerável;
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• O contraponto consiste no fato de que o ato
ilícito pode decorrer inclusive do exercício de atividade de risco ou ainda constar de previsão legislativa específica para responsabilidade objetiva. Nesse sentido, o juiz, para impor a obrigação de indenizar, não necessita investigar a culpa do infrator;
• Não há consenso sobre a aplicação prática