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Primeira valorização do café: Convênio de Taubaté (1906 – 1914)

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CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

MÔNICA FERREIRA LIMA

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PRIMEIRA VALORIZAÇÃO DO CAFÉ: CONVÊNIO DE TAUBATÉ

(1906 – 1914)

Monografia apresentada à UFT – Universidade Federal do Tocantins – Campus Universitário de Palmas para obtenção do título de bacharel, sob orientação do Prof. M.e Fernando Jorge Fonseca Neves.

Palmas – TO 2019

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Dedico este trabalho a minha família e amigos pelo apoio e motivação que deram até aqui. Por sempre estarem comigo e me ensinarem a nunca desistir dos meus sonhos, este trabalho é a prova de que todo sonho pode ser

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Agradeço a Deus por toda força, ânimo e coragem que me ofereceu para ter alcançado meu objetivo.

Agradeço a Universidade Federal do Tocantins, Campus Palmas, pela recepção e pelas condições que me proporcionou em questão de estrutura e apoio.

Agradeço ao Grupo PET-Economia da UFT, este trabalho teve início e fim dentro deste programa que ofereceu no eixo de pesquisa a possibilidade deste trabalho ter sido desenvolvido.

Ao Prof. M.e. Fernando Jorge Fonseca Neves, pela orientação, dedicação e empenho, prestando grande contribuição para que o trabalho pudesse dessa forma auxiliar outros pesquisadores desta área de pesquisa.

Ao Prof. Dr. Célio Antônio Alcântara Silva, que contribui com os dados primários do trabalho e foi orientador no PIVIC nesta mesma área do trabalho, prestando informações valiosas para a realização deste trabalho.

A todos as pessoas que participaram diretas e indiretamente na elaboração deste trabalho familiares, professores do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Tocantins e amigos.

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RESUMO

A Primeira Valorização foi um período da economia brasileira bastante importante para a compreensão do desenvolvimento do país. Devido à queda do açúcar e do algodão foi necessário um produto para prosseguir com o modelo agroexportador, porém, diferente dos outros produtos, o café já tinha uma consolidação mais firme, apesar de iniciar utilizando a mão de obra escrava e logo depois passar para a mão de obra assalariada, o que levou todo um procedimento e articulação. Além disso, uma série de interesses fazem com que ocorra modificações, interesses estes do Grande Capital Cafeeiro tinha maior poder político, acesso a crédito, e já tinha uma especificação maior que não era somente na lavoura de café, apesar de que sua especificação se deveu a constituição da lavoura cafeeira. No caso da Lavoura, esta obtinha sua renda somente da própria produção de café, ficava refém do capital mercantil, que comprava o café e podia revender por preços mais altos, realizando especulação, esta ainda não tinha acesso a crédito fácil como o Grande Capital Cafeeiro. Além disso, a principal preocupação era se o câmbio iria seguir o sistema financeiro da época, o padrão-ouro, isso levou a uma série de debates e fez com que a Caixa de Conversão fosse aprovada mais a frente depois do Plano de Valorização do Café, nos moldes do interesse da elite, que não intenção de desvalorização cambial, mas sim valorização cambial. A diplomacia americana apresenta seu ponto de vista não sendo favorável, sendo a maior consumidora, uma valorização tornaria os preços mais altos, levando o Brasil a oferecer tarifas preferenciais para os EUA para assim o plano ter uma melhor aceitação. O trabalho tem por objetivo entender como se deu este plano de valorização e como era a visão da diplomacia americana, se chegando à conclusão que a visão deles era de pessimismo, principalmente depois de terem a informação que São Paulo empreenderia sozinho o plano e também depois que o Brasil perde parceria com uma casa financeira que oferecia os empréstimos.

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ABSTRACT

The First Appreciation was a period of the Brazilian economy quite important for understanding the development of the country. Accepting the amount of sugar and cotton was needed in one product to run with the agro-export model, but different from other products, or coffee already had a firmer restoration, despite starting to use slave labor and soon after move to a salaried workforce, or that took a whole procedure and articulation. In addition, a number of interests cause changes to occur, the interests of Greater Coffee Capital had greater political power, access to credit, and already had a major change that was not only in coffee farming, although its use was due a constitution of the coffee crop. In the case of Lavoura, it gets its income only from its own coffee production, is recovered in the capital market, which includes coffee or bread retailer for higher prices, realism specification, has not yet had access to easy credit like Big Capital. Coffee tree. In addition, the main concern was the exchange rate following the financial system of the time, the gold standard, leading a series of debates and getting the Conversion Box approved later after the Coffee Appreciation Plan in the United States. molds of interest of the elite, who do not want currency devaluation but exchange appreciation. American diplomacy presents its view that it is not favorable, being the largest consumer, an appreciation of higher prices, leading Brazil to offer preferential prices to the US, so that the plan has a better use. The objective of this paper is to understand how this valuation plan came about and what the vision of American diplomacy was, if it came to a conclusion that was the vision of pessimism, especially after receiving the information that São Paulo undertakes alone and also after Brazil loses. Partner with a financial home that offers the loans.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 8 2 OBJETIVOS ... 10 2.1 Objetivo Geral ... 10 2.2 Objetivos Específicos ... 10 3 METODOLOGIA ... 11

1ª Etapa: Pesquisa Exploratória ... 11

2ª Etapa: Revisão Bibliográfica ... 11

3ª.Etapa: Pesquisa Documental ... 11

4ª. Etapa; Tradução, leitura e análise documental ... 12

4 O MODELO AGROEXPORTADOR E CICLO DO CAFÉ ... 13

4.1 Economia Brasileira na Metade do Séc. XIX: impasses e opções ... 14

4.1.1 Possibilidade de crescimento com base nas exportações tradicionais ... 15

4.1.2 Mudanças no Nível da Economia Regional: decadência do Nordeste e ascensão do Sudeste ... 17

4.1.3 Considerações sobre a economia brasileira de meados do séc. XIX ... 19

4.2 Gestação da Economia Cafeeira no Terceiro Quarto do Séc. XIX ... 19

4.2.1 Necessidade de novos produtos de exportação com dinamismo no mercado internacional ... 19

4.2.2 Deslocamento geográfico do centro dinâmico da economia brasileira ... 22

4.2.3 O surgimento de uma classe empresarial de novo tipo ... 25

4.2.4 Considerações sobre a gestação da economia cafeeira ... 27

4.3 Desafios ao Estabelecimento da Economia Cafeeira: problema da mão-de obra e a criação de uma economia capitalista ... 28

4.3.1 Situação da força de trabalho pela metade do séc. XIX ... 28

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5 ECONOMIA CAFEEIRA BASEADOS NO TRABALHO ASSALARIADO: um

regime específico de acumulação de capital ... 39

5.1 Equilíbrio Externo e Sistema Monetário Internacional de Padrão-ouro ... 39

5.1.1 O padrão-ouro clássico ... 39

5.1.2 Fragilidades do padrão-ouro... 41

5.2 Padrão-ouro e Economias Primário-exportadoras sob Regime de Escravidão ... 44

5.3 Economia Cafeeira Baseada no Trabalho Assalariado: efeito multiplicador sobre o mercado interno ... 46

5.3.1 Impossibilidade de adaptação às regras do padrão-ouro ... 47

5.4 Considerações sobre a Economia Cafeeira Baseada no Trabalho Assalariado ... 49

6. PROBLEMÁTICA SUBJACENTE AOS CICLOS DO CAFÉ E A QUESTÃO DA ECONOMIA POLÍTICA BRASILEIRA DE INÍCIOS DO SÉCULO XX ... 50

6.1 Características dos Dois Primeiros Ciclos Identificados por Delfim Netto: relações entre preços internacionais do café, taxa de câmbio, e preços domésticos ... 51

6.2 Mudança Qualitativa do Terceiro Ciclo e a Questão da Superprodução: reduções nos preços internacionais deixam de induzir movimentos no mesmo sentido nos preços nacionais ... 52

6.3 Crises de Superprodução de Café e Economia Política de Inícios do séc. XX ... 56

6.3.1 Posições liberais ... 56

6.3.2 Posições Intervencionistas... 58

6.4 A Solução Intervencionista: o Convênio de Taubaté ... 62

6.5 Considerações sobre economia política brasileira de inícios do século XX ... 65

7. INCURSO SOBRE A QUESTÃO DO ESQUEMA DE VALORIZAÇÃO DO CAFÉ ATRAVÉS DE CORRESPONDÊNCIAS DIPLOMÁTICAS AMERICANAS DE 1906 67 7.1 Primeiros Apontamentos sobre a Questão da Valorização do Café: incredulidade por parte da diplomacia norte-americana e de agentes públicos brasileiros ... 67

7.1.1 Lei Orçamentária de 30 de dezembro de 1905 deixa estados cafeicultores com receio de eventuais compromissos financeiros no sentido da valorização do café ... 67

7.1.2 Governo de São Paulo parece decidido a levar a cabo o esquema, ainda que demais estados hesitem ... 71

7.1.3 Tradicional parceira para financiamento, a Casa Rothschild, de Londres, também se mostra incrédula relativamente ao projeto de valorização ... 72

7.1.4 Convenção de Taubaté: os três estados cafeicultores concordam com o esquema de valorização e assumem o compromisso em obter empréstimos em até 15 milhões de libras ... 73

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7.1.4.2 Presidente da República considera a Caixa de Conversão um desvio em relação à

ideia original do projeto e se coloca em desacordo ... 76

7.1.4.3 Artigo da “Brazilian Review” considera que Congresso Nacional seria favorável à aprovação do plano do acordo ... 78

7.1.4.4 Até meio do ano de 1906, em julho, a diplomacia americana reitera seu pessimismo com relação ao esquema de valorização ... 80

1.5 Considerações sobre a incredulidade e receios em torno da política de valorização: Caixa de Conversão, câmbio, política monetária e risco financeiro ... 81

7.2 Tarifas Preferenciais Brasileiras sobre Produtos Norte-americanos como Condição para Aceitação do Plano de Valorização do Café ... 82

7.2.1 De hesitações iniciais à publicação do Decreto Presidencial que coloca em prática uma tarifa preferencial de 20% sobre uma lista de produtos importados dos EUA ... 82

7.2.2 Deliberações sobre instruções a serem passadas pelo Departamento de Estado à Embaixada Americana no Brasil em torno da decisão sobre redução tarifária brasileira a produtos norte-americanos ... 85

7.2.2.1 Expectativa do Departamento de Estado era mais otimista com relação à renovação da lista de produtos importados pelo Brasil dos EUA sob tarifas preferenciais ... 86

7.2.2.2 Departamento de Estado considera que uma elevação das tarifas gerais sobre importações brasileiras aumentariam o efeito da tarifa preferencial de 20% sobre importações norte-americanas ... 86

2.3 Considerações sobre as tarifas preferenciais brasileiras sobre produtos norte-americanos como condição para aceitação do plano de valorização do café ... 87

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 88

REFERÊNCIAS ... 90

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1 INTRODUÇÃO

Para se entender o contexto da economia cafeeira é necessário compreender, antes, o modelo primário-exportador no qual o Brasil era inserido. O país segue um modelo de especificação de produção em um único produto de exportação, depositando todo o seu dinamismo econômico nas circunstâncias de variação de seus preços internacionais (FURTADO, 2005).

Assim, com acréscimos nos preços internacionais, gerados pela justaposição entre condições mundiais desfavoráveis de produção do café e um momento cíclico de prosperidade dos principais países consumidores, monta-se o estímulo para a expansão das plantações cafeeiras. Nas circunstâncias opostas, de superacumulação de plantios de café e redução na procura dos principais países consumidores, os preços internacionais do produto caem, desencadeando um período recessivo para a economia primário-exportadora (NETTO, 2009).

Os períodos recessivos não se manifestavam, apenas, na forma de uma destruição das condições financeiras de sustentação das lavouras, mas, numa recessão generalizada, pois, a perda de reservas cambiais impunha, no contexto do sistema monetário internacional de padrão-ouro, políticas monetárias recessivas, afetando todo o setor de mercado interno e a própria capacidade de arrecadação do Governo (FURTADO, 2005; MONTAGNER, 2011). À medida que estas circunstâncias se agravavam, o peso político pendia para a defesa da intervenção, de modo a salvar a lavoura cafeeira.

A primeira valorização da produção cafeeira passa por uma série de momentos importantes no estado de São Paulo, principal cafeicultor nacional, e em todo o Brasil, dada a importância do café para toda a economia nacional. Assim, surge o Tratado de Taubaté, um acordo entre os principais estados cafeicultores – São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais -, que conseguiu solucionar, até 1914, os problemas de superprodução originados em 1906. O tratado tinha o tríplice objetivo de valorizar o principal produto de exportação brasileira, promover a circulação de ouro, e, por fim, promover a fixação de uma taxa cambial (Projeto Nº 1 da Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo, de 1906).

O trabalho tem por objeto a descrição e a análise de um conjunto de correspondências trocadas entre agentes da diplomacia norte-americana no ano de 1906, principalmente, entre agentes do Departamento de Estado norte-americano e a Embaixada norte-americana no Brasil, notadamente interessados nos destinos do esquema de valorização então proposto pelo Tratado de Taubaté.

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O trabalho se inicia com uma exposição do modelo primário-exportador para mostrar as circunstâncias como toda a economia brasileira se encontrava dependente de condições externas, que o país não podia controlar: os preços internacionais de seu, então, principal produto de exportação, o café. Procura-se discutir as diferenças entre o dinamismo econômico primário-exportador de mão de obra para o dinamismo de mão de obra assalariada, e como essa diferença modifica a capacidade de cumprir os atributos do sistema monetário internacional de padrão-ouro.

Nas correspondências da diplomacia norte-americana de 1906, fica patente a preocupação, compartilhada com vários agentes brasileiros de tendência política conservadora, com o esquema de valorização proposto. Durante todo o ano de 1906, acompanharam as circunstâncias políticas brasileiras em torno da política de valorização, com a esperança de que o esquema fosse negado pelas instâncias de decisão política brasileira.

A política de valorização encontra dois momentos distintos: o primeiro momento consistia da eliminação do café excedente do mercado internacional de modo a controlar a oferta em torno de um preço fixo. O segundo momento consistia em vender o café estocado logo que houvesse recuperação dos preços internacionais, de modo a recuperar o dinheiro adiantado no momento anterior e gerar retorno financeiro ao aplicador. A dificuldade estava na reunião dos recursos financeiros a serem aplicados no primeiro momento, e os riscos que isso oferecia ao aplicador, dada a incerteza do retorno.

Entre um momento e outro, o esforço financeiro, sob controle monetário de padrão-ouro, envolvia importantes preocupações cambiais e, por isso, resistência política. Apesar da trama que se desenvolve ao longo de todo o ano de 1906, encontrou-se uma solução, e o esquema de valorização foi adotado. Seu bom funcionamento dependeria da disposição em apoiar o esquema por parte dos Estados Unidos, pois, sua operacionalização passava por operações de valorização em solo americano. Por isso, seria promovida uma medida de tarifas preferenciais sobre importações brasileiras a favor de um conjunto de produtos norte-americanos.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Descrever e analisar as correspondências trocadas entre agentes da diplomacia norte-americana no ano de 1906 a respeito do plano de valorização do café brasileiro, considerando os condicionantes econômicos e políticos do Brasil que se articulavam quando do processo da primeira intervenção do Estado na produção cafeeira.

2.2 Objetivos Específicos

 Estudar as circunstâncias econômicas brasileiras do período primário-exportador após o advento da economia de mão de obra assalariada;

 Compreender as determinações macroeconômicas do sistema monetário internacional de padrão-ouro no contexto de economias primário-exportadoras de trabalho assalariado;

 Analisar a resistência da diplomacia norte-americana com o esquema de valorização do café brasileiro.

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3 METODOLOGIA

De acordo com Gil (2008) o método cientifico é definido como um conjunto de procedimento intelectuais e técnicos aderidos para se alcançar determinado conhecimento. Nesta pesquisa, utilizou-se de técnicas qualitativas com pesquisa exploratória, revisão bibliográfica e pesquisa documental, divididos em quatro etapas descritas abaixo.

1ª Etapa: Pesquisa Exploratória

A pesquisa exploratória tem por objetivo proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato. Constitui o primeiro passo de uma investigação mais ampla. Quando o tema escolhido é ainda bastante genérico, sendo necessário a delimitação, exige-se revisão da literatura (GIL, 2008). Marconi e Lakatos (2003) definem investigação para estudo empírico com o objetivo de formular questões para um problema a partir de três objetivos: desenvolver hipóteses, aumentar a afinidade do pesquisador com o fenômeno a ser investigado, de modo a realizar uma pesquisa futura mais precisa ou modificar conceitos.

O trabalho se iniciou no 2º período do curso, na atividade de pesquisa individual do grupo PET-Economia, partindo de uma abordagem mais ampla da economia brasileira depois para a Primeira Valorização do Café.

2ª Etapa: Revisão Bibliográfica

A revisão bibliográfica tem a vantagem de permitir a investigação de uma ampla gama de fenômenos. Nesta etapa, utilizou-se livros, artigos, dissertações e teses, de economia brasileira após a independência do Brasil e o estudo de outros ciclos primário-exportadores além do ciclo do café. As referências foram selecionadas em estudos que abordam a questão da mão de obra, o cenário internacional, política nacional e questões sociais, sobre a intervenção na produção cafeeira.

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podem ser reelaborados de acordo com os objetivos que a pesquisa visa cumprir. O segundo são as contribuições de vários autores sobre o mesmo tema (GIL, 2008).

Nesta etapa foram selecionadas de fontes primárias para leitura e posterior análise. Os dados foram encontrados no Arquivo Edgard Leuenroth, que consiste de Documentos Diplomáticos do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América, disponível na UNICAMP-SP, coletados pelo Prof.º Dr. Célio Antônio Alcântara Silva. O Documento do Convênio de Taubaté: Projeto Nº 1, da Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo, aceito na câmara no dia 16 de maio de 1906 encontra-se no site do governo de São Paulo, disponível em:

<http://www.al.sp.gov.br/repositorioAH/Acervo/Alesp/Republica/C_260C/0001_1906.pdf>

4ª. Etapa: Tradução, leitura e análise documental

Nesta etapa realizou-se a tradução e análise dos documentos americanos, confrontando-os com a visão dos autores usados nos referenciais apresentados no decorrer do trabalho. Entre os micro filmes MR0082 e MR0123, foi utilizado apenas o primeiro, que trata das correspondências de 1906. As datas que vêm no nome de cada arquivo referem-se à data da primeira correspondência. No entanto, cada arquivo possui uma sequência de correspondências cujas datas seguem certa ordem.

Para facilitar a análise, todas as correspondências foram ordenadas por sequência temporal, de modo a melhor acompanhar e comparar com os acontecimentos nacionais.

Uma dificuldade encontrada decorre de documentos em mau estado de conservação, semiapagadas, que exigiram maior esforço de tradução. Os que se encontravam neste estado, quando manuscritas, não foi possível traduzir.

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Este estudo constitui a primeira parte da análise dos microfilmes sobre as correspondências da diplomacia norte-americana. Contém apenas as correspondências do ano de 1906. Deverá ser completado, portanto, com os restantes microfilmes, que vão tratar da sequência do plano de valorização até próximo à década de 1920, trazendo um entendimento mais amplo do problema. Apesar de se utilizar no título de 1906-1914, se aborda somente os documentos de 1906, se utiliza essa linha temporal pelo fato de a Primeira Valorização do Café acontecer neste período e também, a pesquisa pretende avançar, analisando os dados do micro filme MR0123.

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4 O MODELO AGROEXPORTADOR E CICLO DO CAFÉ

4.1 Economia Brasileira na Metade do Séc. XIX: impasses e opções

Na metade do séc. XIX, ocorria no Brasil uma série de transformações cuja caraterística dominante era a decadência ou a estagnação. As novas técnicas criadas pela Revolução Industrial entraram no país de forma escassa, e quando o fizeram, foi na forma de bens e serviços de consumo, sem afetar a estrutura do sistema produtivo. Além disso, o problema nacional básico era o da escassez de mão de obra, pois, com o fim do tráfico negreiro, tornara-se difícil expandir a força de trabalho do país. (FURTADO, 2005). Caio Prado (1970) aponta que, neste século, ocorre uma revolução que vai se organizar em torno de novas atividades produtivas, que podem ser observadas já no começo, mas só vão se desenrolar na sua segunda parte.

Como o Brasil não tinha técnicas próprias e ainda não havia formado capitais que pudessem ser desviados para novas atividades, sua única saída no decorrer deste século seria o reingresso na expansão do comércio internacional (FURTADO, 2005). O país apresentava dificuldades em aperfeiçoar suas técnicas de produção, pois, sempre seguia o sistema de produção extensiva na agricultura, que exigia inversões vultuosas de capital e trabalho. O problema deste tipo de produção era justamente a degradação do solo que fazia que as terras antigas fossem substituídas por novas terras férteis e produtivas (PRADO, 1970). Além disso, as técnicas não eram aperfeiçoadas por um ser uma característica da colonização, em Portugal se apresentava essa mesma dificuldade em aperfeiçoamento de técnicas produtivas, desta forma sendo repassado para a colônia (FURTADO, 2005).

Outro problema era que não se podia educar a população ou os colonos de modo a aperfeiçoar suas técnicas de produção. Era custoso e seria ainda mais oneroso se modificasse o sistema, pois, exigiria reformas profundas, tanto econômicas quanto sociais1.

Segundo Furtado (2005), forjar um desenvolvimento com base no Mercado Interno ou no Capital Estrangeiro só seria possível se o organismo econômico conseguisse alcançar algum grau de complexidade, que tenha por característica uma relativa autonomia tecnológica.

1 Op. Cit.

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Para tirar essa dependência do setor exportador seria necessário investimentos em industrias e serviços localizados na zona urbana, mas, não havia indícios de que a urbanização tenha se acelerado no país nesse período. Também não poderia contar com capitais de fora, pois, a economia nacional se encontrava em fase de estagnação e, portanto, incapaz de atraí-los. Os poucos empréstimos que foram contraídos não alcançaram os objetivos almejados e agravaram a situação fiscal. As exportações se encontravam estagnadas e o se encontrava impossibilidade de aumentar impostos sobre importações. O serviço da dívida externa iria trazer sérias dificuldades fiscais, contribuindo para reduzir o crédito público2.

Neste período em questão, os custos das campanhas contrarrevolucionárias nas décadas de 1820 a 1940 que ocorriam no Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul3, foram arcadas por empréstimos obtidos pelo governo brasileiro, e atingiram £ 4,8 milhões. Assim se o Brasil pretendia atrair capitais, os investidores privados estrangeiros viam de forma negativa as guerras civis, impactando diretamente nas suas decisões de investimentos no país, o que anularia o investimento estrangeiro direto no período (FENDT, 1977).

Para que um país pudesse atrair capitais externos no séc. XIX seria necessário apresentar projetos atrativos. No caso do Brasil, com uma economia estagnada, suas chances de conseguir esses recursos eram baixas. Portanto, para poder contar com o apoio do capital estrangeiro, o país deveria, primeiro, retomar o crescimento com os meios que tinha disponíveis (FURTADO, 2005).

4.1.1 Possibilidade de crescimento com base nas exportações tradicionais

A possibilidade de que as exportações de produtos tradicionais pudessem se recuperar na metade do século XIX eram baixas, pois, ocorria uma tendência declinante nos seus preços. O mercado do açúcar que, até então, era o principal produto exportado, ganhou um concorrente que era o açúcar da beterraba, desenvolvido no continente europeu durante as guerras napoleônicas (FURTADO, 2005).

2 Op. Cit.

3 Pará e Maranhão: Revolta de Beckmann, devido a privilégios que companhias inglesas e holandesas tinham,

quando o Pará e Maranhão estabelecem a companhia tendo os mesmos privilégios, isso provoca uma revolta (PRADO, 1970).

Pernambuco: Revolta de guarnições militares, estes grupos saquearam a cidade, isso se percebeu por outros anos (FURTADO, 2005).

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O mercado inglês era abastecido pelo açúcar das colônias antilhanas e os EUA, mercado importador em mais rápida expansão, desenvolvia de forma ampla a produção açucareira da Luisiana. Além disso, surge no mercado do açúcar um novo supridor, com fretes bem baixos para os EUA: Cuba, que abriu seus portos ainda na condição de Colônia espanhola. Era o principal supridor do mercado norte-americano4.

Além disso, o açúcar de cana sofreu pesada taxação pelos principais importadores, e para compensar, os governos ofereciam prêmios aos produtores. A concorrência foi assídua, se chegou a ter acordos internacionais em matéria de produção econômica, mas estes mesmos acordos nunca chegaram a ser regularmente cumpridos. As colônias ainda conseguiram obter certas regalias nos mercados de suas respectivas metrópoles (PRADO, 1970).

No caso brasileiro, em meados do século XIX o país se encontrara em quinto lugar entre os produtores mundiais de açúcar, com menos de 8% da sua produção total. O declínio absoluto se daria em fins do século5.

O ciclo do ouro vai constituir um sistema relativamente integrado, cabendo a Portugal a posição secundária de simples entreposto, isso devido a maior parte do ouro ir para Inglaterra, por meio do Tratado de Methuer, no qual Portugal tinha privilégios na venda de vinhos no mercado inglês mas, quando a Inglaterra passa a ser a grande abertura dos mercados europeus a economia do ouro entra em decadência e não compensa mais para a metrópole seguir com o acordo. Ao Brasil o ouro possibilitou financiar uma grande expansão demográfica, que acabou trazendo consigo alterações fundamentais à estrutura da sua população. No último quartel do século XVIII, ocorreu a decadência da mineração do ouro no país (FURTADO, 2005).

O caso do algodão, segundo produto no ranking das exportações no começo do séc. XIX, era pior que o do açúcar. A produção de algodão dos EUA, integrada aos interesses da indústria têxtil inglesa, se beneficiava do rápido crescimento da procura, e com fretes relativamente baixos, utilização de mão de obra escrava, e grande disponibilidade de terras, consegue dominar o mercado mundial. Com a produção de algodão em grande escala nos EUA e sua transformação na principal matéria-prima do comércio mundial, ocorre uma redução nos seus preços a menos da terça parte, permanecendo nesse nível. Com estes preços a rentabilidade deste negócio no Brasil era extremamente baixa. Seria necessária a Guerra da Secessão e a exclusão temporária do algodão norte-americano do mercado mundial para que o

4 Op. Cit.

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Brasil pudesse passar por uma etapa de prosperidade deste artigo no séc. XIX (FURTADO, 2005).

Finalmente, o fumo, os couros, o arroz e o cacau eram produtos menores, cujos mercados não admitiam grandes possibilidades de expansão. No mercado de couros, pesava cada vez mais a produção do Rio de Prata, e no do arroz, a norte-americana passava por fundamentais transformações nos métodos de cultivo. O fumo perdera o mercado africano com a eliminação do tráfico de escravos, sendo necessário conduzir o produto para outras regiões. O cacau, cujo uso começava a vulgarizar-se, constituía somente uma esperança6.

Assim o problema brasileiro consistia em encontrar um produto de exportação em que o fator básico fosse o uso da terra, que era o fator de produção abundante no país. A disponibilidade de capital era praticamente nula e a mão de obra era basicamente formada por um estoque de pouco mais de dois milhões de escravos do qual parte permanecia imobilizada na indústria açucareira ou prestando serviços domésticos7.

4.1.2 Mudanças no Nível da Economia Regional: decadência do Nordeste e ascensão do Sudeste

O renascimento agrícola no sec. XVIII é impulsionado com a abertura dos portos, sobretudo nas regiões antigas do Nordeste, que se estendem do Maranhão à Bahia. Estas regiões voltam a ocupar a posição dominante perdida no passado devido ao ciclo da mineração (PRADO, 1970).

Este novo surto da região Nordeste, no entanto, não dura muito, pois, na primeira metade do séc. XIX, o Sudeste tomou a dianteira nas atividades econômicas do Brasil. O Nordeste, na segunda metade do séc. XIX, vai se encontrar decadente e estacionário, e o Sudeste vai estar em pleno desenvolvimento8.

A explicação para esta inversão é a decadência das lavouras tradicionais naquele primeiro setor, o que não acontece no Sudeste onde o café começa a predominar associado a grande disponibilidade de terras novas. Não seria apenas o esgotamento das terras de ocupação antiga do Nordeste a prejudicar aquela região, mas também a conjuntura internacional deixaria de lhe ser especialmente favorável, em virtude da concorrência que sofreu no caso da cana de açúcar. A região Nordeste do país, sofre portanto, não só com a

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concorrência externa associado aos produtos de expansão tradicionais, mas também com a concorrência interna, já que a região Sudeste tinha abundância de novas terras novas e férteis que induziram ao deslocamento de populações para povoamento e a estabelecimento de novas atividades que se mostrassem mais rentáveis. Consequentemente, a disputa por mão de obra sob circunstâncias de terras esgotadas por uso extensivo e atividades de mercado também esgotadas pela concorrência internacional impunham um custo de mão de obra que inviabilizaria sua capacidade de expansão, levando a seu retrocesso9.

Enquanto os mercados internos locais se dinamizavam no Sudeste, outra questão que deve ser levada em consideração era que agentes coloniais executava leis que reduziram grande parte da população camponesa livre do Nordeste oriental à condição de despossuídos de terras e cativos. Esta intervenção do Estado português expropriou a população camponesa pobre e livre do acesso às terras devolutas que eram destinadas à produção de tabaco e algodão, ficando sujeitos a serem simples agregados e moradores de grandes unidades escravistas (COSTA, 2019).

Outras produções clássicas do Nordeste sofrerão igualmente: o algodão, que antes estava entre os grandes fornecimentos mundiais, será deslocado do comércio internacional pela produção norte-americana e oriental; e o tabaco perde mercado com as restrições impostas ao tráfico africano. O fim do tráfico, em 1850, agravou mais ainda a situação do Nordeste, que já estava abalada pela conjuntura internacional. Agora perdia também a mão de obra fácil e relativamente barata. A região Sudeste seria menos atingida, pois se encontrava em fase de crescimento e conseguia se refazer mais rapidamente (PRADO, 1970).

Com a pratica de atividades mais lucrativas, o Sudeste resolveu seu problema de mão de obra importando escravos da região Nordeste, como também recorreu à imigração europeia. A região Nordeste não podia se beneficiar desta imigração devido às suas condições econômicas e o clima acentuadamente tropical pouco era atrativo10. Apesar do declínio do sistema econômico da região Nordeste, pode ser ressaltado que, o mesmo foi capaz ainda de produzir incrementos demográficos de forma significativa (COSTA, 2019).

Mas o que sobretudo favoreceu o Sudeste em contraste com o Nordeste é que nele se aclimatou admiravelmente a cultura de um gênero que se tornaria no correr do século XIX de particular importância comercial: o café (PRADO, 1970).

A extensa disponibilidade de terras ocasionada pelo crescimento das estradas de ferro, bem como a grande disponibilidade de mão de obra gerada pela maciça imigração,

9 Op. Cit. 10 Op. Cit.

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foram condições favoráveis que levaram à acumulação e superprodução cafeeira (MELLO, 1982).

4.1.3 Considerações sobre a economia brasileira de meados do séc. XIX

De uma posição muito modesta nos primeiros anos do séc. XIX, destinado ao consumo interno de fazendas, o café vai ganhar importância com a sua introdução no mercado internacional. A libertação do mercado norte-americano em 1786 iria modificar a geopolítica do comércio do café, quando os EUA emergiriam como grande consumidor, e o Brasil, seu grande fornecedor.

As primeiras plantações importantes de café tiveram origem no Rio de Janeiro. Mas, à medida que o mercado internacional exigia, a produção expandia-se para o litoral-sul até encontrar no Estado de São Paulo condições excepcionais para seu cultivo. É a partir da expansão da produção no Estado de São Paulo que a cultura do café vai se tornar o ponto de inflexão da formação econômica do Brasil.

Junto com a produção do café, uma mudança fundamental ocorre: vai surgir uma classe de empresários nacionais que, além dos desígnios da produção, vão se preocupar com a comercialização e financiamento, tanto da produção, quanto da circulação do produto. Surge, com o café, um capital mercantil eminentemente nacional, o que mudaria o rumo de como os empresários nacionais se relacionavam com o processo de exportação e com a política. Disso, também, determina o jogo em torno do esquema de valorização do café em inícios do séc. XX. Considerado que o café segue o mesmo modelo agroexportador de anteriores, se considera que ele tem um efeito minimizador, no sentido de possibilitar a dinamização interna da economia, promovendo renda.

4.2 Gestação da Economia Cafeeira no Terceiro Quarto do Séc. XIX

4.2.1 Necessidade de novos produtos de exportação com dinamismo no mercado internacional

(24)

relevante, não tinha expressão no balanço de pagamentos (PRADO, 1970). Em sua obra, Taunay (1939), cita que os primeiros grãos de café vieram de Caiena, na Guiana Francesa para o Pará, trazidos por Palheta que fez os transportes dos grãos em uma expedição onde João da Maria da Gama lhe deu instruções para que houvesse esforço em conseguir os grão de café e leva-los até Belém. João Maria da Gama, portanto, inspirou Palheta a introduzir o café no Brasil, trazendo com ele cinco mudas vivas e cerca de mil sementes.

Ainda que o café, ao tornar-se um alimento de luxo nos países do Ocidente, tenha estimulado a cultura nas colônias tropicais da América e Ásia, o Brasil só entraria muito tarde para a lista de grandes produtores. Em princípios do século XIX, ainda ocupara uma posição muito modesta. A explicação é que pelo destaque da mineração no século XVIII, a agricultura acabou ficando de lado, e o café era uma cultura, ainda, relativamente nova (PRADO, 1970).

Além das boas condições de produção do café, tanto em clima como em questão do solo, era um produto que estava ganhando importância no cenário internacional. Com a libertação do mercado norte-americano em 1786, quando as colônias inglesas da América do Norte, separam-se da metrópole, inauguram uma política econômica própria e independente dos interesses ingleses e europeus em geral11.

Até então os grandes produtores de café foram as Índias Ocidentais que se encontravam sob o domínio direto ou indireto da Inglaterra, e a Insulásia, em particular, Java e Sumatra, colônias neerlandesas. Portanto, os principais centros que tinham o controle do comércio internacional do café, Londres e Amsterdam, davam caminho para o surgimento de um novo ator global: os EUA12.

Na metade do Séc. XIX, o café já predominava no Brasil, produto cujas características de produção correspondiam às condições do país. Embora presente no país desde começos do séc. XVIII, era cultivada para fins de consumo local. Só ganharia notabilidade no fim do séc. XIX, quando ocorreria uma alta de preços devido a desorganização do até então grande produtor que era a colônia francesa do Haiti (FURTADO, 2005).

Inicialmente a produção se concentra na região montanhosa do Rio de Janeiro, por ter disponibilidade de recursos: ficava ainda próxima da capital do país, e, nas proximidades da região, existia mão de obra abundante devido a decadência da economia mineira13.

A elevação dos preços no último decênio do séc. XVIII determinaria a expansão da produção em várias partes da América e da Ásia. A expansão se sucedeu devido a um período

11 Op. Cit. 12 Op. Cit. 13 Op. Cit.

(25)

de preços mundiais declinantes de produto, que se estenderia pelos anos trinta e quarenta. Mas, ao contrário dos produtores da Ásia e do restante das américas, a baixa de preços não desencorajaria o produtor brasileiro, que encontrou no café a possibilidade de utilizar recursos semi-ociosos desde a decadência da mineração. A quantidade de café exportado mais que quintuplicou entre 1821-30 e 1841-50, mesmo tendo os preços médios reduzido em cerca de 40% durante todo este período14.

O decorrer do segundo, mas principalmente, o terceiro quartel do séc. XIX, constituem a fase de gestação da economia cafeeira. O uso de mão de obra escrava faziam-na assemelhar-se à produção açucareira. Mas apreassemelhar-senta um grau de capitalização bem mais baixo que a açucareira, pois, tem como base, quase que exclusivamente, o fator terra15.

Mello (1991), cita que a economia cafeeira surge como latifúndio escravista. Latifúndio, não só pelo fato de existir uma determinada repartição de terras prévia a sua formação. Surge como latifúndio principalmente porque, definindo sua produção como cada vez em massa e os preços dos recursos produtivos, as margens de lucros eram reduzidas, impondo uma escala mínima de produção lucrativa, funcionando desta forma como barreira a entrada. E como latifúndio escravista não só pela disponibilidade de escravos, mas, principalmente, tendo em vista a demanda externa e o investimento que era exigido, o trabalho escravo, era mais rentável, devido a superexploração.

O capital cafeeiro se imobiliza numa cultura permanente cujas necessidades monetárias de reposição são muito menores, pois, os equipamentos são mais simples e, quase sempre, de fabricação local. Seus custos monetários ainda são bem menores do que o da empresa açucareira, também baseada no trabalho escravo. Somente uma alta nos preços da mão de obra poderia interromper seu crescimento, no caso de haver abundância de terras (FURTADO, 2005).

No terceiro quartel do séc. XIX, os preços do café se recuperam de forma ampla, devido a um estoque de mão de obra subutilizada da economia de mineração, o que levou a recuperação dos preços, além disso, a desorganização da colônia francesa do Haiti ocasiona uma alta nos preços, enquanto os do açúcar permaneciam deprimidos, criando uma pressão no sentido de transferência de mão de obra do Nordeste para o Sudeste do país. Além disso, na sua primeira etapa, a economia cafeeira dispôs do estoque de mão de obra escrava

(26)

subutilizada da região da antiga mineração, e isso explica que seu desenvolvimento tenha sido tão intenso, não obstante a tendência pouco favorável dos preços16.

No primeiro decênio do séc. XIX, a produção cafeeira já contribuía com 18% do valor das exportações do Brasil, se colocando em 3º lugar, depois do açúcar e do algodão. Nos decênios seguintes passa a primeiro lugar, representando mais de 40% do valor das exportações. Todo aumento do valor das exportações brasileiras, no decorrer da primeira metade do séc. XIX deve-se, exatamente, ao café17.

Os Estados Unidos, que já eram grandes consumidores de café, se voltaram para regiões livres da dominação britânica. O Brasil era favorecido em posição geográfica, e encontrava nos EUA seu principal mercado, quando o café se tornou, em meados do século, seu grande artigo de exportação, e os EUA absorviam 50% da produção (PRADO, 1970).

Embora os dados sobre as primeiras exportações de café não sejam muito seguros, alguns deles dão uma ideia da rapidez com que se desenvolveu a produção: o Rio de Janeiro, será, durante três quartos de século, o principal produtor. Em 1779, a exportação seria de 79 arrobas; em 1796, de 8.495 arrobas; e em 1806, chega a 82.24518.

No Sudeste, o café podia contar com grandes reservas de terras virgens e inexploradas, com solos produtivos, clima favorável, com temperaturas amenas e pluviosidade bem distribuída. Porém, na região Nordeste, a produção era pequena: Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia19.

4.2.2 Deslocamento geográfico do centro dinâmico da economia brasileira

O café tem seu ponto de partida na vizinhança próxima do litoral. As primeiras plantações se fazem nas montanhas que circulam o Rio de Janeiro, estendendo por seus vales (PRADO, 1970). O percursor do café no Rio de Janeiro seria João Alberto de Castelo Branco, trazendo as primeiras mudas de café em 1760. Trouxe cafeeiros pequenos do Maranhão e efetuou a plantação em sua horta (TAUNAY, 1939).

As plantações alongavam-se pela serra que acompanha o litoral e chega próximo do mar. Conforme se estendiam as plantações pelas as terras do Rio de Janeiro, ocupavam as encostas na altura de Angra- dos- Reis e Parati, chegando à região de São Paulo, em Ubatuba,

16 Op. Cit.

17 Op. Cit. 18 Op. Cit. 19 Op. Cit.

(27)

Caraguatatuba e São Sebastião. Esta faixa costeira, já no início do século passado, tornou-se uma importante zona produtora (PRADO, 1970).

Apesar do progresso do café em relação a outros gêneros, de início, encontrou dificuldades para se estabelecer: era uma planta delicada, com limites de temperatura para desenvolver-se (entre 5º e 33º), e requeria chuvas regulares e bem distribuídas, sendo ainda rigoroso com a qualidade do solo. Era uma planta permanente que precisava passar por todas as estações do ano, diferentemente do açúcar ou algodão. Esta planta só começava a gerar produto após 4 a 5 anos, exigindo um investimento de longo prazo para gerar resultados20.

Emília Viotti (1998), cita que nas zonas cafeeiras havia redução de áreas dedicadas aos gêneros de primeira necessidade, se preferindo importa-los de outras regiões, para dessa forma se dedicar somente a plantação de café. O café oferecia maior margem de lucro, exigindo menos capital, os cuidados eram mais simples e estava menos sujeito a danos devido ao mau estado das vias de comunicação do que o açúcar.

Neste período, o grande cenário da lavoura cafeeira no Brasil é o Vale do Paraíba. Com condições de produções ideias, uma altitude que oscila entre 300 e 900 metros mantendo a temperatura, tendo uma latitude tropical, dentro dos limites adequados para a planta. A região é acidentada e possui encostas que podem protegê-la do vento. O Vale do Paraíba se tornou um centro concentrador de grandes lavouras e de população21.

Em meados do século XIX, se reúne ali a maior parcela de riqueza brasileira. Subindo pelo rio, os cafezais ocupavam, largamente, a parte oriental da província de São Paulo, e também tomavam uma vertente setentrional, se estendendo pela fronteira da região mineira (PRADO, 1970). Com a grande disponibilidade de escravos, disponibilidade de terras e preços lucrativos, esses requisitos não era problema para a acumulação cafeeira, na região do Vale do Paraíba, tem ainda a proximidade dos portos implicando em baixos custos (SILVA, 1992).

Até o terceiro quartel do séc. XIX, toda esta área que abrange a bacia do Paraíba e regiões próximas será o centro por excelência da produção cafeeira no Brasil, com base no Rio de Janeiro, tendo infraestrutura comercial, mas, logo viria seu declínio (PRADO, 1970).

A causa é sempre semelhante: o acelerado esgotamento das reservas naturais por um sistema de exploração descuidado e extensivo. Isto será particularmente sensível no caso que temos agora presente. Esses terrenos de fortes declives onde se plantaram os cafezais, não suportarão por muito tempo o efeito do desnudamento de florestas

(28)

derrubadas e da exposição do solo desprotegido à ação das intempéries. O trabalho da erosão foi rápido (PRADO, 1970, p. 118)

Em pouco tempo se revelou os rendimentos descrentes, enfraquecimento das plantas e o aparecimento de pragas destruidoras, e com isso, os abandono de culturas e a rarefação demográfica22.

Por esses motivos, a orientação geográfica passa a ser o Oeste da Província de São Paulo, tendo como centro Campinas e estendendo-se numa faixa para o Norte de Ribeirão Preto. Na região de Campinas já se tinha a cultura do café em suas proximidades por volta de 1800, mas com pouca importância23. Ainda nesta região, com menos de 20 anos, as plantações de cana e outros gêneros alimentícios, que constituíram grande riqueza no passado, foram substituídos por cafezais. No ano de 1860, Campinas era rival de Bananal, que era o maior centro produtor de café (VIOTTI, 1998).

Taunay (1939), aponta que, em Campinas, o primeiro cafezal data de 1807 ou 1809, plantado pelo tenente Antônio Francisco de Andrade. As terras do chamado “norte paulista” disseminaram os cafezais. A razão para isso é de fácil compreensão, a proximidade das terras fluminenses, onde o sentido cafeeiro marchou de Mendanha para São João Marcos e Rezende, adentrando território paulista por S. José do Barreiro, Areia e Bananal.

Na segunda metade do século XIX, Campinas e suas proximidades se voltam com intensidade para a produção de café, e em pouco tempo, se torna o grande centro produtor do país. Com um relevo úmido que favorece a cultura que se estende em largas superfícies uniformes e ininterruptas, em contraposição com a região do Vale do Paraíba, que tinha irregularidade do terreno, a dispersão das encostas bem situadas com relação à exposição ao sol e ao abrigo contra ventos excessivos, espalharam os cafezais em pequenos núcleos separados e desarticulados entre eles (PRADO, 1970).

O café na região paulista concentrou uma maior riqueza e densidade econômica mais elevada. Apesar de ser plantado com o mesmo descuido do Rio de Janeiro, os cafezais paulistas sofreram menos com ações de agentes naturais. Alguns dos motivos são: a declividade menor do terreno, que ajuda a proteger o solo, conservando longamente sua qualidade; e a comunicação e transporte, bem mais ágeis nesta zona de topografia regular. Enquanto na região do Rio se estabelece de forma onerosa algumas vias férreas, a região de Campinas conta cedo com uma boa rede de estradas24.

22 Op. Cit.

23 Op. Cit. 24 Op. Cit.

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Outro importante efeito do deslocamento das plantações de café para o Oeste Paulista é que, agora, a maior e quase única fonte de riqueza do país é conduzida para a capital da província como seu novo empório, e não para o Rio de Janeiro. Através da capital de São Paulo, o café é orientado até o porto de Santos25.

Os cafezais cobri-las-ão uniforme e monotonamente por superfícies que abrangem por vezes dezenas de Km2 sem interrupção. Paisagem agrícola até hoje ainda quase

única no Brasil, em regra tão irregular e desordenadamente explorado. Esta "onda verde" de cafezais, como se denominou a expansão da lavoura que então fundamentava a riqueza brasileira, marchará rapidamente, alcançando no penúltimo decênio do século a região do rio Mogi-Guaçu na sua confluência com o Pardo; aí se formará o núcleo produtor do melhor e mais abundante café brasileiro. O "café de Ribeirão Preto" (centro da região) se torna mundialmente famoso (PRADO, 1970, p. 120).

A marcha não se deterá, lançando-se a ocidente e internando-se: um pouco mais tarde, avança progressivamente para o Rio Paraná; e, sobretudo no séc. XX, ocupa o centro e o extremo oeste da província (Estado após a proclamação da República em 1889)26.

No caso do estado de Minas Gerais, comparado a região do Oeste Paulista, sua produção de café é reduzida. Isso é caracterizado pelo pequeno espaço geográfico ocupado pelo café, não sendo mais de 5% do território mineiro, e ainda as reduzidas chances de expansão da fronteira a partir de 1890 (LANNA, 1986).

4.2.3 O surgimento de uma classe empresarial de novo tipo

A lavoura cafeeira concentra, por volta do séc. XIX, três quartos de toda a riqueza do Brasil e portanto ganha influência política. O país se torna o maior produtor mundial com quase monopólio, e o café alcança mais de 70% do total de exportações. Esta posição daria origem a uma Aristocracia Cafeeira com peso nas decisões do país. Portanto, São Paulo tinha grande peso político no país (PRADO, 1970).

Esta etapa de gestação da economia cafeeira é formada por uma nova classe empresarial que desempenhará um papel fundamental no desenvolvimento subsequente do país. A classe se forma, inicialmente, com homens da região, na cidade do Riode Janeiro, por exemplo, que representava o principal mercado consumidor do país e cujos hábitos de consumo haviam se transformado a partir da chegada da corte portuguesa (FURTADO, 2005).

(30)

O abastecimento deste mercado passou a constituir a principal atividade econômica dos núcleos da população rural que haviam se localizado no Sul da província de Minas como reflexo da expansão da mineração. A base da atividade econômica nessa parte do país era o comércio de animais para transporte, que acabou dando origem a um grupo de empresários comerciais locais27.

Segundo Perissinotto (1994), desde o período colonial, prevalece em São Paulo a riqueza dos homens de negócio e mercadores de animais e escravos, responsáveis pela acumulação de riqueza anterior ao do desenvolvimento da lavoura cafeeira de exportação. São eles que dariam origem ao grande fazendeiro, com capital suficiente para diversificar seus investimentos na medida que a economia cafeeira se tornava mais complexa.

Muitos desses homens, que haviam acumulado algum capital no comércio e no transporte desses gêneros, passariam a ter interesses pela produção de café, vindo a fazer parte da vanguarda do capital cafeicultor. Portanto, esta vanguarda seria formada por homens com experiência comercial que empreenderiam um entrelaçamento entre as etapas da produção e os interesses do comércio do produto de modo a exercer controle sobre o capital mercantil. Esta classe se formou numa frente ampla: aquisição de terras, recrutamento de mão de obra, organização e direção da produção, transporte interno, comercialização nos portos, contatos oficiais, interferência na política financeira e econômica, etc. (FURTADO, 2005).

Com efeito,Perissinotto (1994) aponta que, no caso da economia cafeeira, se exigiria o desenvolvimento de um setor de infraestrutura como condição de sua viabilização. Para este tipo de produção, em constante crescimento, era necessário um sistema financeiro relativamente avançado. O autor divide em duas classes os empresários do café: o da “Lavoura”, ligado diretamente à produção do café; e o do “Capital Cafeeiro”, que se desenvolveu através do conjunto de atividades que integra todo o Complexo Agroindustrial cafeeiro e sua infraestrutura. No caso do Capital Cafeeiro, tinha origem dupla: rural e mercantil. Não se pautava apenas no comércio de gado, escravos ou animais de carga, mas, também no açúcar. Inclusive, sua origem rural vai se encontrar nas lavouras de açúcar.

...elite ligada aos negócios do café, não é aquela que tem suas atividades econômicas vinculadas essencialmente ao setor agrário, de produção do café, mas sim os homens que, muito além da produção, se articulam com o mercado internacional de trocas pelo capital mercantil, ou seja, a elite cafeeira é aquela que tem seus negócios diversificados pelas atividades do complexo cafeeiro e, mais importante, que possui ligações com o capital mercantil internacional (TORELLI, 2004, p.44).

27 Op. Cit.

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A aproximação com a capital do país constituía uma grande vantagem para os dirigentes da economia cafeeira, que compreenderam, de forma prematura, a enorme importância que o governo tinha como instrumento de ação econômica. Essa tendência à subordinação do instrumento político aos interesses de um grupo econômico alcançará sua plenitude com a conquista da autonomia estadual, ao proclamar-se a República (FURTADO, 2005).

O governo central estava submetido a interesses demasiadamente heterogêneos para responder com a necessária prontidão e eficiência aos chamados dos interesses locais. A descentralização do poder permitirá uma integração ainda mais completa dos grupos que dirigiam a empresa cafeeira com a maquinaria político administrativa. Mas não é o fato de que hajam controlado o governo o que singulariza os homens do café. E sim que hajam utilizado esse controle para alcançar objetivos perfeitamente definidos de uma política. E por essa consciência clara de seus próprios interesses que eles se diferenciam de outros grupos dominantes anteriores ou contemporâneos (FURTADO, 2005, p. 118).

Segundo Perissionotto (1994), os membros do Grande Capital Cafeeiro, eram igualmente banqueiros e exportadores, no segundo, sendo aliados do capital estrangeiro e obtendo lucros advindos da especulação comercial e como banqueiros tinham acesso pessoal ao crédito.

4.2.4 Considerações sobre a gestação da economia cafeeira

Nos primeiros anos do séc. XIX o café não tinha tanta importância, sendo destinado para consumo interno de fazendas. Apesar do estimulo de produção de café em regiões da América e Ásia o Brasil entra tarde para a lista de grandes produtores, ocupando uma posição muito modesta em princípios do sec. XIX. A libertação do mercado norte-americano em 1786, possibilitou que o Brasil pudesse exportar café para este país, já que o EUA buscava interesses próprios independentes dos interesses ingleses e europeus. Quando ocorre a alta dos preços devido a desorganização do grande produtor, uma colônia francesa do Haiti, o Brasil ganha notoriedade no fim do séc. XIX. Mesmo ocorrendo baixas nos preços o produtor de café brasileiro não desencorajado a produzir, pois tinha grande disponibilidade de terras e mão de obra devido a decadência da mineração.

Enquanto os preços do café se recuperava no terceiro quartel do séc. XIX, os do açúcar permaneciam baixos, estabelecendo assim a transferência de mão de obra da região Norte do

(32)

Apesar do café chegar primeiro em Belém do Pará, sendo utilizado mais para consumo local. As primeiras plantações da grande produção de café se iniciam no Rio de Janeiro, próximo a parte litoral em regiões montanhosas e conforma vai se ocupando esta região se chega em São Paulo.

De início o grande cenário da lavoura cafeeira é o Vale do Paraíba, sendo durante três quartos do século XIX o principal produtor de café. Com condições ideias para o plantio do café, região acidentada e tendo encostas que protegem do vento. Em todo este período, está região reúne a maior parcela da riqueza brasileira até chegar no seu declínio. Não sendo diferente das demais culturas, o acelerado esgotamento das reservas naturais fez com que os rendimentos passassem a ser descrentes com o tempo.

A orientação geográfica muda mais precisamente para a região de Campinas e se estende até Ribeirão Preto. Nesta região o relevo úmido favorece a produção e a cultura se estende em superfícies uniformes diferente da região do Vale do Paraíba, com irregularidades no terreno. O café da região paulista concentrou grande riqueza, e ainda era plantado com o mesmo descuido do Rio, mas os cafezais de São Paulo sofreram menos com os agentes naturais. Além disso, em São Paulo a questão de ferrovia e porto era mais desenvolvido que no Rio de Janeiro.

Com toda essa concentração de riqueza e obtendo quase um monopólio mundial, São Paulo ganha notoriedade política tendo poder de decisão no país. O comercio de animais para transporte e escravos formou um grupo empresarial que foi capaz de acumular um capital prévio, mais tarde formando fazendas de café e ampliando esse capital acumulado. Se aproximando do capital do país os dirigentes da economia cafeeira estavam portanto com vantagem, tendo controle e alcançando objetivos de seus interesses que eram bem definidos. Tendo a consciência clara de seus interesses eles se destacam em relação a grupos dominantes anteriores.

4.3 Desafios ao Estabelecimento da Economia Cafeeira: problema da mão-de obra e a criação de uma economia capitalista

4.3.1 Situação da força de trabalho pela metade do séc. XIX

Na metade do séc. XIX a força de trabalho da economia brasileira era formada por uma massa de escravos que não alcançava 2 milhões de indivíduos. O primeiro censo

(33)

demográfico mostrou que no ano de 1872, existia aproximadamente 1,5 milhão de escravos. Sabendo no que começo do século o número de escravos era de 1 milhão, e que nos primeiros 50 anos do século se importou meio milhão, se pode deduzir que a taxa de mortalidade era superior à de natalidade (FURTADO, 2005).

Outro país que começou neste mesmo início de século com 1 milhão aproximadamente de escravos foram os EUA. Mas as importações brasileiras no decorrer do século foram 3 vezes maior do que dos EUA28.Ao iniciar a Guerra da Secessão (1861-1865), os EUA tinham uma força de trabalho escravo de cerca de 4 milhões, enquanto o Brasil, no mesmo período, tinha algo em torno de 1,5 milhão. A explicação está na elevada taxa de crescimento vegetativo da população escrava nos EUA, que viviam em propriedades pequenas nos estados do chamado Old South, com condições de alimentação e de trabalho relativamente favoráveis. Ainda ocorriam transferências de escravos dos chamados estados vendedores para os compradores, que teria alcançado 742 mil indivíduos. Os escravos americanos nascidos no país apresentavam mais vantagens, pois, estavam culturalmente integrados nas comunidades de trabalho, tinham melhor alimentação, conhecimento da língua, etc29.

Com o enfraquecimento das exportações e o fim do tráfico africano, se estabelecia condições para o aumento da população escrava, já acostumados com o clima e com maiores imunidades a enfermidades, diminuindo a taxa de mortalidade e aumentando a de fecundidade, de forma relativa (CARDOSO, 1983).

Já no caso brasileiro, o motivo pelo qual a taxa de mortalidade era superior à de natalidade era as condições serem extremamente precárias. Com o crescimento da demanda na região sul para as plantações de café, o tráfico interno foi intensificado devido aos prejuízos das regiões que já estavam operando com rentabilidade menor. A decadência das regiões de produção do algodão sofreram maior escoamento de escravos para o sul. No caso do açúcar, por ser mais bem capitalizado, conseguiu se defender melhor. Além disso, a redução da entrada de africanos no país e a elevação do preço dos mesmos acabou por provocar uma maior intensificação na utilização da mão de obra e, consequentemente, um desgaste ainda maior na população escrava (FURTADO, 2005).

Até 1850, a taxa de crescimento era negativa, resultado da alta taxa de exploração que estava submetido o escravo. O trabalho era de 15 à 17 horas, a alimentação era pouca e desequilibrada, condições de habitação e higiene precárias, para se alcançar as altas taxas de

(34)

crescimento, seria necessário que houvesse redução na taxa de exploração o que por consequência diminuiria a taxa de lucro da economia cafeeira (MELLO, 1991).

Em 1856, a lavoura nordestina, deixou de se interessar pela proibição do comércio inter-regional de escravos. Se inicia uma segunda fase deste tráfico, e ficou mais evidente em 1870. Com a crise agrícola da região Nordeste, se passa a ver o tráfico interno como um recurso para financiar as perdas que a lavoura tinha (SILVA, 1992).

Do ponto de vista da mão de obra escrava, em 1836, o número de escravos representava cerca de 27% da população da Província, concentrando na região do Vale do Paraíba e o Litoral Norte, com 37%. Sendo estas duas as regiões mais prosperas da Província, sendo a segunda voltada para a produção de açúcar e a primeira café. Em 1870, São Paulo tinha um população escrava 32,6% (SILVA, 1992).

4.3.2 Proibição do tráfico negreiro e a Lei de Terras de 1850

Com a pressão para o fim do tráfico negreiro de origem africana única fonte de imigração de mão de obra, começa a se agravar a questão da disponibilidade de braços e se passa a demandar uma solução (FURTADO, 2005). Além da questão da mão de obra, outro problema também merece destaque, como a elevação dos custos de transportes, à medida que se fosse adentrando o interior de São Paulo, a economia cafeeira enfrentaria a carência de trabalho escravo (MELLO, 1991).

As evidências são muitas de que havia um temor das oligarquias cafeeiras, e mesmo de alguns segmentos de outras oligarquias, como as nordestinas vinculadas à economia açucareira, de que a cessação do tráfico internacional de escravos, e a consequente agonia da escravidão, gerasse uma grave escassez de mão de obra no Brasil. Esse temor acabou se transformando numa grande questão da política nacional sintetizada no clamor das oligarquias: faltarão braços nesse país para gerir a economia cafeeira! (BRITO, 2002, p.01).

Surge a Lei de Terras, representando o poder político que a classe econômica exerce nas decisões do país, aparecia como algo urgente e necessário, enquanto forma de substituir os braços escravos e contornar o problema de mão de obra gerado pela suspensão do tráfico, em uma sociedade que não via o escravo como um trabalhador, mas sim como um instrumento de trabalho (GADELHA, 1989). O objetivo era incentivar a colonização através da atração imigrantes para adquirirem terras devolutas. A possibilidade residia na distribuição de terrenos pertencentes ao Estado, fragmentados em pequenas propriedades, desse modo a torná-las acessíveis as poupanças dos colonos após alguns anos de trabalho nas grandes

(35)

lavouras em regime de trabalho assalariado. A venda desses lotes iria subsidiar a vinda de mais colonos.30

O marco do início do capitalismo no Brasil foi a Lei que aboliu o tráfico (04-09-1850) e a Lei de Terras n.º 601 (18-09-1850). A Lei de Terras tinha a intenção de destruir antigas formas de apropriação do solo, como afirma o deputado Barbosa: “A terra deve adquirir valor e os proprietários renda”. A Lei fixava o preço da terra para os posseiros, mas desconsiderava os roçados simples como característica de posse. Portanto, ao mesmo tempo que se restringia a pequena propriedade, preservava a estrutura da propriedade. A Lei tinha outro objetivo, que era a substituição dos braços escravos, pois, o custo do escravo e da sua exploração estava alto, consequência do fim do tráfico, como foi citado31.

Para os objetivos capitalistas, era necessário que o acesso ao solo fosse dificultado aos ex-escravos e trabalhadores nativos, de modo a obstruir sua capacidade de produzir seus próprios meios de subsistência, obrigando-os a condicionada obtenção destes meios à relação de trabalho assalariado32.

Em 1854, é regulado o decreto N.º 1.318, com o objetivo de regular a Lei de Terras com instrumentos legais que propiciavam concentração de propriedade. Este decreto permitiu a mediação, revalidação e legitimação da propriedade, separando as terras de domínio público das de domínio privado e expulsando os posseiros. Grande parte desses proprietários não podiam pagar o preço do registro de suas terras33.

Havia uma contradição interna na Lei de Terras de 1850: suas medidas conciliatórias limitavam a sua efetividade. Se atendia aos interesses dos grandes proprietários exigindo a restrição ao acesso à terra para imigrantes e, assim, garantir que seus braços estivessem disponíveis à grande lavoura, por outro lado, a lei ensejava incentivar a imigração espontânea de estrangeiros com a finalidade de deixar de comprometer o escasso orçamento imperial para trazer imigrantes com a promessa de certa porção de terra. A primeira contradição portanto, reside no fato de que a promessa de terras para atrair imigrantes era um mecanismo que indispunha sua mão de obra para a grande lavoura – o que não resolvia o problema original de falta de braços (SANCHES, 2008).

Outra dificuldade foi a demarcação de terras, o governo imperial só poderia demarcar terras devolutas, quando o governo provincial marcasse suas terras particulares, portanto, o

30 Op. Cit.

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