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Celia Maria Hass

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Academic year: 2021

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TERAPEUTA OCUPACIONAL.

Profª. Drª. Celia Maria Haas*1 Profª. Ms. Vânia Aparecida Bandoni Sanches**2

Resumo

Este artigo, resultado dos estudos realizados no Programa de Mestrado em Educação, teve por objetivo discutir a contribuição da Interdisciplinaridade na formação do Terapeuta Ocupacional. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa, complementada pelas reflexões decorrentes da prática docente, fundamentada em autores, como Cascino, Fazenda, Ferrari, Giacon, Japiassu, Perrenoud, Ramos e Ranghetti. Apresenta uma análise da legislação, especificamente, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Federal, nº. 9.394/96, da Resolução CNE/CES 6/2002, que institui as diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Terapia Ocupacional, e do Projeto Pedagógico de implantação de um curso de Terapia Ocupacional, de 1998. A investigação permitiu compreender que a Interdisciplinaridade contribui na qualidade da formação do terapeuta ocupacional e, ao mesmo tempo, reconhecer que o exercício desta profissão e o da docência são atividades dinâmicas, pois seus primeiros passos já implicam outros, numa crescente caminhada, atitude própria de quem se arrisca a percorrer uma trilha interdisciplinar.

Palavras-chave: Terapeuta ocupacional. Interdisciplinaridade. Políticas Públicas.

INTRODUÇÃO

Quando se inicia uma nova atividade, como a docência num curso de Educação Superior, neste caso a graduação em Terapia Ocupacional, busca-se referência nas reflexões

*1 Doutora em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Mestre em Educação:

História, Política, Sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; e Graduada em Pedagogia pela Fundação Faculdade Estadual de Educação Ciências e Letras de Paranavaí. Professora da Universidade Cidade de São Paulo, e atua no Programa de Mestrado em Educação, desde 1997, e na Coordenação do Curso de Pedagogia da Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS.

**2Mestre em Educação (Interdisciplinaridade) pela Universidade Cidade de São Paulo; Especialista em

Psicomotricidade pelo Grupo de Atividades Especializadas (GAE), Tratamento Neuroevolutivo Bobath e em Psicopedagogia pela Universidade Sant’Anna; e Graduada em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos. Atuou como Professora no curso de Graduação em Terapia Ocupacional da Universidade de Uberaba, exerce atividade clínica em Terapia Ocupacional, Psicopedagogia e Psicomotricidade e, ainda, Coordena o Setor de Terapia Ocupacional da DIBEL - Reabilitação Humana, além de ministrar palestras e cursos a profissionais ou futuros profissionais das áreas da saúde e educação.

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formuladas durante a trajetória pessoal de formação e no exercício profissional, além da apropriação do referencial teórico acumulado no processo de autoformação, e durante a participação no Programa de Mestrado em Educação que desafia a refletir sobre a Educação e sobre a Formação de Professores, à luz da Interdisciplinaridade – área de concentração do Programa de Mestrado.

O Mercado de trabalho, hoje, é pautado por incertezas e desafios do cotidiano e impõe a necessidade de constantes mudanças dos perfis profissionais baseados na visão global de mundo e de suas transformações. Neste sentido, convém ressaltar que um dos deveres do professor é construir um aluno crítico e reflexivo, promovendo seu interesse pelo desenvolvimento humano, tanto no aspecto pessoal quanto social.(1)

Assim, adotar uma atitude interdisciplinar, tal como é concebida por Fazenda,(2) consiste num desafio a ser enfrentado no novo aprendizado, a docência na Educação Superior, pois se acredita na contribuição desta como possibilidade de enfrentar os impasses vividos atualmente, o que exige novas formas de pensar a educação e a saúde:

Entendemos por atitude interdisciplinar, uma atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor; atitude ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio – desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho – atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas, atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, enfim, de vida.(2)

Uma trilha interdisciplinar foi o caminho percorrido para a reflexão sobre a contribuição da Interdisciplinaridade na formação do terapeuta ocupacional. Inicialmente, foram analisadas as tendências atuais da Educação Superior, através do diálogo com a legislação, com documentos específicos da Universidade e com alguns autores, como Cascino, Fazenda, Ferrari, Giacon, Japiassu, Perrenoud, Ramos e Ranghetti. Estes autores são conhecedores da Interdisciplinaridade e com valiosos estudos ofereceram considerável contribuição para as conclusões do trabalho. Buscou-se, também, a reflexão sobre as práticas profissionais exercidas e o reconhecimento das relações entre as análises documentais e essas práticas, permeadas nos pressupostos teóricos da Interdisciplinaridade.

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2 REFLEXÕES SOBRE A INTERDISCIPLINARIDADE, O PROJETO PEDAGÓGICO E A LEGISLAÇÃO: UM INSTIGANTE DIÁLOGO

O número de cursos de formação em Terapia Ocupacional triplicou, praticamente, nos últimos vinte anos, período esse em que muitas transformações, no âmbito educacional, vêm se processando por pressões da sociedade, levando a Universidade a redefinir essas relações, assumindo sua responsabilidade social através da criação de projetos que possam contribuir relativamente às necessidades, principalmente da comunidade local e regional em que está inserida.

Nesta perspectiva, pensar a educação universitária interdisciplinarmente tem parecido uma alternativa enriquecedora na formação de profissionais mais comprometidos com as demandas sociais.

A Interdisciplinaridade que aportou no Brasil no final da década de 1960, consolidando-se na década seguinte, inicialmente com os estudos de Hilton Japiassu e, em seguida, com os de Ivani Fazenda, surgia, nas discussões referentes à educação, como uma possibilidade para enfrentar a fragmentação do conhecimento e o distanciamento entre a teoria e a prática.

A necessidade de superação da fragmentação do saber é apontada por Gusdorf,*3 ao afirmar que a humanidade do homem só será promovida se houver maior preocupação com a totalidade do saber, sendo necessário que cada disciplina ultrapasse suas fronteiras e aceite a contribuição de outras disciplinas.(3) E, ainda, ao dialogar com Fazenda, percebe-se a necessidade de reconhecer as limitações e as possibilidades da prática, através do conhecimento das intenções que a direcionam, para que novas “formas de perceber, conhecer e agir” em outras perspectivas passem a ser adquiridas, o que implica uma atitude interdisciplinar.(2)

Percebe-se, ainda, no Inciso V, do Art. 43 (Capítulo IV – Da Educação Superior) da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a necessidade apontada por Fazenda de reunificação e superação da fragmentação do saber:

Art. 43 - [...]

*

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V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração.(4)

Embora o texto não aponte para a necessidade de interação dos conhecimentos, a integração fica clara. Desta forma, valendo-se dos conceitos de Multi e Interdisciplinaridade, definidos por Fazenda, pode-se observar que o texto legal apresenta uma abordagem multidisciplinar, uma atitude de justaposição de conteúdos e disciplinas heterogêneas ou a integração de conteúdos numa mesma disciplina e não interdisciplinar frente ao conhecimento.(5)

Ressalte-se, ainda, a definição de Interdisciplinaridade, enquanto atitude frente ao conhecimento, como a possibilidade de se transpor a linha da integração dos saberes, identificada também no supramencionado Inciso V. A Interdisciplinaridade talvez não garanta a unificação do conhecimento, mas poderá conduzir, consoante Fazenda, para “um ponto de vista que permite uma reflexão aprofundada, crítica e salutar sobre o funcionamento do mesmo”, uma vez que a autora enfatiza que Interdisciplinaridade se caracteriza por uma colaboração entre as disciplinas, através das trocas e do diálogo.(5)

A contribuição da Interdisciplinaridade, também está presente no Inciso VI do mencionado texto legal, no que tange à Educação Superior, quando se identifica uma nova relação a ser estabelecida entre a Universidade e a comunidade, exigindo, da primeira, uma participação mais efetiva através de ações que possam contribuir com a segunda. Nessa direção é necessário reconhecer as novas demandas a partir de uma visão integral de homem e sociedade em seus contextos históricos, econômicos, políticos e culturais, para a qual uma atitude interdisciplinar é considerada importante:

Art 43 – [...]

VI – estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade.(4)

Observe-se quanto à necessidade de formar um profissional “reflexivo, criativo, crítico, atuante, ético e sensível ao contexto social”. (1) Esta pode ser identificada nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Terapia Ocupacional que mencionam as competências e habilidades específicas, necessárias ao futuro terapeuta ocupacional.(6)

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Percebe-se, pois, o aluno crítico e reflexivo, referido pela autora,(1) quando, literalmente, o Art. 4º., da Resolução CNE/CES 6 de 2002, revela que o profissional deve “pensar criticamente, analisar os problemas da sociedade e procurar soluções para os mesmos”.(6) Essas competências incorporam as noções de aluno sensível ao contexto social e de aluno atuante. O aluno ético, apontado, ainda, por Ferrari,(1) é revelado na atitude do profissional em “realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética e da bioética”.(6)

O objetivo, hoje, não está na transmissão de conhecimentos, embora estes sejam necessários para a análise de situações e das ações requisitadas, como afirma Perrenoud ao descrever as competências.(7)

Acredita-se desta forma que, para se formar um aluno, de acordo com a concepção do Curso de Terapia Ocupacional da Universidade, declarada em seu projeto pedagógico, que seja “capacitado para planejar e executar ações de intervenção na saúde humana de forma crítica, reflexiva e integrada, não apenas em nível individual, mas principalmente, em nível da coletividade”,(8) convém que o futuro terapeuta ocupacional tenha, não só o domínio de conteúdos aprendidos, mas, sobretudo, que esteja apto a articulá-los, mobilizá-los, de tal sorte que possa analisar de maneira mais ampla as situações enfrentadas, agindo adequadamente em relação a elas.

Ao se refletir sobre a transição da atuação do terapeuta ocupacional para a docência, é possível reconhecer um profícuo intercâmbio entre as duas situações levando a (re)significar ambas as atividades profissionais, mais ainda, reconhecer a possibilidade de uma integração do papel profissional com o pessoal, articulando os conhecimentos nessas duas áreas.

Reformulam-se, como sugere Fazenda,(9) as concepções acerca do que significa novo e velho. Cabe observar que o território, em princípio, seguro, do velho – ser terapeuta ocupacional – talvez não fosse tão seguro assim, pois, mesmo antes de exercer a docência buscavam-se as mudanças para aquilo que inquietava os profissionais responsáveis, ou seja, a necessidade de acrescentar algo novo era evidente. Portanto, o que se julgava novo – atividade docente – trazia e traz consigo uma experiência de vida profissional e pessoal, ou seja, tem arraigado algo do velho.

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3 ALGUMAS CATEGORIAS INTERDISCIPLINARES: DIALOGANDO COM OS AUTORES

É no diálogo com Fazenda que se compreende a relação entre o velho e o novo, quando a autora afirma que a “atitude interdisciplinar de rever o velho para torná-lo novo ou tornar novo o velho”, própria das pesquisas interdisciplinares, parte do pressuposto que o “velho sempre pode tornar-se novo, e de que em todo o novo existe algo de velho”.(9)

No exercício de reflexão sobre a prática em Terapia Ocupacional, pode-se identificar a necessidade de mudanças e encontrar nas palavras de Ramos uma possibilidade de refletir sobre esta necessidade: “Enfrentar qualquer processo de mudança implica assumir a tarefa pouco confortável de (re)ver-se, (re)dimensionar e (re)fazer um universo até então considerado organizado” (grifos da autora).(10)

Desta forma, (re)ver-se enquanto pessoa e profissional nas relações com os pacientes atendidos; (re)dimensionar uma prática muitas vezes insatisfatória; e (re)fazê-la à medida que se permite lançar novos olhares a ela, são tarefas indispensáveis e realizadas no exercício profissional do terapeuta ocupacional.

A mudança acompanha o profissional da educação, também, no início da carreira docente, pois essa nova jornada implica mudar de espaço e contexto de trabalho, do espaço de atendimento terapêutico ocupacional para o espaço de sala de aula.

Além de mudar, outras ações, como contribuir, conhecer, aprender e buscar, mobilizaram muitos profissionais no início das atividades docentes, ações estas que se percebem estão inter-relacionadas.

A mudança de espaço e contexto de trabalho, ou seja, do espaço de atendimento terapêutico ocupacional para o espaço da sala de aula, gerava uma mistura de sentimentos ambíguos, como os de prazer e satisfação pelo novo, ou seja, em reconhecer a possibilidade de contribuir com a experiência profissional junto aos alunos de Terapia Ocupacional, com os sentimentos de ansiedade, medo e insegurança em assumir esse novo papel que só poderia ser incorporado na medida em que houvesse possibilidade de conhecer – ocupando – esse novo lugar, onde se pudesse, também, além de contribuir com os conhecimentos, continuar a

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Considera-se o preparo como a possibilidade de conhecer o novo, aprender sobre ele. Conhecer o novo na transição de terapeuta ocupacional para formadores de profissionais dessa área significou aprender a ser professora no exercício dessa função, assim como afirma Meirieu*4em sua concepção de aprendizagem: “fazer algo que não se sabe para aprender a fazê-lo”.(7)

Além de acreditar que a sala de aula pudesse favorecer o aprender a ser professora, era possível acreditar, também, que o espaço acadêmico exigiria maior erudição, atitude de buscar constantemente novos saberes, ou seja, um eterno aprender, que fascina.

É importante a erudição para quem deseja envolver-se em projetos interdisciplinares, implicando, portanto, na necessidade de busca do conhecimento, considerando a erudição como uma das atitudes básicas da Interdisciplinaridade,(11) que, segundo Gusdorf,**consiste na “atitude epistemológica que ultrapassa os hábitos intelectuais estabelecidos ou mesmo os programas de ensino”,5e constitui, também, “uma mudança de atitude frente ao problema do conhecimento, uma substituição da concepção fragmentária para a unitária do ser humano”.(5)

Ao relacionar a experiência como terapeuta ocupacional, com a experiência em sala de aula, percebe-se a diferença, considerada, em princípio, a maior a ser enfrentada: o objetivo da clínica está centrado no atendimento às necessidades do cliente e na Universidade, para a formação de qualidade dos futuros profissionais, independentemente das potencialidades e limitações de cada um.

Uma das possibilidades para enfrentar tal diferença é continuar investindo nas potencialidades do sujeito que, na clínica, é o paciente e, na Universidade, é o aluno, mesmo que nesta o objetivo maior esteja centrado na formação do terapeuta ocupacional com suas almejadas competências e não nas necessidades individuais de cada futuro profissional.

De acordo com Fazenda, “cinco princípios subsidiam uma prática docente interdisciplinar: humildade, coerência, espera, respeito e desapego”.(12) Alguns atributos, próprios destes princípios, são, também, discutidos pela autora. Deste modo, é sobre alguns destes princípios e atributos, bem como, por meio deles, que se permite fazer o exercício de compreensão das contribuições possíveis de uma formação interdisciplinar do terapeuta ocupacional, relacionando-os às reflexões anteriores.

Para Cascino, a espera na educação é uma constante, pois o professor tem

* Meirieu P. Aprender... sim, mas como? (1991) apud (7).

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conhecimento de que o aluno necessita de tempo para amadurecer, para “introjetar conhecimentos, torná-los seus, fazendo uso adequado daquilo que se ensinou, tornando-o parte integrante de seu cotidiano e de seus projetos de vida”.(13)

A atitude de espera permite compreender que o aluno amadurece na hora certa, mas não se consegue evitar a seguinte indagação: Como proceder com os alunos que não

adquirem as competências indicadas nas diretrizes curriculares e são obrigados a refazer muitas disciplinas, uma vez que, nas Universidades, o tempo é definido pelo ano letivo e não pelo tempo do aluno?

No Capítulo IV – Da Educação Superior – da LDB, especificamente no Parágrafo 2º. do Art. 47, encontram-se referências do que pode ser feito com os alunos que apresentam um “extraordinário aproveitamento”, contudo, não se encontra nesse mesmo texto legal referências de como proceder em relação ao aluno que, eventualmente, apresente baixo rendimento.(4)

Nos princípios que direcionam as práticas interdisciplinares do formador, de acordo com Fazenda, pode-se reconhecer a humildade como uma atitude que deve ser constantemente exercitada.(14)

Por conta da necessidade de superar a questão do baixo rendimento acadêmico, bem como de algumas limitações enfrentadas em sala de aula, as quais trazem um sentimento desconfortável e de certa impotência, a humildade parece ser atitude indispensável a ser adotada pelo educador, pois há que se (re)conhecer as próprias limitações, mostrando-se aberto ao novo e preocupando-se com aquele que pretende formar.

Reconhecendo a importância da humildade nas práticas interdisciplinares, no sentido de (re)conhecer as próprias limitações, percebe-se, nesta, a necessidade, também, de

mudanças, uma vez que se (re)conhecer como sujeito que tem muito a aprender implica

buscar o aperfeiçoamento enquanto pessoa e profissional.

É justamente nessa busca que se identifica a importância de (re)dimensionar o velho, ou seja, não abandoná-lo, mas de poder transformá-lo. (Re)afirma-se o compromisso, enquanto docente, de formar terapeutas ocupacionais que (re)conheçam a necessidade da visão integral de homem e sociedade, bem como da concepção de saúde como um processo biopsicossocial, através do (re)conhecimento, também, dessas partes que compõem o todo.

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compreensão do todo pode ser obtida. Através das conexões entre esses conhecimentos elas podem “adquirir significado e sentido. O conhecimento contém, necessariamente, a complexidade”.(14)

Fazenda aponta a reciprocidade como atitude interdisciplinar, pois ao se conhecer

mais e melhor, ou seja, ao buscar o aperfeiçoamento profissional e pessoal, como referido

anteriormente, torna-se necessário o “diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo”.(9)

A parceria é, para Fazenda, um dos atributos próprios dos princípios que subsidiam as práticas docentes interdisciplinares – humildade, coerência, espera, respeito e desapego. Verifica-se, então, que a atitude de respeito ao outro e de humildade em (re)conhecer os próprios limites possibilita o exercício da troca, do diálogo, enfim, o encontro com parceiros.(14)

No que diz respeito ao corpo docente do ora abordado Curso de Terapia Ocupacional, percebe-se o desejo e o movimento de todos, procurando atingir o maior objetivo do Curso, qual seja, formar terapeutas ocupacionais com perfil profissional que inclua as competências necessárias para o exercício da profissão. As necessidades de cada professor se completam com as necessidades dos colegas, conduzindo à construção de um projeto coletivo,

A coerência, um dos cinco princípios que regem as práticas interdisciplinares, segundo Fazenda,(12) é necessária nos projetos coletivos, pois é “a coerência que dá consistência ao olhar, ao agir e ao falar, que faz com que o desejo individual adquira tamanha força que seja capaz de contaminar e se transformar em vontade coletiva que se realiza”.(14)

Em algumas das reflexões acerca das práticas como terapeuta ocupacional e professora, ressaltam também, as pesquisadoras, a importância da afetividade nas relações professor-aluno e terapeuta ocupacional-cliente.

Para Fazenda, a afetividade é um atributo próprio dos princípios que governam as práticas interdisciplinares na educação.(12) Ranghetti, por sua vez, observa que “afetividade é afetar e ser afetado pelo outro, instigando as energias e ativando nosso eu para a ação. Isto pressupõe humildade, parceria, reciprocidade – princípios da teoria da interdisciplinaridade”.(15)

Afetividade e respeito são, pois, indissociáveis, vez que, na concepção das

pesquisadoras, o estabelecimento de vínculo afetivo somente será efetivado mediante atitude de respeito ao outro e a si próprio.

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Fazenda afirma, ainda, que o “respeito ao modo de cada um é predominante em todo projeto que se mostra interdisciplinar”, e conclui “que a interdisciplinaridade decorre mais do encontro entre indivíduos do que entre disciplinas”.(9)

(Re)conhece-se, ainda, a atitude interdisciplinar da ousadia como necessária na comunidade universitária, pois é somente ousando, em decorrência da insatisfação pelo que tem sido feito, que a busca por uma transformação da sociedade pode ser possível, assim como por melhores condições de saúde, função de todo agente dessa área, como é o caso do terapeuta ocupacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assumir o compromisso da formação interdisciplinar do terapeuta ocupacional significa acreditar que se pode fazer o melhor para si, para o outro, para a educação, para a saúde, enfim, é acreditar que se pode transformar o mundo para melhor.

Fazer e transformar são duas palavras que implicam ações, próprias da Terapia

Ocupacional, da Docência e, também, da Interdisciplinaridade, uma vez que se concebe esta última como atitude de busca contínua.

Foi, e continuará sendo, através das práticas e das possibilidades de se refletir sobre as mesmas, à luz da Interdisciplinaridade, que se perceberam os caminhos pelos quais este estudo se consolida.

A trilha da Interdisciplinaridade permite resgatar o vivido, dar-lhe novos significados, buscar maiores e melhores conhecimentos e contribuir com as experiências profissionais e pessoais para, então, continuar a alcançar alguns dos objetivos fundamentais: formar terapeutas ocupacionais comprometidos com uma atuação efetiva na sociedade, junto àqueles que requeiram seus serviços, de maneira a compreendê-los em sua dimensão global, através de uma visão crítica, reflexiva, criativa e afetiva.

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Referências

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