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Academic year: 2021

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CATEGORIA: CONCLUÍDO

CATEGORIA:

ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

ÁREA:

SUBÁREA: Direito

SUBÁREA:

INSTITUIÇÃO(ÕES): FACULDADE DE DIREITO DO VALE DO RIO DOCE - FADIVALE

INSTITUIÇÃO(ÕES):

AUTOR(ES): THIAGO SCHIAVINI SILVA CASTRO, THAÍS LUCAS SUBTIL

AUTOR(ES):

ORIENTADOR(ES): TEODOLINA BATISTA DA SILVA CÂNDIDO VITÓRIO

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Resumo

O presente artigo tem como desafio a análise do nível de consistência jurídica dos votos do veredicto que julgou improcedente a ADI 5357/DF a qual refutou os arts. 28, §1° e 30, caput, da Lei n° 13.146/2015 – Estatuto da Pessoa com Deficiência. Esses preceitos garantem a educação inclusiva no ensino superior público e privado, e nos demais níveis de escolaridade. Tiveram sua constitucionalidade questionada pela CONFENEN ao argumento de que não deveriam ser aplicáveis às instituições privadas de ensino, salvo se a esses acadêmicos fossem imputados valores de mensalidades majorados para cobrir as referidas garantias. A pesquisa é exploratória e explicativa, utilizando-se de método dedutivo de investigação e de pesquisa de campo por meio de entrevistas a universitários com deficiência. Os dados pesquisados revelam que é preocupante a inexpressiva presença das pessoas com deficiência no ensino superior, sendo imprescindíveis medidas urgentes potencialmente capazes de incluí-las. Concluiu-se que é injusta a pretensão de aumento dos valores das mensalidades. As adequações nas instituições não devem acumular outro ônus para aqueles que já trazem o duro fardo imposto pelo destino de ser um “diferente”. A cobrança de mensalidade maior é inadequada, uma vez que seria conflitante com um dos princípios norteadores da CF que é o do “não retrocesso”, que visa garantir e consolidar os avanços conquistados pela sociedade democrática brasileira, afigurando-se, destarte, potencialmente justos e consistentes os votos que selaram o decantado decisum.

Palavras-chave: Ensino Superior privado; Estatuto da Pessoa com Deficiência. Abstract

The present article has as challenge the analysis of the level of legal consistency of the votes of the verdict that dismissed ADI 5357 / DF, which refuted arts. 28, §1 and 30, caput, of Law n ° 13,146 / 2015 - Statute of the Person with Disabilities. These precepts guarantee inclusive education in public and private higher education, and in other levels of schooling. They had their constitutionality challenged by CONFENEN to the argument that they should not be applicable to private educational institutions, unless those students were charged with higher monthly fees to cover such guarantees. The research is exploratory and explanatory, using a deductive method of research and field research through interviews with university students with disabilities. The data revealed reveal that the inexpressive presence of people with disabilities in higher education is worrying, with urgent measures potentially capable of including them. It was concluded that it is unfair to claim the increase in monthly fees. Adjustments in institutions should not accrue another burden to those who already bring the hard burden imposed by the fate of being a "different." The higher monthly charge is inadequate, since it would be in conflict with one of the guiding principles of the CF that is the one of the "non retrogresso", that aims to guarantee and to consolidate the advances conquered by the Brazilian democratic society, appearing, therefore, potentially, just and the votes that sealed the decanted decision were consistent.

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1 Introdução

Este é um convite para perquirir-se acerca do acesso à educação a partir do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Tem como epicentro a educação inclusiva no ensino superior privado, compreendendo o acesso a esse direito como um pressuposto dos direitos humanos das pessoas com deficiência na hermenêutica da ADI 5357/DF, dialogando com a filosofia de Immanuel Kant e Mauro Cappelletti.

Intenta responder à seguinte questão-problema: “Foi julgada improcedente a ADI 5357/DF que refutou os arts. 28, §1° e 30, caput, da Lei n° 13.146/2015 - Lei Brasileira de Inclusão (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Esses preceitos garantem a educação inclusiva no ensino superior público e privado, e nos demais níveis de escolaridade. Exsurge então o questionamento seguinte: Qual é o nível de consistência jurídica e a justeza dos votos deste veredicto, segundo o pensamento de Mauro Cappelletti e de Immanuel Kant, tendo em vista a garantia constitucional do acesso à educação, à dignidade da pessoa humana, igualdade e ética social?”

Inicialmente vale salientar os dados pesquisados revelam que é preocupante a inexpressiva presença das pessoas com deficiência no ensino superior, sendo imprescindíveis medidas urgentes potencialmente capazes de incluí-las.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência veta qualquer cobrança extra ou aumento de mensalidade das pessoas com deficiência. Esses preceitos (arts. 28, §1º e 30 da Lei 13.146/15) tiveram sua constitucionalidade questionada pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino – CONFENEN, via ADI 5337-DF, instrumento este que foi julgado improcedente.

O método utilizado nesta investigação é o dedutivo, abordando a temática partindo de uma análise geral para a particular. Foi realizada pesquisa de campo, mediante entrevistas a acadêmicos(as) com deficiência, matriculados(as) em instituições locais.

A presente pesquisa, quanto aos seus objetivos, é exploratória e explicativa, valendo-se da documentação indireta por intermédio do procedimento da pesquisa bibliográfica.

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2 Direitos Fundamentais dos universitários com deficiência sob a âncora dos pensadores Cappelletti e Kant

George Bernard Shaw1 proclamou: “O maior pecado contra nossos semelhantes não é o de odiá-los, mas o de sermos indiferentes a eles...”. Na realidade, além da latente sensibilidade que esse poema traduz, ele também denuncia uma preocupante discriminação na história das civilizações, sobretudo na sociedade contemporânea.

Como produto dessa postura de distanciamento e superficialidade, agigantou-se o número de pessoas esquecidas à margem da sonhada estrada da democracia. Dentre essas, as pessoas com deficiência, cujos sacrossantos direitos, notadamente à educação inclusiva no curso superior, representam hoje um mero simbolismo, constituindo uma longa batalha ainda a ser conquistada.

Isso por que, a Constituição Federal de 1988, prometeu ser o manto que a todos(as) acolhe e honrosamente protege com os valores supremos da igualdade, paz, justiça, liberdade, solidariedade e dignidade.

No entanto, estatísticas revelam que ainda é sofrível a condição atual vivenciada pelas pessoas com deficiência que padecem de grave discriminação e, consequentemente de séria exclusão social em todos os segmentos, inclusive na educação superior, fato esse que exige medidas inadiáveis, eficazes e pontuais.

Assim, existe um gigantesco abismo a ser investigado. Somente desta forma será possível retirar da invisibilidade social, política, jurídica, econômica e cultural os milhões de jovens que estão bradando por socorro na luta contra inúmeras barreiras que foram atravessadas em seu caminho pelo sistema em geral e, sobretudo, pelo capital, obstáculos esses que os impedem o sonho de uma graduação.

O pensador Immanuel Kant ensina que a dignidade é o valor que reveste tudo aquilo que não tem preço, ou seja, cada pessoa tem o seu próprio valor, um fim em si mesmo, não podendo ser coisificado e nem precificado. Assim avançaram as dimensões do direito, consolidando a cada era a paz, a liberdade, igualdade e fraternidade notadamente para os grupos vulneráveis, onde apesar de esses preceitos estarem em vigor, não há uma fiscalização.

1 Dramaturgo, romancista e jornalista irlandês (1856-1950). Cofundador da London School of

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O jurista Mauro Cappelletti definiu com nome de “barreiras” as dificuldades enfrentadas pelas pessoas na busca da justiça, podendo ser elas definidas como externas e internas. Sob esse aspecto ele propõe três ondas potencialmente solucionantes dos mencionados obstáculos que contribuíram para a evolução dos direitos, in casu, das pessoas com deficiência: a assistência judiciária, a representação jurídica para os interesses difusos e a concepção mais ampla de acesso à justiça por meio de um novo enfoque. (CAPPELLETTI,1988).

Nesse sagrado intento de promoção da efetividade da justiça com o acesso a educação superior na rede privada a partir do respeito ao princípio da ‘’igualdade de armas’’ (CAPPELLETTI, 1988, p.15), a decantada ADI foi radicalmente repudiada.

3 Idiossincrasias emanadas da ADI 5357/15

A prefalada ação, arguiu a inconstitucionalidade dos arts. 28, §1º e 30, caput da Lei de Inclusão, normativos esses que garantem igualdade a pessoas com deficiência no acesso ao curso superior em instituições privadas, cabendo “ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar o sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida” (art.28, I).

De igual modo, compete-lhe o “aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena “. Esses atributos naturalmente devem ser associados um projeto pedagógico que consagre o atendimento educacional especializado, “assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia”.(art.28, III).

Ganhou destaque no mesmo decreto, o seu art.28, em razão do veto à cobrança de valores extras dos estudantes com deficiência, verbis:

§ 1° Às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente o disposto nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas determinações. (g.n.)

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E ainda, as premissas do art.30 segundo o qual nos processos seletivos para ingresso e permanência nos cursos oferecidos pelas instituições de ensino superior e de educação profissional e tecnológica, públicas e privadas, devem ser adotadas as seguintes medidas:

I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência nas dependências das Instituições de Ensino Superior (IES) e nos serviços;

II - disponibilização de formulário de inscrição de exames com campos específicos para que o candidato com deficiência informe os recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva necessários para sua participação; III - disponibilização de provas em formatos acessíveis para atendimento às necessidades específicas do candidato com deficiência;

IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de tecnologia assistiva adequados, previamente solicitados e escolhidos pelo candidato com deficiência;

V - dilação de tempo, conforme demanda apresentada pelo candidato com deficiência, tanto na realização de exame para seleção quanto nas atividades acadêmicas, mediante prévia solicitação e comprovação da necessidade; VI - adoção de critérios de avaliação das provas escritas, discursivas ou de redação que considerem a singularidade linguística da pessoa com deficiência, no domínio da modalidade escrita da língua portuguesa;

VII - tradução completa do edital e de suas retificações em Libras.

A ADI 5357/DF limitou-se às instituições "privadas" de ensino superior. Essas alegaram a inconstitucionalidade deste preceito que lhes obriga a oferecer ensino superior de qualidade sem cobrar das pessoas com deficiência taxas extras dentro de suas mensalidades.

Esta ADI foi julgada improcedente sob o argumento de que “o princípio da igualdade é fundamento de uma sociedade democrática que respeita a dignidade humana”, e ainda:

(...)

4. Pluralidade e igualdade são duas faces da mesma moeda. O respeito à pluralidade não prescinde do respeito ao princípio da igualdade. E na atual quadra histórica, uma leitura focada tão somente em seu aspecto formal não satisfaz a completude que exige o princípio. Assim, a igualdade não se esgota com a previsão normativa de acesso igualitário a bens jurídicos, mas engloba também a previsão normativa de medidas que efetivamente possibilitem tal acesso e sua efetivação concreta.

(...)

6. É somente com o convívio com a diferença e com o seu necessário acolhimento que pode haver a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, em que o bem de todos seja promovido sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (Art. 3º, I e IV, CRFB).

7. A Lei nº 13.146/2015 indica assumir o compromisso ético de acolhimento e pluralidade democrática adotados pela Constituição ao exigir que não

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apenas as escolas públicas, mas também as particulares deverão pautar sua atuação educacional a partir de todas as facetas e potencialidades que o direito fundamental à educação possui e que são densificadas em seu Capítulo IV. (STF, 2016)

As instituições particulares devem tornar-se aptas ao acolhimento dos estudantes. Isto é o básico para que não ocorra o desrespeito à CF/88 e nem à Declaração Universal dos Direitos Humanos que apregoa em seu artigo 1º: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade."

4 Análise dos votos desse veredicto

Concernente à justiça e consistência jurídica dos votos cristalizadores do decreto in examen, prefacialmente soa razoável apreciar o parecer do ministro relator Edson Fachin. Em suas palavras, esta ADI tem seu epicentro na obrigatoriedade das escolas privadas de oferecer atendimento educacional adequado e inclusivo às pessoas com deficiência, garantia esta que ela busca demolir ao confrontar os arts. 28, §1º e 30, caput da Lei 13.146/2015, que garantem inclusão e acessibilidade no ensino superior privado para a pessoa com deficiência.

Posicionou-se pela improcedência da ADI e ainda determinou que o julgamento da medida cautelar fosse então tornada em julgamento de mérito, ad referendun, isto é, com a aderência dos ministros. Com exceção do ministro Marco Aurélio, que votou por acolhimento parcial da ADI, todos os demais acompanharam o voto do relator, ocorrendo então a conversão em julgamento de mérito.

O ministro Fachin mencionou que os amici curiae deliberaram pela improcedência da ADI. Asseverou que o fato de a CF permitir o ensino superior privado não o excluí das obrigações do ensino público considerando seguir a normativa do Estado. Assim a inciativa privada não se exime de cumprir as regras de acessibilidade contestadas. Sendo assim, o acréscimo de taxas para pessoas com deficiência configuraria inconstitucionalidade, vez que violaria o princípio da igualdade. Constitucionalmente, a regra aplica-se a todos os agentes econômicos, de modo que há verdadeiro perigo inverso na concessão da cautelar, correndo o risco de se criar nas instituições particulares de ensino, privilégio que oficializa a discriminação.

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O ministro Luís Roberto Barroso acompanhou integralmente o voto de Fachin. De igual forma procedeu o ministro Teori Zavascki. A ministra Rosa Weber também acompanhou o voto do relator, e adicionou uma compreensão pessoal, no sentido de que a Lei 13.146/2015, tão somente reafirmou o dever constitucional de matricular todas as crianças, adolescentes e jovens, sem qualquer discriminação, e oferecendo acessibilidade necessária ao seu processo de ensino e aprendizagem.

O ministro Luiz Fux acompanhou o voto do relator, e acrescentou que a autora usou de argumento ad terrorem, propondo que deveriam haver escolas especiais para que determinadas deficiências não atrapalhassem a convivência com alunos sem deficiência. Mencionou a fala da Advogada Geral da União, anulando esse exemplo, explicando que essa inclusão escolar leva em consideração a capacidade de aprendizado do aluno.

O ministro Dias Toffoli acompanhou integralmente o voto do relator, bem como a ministra Carmem Lúcia. O ministro Gilmar Mendes também endossou o voto do relator, todavia, mencionou, obice dictum, que têm preocupação relativa a transição e os obstáculos para implementação da lei.

O ministro Marco Aurélio acompanhou apenas parcialmente o voto do relator, sob o argumento que o mundo econômico é impiedoso, e dada a quantidade de solicitações dos artigos atacados, a lei se tornaria em “lei para inglês ver”, ineficaz. Asseverou que o ao incluir o ensino privado nas exigências contestadas o Estado estaria “cumprimentando com o chapéu alheio”. Considerou que é constitucional a interpretação dos artigos atacados no que tange ao planejamento quanto à iniciativa privada, ante múltiplas providências que a lei demanda. O ministro Ricardo Lewandowski também acompanhou o voto do relator.

O voto parcialmente contrário do ministro MARCO AURÉLIO, em essência, coadunou com o entendimento dos demais ministros, especialmente do relator, no que tange haver igualdade constitucional no decreto, Porém apenas divergiu ao sustentar que a efetivação dos artigos objurgados requer um tempo para planejamento.

Fato é que o Estado pode trabalhar com incentivos econômicos para que haja possibilidade real de implementação da regra proposta que contempla as pessoas com deficiência, classe mais fragilizada, considerando que o ensino regular engloba tanto público como privado, e que a tolerância é construída a partir da convivência, vez que, como dito nas sustentações, a sociedade brasileira tende a segregar.

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5 Estatísticas do IBGE, MEC/INEP e do questionário aplicado

Releva salientar que as estatísticas e números já sistematizados a respeito da matéria ora em tela pelos órgãos governamentais muito poderão contribuir para a clarividência do questionamento aqui enfrentado.

Sob esse aspecto, o IBGE (2017) noticiou recentemente relevante informação no sentido de que a população brasileira conta hoje com 208.695.782 pessoas.

No tocante aos que apresentam alguma deficiência, soma 24%, ou seja, 45.606.048 da população no ano de 2010.O grau de instrução dessas pessoas com 15 anos ou mais de idade correspondia a:

A. 61.13% – Sem instrução ou Ensino Fundamental Completo; B. 17.67% – Ensino Médio Completo ou Superior Incompleto; C. 14.15% – Ensino Fundamental Completo ou Médio Incompleto; D. 6.66% – Ensino Superior Completo.

Segundo fonte de dados do INEP, a soma total de matrículas no Brasil, ao ensino superior no ano 2004 era de 4.223.344, e em 2014 de 7.828.013 inscrições. O número de matrículas de pessoas com deficiência, no mesmo grau de ensino, em 2004 totaliza 5.395 e no período de 2014 a 33.377. Portanto, o porcentual de pessoas com deficiência matriculadas no ensino superior no país em 2004 era igual a 0,12%, aumentando para 0,42% em 2014.

No Brasil, segundo o Censo da Educação Superior - 2016, o número de alunos deficientes nos Cursos de Graduação correspondia a 35.891, e 21.333 deste são de instituições privadas. No Estado de Minas Gerais, o número de estudantes equivale a 4.678, e 1.924 desses estão ensino superior privado.

Dados revelam que as pessoas com deficiência que concluíram o ensino médio em 2003 foram 5.940, e em 2013 esse número representou 48.589. Por sua vez, em 2003, foram 5.078 que ingressaram no ensino superior, enquanto que em 2013 foram apenas 29.221. Esses números podem estar indicando um déficit de 19.368 pessoas que não conseguiram prosseguir seu processo educacional e permaneceram à margem do sistema, numa invisibilidade que desafia os preceitos éticos e morais de uma sociedade que se propõe a ser justa, fraterna e igualitária.

Essa realidade foi corroborada durante a aplicação dos questionários neste projeto de pesquisa. A quantidade de pessoas identificadas nas Faculdades EM

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governador Valadares/MG foi surpreendente, eis que quase inexistentes. Os(as) três entrevistados sinalizaram aspectos relevantes que guardam total coerência com os indicadores supra apresentados.

No geral, afirmaram a necessidade de maior acessibilidade nas instituições, mas também no aspecto atitudinal, bem como declararam ser ótima a receptividade por colegas, professores e funcionários.

Dentre eles, dois destacaram que não conhecem o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão da FADIVALE – NACI, fato que sugere medidas que possam proporcionar mais notabilidade e dinamismo a este relevante órgão, dentre outras questões que poderão, a posteriori, ser consideradas.

5 Conclusão

Por fim, vale retomar a questão-problema: Qual é o nível de consistência jurídica e a justeza dos votos que julgaram a ADI 5357/DF, segundo o pensamento de Mauro Cappelletti e de Immanuel Kant, tendo em vista a garantia constitucional do acesso à educação, à dignidade da pessoa humana, igualdade e ética social?

A princípio, parece notório que existe sim justeza e consistência jurídica na referida decisão do STF. Afinal, qualquer outra posição violaria CF/88, que preza pela dignidade e igualdade da pessoa humana. Quanto à igualdade, pressupõe a disposição a favor de todos, os mesmos direitos, sem qualquer distinção. Quanto a inclusão das pessoas com deficiência, ainda não há, por hora, real efetivação das políticas sustentadas pela CF/88. Fato é que os dados apontados neste trabalho demonstram enorme ausência de pessoas com deficiência no ensino superior no Brasil.

Adicione-se a tanto o fato das pessoas com deficiência entrevistadas para esta pesquisa terem dito, em seus relatos, que encontram barreiras nas instituições nas quais estudam. Dentre estas dificuldades a maior delas é a falta de prioridade em seu atendimento. Por quanto, cada instituição de ensino superior deve efetuar os devidos investimentos para promovera s necessárias adequações. Assim, a deficiência passará a ser um mero detalhe que não diferenciará as pessoas no meio acadêmico.

Portanto, conclui-se que os votos prolatados na ADI5357/DF soam justos e consistentes. Eis que é imoral a pretensão de aumento dos valores das mensalidades.

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As adequações nas instituições não devem acumular outro ônus para aqueles que já trazem o duro fardo imposto pelo destino de ser um “diferente”. A cobrança de mensalidade maior é inadequada, uma vez que, seria conflitante com um dos princípios norteadores da CF que é do “não retrocesso”, que visa garantir e consolidar os avanços conquistados pela sociedade democrática brasileira.

Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988: atualizada até a Emenda Constitucional n.o 97, de 05.10.2017. In: Vade Mecum Saraiva. 23. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2017.

______ Lei n° 13.146, 06 de julho de 2015, Institui a Lei Brasileira de Inclusão (Lei do Estatuto da Pessoa com Deficiência). VadeMecum Saraiva. 23. Os votos da ADIEd. atual. ampl. São Paulo. Saraiva. 2017.

______. Ministério da Educação – MEC. Principais Indicadores da Educação de Pessoas com Deficiência. Disponível em: http://portal.mec.gv.br/index.php?option= com_docman&view=download&alias=16759-principais-indicadores-da-educacao-de-pessoas-com-deficiencia&Itemid=30192. Acesso em: 03.10. 2017. Brasília-DF. 2006. ______. Supremo Tribunal Federal. Acordão na ADI 5357/DF. Relator: FACHIN,

Edson. Publicado no DJE e no DOU 04.04.2017. Disponível em

<http://www.stf.jus.br>. Acesso em 10.09.17.

CAPPELLETTI, Mauro.; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie, Northleet. Porto Alegre: Sergio Antoônio Fabris Editor; 1988, Reimpressão: 2002. FULLIN, Carmen Silvia. Acesso a Justiça. A construção de um problema em mutação. In: Manual de Sociologia Jurídica. SILVA, Felipe G.; RODRIGUES, José Rodrigo. ed. 2º. atual São Paulo: Saraiva. 2015. p. 222 a 236.

IBGE. Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação. Disponível em https://ww2.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/. Acesso em 15 de outubro de 2017.

ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos Paris, 1948. Disponível em:

http://www.un.org/en/universal-declaration-human-rights/. Acesso em 29 ago.2018.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafisica dos costumes e outros estudos. Tradução de Leopoldo Holzback. São Paulo. Martin Claret. 2004.

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