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Imperialismo Brasileiro na Bolívia

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Academic year: 2021

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Imperialismo Brasileiro na Bolívia

PETROBRAS, OAS e BNDS no conflito da Terra Indígena e

Parque Nacional Isiboro Secure (TIPNIS) na Amazônia Boliviana

Guenter Francisco Loebens, CIMI-Norte I (guenterfran@gmail.com) Fernando López, CIMI-Equipe Itinerante (jflopezperez@gmail.com)

Entre mobilizações, protestos, bloqueios, fechamentos de ruas e explosões de bananas de dinamite contra algumas políticas do governo de Evo Morales, celebrou-se o

Iº Foro

Andino-Amazônico de Desenvolvimento Rural,

na cidade da Paz, Bolívia, nos dias 9-11/5/2012. O objetivo geral do evento foi:

“Gerar a partir da sociedade civil espaços

plurais de debate sobro modelos, políticas e estratégias de desenvolvimento rural nos

países da região Andino-Amazônica”

.

Durante o encontro vários expositores, procedentes de distintos países latino-americanos, analisaram as atuais políticas e estratégias de desenvolvimento rural implementadas na região Andino-Amazônica. Um interessante debate foi aberto sobre os avanços e desafios no campo econômico e político; e também se deu uma grande importância e visibilidade ao papel estratégico das comunidades camponesas e indígenas na produção, segurança e soberania alimentaria na região.

Nos mesmos dias que se realizava o Foro Andino-Amazônico, alem dos protestos na cidade de La Paz, as comunidades originarias da Terra Indígena Parque Nacional Isiboro Secure (TIPNIS) iniciavam a “IX Marcha” desde a floresta amazônica rumo à capital andina. A medida de força foi adotada para impedir que o governo de Evo construa a estrada de Vila Tunari (Cochabamba) a San Ignacio de Moxos (Beni), cortando o TIPNIS pelo seu coração. Esta estrada é um dos eixos de conexão da iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) que corta a Amazônia norte-sul e leste-oeste. O IIRSA junto com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), proposto pelo governo Lula e potencializado

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pelo governo Dilma (PAC II), buscam conectar a costa atlântica com a costa pacífica, abrindo o Brasil ao comercio com os “gigantes asiáticos”. Esta lógica de grandes projetos já foi denunciada pela Coordenação Andina de Organizações Indígenas (CAOI), na sua “Resolução dos Povos Indígenas sobre o IIRSA” (La Paz, 19/01/08): “O projeto IIRSA [e o PAC acrescentamos nós] quer nos converter em territórios de trânsito...”

É Parque Nacional e Terra Comunitária de Origem (TCO) multiétnica na que habitam cinco povos indígenas: Yurakaré, Moxeños, Mobima, Carayanas, Tsiman. Uma área de mais de 100 mil hectares já foi invadida e depredada por colonos, principalmente “cocaleros” (produtores de coca) e também madeireiros e fazendeiros. Esta área de invasão está localizada na região sul-central do TIPNIS (linha vermelha no mapa) que já penetra até o coração do território. O governo de Evo, justificando-se nesta invasão e com o apoio de seus invasores, quer acabar de cortar o TIPNIS com a estrada Vila Tunari – San Ignacio de Moxos.

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É importante recordar que um ano atrás (setembro de 2011) já se tinham mobilizado as comunidades do TIPNIS na VIII Marcha, quando ficaram sabendo deste projeto viário do Governo que queria impor sem consulta previa às comunidades. Na ocasião o governo de Evo mandou reprimir violentamente esta mobilização.

Contudo, os mesmos indígenas que votaram Evo, fazem com que o Presidente retroceda e se comprometa em não fazer a estrada durante seu governo. Só que alguns meses depois Evo volta a ceder às pressões e quer a todo custo levar o projeto para frente...

Durante o Fórum Andino-Amazônico varias vezes foi analisada com preocupação a dinâmica expansionista, colonizadora e imperialista do Brasil. Em concreto foi denunciado o fato do BNDS financiar a estrada que cortará o TIPNIS pela metade, a ser construída pela empresa brasileira OAS, e onde a Petrobrás tem importantes lotes, parte deles dentro do Parque, para exploração petrolífera. Também a empresa Petroandina tem a concessão de vários lotes petroleiros dentro do TIPNIS. Não deve ser por acaso, nem uma simples coincidência que o

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projeto petrolífero e viário esteja em mãos de poderosas empresas brasileiras e financiados por seus bancos... De fato o projeto petrolífero necessita de infra-estrutura viária para seu bom desempenho... A pressão sobre o governo boliviano deve ser muito grande... Como é possível que o governo boliviano tenha autorizado estes grandes projetos extrativos de grande impacto sócio-ambiental numa área que como o TIPNIS onde há superposição de figuras jurídicas –terra indígena e área de proteção ambiental? Como é possível que tenham sido autorizados estes grandes projetos sem consulta as comunidades indígenas que habitam na região? Recordamos que Bolívia já ratificou o Convenio 169 da OIT pelo qual o governo se compromete a consultar as comunidades indígenas em qualquer projeto de exploração que afete seus territórios. Como é possível que o Evo Morales, primeiro presidente indígena de AL, do povo Aymara, tenha autorizado estes projetos sem consultar as próprias comunidades indígenas que o elegeram e colocaram como Presidente da Bolívia?

É preocupante que Brasil, com o Governo Dilma, em seu afã de ser uma das primeiras economias do mundo, assuma o modelo econômico desenvolvimentista, pós neoliberal, baseado na super exploração dos recursos naturais para a exportação. É muito preocupante que Brasil reproduza o velho imperialismo imposto em outros tempos pelos EE.UU. e o sistema de exploração neo-colonial sobre os países vizinhos da região. Brasil, com toda sua potencialidade, está perdendo a oportunidade histórica de liderar a construção de um outro paradigma de “envolvimento”, no que todos posam “bem viver”.

A situação se repete em toda América Latina. Todos os governos, independentemente do ideário político que defendam, estão dobrados e acabam por ajoelhar-se a lógica

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desenvolvimentista que acaba ditatorialmente impondo sua dinâmica exploradora, depredadora e ecocida.

A esperança está nos povos do continente que a pesar do sofrimento resistem e se mobilizam insurgindo-se uma e outra vez contra o sistema. O testemunho ousado e teimoso dos povos do TIPNIS que continuam avançando sobre La Paz para defender a vida é um exemplo que se reproduz também por toda AL e pelo mundo...

Cresce o entendimento da necessidade de fortalecer as lutas de transformação, protagonizadas pelos movimentos indígenas e populares, para além dos limites geográficos e dos países a exemplo da iniciativa do Fórum Andino-Amazônico realizado em La Paz.

A “Cumbre de los Pueblos” se reunirá proximamente na Rio +20 para levantar sua voz e denunciar o “capitalismo verde” que nos tentam vender os governos na “cumbre oficiosa” (não oficial). Ela é um novo grito de parto, com dor e com gozo, fruto das cada vez mais continuas contrações que a humanidade e o planeta estão tendo em sua gestação de uma nova história... Está aproximando-se a hora, o parto de um outro paradigma em favor da vida, do “bom viver” e do “viver bem” para todos e para amanhã, não só para alguns e para hoje!

Referências

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