Anais da
Semana de Pedagogia da UEM
ISSN Online: 2316-9435
XXI Semana de Pedagogia
IX Encontro de Pesquisa em Educação 20 a 23 de Maio de 2014
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: CONTRIBUIÇÕES DE UMA PRÁTICA
DIRECIONADA
BORTOT, Camila Maria camilabortot@hotmail.com MACHADO, Heloíse Martins
heloise_09@hotmail.com SAITO, Heloisa Toshie Irie (Orientadora) htisaito@uem.br Universidade Estadual de Maringá Formação de professores e intervenção pedagógica
INTRODUÇÃO
A ideia de que a criança precisaria de uma literatura específica correspondente à sua faixa etária começou no final do século XVII, com o objetivo de ensinar valores e criar hábitos decorrentes da época. Atualmente, além disso, a Literatura Infantil possui a função de contribuir com as relações afetivas da criança com os livros, de forma a proporcionar prazer, estimular a criatividade, a curiosidade, a imaginação, a fantasia e a aquisição da escrita sistematizada. Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo destacar as especificidades da Literatura Infantil para o desenvolvimento infantil e enfatizar como a escola por meio da contação de história direcionada contribui ao progresso intelectual e social da criança.
Ler e contar histórias permitem suscitar o imaginário, ter curiosidade para ser respondido em meio a tantas perguntas, encontrar outras ideias para resolver os conflitos das personagens, possibilitar a vivência de impasses de nossa sociedade e conhecer possibilidades de soluções; é se identificar com algumas características das personagens e, assim, iniciar um processo de criação de sua própria identidade.
Quando ouvimos histórias, podemos sentir as emoções das personagens, como a alegria, a tristeza, a raiva, o pavor, a segurança, o desconforto, a tranquilidade, entre outras. Dessa forma, a contação de histórias permite “viver profundamente tudo aquilo que as
narrativas provocam em quem as ouve – com toda a amplitude, significância e verdade que cada uma delas fez (ou não) brotar... Pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário” (ABRAMOVICH, 1997, p. 17).
A metodologia deste trabalho configura-se em três momentos. O primeiro momento intitulado A importância da Literatura Infantil na Escola discorrerá acerca de como a Literatura Infantil contribui ao desenvolvimento infantil no processo de escolarização da criança, em suas competências criativa, crítica e cognitiva ao progresso integral da criança, mostrando o porque é essencial o trabalho com a Literatura Infantil na Educação Infantil. No segundo momento intitulado A prática da contação de histórias mostraremos quão é essencial que o professor conheça algumas metodologias que envolvem a contação de histórias, bem como os fatores que a compõem, como, por exemplo, a entonação, a postura, a dramatização, entre outros aspectos. E o por fim, o terceiro momento, as Considerações finais deste trabalho.
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NA ESCOLA
O trabalho com a Literatura Infantil nos anos iniciais de escolarização da criança é relevante para formar uma atitude leitora que propiciará o desenvolvimento integral da criança. Neste sentido, trabalhar com a Literatura Infantil é uma grande possibilidade de permitir que os pequenos se desenvolvam integralmente e de maneira divertida, envolvendo elementos do fantástico e do real, desenvolvendo a imaginação e a inteligência.
Literatura Infantil é uma produção literária que manifesta ideias e sentimentos expressos oferecendo à criança momentos de aprender a ouvir e focar a atenção. Tem especificidades dependendo do público: faixa etária, estimulação familiar, relação com o mundo da escola e um convívio social. Ou seja, a escolha do livro é determinada pela idade da criança, pelos elementos que querem ser atingidos e qual instituição a ele se remete.
Abramovich (1991, p. 17) diz que a Literatura Infantil “é uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos”. No tocante a esta afirmação, compreendemos também que a ação de contar e ouvir histórias tem grande valor por ultrapassar prazeres, efetivando também a iniciação da criança na construção da linguagem, valores, sentimentos e ideias, contribuindo para alterar e/ou enriquecer os conhecimentos e criando subjetividades acerca da personalidade da criança.
A partir destas características, os professores devem valorizar a Literatura Infantil como formadora de consciência para uma compreensão de mundo da criança, uma visão ampla de tudo que a rodeia, tornando-a mais crítica e reflexiva, desenvolvendo seu pensamento organizado. Ela ainda colabora ao imaginário, responde dúvidas em relação a tantas perguntas formuladas sobre o porquê das coisas, ajuda a encontrar novas ideias para solucionar questões e ainda estimula a curiosidade do pequeno leitor.
A cultura que a criança vive age sobre sua formação e seu desenvolvimento. A aprendizagem é algo que se procede ao longo das reais situações que os pequenos vão experienciando. É necessário ressaltar que cada criança absorve as experiências por meio do sentido lançado em suas vivências anteriormente construídas.
Vygotsky (1994) remete-nos à mesma ideologia, dizendo que o relacionamento entre a criança e a cultura que vivencia, sendo os pequenos indivíduos ativos e influenciados pelo meio, permite a apropriação da cultura no ambiente em que nasce e cresce. Ainda, o autor em questão discorre que a criança é um ser dinâmico e que se transforma de acordo com experiências que vivenciam. De acordo com o Vygotsky (1994) as experiências afetivas, fatores este fundamentais ao desenvolvimento psicológico e assim, a sua personalidade, determinarão qual tipo de influência uma ocasião desempenhará sobre a criança.
Neste texto, destacamos a influência da Literatura Infantil a qual acreditamos que é uma das alternativas essenciais para o pleno desenvolvimento da criança, um exercício à aprendizagem. Elas têm o direito de conhecer um mundo de emoções, de diversão, ampliar os seus conhecimentos, conhecer, de ter contato com o livro, instigar a curiosidade, conhecer autores, viver coletivamente e de sentir prazer ao ler ou ouvir histórias e viver fantasia e encantamento.
Sendo assim, o papel do professor vem para oportunizar a expressão das ideias da criança, por exemplo, a criança se desenvolver intelectualmente por meio de sua própria invenção de histórias. Rego (1995, p. 56) mostra que o professor atuará como elemento facilitador e incentivador do interesse da criança pela leitura de modo que não se coloque apenas como leitora, mas como também espectadora de “leituras” reportadas pela criança. A criança se sente feliz e realizada por sentir que ocupam um espaço dentro da sala de aula contribuindo com as atividades, porque tem voz e vez para expressar suas ideias e fantasias.
Assim, o papel do educador é de assumir um compromisso com o educando, mostrando suas práticas pessoais de ler por prazer e possuindo práticas de incentivo à leitura, a fim de acordar a curiosidade da criança pelos misteriosos símbolos da escrita, desafiando-os
para que formulem suas hipóteses para poderem abrir caminhos ao universo da leitura, de maneira livre sendo guiado por suas próprias preferências.
Ao trazer a Literatura Infantil como prática planejada e intencional, se estabelece uma relação dialógica com a criança, o livro, sua tradição e a própria realidade. Além de apresentar a história, os professores criam oportunidades para a criança olhar a história a partir do seu ponto de vista, dialogar com ela, defender atitudes e personagens, construir novas situações por meio das quais a própria criança vivencia esta “nova” história.
Rego (1988, p. 60) expõe que o exercício da Literatura Infantil contribuirá à leitura e escrita, em que a alfabetização será transformada em um processo menos difícil, pois a prática pedagógica anterior à alfabetização contribuirá com a socialização da criança com o meio escrito, preparando a criança para adentrar neste mundo de maneira interrupta.
A Literatura Infantil não deve ser utilizada como pretexto, mas sim com suas especificidades para o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da criança envolvendo o encantamento que compõe esta fase. Então, o trabalho com esta arte na Educação Infantil deve ser uma atitude que propicie aprendizagens, experiências e sentimentos para a construção da identidade do ser, almejando a elaboração de conhecimentos específicos. Isso acontece somente ao passo que planejamos de modo consciente e sistemático um trabalho pedagógico de qualidade pautado na ação e reflexão.
Desenvolver cada aspecto do desenvolvimento do conhecimento com ludicidade e prazer em todas as suas especificidades que o livro pode conter são possibilidades que devemos criar e refletir para tornar a Literatura Infantil uma direção utilizada diariamente para efetivar a formação do ser social e do conhecimento que tanto almejamos.
A PRÁTICA DE CONTAR HISTÓRIAS
Estimular a prática de contar histórias inserindo-a na rotina das instituições é uma atividade aparentemente simples. Mas, tal atividade deve ser pensada, planejada e preparada, pois na fase inicial da infância o desenvolvimento precisa da interação e da mediação com o adulto. Então, ter boa vontade e gostar de literatura não basta, o educador deve ser um leitor crítico, conhecer obras literárias e seus autores, pesquisar quais temas envolvem a infância e suas necessidades. Em suma, é preciso conhecer e saber que a história prende a atenção, socializa, educa e além disso, é necessário o professor ter intencionalidade e organização no
momento da narração, para que o desenvolvimento tenha um progresso efetivo. Segundo Abramovich (1997, p. 18):
[...] para contar uma história – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes [...] Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção... Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas... com o jogo das palavras. [...] É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declamação ou teatro [...]ela é o uso simples e harmônico da voz.
Dessa forma, o bom contador, além de escolher uma boa narrativa, deve apresentar técnicas e habilidades necessárias que potencializem o aprendizado, contribuam para o desenvolvimento intelectual do aluno e transmitam alguns valores educativos, dentre eles, a imaginação, o controle das emoções, a educação dos sentidos e a lógica.
Neste sentido, para que haja o envolvimento da criança com a história, faz-se necessário que o narrador crie um clima de encantamento, um cenário que proporcione prazer com a literatura. Para tanto, o mesmo “[...] deve ter a consciência de que o importante é a história” (DINORAH, 1995, p. 55) e que sua função é dar voz, vivacidade e emoção à narrativa, por meio de expressões faciais e entonação.
Abramovich (1997) defende que qualquer história pode ser contada às crianças: comprida, curta, antiga, atual, contos de fadas, histórias de fantasma, de velho oeste, lendas ou poesias; desde que o narrador a conheça muito bem e tenha uma intencionalidade em contá-la. Além de que, as histórias, segundo Dinorah (1995), devem atender a três finalidades: comover, agradar e instruir, propiciando um encanto pessoal e intransferível. Logo, a preparação do contador deve ser a essência de todo o trabalho, por exemplo, é preciso ler o texto antecipadamente, estudar as palavras difíceis e saber a pronúncia correta de cada uma delas.
No momento da contação, o narrador deve criar um clima de envolvimento com a história para que a criança se encante com a narrativa,
[...] que saiba dar pausas, criar os intervalos, respeitar o tempo para o imaginário de cada criança construir seu cenário, visualizar seus monstros, crias seus dragões, adentrar pela casa, vestir a princesa, pensa na cara do padre, sentir o galope do cavalo, imaginar o tamanho do bandido e outras coisas mais [...] (ABRAVOMICH, 1997, p. 21)
É preciso evitar muitas descrições das cenas e deixar o campo mais amplo para o imaginário infantil. Respeitar as alterações nos tons de voz das personagens, por exemplo, ao sussurrar, ao falar bem calmo ou falar exacerbadamente alto e vivenciar emoções que elas apresentam: sonolência, alegria, susto, dúvida, etc., principalmente no conflito da narrativa. Com isso o narrador estimulará a criança a pensar, ver e ouvir com os olhos do imaginário.
Para tornar a narrativa mais atraente, alguns recursos podem ser utilizados, de forma que explorem sua criatividade e enriqueçam tal momento, dentre eles, fantoches, flanelógrafo, o próprio livro, desenhos, gravuras, etc. Tais recursos auxiliam na contação por constituírem-se de elementos que tornarão as personagens, de certa forma, reais e contribuirão para chamar a atenção da criança e estimular sua imaginação.
De acordo com Malamut (1990, p. 6), as histórias se forem lidas ou contadas às crianças, constituem um generoso processo educativo, pois ensinam de forma divertida, possibilitando à criança os estímulos e motivações adequadas para satisfazer seu interesse, sua necessidade, seu desejo. Assim, se a obra literária escrita for apresentada à criança desde cedo, ela terá ampla compreensão de si e do outro, colaborando com as relações sociais e o entendimento de si própria. Além disso, oportunizará desenvolver seu potencial criativo e ampliar seus conhecimentos, propiciando, portanto, um desenvolvimento coerente à criança, porque ao vivenciar a história por meio da narração, tocar o livro, observar as figuras, ler ou não, seu significado será muito mais pleno à interiorização das informações.
Desta forma, os livros de Literatura Infantil colocam-se como base para o deslumbro da criança às primeiras leituras, aqui por meio da contação, que vão à frente do que somente palavras. Com tal recurso, damos às crianças possibilidades de vivências com formas de leituras adequadas mediadas por professores compromissados à formação leitora efetiva e significativa. Devemos apresentar o livro em forma física, mostrar informações sobre o autor, ler a história mostrando as ilustrações, a fim de envolver a criança no enredo da história para promover uma participação ativa, retomando e questionando pontos sobre o conto.
Logo, temos intencionalidade para situar a criança ativamente nas atividades motivadoras do aprendizado e do desenvolvimento, considerando também a importância dos processos de interação social resultado das ações externas e internas, assimilando e aperfeiçoando as ações psíquicas ao progresso, inicialmente mediadas pelo adulto.
Os docentes são mediadores do relacionamento da criança com os objetos de culturas, e assim, motivamos a serem construtores de mediações, com papel fundamental para o desenvolvimento infantil. Devemos ter em vista uma prática pedagógica intencional para que
os conhecimentos passados por meio da contação de histórias sejam apropriados, exercendo na criança o seu protagonismo e tendo visibilidade nas coisas que estão em evidência para si.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O livro traz um mundo consigo, mundo este encantado e capaz de inventar e viver histórias as quais nos identificamos. Há uma variedade de formas de leitura: a maneira que a criança lê o mundo, ao tocar objetos, ao ver ilustrações nos livros, olhar o que nos rodeia, objetivando assim possibilidades de se encantar com a fantasia construída a partir do real e, ainda, este real que vivenciamos. Sendo o livro uma forma de conhecer o mundo real e imaginário pela leitura, é importante incluir a Literatura Infantil, desde muito pequena, para a criança conheça o mundo letrado a partir de uma intervenção ativa e intencional do professor.
Reafirmamos que a Literatura Infantil é um caminho relevante para o desenvolvimento íntegro da criança em suas capacidades cognitivas, sociais e no seu processo de alfabetização, seja por meio da contação de histórias ou pela leitura na sala de aula. De acordo com Bortot e Saito (2013, p. 3) os livros devem estar sempre presentes na vida dos pequenos, pois promovem o desenvolvimento da inteligência e interação, bem como são fonte de divertimento e prazer.
Criar estratégias para a contação de histórias, com o intuito de promover um ensino e qualidade, é possibilitar às crianças o desenvolvimento de cada aspecto do desenvolvimento do conhecimento com ludicidade, prazer em todas as suas especificidades que o livro pode conter. Esta é uma das possibilidades que devemos criar e refletir para tornar a Literatura Infantil um uso diário a fim de efetivar a formação do ser social e do conhecimento que tanto almejamos, e cabe a nós, adultos interessados na educação da criança, dar possibilidades para que isto aconteça.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.
BORTOT, C. M.; SAITO, H. T. I. Concepção de pais, professores e crianças acerca da Literatura Infantil. In: Anais da XX Semana de Pedagogia da UEM/ VIII Encontro de Pesquisa em Educação / I Jornada Parfor, 2013, Maringá. XX Semana de Pedagogia da UEM/
VIII Encontro de Pesquisa em Educação/ I Jornada Parfor, 2013. Disponível em:
<http://www.ppe.uem.br/semanadepedagogia/2013/PDF/T-02/13.pdf>. Acesso em abril de 2014.
DINORAH, M. O livro infantil e a formação do leitor. RJ: Vozes, 1995
MALAMUT, E. Contando ou lendo estória na pré-escola – Revista do professor. RS: Cpoec, ano VI, nº 21, janeiro a março, 1990.
REGO, L. L. B. Literatura Infantil: Uma Nova Perspectiva da Alfabetização na Pré-escola. São Paulo: FTD, 1998.
VYGOTSKY, L. S. Formação social da mente. Trad. José Cipolla Neto et alii. São Paulo, Martins Fontes, 1994.