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TVS REGIONAIS: UMA LEITURA DA PROGRAMAÇÃO FEITA POR GRUPOS DA TERCEIRA IDADE

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TVS REGIONAIS: UMA LEITURA DA PROGRAMAÇÃO FEITA POR GRUPOS DA TERCEIRA IDADE

IVETE CARDOSO DO CARMO ROLDÃO (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS).

Resumo

No Brasil, é pequena a participação da sociedade em iniciativas que acompanhem e fiscalizem a programação das emissoras de Televisão. Isso ocorre pela falta de discussão da mídia em espaços nos quais ela poderia ocorrer, como as igrejas, escolas, sindicatos e associações comunitárias em geral. Por outro lado, o mercado publicitário é dominado pela televisão aberta e as TVs regionais também são regidas pela lógica mercadológica, interessando, portanto, ter um amplo território de abrangência para a comercialização de seus programas. Sem perder de vista esta lógica própria da nossa sociedade, busca–se questionar neste trabalho a possibilidade de se fazer uma TV regional que possa estar mais próxima da comunidade, já que a concessão de uma emissora deve ser considerada um bem público. Tal estudo parte do princípio defendido por Silverstone (2002) de que nós, pesquisadores da área de comunicação, precisamos romper a fronteira que separa a academia do mundo concreto. Assim, a proposta é verificar, utilizando–se da técnica de grupos focais (CRUZ NETO, 2002), com dois grupos de terceira idade, formados por pessoas que já participam das atividades de Extensão desenvolvidas pela PUC–Campinas, em que medida o projeto de programação das emissoras de TV regionais atende aos interesses desses cidadãos. Essa técnica permite trabalhar com a leitura e reflexão expressa através da fala. Os participantes apresentam e debatem suas impressões sobre o tema em curso, a partir de um roteiro organizado. As três emissoras de TV regionais com concessão registrada em Campinas e retransmissoras de redes nacionais são a EPTV (afiliada da Rede Globo), a TV Brasil (afiliada do SBT) e a TV Bandeirantes de Campinas. A realização dos grupos focais possibilitou elaborar uma reflexão acerca da relação dessas emissoras de TV regionais com um setor importante da comunidade, que é a terceira idade. Palavras chave: televisão, cidadania , programação.

Palavras-chave:

televisão, cidadania, programação.

As mudanças vivenciadas pela mídia em consequência da globalização da economia e da mundialização da cultura e da comunicação fizeram com que, em um primeiro momento, se acreditasse que as dimensões locais, regionais e nacionais perderiam a importância. Entretanto, (FADUL & REBOUÇAS, 2005), explicam que:

[...] quando começou a examinar esta questão com maior profundidade, percebeu-se que a questão local/regional também estava adquirindo uma grande importância no contexto global. Pesquisas na Europa têm apontado para uma tendência de valorização da dimensão local/regional da mídia, ao mesmo tempo que são feitas análises dos processos de nacionalização e de internacionalização (p.1).

Outra autora que se coloca de forma incisiva quanto à relevância do local/regional na era global é Peruzzo (2005):

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Já está bastante claro que o fato da globalização - da universalização ou da ocidentalização do mundo, como preferem alguns - impulsiona uma revalorização do local, ao invés de debelá-lo, como se prognosticou num primeiro momento. Houve, assim, a superação da tendência pessimista de considerar que as forças globalizadas - da economia, da política e da mídia - detêm o poder infalível de sufocar as sociedades e as culturas nos níveis nacional e local (p.74).

Essa revalorização do local faz com que seja relevante o questionamento sobre a contribuição da programação das TVs regionais para atender aos interesses do cidadão. Utilizamos a definição de cidadão como sujeito histórico, cujos pressupostos básicos são a participação e a igualdade: "O cidadão deve ser formado para governar a si e os demais ao seu redor, que, individualmente, têm diferenças, mas devem gozar de condições de igualdade na definição dos destinos da cidade, na co-gestão das coisas coletivas" (MARTINS, 2000: 39). Nesse contexto, os meios de comunicação têm papel determinante no fornecimento de subsídios que permitam o exercício da cidadania, conforme aponta o mesmo autor (MARTINS, 2000-a):

[...] apontamos como pressupostos de nosso conceito de cidadania a participação com igualdade. Mas esses pressupostos só se tornarão efetivos se, e somente, se os indivíduos tiverem acesso à informação das formas e dos conteúdos de participação, ou melhor, dos mecanismos institucionais voltados à participação e das condições de acesso a eles. Tais informações hoje estão sendo difundidas por inúmeros aparelhos, desde as mais diversas mídias, sendo a eletrônica uma das principais dentre todas elas, até as escolas. Eis, portanto, um terceiro pressuposto de nosso conceito de cidadania: o acesso à informação, que hoje, se apresenta como uma das mais valiosas mercadorias do mundo contemporâneo (p. 116).

A necessidade de a população ter uma visão crítica em relação aos conteúdos dos meios de comunicação é mais evidente quando se trata da televisão. A divisão das verbas do mercado publicitário entre diversas emissoras faz com que esse veículo busque a audiência, deixando de lado a preocupação com a qualidade da programação, dentro da qual está o conteúdo das TVs regionais.

Diante dessa realidade, entendemos que "não pode haver democracia se não submetermos a televisão a um controle, ou, para falar com mais precisão, a democracia não pode subsistir de uma forma duradoura enquanto o poder da televisão não for totalmente esclarecido" (POPPER,1995: 30). Este conhecimento será o instrumento pelo qual diversos grupos "passarão a intensificar sua postura crítica, sua análise de conteúdo e forma, diante dos órgãos de comunicação" (ABRAMO, 2003: 49).

Assim, desenvolvemos uma pesquisa que procurou verificar de que forma integrantes de dois grupos sociais fazem a leitura dos conteúdos recebidos pelas emissoras regionais. Conforme (BAZI, 2001: 16), televisão regional "é aquela que retransmite seu sinal a uma determinada região e que tenha sua programação voltada para ela mesma". Sousa (2006: 104) explica que a TV regional é um

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"empreendimento instalado numa determinada área, com alcance limitado por lei e por recursos técnicos, quase sempre subordinados a uma grande rede e com alguma autonomia da grade de programação".

Como objeto deste estudo, foram escolhidas as três emissoras regionais, ligadas a redes nacionais, cujas concessões estão registradas em Campinas, interior de São Paulo: a EPTV - Empresas Pioneiras de Televisão (Globo), a TV Brasil (SBT) e TV Band Campinas (Rede Bandeirantes), já que esta é a cidade sede das três emissoras e a mais importante da região.[1]

Para se ter uma dimensão da abrangência das TVs regionais no país, em julho de 2000, existiam em funcionamento, no Brasil, 286 geradoras e 8.484 retransmissoras (MATTOS, 2000). De acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), de fevereiro de 2005, no que se refere às três redes as quais as emissoras regionais de Campinas, em estudo, são ligadas: a Rede Globo tem cinco geradoras próprias e 96 afiliadas; 19 retransmissoras próprias e 1.405 afiliadas. O Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) tem dez geradoras próprias e 37 afiliadas; 1.749 retransmissoras próprias e 639 afiliadas. A Rede Bandeirantes tem dez geradoras próprias e 23 geradoras afiliadas; 191 retransmissoras próprias e 234 afiliadas (FABBRI JÚNIOR, 2006).

Os encontros, utilizando-se a técnica de grupos focais, foram realizados nos meses de abril e maio de 2009, com grupos formados por pessoas da comunidade que já participam do trabalho de Extensão desenvolvido pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). A realização dos grupos focais possibilitou elaborar uma reflexão acerca da relação dessas emissoras de TV regionais com um setor importante da comunidade, que é a terceira idade.

O grupo 1 é composto de 11 mulheres, com idade entre 50 e 76, moradoras de diversos bairros da cidade, que participam do projeto "Educação para o envelhecimento bem-sucedido", vinculado ao "Programa Setorial de Atenção ao Idoso".[2] O grupo 2 é constituído por quatro homens e sete mulheres, com idade entre 45 e 73, moradores do Jardim Londres e adjacências, região mais periférica da cidade, que participam do projeto "Lazer e Qualidade para a 3ª. Idade na Comunidade Guadalupe".[3]

É importante salientar que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)[4], a população de idosos representava em 2000 um contingente de quase 15 milhões de pessoas com 60 anos de idade ou mais (8,6% da população brasileira). Em 2020, este número poderá ultrapassar os 30 milhões e deverá representar quase 13% da população. Ainda de acordo com o IBGE, o crescimento da população de idosos, em números absolutos e relativos, é um fenômeno mundial e está ocorrendo a um nível sem precedentes. As projeções indicam que, em 2050, a população idosa será de 1.900 milhões de pessoas, montante equivalente à população infantil de 0 a 14 anos de idade.

Durante os encontros foi desenvolvida a técnica de grupos focais, que permite trabalhar com a reflexão expressa por meio da "fala" dos participantes. Assim, os idosos puderam apresentar e debater suas impressões sobre o tema em curso a partir de um roteiro organizado, possibilitando o aprofundamento das informações. Nesse caso, "em que medida, atualmente, o projeto de programação das emissoras atende aos interesses locais do cidadão de Campinas", a partir de um roteiro organizado pela coordenadora do grupo (esta pesquisadora). A técnica de grupos focais vem, desde a década de 1980, conquistando um lugar privilegiado nas mais diversas áreas de estudo. O grupo focal é, de acordo com Cruz Neto (2002),

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uma técnica de Pesquisa na qual o Pesquisador reúne, num mesmo local e durante um certo período, uma determinada quantidade de pessoas que fazem parte do público-alvo de suas investigações, tendo como objetivo coletar, a partir do diálogo e do debate com e entre eles, informações acerca de um tema específico (p.5).

É importante salientar que tal estudo parte do princípio defendido por Silverstone de que os pesquisadores da área de comunicação, precisam se aproximar do mundo real: "nós, estudiosos da mídia, temos a responsabilidade de nos engajar com o mundo que foi o objeto de nossa atenção. A fronteira que separa a academia do mundo concreto não pode mais, pelo menos nesta área, ser defendida" (SILVERSTONE, 2002: 267).

As emissoras regionais vistas pelos integrantes dos grupos

Campinas possui três emissoras de TVs regionais com sede e concessão registrada na cidade e afiliadas a redes nacionais. Em 1979, José Bonifácio Coutinho Nogueira inaugurou no dia 1º de outubro, em Campinas, a primeira emissora de televisão regional da cidade, com o nome de EPTV Campinas (Empresas Paulistas de Televisão). Em 1980, foi inaugurada a EPTV Ribeirão, em Ribeirão Preto. A EPTV Sul de Minas, com sede em Varginha, foi inaugurada em 1988 e, a partir de então, o grupo passou a chamar-se Empresas Pioneiras de Televisão. Em 1989, foi instalada a última emissora do grupo, a EPTV Central, em São Carlos, também interior do Estado. Afiliada da Rede Globo, desde o início, a EPTV Campinas gera, de segunda a sexta-feira uma hora e dez minutos de programação diariamente, o que representa 4,58% da grade da Rede Globo e, aos sábados, três horas e vinte minutos de programação, que atinge 50 cidades da região.

A programação diária é composta por: dois telejornais diários ("Jornal Regional 1ª. e 2ª. edição)", dois informativos que são transmitidos várias vezes ao dia "EPTV Notícia" e "EPTV Cidade" e pelo programa esportivo "EPTV Esporte". Aos sábados, vão ao ar os programas "EPTV Comunidade, "Caminhos da Roça" e "Terra da Gente". Todos os programas da emissora são considerados jornalísticos, embora haja, em alguns, a mescla de jornalismo e entretenimento, como é o caso dos dois últimos transmitidos aos sábados.

A TV Brasil[5] iniciou suas atividades em fevereiro de 1985, com o nome de TV Princesa d'Oeste, transmitindo o sinal da antiga TV Record. Passados alguns anos, a TV Princesa passou a se chamar TV Metrópole, em função de um acordo de retransmissão com a Rede Manchete. Em 1990, transferiu o sinal para o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), mudando o nome para TV Diário do Povo, com o qual permaneceu até 1994, quando passou a se chamar TV Brasil, mesmo nome da outra emissora regional do grupo, com sede em Santos (SP) e manteve-se afiliada ao SBT.

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Cinco horas diárias, de segunda a sexta-feira, são abertas à programação regional, o que representa 20,83 %. Aos sábados, são quatro horas de programas regionais e, aos domingos, duas horas e 30 minutos. Essa programação é dirigida para cerca de 50 cidades da região. A programação diária é composta por: dois telejornais ("TVB Notícias 1ª. e 2ª. edição"), TVB Esportes e o programa de entrevistas "Notícias em Debate". Na grade, existem também diversos programas semanais, que vão ao ar em dias e horários variados: "Planeta Bicho", "Travel News", "TVB Esporte Clube", "Programa Pós e Contras", "Circuito Fechado", "Programa Paulo Leoni", "Carlos Cunha Show", "Panorama Brasil" e "Programa do Wood". Além disso, estão na grade também dois programas de telecompras: "Notícias & Oportunidades" e "TVB Motor".

A Band Campinas (TV Bandeirantes Regional) começou a operar na cidade, como retransmissora da programação de São Paulo e com espaços comerciais em 1990. Ela faz parte do projeto de regionalização da Rede Bandeirantes, que teve início em 1975. Considerando 24 horas de programação, observa-se que três horas diárias, de segunda a sexta-feira, são abertas à programação regional, o que representa 12,5 %. Aos sábados, uma hora e vinte minutos e, aos domingos, uma hora e meia de programação regional, que chega a mais de 40 cidades da região.

A programação diária é composta por dois telejornais: "Acontece Regional e "Band Cidade", pelo "Esporte Total Regional" e pelos programas da "Igreja Mundial do Reino de Deus" e da "Bolsa do Automóvel de Campinas" (BAC). No final de semana são apresentados os programas: "Band Revista", "Band Motor" e "Entrevista Coletiva"

Logo no início dos debates sobre esta programação das três emissoras regionais, os integrantes dos dois grupos demonstraram que estão inseridos no quadro geral da sociedade brasileira, confirmando a constatação de diversas pesquisas de que a televisão é a principal fonte de informação para a maioria da população. Eles também ouvem rádio, mas poucos leem jornais ou acessam a internet para se informar. Na televisão, da programação regional, o que mais assistem é o Jornal Regional 2ª. edição, exibido por volta das 19h, pela EPTV Campinas. Poucos assistem ao JR 1ª. edição (exibido na hora do almoço), bem como o Band-Cidade exibido pela Bandeirantes por volta das 19h. Apenas uma pessoa mencionou que assiste aos Telejornais da TV Brasil.

Em relação aos outros programas produzidos pelas emissoras regionais, apenas foram citados os programas "Terra da Gente" e "Caminhos da Roça", ambos apresentados, aos sábados, pela EPTV. Uma constatação importante é a de que a televisão ocupa menos tempo do que esta pesquisadora imaginava inicialmente na vida dos participantes dos dois grupos. Eles estão engajados em atividades sociais e esportivas e têm, ainda, participação ativa no meio onde vivem.

Nos dois grupos, foi possível observar referências significativas sobre o tema. No grupo 1, duas observações merecem destaque: A primeira é a de que os telejornais regionais mostram o problema, mas não mostram se houve realmente solução para a questão apresentada: "muitas vezes a gente vê uma reportagem sobre

determinado assunto, mas que depois não tem o retorno do mesmo",[6] "vem uma outra notícia, eles esquecem daquela"; e a necessidade de sensacionalismo, "na verdade precisa de sensacionalismo, porque parece que as pessoas gostam", "o sensacionalismo é também pra vender, né?".

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No grupo 2, foram apontadas, a superficialidade "[...] nenhuma (TV) fala o

suficiente que seria pra mostrar mesmo" e até o que pode ser considerado padrão

de ocultação, "que opera nos antecedentes, nas preliminares da busca da informação, isto é, ‘no momento' das decisões de planejamento da edição, da programação ou da matéria particular daquilo que na imprensa geralmente se chama de pauta" (ABRAMO, 2003:26)[7]. "Eu acho que lá tem uma diretoria que

classifica aquilo que vai ao ar [...]". "Eu acho que eles mostram as coisas que interessam pra eles. Mas para o povo, eles não mostram não, da parte do povo. Quando interessa para eles, eles mostram, eles ficam debatendo, mas, quando se trata do povo, eles escondem, não passa aquilo que o povo precisa ver".

O padrão de fragmentação (ABRAMO, 2003), que implica na seleção de aspectos do fato e a descontextualização, também esteve presente nas falas: "[...] quando eles

vão passar uma coisa assim que a gente está interessada em ver aquilo, já esconde, nem chega acabar direito. Eu acho que é muito rápido e eles fazem assim pra gente não entender mesmo".

Neste grupo também foi questionado se a televisão não deveria ter uma atuação mais efetiva na cobrança aos órgãos públicos de Campinas: "Não é só a televisão

que esconde, muita coisa eles deixam [...] Eles quem... o prefeito. Mas, então, não seria obrigação da imprensa cobrar essas coisas da prefeitura? A televisão deveria ir lá e ver". "[...] No tempo da eleição, eles falaram que iam melhorar os hospitais, os tratamentos, tudo né? Os hospitais daqui estão a mesma coisa, a fila tá a mesma coisa, todo mundo jogado no chão. Ninguém faz nada. Cadê que eles vão mostrar isso aí agora".

No que se refere à cidade de Campinas, quando questionados se lembrariam algum assunto importante, que ficou sem solução e a TVs regionais não deram o destaque necessário, no grupo 1, a lembrança foi imediata: "A morte do

Toninho. As TVs deviam ter denunciado mais e ido até o fim para a gente saber o resultado do que aconteceu. Mostraram, chegou um tempo, parou. Depois voltaram e acabou outra vez".[8]

Em relação ao tratamento dado aos bairros mais periféricos da cidade, são várias as observações do grupo 1: "Quando tem tragédia". "Perdeu o barraco, caiu, pegou

fogo, depois acabou". "Na minha opinião, deixa muito a desejar. Onde tem uma coisa errada, um assassinato, aí sim, mostra. Mas acho que para resolver o problema de moradia ou de saúde, não". Uma fala do grupo 2 completa a crítica: "Igual esse negócio da violência, eles ficam direto na violência. No caso de um bairro que precisa fazer asfalto, eles não mostram, eles mostram um pedaço só e já corta, não mostra mais".

O exemplo concreto do grupo 2 reforça a questão levantada anteriormente. Quando questionados sobre a última vez em que uma reportagem referente à região em que se reúnem (Igreja Nossa Senhora de Guadalupe nas imediações da av. John Boyd Dunlop) foi veiculada, em um primeiro momento não havia lembrança. Depois de novamente estimulados, foram citadas duas notícias sobre crimes: "Saiu hoje,

mas foi no rádio. Uma notícia de que mataram o homem e balearam a mulher... Falou no mercado, no balão do Londres perto do Mercado". "A única coisa foi essa que teve na frente do Covabra que roubaram o Caixa eletrônico. Apareceu na televisão, eles tacaram fogo [...]"

Nos dois grupos, a opinião é de que o telespectador participa pouco dos telejornais

regionais. Mas quando questionados se, ao observar um problema no meio em que vivem, eles têm o hábito de ligar para a imprensa, em especial a TV, a resposta foi negativa por parte de todos, exceto uma participante que contou que já fez

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reclamação em um programa de rádio. Avaliam, ainda, que no geral a população não participa porque não tem o conhecimento para tanto.

A ideia de que a TV influencia a sociedade é compartilhada por diversos membros dos dois grupos, em especial as telenovelas. Entretanto, no Grupo 2, a discussão foi mais intensa: "Aquele da novela, aquele Zeca da novela das oito. E os pais que

passam a mão na cabeça"[9]. "Eu acho que não, eu acho que jovem não assiste". "Os políticos roubando. Aí eles falam: se eles roubam, eu posso roubar também". "O que tem que ser já nasce feito. Se nasceu pra ser bandido... se nasceu pra ser uma boa pessoa, vai ser [...]". "Eu acho que a pessoa não nasce com o dom de ser marginal, não".

Os dois grupos foram questionados como a televisão mostra os assuntos que interessam para a terceira idade. No grupo 1, foi citada uma reportagem na TV Record de São Paulo, e entrevistas realizadas pelas TVs Universitárias de Campinas. Outra participante desse grupo afirmou que, muitas vezes, os direitos dos idosos não são cumpridos e que isso deveria aparecer na TV. No grupo 2, a observação geral foi de que é pequeno o espaço dado para as questões da terceira idade.

Nos dois grupos, foram feitas indicações sobre o que os participantes gostariam de ver nas emissoras regionais. No grupo 1 merecem destaque: "A prefeitura não dá

condições nas praças e a TV deveria mostrar isso". "Melhores condições para os idosos, programa voltado para a questão dos idosos. Mostrar o que os idosos fazem". "Os direitos dos idosos, a parte das leis, o que oferece para os idosos, etc. e para as crianças também, pra tirar essas crianças das ruas, dos semáforos". "Vamos falar também do patrimônio histórico, da falta de teatro. Campinas é uma cidade histórica e nós não temos um teatro grande. Campinas não tem. Até o Castro Mendes está caindo aos pedaços".

No grupo 2, foram apontadas questões mais específicas do local: "[...] O Campo Grande[10], por exemplo, que é longe, tem coisas boas acontecendo por lá. É lógico que notícias ruins têm que mostrar também. Mas as coisas boas que acontecem, não mostram, você não vê". "Eles mostram mais o lado ruim e as coisas boas entram rapidinho e pronto. Eu acho, assim, que isso seria um incentivo para a pessoa que, às vezes, está meio ‘para baixo'. Então, a coisa boa, talvez, incentive a pessoa". "Uma coisa que a televisão podia falar também são as atividades. Tem tanta coisa boa de se ver. Aqui nesse salão nós participamos a semana inteira. [...] Devia mostrar mais prá incentivar o idoso".

Considerações Finais

Por meio das falas, foi possível perceber uma riqueza de visões que se completavam e poucas vezes se contrapunham. A síntese dos diálogos estabelecidos demonstra que os membros dos dois grupos, de forma geral, tinham alguma possibilidade de elaboração em relação à televisão. As visões apresentadas indicam, entre outras coisas, que muitos deles têm consciência da fragmentação e superficialidade do telejornalismo.

É importante perceber também que os depoimentos demonstram que há uma distância muito grande entre a programação das TVs regionais e os telespectadores. Instigados diversas vezes, ficou evidente que a maioria deles

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assiste pouco a outros programas produzidos regionalmente e, assim, a discussão se concentrou basicamente nos telejornais. Isso é consequência da forma como a grade de programação regional é preenchida, com programas que visam, prioritariamente, o retorno comercial, como religiosos e de telecompras.

Percebe-se também que, enquanto cidadãos de Campinas e enquanto parte de uma população que cada vez aumenta mais no nosso pais (a terceira idade), essas pessoas não se sentem representadas na programação das TVs regionais. A leitura da programação feita pelos grupos reafirma a necessidade de inserir na grade regional documentários, obras audiovisuais de ficção e espetáculos artísticos, entre outros, que valorizem a cultura regional e mostrem, de fato, as questões negativas, mas também, as positivas da cidade e da região.

Esperamos que esta experiência sirva como um instrumento de construção de cidadania para os participantes da pesquisa e que seus resultados tenham repercussão entre outros grupos, para que reflexões como essas contribuam na desmistificação da televisão para toda a sociedade e ampliem a discussão sobre qual é o papel das TVs regionais em nossas comunidades: apenas atender o interesse comercial ou também e, principalmente, atender aos interesses dos cidadãos. Ou seja, fazer com que eles possam "se ver e se reconhecer" neste importante veículo de comunicação. Sem perder de vista a lógica comercial, que é própria da nossa sociedade, acreditamos na possibilidade de se fazer uma TV regional que possa estar mais próxima da comunidade, já que a concessão de uma emissora deve ser considerada um bem público.

Referências Bibliográficas

ABRAMO, Perseu. Padrões de manipulação da grande imprensa. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003.

BAZI, Rogério E. R. TV Regional: trajetória e perspectivas. Campinas: Alínea, 2001.

CRUZ NETO, Otávio et al. Grupos Focais e Pesquisa Social: o debate orientado como técnica de investigação. In XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais. Ouro Preto: 2002.

FABBRI JÚNIOR, Duílio. A tensão entre o global e local: os limites de um noticiário regional na TV. Campinas: Akademika, 2006.

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FADUL, Anamaria & REBOUÇAS, Edgard. Por uma perspectiva metodológica para os estudos dos sistemas e grupos de mídia: o caso do nordeste brasileiro como referência. In: XXVIII Intercom - Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Rio de Janeiro-RJ, 2005.

MARTINS, Marcos F. Por um conceito de cidadania. In: Ensino Técnico e Globalização: cidadania ou submissão?. Campinas: Autores Associados, 2000, p. 35-58.

________. Uma "catarsis" no conceito de cidadania: do cidadão cliente à cidadania com valor ético-político. In: Phrónesis - Revista de Ética do Programa de Pós Graduação em filosofia da PUC-Campinas, v.2, nº 2, jul./dez., 2000-a, p.106-118.

MATTOS, Sérgio. A televisão no Brasil: 50 anos de história (1950-2000). Salvador: Ianamá, 2000.

PERUZZO, Cicília M. K. Mídia regional e local: aspectos conceituais e tendências. Comunicação e Sociedade: revista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, São Bernardo do Campo, UMESP, n.43, 2005, p.67-84.

POPPER, Karl & CONDRY, John. Televisão: um perigo para a democracia. Lisboa (Portugal): Gradiva, 1995.

SILVERSTONE, Roger. Porque estudar a mídia? São Paulo: Loyola, 2002.

SOUSA, Cidoval Morais de. A notícia, o público e a televisão regional. In: SOUSA, Cidoval Morais de (org). Televisão regional, globalização e cidadania. Rio de Janeiro: Sotese, 2006, p. 105-128.

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[1] Informações extraídas do relatório disponibilizado no site do Ministério das Comunicações, de 18 de novembro de 2003, que apresenta a composição societária das emissoras de radiodifusão.

[2] A responsável por esse Projeto de Extensão é a Profa. Dra. Jeanete L. Martins de Sá.

[3] O responsável por esse Projeto de Extensão é o Prof. Dr. José Strumendo Barbosa.

[4] Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios. In http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/25072002pidoso.shtm. Acesso em 08.06.2009.

[5]Informações obtidas em: http://www.appcampinas.com.br/site/negocios/conteudo_875.asp Acesso em

17.09.2007.

[6] Todas as frases entre aspas e itálico são falas dos membros dos grupos focais. [7] ABRAMO, Perseu (2003), classifica em cinco, os padrões de manipulação: 1. padrão de ocultação, 2. padrão de fragmentação, 3. padrão de inversão, padrão de indução, 5. padrão global ou o padrão específico do jornalismo de televisão e rádio. [8] O prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos, foi assassinado em 10 de setembro de 2001.

[9] Trata-se da novela "Caminho das Índias" da Rede Globo.

[10] Região periférica, distante cerca de 30 quilômetros do centro de Campinas, seguindo pela av. John Boyd Dunlop.

Referências

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