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O ENSINO DE E/LE NA EJA UMA EXPERIÊNCIA POSITIVA NUMA ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. VIVAS, Michele Abreu (UFRJ)

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O ENSINO DE E/LE NA EJA – UMA EXPERIÊNCIA POSITIVA NUMA ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO.

VIVAS, Michele Abreu (UFRJ)

Esta proposta pretende mostrar um panorama do ensino de espanhol como língua estrangeira (E/LE) na educação de jovens e adultos (EJA) nas escolas da rede pública do município do Rio de Janeiro.

Tomando como exemplo um projeto multidisciplinar desenvolvido em uma escola da rede, na zona oeste do Rio de Janeiro, em 2004, verificar-se-á como um trabalho voltado a esta realidade, EJA, resultou de forma tão satisfatória à esfera docente, discente e familiar naquele contexto em questão.

A EJA na rede pública municipal do Rio de Janeiro

A Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME) vem construindo ações voltadas para a fortificação de uma política de educação de jovens e adultos pautada nos eixos do aumento da escolaridade, a educação permanente e a inclusão desses no mundo do trabalho.

A EJA, antes denominada pela rede como PEJ – Programa de Educação Juvenil –, passou a adotar a sigla PEJA – Programa de Educação de Jovens e Adultos. Esse programa destina-se a jovens e adultos, a partir de 14 anos completos, sem limite máximo de idade, interessados em completar os estudos referentes ao ensino fundamental na rede municipal.

As turmas do PEJA não são homogêneas, ao contrário, são bastante heterogêneas, pois essas misturam, por exemplo, jovens que não se adaptaram ao ensino regular; pessoas que necessitam do diploma do ensino fundamental para conquistar um emprego e/ou alcançar uma promoção no trabalho; idosos; mulheres que evadiram à escola devido à gravidez, muitas vezes, precoce; pessoas que estão envolvidas em movimentos religiosos e que gostariam de aprender a ler para estudar, por exemplo, a Bíblia; o migrante que chega às grandes metrópoles; entre vários outros motivos que caracterizam a procura, cada vez maior, pelo ensino “supletivo”.

De acordo com a SME, são pressupostos desse trabalho:  Ensino acelerativo;

 Organização em dois grandes grupos de aprendizagem: 1. PEJA I:

Bloco 1: Alfabetização, 1ª e 2ª séries do ensino fundamental, Bloco 2: 3ª e 4ª séries do ensino fundamental;

2. PEJA II:

Bloco 1: 5ª e 6ª séries do ensino fundamental, e Bloco 2: 7ª e 8ª séries do ensino fundamental;

 Cada bloco se divide em três unidades de progressão, UP-1, UP-2 e UP-3, que contribuem para um avanço no processo de aprendizagem dos alunos;

 Trabalho com dia-aula em substituição à hora-aula;

 Garantia do Centro de Estudos (CE) para todos os professores, sem suspensão de aula para os alunos;

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 Oferta de recuperação paralela diária para todos os alunos que apresentem alguma dificuldade de aprendizagem.

A EJA funciona em escolas regulares da rede pública, das 18 às 22 horas. No ano de 2004, por exemplo, foram matriculados cerca de 27 mil alunos em 113 escolas da Rede Pública. A cada início de ano letivo, são abertas novas Unidades Escolares (UE) pelas Coordenadorias Regionais de Educação (CRE), de acordo com a demanda identificada nas diferentes comunidades por essa modalidade de ensino.

Algumas escolas estão oferecendo atendimento aos jovens e adultos, por exemplo, no turno da manhã, a fim de absorver alunos matriculados que não podem, temporariamente ou não, estudar no horário da noite.

O ensino de línguas estrangeiras no PEJA.

(...) o maior problema dos supletivos - agora chamados de educação de jovens e adultos (EJA) – é a falta de preparo dos professores para lidar com um público mais velho e que trabalha. O próprio MEC reconhece que é preciso avançar nesse ponto. (FOLHAONLINE, 22.08.2006)

O ensino de línguas estrangeiras (LE) na rede pública municipal do Rio de Janeiro tem se pautado em, basicamente, 04 documentos oficiais:

I- 1996: Lei 9.394 – Lei de diretrizes e bases da educação nacional (LDB); II- 1996: Multieducaçãoi;

III- 1998: Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs); e IV- 2005: Lei 11.161, a qual dispõe sobre o ensino de E/LEii.

Em 1996, a LDB já revelava no artigo 26, parágrafo 5º, a obrigatoriedade da inclusão de LE no currículo do ensino fundamental:

“Na parte diversificada do currículo, será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição”.

Além da LDB, também a Multieducação, os PCNs e a recente Lei 11.161 têm sido os parâmetros norteadores e curriculares que vêm orientando a estruturação do ensino de LE na rede pública municipal do Rio de Janeiro.

O ensino de LE na EJA tem buscado observar quem é seu aluno e quais são seus objetivos para, dessa forma, estruturar sua grade curricular, não deixando, é claro, de pautar-se nos documentos direcionadores anteriormente citados.

Alguns desses alunos, inicialmente, crêem que aprender uma LE pode dar-lhe

status diante de sua realidade. Outros, porém, acabam repelindo o aprendizado dessa

LE, pois não acreditam que esta poderia ajudá-lo, por exemplo, em sua progressão profissional.

Para Daher e Sant’Anna (2000: 02), o aprendizado de LE pode proporcionar ao aprendente possibilidades de refletir sobre si mesmo:

A relação ensino-aprendizagem de L.E. oferece ao aprendiz condições de ao observar o Outro, refletir sobre si mesmo. Além disso, garante também o acesso a diversas maneiras de organização social, política e cultural de grupos humanos, que também permitem reconhecer que os valores são estabelecidos, mantidos e transformados no interior das comunidades.

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Gargallo (1999: 82) afirma, “...a la formación se sumará la experiencia, ya que el

profesor se hace en el aula. Son las situaciones docentes, los individuos que aprenden y los interrogantes planteados los elementos que van marcando el camino”.

Na EJA, os alunos são jovens e adultos e o ensino-aprendizagem não acontece como quando estamos adquirindo nossa língua materna, ou, como nos casos de bilingüismo, quando estamos inseridos na cultura da língua em aquisição.

Devemos, portanto, considerar a LE não só como objeto de uma prática de expressão – relação com os outros e com o mundo – e/ou de prática corporal – o aluno põe em jogo todo aparelho fonador, expressão facial e gestual. É preciso levar em consideração, também, o que esse aluno traz de conhecimento de sua língua e cultura maternas, pois ele não é uma “folha em branco”, mas um indivíduo com uma respeitável bagagem de mundo que não deve ser descartada e/ou desprestigiada. Com a aprendizagem de LE este sujeito passa a ser, a partir de então, cidadão do mundo.

Uma experiência positiva com o ensino de E/LE no PEJA

Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (FREIRE, 1996, p. 23).

Em 2004, na escola em que leciono E/LE para o ensino fundamental regular e PEJA, adotou-se o tema Cultura Brasileira para ser trabalhado durante aquele ano letivo por todos os professores, de todas as séries, já que a escola havia programado uma culminância para o fim daquele ano sobre o tema proposto para toda a comunidade docente, discente e toda a esfera que circunda a região onde essa UE está localizada.

Desta forma, todos os professores deveriam pensar em como contribuir com um trabalho realizado com os alunos para o evento em questão.

Com isso, surgiu a idéia de utilizar a canção Aquarela, de Toquinho e Vinícius de Moraes, como forma a desenvolver um projeto no PEJA interrelacionando as disciplinas de Língua Portuguesa, E/LE, Artes Plásticas e História-Geografia, ou seja, praticamente todas as disciplinas que constam na grade curricular do programa.

O título dado ao projeto foi: Em busca de uma AQUARELA multidisciplinar… A canção Aquarela (Acuarela) através de outros olhares... .

O projeto teve como objetivo principal uma releitura da canção Aquarela através de diferentes olhares: as línguas portuguesa e espanhola como orientadoras para a decodificação da expressão lingüística, plástica e musical da canção escolhida. Esta proposta se dirigiu, então, visando uma integração multidisciplinar.

Os objetivos gerais e específicos do trabalho foram:

 Ler, interpretar e decodificar a música Aquarela em duas versões: Português e Espanhol;

 Reconhecer os signos lexicais, em cada língua, português e espanhol, presentes nas versões da canção;

Refletir sobre a tradução: texto vs imagem; realidade vs abstração;  Identificar o ritmo da canção ainda que em idiomas diferentes;

 Fazer com que os alunos envolvidos no projeto levassem o público a perceber a importância da imagem no processo da leitura;

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O primeiro passo para a realização do projeto, teve a participação dos alunos que criaram quatro painéis em que demonstravam, com desenhos criados e pintados por eles, os signos lexicais presentes nas duas versões de modo que o público pudesse ler a letra das versões através dos desenhos. Tudo isso se concretizou com a contribuição de todos os professores do PEJA.

Para a apresentação de palco, elaboramos uma espécie de jogral cantado, em que os alunos com o estímulo sonoro de uma versão instrumental no piano da música Aquarela, cantaram a canção intercalando ora uma estrofe em português, ora uma em espanhol.

Desse modo, além da culminância realizada na escola, os alunos também foram convidados a se apresentarem na VI EXPO-PEJA – evento que apresentou mostras dos trabalhos desenvolvidos pelos PEJAs das escolas públicas municipais do Rio de Janeiro. O mesmo foi realizado no dia 22 de novembro de 2004, no ginásio da Prefeitura Miécimo da Silva, em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro/RJ.

Referências bibliográficas:

BRASIL. Lei 11.161, de 05 de agosto de 2005. Dispõe sobre o ensino da língua espanhola. Brasília/DF: Diário Oficial da União, 08 ago. 2005.

BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Brasília/DF: Diário Oficial da União, 23 dez. 1996.

DAHER, M. del Carmen; e SANT’ANNA, Vera Lucia de Albuquerque. Núcleo

Curricular Básico - MULTIEDUCAÇÃO – línguas estrangeiras. Rio de Janeiro: SME,

2000.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa. 31ªed., São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José E. (orgs.). Educação de Jovens e Adultos – teoria, prática e proposta. 4ªed., São Paulo: Cortez, 2001.

GARGALLO, I. Santos. Lingüística aplicada a la enseñanza-aprendizaje del E.L.E. Madrid: Arco Libros, 1999.

JOIA, Orlando et al. "Propostas curriculares de Suplência II (2o segmento do ensino fundamental supletivo)". Relatório de pesquisa. São Paulo: Ação Educativa, 1999.

LOBO, Carla Marina Neto das Neves; CARVALHO, Sonia Regina Andrade de (orgs.).

Educação de jovens e adultos / Vivências e experiências. Niterói: Intertexto, 2004.

MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO E CULTURA. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira. Secretaria de

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RIBEIRO, Vera Masagão. A formação de educadores e a constituição da educação

de jovens e adultos como campo pedagógico. Educ. Soc., Campinas, v. 20, n. 68,

1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301999000300010&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 07 Fev 2007. Pré-publicação. doi: 10.1590/S0101-73301999000300010.

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO.

MULTIEDUCAÇÃO – Núcleo Curricular Básico. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal

de Educação do Rio de Janeiro, 1996.

i Refere-se à primeira versão do documento. A revisão do texto realizada em 2003-04 por um grupo de

professores da rede, foi (está sendo) lançada em fascículos.

ii Esta lei refere-se à obrigatoriedade do ensino de E/LE em todo o território nacional num prazo de cinco

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