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(IN) VISIBILIDADES DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE NO CREAS III DO MUNICÍPIO DE LONDRINA

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Academic year: 2021

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(IN) VISIBILIDADES DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE NO CREAS III DO MUNICÍPIO DE LONDRINA

Cláudia Sayuri Kitawara1. Ms. Evangelina Sanches Lima2. Nayana Kathrin Tanaka3

Resumo

Este trabalho propõe apresentar as experiências vivenciadas, no Centro de Referência Especializado de Assistência Social III (CREAS III) de Londrina, de uma aluna estagiária do quinto ano da disciplina Estágio Profissionalizante em Psicologia, em 2016. Os objetivos deste trabalho são: apontar os dados referentes às violências no CREAS III e apresentar as ações desenvolvidas pelo profissional da Psicologia na Proteção Social Especial no acompanhamento a violência contra criança e adolescente. A orientação teórica que subsidiou o trabalho e a prática foi a Psicologia Sócio histórica, a qual entende o homem como um ser ativo, social e histórico, afirmando que o desenvolvimento humano se dá por meio das relações sociais do indivíduo mantidas no decorrer da vida, dependendo assim da convivência familiar e comunitária para construção da sua identidade social. As atividades desenvolvidas durante o período do estágio aconteceram em equipe psicossocial, composta por uma assistente social e uma psicóloga e que atuam por território, neste caso, a região norte A do município de Londrina. Os resultados foram o conhecimento do serviço e da legislação que norteia as ações no serviço especializado do CREAS III e a análise dos dados do território em questão. Quanto aos dados analisados, se constatou subnotificação dos casos de violência física, situação de rua e trabalho infantil.

Palavras-chave: Violência; Subnotificação; CREAS III.

Abstract

This work proposes to present the experiences in the Social Assistance Specialized Reference Center III (CREAS III) of Londrina, a trainee student of the fifth year of discipline Professional Training in Psychology in 2016. The objectives of this work are to point out the data the violence in CREAS III, and present the actions developed by professional Psychology in Special Social Protection in monitoring violence against children and adolescents. For theoretical orientation is the historical Social Psychology with the vision of man as a being active, social and historical, stating that human development is through the social relations of the individual maintained throughout life, so depending on family and community life for construction of their social identity. The activities developed during the internship period occurred in psychosocial team, a social worker and a psychologist, by territory, in this case, the northern region of the city of Londrina. The results were the knowledge of the service and the legislation that guides the actions in the specialized service CREAS III and analysis of the territory of the data in question. As for the data analyzed, it was found underreporting of cases of physical violence, homelessness and child labor.

Keywords: Violence; Underreporting; CREAS III

1 Aluna do 10° período do curso de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná Câmpus Londrina. Atualmente, estagiária no Centro de Referência Especializado de Assistência Social III (CREAS III) desde do mês de abril de 2016.

2 Psicóloga, mestre em Política social e Serviço social, Professora orientadora do Estágio Profissionalizante em Psicologia “Saúde e Qualidade de Vida” do 10° período do Curso de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná Câmpus Londrina (PUCPR Londrina).

3 Psicóloga e técnica do Centro de Referência Especializado de Assistência Social III (CREAS III), na região norte “A” do município de Londrina-PR.

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Introdução

O CREAS, segundo a Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS), é uma:

(...) unidade pública estatal, de prestação de serviços especializados e continuados a indivíduos e famílias com seus direitos violados, promovendo a integração de esforços, recursos e meios para enfrentar a dispersão dos serviços e potencializar a ação para os seus usuários, envolvendo um conjunto de profissionais e processos de trabalhos que devem ofertar apoio e acompanhamento individualizado especializado. (...) poderá ser implantado com abrangência local ou regional, de acordo com o porte, nível de gestão e demanda dos municípios, além do grau de incidência e complexidade das situações de risco e violação de direito. (SNAS; 1ᵃ edição; p. 4).

Como se sabe a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) está dividida em Proteção Social Básica e Proteção Social Especial, esta em média e alta complexidade. Assim, o CREAS III do município de Londrina faz parte da Proteção Social Especial de média complexidade e atende a crianças e adolescentes em situação de violência sexual e exploração sexual, psicológica, física e negligência intrafamiliares, situação de rua e trabalho infantil.

Os serviços da Proteção Social Especial ofertam acompanhamentos especializados às famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social e violação de direitos por meio de violência e fragilidade de vínculo familiar e comunitário.

É relevante informar queno município de Londrina há a divisão do CREAS em quatro unidades: CREAS I – Centro de Referência Especializado para População em Situação de rua; CREAS II – Serviço de Proteção Social a Adolescentes em cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC); CREAS III – Serviço de proteção especializado em atender crianças e adolescentes em situação de violência sexual e doméstica; CREAS IV – Serviço de Proteção a pessoas idosas e pessoas com deficiência (acima de 18 anos, não dependentes de cuidados), em situação de risco social por violação de direitos, e suas respectivas famílias.

Objetivos

 Apontar os dados referentes às violências no CREAS III;

 Apresentar quais são as ações desenvolvidas pelo profissional da Psicologia na Proteção Social Especial no acompanhamento à violência contra criança e adolescente.

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Orientação Teórica

A Psicologia Sócio Histórica é, hoje em dia, uma das perspectivas teóricas importantes dentro da psicologia, não só na psicologia da educação quanto na psicologia social, com contribuições nas relações de trabalho, na área da saúde, na reflexão ética e na pesquisa. Uma alternativa na psicologia que busca romper com perspectivas naturalizantes e abstratas do homem e do fenômeno psicológico. Adota o materialismo dialético e histórico como filosofia, teoria e método, respectivamente, e a teoria histórico-cultural de Vygotsky.

Assim, esta orientação teórica entende o ser humano como um ser ativo, social e histórico, afirmando que o desenvolvimento humano se dá por meio das relações sociais que o indivíduo mantém no decorrer da vida, dependendo assim da convivência familiar e comunitária para construção da sua identidade social. Por envolver a construção desta identidade e as relações sociais cotidianas de convivência familiar e comunitária, é possível considerar:

(...) a sociedade, como produção histórica dos homens que, através do trabalho, produzem sua vida material; as ideias, como representações da realidade material; a realidade material, como fundada em contradições que se expressam nas ideias; e a história como movimento contraditório constante do fazer humano, no qual, a partir da base material, deve ser compreendida toda produção de ideias, incluindo a ciência e a psicologia. (BOCK & GONÇALVES; 4ᵃ edição; 2009; p.17-18).

Por isso a necessidade da PNAS na Proteção Social Especial de média complexidade também garantir a segurança de convívio familiar e comunitário, bem como da de sobrevivência (forma monetária) e de acolhida (provimento de necessidade básica humana – alimentação, por exemplo) para a população. Para garantir estas seguranças, é preciso falar sobre a subjetividade humana ou a história de vida de cada indivíduo e da família encaminhados ao serviço do CREAS III.

Quando se fala em subjetividade humana, a psicologia Sócio histórica compreende sua constituição a partir das mediações sociais e históricas. Subjetividade individual

(...) representa a constituição da história de relações sociais do sujeito concreto dentro de um sistema individual. O indivíduo, ao viver relações sociais determinadas e experiências determinadas em uma cultura que tem ideias e valores próprios, vai se constituindo, ou seja vai construindo sentido para as experiências que vivencia. Este espaço pessoal dos sentidos que atribuímos ao mundo se configura como a subjetividade individual. (BOCK, 13ª edição,1999, p.93).

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Metodologia

As atividades desenvolvidas durante o período do estágio aconteceram em equipe psicossocial – uma assistente social e uma psicóloga, responsáveis pelo território da região norte A.

No primeiro momento, a atividade constou de conhecer a política, o serviço e a região atendida. Isto se deu através das leituras dos documentos, observações e visitas à região atendida pela equipe, isto é, conhecer as orientações da Política de Assistência Social no que tange à proteção, prevenção e promoção de saúde e reabilitação em nível individual e comunitário. No segundo momento se levantou os dados das fichas de notificação (SINAN4 – Sistema de Informação de Agravos de Notificação) dos casos de violências da região norte “A” do município de Londrina, bem como a quantidade de notificações efetivadas. Juntamente a essas ações se realizou o acompanhamento e atendimento especializado à criança e/ou adolescente juntamente com a família e/ou responsáveis articulando com a rede de serviços socioassistenciais das demais políticas públicas e com Sistema de Garantia de Direitos para maior efetividade das próximas intervenções psicossociais. Para tal, se efetivou visita domiciliar para conhecer como se organiza a vida familiar e se estabelece a convivência familiar e comunitária de cada indivíduo encaminhado ao serviço, com intuito de estreitar a relação com a família acompanhada e trabalhar para o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários para romper o ciclo de violência – situação de risco pessoal e social, e realizar análise dos dados de violência no território.

Resultados

Foi possível obter o conhecimento do serviço e da legislação que norteia as ações no serviço especializado do CREAS III, e analisar os dados do território em questão.

1- Análise dos dados

Ano 2016 Número de Casos Notificados Meses

Violência Física Intrafamiliar 10 Março/Junho/Julho/Agosto

Violência Sexual 18 Janeiro a agosto

4 Esta ficha de notificação a princípio é uso exclusivo da área da saúde. Entretanto, o CREAS III começou a utilizar neste ano de 2016, como forma de padronização entre a rede de serviços.

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Exploração sexual 2 Junho/Julho

Violência Psicológica

Intrafamiliar 1 Maio

Negligência Intrafamiliar 1 Junho

Situação de Rua 1 Julho

Trabalho Infantil 0 --

Tabela 1: dados de casos de violência notificados referentes à região norte A do município de Londrina.

Na Tabela 1 se constatou subnotificação dos casos de violência física, situação de rua e trabalho infantil, tendo em vista os dados levantados até o mês de agosto de 2016, na região norte “A” do município de Londrina-PR, haver notificação apenas de dez casos de violência física, um de situação de rua e nenhum de trabalho infantil. Para melhor compreender estas subnotificações seria necessário, ao nosso ver, melhorar a forma de entrevista realizada nas entrevistas de acolhida dos usuários na chegada ao serviço do CREAS III, nas visitas domiciliares e aprofundar o porquê da notificação tardia dos casos encaminhados a este serviço.

Assim, é possível considerar como causa da subnotificação o receio da família e/ou dos serviços socioassistenciais e de outras políticas sofrerem represálias ao notificarem casos de violência. Também é possível considerar que a violência física seja considerada natural no âmbito familiar.

Estas ideias das famílias, dos serviços socioassistenciais e de outras políticas, podem ser explicadas, segundo Bock e Gonçalves (2009), como sendo ideologia, definida como “(...) uma representação ilusória que fazemos do real. O ilusório da ideologia está em que parte da realidade fica ocultada nas constituições ideais.”. Por isso, a relevância de se conhecer e trazer a realidade social no qual o fenômeno psicológico se constrói para romper estes conceitos.

Ano De 2016 Número De Casos

Acompanhados

Número De Casos Religados

Violência Física Intrafamiliar 7 0

Violência Sexual 25 6

Exploração sexual 0 1

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6

Negligência Intrafamiliar 1 0

Situação de Rua 0 0

Trabalho Infantil 0 0

Tabela 2: Dados de violência referentes ao número de casos acompanhados e religados pelo CREAS III na região norte A do

município de Londrina.

A Tabela 2 mostra que o número de casos acompanhados e religados de situação de rua e trabalho infantil é nulo, o que indica um número baixo de intervenções nestas violências. Assim, é possível considerar que seja por causa do CREAS II ser responsável pela abordagem social, e com isso chegar ao serviço do CREAS III só os casos em que há suspeita de violência sexual. Além disso, quando o adolescente fica institucionalizado e evade da instituição, costuma ficar durante diversos dias em situação de rua, o que faz pensar não ser uma demanda deste serviço de proteção de violência contra criança e/ou adolescente.

Conclusão

É possível observar que este serviço vem crescendo para melhor atender e acolher a população no âmbito da violência contra criança e adolescente, devido às capacitações profissionais efetivadas para aumentar a competência dos profissionais da Psicologia e Assistência Social.

A subnotificação da violência física, situação de rua e trabalho infantil constatada mostra a pouca transparência destes assuntos na região norte “A” em Londrina. Mesmo que a cada mês haja um aumento dos casos notificados de violência, sabemos que ainda são baixas as notificações desta região. O que pode talvez ajudar nesta diminuição de pouca transparência é o rompimento de ideologias construídas sobre as violências contra criança e adolescente no âmbito familiar, serviços socioassistenciais e de outras políticas.

É possível considerar também que com este aumento dos casos notificados de violência, a equipe psicossocial da região norte “A” traçou como prioridade atender aos casos urgentes e específicos de violência sexual e exploração sexual, como solução para diminuir o acúmulo de casos encaminhados para efetivar as entrevistas de acolhida dos usuários na chegada ao serviço especializado do CREAS III. Porém, isto traz em alguns momentos sobrecarga e cobrança para que haja produtividade e eficácia desta equipe.

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Consideramos ser importante que, para um profissional da psicologia atuar na Proteção Social Especial de média complexidade, é preciso ser um agente transformador e refletir criticamente sobre como pode atuar para mudar a pouca visibilidade das violências sofridas pelas crianças e adolescentes nas cidades. Ter conhecimento das (in) visibilidades das violências com este público não é suficiente, é necessário produzir conhecimento:

(...) com outros pressupostos, abandonando a pretensa neutralidade do positivismo, a enganosa objetividade do cientista, a positividade dos fenômenos e o idealismo, colando sua produção à materialidade do mundo e criando a possibilidade de uma ciência crítica à ideologia até então produzida e uma profissão posicionada a favor das melhores condições de vida, necessárias à saúde psicológica dos homens de nossa sociedade. (BOCK & GONÇALVES; 4ᵃ edição; 2009; p. 35).

Referências Bibliográficas

BOCK, Ana Mercês Bahia. (Org.). A perspectiva Sócio-Histórica na formação em psicologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13ª edição, reform. e ampl. São Paulo: Saraiva, 1999.

BOCK, Ana Mercês Bahia; GONÇALVES, Maria da Graça Marchina. Psicologia Sócio-Histórica – uma perspectiva crítica em psicologia. 4ᵃ edição. Editora Cortez, 2009.

CRUZ, Lilian Rodrigues da & Guareschi, Neuza. Políticas Públicas e Assistência Social – Diálogo com as práticas psicológicas. 5ᵃ edição. Editora Vozes, 2014.

SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS – Guia de orientação N° 1. 1ᵃ edição. Brasília-DF.

SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. Fundamentos Ético-políticos e rumos teórico-metodológicos para fortalecer o Trabalho Social com Famílias na Política Nacional de Assistência Social. Brasília, 2016.

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