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SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM HOSPITAIS

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SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO EM HOSPITAIS

GILL, Alfonso Antonio (1); ONO, Rosaria (2)

(1) Mestrando FAUUSP – e- mail: aagill@uol.com.br; (2) Professora Doutora FAUUSP – e-mail: rosaria@usp.br - Rua do Lago, 876 – Cidade Universitária – CEP 05508-080 – São Paulo – SP - tel. +55 11

3091 4571 – fax. +55 11 3019 4539. RESUMO

A segurança contra incêndio das edificações é obtida, hoje, pelo atendimento às exigências da legislação vigente, que, em geral, apresentam uma base prescritiva. Conforme a situação, são aplicados regulamentos federais, estaduais ou municipais. Este artigo apresenta a regulamentação federal e estadual e discute os conflitos entre estas legislações, para o caso de hospitais no Estado de São Paulo. Este trabalho também aborda o tema sob o ponto de vista dos regulamentos prescritivos e aqueles baseados no desempenho, discutindo as diferentes formas de estabelecer e garantir um nível desejável de segurança contra incêndio. São comentados o surgimento e aplicação dos códigos de desempenho em alguns paises, bem como os métodos de indexação de Gretener e do Fire Safety Evaluation System, este desenvolvido especificamente para hospitais. O uso dos códigos de desempenho exige conhecimentos profundos da Engenharia de Segurança Contra incêndio e isto implica na necessidade de se estabelecer uma estratégia de educação para o assunto.

ABSTRACT

Building fire safety is achieved, today, by means of adopting the requirements of fire regulations that are, in general, prescription- based. According to the situation, federal, state or local regulations are applied. This article presents the federal and state fire regulations and discusses the conflicts between them for the case of health-care facilities. This paper has also concern to this matter from the viewpoint of prescriptive and performance-based codes, as there are different ways of defining and providing a desirable level of fire safety in buildings. The development and application of performance-based fire safety codes in some countries is discussed as well as some specific fire safety evaluation methods, based on indexation, such as Gretener and FSES, the last one developed for hospitals. The application of performance-based codes requires further knowledge and study of Fire Safety Engineering and it implies on the need for a strategy for professional education and qualification.

1. INTRODUÇÃO

Incêndio sempre deve ser motivo de preocupação, quer no projeto e construção de uma edificação, quer no seu uso. Esta preocupação da sociedade, que normalmente se manifesta com mais intensidade após grandes incêndios, acaba se refletindo na exigência de medidas de segurança contra incêndio em legislação federal, estadual e municipal.

Normalmente, as exigências de segurança contra incêndio são estabelecidas com base no tipo de ocupação, na altura e área construída.

Dentre os vários tipos de ocupação das edificações, a segurança contra incêndio em edifícios hospitalares é uma questão que merece uma atenção especial por, pelo menos, duas razões. A primeira é que muitos pacientes não poderão abandonar a edificação sem auxilio de outras pessoas e, mesmo assim, esta saída pode ser difícil e demorada. A segunda é que muitas das pessoas hospitalizadas se encontram em estado de saúde debilitado e, portanto, estão mais vulneráveis aos efeitos dos incêndios, em especial aos seus gases tóxicos.

No estado de São Paulo são registrados cerca de 60 incêndios em hospitais por ano. No ano de 2004, o Corpo de Bombeiros da Policia Militar de São Paulo registrou 53 incêndios em hospitais de um total de 115 incêndios ocorridos em estabelecimentos de saúde no estado (SÃO PAULO, 2004).

No Brasil, para se obter as necessárias autorizações de funcionamento das autoridades competentes e propiciar um nível mínimo de segurança, são seguidas exigências estabelecidas pelas normas e regulamentos vigentes, que basicamente são prescritivas.

Neste artigo procura-se destacar duas questões. A primeira é que regulamentos emanados por diferentes fontes, sobre o mesmo assunto, podem ser conflitantes. Há que se encaminhar uma solução para este problema. A segunda questão é que existem outras formas, além dos regulamentos prescritivos, para se obter níveis

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adequados de segurança contra incêndio, baseadas em métodos de análise de engenharia. Estas abordagens deveriam começar a serem estudadas no nosso meio técnico.

Um dos problemas da regulamentação prescritiva é que em muitos casos as exigências podem estar ou super dimensionadas, acarretando custos que poderiam ser evitados, ou sub-dimensionadas, permitindo a existência de um risco acima de um mínimo aceitável.

Outro problema com a regulamentação de segurança contra incêndio prescritiva é que esta não dá liberdade ao projetista para elaborar seu projeto da forma que melhor entender, mesmo que ele garanta um nível adequado de segurança contra incêndio em sua proposta.

A segurança contra incêndio funciona como um sistema em que a interação dos meios de proteção cria uma sinergia, fato este que os regulamentos prescritivos não consideram.

2. COMO E QUANTO PROTEGER?

A segurança contra incêndio começa a se tornar algo real quando ela é incluída na fase de projeto. O arquiteto, engenheiro ou projetista procura atender às exigências feitas pela legislação. Esta é, atualmente, a base da segurança contra incêndio das edificações no Brasil. Atendendo à legislação, presume-se que a edificação estará protegida, o que nem sempre é uma verdade. Neste ponto também começamos a nos defrontar com um problema que é o conflito entre exigências.

Para o caso de hospitais, por exemplo, no estado de São Paulo, o projetista deve atender ao Decreto Estadual 46.076/01 de 31 de agosto de 2001, e também às exigências do Regulamento Técnico para Planejamento, Programação, Elaboração e Avaliação de Projetos Físicos de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde, aprovado pela resolução RDC nº 50, da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) de 21 de fevereiro de 2002. Porém, a segurança contra incêndio é tratada de modo diferente nos dois documentos legais. Como exemplo inicial, citaremos apenas dois dos casos de divergência:

a) Elevadores de emergência são exigidos pela RDC nº 50 e pelo DE nº 46.076 quando a altura da edificação for superior a 15m e 12m respectivamente;

b) Sistemas de detecção e alarme são exigidos pela RDC nº 50 quando houver mais de três pavimentos e a área construída for superior a 2.000 m², e pelo DE nº 46.076 quando a altura for igual ou superior a 6 m. Além disto, o decreto exige que os detectores sejam instalados nos quartos enquanto que a RDC exige que sejam instalados obrigatoriamente nos quartos e enfermarias de geriatria, psiquiatria e pediatria e também em locais onde não seja previsível a permanência constante de pessoas, como depósitos, vestiários, escritórios e despensas.

A forma com que os documentos se apresentam também varia muito, conforme comentado a seguir.

A estrutura do referido Decreto Estadual permite que se identifique com clareza e facilidade as medidas de segurança contra incêndio a serem atendidas para ao caso de hospitais. Os artigos 24 e 25 e as tabelas anexas ao decreto informam o tipo de proteção que o hospital deverá possuir, o que varia basicamente em função da sua altura. Para a execução destas proteções obrigatórias devem ser seguidas as regras estabelecidas nas Instruções Técnicas (ITs), anexas ao decreto. As ITs, em regra geral, são normas da ABNT com pequenas alterações. A RDC nº 50, no item 8 – Condições de Segurança Contra Incêndio - não é clara nem quanto às exigências de segurança contra incêndio, nem quanto à execução delas. Há muitas afirmações genéricas ou mesmo tecnicamente inadequadas.

O item de segurança contra incêndio da RDC nº 50 foi subdividido nos seguintes tópicos: A. Estudo preliminar – trata da acessibilidade das viaturas de bombeiros e da setorização e

compartimentação da edificação;

B. Projeto básico – aborda materiais construtivos estruturais, aberturas (portas) e vias de escape (escada de incêndio e elevadores);

C. Projeto executivo – aborda a sinalização de segurança;

D. Instalações de proteção contra incêndio – trata da detecção e de sistemas de combate como extintores, hidrantes e chuveiros automáticos;

E. Normatização – apresenta uma lista de normas a serem seguidas. (A RDC nº 307, de 14 de novembro de 2002, alterou esta lista porque originalmente constavam normas em desuso.)

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A estruturação e redação do texto não permitem que o projetista entenda com facilidade o que deve ser feito. Ao tratar dos materiais construtivos estruturais, a RDC nº 50, por exemplo, afirma que “todo material utilizado na estrutura dos EAS (Estabelecimentos Assistenciais de Saúde) tem de receber tratamento de ignifugação, de modo a suportar as temperaturas estimadas em um incêndio”. Esta afirmação não é adequada, pois o essencial é que o elemento estrutural tenha “resistência ao fogo” por determinado período de tempo, tenha ele tratamento de “ignifugação” (termo tecnicamente duvidosa) ou não. Neste assunto seria muito melhor exigir que a estrutura atendesse à NBR 14.432 – Exigência de resistência ao fogo de elementos de construção de edificações.

Outro exemplo de falta de clareza é quando a resolução trata das vias de escape, subdividindo o assunto em: a) escada de incêndio, e b) elevadores. No tópico de escada de incêndio a resolução cita a NBR 9077 – Saídas de emergência em edifícios – mas faz vários comentários pontuais sem colocá-los dentro de uma estrutura lógica, saltando de um assunto para outro ao citar tópicos como “a escada deve possuir corrimão de ambos os lados, fechados no inicio de cada lance, de modo a evitar o engate do pulso, mão ou peças de vestuário”. Aparentemente estes tópicos visam complementar as exigências da NBR 9077, porem isto não fica explicitado. Outro exemplo destas observações pontuais é uma tabela, retirada de uma norma espanhola, que trata do número de pessoas a evacuar em função da largura da escada e número de pavimentos. Ela aparece no texto sem qualquer explicação.

É possível concluir que as exigências para hospitais do Decreto Estadual No 46.076/2001 do estado de São Paulo apresentam uma estrutura coesa e se baseiam em documentos públicos reconhecidos, que são as normas brasileiras. Porém, deve-se lembrar que esta regulamentação só tem efeito num estado específico. Neste contexto, é preocupante que a regulamentação de abrangência nacional para o assunto, que é hoje representada pela RDC No50 da ANVISA, apresente a estrutura falha já comentada.

Outro problema a ser considerado, já na área organizacional, é garantir que os sistemas de segurança contra incêndio, eleitos pelo projetista e implantados, funcionem efetivamente, minimizando as conseqüências do incêndio. É tarefa da administração hospitalar garantir tal funcionamento, sem o qual o nível de segurança contra incêndio inicialmente concebido estará comprometido.

São poucas as publicações nacionais que abordam a segurança contra incêndio em hospitais. PINTO (1996), no seu livro sobre o planejamento físico de hospitais, aborda a questão da segurança contra incêndios no capítulo V “Aspectos de Proteção do Paciente”.

Neste capítulo, as medidas de segurança contra incêndio são organizadas nos seguintes grupos:

a) Construção – Parâmetros de limitação de altura; compartimentação e vias de evacuação entre outros; b) Condições urbanísticas do entorno - Acesso de bombeiros, por exemplo;

c) Instalações técnicas - Energia elétrica; gases medicinais, etc;

d) Plano de formação - Plano que visa dar uma formação de modo que as pessoas saibam como atuar e coordenar sua participação para reduzir ao mínimo as condições do sinistro. O plano deve compreender:

• Comitê de incêndio (composição e funcionamento); • Objetivos básicos;

• Alcance e conteúdo do plano; • Definição e identificação do risco; • Organização da evacuação; • Transmissão do alarme e atuação.

Embora o tema não tenha sido aprofundado, percebe-se já uma preocupação com a segurança contra incêndio no planejamento de hospitais e que se baseia na tradicional divisão da segurança contra incêndio, ou seja, medidas de proteção passiva, de proteção ativa e, também, medidas administrativas.

3. CÓDIGOS PRESCRITIVOS E CÓDIGOS DE DESEMPENHO

A discussão sobre as limitações dos códigos prescritivos em relação aos códigos baseados em desempenho na área da construção civil de edificações é de meados do século XX, no entanto, na área da segurança contra incêndio em edificações passou a ser mais evidente a partir da década de 80, em vários países do primeiro mundo.

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Nos códigos prescritivos, as regras, algumas vezes minuciosas, definem detalhes construtivos e dimensões, enquanto que nos códigos de desempenho são estabelecidos os objetivos que se pretende atingir. São exemplos de exigências prescritivas regras como “as pessoas não devem caminhar mais do que 25 m para atingir um local seguro” ou “edificações com mais de 23 m de altura devem ter sistema de chuveiros automáticos”. Um código de desempenho, por exemplo, estabeleceria que “a edificação deve ser projetada para assegurar que os ocupantes possam escapar para um local seguro antes de um incêndio criar condições insustentáveis” ou que “edificações altas necessitam de condições que dificultem a propagação rápida do incêndio no próprio pavimento e para pavimentos adjacentes”.

A análise feita da RDC n° 50 e do Decreto Estadual n° 46.076 permite afirmar que o decreto é uma ferramenta muito mais prática para o projetista desenvolver seus trabalhos com relação à segurança contra incêndio. Embora ambos sejam prescritivos, o Decreto Estadual dá um pouco de flexibilidade permitindo, por exemplo, que a resistência ao fogo seja calculada e não tirada simplesmente de uma tabela dada. Em outros países há legislação que permite maior flexibilidade.

Em junho de 1999, foi realizada uma conferência no Worcester Polytechnic Institute, nos EUA, para discutir a segurança contra incêndio do século 21. O relatório do evento permite entender como vários países estão lidando com a questão dos códigos de desempenho (REGULATORY, 2000).

Uma das citações deste relatório sobre as mudanças que estão ocorrendo é: “A tendência mundial em segurança

contra incêndio e códigos de construção está mudando rapidamente da abordagem prescritiva para a baseada em desempenho. Isto significa que o objetivo muda de “atender o código” para “conseguir que a edificação tenha um desempenho seguro”. Este é um modo totalmente novo de pensar” (REGULATORY, 2000, pg. 6).

O relatório, em sua pagina 16, também ressalta que “soluções baseadas em desempenho ou análise de risco dão

uma melhor compreensão de como a edificação irá se comportar em situação de incêndio”.

O mesmo documento relata quando os códigos de desempenho foram sendo adotados. Na Inglaterra e País de Gales em 1984, na Nova Zelândia em 1992, na Suécia em 1994 e Austrália em 1997 e que em breve seriam adotados pelo Canadá e Japão, o que acabou se efetivando nos anos seguintes à publicação deste documento. Embora os requisitos de desempenho sejam apresentados de forma qualitativa, é necessário que os projetistas comprovem a efetividade das medidas de desempenho adotadas e, para tanto, terão que se referir a determinados valores quantitativos. Alguns destes valores podem ser encontrados na publicação Fire safety engineering in

buildings- Part 1. Guide to the application of fire safety engineering principles (DD 240: Part 1:1997). No BSI – British Standard Institution, onde se recomenda, por exemplo, determinados valores máximos de exposição aos efeitos de um incêndio. Os tempos máximos de exposição ao ar aquecido, por exemplo, são de 1min. e 12 min. para 180 e 100º C respectivamente (BSI, 1997). Esta proposta de norma acabou se tornando a norma BS 7974 - Fire safety engineering in buildings. Part 1. Guide to application of the fire safety engineering principles, de 2001

A norma norte-americana No 101 da National Fire Protection Association (NFPA), também conhecida como Life Safety Code (LSC) é um documento cujo principal objetivo é a preservação da vida e, tradicionalmente, o fazia por meio de exigências prescritivas. Mais recentemente, como na edição de 2003, por exemplo, o LSC aceita que as metas e objetivos do código sejam atingidos tanto pelo atendimento de exigências prescritivas como de exigências de desempenho. No capítulo cinco da citada edição são destacados vários requisitos que devem ser atendidos, caso se opte pela opção de desempenho. Um deles é referente aos cenários de incêndio de projeto. A norma apresenta oito tipos de cenários que é o mínimo de cenários a ser considerado. Estes cenários apresentam uma ampla variedade de situações, abrangem o início do incêndio em sala ocupada, em recinto vazio, em espaço oculto ou no exterior da edificação, passando pela ineficácia de alguns sistemas de segurança contra incêndio. Mais adiante, neste artigo, serão apresentados mais detalhes sobre a opção de proteção contra incêndio em hospitais baseada em desempenho.

No Japão, pesquisas sobre segurança contra incêndio vêm sendo realizadas em algumas universidades e empresas privadas. Um destes centros de pesquisa é o Center of Fire and Technology da Tokyo University of

Science. Em novembro de 2005, quatro dos seus pesquisadores participaram do seminário “A Tecnologia da

Segurança Contra incêndio no Japão”, organizado pelo NUTAU/USP. O professor Yoshifumi Ohmiya na sua palestra apresentou as possíveis alternativas de projeto que podem ser adotadas no Japão. Uma das alternativas, a “rota A”, consiste em seguir os códigos prescritivos e ter o projeto analisado e aprovado pelo órgão competente pelas construções. As demais alternativas, “rotas B e C”, são soluções de engenharia de incêndio e não obrigam ao cumprimento dos códigos prescritivos. Na “rota B” é feito um cálculo simplificado da severidade do incêndio e das ações térmicas e mecânicas. Neste caso o projeto também é analisado e aprovado pela autoridade local competente.

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Um exemplo de “rota B” que pode ser praticado entre nós é referente à resistência ao fogo das estruturas. No estado de São Paulo, por exemplo, o Decreto Estadual 46.076/01 por meio da Instrução Técnica 08 (IT 08), indica, na tabela A, os Tempos Requeridos de Resistência ao Fogo (TRRF), o que seria seguir a “rota A”. Entretanto, o projetista poderá efetuar o cálculo deste tempo, usando o “Método do tempo equivalente de resistência ao fogo” indicado no Anexo C da referida IT, o que seria seguir a “rota B”. Neste caso o cálculo do tempo de resistência ao fogo da estrutura leva em conta a influência de fatores no crescimento e propagação do incêndio, tais como a quantidade de material combustível, as áreas de ventilação propiciadas por portas, janelas ou outras aberturas, a existência de sistemas de chuveiros automáticos e de detecção, o tipo de brigada existente, a área e altura do compartimento. Há algumas normas nacionais, como a NBR 14323: 1999 – Dimensionamento

de estrutura de aço em situação de incêndio - que também dão a possibilidade de se seguir qualquer uma das três

rotas.

Figura 1 – As três rotas alternativas do Projeto baseado em desempenho no Japão (OHMIYA, 2005) Na “rota C” é feito um cálculo detalhado da severidade do incêndio e das ações térmicas e mecânicas e o projeto sofre uma avaliação pelos seus pares, normalmente especialistas em segurança contra incêndio das universidades.

Nesta breve descrição dos diferentes modos de se atingir níveis adequados de segurança contra incêndio no Japão, pode-se perceber a necessidade de uma compreensão e conhecimento mais aprofundados da segurança contra incêndio para que possam ser adotadas soluções com comprovação científica. Enquanto tal conhecimento não permear o meio técnico de nossa sociedade teremos que conviver com os códigos prescritivos.

4. ANÁLISE DE RISCO

Uma outra abordagem da segurança contra incêndio é pela análise dos riscos de incêndio. Os métodos de análise de risco surgiram na década de 60.

Risco pode ser considerado como uma probabilidade de acontecer um evento indesejado (incêndio), multiplicado por suas possíveis conseqüências (mortes, perdas materiais, interrupção do funcionamento normal por determinado período). Quanto maior for a probabilidade de ocorrer o evento ou a sua conseqüência, maior será o risco.

A meta da avaliação de risco é determinar o resultado esperado de um conjunto específico de condições que é denominado de cenário.

O cenário inclui detalhes das dimensões da sala, conteúdo e materiais de construção; disposição das salas na edificação; fontes do ar de combustão (aberturas); posição das portas; número, localização e características dos ocupantes; qualquer outro detalhe que tenha influência no resultado do objeto do estudo.

A determinação deste resultado pode ser feita pela avaliação de especialistas, por métodos probabilísticos, usando dados de ocorrências passadas, ou por meios determinísticos, como modelos matemáticos de incêndios, por exemplo.

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Com o desenvolvimento computacional, está havendo uma tendência ao uso de modelos matemáticos de incêndio sempre que for possível, suplementados se necessário pelo julgamento de peritos.

Num esforço para encontrar soluções mais econômicas, os modelos de código de construção dos EUA incluíram o conceito de nível equivalente de segurança contra incêndio. Isto permite aos projetistas elaborar seus projetos com soluções alternativas desde que seja garantido o mesmo nível de segurança contra incêndio estabelecido pelos regulamentos (WATTS Jr, 2002).

Avaliar o risco de incêndio é um processo científico que tem como objetivo responder três questões: 1) O que pode acontecer?

2) Quais serão as conseqüências?

3) Qual a probabilidade de isto acontecer? (WATTS Jr. & HALL Jr., 2002))

Uma das formas de se avaliar a segurança contra incêndio é por meio de índices de risco de incêndio. Alguns dos métodos mais conhecidos citados por WATTS Jr (2002) são:

• Índice Dow de Incêndio e Explosão;

• Índice Mond de Toxicidade, Incêndio e Explosão; • Método de Gretener;

• Fire safety Evaluation System (FSES).

Como os dois primeiros métodos se aplicam a processos industriais, mais especificamente a indústrias químicas e petroquímicas, serão comentados os outros dois por apresentarem maior afinidade com o aspecto construtivo e da segurança contra incêndio das edificações.

O método de Gretener foi desenvolvido por Max Gretener na década de 60, na Suíça. Originariamente, foi desenvolvido para fins de seguro e, posteriormente, transformou-se na norma SIA nº 81 da Sociedade de Engenheiros e Arquitetos daquele país. É regularmente empregado para a avaliação das condições de segurança contra incêndio das edificações na Suíça. Sua aplicação é simples, pois consiste em se atribuir pontuação às variáveis que definem o risco, de acordo com valores existentes em tabelas fornecidas pelo próprio método. As variáveis do método são características como: área do recinto; resistência ao fogo das estruturas e compartimentações; carga de incêndio mobiliária e imobiliária; sistemas de chuveiros automáticos, de detecção e de exaustão de fumaça; tipo e tamanho de brigadas de incêndio; tipo e tamanho do Corpo de Bombeiros local e sua proximidade do local em análise, entre outros fatores. Torna-se necessário ressaltar que os meios de escape não são abrangidos por este método.

Na edição de 2003 do Life Safety Code (NFPA), dentre os seus 42 capítulos, encontra-se o de número 18 que estabelece as exigências de segurança contra incêndio para hospitais novos e o capítulo 19 que o faz para os hospitais existentes. A rigor, o capítulo trata de “New health care occupancies” que poderíamos traduzir por estabelecimentos de saúde e que abrangem outras ocupações além dos hospitais. Por uma questão de simplificação, neste artigo adotou-se somente a designação de hospital.

O capitulo 18 da edição da edição citada, na parte de exigências gerais (item 18.1) apresenta algumas delas como do tipo de desempenho. Citaremos algumas:

• As metas (incêndio e movimento de multidão) e os objetivos (proteção dos ocupantes, integridade estrutural e efetividade dos sistemas) são atingidos pela limitação do desenvolvimento e propagação do incêndio ao seu recinto de origem, reduzindo a necessidade da retirada dos ocupantes, exceto aqueles do recinto de origem (18.1.1.2);

• Todos os hospitais devem ser projetados, construídos, mantidos e operados de forma a minimizar a possibilidade de um incêndio que exija a retirada dos ocupantes (18.1.1.3.1);

• Como a segurança dos ocupantes não pode ser garantida adequadamente por meio da retirada das pessoas, ela o deve ser por meio de arranjos apropriados das instalações, equipes adequadas e treinadas e procedimentos de operação e manutenção compostos por:

 Projeto, construção e compartimentação;  Provisão de detecção, alarme e combate;

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 Procedimentos de prevenção e de planejamento e programas de treinamento e exercícios para o isolamento do fogo, transferência dos ocupantes para áreas de refúgio ou evacuação da edificação (18.1.1.3.2).

Embora o LSC faça exigências prescritivas, ele aceita que projetistas apresentem outros tipos de solução desde que sigam o estabelecido na norma NFPA 101A - Guide on Alternative Approaches to Life Safety, por exemplo. O emprego de soluções alternativas para a segurança contra incêndio de hospitais, prevista na norma NFPA 101ª, se baseia no método “The Fire Safety Evaluation System” (FSES) desenvolvido na década de 70 pelo antigo National Bureau of Standards (NBS), hoje National Institute of Standards and Technology (NIST) dos Estados Unidos em conjunto com o U.S. Department of Health and Human Services (antigo Health, Education and Welfare).

O método FSES apresenta algumas características que merecem ser destacadas. Inicialmente deve ser ressaltado que o método introduz o conceito de risco. Esta é uma grande diferença entre as exigências prescritivas, em que os riscos ficam implícitos, e os métodos baseados na análise de riscos, em que os riscos considerados são claramente explicitados e lhes são atribuídos determinados valores. Por exemplo, o grau de mobilidade das pessoas determina um maior ou menor risco para elas em uma situação de incêndio. Isto fica muito mais evidente em hospitais onde há grande número de pessoas com mobilidade reduzida ou cuja mobilidade é quase nula. Outro exemplo de risco é a vulnerabilidade dos pacientes aos efeitos do incêndio em função da idade. Estudos demonstraram que crianças e idosos são mais susceptíveis aos gases tóxicos dos incêndios. Com base nisto, o método FSES, específico para hospitais, atribui diferentes valores de risco dos quais transcrevemos três ( mobilidade, pavimento onde se encontra, idade) nas tabelas abaixo:

Tabela 1 – Valores do fator de risco “Mobilidade” (WATTS, 2002)

Mobilidade Total Reduzida ou limitada Nenhuma Deslocamento impossível

Fator de risco 1,0 1,6 3,2 4,5

Tabela 2 – Valores do fator de risco “Piso” (WATTS, 2002)

Piso 1º andar 2º ou 3º andar 4 ao 6º andar 7º ou acima subsolo

Fator de risco 1,1 1,2 1,4 1,6 1,6

Tabela 3 – Valores do fator de risco “Idade” (WATTS, 2002)

Idade Acima de 1 e abaixo de 65 anos Abaixo de 1 ano e acima de 65

Fator de risco 1,0 1,2

Como fatores de risco, o método FSES considera, adicionalmente, a densidade ocupacional de pacientes e a relação de número de pacientes para cada atendente.

Quanto aos fatores de segurança, o mesmo método adota 13 parâmetros que incluem tipo de construção, material de acabamento, áreas perigosas, controle de fumaça, rotas de escape, alarme, detecção e chuveiros automáticos, entre outros.

Algo que merece ser destacado também neste método é que ele claramente adota três estratégias que se somam para enfrentar o problema do incêndio, ou seja:

1. Confinamento do incêndio, com base no tipo de construção, material de acabamento, compartimentação e chuveiros automáticos;

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3. Escape dos ocupantes.

O método apresenta tabelas com pontuações para cada um dos parâmetros de segurança e exige que cada uma das três estratégias receba uma pontuação mínima, que deve garantir um mínimo de confiabilidade delas. Através dos comentários feitos sobre os métodos de Gretener ou FSES, pretendeu-se mostrar que existem outras abordagens da segurança contra incêndio que permitem aos projetistas um grau de liberdade que a legislação prescritiva não apresenta, pois lhe é permitido optar por diferentes meios de proteção desde que um nível adequado de segurança seja garantido.

5. CONCLUSÃO

O desenvolvimento da área de segurança contra incêndio no Brasil é relativamente recente, da década de 1970, e nos primeiros anos cuidou de desenvolver uma legislação prescritiva e normas técnicas de suporte à legislação, geralmente baseado em modelos estrangeiros. Há, ainda, muito para ser feito.

Na área específica da segurança contra incêndio em hospitais, é necessário aperfeiçoar a legislação prescritiva, estudar formas de compatibilizar as medidas de segurança contra incêndio exigidas pelas legislações estaduais e pela ANVISA e começar a considerar a segurança contra incêndio baseada em desempenho. O uso do método FSES comparando as pontuações obtidas pelo cumprimento das legislações estaduais e a RDC nº 50 pode trazer alguns insights interessantes. A análise e adaptação de estudos sobre segurança contra incêndio em hospitais desenvolvidas em outros países à nossa realidade pode também propiciar boas melhorias nos atuais procedimentos.

Mas, talvez, a questão básica seja definir uma estratégia de educação para todas as pessoas envolvidas na área, sejam autoridades públicas, projetistas ou gerenciadores de edifícios, com o objetivo de se aproveitar todos os recursos e as ferramentas que vêm sendo desenvolvidos pelos países que realizam pesquisas em segurança contra incêndio. Os cursos de especialização em segurança contra incêndio que estão sendo desenvolvidos junto às universidades em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro já prenunciam algumas mudanças. Caso se pretenda acompanhar a evolução dos conhecimentos na área de segurança contra incêndio é necessária também uma cooperação profunda entre a universidade, o meio técnico e a indústria da construção. Isto talvez possa ser feito por áreas específicas. Os especialistas em arquitetura hospitalar, administradores hospitalares e autoridades públicas poderiam, por exemplo, se reunir de modo sistemático para estudar e propor as melhores soluções para a segurança contra incêndio dos hospitais, adequadas à nossa realidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANVISA. Resolução RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002. Disponível em http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=11946&word= . Acesso em 18 fev. 2006.

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