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Ensino, Pesquisa e Capacitação Docente em Administração

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Academic year: 2021

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Ensino, Pesquisa e

Capacitação Docente em

Administração

Enangrad Pleno

ALEXANDRE MARINO COSTA

ROBERTO CARLOS DOS SANTOS PACHECO

GREICY BAINHA PACHECO

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ÁREA TEMÁTICA: 3 EPCDA - Ensino, pesquisa e capacitação docente em administração

A FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR NO BRASIL FACE AS NOVAS TENDÊNCIAS DIGITAIS

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RESUMO:

Em um contexto de grandes transformações da 4ª Revolução Industrial e das novas tendências digitais da Educação 4.0, questiona-se se o profissional formado em administração está adequado, em suas cognições e competências para atuar na sociedade contemporânea. Dessa forma, o objetivo deste ensaio teórico é debater sobre a formação do bacharel em administração no Brasil face às novas tendências da sociedade contemporânea. É necessário compreender as mudanças e necessidades pertinentes para esse novo perfil profissional e refletir sobre quais são as competências e habilidades necessárias para esse profissional que está sendo formado pelas universidades atualmente. Propõe-se que as ferramentas da Educação 4.0 sejam inseridas nas instituições de ensino superior a fim de auxiliar na atualização curricular, tendo como limitação as diretrizes nacionais curriculares do curso de graduação em administração. Por fim, sugere-se que a principal mudança no perfil do profissional de administração é o aprendizado ao longo da vida.

Palavras-chave: Administrador; Currículo; Educação 4.0; Graduação; Aprendizado

ao longo da vida.

ABSTRACT:

In a context of major transformations of the 4th Industrial Revolution and the new digital trends of Education 4.0, it is questioned if the professional graduated in administration is adequate, in its cognitions and competences to act in contemporary society. Thus, the objective of this theoretical essay is to discuss the formation of a bachelors in management in Brazil in the face of new trends in contemporary society. It is necessary to understand the changes and needs pertinent to this new professional profile and to reflect on what are the necessary skills and abilities for this professional that is being formed by the universities today. It is proposed that the tools of Education 4.0 be inserted in institutions of higher education in order to assist in curriculum updating, having as a limitation the national curricular guidelines of the undergraduate course in administration. Finally, it is suggested that the main change in the profile of the management professional is lifelong learning

Keywords: Administrator. Curriculum. Education 4.0. University graduate. Lifelong learning.

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INTRODUÇÃO:

O contexto mundial está se transformando e as novas tecnologias estão revolucionando o modo de pensar e fazer as coisas. Termos, antes desconhecidos, como inteligência artificial, robótica, computação cognitiva, internet das coisas (IoT), big data, computação em nuvem, impressão 3D, veículos autônomos, nanotecnologia, biotecnologia, ciência dos materiais, computação quântica, entre tantos outros, trouxerem, juntamente com seu significado, uma nova realidade que aos poucos está alterando a forma de viver da sociedade.

Nesse contexto de transformação da sociedade contemporânea, provocado em grande parte devido à 4ª Revolução Industrial, há uma mudança de paradigma causada pela combinação de tecnologias que desfocam as linhas entre o mundo físico, digital e biológico (SHWAB, 2016).

Além do impacto da digitalização, Maria, Shahbodin e Pee (2016) destacam a aprendizagem contínua e a alta velocidade da aprendizagem como vantagens competitivas, e destacam a necessidade de profissionais com perfis distintos dos que existem atualmente. Sendo que, entre as competências exigidas para esse novo profissional, estão: criatividade, inovação, boa comunicação, capacidade de solucionar problemas e conhecimentos técnicos (AIRES; MOREIRA; FREIRE, 2017). Diante disto, Nikanorov e Shvindt (2018) argumentam que, assim como sociedade contemporânea requer um profissional com um perfil diferente do que era exigido anteriormente, com distintas capacidades e habilidades, o mundo atual exige uma transformação na educação, principalmente na forma de aprender e ensinar.

No último século a quantidade de conhecimento aumentou duas vezes a cada trinta anos, e atualmente o conhecimento é atualizado cerca de 15% a cada ano (LEVCHENKO; HORPYNCHENKO; TSARENKO, 2017), por isso, é necessário que o profissional formado adeque suas cognições e competências para a sociedade contemporânea. Nesse sentido, a Educação 4.0 surge como resposta para as necessidades da 4ª Revolução Industrial e peça fundamental para que a sociedade possa acompanhar as transformações que estão ocorrendo no mundo globalizado.

Neste contexto, o curso de graduação em administração é um dos mais tradicionais do Brasil, permanecendo nos primeiros lugares dos rankings de cursos com maior número de alunos matriculados, visto que, segundo os dados do Censo da Educação Superior de 2017, dos 8.286.663 milhões de alunos matriculados no ensino superior, 682.555 cursavam a graduação em administração (INEP, 2017).

Diante do exposto, sabe-se que, por mais que as oportunidades de trabalho sejam variadas, a concorrência é muito alta. Assim, o profissional administrador deve se diferenciar da concorrência, se adequando ao mercado de trabalho e às necessidades da sociedade contemporânea.

Surge então a necessidade de aprofundar os conhecimentos sobre a temática e responder “Será que o profissional formado em administração está adequado, em suas cognições e competências para atuar na sociedade contemporânea?” Diante dessa questão, este ensaio teórico objetiva debater sobre a formação do bacharel em administração no Brasil face às novas tendências da sociedade contemporânea. Assim, o trabalho está estruturado da seguinte forma: Revisão de literatura sobre Educação 4.0; Graduação em Administração no Brasil; e O Profissional de Administração, bem como discussão sobre a necessidade de atualização curricular e competências necessárias para o novo perfil profissional, juntamente com proposições teóricas para futuras pesquisas. E, por fim, são feitas as considerações finais sobre o trabalho.

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1. REVISÃO DA LITERATURA 1.1 Educação 4.0

O mundo está se transformando em um ritmo muito rápido e tornando-se cada vez mais conectado através do surgimento de tecnologias disruptivas que evoluem em ritmo exponencial (HUSSIN, 2018). Ao passo que Buasuwan (2018) afirma serem as novas na tecnologia da informação e comunicação as responsáveis pelas mudanças no modo de pensar, viver, aprender e interagir das pessoas.

Essas mudanças que começaram na primeira década do século XXI, deram início a 4ª Revolução Industrial ou “Indústria 4.0” que baseia-se na integração de tecnologias de informação e comunicação, tendo por objetivo criar processos de fabricação flexível para atender o mercado dinâmico através de produtos e serviços personalizados e digitais, com interações simultâneas durante o processo de produção, entre pessoas, produtos e dispositivos (BENESOVÁ ET AL., 2018; RAMIREZ-MENDOZA ET AL., 2018).

Destaca-se que, após a 1ª Revolução Industrial, todas as outras foram consequências da evolução dos modos de produção desde aquele momento. De modo que, o desenvolvimento começou com sistemas mecânicos simples, passou para os sistemas mecatrônicos complexos, e atualmente enfrenta o desafio de entender, operar e desenvolver sistemas tecnológicos complexos e inteligentes (EICHINGER; HÖFIG; RICHTER, 2017).

Diante do exposto até o momento, Benešováa e Tupaa (2018) revelam que todas as grandes Revoluções Industriais ocorreram por mudanças tecnológicas e inovações, que além de influenciarem a produção e o mercado de trabalho, geraram reflexos no sistema educacional (BENEŠOVÁA; TUPAA, 2018). Assim, ainda que não seja possível saber o alcance e as consequências dessa nova revolução, é preciso que a reação a ela seja integrada e abrangente, envolvendo política global, setores público e privado, meio acadêmico e a sociedade como um todo (SCHWAB, 2016).

Ciolacu et al. (2017a) e Benesová et al. (2018) revelam que o impacto da transformação digital nas indústrias está deslocando tarefas e atividades, além disso, algumas profissões estão desaparecendo e outras estão sendo substituídas. Por isso, Reddy (2017) enfatiza que uma grande barreira para o desenvolvimento da sociedade contemporânea é a escassez de trabalhadores capacitados para acompanharem os avanços tecnológicos.

Nesse contexto, Benesová et al. (2018) explica que a necessidade de controle, manutenção e operação de novas tecnologias faz com que as empresas busquem funcionários altamente qualificados e, por isso, a Indústria 4.0 afeta tanto o mercado de trabalho, como a educação. De modo que é preciso educar os futuros graduados para o exercício da profissão nesse novo contexto (CIOLACU ET AL., 2017a; BENESOVÁ ET AL., 2018).

Assim, considerando que as empresas estão usando cada vez mais novas tecnologias e mídias inteligentes, os requisitos para as qualificações dos funcionários são maiores. Diante disto, Nikanorov e Shvindt (2018) argumentam que a sociedade contemporânea requer um profissional com um perfil diferente do que era exigido anteriormente, com distintas capacidades e habilidades. Dessa forma, a Educação 4.0 surge como uma resposta para essas necessidades (HUSSIN, 2018).

Considerando que no último século a quantidade de conhecimento aumentou duas vezes a cada trinta anos, e atualmente o conhecimento é atualizado cerca de 15% a cada ano (LEVCHENKO; HORPYNCHENKO; TSARENKO, 2017), a

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Educação 4.0 é peça fundamental para que a sociedade contemporânea possa acompanhar as transformações que estão ocorrendo no mundo globalizado.

A fim de contextualizar as evoluções da educação, Harkins (2008) esclarece que são interativas embora diferentes, e as resume da seguinte forma: Educação 1.0 - experiência com memorização; Educação 2.0 - aprendizagem habilitada pela internet; Educação 3.0 – capacitação dos alunos a produzirem conhecimento; e Educação 4.0 – capacitação dos alunos a produzirem inovações e a continuarem a produção de conhecimento.

Diante do exposto, Maria, Shabodin e Pee (2016) explicam que a 1ª Revolução na Educação começou com o desenvolvimento inicial da Web 1.0 que mudou o modo de obtenção e acesso à informação no sistema educacional, especialmente o nível de ensino superior. Já a 2ª Revolução na Educação teve início com o desenvolvimento da Web 2.0 que permitiu a interação entre humano e computador, desencadeando um novo método de ensino e aprendizagem que misturou a interação presencial em sala de aula com o e-learning. A 3ª Revolução na Educação foi causada pelo rápido incremento das informações de compartilhamento online e o crescimento das mídias sociais. E por fim, na 4ª Revolução na Educação o processo de educação depende do uso da internet como o principal meio de compartilhamento de conhecimento, visto que a tecnologia é crucial para que os alunos aprendam individualmente.

De acordo com Ciolacu at al., (2017b) a Educação 4.0 se destaca das anteriores por apresentar uma abordagem mista, com novos formatos de aprendizagem, independência de localização e tempo para o aluno, individualização, globalização, aumento da motivação, transmissão de habilidades, e aprendizagem ao longo da vida. Além disso, conforme pode ser observado na Figura 1, a Educação 4.0 possui sete características fundamentais.

Figura 1 - Faces da Educação 4.0

Fonte: Adaptado de Ciolacu et al. (2017b)

De acordo com Ciolacu et al. (2017b) pode-se explicitar essas características da seguinte maneira: Personalização - material preparado para diferentes tipos de aprendizado (livro interativo e vídeo interativo); Gamificação - elementos lúdicos e de realidade virtual que ajudam na motivação (ponto de experiência, pontuações altas, barra de progresso, listas de classificação, bens virtuais e tarefas virtuais); Adaptabilidade - módulos do curso que se adaptam ao conhecimento anterior e ao

Educação 4.0 Personalização Gamificação Adaptabilidade Comunidades de prática Conselhos e Apoio Avaliação online Análise de aprendizagem

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comportamento de aprendizagem; Comunidades de Prática - alunos estão conectados e formam grupos virtuais de aprendizagem; Conselhos e Apoio - o mecanismo de busca encontra informações e tenta prepará-las imediatamente (teletutores inteligentes na forma de chabot); Avaliação Online - testes são corrigidos automaticamente; e Análise de aprendizagem - intensidade de uso é examinada pela quantidade de números de chamadas de recursos.

Benešováa e Tupaa (2018) acrescentam que na Educação 4.0 são utilizados recursos virtuais e de realidade aumentada para o ensino, assim como ambientes virtuais de aprendizagem para a transferência de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, e Cursos Online Abertos em Massa (MOOCS) para que um grande número de alunos possam ampliar seus conhecimentos num processo de coprodução. Além destas ferramentas, Ciolacu et al. (2017b) e Benesová et al. (2018) citam a Realidade Aumentada que integra objetos virtuais 3D em ambiente e tempo real, com o objetivo de aumentar a percepção que o usuário tem da realidade; e a Realidade Virtual que através de recursos gráficos 3D ou imagens 360º cujo objetivo é criar a sensação de presença em um ambiente virtual diferente do real.

Nesse contexto, Fisk (2017) admite que existem nove tendências relacionadas à Educação 4.0: Aprendizado realizado a qualquer momento em qualquer lugar; Aprendizado personalizado; Possibilidade de escolha das ferramentas ou técnicas de aprendizagem; Aprendizagem baseada em projetos; Aprendizagem prática; Necessidade de interpretação de dados; Avaliação diferenciada; Consideração da opinião dos alunos na concepção e atualização do currículo; e Alunos independentes no próprio aprendizado.

Diante das tendências expostas, é importante ressaltar que, diferente da Indústria 4.0 na qual o principal risco são os recursos humanos, na Educação 4.0 os riscos, segundo Benesová et al. (2018), são falta de recursos financeiros próprios, implementação insuficiente de novas tecnologias na educação, programas de estudo mal definidos, sobrecarga do sistema, falta de alunos e complicações de saúde.

Por outro lado, Reddy (2017) afirma que entre os benefícios da Educação 4.0 destacam-se: a redução da escassez de trabalhadores altamente qualificados capazes de acompanhar as mudanças tecnológicas; o fato de que uma maior proximidade com as instituições de ensino superior faz com que as empresas tenham maior influência no currículo do curso e possam identificar os alunos com o perfil profissional que buscam; um número maior de alunos com habilidades tecnológicas aumentará a disposição da empresa de investir em novos equipamentos e softwares, elevando a produtividade do trabalho; e o crescimento acelerado da produtividade aumentará o crescimento econômico nacional.

Um aspecto importante da educação 4.0 é que o avanço das tecnologias transforma o método de ensino e a configuração do processo de aprendizagem, surgem então novos paradigmas que enfatizam: Aprendizagem proposital - ativa, orientada pela paixão e personalizada; Aprendizagem generativa - sem limites, ideias “fora da caixa” e tutoria; Aprendizagem consciente - compartilhamento de valores, criatividade e incentivos; e Aprendizagem baseada em Resultados: problemas, projetos, resultados e carreiras (BUASUWAN, 2018).

Cabe destacar que os estudantes que estão entrando nas universidades têm a tecnologia quase como uma extensão do próprio corpo; são engajados no processo de aprendizado; desfrutam de discussões em grupo e ambientes de aprendizagem altamente interativos; consideram o aprendizado ilimitado; aprendem em qualquer lugar, a qualquer momento; colaboram ativamente com os membros da equipe; e esperam que as ferramentas digitais estejam sempre disponíveis (KOZINSKI, 2017).

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Cataldi e Dominighini (2018) acrescentam que essa geração é fortemente conectada; possui capacidade de gerenciar qualquer tipo de comunicação digital; tem alta agilidade tecnológica; não teme mudanças; é motivada a inovar; e consegue se envolver em várias tarefas ao mesmo tempo.

Diante disso, as competências acadêmicas buscadas por essa nova geração não se enquadram no que é tradicionalmente fornecido pelas instituições de ensino superior. O modelo educacional convencional através de aulas expositivas não é mais suficiente para preparar os futuros graduados para atuarem no mercado de trabalho. Por isso, de acordo com Buasuwan (2018) serão necessárias novas abordagens de ensino para educar as novas gerações, ou seja, é preciso inovar.

Assim, para se adequar a Educação 4.0 o ensino superior deve mudar, de modo que, além de ser orientado para as novas tecnologias propostas pela Web 4.0 e estar alinhado com as necessidades da Indústria 4.0, deve considerar que o perfil do graduado atualmente é completamente diferente daquele exigido há décadas atrás, sendo necessário compreender as mudanças e necessidades pertinentes para esse novo perfil profissional.

1.2 O Curso de Graduação em Administração no Brasil

As primeiras instituições a desenvolverem o ensino e a pesquisa de temas na área de administração no Brasil foram a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Universidade de São Paulo (USP). Em 1952 foi criada na FGV do Rio de Janeiro a Escola Brasileira de Administração Pública (Ebap) voltada ao treinamento de especialistas em administração pública; e em 1954 a Escola de Administração de Empresas de São Paulo (Easp) buscando preparar administradores para o mundo empresarial. Já na USP, os cursos de graduação em administração pública e de empresas da Faculdade de Economia e Administração (FEA) somente foram criados em 1964, a fim de formar profissionais para atuarem nas grandes empresas de administração pública e privada que exigiam a utilização de técnicas especializadas de gestão (WANDERLEY; CELANO; OLIVEIRA, 2018).

Devido à forte industrialização e ao acelerado crescimento econômico ficou evidente a necessidade de profissionais com treinamento específico para executar diferentes funções internas na organização. Diante disto, a profissionalização do Administrador ocorreu com a regulamentação da atividade através da Lei nº 4.769/65, que determinou o exercício da profissão como privativo aos bacharéis em Administração, ampliando o campo de trabalho para o profissional (BRASIL, 1965).

A partir dessa regulamentação foi criado o Conselho Federal de Administração (CFA) e os Conselhos Regionais de Administração (CRAs) para fiscalizar o exercício da profissão e expedir as carteiras profissionais, de modo que só poderiam exercer a profissão aqueles que fossem registrados no órgão de classe (BRASIL, 1965).

Posteriormente, com base na análise das condições da Administração no país, o Parecer nº 307/66 do Conselho Federal de Educação (CFE) fixou o primeiro currículo mínimo do curso de Administração contendo matérias de cultura geral, instrumentais e de formação profissional, além de disciplinas eletivas e estágio supervisionado (CFE, 1966).

A existência de um currículo mínimo para o curso de administração tinha por objetivo transmitir a ideia de que os diplomas apresentavam igualdade profissional, todavia, essa rigidez não permitia que as Instituições de Ensino Superior (IES) fizessem alterações para adequar os currículos à realidade em que estavam inseridas, interferindo na qualidade dos cursos.

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Dessa forma, a fim de melhorar a qualidade dos cursos de Administração a Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ANGRAD) e o CFA buscaram a aprovação de um novo currículo mínimo, o que aconteceu através da Resolução nº 02/1993 na qual foram fixados os conteúdos mínimos e a duração do curso de administração. Esse currículo contava com matérias de formação básica e instrumental, formação profissional, disciplinas eletivas e complementares, além do estágio supervisionado (CNE, 1993).

Todavia, as limitações com relação à qualidade persistiam. Foi criada então a Lei nº 9.394/96 que iniciou uma transformação do ensino superior ao instituir a flexibilização curricular e dar às IES e aos cursos liberdade e autonomia para elaborarem propostas curriculares condizentes com a realidade em que estavam inseridos, articulando com as demandas locais e regionais de formação profissional com os recursos humanos, físicos e materiais disponíveis. Dessa forma, através do Parecer nº 776/97, foi definido que essas diretrizes para elaboração dos currículos deveriam ser respeitadas por todas as IES, bem como assegurar a flexibilidade e a qualidade da formação oferecida aos estudantes (CNE, 1997).

Após diversas reuniões entre CFA, Angrad e comunidade de administração, para discutir e elaborar propostas curriculares para os cursos de graduação, a fim de que pudessem ser sistematizadas pelas comissões de especialista de ensino da área, foi elaborada a Resolução nº 4/2005 que instituiu as diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em administração, bacharelado, entre outras providências a serem observadas pelas IES em sua organização (CNE,2005).

A Resolução nº 4/2005 define as Diretrizes Curriculares Nacionais que os cursos de graduação em Administração deverão contemplar, em seus projetos pedagógicos e em sua organização curricular, sendo estas: Conteúdos de formação básica - Estudos antropológicos, sociológicos, filosóficos, psicológicos, ético-profissionais, políticos, comportamentais, econômicos e contábeis, tecnologias da comunicação e da informação e ciências jurídicas; Conteúdos de Formação Profissional - Teorias da administração e das organizações, administração de recursos humanos, mercado e marketing, materiais, produção e logística, financeira e orçamentária, sistemas de informações, planejamento estratégico e serviços; Conteúdos de Estudos Quantitativos e suas Tecnologias - Pesquisa operacional, teoria dos jogos, modelos matemáticos e estatísticos e aplicação de tecnologias à administração; e Conteúdos de Formação Complementar - Estudos opcionais de caráter transversal e interdisciplinar; além de trabalho de conclusão de curso, estágio curricular supervisionado e atividades complementares (CNE, 2005).

A Resolução nº 4/2005 também define que curso de graduação em Administração deve possibilitar a formação profissional que revele as seguintes competências e habilidades: Reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar estrategicamente, introduzir modificações no processo produtivo, atuar preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos e exercer o processo da tomada de decisão; Desenvolver expressão e comunicação compatíveis com o exercício profissional; Refletir e atuar criticamente sobre a esfera da produção; Desenvolver raciocínio lógico, crítico e analítico; Ter iniciativa, criatividade, determinação, vontade política e administrativa, vontade de aprender, abertura às mudanças e consciência da qualidade e das implicações éticas do seu exercício profissional; Desenvolver capacidade de transferir conhecimentos da vida e da experiência cotidianas para o ambiente de trabalho e do seu campo de atuação profissional; Desenvolver capacidade para elaborar, implementar e consolidar projetos em organizações; e Desenvolver capacidade para realizar consultoria em

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gestão e administração, pareceres e perícias administrativas, gerenciais, organizacionais, estratégicos e operacionais (BRASIL, 2005).

Essas mudanças buscavam, além de atender as necessidades do mercado de trabalho, ajustar o currículo do curso de administração aos avanços da ciência e da tecnologia, pois estas têm grande impacto no desenvolvimento do país, gerando a necessidade de atualização nas ações educacionais. Diante disto, as IES devem, ao construírem suas propostas curriculares, considerar que é preciso educar para um mundo complexo e em constante transformação.

Compreende-se então a importância do currículo do curso possibilitar a flexibilidade, a contextualização, e a interdisciplinaridade dos conteúdos ministrados, a fim de desenvolver nos alunos competências para atuarem em um mundo globalizado e em constante transformação. Considerando que desenvolvimento e o sistema de educação de um país estão intimamente relacionados, é preciso que as universidades preparem profissionais para atenderem as exigências do mundo globalizado, e que o país invista em ciência e tecnologia, a fim de se obter educação de qualidade (WEISE ET AL., 2014).

Por fim, Pádua Júnior, Castilho Filho e Akel Sobrinho (2014) concluem que os inúmeros avanços tecnológicos existentes atualmente fazem com que haja mudanças de paradigmas em diversas esferas, principalmente na educação, dessa forma, é importante que os cursos de graduação em administração, caracterizados pela grande demanda e aplicação imediata dos conhecimentos adquiridos, busquem conhecer as novas descobertas da área e usar técnicas inovadoras de ensino.

1.3 O Profissional Administrador

O conceito, a essência, o perfil e as funções do profissional administrador foram sendo construídos ao longo do tempo e evoluindo de acordo com o contexto da época em que era apresentado. Fayol foi quem primeiro definiu as funções básicas do administrador como sendo planejar, organizar, controlar, coordenar e comandar (POC3), posteriormente estas funções foram aprimoradas por Drucker para planejar, organizar, dirigir e controlar (PODC) (ADAM ET AL., 2018).

Todavia, segundo Coltre (2014), as funções do administrador extrapolam o POC3 ou PODC, visto que a tarefa do administrador é capacitar pessoas para que atuem em conjunto, com a finalidade de contribuir para o sucesso da organização, maximizando os potenciais e minimizando as fraquezas.

Neste contexto, Carvalho (1962) define dois tipos de administradores, o administrador de cúpula - aquele que estabelece as diretrizes gerais da empresa; e o administrador técnico de nível gerencial - aquele que trata da implementação das diretrizes traçadas pela hierarquia superior.

Já Pereira (1966) afirma que, de acordo com a natureza do poder que possuem, existem três tipos de administradores: administrador patrimonial - poder derivado da propriedade; administrador político - poder do prestígio político; e administrador profissional - poder resultante de uma imposição tecnológica. Sendo que o que distingue os administradores profissionais dos outros tipos de administradores é o fato do poder emanar da capacidade pessoal e da habilidade de administrar com eficiência.

Por outro lado, Castro (1974) defende que são dois os tipos de administradores em uma organização: técnico - indivíduo que está informado a respeito de técnicas ou rotinas para a realização de certas funções administrativas; e decision-maker - indivíduo que toma as decisões sobre as rotinas e regulamentos da organização.

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Considerando o exposto, compreende-se que a formação ou os tipos de aprendizagens considerados necessários ao administrador transcendem os aspectos técnicos do ofício (SANTOS; OLIVEIRA, 2015). Souza, Waiandt e Junquilho (2015) complementam que os administradores são profissionais com visão sistêmica da organização para promover ações internas, criar sinergia entre pessoas e recursos e gerar processos eficazes.

Diante disso, Souza et al. (2014) analisaram em que grau as IES têm desenvolvido, no ambiente acadêmico, as competências requeridas pelo mercado e observaram limitações no desenvolvimento de competências empreendedoras, evidenciando a necessidade das IES estimularem a criatividade e o preparo de alunos para lidar com situações de incerteza e dúvidas frente às atuais exigências do cenário organizacional.

Em estudo realizado por Souza, Ferrugini e Zambalde (2017) com relação às competências básicas necessárias à formação do Administrador, observou-se que as competências de gestão são as mais desenvolvidas nos cursos de administração, e as competências tecnológicas as menos desenvolvidas, indicando defasagem na formação de profissionais capazes de utilizar as diferentes tecnologias de maneira interativa, em processos de gerenciamento e compartilhamento de conhecimentos.

Observa-se que o perfil profissional do administrador é moldado pelas instituições de ensino e pelo conselho regulamentador - CFA/CRA, sendo que as IES exercem um papel normatizador, contribuindo para a criação de um perfil multiprofissional, generalista, e com maturidade e identidade necessárias para agir em um ambiente de imprevisibilidade na qual as organizações estão inseridas (INGLAT; SANTOS; PUPO JUNIOR, 2017).

De acordo com dados do CFA (2015) a grande maioria dos administradores é do sexo masculino (66%); egresso de universidades particulares (82%); possui especialização na área (73%); está satisfeito com a escolha do curso (65%); e além do tempo de formado, fatores como conhecimentos, competências, constante reciclagem, comprometimento, habilidades e atitudes contribuem com a evolução na carreira do administrador.

Ainda de acordo com a pesquisa realizada pelo CFA (2015) a identidade do administrador demonstra que este é responsável por: Formar, liderar e motivar equipes de trabalho; Articular e coordenar as diversas áreas da organização; Atuar com visão holística/sistêmica; otimizar a utilização de recursos; e Apresentar foco em resultados. Além disso, os conhecimentos específicos percebidos voltam-se para as áreas de: Administração de pessoas; Administração financeira e orçamentária; e Administração estratégica.

Com relação às competências, a pesquisa do CFA (2015) destacou: Identificar problemas, formular e implantar soluções; Desenvolver raciocínio lógico, crítico e analítico sobre a realidade organizacional; Assumir o processo decisório das ações de planejamento, organização, direção e controle; Ser capaz de negociar, mediar e arbitrar conflitos; e Elaborar e interpretar cenários.

E por fim, as habilidades inerentes ao Administrador identificadas na pesquisa do CFA (2015) são: Relacionamento interpessoal, Visão do todo; Liderança; Adaptação à transformação; e Criatividade e inovação. E com relação às atitudes é priorizado: Comportamento ético; Comprometimento; Profissionalismo; Aprendizado contínuo; Proatividade; e Motivação.

Diante de todo o exposto, observa-se que houve grandes mudanças no conceito do que é um administrador, suas funções, habilidades necessárias,

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competências e principalmente no que era essencial para compor o perfil desse profissional.

2. NOVO PERFIL PROFISSIONAL E NOVO CURRÍCULO

É imperativo refletir sobre quais as competências e habilidades necessárias para compor esse perfil profissional que está sendo formado pelas universidades atualmente, e o que pode ser modificado para atualizar os currículos dos cursos de graduação em administração.

Dessa forma, para compor esse novo perfil profissional, Nikanorov e Shvindt (2018) relatam que são necessárias novas competências e alta velocidade de aprendizagem. Além disso, Maslov (2016) afirma que a grande maioria das vagas que surgirão nos próximos 10 anos exigirá, no mínimo, o ensino superior. Vale ressaltar ainda, que de acordo com o Fórum Econômico Mundial (2016) 7 milhões de empregos, com atividades clássicas de escritório, desaparecerão, assim como empresas e modelos de negócios existentes, enquanto que no mesmo período, 2 milhões de novos empregos serão criados.

O fato é que o mundo está mudando e segundo as projeções da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) até 2020 cerca de 35% das habilidades mais demandas irão mudar, aproximadamente 7,1 milhões de empregos deverão desaparecer e quase dois terços das crianças que estão matriculadas no ensino fundamental trabalharão em carreiras que ainda não existem. Além disso, segundo pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial (2016) 72 milhões de empregos terão que incorporar competências online.

Nesse sentido, também o profissional administrador deverá estar alinhado com as novas exigências da sociedade contemporânea e além do conhecimento acadêmico, continuar o processo de aprendizagem ao longo da vida de forma independente. Nesse contexto e diante de tamanha complexidade na formação desse novo profissional, na Figura 2 são apresentadas todas as competências e habilidades necessárias para o graduado na sociedade contemporânea.

Figura 2 - Competências/ habilidades necessárias para um “Profissional 4.0” Hussin (2018)

Capacidade de solução de problemas complexos; pensamento crítico; criatividade; gestão de pessoas; coordenação com os outros; inteligência emocional; julgamento e tomada de decisão; orientação ao serviço; negociação; e flexibilidade cognitiva.

Aires, Moreira

e Freire (2017) Inovação; boa comunicação; e conhecimentos técnicos.

Ramirez-Mendoza et al. (2018)

Colaboração virtual; resiliência; inteligência social; pensamento adaptativo; gerenciamento de cognição; sentir fazendo (desenvolvimento de competências para realizar tarefas que as máquinas não são capazes de executar); nova alfabetização em mídia; design mindset; abordagem transdisciplinar; e habilidades computacionais.

Benešováa e Tupaa (2018)

Competência linguística; autonomia; responsabilidade; flexibilidade; comunicatividade; confiabilidade; capacidade de planejar; capacidade de liderar uma equipe; habilidades organizacionais; solução de problemas; habilidade e vontade de aprender coisas novas; pensamento analítico/lógico; criatividade; ensino secundário/pós-graduado; e cooperação.

Kenworthy e Kielstra (2015)

Liderança, senso empreendedor; interdisciplinaridade; habilidades digitais; criatividade e senso analítico; e consciência global e cívica.

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Neste contexto, Levchenko et al. (2017) defendem que a tecnologia está se tornando cada vez mais central para a educação no mundo. Dessa forma, para que os novos graduados possam se encaixar na sociedade em constante transformação, as universidades precisam acompanhar essa mudança. Eichinger, Höfig e Richter (2017) contribuem ao afirmarem que, para atender aos novos requisitos do ensino superior necessários devido às mudanças tecnológicas, é preciso preparar os alunos para os problemas atuais, alterar o conteúdo educacional, remodelar os métodos de ensino e reformular os currículos.

Corroborando com todo o exposto Chen e Zhang (2015), CNI (2016), Garbie (2017); Eichinger; Höfig; Richter, (2017) e Benešováa e Tupaa (2018) evidenciam a necessidade de adequar os cursos já existentes à nova realidade através da revisão e atualização dos currículos dos cursos, bem como criação de novos cursos e disciplinas, para preparar este profissional multidisciplinar. A atualização do currículo torna-se peça chave para desenvolver o profissional esperado pelo mercado e com as qualificações e habilidades necessárias para a sociedade contemporânea.

Dessa forma, Ramirez-Mendoza et al. (2018) propõem, através de quatro blocos principais compreender a estrutura para um novo currículo de acordo com as premissas da educação 4.0. No bloco Plan são definidos os resultados e objetivos de aprendizagem, assim como as competências que o graduado deve dominar ao final do período de formação; no bloco Do deve ser criado o currículo que satisfaça os requisitos para as competências e objetivos definidos no bloco Plan; já o bloco

Study refere-se à revisão do currículo pelos potenciais empregadores (empresas

que exigem transformação digital e implementação de estratégias da Indústria 4.0); e por fim, no bloco Act, um feedback é levado ao corpo docente envolvido no projeto para que possa fazer as modificações relevantes.

Uma outra proposta,para redesenho do ensino superior, elaborada por Maria, Shahbodin e Pee (2016) foi a criação de um programa de 10 turnos com pontos-chave da educação 4.0. Assim como no plano anterior, esses 10 pontos-pontos-chave apresentados na Figura 3 podem ser aplicados em outras propostas de atualização/reformulação curricular.

Figura 3 - 10 Pontos-chave para o ensino superior

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Entre os pontos-chave apresentados, destaca-se que o termo “aprendizado ao longo da vida” (do inglês “long life learning”), uma das principais características da Educação 4.0, foi criado pela Cooperação Internacional do Trabalho e pela UNESCO na década de 1970 por compreenderem que o conhecimento fica obsoleto muito rápido e a tecnologia é facilmente copiada, de forma que as transformações que ocorrem no mundo exigem constante atualização por parte das pessoas para se adaptarem e sobreviverem na nova sociedade (MASLOV, 2016).

Diante disso, o conceito de “aprendizado ao longo da vida” revela que o processo de conhecimento deverá ser contínuo, e não mais restrito à infância e ao início da vida adulta, englobando toda a atividade de aprendizagem intencional, formal, não formal ou informal, a fim de melhorar conhecimentos, habilidades e competências (LEVCHENKO ET AL., 2017).

Essa aprendizagem ao longo da vida é importante para que o profissional se mantenha competitivo no mercado de trabalho, onde futuramente os diplomas de nível superior tendem a funcionar apenas como um “passaporte” de modo que precisarão ser “renovados” periodicamente, evidenciando, nesse novo contexto, a importância da habilidade de aprender constantemente. As diversas possibilidades de aprendizado estão continuamente em aprimoramento, sendo um processo de construção, reconstrução e tomada de consciência do próprio desenvolvimento por parte do sujeito (QUINTANA; QUINTANA, 2012).

Nesse sentido, Levchenko et al. (2017) comenta que é possível basear a aprendizagem ao longo da vida nos quatro pilares de Delors (1996) de educação para o futuro: aprender a dominar ferramentas de aprendizagem - em vez de adquirir conhecimentos estruturados; aprender a fazer - equipando as pessoas para os tipos de trabalho necessários agora e no futuro; aprender a viver juntos e com os outros - resolvendo pacificamente conflitos, promovendo a vida em comunidade e a inclusão social; e aprender a ser - educação contribuindo para o desenvolvimento pessoal.

Todavia, como o custo do aprendizado contínuo torna-se muito alto, observa-se a tendência de as mesmas tecnologias que estão transformando o futuro do trabalho, transformarem a educação (PETERS, 2016). Nesse cenário, em que a tecnologia funciona como uma alavanca para preparar os profissionais para o futuro destacam-se também as startups voltadas para a educação, as universidades cooperativas e o EAD.

Considerando todo o exposto até então, é possível perceber que para a Educação 4.0 avançar é preciso que as funcionalidades das novas tecnologias sejam aceitas e adaptadas ao ensino e à realidade da sociedade contemporânea, pois considerando que a base da economia do conhecimento é a educação, uma população educada, torna-se uma vantagem competitiva no mundo globalizado.

Por fim, a Figura 5 consolida na forma de proposições teóricas as contribuições oriundas a partir da reflexão sobre o novo perfil profissional e o novo currículo demandados pela sociedade contemporânea.

Figura 4 - Proposições Teóricas

Proposição 1 A sociedade contemporânea demanda um novo perfil para o profissional de administração com características principais:

Proposição 2 A universidade oferta um profissional de administração com as mesmas características de décadas atrás que não condizem mais com a realidade atual. Proposição 3 É perceptível a necessidade de atualização dos currículos para a formação de

um novo perfil profissional.

Proposição 4 As ferramentas da Educação 4.0 são fundamentais para a atualização dos currículos dos cursos de graduação atualmente.

(15)

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste ensaio discutiu-se formação do bacharel em administração no Brasil face às novas tendências da sociedade contemporânea, tendo por base o questionamento se o profissional formado em administração está adequado, em suas cognições e competências para atuar na sociedade contemporânea.

Nesse sentido, foram analisadas as funcionalidades da Educação 4.0; a história da graduação em Administração no Brasil; e a construção do perfil do profissional de administração, de modo que a partir dessas bases teóricas foram feitas discussões sobre a necessidade de atualização curricular e as competências necessárias para o novo perfil profissional.

Observou-se que, juntamente com a evolução da sociedade, os requisitos para um profissional de administração ser bem sucedido no atual contexto também foi alterado. Além disso, o modo de ensinar e de aprender também se transformou, evidenciando a necessidade de atualização da educação e do currículo do curso de administração para formar esse novo profissional.

Em linhas gerais, propõe-se que as ferramentas da educação 4.0 sejam inseridas nas IES a fim de auxiliar na atualização curricular, tendo como limitação as diretrizes nacionais curriculares do curso de graduação em administração. Dessa forma, considerando a sociedade contemporânea decorrente da 4ª revolução industrial, observa-se que o novo perfil profissional, fundamentalmente, exige um indivíduo disposto aprender ao longo da vida.

Além disso, criatividade, flexibilidade, inovação, pensamento adaptativo, habilidades computacionais, competência linguística, cooperação, interdisciplinaridade, e habilidades digitais são características essenciais para esse novo profissional. Por isso, sugere-se que o currículo do curso conte com disciplinas e métodos de ensino/aprendizagem que desenvolvam essas características, a fim de entregar administradores com esse perfil para a sociedade contemporânea.

Diante do exposto, o presente ensaio contribui com a formulação de quatro proposições teóricas sobre a temática abordada, sendo elas: A sociedade contemporânea demanda um novo perfil para o profissional de administração com características principais; A universidade oferta um profissional de administração com as mesmas características de décadas atrás que não condizem mais com a realidade atual; É perceptível a necessidade de atualização dos currículos para a formação de um novo perfil profissional; e As ferramentas da Educação 4.0 são fundamentais para a atualização dos currículos dos cursos de graduação atualmente.

Caberia, portanto investigar por meio de estudos empíricos se o profissional formado em administração está adequado, em suas competências e cognições para a sociedade contemporânea, e como a formação profissional do administrador pode estar alinhada a educação 4.0? Não obstante, recomenda-se como sugestão de estudos futuros: Identificar o que a sociedade espera dos profissionais formados em administração; e Relacionar como são percebidas as novas tecnologias hoje no curso de administração.

Outra contribuição que o presente ensaio faz é no sentido de refletir sobre as transformações que estão ocorrendo na sociedade, na educação e no mercado de trabalho, principalmente devido às novas tendências digitais. Em todo caso, o debate está posto e como perspectiva para novos estudos, pode-se desenvolver um pouco mais a temática relacionando as novas tendências digitais ao campo da administração, apontando contribuições e limitações.

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